A própria disciplina de Didática manifesta-se atualmente como quase sinônimo de “novas mediações”. O que isso quer dizer? Houve um tempo em que ensinar era possuir o conhecimento dos conteúdos (assuntos) a serem transmitidos aos alunos, planejar as estratégias e organizar os recursos a serem utilizados neste processo. No final, elaborava-se uma avaliação que definia se o aluno havia ou não aprendido os conteúdos daquele determinado período na escola. Pensemos num “receituário”, no qual contivessem objetivos, conteúdos, estratégias, recursos e avaliações determinados para cada série escolar. Era um tempo favorável às reproduções de “Diários” de professor para professor e de ano para ano. Acreditava-se na possibilidade de uma educação estática e mecânica. Atualmente isso já não é mais possível. Mesmo que tentemos uma prática com estes moldes, a velocidade com que caminham fatos e produções no mundo atual e, quem mais nos interessa, nossos alunos, cobrar-nos-ão uma posição mais dinâmica deste processo. Portanto, estamos sim MEDIADOS por vários fatores e diversas aplicações na nossa prática educativa. É disso que falaremos neste módulo, mas sempre como possibilidades de reflexões muito mais do que como conclusões que possam transformar-se em rol de atitudes e/ou sugestões a serem absorvidas na nossa prática educativa. Para organizar melhor este módulo, vamos discutir quatro mediações atuais no processo ensino-aprendizagem. Convém, antes, destacarmos o termo “mediação” para entendermos nosso estudo. No Dicionário Aurélio, uma de suas definições é “intermédio”, que quer dizer “entremeio, ou estar entre”. O que está entre o ensino e a aprendizagem? O que possibilita ou não o professor ensinar e o aluno aprender? Vamos pensar então ensinar? prática efetiva, coletivamente. essa atuação? um pouco: se esses comentários ao lado são válidos, como O que você, como futuro professor, pode fazer para tornar sua competente e com resultados favoráveis? Pense individual ou Como seria sua atuação como professor? O que MEDIARIA 1.1 OS PROFESSORES E A CONCEPÇÃO CONSTRUTIVISTA As teorias existem para pautar uma prática ou a prática existe para respaldar a teoria? Seja qual for a sua resposta para esta polêmica questão, é necessário e imprescindível que nós, professores, possamos refletir na importância da teoria para a nossa prática. Mas para que servem as teorias? Esta é outra questão polêmica e, às vezes, redundante, mas podemos pensá-la tal como Solé e Coll (1996) “...para que teorias? Para interpretar, analisar e intervir na realidade que, por meio dessas teorias, tenta-se explicar. Acentuando desse modo o caráter instrumental das explicações teóricas, evidenciamos a necessidade de que elas se mostrem potentes para dar conta de sua função.” Um professor, ou qualquer outro profissional, necessita de um respaldo teórico para suas ações. Precisa fundamentar, justificar e exemplificar questões que foram suscitadas, justificadas e exemplificadas anteriormente por meio de exaustivas pesquisas. Segundo Solé e Coll (1996), nas situações de ensinoaprendizagem encontramos múltiplas variáveis e inúmeras causas para os seus fenômenos exatamente por estas situações, como já dissemos, serem dinâmicas e entre seres humanos. Nestas há diversos elementos presentes e incidências previstas diante das quais o professor precisa tomar decisões que nem sempre são somente suas. Estas decisões demandam reflexões que se baseiam em referenciais e teorias servindo como “marco que guia” sem, porém, determinar a ação. Há que se destacar que as reflexões do professor sobre sua atuação não são exclusivamente internas, mas também externas no que se refere: à administração educacional, ao currículo de escola baseado ou não nas suas características e valores como também à existência ou não de um projeto de formação permanente. Assim, “...necessitamos de teorias que nos sirvam de referencial para contextualizar e priorizar metas e finalidades; para planejar a atuação; para analisar seu desenvolvimento e modificá-lo paulatinamente, em função daquilo que ocorre e para tomar decisões sobre a adequação de tudo isso.” (Solé e Coll, 1996) Neste momento, poderíamos pensar em uma ou em várias teorias que nos dessem soluções para os problemas surgidos nas situações de aprendizagem. Mas não as encontraremos, ao menos não como um “livro de receitas” do que fazer para resolver um ou outro problema da prática educativa. É, no entanto, possível encontrar respostas do que acontece no âmbito individual, do aluno ou do professor, ou no âmbito social, deste aluno e deste professor, em um contexto escolar e este em um projeto educacional. Em outras palavras, há a concepção, construtivista, que é um conjunto articulado de princípios em que é possível diagnosticar, julgar e tomar decisões fundamentais sobre o ensino. Um dos princípios mais relevantes da concepção construtivista está não apenas na ênfase de que o conhecimento aprendido (aquele que fica e do qual nunca mais nos esquecemos) só é aprendido realmente se for construído pelo indivíduo, mas sim na crença de que a educação dá-se numa dimensão social. Se buscarmos um, apenas um elemento do processo educacional - seu conteúdo de ensino - para explicar esta dimensão social, é provável que possamos entendê-lo melhor. Por exemplo, o mesmo conteúdo de aprendizagem pode ser aprendido e construído de inúmeras diferentes formas, conforme os alunos que estiverem construindo-o, o ambiente no qual estes alunos estão inseridos, o entorno da escola onde estes alunos estudam, suas histórias de vida, seus objetivos, suas relações com os professores e entre eles, o projeto de políticas educacionais que há para eles etc. A dimensão social, presente e destacada, na concepção construtivista contém a possibilidade de responder a algumas daquelas perguntas dos professores diante dos seus problemas, quando estão ensinando e sobre as quais falávamos anteriormente. Desta forma, a escola é um elemento importante do processo ensino-aprendizagem na concepção construtivista, por oferecer aos alunos aspectos da cultura fundamentais para o seu desenvolvimento pessoal (cognitivo, afetivo e social) de forma ativa e contextualizada culturalmente. O aluno constrói seu conhecimento na interação com ambiente escolar e seus elementos. Mas, o conhecimento é construído a partir do quê? Melhor, um aprendiz aprende sozinho? A opção pela concepção construtivista de aprendizagem por parte de um professor “desobriga”-o de atuar sobre a construção do conhecimento realizada? Estes questionamentos têm sido aplicados não apenas como busca de respostas, mas como afirmações aceitas como verdades. Não somente profissionais da educação, como também a sociedade como um todo, têm se pautado na crença, de que “construtivismo é uma forma de o aluno aprender sozinho” e com a justificativa de que há naturalidade nesta crença, já que o “indivíduo constrói seu conhecimento”. Há neste pensamento um equívoco. O conhecimento é sim construído pelo indivíduo, mas nas relações que este tem com quem lhe ensina, com outros aprendizes, com o ambiente em que vive, com os meios de comunicação, com os conteúdos explorados, enfim com o mundo que o cerca. Assim podemos esclarecer que a concepção construtivista da aprendizagem e do ensino, ...”não contrapõe construção individual à interação social; constrói-se, porém se ensina e se aprende a construir. Em definitivo, não contrapõe a aprendizagem ao desenvolvimento, e entende a educação – as diversas práticas educativas das quais um mesmo indivíduo participa – como a chave que permite explicar as relações entre ambos.” (Solé e Coll, 1996) Construir conhecimento é aprender realmente ou significativamente. Mas, o que é uma aprendizagem significativa? É o ato de construírmos um significado próprio e pessoal para um objeto de conhecimento que existe objetivamente. Como Solé e Coll (1996) esclarecem: “...não é um processo que conduz à acumulação de novos conhecimentos, mas à integração, modificação, estabelecimento de relações e coordenação entre esquemas de conhecimento que já possuímos, dotados de uma certa estrutura e organização que varia, em vínculos e relações, a cada aprendizagem que realizamos.” A escola é considerada o local onde se aprende. Obviamente aprendemos muito em diferentes ambientes, mas as intervenções escolares são planejadas e sistematizadas. Isso não significa que a transmissão de conhecimentos memorizados garanta efetivamente o aprendizado por parte dos alunos. Pensemos nos conteúdos como elemento crucial para entender, articular, analisar e inovar a prática docente. Estes são concretos e resultados de convenções sociais. Existem como patrimônio histórico da humanidade e não podem ser modificados a cada aprendizagem realizada somente por um indivíduo. Um exemplo para explicar: quando se está alfabetizando, um aluno cria no seu processo de construção uma regra diferenciada para uma questão ortográfica. Isso não quer dizer que esta regra deva ser incorporada à ortografia da língua portuguesa. A regra existe e é concreta, a forma/meio como o aluno chegará até ela é que o fará ou não construir conhecimento sobre o assunto. Esta construção está atrelada à atribuição de significado pessoal que o aprendiz dá a ela, mas também às condições criadas pelo professor e demais atores deste cenário escolar para que esta significatividade protagonize a ação. “Esta é uma das razões pelas quais a construção dos alunos não pode ser realizada solitariamente: porque nada garantiria que sua orientação fosse adequada, [...] outra razão, muito mais importante, é que de forma solitária não seria assegurada a própria construção.” (Solé e Coll, 1996) Pense no que efetivamente você aprendeu até agora na sua vida escolar. A forma como isso se deu foi pela memorização ou pelo significado pessoal atribuído a essas aprendizagens? Ou ainda, o quanto outras pessoas lhe afetaram com a significatividade dessas aprendizagens? Os motivos ou motivações que tornam uma aprendizagem significativa para o indivíduo são internos e, exata e encantadoramente (eis o “belo” do ser humano), são infindáveis. O que isso quer dizer? Que pela utilidade ou pelo simples prazer de uma aprendizagem, o indivíduo a constrói. No entanto, os conteúdos sociais e culturais confrontamse com os conhecimentos prévios deste indivíduo a respeito dos mesmos. É este confronto que garante a construção do conhecimento e é sobre o mesmo que o professor deve atuar como mediador entre o aluno e a cultura. Podemos esclarecer que a construção na escola funciona como “ponte” entre o saber acumulado historicamente e o saber de cada um dos seus alunos. Faz-se na escola (de acordo com a concepção construtivista), um processo de conciliação a partir dos conhecimentos prévios (mesmo que adquiridos na própria escola em situações anteriores) com os conteúdos que configuram o currículo escolar. Enfim, a concepção construtivista oferece: - ao professor um referencial para analisar e fundamentar muitas das decisões que toma no planejamento e no processo do ensino e; para proporcionar-lhe critérios que o façam compreender o que acontece com seus alunos durante as aulas. - à escola um referencial para um trabalho de equipe articulado com outras escolas em projetos curriculares propostos, por exemplo, por políticas educacionais e com outras disciplinas. - o desenvolvimento de um trabalho de formação de seus professores pela construção de suas práticas profissionais.