06 - Entrevista - Alimentos que funcionam

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ENTREVISTA
JOCELEM MASTRODI SALGADO
Alimentos que funcionam
Marcelo Dalla Pria
E
m 1999, após um Congresso
Internacional Sobre Alimentos Funcionais ocorrido na Finlândia, o presidente Fernando
Henrique Cardoso, presente ao
evento, lançou a idéia de que
cada congressista, ao voltar para
o seu país, fizesse algo para divulgar a informação dos alimentos funcionais.
Única representante da América Latina no evento, a professora titular de Nutrição da Escola
de Agricultura Luiz de Queiroz –
USP, Jocelem Mastrodi Salgado,
retornando ao Brasil, elaborou um
projeto e conseguiu apoio de algumas empresas para imprimir e
distribuir gratuitamente mais de
1 milhão de cartilhas explicando
as funções de alimentos para a
prevenção de doenças. Esse material foi enviado para comunidades carentes e a repercussão foi
imensa, entre cartas e telefonemas para a Universidade.
Mas o trabalho da pesquisadora com o tema dos alimentos
funcionais já havia começado
muito antes. Há mais de 20 anos ela luta
para que as notícias de laboratório sejam
incorporadas aos hábitos alimentares dos
brasileiros. Para Jocelem, o conhecimento
das funções dos alimentos é medida de economia: ela ensina que buscar nos alimentos as substâncias necessárias pode evitar
que se gaste nas farmácias.
Embora o trabalho da pesquisadora tenha começado duas décadas atrás, foi só no
início dos anos 90 que seu nome ficou conhecido. Nesta época, anterior ao coquetel
anti-Aids – que deu nova vida aos doentes –
a maioria das vítimas da doença morria acometida de infecções oportunistas. Sem se
alimentar, elas perdiam qualquer chance de
resistir. Jocelem criou um composto à base
de proteínas vegetais que podia ser adminis22
trado oralmente ou por sonda e que foi empregado em um hospital de Piracicaba.
O composto, denominado Suprinutri, proporciona o aumento de meio quilo de peso
por semana, ou seja, dois quilos em um
mês, e isto muitas vezes pode ser decisivo
para indivíduos com o organismo debilitado. Os relatos foram tão significativos que
levaram o nome de Jocelem para a mídia.
Hoje, o resultado dessas pesquisas está
servindo de base na preparação de compostos para pessoas idosas e crianças que buscam uma alimentação mais saudável.
A maior descoberta da pesquisadora, no
entanto, foi realizada no campo da reeducação alimentar e da perda de peso. Seu
desafio e de sua equipe era encontrar uma
fórmula que pudesse trazer o organismo ao
seu peso saudável, sem regimes
de fome e com receitas que fizessem parte do cotidiano, em
casa, na fábrica ou no escritório. Nasceu daí um composto alimentar à base de proteínas vegetais, consumido por mais de
300 mil pessoas e hoje comercializado com o nome de Sanavita
(vida saudável).
Em julho do ano passado,
Jocelem lançou o livro “Faça do
Alimento o seu Medicamento”, registrando seu trabalho e suas pesquisas que comprovam cientificamente a eficácia dos alimentos
para tratar os mais diversos problemas de saúde, relatando as verdades e as mentiras criadas por
falta de conhecimento.
Publicado pela Madras Editora, o livro já atingiu a marca dos
40 mil exemplares vendidos e está
atualmente em sua quinta edição.
Para 2001, a pesquisadora prepara um segundo volume sobre o
mesmo tema, trazendo as funções
de mais de 50 outros alimentos e
já preparou um livro dirigido a
crianças, ensinando as funções de cada alimento, trazendo inclusive receitas de sucos
que elas mesmas podem preparar. Esta obra
terá a renda revertida para o Instituto Ayrton
Senna ou para o Centro de Oncologia
Pediátrica do Hospital do Câncer.
No ano passado, Jocelem foi agraciada
com dois prêmios importantes por empresas
ligadas ao campo da Nutrição: Destaque
2000, proposto pela Nutrinews; e prêmio Food
Service pelas pesquisas e serviços no campo
da Nutrição. Pelo livro sobre alimentação ela
foi indicada para o Prêmio Jabuti, na categoria Ciências Naturais e Ciências de Saúde.
A Professora e Doutora Jocelem Mastrodi
Salgado tem, entre suas graduações, os títulos de Doutora, Livre-Docente e atualmente é Profª. Titular na Área de Nutrição
BRASIL ALIMENTOS - n° 6 - Jan/Fev de 2001
Humana de Alimentos da Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/
USP), Piracicaba/SP. Orienta trabalhos de
pesquisa em nível de Pós-Doutorado para
alunos do Brasil e do exterior, assim como
alunos de iniciação científica. É assessora
do CNPq - Conselho Nacional de Pesquisa.
Colaborou com artigos para inúmeros veículos de comunicação.
BA – Como o assunto alimentos funcionais é visto hoje no mundo e como é
a situação nos principais países?
Jocelem Salgado – O assunto alimentos
funcionais é visto hoje com grande expectativa por parte dos pesquisadores, empresas alimentícias e consumidores. O mercado de alimentos funcionais tem crescido muito nos
últimos anos e hoje, no mundo todo, apresenta um potencial de vendas de cerca de US$
70 bilhões/ano (Alimentos & Tecnologia, n.87,
2000). O conceito de alimento funcional surgiu no Japão nos anos 80. Hoje, nesse país, já
existem cerca de 160 tipos diferentes de alimentos funcionais no mercado. Além do mercado japonês, o de países europeus e o norte-americano a cada dia apresentam novidades nesse segmento. Todo o crescimento
nessa área está associado a fatores como o
aumento da conscientização de hábitos alimentares saudáveis, maior divulgação da influência da alimentação na saúde e da recomendação por parte dos pesquisadores de que
hábitos alimentares saudáveis são importantes na prevenção de doenças.
BA – A senhora acha que a indústria
brasileira de alimentos está atualizada
em relação à questão dos alimentos funcionais? Há alguma aproximação ou participação, por parte da indústria junto
ao meio acadêmico e, principalmente,
aos seus centros de pesquisa?
Jocelem Salgado – O Brasil está começando a entrar no mercado de alimentos funcionais e, portanto, ocupa ainda uma posição defasada em relação a países como Japão, EUA e europeus. No entanto, parece que
começa muito bem, já que tem acompanhado as tendências internacionais estabelecidas
no Codex Alimentarius e conta com uma legislação específica para alimentos funcionais,
preocupada com a segurança do consumidor. Mas muita coisa ainda está por vir. Já
existe também uma aproximação da indústria junto ao meio acadêmico. Isto porque
toda alegação de saúde que é feita para um
determinado alimento funcional deve estar
BRASIL ALIMENTOS - n° 6 - Jan/Fev de 2001
Livro de Jocelem já está na 4ª edição
amparada em pesquisas que comprovem os
benefícios alegados. Ninguém melhor que os
pesquisadores das grandes universidades para
avaliar o potencial do alimento e desenvolver estudos epidemiológicos, experimentais
e clínicos que demonstrem a eficácia do alimento. Um exemplo disso ocorreu recentemente com o alimento funcional Previna, desenvolvido por um grupo de pesquisadores
da USP e da Fugesp (Fundação de Gastroenterologia e Nutrição de São Paulo) em parceria
com uma empresa brasileira pioneira em alimentos funcionais, a Sanavita. O alimento,
rico em fitoestrógenos da soja, cálcio e outros nutrientes, está sendo indicado para redução do risco de câncer de mama,
osteoporose e doenças cardiovasculares, bem
como no alívio dos sintomas da menopausa.
BA – No Brasil, há quem trabalhe em
pesquisas e divulgação desse tema,
além da ESALQ?
Jocelem Salgado – Eu e minha equipe
fomos pioneiros na pesquisa de alimentos
funcionais no Brasil. Em 1976, muito antes da denominação “alimentos funcionais”
ser criada, nossa equipe da ESALQ já trabalhava com o que chamávamos na época
de elaboração de “alimentos em condições
nutricionais específicas”. Esses alimentos,
que recentemente seriam conhecidos como
funcionais, já naquela época beneficiavam
milhares de pessoas, prevenindo e controlando doenças como a obesidade, desnutrição, diabetes, doença celíaca, intolerância à lactose, entre outras.
BA – Até que ponto a população pode
confiar e incorporar em suas dietas os
alimentos industrializados caracterizados como funcionais, a exemplo dos alimentos adicionados de fibras, ômega3, fitosteróis e outras substâncias?
Jocelem Salgado – A princípio, todo
alimento funcional não deve apresentar
nenhum efeito colateral e nenhuma contra-indicação, podendo ser utilizado sem
supervisão médica. O fabricante deve informar o consumidor da finalidade de uso
e a dose recomendada diariamente. Mas o
que observamos é que muitos se aproveitam da desinformação do consumidor para
vender alimentos que não cumprem o que
está no rótulo e/ou alimentos com informações que deveriam ser consideradas óbvias, mas que para o consumidor fica parecendo uma novidade. Exemplos disso são
vários alimentos de origem vegetal presentes nas prateleiras de supermercados (óleos, por exemplo) e até mesmo em feiras
livres (por exemplo, o abacate) com os
dizeres “sem colesterol ”. Todo consumidor deveria saber que nenhum alimento de
origem vegetal contém colesterol. O
colesterol é uma substância encontrada em
alimentos de origem animal. Outro absurdo é observar que certos alimentos que se
dizem ricos em fibras, ômega-3, entre outras substâncias, não oferecem a quantidade adequada que beneficie a saúde do
consumidor. Em muitos casos, é necessário comer quilos ou beber litros do alimento para se usufruir dos benefícios alegados. Isso é pura enganação e o consumidor desinformado paga caro por isso.
BA – Como a senhora vê a nova Resolução (RDC no 94, de 1 de novembro de
2000) que tornou obrigatória a declaração nutricional para todas as categorias
de alimentos e bebidas, com exceção das
águas minerais e bebidas alcoólicas?
Jocelem Salgado – Particularmente,
eu acho que já estava na hora do Ministério da Saúde tomar uma atitude como
esta. Todos nós, pesquisadores e profissionais preocupados com a saúde da
nossa população, esperávamos por isso
há muito tempo. Afinal, já estamos no
século XXI e os consumidores de hoje,
cada vez mais conscientes do papel da
alimentação em suas vidas, imploram por
inf ormações como estas que serão
exigidas. A população brasileira, de uma
forma geral, está cada vez mais exposta
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ENTREVISTA
substância é criada
a doenças nutriciopelo calor da grelha,
nais e crônico-deformando aquele
generativas, devipretinho crocante
do principalmente
dos churrascos. As
aos maus hábitos
aminas heterocíalimentares e ao
clicas entram no inestilo de vida seterior das células,
dentário que adoonde se ligam ao
ta. Existe, portanDNA e provocam
to, a necessidade
mutações cancede todos os esperígenas. O mesmo
cialistas em nutrivale para os alimenção e do governo,
tos defumados imorientar o consupregnados pelo almo de alimentos
catrão (o mesmo do
com vistas a uma
cigarro) provenienalimentação saute da fumaça. O exdável. Mas como
cesso de sal tamfazer isso, se a
O Brasil não sabe aproveitar sobras, talos e folhas de hortaliças, ricos em nutrientes
bém é nocivo. Além
cada dia que pasde ser contra-indisa, a indústria de
alimentos coloca no mercado centenas mentos que, quando consumidos freqüen- cado para quem apresenta pressão alta, alide produtos novos, sem informação nu- temente, podem reduzir o risco de várias mentos salgados demais ou preservados em
sal (carne de sol, charque e peixes salgatricional nenhuma? Embora nutrientes im- doenças, inclusive o câncer.
dos) estão relacionados principalmente ao
portantes como certas vitaminas e outros
BA – Por outro lado, quais seriam os desenvolvimento de câncer de estômago.
minerais tenham ficado de fora das novas
exigências para rotulagem, acredito que alimentos que, se ingeridos em exces- Sozinho o sal não é tão prejudicial, mas
misturado a uma substância chamada nitroeste será um grande passo para melhorar- so, podem causar males à saúde?
Jocelem Salgado – Muitos componen- samina (produzida pela fermentação das
mos a qualidade de vida da nossa população. Cabe agora à Vigilância Sanitária, tes da dieta alimentar têm sido relaciona- carnes ao sol), se transforma numa toxina
exigir que as informações contidas no ró- dos com o processo de desenvolvimento cancerígena. Certos aditivos químicos utitulo sejam resultados de análises realiza- de várias doenças (cardiovasculares, hiper- lizados na indústria durante o processo de
das por laboratórios idôneos, bem como tensão e obesidade), inclusive do câncer fabricação dos alimentos podem também
fiscalizar de forma intensiva a adoção das de mama, cólon (intestino grosso), reto, trazer vários riscos para nossa saúde. É o
próstata, esôfago e estômago. Os estudos caso dos nitritos e nitratos. Usados para
novas regras por parte da empresas.
mostram que 1/3 de todos os tipos de cân- conservar alguns tipos de alimentos como
BA – A senhora poderia citar alguns ceres estão relacionados às dietas inade- picles, salsichas e alguns tipos de enlataalimentos que, quando incorporados cor- quadas. Uma alimentação pobre em fibras, dos, podem transformar-se em nitroretamente às dietas, podem funcionar com altos teores de gorduras e altos níveis saminas, substâncias com potente ação
como verdadeiros remédios na preven- calóricos (hambúrguer, batata frita, bacon, carcinogênica, responsáveis por altos ínfrituras em geral etc.) está relacionada a dices de câncer de estômago. Embora as
ção de doenças?
Jocelem Salgado – Vários alimentos já um maior risco para o desenvolvimento de quantidades de aditivos sejam regulamenforam intensamente investigados e outros, câncer de cólon, reto e mama, enquanto tadas e muito pequenas, todo cuidado é
não menos importantes, estão na mira dos que cânceres como o de esôfago e estôma- pouco, pois existem casos onde nem topesquisadores. Já se sabe que a soja e seus go estão relacionados mais com o consu- dos estão de acordo quanto à inocuidade
subprodutos trazem inúmeros benefícios a mo de alimentos defumados, assados na desses aditivos. Além disso, o controle da
nossa saúde. Alimentos como os vegetais brasa e aqueles preservados em sal. So- quantidade desses aditivos é difícil, bem
crucíferos (brócolis, repolho, couve flor, mente o cigarro pode ser mais perigoso do como a avaliação da susceptibilidade de
couve de bruxelas), o tomate (principal- que as picanhas, lombos e lingüiças assa- cada consumidor aos mesmos, principalmente o molho), o alho e a cebola, a aveia, dos na brasa ou defumados. Além do ex- mente no que diz respeito aos danos a lonos peixes (salmão, sardinha, truta, atum e cesso de gordura, que dificulta a digestão, go prazo. Atenção especial também deve
outros que vivem em águas frias e profun- forçando o fígado e o estômago a produzir ser dada aos grãos e cereais (principalmendas), frutas como os cítricos (laranja, li- ácido em excesso, levando a uma corrosão te o amendoim). Se armazenados em lomão, lima, acerola), maçã, vinho tinto e das paredes do intestino, podendo provo- cais inadequados e úmidos, esses alimenuvas roxas, alimentos chamados de car mutações cancerígenas, os famosos tos podem ser contaminados pelo fungo
probióticos (como exemplo os leites fer- churrascos e alimentos defumados podem aspergillus flavus, que produz a aflotoxina,
mentados) e prebióticos (por exemplo, os levar para dentro do nosso corpo uma subs- uma substância cancerígena. Essa toxina
frutooligossacarídeos), são alguns dos ali- tância chamada amina heterocíclica. Essa está relacionada ao desenvolvimento de
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BRASIL ALIMENTOS - n° 6 - Jan/Fev de 2001
ENTREVISTA
vez que acredito
câncer de fígado.
que esses alimentos
Um outro alimento
devem ser vistos
muito divulgado,
com reservas, já que
até mesmo por um
não existem estupersonagem infantil
dos científicos a
de TV, mas que prelongo prazo suficicisa de cautela na
entes que comprohora de consumir é
vem sua segurança
o espinafre. Ele conde consumo. Há de
tém uma substância
se lembrar também
antinutricional dedos riscos ao meio
nominada de ácido
ambiente. Estudos
oxálico, que se comprofundos e detaplexa com o cálcio
lhados de como a
dos outros alimenmanipulação genétos que ingerimos,
tica pode influencifazendo com que ele
ar a biodiversidade
não seja totalmendevem ser conduzite absorvido. Por- Algumas frutas, como as cítricas, podem reduzir o risco de várias doenças
dos a longo prazo,
tanto, para aqueles
que apreciam o vegetal, eu recomendo um fibras, carboidratos complexos, frutas e de forma que se assegure o equilíbrio ecohortaliças. Por todos esses motivos, o Bra- lógico nas regiões onde tais alimentos são
consumo moderado.
BA – Como a senhora avalia a dieta pa- sil, que antes era considerado um país de produzidos. Até o momento, eu e minha
drão da população brasileira? Quais são, desnutridos, chega ao século XXI com equipe não testamos nenhum alimento gena sua opinião, os piores hábitos do bra- grandes chances de ser classificado como neticamente modificado.
um país de obesos.
sileiro e o que poderia ser corrigido?
BA – Qual a composição do Suprinutri
Jocelem Salgado – O Brasil é um país
BA – Qual sua posição em relação à e quais os benefícios obtidos na aplicaimenso e cheio de contrastes. De um lado temos problemas de saúde pública que são co- manipulação genética dos alimentos – ção do produto a indivíduos com o orgamuns em países desenvolvidos, como é o os transgênicos? Já testou alimentos ge- nismo debilitado?
Jocelem Salgado – O Suprinutri é um
caso da obesidade, diabetes, doenças car- neticamente modificados?
alimento
rico em carboidratos compleJocelem
Salgado
–
Acredito
que
o
uso
diovasculares etc., e por outro lado
xos,
fibras,
proteínas de alto valor bioda
genética
na
produção
de
alimentos
movivenciamos problemas relacionados à fome e
lógico,
vitaminas,
minerais e ácidos
dificados
é
certamente
um
dos
capítulos
à desnutrição, próprios de países subdesengraxos
essenciais,
utilizando
os nutrienmais
fascinantes
dos
novos
rumos
que
a
volvidos. Por isso mesmo torna-se difícil avates
de
fontes
vegeliar a dieta padrão da potais
como
a
soja,
pulação, já que esta diaveia,
germe
de
triversifica-se em cada uma
go,
gergelim
e
castadas cinco diferentes re“O mercado de alimentos funcionais
nha de caju. É um aligiões: norte, nordeste,
mento que foi desencentro-oeste, sudeste e
tem crescido muito nos últimos
volvido para corrigir
sul. Como padronizar a
deficiências n utrialimentação de uma poanos e hoje, no mundo todo,
cionais e para propulação que consome
apresenta
um
potencial
de
porcionar o ganho de
grandes quantidades de
peso. Um indivíduo
proteínas e gorduras na
vendas
de
US$
70
bilhões/ano”
pode estar com bairegião sul, mas que na
xo peso por vários
região nordeste consome
motivos: ou porque
uma alimentação rica em
tem hábitos alimencarboidratos, quando
tares
errados,
ou
porque
come pouco ou
nutrição
tende
a
tomar
daqui
para
frente.
não passa até fome? Podemos dizer que a faporque
tem
um
gasto
calórico
excessivo,
Por
enquanto,
os
transgênicos,
como
esmosa mistura arroz com feijão, excelente
produzido
por
excesso
de
atividade
físises
alimentos
são
chamados,
são
um
misdo ponto de vista nutricional, já salvou
ca.
Nestes
casos,
o
ganho
de
peso
é
neto
de
promessa,
polêmica
e
preocupação.
muitas vidas nas regiões carentes do noscessário,
pois
a
magreza
excessiva
pode
Assim
como
discorro
sobre
esse
assunto
so país. Mas o que verificamos hoje é um
quadro nutricional desfavorável, onde há em meu livro no capítulo 11 (Alimentos levar à subnutrição e a uma maior suspredominância de alto consumo de gor- Transgênicos: Promessa de Abundância ou ceptibilidade a lesões e infecções. Enduras, açúcares e sal e baixo consumo de uma Praga do Egito?), afirmo-lhe mais uma tretanto, existem também causas mais
BRASIL ALIMENTOS - n° 6 - Jan/Fev de 2001
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ENTREVISTA
crianças bem alimentapreocupantes que ledas, estaremos garanvam à magreza excestindo uma geração insiva como é o caso de
teira com mais saúde.
certos distúrbios e doUm dos principais
enças que compromeproblemas
que a metem a saúde do indivírenda
enfrenta
hoje é
duo. Nesse caso, a reque
os
pratos
oferecicuperação do peso da
dos por ela precisam
pessoa é importante
ser mais atrativos que
para que ela possa luos salgadinhos da cantar contra a doença e
tina. É claro que as
resistir melhor aos tramudanças não ocorrem
tamentos médicos nede uma hora para oucessários para sua reatra, nem esperamos que
bilitação. Em todas esas crianças esqueçam
sas situações, o alios hambúrgueres e camento Suprinutri pode
Jocelem recomenda o consumo de peixes como salmão, truta, atum entre outros
chorros-quentes. Mas,
ser usado como uma alse conseguirmos um
ternativa saudável, já
Jocelem Salgado – Em setembro de equilíbrio, já será muito bom. Como pesque além de ser rico em vários minerais
e vitaminas, a complementação dos 2000 fui indicada para assumir o cargo quisadora na área de nutrição e alimenaminoácidos presentes no alimento pro- de presidente do Conselho de Alimenta- tos, sempre estive do lado de quem obporciona uma proteína de excelente qua- ção Escolar – CAE da Prefeitura Munici- serva e avalia a forma como se alimenlidade, próxima daquelas de origem ani- pal de Piracicaba. A função desse grupo tam nossas crianças. Agora, como presimal. O consumo de 120g/dia do alimen- é de fiscalização e assessoramento, vi- dente do CAE, estamos tendo a oportuto em pó, com os mais diversos alimen- sando acompanhar a aplicação dos re- nidade de estar do lado de dentro da cotos do dia a dia da pessoa (acrescentado cursos federais transferidos à conta do zinha, lidando com as receitas, nos dois
em refeições salgadas ou doces) propor- PNAE (Programa Nacional de Alimenta- sentidos: as receitas de comida e as reciona cerca de 500 calorias adicionais ção Escolar), zelando pela qualidade dos ceitas do orçamento. Já conseguimos, de
diárias, podendo, em muitos casos, con- produtos, em todos os níveis, desde a setembro até hoje, fazer várias modifitribuir para o aumento de cerca de 0,5kg aquisição até a distribuição, observan- cações que, do meu ponto de vista, irão
de peso/semana ou 2kg/mês. O alimen- do sempre as boas práticas higiênicas e benefici ar em muito as crianças d e
to desenvolvido, portanto, atende às ne- sanitárias, e ainda, receber, analisar e Piracicaba. Citarei algumas:
• introdução no cardápio de alimencessidades nutricionais daquelas pesso- remeter ao FNDE (Fundo Nacional de Detos
in natura (frutas/verduras);
senvolvimento
da
Educação),
com
paas com problema de peso deficiente e
•
substituição de legumes desidratarecer
conclusivo,
as
prestações
de
concontribui para a sua reabilitação. É impordos por legumes frestante salientar que o
cos (aumento do vaaumento de 1kg de peso
lor nutritivo);
para certos grupos (pes“Muitos
fabricantes
se
aproveitam
da
desinformação
• introdução de leisoas com câncer, aids e
te
fresco no cardápio
outras doenças debilido
consumidor
para
vender
alimentos
que
para
1a a 8a série;
tantes), significa às ve• substituição de
zes vida. E as pesquinão cumprem o que está no rótulo e/ou alimentos carnes
enlatadas por
sas têm mostrado que
carnes
e
frango fresco;
até o efeito do medicom informações que deveriam ser consideradas
• introdução de
camento é diferente
peixes no cardápio;
em um organismo bem
óbvias, como se fosse uma novidade”
• as sopas tinham
nutrido quando comum índice de 70% de
parado a um organisrejeição; foram subsmo desnutrido.
tas do PNAE, encaminhadas pelo muni- tituídas por alimentos sólidos;
BA – A senhora foi convidada a ser cípio. O convite, aceito, foi uma honra
• oferecimento de merenda para as cripresidente do Conselho de Alimentação e uma grande responsabilidade. São 60 anças do período noturno;
Escolar – CAE da Prefeitura Municipal de mil crianças, só neste município, que
• estamos procurando oferecer merenda
Piracicaba. Pretende modificar a forma recebem merenda nas escolas públicas no Sábado e Domingo (período em que muicomo a merenda vem sendo administra- municipais. E, desde já, acredito que, tas crianças ficam sem ter uma boa alimenda? Quais são os principais problemas se conseguirmos mandar para casa, to- tação). Estamos tentando captar recursos de
dos os dias, esse pequeno exército de certas ONGs.
da merenda hoje?
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