EDUCAÇÃO ROMANA E MEDIEVAL: O Mestre em

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EDUCAÇÃO ROMANA E MEDIEVAL:
O Mestre em São Tomás de Aquino
Denilson A. Rossi1
Imerso na cultura greco-romana, no chamado período medieval, surge um
grande pensador escolástico: Tomás de Aquino. Neste contexto, o objetivo principal
do texto que segue é conhecer um pouco sobre São Tomás, sua concepção de ser
humano e suas contribuições filosóficas, para a educação.
Com esta meta, pergunta-se:

Quem foi São Tomás?

Como Tomás de Aquino concebia o ser humano?

Quais foram suas principais contribuições filosóficas para a educação?
Tomás de Aquino (1225-1274)
Antes de adentrar o campo filosófico, antropológico e educacional, primeiro,
buscar-se-á apresentar alguns dados a respeito da vida e da produção intelectual
deste grande filósofo escolástico.
De acordo com Reale (2011, p. 211-212) Tomás de Aquino nasceu em
Roccasecca (Itália), foi padre, filósofo e teólogo, expoente da Escolástica; ensinou
nas principais universidades europeias, sendo um dos maiores pensadores de todos
os tempos.
Considerado mestre em teologia, Tomás defendia que, com o uso da razão, é
possível demonstrar a existência de Deus (MONDIN, 2011, p. 186-188).
O referido filósofo e teólogo deixou uma grande produção intelectual, pois ele
escreveu muitas e profundas obras. A esse respeito os autores (GARCIA; VELOSO,
2007, p. 72) orientam que,
Suas obras podem ser organizadas em quatro diferentes grupos:
1º Grupo – Comentários: à física, à lógica, à ética, à metafísica de
Aristóteles; à Sagrada Escritura; a Dionísio pseudo-areopagita e às
sentenças de Pedro Lombardo;
1
Bacharel em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Licenciado em Filosofia e
especialista em Docência no Ensino Superior pela Faculdade Bagozzi. Especialista em Formação
Humana – Counseling (IATES). Especialista em Filosofia Clínica (ITECNE). Mestrando em Teologia e
Sociedade (PUC-PR). Professor na graduação e pós-graduação Bagozzi, no Grupo Educacional
ITECNE e na PUC-PR.
2º Grupo – Sumas: Suma contra os Gentios e Suma Teológica
(inacabada);
3º Grupo – Questões: Questões Disputadas; Questões Várias;
4º Grupo – Opúsculos: Da Unidade do Intelecto contra os
Averroístas; Da Eternidade do Mundo.
Nestes agrupamentos de obras produzidas por Tomás de Aquino, muitas são
as ideias e os temas tratados por ele. Segundo Reale (2011, p. 212-213), deve-se a
Tomás a mais completa síntese entre razão e fé. Também foi objeto de suas
reflexões: Deus, homem e mundo. Para ele, razão e filosofia eram consideradas
como “Preambula Fidei”. Entendia que a filosofia é autônoma, mas não pode
conhecer tudo. Nos seus argumentos defendia que a fé melhora a razão assim como
a teologia melhora a filosofia e que a razão é ponto chave de diálogo.
O ser humano para Tomás:
No tocante ao campo antropológico, Tomás de Aquino entendia que o ser
humano “[...] enquanto dotado de razão e de livre-arbítrio, conhece a lei divina, a lei
eterna e a lei humana, e peca quando infringe as duas primeiras leis e a terceira,
enquanto baseada na lei natural” (REALE, 2011, p. 230). Nota-se que, o nobre
pensador concebia o ser humano como sendo racional e portador do livre-arbítrio.
Sobre a visão tomista, de que o ser humano é portador do predicado da
racionalidade, concorda o filósofo Henrique C. Lima Vaz (2006, p. 62) ao dizer que:
“Com efeito, é a partir da racionalidade como diferença específica que o homem,
encontrando seu lugar na natureza, pode empreender a busca do seu fim.”
Quanto ao fato de Tomás conceber o ser humano como ser livre, veja-se a
citação que segue:
A segunda parte da Suma vai tratar do ser humano não enquanto
saído pronto das mãos de Deus, mas à medida que é também capaz
de se fazer e de fazer o seu mundo, de escolher o que ele quer e
fazer ser. Isso o ser humano pode, porque é dotado de intelecto, de
decisão livre e de autodomínio (NASCIMENTO, 2004, p. 268).
Sem dúvida, na concepção tomista, o ser humano é racional, livre e capaz de
fazer-se e fazer o seu caminho.
A Educação e o Mestre
Em se tratando da relação entre educação e mestre, coloca-se algumas
questões como ponto de partida visando uma melhor compreensão do pensamento
de Tomás de Aquino, a saber: como conhecer e como ensinar? Quem ensina e
quem aprende? Quais são as dimensões do ensino.
Como conhecer? Como ensinar?
Sua principal obra acerca da educação e do mestre é, justamente, De
magistro (Sobre o ensino). Obra esta que se encontra no grupo das Questões
Disputadas. Sobre como conhecer e como ensinar, afirma o próprio autor
[...] há duas formas de adquirir conhecimento: de um modo, quando a
razão por si mesma atinge o conhecimento que não possuía, o que
se chama descoberta; e, de outro, quando recebe ajuda de fora, e
este modo se chama ensino (AQUINO, 2004, p. 32).
Na visão tomista o conhecimento, pela descoberta, se dá pela própria força
da razão natural enquanto que, o conhecimento, pelo ensino, depende da ajuda de
alguém, ou seja, do mestre (professor). Portanto, é nesta dimensão – do ensino –
que se percebe a importância do professor (mestre).
Quem ensina e quem aprende?
Outra questão interessante no pensamento tomista é sobre quem ensina e
quem aprende. Acerca desta temática, veja-se o que afirma o pensador escolástico,
E do mesmo modo que se diz que o médico causa a saúde no
doente pela atuação da natureza, também se diz que o professor
causa conhecimento no aluno com a atividade da razão natural do
aluno. E é nesse sentido que se diz que um homem ensina a outro e
se chama mestre. (AQUINO, 2004, p. 32)
Nota-se a importância do trabalho do professor (mestre) enquanto
responsável por causar o conhecimento no aluno (educando). Entenda-se este
“causar” como alguém que desperta para, que estimula a razão natural do aluno a
acessar o conhecimento.
Dimensões do ensino: contemplativa e ativa.
Referindo-se ao ensino, pode-se também falar de duas dimensões, a
contemplativa e a ativa. Sobre diz Tomás (AQUINO, 2004, p. 61):
Ora, no ato de ensinar encontramos uma dupla matéria, o que se
verifica até gramaticalmente pelo fato de que ‘ensinar’ rege um duplo
acusativo: ensina-se – uma matéria – a própria realidade de que trata
o ensino e ensina-se – segunda matéria – alguém, a quem o
conhecimento é transmitido. Em função da primeira matéria, o ato de
ensinar é próprio da vida contemplativa; em função da segunda, da
ativa.
Entende-se que, para Tomás de Aquino, o conteúdo a ser ensinado depende
da dimensão contemplativa, isto é, educador e educando precisando contemplar a
realidade para atingir, via razão, o conhecimento. Do outro lado está a dimensão
ativa do ensino, ou seja, se ensina algo para alguém com uma finalidade, no caso,
para ajudar o educando a aplicar ativamente o conhecimento na prática do seu
cotidiano pessoal e comunitário-político.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Tomás de. Sobre o ensino (De Magistro) e os sete pecados capitais.
Trad. Luiz Jean Lauand. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
GARCIA, José Roberto; VELOSO, Valdecir da Conceição. Eureka: construindo
cidadãos reflexivos. Florianópolis: Sophos, 2007.
NASCIMENTO, Carlos Arthur do. A moral de Santo Tomás de Aquino: a segunda
parte da Suma de Teologia. In: COSTA, Marcos; DE BONI, Luís Alberto. A ética
medieval face aos desafios da contemporaneidade. Porto Alegre: Edipucrs, 2004,
p. 265-274.
MONDIN, Batista. Cuso de filosofia. V. 1, 16. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: patrística e escolástica.
Vol. 2, 4. ed. São Paulo: Paulus, 2011.
VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia Filosófica. Vol. 1, 8.ed. São Paulo:
Loyola, 2006.
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