214 – HEPATITE, UMA EPIDEMIA INVISÍVEL A Organização

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214 – HEPATITE, UMA EPIDEMIA INVISÍVEL
A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera o Brasil em que a hepatite é
endêmica. Para agravar o problema, a doença é assintomática, e a fila dos transplantes,
cada vez mais lenta.
“Falta um artista da Globo morrer de Hepatite B para que o governo e os
políticos tomem uma posição”. Enquanto isso não acontece, Moisés Fruschein, o autor
da frase, continua na fila dos transplantes para receber um fígado. Portador de Hepatite
B desde 1986 e com cirrose atualmente compensada, o promotor de eventos de 36 anos
se considera mais desprezado do que um portador HIV. “È uma doença sobre a qual
pouco se sabe, embora seja cinco ou seis vezes mais contagiosa do que a própria Aids”,
comenta.
Por falta de informação, ele não sabe qual é o lugar que ocupa na fila de
transplantes. “Sei que em 2005 cheguei a ter um Meld 28. Hoje, retrocedi para Meld 8”.
Meld é um critério internacional adotado pelo Brasil que é obtido por meio de exames
trimestrais em que se avaliam o tempo e a taxa de algumas substãncias processadas
pelo fígado. Com a fórmula, obtém-se o número que determina a posição na fila para
receber um fígado. Abaixo de 15, o portador está fora da lista.
Os mais críticos possuem um Meld 40 e são os primeiros a receber o
transplante do órgão. Além do assombro de viver como uma pessoa que a qualquer
momento pode entrar numa fase terminal, Moisés sempre conviveu com o preconceito.
“Desde que fiquei doente, as pessoas se afastaram de mim. Só não perdi o emprego
porque trabalho em uma empresa familiar, cujo proprietário é meu irmão. Foi ele que
cuidou de mim o tempo todo”, garante.
Moisés não se ilude. Embora tratado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no
Hospital das Clinicas de São Paulo, com medicação gratuita e à espera de um
transplante, acha que um novo fígado não será a solução dos seus problemas. “Ainda
hoje existe rejeição e terei que tomar remédios até o fim da vida. Os médicos que me
condenaram como paciente terminal em 2005 não sabem até hoje o que aconteceu para
a minha melhora. Nem eu”.
Hepatítes são doenças provocadas por diferentes tipos de vírus, classificados
por letras. Os principais são: A B, C. D (ou Delta) e E (segundo quadro no final). É uma
doença antiga e já aparece mencionada nos escritos de Hipócrates, na Grécia, no século
V A.C., com o nome de “icterícia epidêmica”. Mas só em 1883 a hepatite foi
relacionada com o sangue, durante uma campanha de vacinação antivariólica, quando
trabalhadores alemães apresentaram icterícia após serem vacinados com lotes de
vacina produzida a partir de plasma humano.
Na década de 1950, na Índia, surgiram diversos casos de hepatite após
contaminação de água por esgoto. Nessa mesma década, apareceram os primeiros
relatos de icterícia em indivíduos que faziam uso de drogas injetáveis. Somente nos anos
70 é que a hepatite B foi relacionada com a transmissão sexual.
DOENÇA ASSINTOMÁTICA
A doença pode ser um inimigo invisível porque não é sempre que apresenta
sintomas. Quando estes de manifestam, aparecem na forma de mal estar, dores de
cabeça, febre baixa, anorexia, cansaço, fadiga, dores nas articulações, náuseas,
vômitos, coceiras, desconforto abdominal na região do fígado e aversão a alguns
alimentos e cigarros. O doente geralmente apresenta icterícia (pele e olhos
amarelados, uma urina escura e descoloração das fezes. (fezes como massa de
vidraceiro). O aumento do fígado e do baço também podem ser sinais de hepatite.
“A maioria é assintomática e demora vários anos para ser percebido como
doença”, afirma Célia Cruz, do Departamento de Hepatites Virais B e C, do Centro de
Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde do governo de São Paulo. Segundo Célia,
o perfil epidemiológico do Brasil mudou, e a forma mais comum de contaminação
tem sido pelo uso de drogas injetáveis.
Ainda assim, há outros meios mais sutis, como alicate4s de cutícula e
tesouras em salões de beleza. “Os vírus sobrevivem de um dia até uma semana,
dependendo do meio onde estão”, explica. “Nas tatuagens deve-se ter cuidados não
apenas com os aparelhos, mas com os potes de tintas, que devem ser individuais e
descartáveis. O vírus nessa tinta tem um tempo maior de vida”. O material de
dentista e uma simples escova de dentes precisam de cuidados de lavagem e
esterilização.
Célia afirma que também a maquiagem permanente é um fator de risco, e
procedimentos como sobrancelhas e sombras permanentes requerem atenção.
“Esses procedimentos são, na verdade, tatuagens que podem esconder o perigo da
contaminação. O melhor é a prevenção constante e a informação sobre os
cuidados”, avisa a pesquisadora.
Não existe tratamento específico para a forma aguda de hepatite, apenas
recomendações como repouso, uma dieta pobre em gordura e rica em carboidratos.
A única restrição é a ingestão de álcool, que de ser suspensa por no mínimo seis
meses. Para as hepatites B e C, o tratamento é gratuito pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), de acordo com as Portarias do Ministério da Saúde No. 860 e No. 863,
de 2002.
A EVOLUÇÃO DAS FORMAS DE HEPATITE
- Hepatite A (HAV): período de incubação curto, não cronifíca e, na maioria
das vezes tem evolução benigna para cura.
- Hepatite B (HBV): dependendo da idade do paciente infectado – antes ou
depois dos cinco anos de idade – o quadro pode evoluir para cronicidade, em
percentuais que variam de 10 a 90% dos casos.
- Hepatite C (HCV): a cronificação ocorre em cerca de 80% dos casos.
- Hepatite D (HDV): dependendo do momento em que se adquire o vírus e se o
paciente já é portador crônico do vírus HBV, pode se agravar o quadro clinico do
paciente, com evolução mais rápida para cirrose ou câncer do fígado.
- Hepatite E (HEV): pode determinar quadro grave em mulheres gestantes.
PREVENIR É A MELHOR FORMA DE COMBATER A EPIDEMIA
As hepatites A e B têm como medidas de prevenção os cuidados com a
higiene pessoal, como lavar as mãos após ir ao banheiro, ao preparar alimentos e
antes das refeições, além de beber água tratada (filtrada ou fervida) e lavar e
desinfetar alimentos como frutas e verduras, antes de serem consumidos crus. A
hepatite B tem como principal medida de precaução, que garante imunidade para
95% dos indivíduos jovens que recebem corretamente as três doses necessárias; o
uso de preservativos nas relações sexuais.
Também são muito importantes as seguintes medidas: o uso das normas
adequadas de segurança para procedimentos cirúrgicos e odontológicos, o não
compartilhamento de objetos de uso pessoal (escovas de dente, lâminas de barbear,
alicates de unha) e dos materiais utilizados para o uso de drogas injetáveis e
inaladas (canudo, cachimbo, seringas).
A hepatite C tem como medidas de prevenção, os mesmos cuidados da
hepatite B, porém não existe até o momento vacina contra o virus C. As medidas de
prevenção da hepatite D são as mesmas da B, já que esse vírus é adquirido apenas
por pessoas que têm a hepatite B.
(Fonte: Revista do IDEC –Instituto Brasileiro de Defedsa do Consumidor –
No. 110 – Maio de 2007)
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