49 PROBLEMAS DE APRENDIZAGENS PSCICOMOTORAS Thainara Nominato Silva Elaine Cristina Navarro RESUMO A intenção deste artigo é sensibilizar os professores de educação infantil e do ensino fundamental dos anos iniciais do ensino fundamental sobre o importante papel que os jogos, as brincadeiras e os brinquedos exercem no desenvolvimento da criança em áreas como a lateralidade, a movimentação corporal e espacial, além de favorecer o desenvolvimento de suas habilidades cognitivas. Para isso, se faz necessário saber o significado do brincar, conceituar os principais termos utilizados para designar o ato de brincar, tornando-se também fundamental analisar o papel do educador neste processo lúdico, e ainda, os benefícios que o desenvolvimento desses movimentos proporcionam. Palavras - chave: Psicomotricidade; Educação Infantil; Aprendizagem. ABSTRAT The intent of this article is to sensitize teachers of early childhood education and elementary school of the early years of primary education on the important role of games, toys games and play in child development in areas such as laterality, body movement and spatial , and favors the development of cognitive skills. For this, it is necessary to know the meaning of the play, to conceptualize the main terms used to describe the act of playing, also becoming crucial to analyze the role of the educator play in this process, and also the benefits that the development of these movements provide. Key words: Psychomotricity; Early Childhood Education; Learning. Pedagoga, aluna do curso de Pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia, oferecido pelas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia- UNIVAR. [email protected] Docente orientadora, professora universitária nas Faculdades Unidas do Vale do Araguaia- UNIVAR. Graduada em Letras/ Literaturas e Pedagogia. Especialista em Docência Multidisciplinar na educação infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental, Mestranda em Educação. [email protected] 1. INTRODUÇÃO A fase pré-escolar e de alfabetização são importantes no desenvolvimento da criança de uma forma geral, além de serem primordiais no processo de aprendizagem das mesmas, como também as atividades psicomotoras são essências. Outro fator importante para um eficiente processo de aprendizagem é se os profissionais que atuam neste segmento (especializados ou não) têm conhecimento da relação entre as brincadeiras e jogos com o processo de aprendizagem do aluno, no sentido de minimizar ou reduzir as possíveis dificuldades de aprendizagem. Percebe-se que na escola de primeira infância, crianças não sabem saltar, correr, dançar, subir, lançar, entre outros. Para o desenvolvimento pleno da criança, do que diz respeito às habilidades motoras e sensoriais, é muito importante que se organizem com as crianças pequenas, atividades que estimulem e favoreçam o brincar, como um organismo integrado, levando-se em conta que tais habilidades são consideradas como formas de expressão do ser humano. Este trabalho tem como tema compreender a psicomotricidade e como ela age de forma atuante para o desenvolvimento da criança, tendo como foco a On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Educação Infantil, a partir de uma visão mais científica e técnica em que o homem cada vez mais deixa de ser percebido como um ser essencialmente biológico para ser entendido, segundo uma visão mais abrangente, como um ser considerado essencial para os processos sociais, históricos e culturais. O ser humano é um complexo de emoções e ações propiciadas por meio do contato corporal estimulado pelas atividades psicomotoras que também favorecem o desenvolvimento afetivo entre as pessoas, pois estimula o contato físico, a expressão das emoções e proposição de ações e movimentos. Com a educação psicomotora a educação Infantil passa a ter como objetivo principal incentivar a prática do movimento em todas as etapas da vida de uma criança. 2. PSICOMOTRICIDADE A psicomotricidade é compreendia como o desenvolvimento do corpo, nos seus aspectos neurofisiológicos, anatômicos e locomotores, coordenando-se e sincronizando-se no tempo e espaço. Hoje, a psicomotricidade é considerada também como a capacidade de relacionar-se por meio da ação, como um meio de tomada de consciência que une o ser ao Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2012) n.º 7 p. 49 - 52 50 seu corpo. Diversos autores apresentaram conceitos relacionados à Psicomotricidade, destaca-se Jean Le Boulch, Vygotsky, André Lapierre, Bernard Aucouturier, Piaget, Ajuriaguerra, Vitor da Fonseca, além de outros. As definições desses estudiosos são extremamente objetivas, como nos aponta Mello (1996) “uma ciência que tem por objetivo o estudo do homem, através do seu corpo em movimento, nas relações com seu mundo interno e externo”. Nesse sentido, a psicomotricidade está associada ao desenvolvimento integral da criança, englobando o afetivo, o cognitivo e o psicomotor. A psicomotricidade conquistou, assim, uma expressão significativa, já que se traduz em solidariedade profunda e original entre o pensamento e a atividade motora. Vitor da Fonseca (1988) aborda que a psicomotricidade é “[...] atualmente concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio. É um instrumento privilegiado por meio do qual a consciência se forma e se materializa.” É ai que chamamos a atenção dos profissionais para a necessidade de novos recursos que possam auxiliar de forma direta ou indireta no desenvolvimento da coordenação psicomotora, visando uma possível influência na aquisição das habilidades necessárias ao êxito escolar. Visando essa necessidade, observamos o aparecimento de pesquisas e estudos voltados à área da percepção ou percepção motora, sendo ela considerada por estudiosos uma grande influenciadora no que se refere ao desenvolvimento global das crianças em idade escolar. Porém, não podemos ignorar tamanha controvérsia gerada com o aparecimento cada vez maior destes estudos, afinal, a impressão que se tem ao buscar algum tipo de informação é que os próprios estudiosos da área não conseguem uma definição exata, muito menos sua verdadeira eficácia em relação ao desempenho escolar, pois demonstra de certa forma, tamanha necessidade e influência do sistema perceptivo em relação a outros sistemas, em especial, ao motor e cognitivo, mas sem saber qual sua real contribuição, pois é evidente sua influência no desenvolvimento das aptidões básicas no desempenho escolar. Porém, qual seria essa influência? De que forma ela ocorre? E até que ponto esta capacidade pode ser explorada na tentativa de amenizar o baixo desempenho escolar? 2.1. Papel do Educador na Educação Psicomotora Lúdica A esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um amigo, um guia, um animador, um líder - alguém muito consciente e que se preocupe com ela e que a faça pensar, tomar consciência de si de do mundo e que seja capaz de dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e uma sociedade melhor". (ALMEIDA,1987, p.195) On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Para se ter dentro de instituições infantis o desenvolvimento de atividades lúdicas educativas é de fundamental importância garantir a formação do professor e, acima de tudo, dar-lhe condições adequadas de atuação. Somente assim será possível o resgate do espaço de brincar da criança no dia-a-dia da escola ou creche. Segundo Vygotsky 1984, a psicomotricidade é a “educação do movimento com atuação sobre o intelecto, numa relação entre pensamento e ação, englobando funções neurofisiológicas e psíquicas”. Além disso, possui uma dupla finalidade, ainda de acordo com Vygotsky: “assegurar o desenvolvimento funcional, tendo em conta as possibilidades da criança, e ajudar sua afetividade a se expandir e equilibrar-se, através do intercâmbio com o ambiente humano”. Os movimentos expressam, além do que sentimos nossos pensamentos e atitudes, que, muitas vezes, estão arquivadas em nosso inconsciente. Estruturam o corpo com uma atitude positiva de si mesmo e dos outros, a fim de preservar a eficiência física e psicológica, desenvolvendo o esquema corporal e apresentando uma variedade de movimentos. Através da ação sobre o meio físico com o meio social e da interação como ambiente social, processa-se o desenvolvimento e a aprendizagem do ser humano. Esse é um processo complexo, em que a combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais produz no indivíduo transformações qualitativa. Dessa forma, para que haja de fato desenvolvimento integral, é necessário que se envolvam aprendizagens de vários tipos, expandindo e aprofundando a experiência individual. 2.2 A Importância do Psicomotricidade no Processo de Aprendizagem A Psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades que desenvolvem a motricidade da criança, visando o conhecimento e o domínio do seu próprio corpo. Por isso dizemos que a mesma é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento global da criança. A estrutura da Educação Psicomotora é a base fundamental para o processo intelectivo e de aprendizagem da criança. O desenvolvimento evolui do geral para o específico. Quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, o fundo do problema, em grande parte, está no nível das bases do desenvolvimento psicomotor. Durante o processo de aprendizagem, os elementos básicos da psicomotricidade são utilizados com frequência. O desenvolvimento do Esquema Corporal, Lateralidade, Estruturação Espacial, Orientação Temporal e Pré-Escrita são fundamentais na aprendizagem. Porém, um problema em um destes elementos irá prejudicar uma boa aprendizagem. O ato antecipa a palavra, e a fala é uma importante Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2012) n.º 7 p. 49 - 52 51 ferramenta psicológica organizadora. Através da fala, a criança integra os fatos culturais ao desenvolvimento pessoal. Quando, então, ocorrem falhas no desenvolvimento motor poderá também ocorrer falhas na aquisição da linguagem verbal e escrita. Faltando à criança um repertório de vivências concretas que serviriam ao seu universo simbólico constituído na linguagem, consequentemente, afetando o processo de aprendizagem. A criança, cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex: b/d), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, dentre outras. Atualmente, a sociedade do conhecimento e da informação exige cada vez mais rapidez na atividade intelectual, prescindindo da atividade motora, é claro que as consequências se apresentam no tempo. E na educação? A escola ainda mantém o caráter mecanicista instalado na Educação Infantil, ignorando a psicomotricidade também nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Os professores, preocupados com a leitura e a escrita, muitas vezes não sabem como resolver as dificuldades apresentadas por alguns alunos, rotulando-os como portadores de distúrbios de aprendizagem. Na realidade, muitas dessas dificuldades poderiam ser resolvidas na própria escola e até evitadas precocemente se houvesse um olhar mais atento e qualificado por parte dos agentes educacionais para o desenvolvimento psicomotor. 2.3 Brincar como Instrumento de Aprendizagem Existe uma relação estreita entre o brincar e a aprendizagem. Se no passado estes termos eram dicotômicos e se contradiziam, no mundo contemporâneo se entrelaçam, pois nos dias de hoje, já que as exigências cognitivas são precoces, a criança perde o espaço do brincar para o espaço da aprendizagem, e isso interfere na dinâmica natural do desenvolvimento psicológico da criança. (OLIVEIRA, 2008) Para Vygotsky (apud Kishimoto, 2002, p.51), “a imaginação em ação ou voltada para o brinquedo é a primeira possibilidade de ação da criança numa esfera cognitiva que lhe permite ultrapassar a dimensão perceptiva motora do comportamento.” (FRIEDMANN, 2003), coloca que: [...] as brincadeiras são essenciais a saúde física, emocional e intelectual do ser humano. Brincando dos reequilibramos, reciclamos nossas emoções e nossa necessidade de conhecer e inventar. Brincar é essencial à saúde física, emocional e intelectual do ser humano. Brincar é a representação em atos, através do jogo simbólico, da primeira possibilidade de pensamento propriamente dito, marcando a passagem de uma inteligência sensório-motora, baseada nos cinco On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X sentidos e na motricidade, para uma inteligência representativa pós-operatória (material e intuitiva), mediada por símbolos subjetivos, sendo este o caminho para a construção da inteligência operatória mediada pelos signos históricos arbitrários. Segundo Kishimoto (2002): [...] representar, brincar é dar forma a experiência humana significativas; é reapresentar, tornar novamente presente, de vivências que, por sua experiência, mereçam ser permanentemente lembradas. O imaginário não se confunde com o real, ele é um instrumento para a compreensão e a tomada de consciência real. Consoante com este pensamento, Oliveira (2008), entende que o brincar como o viver, é o prazer da ação, é a vivência da dimensão psíquica nas relações da criança com o mundo, onde, ao brincar, a criança vive o prazer de agir simultaneamente com o prazer de projetar-se no mundo em uma dinâmica interna que promove a evolução e a maturação psicomotora e psicológica dela. O brincar consiste em um sistema que proporciona a integração entre a vida social da criança, sendo transmitida de uma geração para outra ou aprendida nos grupos infantis, na rua, nos parques, escolas, festas entre outras é incorporada pelas crianças de forma espontânea (FRIEDMANN, 2003). Quando as crianças brincam, criam regras e adaptam seu pensamento de acordo com as situações encontradas. De acordo com o nível da brincadeira, a criança utiliza seus conhecimentos pré-aprendidos e adapta-os à nova situação. A relevância de brinquedos e brincadeiras como indispensáveis para a criação da situação imaginária, revela que o imaginário só se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam. A riqueza dos contos, lendas e o acervo de brincadeiras constituirão o banco de dados de imagens culturais utilizados nas situações interativas. Dispor de tais imagens é fundamental para instrumentalizar a criança para a construção do conhecimento e sua socialização. “Ao brincar, a criança movimenta-se em busca de parceria e na exploração de objetos, comunica-se com seus pares, se expressa através de múltiplas linguagens e descobre regras e toma decisões.” (VYGOTSKY 1988, apud, FRIEDMANN, 2003) Ao se pensar na evolução do brincar, devese voltar ao passado, época no qual o brincar era uma atividade característica tanto das crianças quanto dos adultos, representando para ambos um importante segmento da vida. As crianças participavam das festividades, lazer e jogos dos adultos, mas tinham, ao mesmo tempo, uma esfera separada de jogos. As brincadeiras eram Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2012) n.º 7 p. 49 - 52 52 formulas condensadas de vida, modelos em miniatura da história e destino da humanidade. A brincadeira era o fenômeno social do quais todos participavam e foi só bem mais tarde que ela perdeu seus vínculos comunitários e seu simbolismo religioso, tornando-se individual (FRIEDMANN, 2003: 28). Segundo Neto (2001), “[...] o brincar através dos movimentos, permite a criança um conjunto de relações (sujeito, as coisas, o espaço) necessárias ao seu desenvolvimento motor, aprendendo a perceber e a interacionar o vívido, o operatório e o mental.” A riqueza de aquisições processa de forma contínua e em plasticidade, permitindo mais tarde uma cultura motora fundamental a tarefas mais precisas e que solicitem maior exigência das diversas estruturas ou componentes da motricidade. Assim as brincadeiras fazem parte do patrimônio lúdico-cultural, traduzindo valores, costumes e formas de pensamento e ensinamentos, proporcionando às crianças uma cultura motora fundamental ao seu desenvolvimento e a sua aprendizagem. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo: Edições Loyola, 1987. ASSIS, A. P. P. SILVA, F. V. LIMA, J. F. SILVA, S. S. CASTRO, G. A. A. DESTRO, D. S. Importância da Educação Física para as séries iniciais a partir das contribuições da psicomotricidade. In: http://www.faminas.edu.br. FRIDMANN, A. O direito de brincar: a brinquedoteca. São Paulo: Ed. Vozes, 2003. ISPE-GAE. Instituto Superior de Psicomotricidade e Educação e Grupo de Atividades Especializadas. Disponível em: http://www.ispegae-oipr.com.br. LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Trad. Por Ana Guardiola Brizolara. 7ª edição. Porto alegre: Artes Médicas, 1992. MONTEIRO, V.A. A psicomotricidade nas aulas de Educação Física Escolar: uma ferramenta de auxílio na aprendizagem. In: http://www.efdeportes.com. MOYLES, J. Só Brincar? O papel do brincar na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002. NETO, C. A. F. Motricidade e jogo na infância. Rio de Janeiro: Sprint, 3ª Ed: 2001. OLIVEIRA, M. C. S. M. Do prazer de brincar ao prazer de aprender. IN: http://www.psicomotricidade.com.br. VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984 A psicomotricidade não é exclusiva de um novo método, ela visa fins educativos pelo emprego do movimento humano, já que o movimento é sempre a expressão de uma existência. O objetivo desse artigo foi conferir, a cada movimento executado pela criança, uma virtualidade cognitiva e prática. A ideia de psicomotricidade demonstrada, tem a finalidade de justificar o movimento com realização intencional, como atividade da totalidade, como expressão de uma personalidade e como um modo de relação particular com o mundo dos objetos e das pessoas. Sem dúvida, uma criança que não conhece a si mesma e que não descobriu o mundo que a cerca não conseguirá também relacionar a sua educação escolar com a realidade cotidiana, e uma vez desvinculado esses fatores, desvinculada será sua concentração e capacidade de cognição em relação ao aprendizado. Diante do exposto, podemos ressaltar que o trabalho com a psicomotricidade se propõe a permitir ao indivíduo sentir-se bem, permitir que se assuma como realidade corporal, possibilitando-lhe a livre expressão de ser. Não se pretende aqui considerá-la como uma forma de resolver todos os problemas encontrados em sala de aula. Ressaltamos então que ela é apenas um meio de auxiliar a criança a superar suas dificuldades de aprendizagem e prevenir possíveis inadaptações, auxiliando na alfabetização. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS On-line http://revista.univar.edu.br/ ISSN 1984-431X Interdisciplinar: Revista Eletrônica da Univar (2012) n.º 7 p. 49 - 52