b) Esforços Internos Os esforços internos são os oriundos da ação de uma parte da estrutura ou elemento estrutural, sobre outra parte da estrutura, por contato. No exemplo da fig. 1.3.1 podemos reconhecer que a força exercida no rodete A, embora seja um esforço externo para a ponte giratória, será um esforço interno para o guindaste como um todo. Para o caso de elementos em forma de barras (caso mais comumente tratado pela Resistência dos Materiais) podemos analisar os esforços internos atuantes em uma seção transversal (perpendicular ao eixo da barra) e reconhecemos que a ação de uma parte da barra sobre a outra pode ser reduzida a uma força F e a um conjugado de momento G. Ao decompormos estes dois esforços na direção do eixo da barra (direção normal) e no plano da seção (direção tangente), obtemos os chamados esforços seccionais (ou solicitantes) a saber (fig. 1.3.2): M – Momento Fletor N – Força Normal G F T – Momento Torque Q – Força Cortante M A G G N T Q F F N Q M T Fig. 1.3.2 – Esforços Seccionais (ou Solicitantes) A determinação dos esforços seccionais é feita, da mesma forma que os esforços reativos, através das equações da Estática, analisando o equilíbrio dos esforços que atuam na parte da estrutura que foi hipoteticamente secionada. 10 A seguir são apresentados alguns exemplos de determinação de esforços solicitantes. z 1 - Na seção flangeada do engaste: y F x = N = 4 kN (tração) F y= Q y = 0 F z = Q z = 3 kN 3 kN 600mm M x = T = 3 x 0,750 = 2,25 kN.m M y = 3 x 0,600 = 1,80 kN.m M z = 4 x 0,500 = 2,00 kN.m x 300d M = (22 + 1,82) ½ = 2,69 kN.m 350 250 4kN 0,80 kN/m 2 - Traçar os diagramas de esforços solicitantes N, Q e M para o pórtico esquematizado: 3,2kN 2,4 kN C B 5m 4,0 3,2 1 2 2,4 4m C A Ax Ay 11 4 2,4 3,2 B 5 1 Solução 2 2 C 4 AX Ay 1) Cálculo das Reações: Pelo MA = 0 pode-se escrever: 4x5,5 + 3,2x2 – 2,4 x 4 = Cx8; C = 2,35 kN () Pelo Fx = 0 e Fy = 0, obtem-se: Ax = 2,40 kN () e Ay = 4,85 kN () Força Normal (N) O trecho AB estará comprimido (N=4,85kN), como também o trecho BC (N= 2,40kN). Relembra-se a convenção de sinais para a força N: [+]tração ; Compressão [-] -2,4 N (kN) -4,85 +2,35 B x -1,65 -4,85 Força Cortante (Q) Relembra-se a convenção de sinais para a força cortante Q: [+];[-] A seção onde se anula o valor de Q é importante (corresponde a um valor extremo de M, já que Q = dM/dx): No trecho CB, tal ocorre em x = 2,9375m. Note que no “joelho” B, a força cortante se converte em normal e vice-versa. Momento Fletor (M) Relembra-se a convenção de sinais para M: Q (kN) +2,4 - + Na seção crítica, onde a força Q é nula: 9,60 x 3,45 M* = 2,35 x 2,9375 – 0,80 x (2,9375)2/2 M* = 3,45 kN.m M KN. m 12 1.4 – Conceito de Tensão. Os esforços locais, em pontos de uma dada seção, serão analisados através de seus valores específicos (por unidade de área) por meio do conceito de tensão. A tensão ( S ) presente em um ponto de uma dada seção de uma barra carregada é o limite da relação entre a força elementar F e a área A no entorno desse ponto, quando A tende a zero: S = Lim (F / A) = dF / dA ............................. ( 1.4.1 ) A0 É uma grandeza que tem a mesma dimensão de pressão (como veremos, o estado de tensão denominado “pressão” é uma situação particular do caso geral da tensão), medida em N/m2 (Pascal – Pa), em kgf/cm2, lbf/in2 (psi), dyn/cm2 (bar), etc. Ao decompormos o vetor força elementar dF na direção normal (perpendicular ao plano da seção – dFn) e na direção do plano da seção (dFt), obtemos as duas componentes da tensão: tensão normal ......................... dFn / dA ..............................( 1.4.2) (sigma), que pode ser de tração ou compressão (esmagamento), e tensão tangencial..................... dFt / dA ............................(1.4.3) (táu), também chamada de tensão de cisalhamento ou cisalhante. S dFn dF dA dFt Fig. 1.4.1 – Tensão. Tensão Normal. Tensão Tangencial. 13 Um fato que, desde o início, deve ser reconhecido é que a tensão que atua em um certo ponto de um certo plano de um corpo carregado depende da orientação do plano selecionado. Num mesmo ponto, porém em um plano diferente, a tensão, em geral, será diferente. Não são apenas as componentes que se modificam com a orientação do plano, mas é o vetor tensão que se altera. Assim é que, por exemplo, no caso simples de uma barra prismática (Fig. 1.4.2), de pequena seção transversal de área A0 e submetida a uma força de tração F pelos topos, fácil será concluir que, em um certo ponto P do plano da seção transversal, atuará uma tensão normal de tração cujo valor será, em média, F/A0, sendo 0. F F S = F / (A0/cos S0 =F/A0 F (A) A0 (B) F Fig. 1.4.2 – Variação da tensão com a orientação do plano da seção. Para uma outra seção, inclinada de um ângulo em relação à seção transversal (a direção normal a esta seção formará também um ângulo em relação ao eixo da barra), a sua área será maior, valendo A = A0 / cos , e como a força total é a mesma (F), a tensão será, em média, S = F / A0 cos , e suas componentes valerão: ScosFcoseSsenF sencos Os casos limites em que e, nos levam aos valores 0 F/A0 e 0, bem como, e Observe o fato relevante de que, apesar de estar a barra simplesmente tracionada, nas seções em que º (planos de clivagem), haverá uma tensão tangencial de valor ½ (F/A0) (valor máximo dessa tensão tangencial - metade do valor máximo da tensão normal, ocorrente no plano da seção transversal). Note 14 também que nos planos longitudinais da barra ( ), tanto a tensão normal como a tangencial são nulas. Para identificar o estado de tensão em um ponto de um corpo carregado necessário se torna o conhecimento das tensões ocorrentes em três planos ortogonais que se interceptam no ponto considerado, e que são três vetores, totalizando nove componentes escalares. Uma grandeza deste tipo é designada como um tensor de 2ª ordem (a ordem [O] de um tensor é o expoente n da relação [O] = 3n que fornece o número de componentes escalares da grandeza – uma grandeza escalar, como a temperatura, é um tensor de ordem zero, enquanto uma grandeza vetorial, como a força, é um tensor de 1ª ordem). A figura 1.4.3 apresenta um estado de tensão genérico num ponto P de um corpo carregado, definido pelas tensões que atuam em três planos ortogonais que se interceptam no ponto P. y yy * yx xy dy P xx zy dz dx z zz x xz * Fig. 1.4.3 – Estado de tensão em um ponto P de um corpo carregado (coloque os índices das duas tensões assinaladas com *, seguindo a convenção exposta no texto a seguir). Utilizou-se uma notação de dupla indiciação, na qual o 1º índice informa o plano onde a tensão atua (definido pelo eixo que lhe é perpendicular) e o 2º indica a direção da tensão propriamente dita (por exemplo, yz é a tensão, tangencial, que atua em um plano perpendicular ao eixo y e é orientada na direção do eixo z). As tensões 15 normais terão sempre índices iguais, por tal convenção, sendo designadas pela letra . Quanto aos sinais dessas tensões, adotaremos a seguinte convenção: para uma tensão atuante em uma “face positiva” (aquela cuja normal exterior está orientada no sentido positivo do eixo que lhe é perpendicular), será esta tensão positiva se orientada no sentido positivo do eixo correspondente, e negativa se orientada no sentido oposto; para uma tensão atuante em uma “face negativa” (aquela cuja normal exterior está orientada no sentido negativo do eixo que lhe é perpendicular), será ela negativa se orientada no sentido positivo do eixo correspondente, e positiva se orientada no sentido oposto. A Figura 1.4.4 a seguir mostra exemplos onde a nomenclatura e os sinais das tensões são indicados. x x y y z z Fig. 1.4.4 – Nomenclatura e sinais das tensões (os eixos x,y,z devem formar triedros diretos). A tensão é tangencial, atua numa face que tem o eixo x como normal externa (face positiva), é paralela ao eixo y, em seu sentido negativo. Logo, a tensão será designada pelo símbolo xy e terá sinal negativo; A tensão 2 é tangencial, atua numa face que tem o eixo z como normal externa (face positiva), é paralela ao eixo x, em seu sentido positivo. Logo, a tensão será designada pelo símbolo zx e terá sinal positivo; A tensão 3 é normal, atua numa face que tem o eixo y como perpendicular, porém é uma face negativa; a tensão é paralela ao mesmo eixo y, e em seu sentido negativo. A tensão será nomeada como y, e terá sinal positivo. Observe que as tensões ij para as quais i=j são tensões normais sendo positivas, se de tração, e negativas, se de compressão, independentemente do sinal das faces, não necessitando ter seus índices repetidos (seria uma redundância). 16 Fica como exercício mostrar que: zy (sinal +); yx (sinal -); x (sinal -). O tensor das tensões [S], com suas 9 componentes escalares, é representado por uma matriz quadrada (3 x 3), sendo a diagonal principal composta pelas tensões normais e os elementos secundários pelas tensões tangenciais. yx zx x S = xy y zy xz yz z ................................. ............( 1.4.4 ) Convém realçar que, ao se modificar a orientação dos eixos coordenados, as componentes ij sofrerão alterações, porém o estado de tensão no ponto considerado (dependente do carregamento aplicado ao corpo) se mantém invariante. É também importante caracterizar desde logo que a matriz em (1.4.4) é simétrica em relação à diagonal principal, ou seja: xy = yx yz = zy zx = xz .......................................... (1.4.5) A demonstração das equações (1.4.5) pode ser feita analisando-se o equilíbrio de momentos das forças atuantes sobre as faces do paralelepípeto elementar mostrado na Fig. 1.4.3, momentos esses tomados em relação a 3 eixos paralelos aos eixos coordenados, passando pelos pontos médios das faces (equilíbrio de momentos válido, inclusive, para o caso de o elemento estar acelerado, já que o momento de inércia da massa elementar em relação a um seu eixo é nulo – “M = I ”). Assim, para um eixo paralelo ao z, passante pelo ponto médio da face que lhe é perpendicular, de área dx.dy, as únicas forças atuantes nas demais faces e que provocam momentos em relação a tal eixo (as que não o cruzam ou que não lhe são paralelas) serão: xy (dy.dz) e yx (dx.dz), que, multiplicadas pelos respectivos braços para tomada de momentos nos permite escrever: xy (dy.dz). (dx/2) = yx (dx.dz). (dy/2), 17 ficando demonstrado que xy = yx . O mesmo procedimento repetido para os outros dois eixos, na mesma condição, nos levará ao que consta nas equações (1.4.5). Uma conseqüência importante dessa propriedade do tensor das tensões é o fato de que a tensão tangencial no contorno livre de peças carregadas é sempre tangente ao contorno (como mostrado na Fig. 1.4.5) Q Esta componente de não pode existir Fig. 1.4.5 – Tensões tangenciais nos contornos livres das peças. T Outro fato que será analisado em detalhe mais adiante é que a simetria da matriz (1.4.4) nos indica a possibilidade de, por uma conveniente mudança da orientação dos eixos coordenados (x, y, z), obter-se uma matriz equivalente diagonalizada (ij = 0), obtendo-se na diagonal principal as tensões chamadas principais que descrevem o estado de tensão no ponto considerado. Assim como o conceito de força, a idéia de tensão é puramente abstrata, não podendo essa grandeza ser medida diretamente. Como veremos, as tensões são avaliadas indiretamente, através de seus efeitos, as deformações. 1.5 – Tensões em peças sob carregamento centrado. Como aplicações iniciais para o estudo do cálculo de tensões em casos mais simples, trataremos de peças que, por suas condições de simetria geométrica e de carregamento centrado, nos permitem admitir uma distribuição uniforme para as tensões ao longo da área em que atuam (em seções afastadas dos esforços localizados, segundo Saint’Venant). Tal valor, embora possa não representar a distribuição real das tensões nos diversos pontos da área considerada, pelo menos, nos indica um valor médio para tais tensões, dando-nos idéia de sua ordem de grandeza. No caso de tração/compressão ou corte (cisalhamento) puros, calcularemos as tensões simplesmente fazendo: 18 N/A e Q/A .................. (1.5.1) Para exemplificar, veja-se a união de chapas mostrada na Fig. 1.5.1, transmitindo uma força de tração de 72 kN, provocando tração nas chapas, corte no pino e compressão (esmagamento) no corpo do pino e nos furos das chapas. 80 75 150 100 B A 72 kN 72 kN 15 20 36 kN 72 kN 36 kN 15 P d = 25mm TRAÇÃO NA CHAPA CORTE DO PINO CORTE NA CHAPA COMPRESSÃO (ESMAGAMENTO) do furo e do corpo lateral (efeito mancal) Área projetada Fig. 1.5.1 – Cálculo de tensões em peças simétricas sob carregamento centrado. 19 As tensões críticas de tração nas chapas ocorrerão nas seções onde há os furos (menor área) e valerão: AT = (36 x 103 N) / [(100 – 25) x 15 x 10-6 m2] = 32 x 106 N/m2 = 32,0 MPa 72 x 103 N) / [(150 – 25) x 20 x 10-6 m2] = 28,8 x 106 N/m2 = 28,8 MPa As tensões críticas de cisalhamento nas chapas (nos planos em que seriam rasgadas tangencialmente) valerão: (36 x 103 N) / [(2) x 75 x 15 x 10-6 m2] = 16 x 106 N/m2 = 16,0 MPa (72 x 103 N) / [(2) x 80 x 20 x 10-6 m2] = 22,5 x 106 N/m2 = 22,5 MPa A tensão de compressão (esmagamanto) nos furos das chapas será calculada dividindo-se o valor da força de compressão por uma área menor do que a área em que os esforços se distribuem, a saber, a área projetada num plano perpendicular à direção da força. O valor assim obtido, demonstra-se, é até ligeiramente superior ao valor máximo atingido pelo valor da tensão variável, ocorrente na aresta mediatriz da área solicitada (tensões de Hertz). Teremos então (a favor da segurança): AC = (36 x 103 N) / [25 x 15 x 10-6 m2] = 96 x 106 N/m2 = 96,0 MPa (C) BC = (72 x 103 N) / [25 x 20 x 10-6 m2] = 144 x 106 N/m2 = 144 MPa (C) Para o pino de união das chapas, teremos uma tensão tangencial calculada por: P(36 x 103 N) / [(/4) x [25]2 x 10-6 m2] = 73,34 x 106 N/m2 = 73,3 MPa As tensões de compressão (esmagamento) no corpo médio do pino (em contato com a chapa B) e em suas duas extremidades (em contato com as chapas A), valerão, respectivamente 144 e 96 MPa (conforme se pode presumir, calcado no Princípio da Ação e Reação – já que as áreas de contato se superpõem). OBSERVAÇÃO: os resultados numéricos devem ser apresentados com 3 (três) algarismos significativos (compatível com a precisão dos dados em geral disponíveis na Engenharia – como por exemplo: g = 9,81 m/s2, aço = 7,83 tf/m3, etc). 20