CENTRO UNIVERSITÁRIO FRANCISCANO PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO ÁREA DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS Programa de Pós-Graduação em Nanociências JAQUELINE URBAN MOURA DESENVOLVIMENTO, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA CITOTOXICIDADE DE NANOPARTÍCULAS DE MANGIFERINA Santa Maria, RS 2014 JAQUELINE URBAN MOURA DESENVOLVIMENTO, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO PRELIMINAR DA CITOTOXICIDADE DE NANOPARTÍCULAS DE MANGIFERINA. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Nanociências do Centro Universitário Franciscano de Santa Maria como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Nanociências. Orientadora: Profa. Dra RENATA PLATCHECK RAFFIN Co-orientadora: Profa. Dra. Patrícia Gomes Santa Maria RS 2014 M929d Moura, Jaqueline Urban Desenvolvimento, caracterização e avaliação preliminar da citotoxicidade de nanopartículas de mangiferina / Jaqueline Urban Moura ; orientação Renata Platcheck Raffin ; coorientação Patrícia Gomes – Santa Maria : Centro Universitário Franciscano, 2014. 83 f. : il. Dissertação (Mestrado em Nanociências) – Centro Universitário Franciscano, 2014 1. DMSO 2.Liberação 3.Mangiferina 4.Nanocápsulas 5.Validação I.Raffin, Renata Platcheck II.Gomes, Patrícia III.Título CDU 547.12 Elaborada pela Bibliotecária Eunice de Olivera CRB10/1491 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que de uma forma ou de outra colaboraram para a realização deste trabalho, em especial: Agradeço a Deus, por todos os problemas e lutas que passei, muitas vezes sem compreender, obrigado Senhor, em tudo te dou graças no bem ou no mal, pois sei que a recompensa virá no final, e por me ter concedido o privilégio de aprender, convivendo com pessoas tão especiais. Aos meus queridos pais, pelo imenso amor, pelo apoio constante, pelos ensinamentos de grande valor que me presenteiam durante toda a vida. Aos meus irmãos, Simone e Derli, pelo afeto, amizade e apoio de sempre. À minha orientadora professora Renata P. Raffin pelo conhecimento transmitido, pelas oportunidades, desafios, orientações, otimismo, amizade e por me proporcionar esta valiosa oportunidade de aprendizado. À Professora Patrícia Gomes, co-orientadora deste trabalho, pelos conhecimentos prestados durante a realização deste trabalho, amizade e apoio, por toda atenção e força para comigo, foi uma grande amiga e colaboradora. Sua dedicação, boa vontade e afeto foram admiráveis. Muito obrigada! Á Professora Solange Fagan, pelo projeto que me foi concebido e pela oportunidade de viajar para Cuba, apresentar meu trabalho, assim como viver a experiência do processo de desenvolvimento de medicamentos de uma indústria farmacêutica cubana, foi incrível, muito obrigada. Á Gabriela minha grande amiga, um agradecimento especial pelo auxílio nas minhas lutas, pelo apoio incondicional, incentivo, não me deixar desistir e por toda dedicação e paciência, pela força e parceria em Cuba. Aos amigos e queridos companheiros de pesquisa Gabriela, Bibiana Aldrigui, Ana Paula Tasqueto, Cayane Genro, Dionei Seibel e a Isabel Roggia, Karine de Bona, Michele Gendelski, Dionei, Pedro, Fernando, pelo intenso convívio, amizade e auxílio durante o mestrado, pela atenção e carinho, pelas inúmeras contribuições na realização deste trabalho, sem vocês nada teria sido possível, em que juntos formamos uma equipe e alcançamos nossos objetivos com esforço, dedicação e ajuda mútua. Aos colegas e amigos do Laboratório de Nanotecnologia pela amizade paciência, auxílios prestados, discussões científicas e pelos momentos de descontração proporcionados. Aos Professores do Programa de Pós Graduação da UNIFRA – Mestrado de Nanociências pelas contribuições na minha formação acadêmica RESUMO A mangiferina é um composto natural, mais especificamente uma xantona glicosilada, que foi originalmente isolada da Mangifera indica L., a mangueira, pertencente à família Anacardiaceae. Possui uma variedade de atividades farmacológicas já estudadas, incluindo ação antioxidante, antidiabética, antitumoral, hepatoprotetora antiviral, entre outras. A mangiferina apresenta baixa solubilidade em água, além de baixa estabilidade química, o que dificulta a formulação de uma forma farmacêutica adequada para administração oral. Uma estratégia para preservar a integridade química e aumentar a biodisponibilidade de fármacos pouco solúveis em água é a nanoencapsulação. Desta forma, suspensões de nanocápsulas de mangiferina foram preparadas na concentração de 250 µg/mL pela técnica de deposição interfacial do polímero pré-formado, contendo como polímero o Eudragit® S100 e como um cosolvente o dimetilsolfóxid (DMSO). As suspensões foram caracterizadas através da determinação do pH, diâmetro de partícula, índice de polidispersão, potencial zeta, taxa de associação, doseamento do fármaco, perfil de liberação e microscopia eletrônica de transmissão (MET). Para avaliar o perfil preliminar de citotoxicidade, foram realizados testes de viabilidade celular e irritabilidade através do teste de 3-4, 5-dimethylthiazolyl-2-2, 5-diphenyltetrazolium bromide (MTT) e o Hen’s Egg Test Chorioallantoic Membrane (HET CAM), respectivamente As nanocápsulas de mangiferina apresentaram pH ácido, diâmetro de partícula de 92 nm, índice de polidispersão menor que 0,2, potencial zeta de -18,3 mV, a eficiência de encapsulação foi de 71,78% ± 1,54 e o doseamanto foi de 88,17±1,80. A validação do método foi realizada através de estudos de especificidade, linearidade, limite de detecção, quantificação, robustez, precisão e exatidão através de cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE), utilizando como fase móvel água e metanol, 70:30 acidificada com ácido acético glacial (pH 3,5),com determinação em 254 nm. O método apresentou linearidade (r= 0,9996) e precisão (DPR= 1,71%, reprodutibilidade interna e DPR= 1,80%, repetibilidade). A exatidão foi de 94,98%. A robustez indicou que a temperatura, o fluxo e o pH da fase móvel não interferem na análise. A MET demostrou que as nanocápsulas de mangiferina apresentaram boas características morfológicas, estando com tamanho homogêneo e não agregadas. Para o estudo do perfil de liberação, foi empregada a técnica de diálise, sendo que 54,88% de mangiferina foi liberada para o meio, em 24 horas. Os resultados do ensaio de MTT mostram que não houve diferença significativa (p ˂ 0,05) na viabilidade celular das células tratadas com 0,75 µg/mL, 1,5 µg/mL e 2,5 µg/mL de suspensão de nanocápsulas de mangiferina, quando comparadas com o controle. Já o teste de HET CAM demonstrou que as nanocápsulas de mangiferina possuem um perfil levemente irritante, comparadas com o controle negativo, provavelmente devido ao seu pH ácido, o que não inviabiliza seu uso. Com base nestes resultados, podemos concluir que as nanocápsulas de mangiferina são uma alternativa promissora de uso terapêutico deste fármaco, principalmente por via oral. Como perspectivas futuras, são necessários mais estudos in vivo e in vitro para avaliação de sua farmacocinética e toxicidade. Palavras-chave: DMSO, liberação, mangiferina, nanocápsulas, validação. ABSTRACT Mangiferin is a natural bioactive, more specifically a glycosylated xanthone which was originally isolated from Mangifera indica L., mango tree, belonging to the family Anacardiaceae. It has a variety of pharmacological activities already studied, including antioxidant, anti-diabetic, antitumoral, hepatoprotective, antiviral, among others. Mangiferin presents very poor water solubility, and low chemical stability, which makes difficult the formulation of a suitable pharmaceutical drug delivery system. A strategy for preserving the chemical integrity and enhancing the bioavailability of poorly watersoluble drugs is nanoencapsulation. In this way, mangiferin nanocapsule suspensions were prepared at the concentration of 250 µg/mL using interfacial deposition of pre-formed polymer technique containing as polymer Eudragit® S100 and as a co-solvent dimethylsulfoxide (DMSO). The suspensions were characterized by determining pH, particle diameter, polydispersity index, zeta potential, drug content, encapsulation efficiency, release profile and morphology (transmission electronic microscopy - TEM). In order to assess the initial profile of cytotoxicity, cellular viability and irritability tests were conducted through diphenyltetrazolium bromide (MTT) test and Hen’s Egg Test Chorioallantoic Membrane (HET CAM), respectively. Mangiferin nanocapsules showed acid pH, particle diameter of 92 nm, polydispersity index > 0.2, zeta potential of -18.31 mV, encapsulation efficiency of 71.78 % ± 1.54, and drug loading of 88.17 ± 1.80 %. The analytical method validation was performed through studies of specificity, linearity, limit of detection and quantification, robustness, precision and accuracy of high performance liquid chromatography (HPLC) method using a mobile phase of water and methanol(70:30), acidified with acetic acid (pH 3.5), with determination at 254 nm. The method was linear (r = 0.9996) and precise (RSD = 1.71 % for intra-day and RSD = 1.80 % for interdays precision). The accuracy was 94.98 %. The robustness indicated that temperature, flow rate and pH of the mobile phase did not interfere in the analysis. TEM demonstrated that nanocapsules of mangiferin showed adequate morphological characteristics and were not aggregated, presenting homogeneous size. In order to study the release profile, dialysis technique was used, and 54.88% of mangiferin was released to the medium within 24 hours. The results of MTT assay showed no significant difference (p ˂ 0.0 ) in viability of cells treated with 0.75 mg/mL, 1.5 mg/mL and 2.5 mg/mL suspension of mangiferin nanocapsules , when compared with the control. HET CAM test showed that nanocapsules had a slightly irritating profile compared to the negative control, probably due to its acidic pH, which does not impair its use. Based on these results, we can conclude that mangiferin nanocapsules are a promising alternative for therapeutic use of this drug, especially for oral administration. As future prerspectives, further in vivo and in vitro studies are needed to evaluate its pharmacokinetics and toxicity. Keywords: DMSO, release, mangiferin, nanocapsules, validation. LISTA DE ABREVIATURAS ANOVA - Análise de variância; BHE- Barreira hematoencefálica; CLAE – Cromatografia líquida de alta eficiência; DMSO- Dimetilsulfóxido; DP - Desvio padrão; DPR – Desvio padrão relativo; ED – Eficiência de dissolução; Mw – Peso molecular; MET- Microscopia eletrônica de transmissão; PLGA- Poli(ácido láctico-co-glicólico); SNC- Sistema nervoso central; LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Estrutura molecular da mangiferina (CORREIA et al., 2006)....................18 Figura 2- Fórmula estrutural Eudragit® (ROHM , 2003)...........................................25 Figura 3- Equação para a determinação da taxa de encapsulação..............................33 Figura 4 - Suspensões de nc de mangiferina contendo o polímero PCL, poli (caprolactona), observando-se a precipitação da mangiferina e formação de cristais...37 Figura 5 - Suspensões de nc de mangiferina contendo como polímero o eudragit® S100, sem precipitação do fármaco..............................................................................38 Figura 6 - Diâmetro médio e índice de polidispersão de suspensão ncb em função da intensidade de espalhamento de luz dinâmico..............................................................40 Figura 7- Diâmetro médio e índice de polidispersão de suspensão de nc mangiferina 250 µg/mL, em função da intensidade de espalhamento de luz dinâmico...................40 Figura 8 - Determinação do potencial zeta de nanocápsulas sem o fármaco..............41 Figura 9 - Determinação do potencial zeta de nanocápsulas de mangiferina na concentração de 250 µg/mL.........................................................................................42 Figura 10 - Cromatogramas sobrepostos da mangiferina livre (a), da suspensão de nanocápsulas de mangiferina na concentração de 10 μg/mL (b) e o cromatograma da suspensão sem o fármaco (c)........................................................................................45 Figura 11 - Diagrama de cores em 3D, obtido para suspensão de nanocápsulas de mangiferina na concentração de 10 µg/mL..................................................................45 Figura 12 - Diagrama de cores em 3D, obtido para mangiferina livre na concentração de 10 µg/mL................................................................................................................ 46 Figura 13 - Microscopia eletrônica de transmissão das nanocápsulas sem o fármaco. Comprimento da escala: 100 e 300 nm........................................................................50 Figura 14- Microscopia eletrônica de transmissão das nanocápsulas de mangiferina 250 µg/mL. Comprimento da escala: 100 e 300 nm....................................................51 Figura 15 - Gráfico comparativo de liberação de anaocápsulas de mangiferina a 250µg/ml e de mangiferina na forma livre, na mesma concentração...........................52 Figura 16 - Efeito da viabilidade celular, de nanocápsulas de mangiferina, de nanocápsulas sem o fármaco e mangiferina na forma livre, em linhagem de células Vero...............................................................................................................................54 Figura 17 - Teste HET CAM: (A) Controle negativo, (B) substância irritante leve (SDB), (C) substância de irritação severa (NaOH).......................................................55 Figura 18 - Teste HET CAM: (A) suspensão de nanocápsula sem o fármaco, (B, C): Suspensão de nanocápsulas de mangiferina (250 µg/mL)............................................56 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Composição das suspensões de nanocápsulas contendo mangiferina, para um volume final de 25 mL............................................................................................29 Tabela 2 - Características físico-químicas das suspensões de nanocápsulas sem o fármaco e de nanocápsulas de mangiferina...................................................................39 Tabela 3 - Valores obtidos da reprodutibilidade interna e repetibilidade.....................48 Tabela 4 - Resultados obtidos no ensaio de exatidão (n = 3)......................................49 Tabela 5 - Referências quantitativas para classificação final do produto quanto ao seu potencial de irritação no HET-CAM............................................................................55 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO................................................................................................................17 2. REFERENCIA TEÓRICO...........................................................................................18 2.1.Mangiferina.................................................................................................................... 18 2.2. Encapsulação de ativos naturais.....................................................................................20 2.3. Sistemas carreadores de fármacos..................................................................................22 2.4. Liberação do fármaco a partir de nanosistemas.............................................................26 3.MATERIAIS.....................................................................................................................28 3.1. Métodos..........................................................................................................................28 3.1.1. Desenvolvimento das suspensões de nanocápsulas contendo mangiferina................29 3.2. Caracterização físico-química das suspensões de nanocápsulas de mangiferina...........30 3.2.1. Determinação do diâmetro de partícula e índice de polidispersão..............................30 3.2.2. Potencial zeta...............................................................................................................30 3.2.3. Determinação do pH....................................................................................................30 3.2.4. Validação de metodologia analítica por CLAE para a quantificação de suspensões de nanocápsulas..........................................................................................................................31 3.2.5. Concentração de fármaco dissolvido na fase aquosa da suspensão e determinação da taxa de associação do fármaco..............................................................................................32 3.2.6. Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET).........................................................33 3.2.7. Teste de liberação da mangiferina através de diálise..................................................33 3.3. Avaliação da atividade biológica...................................................................................34 3.3.1. Viabilidade celular (MTT)..........................................................................................34 3.3.2. HET CAM (Hen’s egg test chorioallantoic membrane)……………………….........35 3.4. Análise estatística……………………………………………………………....….…..35 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................35 4.1. Preparação das suspensões e análise macroscópica.......................................................35 4.2. Avaliação físico-química das suspensões de nanocápsulas contendo mangiferina.......38 4.2.1. Determinação do diâmetro médio e índice de polidispersão.......................................38 4.2.2. Determinação do potencial zeta..................................................................................40 4.2.3. Determinação do pH das suspensões..........................................................................42 4.2.4. Determinação do teor da mangiferina nas suspensões................................................43 4.3. Validação de metodologia analítica por clae para a quantificação de suspensões de nanocápsulas contendo mangiferina......................................................................................44 4.3.1. Especificidade.............................................................................................................44 4.3.2. Linearidade..................................................................................................................46 4.3.3. Repetibilidade e precisão intermediária......................................................................47 4.3.4. Exatidão.......................................................................................................................48 4.3.5. Robustez......................................................................................................................49 4.4. Microscopia eletrônica de transmissão (MET)..............................................................49 4.5. Teste de liberação da mangiferina através de diálise.....................................................51 4.6. Viabilidade celular (MTT).............................................................................................53 4.7. HET CAM (Hen’s egg test chorioallantoic membrane)………………………….....…55 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS……………………………………………………....….58 Interdisciplinaridade..............................................................................................................59 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………....…..60 ANEXO 1 : MANUSCRITO................................................................................................69 17 1. INTRODUÇÃO Novas alternativas terapêuticas têm sido buscadas para o tratamento de doenças que ainda são problemas de saúde em todo o mundo. Neste sentido, o uso de produtos naturais é uma das possibilidades para a produção de novas formas farmacêuticas de liberação controlada, a fim de garantir a uma maior biodisponibilidade e eficácia do fármaco. Cita-se, como uma possibilidade, a mangiferina que caracteriza-se como é um composto natural que se aplica exatamente nesta proposta (YUANYUAN et al., 2009). A mangiferina (1,3,6,7-tetrahidroxi-xantona-C2-b-D-glucosilada) é um bioativo natural, mais especificamente uma xantona glicosilada que foi originalmente isolada da Mangifera indica L., a mangueira, pertencente à família Anacardiaceae, (MERWE et al., 2012). Oriunda da Índia, a mangueira é atualmente cultivada em diversas partes do globo terrestre, existindo diferentes variedades (PINTO, 2008). A mangiferina é um dos constituintes fenólicos majoritários da mangueira, que pode ser detectada nas folhas, fruto, raízes e casca do caule (RICHARDSON, 1983). Este ativo possui uma variedade de atividades farmacológicas, destaca-se entre elas a ação protetora de oligodendrócitos e neurônios corticais da excitotoxicidade, que impede a perda neuronal na região do hipocampo, além de reduzir o déficit neurológico causado pelas lesões isquêmicas em ratos, devido à sua ação antioxidante (ANDREU et al., 2010). Além disso, a mangiferina apresenta atividade antidiabética, antitumoral, hepatoprotetora, antiviral e anticâncer (YUANYUAN et al., 2009). Um dos obstáculos da mangiferina é sua baixa solubilidade em água, além de baixa estabilidade química e baixa biodisponibilidade oral, o que dificulta a formulação de uma forma farmacêutica adequada para administração. Uma estratégia para preservar a integridade do produto químico e aumentar a biodisponibilidade de ativos pouco solúveis em água é a nanoencapsulação (SOUZA et al., 2009). As nanocápsulas destacam-se por serem estruturas coloidais constituídas por vesículas de um fino invólucro de polímero biodegradável e uma cavidade central com núcleo oleoso, no qual a substância ativa encontra-se dissolvida ou dispersa, sendo por isso considerada um sistema reservatório, o qual apresenta diâmetro submicrométrico (VAUTHIERet al.,2009). Essas nanoestruturas apresentam inúmeros benefícios como redução de efeitos colaterais, maior 18 permeação dos fármacos através das mucosas, que podem proporcionar estabilidade física máxima, além de proteger o ativo contra a degradação química e permitir um controle preciso sobre a liberação dos componentes encapsulados durante o processo digestivo, para maximizar a adsorção do fármaco, dessa forma, prolongando o tempo de ação (SOUZA et al., 2009). Esse sistema apresenta alta eficiência para a encapsulação de fármacos lipofílicos e com baixo conteúdo de polímero, o que fazem deles promissores veículos carreadores (BARRAS et al., 2009). Considerando as várias ações biológicas da mangiferina, sua aplicação terapêutica é promissora, sendo importante investigar os seus possíveis efeitos em um sistema nanoestruturado e também seus possíveis destinos metabólicos, visto que os efeitos da mangiferina e os mecanismos farmacodinâmicos envolvidos nas suas ações não são conhecidos com exatidão (POKORSKI et al., 2010). Assim, a elucidação desses mecanismos farmacológicos é de grande importância para a descoberta e desenvolvimento de novos fármacos (HUIHUI et al., 2011). Sendo assim, o objetivo deste trabalho consiste no desenvolvimento e na caracterização de nanocápsulas contendo mangiferina, tendo em vista ultrapassar as dificuldades associadas a sua solubilidade, bem como explorar a estratégia para aumentar sua atividade biológica. E também avaliar, preliminarmente, seu perfil tóxico com teste de viabilidade celular (MTT) e irritabilidade (HET CAM). 19 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1. MANGIFERINA Na Figura 1, podemos observar a estrutura química da mangiferina (2-C-b-Dglicopiranosil-1,3,6,7-tetrahidroxi-xantona). Essa molécula é uma xantona glicosilada, obtida de folhas, frutos e do córtex de Mangifera indica L. Na sua estrutura química destacam-se, vários grupos catecólicos, que cumprem os requisitos para chegar a uma alta biodisponibilidade oral e uma potente ação antioxidante. A mangiferina por ser uma xantona, também pode aparecer na forma de aglicona, após a perda do resíduo glicosídico por hidrólise, que pode ocorrer durante o metabolismo (GARRIDO et al., 2008). A mangiferina é um pó sólido amarelo com ponto de fusão > 260 °C, que absorve fortemente a luz ultravioleta, apresenta atividade óptica devido à presença do resíduo de glicose (GÓMEZZALETA et al., 2006). Em razão da ligação heterosídica que ocorre através de uma ligação carbono-carbono, sua estrutura mostra-se mais resistente à hidrólise ácida, alcalina e enzimática do que a dos O-heterosídeos (SANUGUL et al., 2005). Por meio de difração de raioX, Cruz e colaboradores (2008), descobriram que a estrutura cristalina de mangiferina é constituída por duas moléculas da xantona ligadas a cinco de água, sendo estabilizada pela formação de pontes de hidrogênio intermoleculares (CANUTO, 2009). Figura 1 - Estrutura molecular da mangiferina (CORREIA et al., 2006, GARRIDO et al., 2008). O uso farmacológico da mangiferina está presente comercialmente em Cuba. A Vimang é uma formulação padronizada de um extrato aquoso obtida a partir da casca de variedades 20 selecionadas de Mangifera indica L. , que está registrado como anti- inflamatório fitoterápico pelas Autoridades Sanitárias Regulatórios cubanos e disponível como xarope, comprimido e creme. Esse extrato natural é popularmente usado em Cuba para melhorar a qualidade de vida dos pacientes que sofrem de vários tipos de câncer.A caracterização química do extracto levou ao isolamento de sete componentes fenólicos, dos quais a mangiferina é o componente predominente (GARCÍA-RIVERA et al., 2011; SOUZA et al., 2009). A mangiferina tem sido relatada como um antioxidante neuroprotetorem estudos in vitro e em modelos in vivo de isquemia. Esses relatos demonstram que a morte celular causada por glutamato em culturas neuronais foi diminuída na presença de concentrações de mangiferina e morina (outro polifenol antioxidante), que, por sua vez, atenua o estresse oxidativo, bem como a apoptose (GOTTLIEB et al., 2006). Essas substâncias que têm ação antioxidante podem interferir em processos patológicos neurais, levando à melhoria da qualidade de vida (GARRIDO et al., 2008). A isquemia cerebral induz a perda neuronal que é causada em parte pela excitotoxicidade e formação de radicais livres (GOTTLIEB et al., 2006). A mangiferina protege neurônios, prevenindo ou retardando o surgimento de doenças neurodegenerativas, processos inflamatórios e até mesmo de neoplasias (CANUTO, 2009). Em estudos com células neoplásicas de ratos, a mangiferina demonstrou potencial para o tratamento de doenças, como o Mal de Parkinson, por meio da reversão dos efeitos neurotóxicos do 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetrahidropiridina, uma neurotoxina causadora de parkinsonismo, capaz de induzir a formação de radicais livres, principalmente radicais hidroxila e superóxido (AMAZZAL et al., 2007). Em teste de toxicidade induzida por 13-acetato de 12O-tetradecanoilforbol, a mangiferina (50 mg/kg, via oral), administrada uma vez por dia durante sete dias, ofereceu proteção contra danos a tecidos cerebrais de camundongos, atenuando a peroxidação lipídica e a fragmentação de DNA (SÁNCHEZ et al., 2000, GOTTLIEB et al., 2006; PREISSLER et al., 2009; CANUTO, 2009). O grande interesse na mangiferina é decorrente de sua ampla gama de ações biológicas, como por exemplo, efeito gastroprotetor, analgésico, antibacteriano, juntamente com atividades citoprotetoras, relatada acima (FERREIRA et al., 2013). Crescentes evidências confirmam que esse ativo exibe ações como antialérgico, anti-inflamatório e antioxidante e pode ser usado no tratamento de uma variedade de condições inflamatórias e imunológicas (PREISSLER et al., 2009). 21 No entanto, estas atividades farmacológicas não necessariamente conduzem a um efeito biológico in vivo, o que implica uma fraca biodisponibilidade, devido à sua baixa solubilidade em água. Outros dados relatam também que o coeficiente de partição (logP) da mangiferina em óleo-água e em tampão fosfato (pH 6,8) é 0,15, o que indica que esse ativo possui uma má solubilidade lipídica. De acordo com o sistema de classificação biofarmacêutica (SCB), a mangiferina pertence à classe IV, assim, a entrega por via oral é parcialmente prejudicada devido à sua baixa permeabilidade intestinal. Administração de medicamentos por via oral é o meio mais conveniente de administração ao paciente, mas é, muitas vezes, limitada pela baixa permeabilidade do fármaco através do epitélio gastrointestinal (WANG X. e ZHANG Q., 2012; FERREIRA et al., 2013). Em virtude de todos esses efeitos farmacológicos, estudos toxicológicos experimentais são essenciais para a determinação dos riscos da administração deste ativo, mas há poucos dados disponíveis em relação ao potencial toxicológico da mangiferina. Em um estudo realizado, a DL50 da mangiferina foi superior a 5000 mg/kg em ratos, sob doses orais, alguns sinais de toxicidade transitórios como dispnéia, indisposição abdominal, piloereção e atividade locomoção reduzida foram observadas (SOUZA, 2009; RODEIRO et al., 2012). 2.2. ENCAPSULAÇÃO DE ATIVOS NATURAIS Compostos alimentares naturais com benefícios à saúde oferecem oportunidades de melhorar a saúde pública. A manga é um desses alimentos que, apesar do vasto consumo da fruta, possui uso medicinal pouco conhecido pela população, sendo quimicamente rica em compostos fenólicos, entre eles, como citado, a mangiferina (SOUZA et al., 2009). Nas últimas décadas, o foco está no desenvolvimento de fármacos de origem natural, os grandes avanços foram feitos na criação de novos medicamentos com sistemas de entrega utilizando esses ativos. As formulações poliméricas como nanopartículas, nanocápsulas, lipossomas, nanoemulsões, microesferas foram relatadas usando bioativos e extratos de plantas como tendo notáveis vantagens sobre as formulações convencionais, que incluem aumento da solubilidade, biodisponibilidade, a proteção contra a toxicidade, o aumento da atividade 22 farmacológica, aumento da estabilidade, melhorada na distribuição de macrófagos teciduais, entrega sustentada e proteção contra degradação física e química (AJAZUDDIN, 2010). A lipossolubilidade e o tamanho molecular de uma substância são muito importantes, sendo um dos principais fatores limitantes para o fármaco atravessar as membranas biológicas e ser absorvido sistematicamente. Vários extratos vegetais e fitomoléculas, apesar de terem excelente bioatividade in vitro, demonstram menores ou nenhuma atividade in vivo, devido à sua limitada solubilidade lipídica e/ou tamanho molecular impróprio, que resulta em pouca absorção e biodisponibilidade. Extratos padronizados de plantas ou fitoconstituintes, principalmente polares, como os flavonóides, terpenóides, taninos e xantonas quando administrados através de novos sistemas de entrega de fármacos mostram absorção muito maior, perfil que lhes permite atravessar as membranas biológicas. Assim, uma maior concentração de constituinte ativo torna-se presente no local de ação (TEIXEIRA et al., 2005; AJAZUDDIN, 2010; SOUZA et al., 2009). A fraca solubilidade aquosa das xantonas, sendo a mangiferina uma delas, é uma grande desvantagem, não só para a sua utilização terapêutica, mas também para avaliação in vitro de sua atividade biológica. Uma alternativa para superar a dificuldade de administração de composto fracamente solúveis em água é a sua incorporação em nanopartículas poliméricas. De acordo com estudos, isso depende basicamente das condições de processamento, que podem ser obtidas tanto por sistemas de nanoesferas como por de nanocápsulas preparados com deslocamento de solvente, técnica descrita por Fessi e colaboradores (1989). Trata-se de um método que é particularmente útil para o encapsulamento de substâncias lipofílicas (TEIXEIRA et al., 2005). Assim como a mangiferina, a curcumina (um princípio ativo natural, encontrado no açafrão amarelo que possui propriedades antidiabéticas) também possui a desvantagem de ser fracamente absorvida no trato gastrointestinal, devido à sua baixa solubilidade em água e baixa estabilidade química. Grama e colaboradores (2013) desenvolveram uma formulação denominada nanocurcumina, da qual obtiveram 56% de curcumina encapsulada, apresentando resultados positivos na melhora da biodisponibilidade oral, assim como, diminuindo o desenvolvimento da progressão da catarata em um modelo experimental de diabetes. Os efeitos benéficos da nanocurcumina sobre as vias bioquímicas foram nitidamente superior em comparação com a curcumina convencional. 23 2.3. SISTEMAS CARREADORES DE FÁRMACOS O desenvolvimento de fármacos nanopartículados como vetores de ativos é atualmente um dos principais temas em pesquisas farmacêuticas para superar os problemas comuns, como o de baixa solubilidade de um fármaco. A nanoencapsulação tem o potencial de melhorar a solubilidade de ativos lipofílicos e proteger as moléculas lábeis do ambiente biológico. Além disso, as nanocápsulas parecem oferecer numerosos benefícios terapêuticos, uma vez que possibilitam a entrega do fármaco específicamente no alvo de ação, bem como o transporte através de superfícies de mucosas após a administração (PREETZ et al., 2008). As nanopartículas poliméricas são sistemas carreadores de fármacos estáveis e eficientes, geralmente apresentam de 100-500 nm, e englobam as nanocápsulas e as nanoesferas (MORA-HUERTAS et al., 2010). As nanocápsulas e as nanoesferas são sistemas poliméricos que diferem de acordo com sua estrutura, compostas por um invólucro polimérico e um núcleo oleoso (VAUTHIER, et al.,2009). De acordo com o método de preparação utilizado, pode transportar a substância ativa em sua superfície, embebida na membrana polimérica e/ou na cavidade do sistema oleoso (MORA-HUERTAS et al., 2010). Já as nanoesferas são compostas por uma matriz polimérica e o fármaco à encapsular fica aprisionado dentro da nanopartícula ou adsorvido em sua superfície (VAUTHIER et al., 2009). O método mais empregado para obtenção de nanocápsulas é a nanoprecipitação com deslocamento do solvente ou como também é chamado deposição interfacial de polímero préformado, descrito por Fessi e colaboradores (1988). Esse sistema de síntese de nanocápsulas necessita de uma fase aquosa e de uma fase oleosa para sua preparação. A fase oleosa consiste essencialmente de uma solução em um solvente ou em uma mistura de solventes (por exemplo, etanol, acetona, hexano, metileno ou dioxano) e de uma substância de formação de película tal como um polímero (sintético, semi-sintético ou um polímero de ocorrência natural), de uma substância ativa, um óleo e um tensoativo de baixo BHL. Por outro lado, a fase aquosa é constituída por um não solvente (água) ou uma mistura de não solventes para a substância de formação de película, suplementado com um ou mais tensoativos que ocorrem naturalmente ou podem ser sintéticos (MORA-HUERTAS et al., 2010). Como já descrito acima, as nanocápsulas são compostas de um núcleo oleoso envolto por uma membrana polimérica com tensoativo na interface. Um estudo sugeriu concentrações dos constituintes de uma suspensão de nanocápsulas, que podem ser usados para obtenção de 24 nanoestruturas com tamanho de 150-200 nm. Para o tensoativo, podem ser usadas concentrações de 0,2 a 0,5%, mesma faixa na qual pode ser usada para o polímero. Já para o óleo, pode-se utilizar uma concentração de 1,0 a 5,0%, sempre levando em consideração quantidade de solvente empregado no sistema (25 mL de solvente e 50 mL de não solvente). Os óleos utilizados podem ser vegetais ou minerais, devendo apresentar ausência de toxicidade, assim como não devem ser capazes de degradar ou solubilizar o polímero e possuir alta capacidade de dissolver o fármaco em questão (LEGRAND et al.,1999; MORA-HUERTAS et al., 2010). Entre as principais vantagens da utilização das nanocápsulas, encontra-se a vetorização de fármacos, pois a capacidade de liberação controlada e seu tamanho relativamente subcelular permitem maior liberação intracelular do fármaco, quando comparado a outros sistemas de partículas. As nanocápsulas melhoram a estabilidade dos fármacos, seja por degradação pelo pH, seja pela ação da luz, oxigênio ou outros componentes das formulações. Além disso, elas diminuem a irritação causada por substâncias ativas nos tecidos, pois sua parede polimérica reduz o contato do fármaco com os tecidos (MORA-HUERTAS et al., 2010;PREETZ et al., 2008). É importante ressaltar que as nanocápsulas apresentam-se também como potenciais vetores para entrega dirigida de fármacos ao sistema nervoso central (SNC), pois facilitam as circulações dos fármacos através da barreira hematoencefálica (BHE). O mecanismo correto de como as nanocápsulas aumentam a concentração do fármaco no cérebro não é conhecido com exatidão, mas diversas hipóteses são relatadas, incluindo aumento da retenção dos fármacos nos capilares sanguíneos do cérebro associados a sua adsorção nas paredes dos capilares, neste caso, com o gradiente de concentração mais elevado nas nanocápsulas ocorreria um aumento na transposição do fármaco através da BHE (ALAM et al., 2010). Também é citado o aumento da fluidificação da membrana da BHE, acarretando a inibição do sistema de refluxo da glicoproteína-P e endocitose seletiva, seguido de liberação intracelular do fármaco (ALAM et al., 2010; INTAKHAB et al., 2010; MISTRYet al., 2009). Vários estudos demonstram que moléculas de fármacos foram entregues com sucesso utilizando nanocápsulas, por exemplo, dalargin, loperamida, tubocurarina e doxorrubicina. Essas moléculas baseadas em peptídios foram entregues ao cérebro, usando nanopartículas de polibutilcianoacrilato revestidas com polissorbato 80 (tensoativo). Existe a hipótese de que o revestimento das nanocápsulas poliméricas com polissorbato 80 pode ser fundamental para a 25 vetorização cerebral, pois o polissorbato 80 promoveria seletivamente a adsorção de certas proteínas plasmáticas, como a apolipoproteína E, na superfície das nanocápsulas (INTAKHAB et al., 2010). Freddo (2009) mostrou a viabilidade de nanocápsulas de ácido valpróico, que promoveram o aumento da penetração cerebral do fármaco e a redução da hepatotoxicidade do mesmo, indicando um potencial dessa formulação para o desenvolvimento de medicamentos para o tratamento da epilepsia. O polímero empregado na preparação destes sistemas carreadores de fármacos deve apresentar características de inocuidade, biocompatibilidade, estabilidade, facilidade de processamento, cinética de biodegradação adequada e não se acumular indefinidamente nos tecidos (LIMA, 1998). Existem três mecanismos gerais pelos quais os fármacos são liberados do polímero: (1) difusão do fármaco do sistema e através dele; (2) uma reação química ou enzimática, permitindo a degradação do sistema ou clivagem do fármaco do sistema e (3) ativação do solvente, através da osmose ou inchaço do sistema. Ainda, uma combinação dos mecanismos é possível (LANGER, 1998). Os polímeros mais utilizados são os poliésteres biodegradáveis, especialmente poli-ecaprolactona (PCL), poli (láctido) (PLA) e poli (lactido-co-glicolide) (PLGA). O Eudragit® também pode ser utilizado, e ainda, os copolímeros do ácido metacrílico e de um éster acrílico ou metacrílico, podem outros polímeros, tais como poli (alquilcianoacrilato (PACA). Assim como os polímeros sintéticos têm maior pureza e melhor reprodutibilidade do que polímeros naturais. Por outro lado, alguns polímeros como o PEG copolimerizado, diminuem o reconhecimento das nanocápsulas pelo sistema mononuclear fagocitário (SCHAFFAZICK et al., 2003; MORA-HUERTAS et al., 2010). 26 Figura 2 - Fórmula estrutural do Eudragit® (ROHM, 2003). Polímeros, como os polimetacrilatos, apresentam-se em diferentes tipos e variadas características de solubilidade. Dentre os principais, destacam-se os comercialmente denominados Eudragit® (figura 2) dos tipos E, L, S, RL, RS e NE30D. Polímeros, como os polimetacrilatos, são amplamente utilizados na indústria farmacêutica, denominados agentes formadores de filmes (MOUSTAFINE et al., 2005). Os polimetacrilatos são produtos da polimerização aniônica do ácido metacrílico e metacrilato de metila, sendo que a proporção do grupo carboxila livre em relação ao éster é aproximadamente 1:1 no Eudragit® L e 1:2 no Eudragit® S (ESPOSITO et al., 2002). O Eudragit® do tipo L100, atualmente, possui muitas aplicações na indústria farmacêutica e cosmética, principalmente como veículo para entrega de fármacos, em materiais de revestimento entérico e no desenvolvimento de produtos com características físico-químicas diferentes (CAPPELLA, BOERIS e PICÓ, 2011). O Eudragit® dos tipos S e L, poli(ácido metacrílico-co-metacrilato de metila), são descritos como polímeros do tipo A e B. Eudragit® L100 e Eudragit® S100 são os polímeros mais comumente utilizados e possuem a propriedade de serem pH dependentes, ou seja, sendo insolúvel em pH ácido e solúvel em soluções neutras ou alcalinas, liberando o fármaco lentamente em meios com pH em torno de 6,0, para o Eudragit®L100 e pH 7,0 para o Eudragit®S100. Além disso, são compostos não tóxicos, tornando-se adequados para diferentes fins, mas principalmente para fármacos de administração oral (AKHGARY et al., 2005; WANG X. e ZHANG Q., 2012). Em um estudo realizado para avaliar o perfil farmacocinético (em modelagem), de nanopartículas de ciclosporina com Eudragit® S100 liofilizados, verificou-se que a biodisponibilidade da ciclosporina foi significativamente melhorada. Em função do polímero 27 solúveis entericamente (Eudragit® S100), os perfis de libertação das nanocápsulas de ciclosporina exibem sensibilidade ao pH, havendo uma libertação brusca da ciclosporina a partir de nanopartículas na parte específica do trato gastrointestinal, diminuindo o metabolismo do fármaco por enzimas gastrointestinais e aumentando a biodisponibilidade oral da ciclosporina (LIU et al., 2012). Aqui, salienta-se que o equilíbrio entre os gradientes de concentração, absorção e estabilidade do fármaco são muito importantes. Por exemplo, para peptídeos, tais como a clindamicina e TP5, a estabilidade é um importante obstáculo, e o local de absorção principal é a parte inferior do intestino delgado. O Eudragit® S100 pode melhorar a sua estabilidade de forma eficaz, embora a possibilidade de absorção na parte inferior do intestino seja limitada. Por outro lado, para aqueles fármacos estáveis no estômago e no intestino delgado superior, tais como, rodamina e o fenofibrato, a oportunidade de absorção é um fator chave, e polímeros adequados, dissolvido em pH baixo deve ser selecionados. Em resumo, as nanopartículas sensíveis ao pH fornecem uma grande oportunidade para fármacos insolúveis em água ou peptídeo/proteína, de melhorar sua absorção oral, embora ainda haja muito caminho a ser percorrido antes deste sistema de entrega de fármacos possa ser utilizado na clínica (WANG X. e ZHANG Q., 2012). 2.4. LIBERAÇÃO DO FÁRMACO A PARTIR DE NANOSISTEMAS Nos últimos anos, diferentes sistemas carreadores de fármacos têm sido estudados com o intuito de controlar a liberação de fármacos em sítios de ação específicos, otimizando a velocidade de entrega, gerando respostas adequadas por períodos de tempo prolongados, otimizando a posologia e ainda melhorando o índice terapêutico por aumentar a eficácia e/ou reduzir a toxicidade de fármacos (SCHAFFAZICK et al., 2003; WANG X. e ZHANG Q., 2012). Normalmente, a liberação do fármaco a partir de nanopartículas poliméricas mostra um padrão bifásico. Inicia-se com uma rápida liberação (efeito burst), devido à dissolução rápida do fármaco em/ou próximo à superfície e uma liberação exponencial e lenta subsequente, devido à difusão do fármaco do interior da nanopartícula para o meio. Os sacos de diálise 28 utilizados para ensaios de liberação possuem poros na ordem de 10.000 Da e são produzidos em acetato de celulose e formam mais uma barreira para a liberação do fármaco neste tipo de experimento, que também precisa ultrapassar o núcleo e/ou a membrana polimérica da nanocápsula, para então ser liberado e quantificado no meio de liberação (WANG et al., 2007). A liberação do fármaco a partir dos nanocarreadores dá-se por difusão do fármaco através do polímero, pela erosão do polímero (degradação ou solubilização) ou pela combinação destes dois processos (SCHAFFAZICK et al., 2003). Alguns fatores também podem afetar a liberação do fármaco e isso pode ocorrer na estrutura da matriz polimérica devido às propriedades físicoquímicas das moléculas envolvidas na formulação de nanocápsulas. O peso molecular do polímero, distribuição do fármaco, mistura de polímeros, cristalinidade e outros fatores são importantes nas manipulações de perfis de liberações (FRIBERG e ZHU, 2004). Em um estudo, pesquisadores desenvolveram um sistema de quitosana com Eudragit® e incorporaram peptídeos. Como um fármaco modelo, timopentina (TP5, Arg -Lys - Asp - Val Tir) e insulina foram incorporadas. Para TP5, dois tipos de nanopartículas foram preparadas: nanopartículas contendo apenas quitosana e nanopartículas contendo Eudragit® S100 associado com quitosana. Com nanopartículas de quitosana, a TP5 mostrou uma libertação brusca de 45% em 60 min e 100% de libertação do fármaco em 24 horas, quando incubada em 0,1 N HCl. Enquanto a liberação foi retardada para pH 7,4 (tampão fosfato salino) e pH 5,0, o percentual de libertação máxima foi de 85,5% e 60,7% em 24 horas, respectivamente. No entanto, o percentual máximo de liberação de TP5 nanopartículas Eudragit® S100 com quitosana é de 24,6% em HCl 0,1 N, 41,0%, em (tampão fosfato salino) pH 5,0 foi de 81,4 % e em tampão fosfato de pH 7,0 em 24 horas, respectivamente. Para a insulina, além da quitosana, diferentes Eudragit® (L100-55, L100 e S100) foram usadas como polímero carregado negativamente. A liberação de insulina a partir de três tipos de nanopartículas demonstraram óbvia sensibilidade ao pH (WANG X. e ZHANG Q., 2012). Os estudos de liberação in vitro de fármacos determinam a fração do fármaco liberado das estruturas em função do tempo. A caracterização do perfil de liberação do fármaco pode fornecer informações quanto à estrutura do sistema, o mecanismo envolvido no processo de liberação e, ainda a interação fármaco-carreador (WASHINGTON, 1990; FREIBERG e ZHU, 2004). 29 3. MATERIAIS 2. Ácido acético glacial; 3. Álcool etílico absoluto P.A– Vetec®; 4. Ácido acético glacial P.A – Fmaia®; 5. Dimetilsulfóxido P.A.; 6. Eudragit® S100,Poli(metil metaacrilato-co-ácido metacrílico), - Röhm Pharma Polymers; 7. Etanol grau CLAE – Merck® 8. Mangiferina (98% pureza) (Sigma-Aldrich); 9. Membrana de celulose para tubos de diálise (10.000 Da; 25 mm) - Sigma Aldrich®; 10. Metanol grau CLAE - J.T. Baker®; 11. Monoestearato de sorbitano - Sigma Aldrich®; 12. Polissorbato 80 - Via Farma®; 13. Triglicerídeos de ácido capríco e caprilíco - Via Farma®; 14. Membrana de acetato de celulose (0,45 μm; 25 mm) - Millipore® 15. Todos outros reagentes e solventes utilizados foram de grau P.A. fornecidos pela Nuclear®, Via Farma®, Merck® e Sigma Aldrich®. 3.1. MÉTODOS As atividades desenvolvidas durante a pesquisa foram realizadas no Laboratório de Nanotecnologia e no Laboratório de Controle de Qualidade de Medicamentos do Centro Universitário Franciscano. 30 3.1.1. DESENVOLVIMENTO DAS SUSPENSÕES DE NANOCÁPSULAS CONTENDO MANGIFERINA As suspensões foram preparadas através da técnica de deposição interfacial do polímero pré-formado descrita por Fessi e colaboradores (1989) e modificada por Venturini e colaboradores (2011). A composição das fases empregadas no desenvolvimento das suspensões está descrita na Tabela1. Os componentes da fase oleosa e da fase aquosa das suspensões foram pesados em balança analítica em béqueres separados. A mangiferina foi solubilizada no DMSO, para então ser adicionada na fase oleosa. Posteriormente, as fases foram aquecidas (em banhomaria) à temperatura aproximada de 40 ºC ao mesmo tempo em que ocorria agitação magnética moderada, até completa dissolução dos componentes. Em seguida, a fase oleosa foi vertida com o auxílio de um funil sobre a fase aquosa, mantendo-se a agitação durante 10 minutos. Após, evaporou-se o solvente orgânico e o excesso de água a pressão reduzida em evaporador rotatório. Por fim, as suspensões foram transferidas para um balão volumétrico para um volume final 25 mL e a concentrações de mangiferina obtida foi de 250 µg/mL. Tabela 1 - Composição das suspensões de nanocápsulas contendo mangiferina, para um volume final de 25 mL. Fase Oleosa Concentração Mangiferina 0,00625 g Eudragit® S100 Monoestearato 0,25 g de 0,0962 g Adipato de isopropila 0,395 g DMSO 200 µL Etanol 62,5 mL sorbitano Fase Aquosa Concentração Polissorbato 80 0,385 g Água 125 ml 31 3.2. CARACTERIZAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS SUSPENSÕES DE NANOCÁPSULAS DE MANGIFERINA 3.2.1. DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO DE PARTÍCULA E ÍNDICE DE POLIDISPERSÃO As determinações do diâmetro e do índice de polidispersão das nanopartículas foram realizadas através de espalhamento de luz dinâmico (Zetasizer® nano-ZS modelo ZEN 3600, Malvern), após diluição das dispersões em água (500 vezes, v/v). Os resultados estão expressos em nanômetros (nm) em triplicata de três lotes de suspensões. 3.2.2. POTENCIAL ZETA O potencial zeta é determinado utilizando técnicas de eletroforese e reflete o potencial da carga de superfície das partículas, o qual é influenciado pelas mudanças na interface com o meio dispersante, em razão da dissociação de grupos funcionais na superfície da partícula ou da adsorção de espécies iônicas presentes no meio aquoso de dispersão (SCHAFFAZICK et al., 2003; RAFFIN et al., 2011). O potencial zeta foi obtido através de eletroforese (Zetasizer® nano-Zs modelo ZEN 3600, Malvern), após diluição das dispersões em solução de NaCl 10 mM (500 vezes v/v). Os resultados estão expressos em milivolts (mV) a partir de três determinações de suspensões diferentes. 3.2.3. DETERMINAÇÃO DO pH O pH das formulações foi determinado utilizando potenciômetro Digimed®, previamente calibrado (com soluções padrão de pH 4,0 e 7,0), diretamente nas dispersões coloidais. Os resultados estão expressos a partir da leitura de três suspensões diferentes. 32 3.2.4. VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO POR CLAE PARA A QUANTIFICAÇÃO DE MANGIFERINA EM SUSPENSÕES DE NANOCÁPSULAS A validação do método analítico foi realizada segundo os critérios propostos pela resolução da ANVISA RE n° 899, de 29/5/2003 e pela International Conferenceon Harmonization (ICH) de 2003 e 2005. Os parâmetros analíticos avaliados para o desenvolvimento deste trabalho foram: especificidade, linearidade, precisão intermediária, repetibilidade, exatidão, limite de detecção, limite de quantificação e robustez. A especificidade do método das nanocápsulas foi avaliada através de análises comparativas entre as amostras de mangiferina a 98%, nanocápsula brancas e nanocápsulas de mangiferina, por meio da técnica por CLAE, realizada em todas as amostras durante o período de desenvolvimento do método. A linearidade do método foi avaliada a partir da análise de uma curva padrão nas concentrações de 1, 5, 10, 15, 20, 25 μg/mL de mangiferina. Os limites de detecção (LD) e quantificação (LQ) foram determinados a partir da inclinação e do desvio padrão do intercepto da média das três curvas padrões (ANVISA, 2003). Os resultados foram tratados estatisticamente pela ANOVA seguida do teste de Tukey com auxílio do software GraphPadPrism versão 5.0 (GraphPad, EUA). A precisão do método foi avaliada pelo mesmo analista, repetindo o procedimento necessário para as análises em um período curto de tempo (repetibilidade) e por precisão intermediária (reprodutibilidade interna), realizada por meio de outro analista em dias diferentes, porém com os mesmos equipamentos. O ensaio constituiu-se na concentração de 10 μg/mL e os resultados foram analisados por meio do desvio padrão relativo (DPR). A exatidão do método foi determinada a partir de ensaios de recuperação de três concentrações conhecidas do padrão: 2,5, 7,5 e 12,5 μg/mL. Adicionou-se para cada concentração do padrão a amostra na concentração de 2,5 µg/mL. O resultado foi expresso percentualmente pela relação entre a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica correspondente a 50, 100 e 150% de mangiferina adicionadas nas amostras. 33 Para determinar se o método desenvolvido foi robusto, optou-se por utilizar uma faixa de temperatura entre 30 ºC e 40 ºC, pH (3,0 ; 4,0) e vazão de 0,6 e 1,0 mL/min. Esses resultados foram tratados estatisticamente pela ANOVA seguida do teste de Tukey com auxílio do software GraphPadPrism versão 5.0 (GraphPad, EUA). As condições analíticas cromatográficas utilizadas foram: a vazão de 0,8 mL/min, o volume de injeção de 20 µl e em um comprimento de onda (λ) de 254 nm. A temperatura da coluna foi de 35 ºC e a fase móvel foi composta por água e metanol em uma proporção 70:30 (v/v), pH 3,5. As análises da mangiferina foram realizadas em cromatografia líquida de alta eficiência Prominence (Shimadzu, Japão), coluna C18 (150 x 4,6 mm, 5 µm) Shim-pack CLCODS (Shimadzu, Japão) empacotada com 5 μm Nucleosil C18 (fase estacionária), a pré coluna do mesmo material - Shim-pack G-ODS (Shimadzu, Japão), equipado com bomba modelo LC20AT, utilizando detector ultravioleta com comprimento de onda variável UV/VIS modelo SPD-M20A. 3.2.5. DOSEAMENTO DA MANGIFERINA E DETERMINAÇÃO DA TAXA DE ASSOCIAÇÃO DO FÁRMACO A determinação da taxa de associação do fármaco à nanopartícula também é importante. No entanto, essa técnica torna-se difícil, pois deve-se separar a fração de fármaco livre da fração de fármaco associada à nanopartícula. Uma técnica que possibilita essa separação é a ultrafiltração-centrifugação, na qual se utiliza uma membrana com poros de 10.000 Da e, através dela separa-se a parte aquosa dispersante da suspensão coloidal. Ao quantificar o fármaco na fase aquosa, subtraem-se do total obtendo a taxa de associação do fármaco as nanopartículas (CRUZ, 2005). Inicialmente, as concentrações de mangiferina dissolvida na fase aquosa da dispersão (correspondendo ao fármaco solúvel e não encapsulado) foram determinadas através da técnica de ultrafiltração-centrifugação das suspensões (membrana Microcon® MC Millipore 10.000 Da) por 15 minutos a 7500 rpm, quantificando o fármaco livre no ultrafiltrado por CLAE conforme descrito por Guterres e colaboradores (1995). O conteúdo de mangiferina foi verificado em todas as formulações. Para isso, a concentração total das suspensões coloidais foram tratadas com metanol e água (pH 3,5), 73:30 34 (v/v) ocasionando a liberação e dissolução do ativo contido no interior das nanocápsulas. As análises da mangiferina foram realizadas em cromatografia líquida de alta eficiência Prominence (Shimadzu, Japão), coluna C18 (150 x 4,6 mm, 5 µm) Shim-pack CLC-ODS (Shimadzu, Japão) empacotada com 5 μm Nucleosil C18 (fase estacionária), a pré coluna do mesmo material - Shim-pack G-ODS (Shimadzu, Japão), equipado com bomba modelo LC20AT, utilizando detector ultravioleta com comprimento de onda variável UV/VIS modelo SPD-M20A. As amostras foram realizadas com detecção em 254 nm, fase móvel isocrática de metanol e água em uma proporção 70:30 (v/v), com pH de 3,5, volume de injeção de20 µLe fluxo de 0,8 mL/min. Neste caso, a concentração de fármaco associado às nanopartículas foi calculada considerando a diferença entre a concentração total (CT) de fármaco na formulação e a concentração de fármaco dissolvido livre, (CL) na fase aquosa da dispersão sobre a concentração total, multiplicada por 100 (Equação 1). Figura 3 - Equação para a determinação da taxa de encapsulação. 3.2.6. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO (MET) A morfologia das amostras foi analisada em microscópio eletrônico de transmissão JEM 1200EX II (Centro de Microscopia Eletrônica da UFRGS) operando em 120 kV, com um aumento de 50.000, 100.000 e 300.000 vezes. As suspensões foram diluídas na proporção de 1:10 (v/v) em água e depositadas diretamente nos grids utilizados para a observação das amostras, utilizando como contraste solução de acetato de uranila (2% m/v). 3.2.7. TESTE DE LIBERAÇÃO DA MANGIFERINA ATRAVÉS DE DIÁLISE Foram utilizadas membranas de acetato de celulose (10.000 Da; 25 mm, Sigma Aldrich) como sacos de diálise. Os sacos foram hidratados com água por 24 horas antes do início do teste de diálise. Após, foram preenchidos com 4 mL de suspensão de nanocápsulas, suspensão 35 branca ou mangiferina na forma livre e imersos em 50 mL de meio de liberação, constituído de solução tampão fosfato pH 7,4, e conservados a uma temperatura de 37 °C, sendo constantemente agitados com uma barra magnética. Alíquotas de 2 mL do meio de liberação foram coletadas em intervalos de tempo pré-determinados (1, 3, 5, 7, 9, 11 e 24 horas). A cada retirada dessa solução foram recolocados 2 mL de novo meio de liberação no béquer. As amostras foram filtradas em filtros com poros 0,45 μm (Macherey-Nagel®) e analisadas por CLAE. As formulações de nanocápsulas com mangiferina, sem mangiferina, e a mangiferina na forma livre foram analisadas em triplicata. 3.3. AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE BIOLÓGICA 3.3.1. VIABILIDADE CELULAR COM MTT O teste foi realizado com células VERO em placa de cultura celular com 96 poços. Alíquotas contendo 2x104 células/mL foram transferidas para cada poço da placa e cultivadas por 24 horas a 37 ºC em estufa com 5% de CO2. Após a formação da monocamada, as células foram tratadas com suspensão de nanocápsulas brancas e nanocápsulas com mangiferina e mangiferina livre nas concentrações de 0,75, 1,5 e 2,5 µg/mL. No controle negativo, foram utilizadas somente células e meio de cultura RPMI 1640 (Gbico®) suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB), incubada por 48 horas a 37ºC e em estufa com 5% de CO2. Após esse período de incubação, foram adicionados 20 µL de MTT (3-(4, 5-dimetiltiazol-2)-2, 5-difenil brometo tetrazólico) fornecidos pela Invitrogen, na concentração de 5 mg/mL e incubado novamente por 4horas. O sobrenadante foi retirado e os cristais azuis (fomazan) formados foram dissolvidos em 150 µL de DMSO. A absorbância foi determinada a partir da leitora de ELISA espectrofotométrica com comprimento de onda de 570 nm. Os testes foram realizados em triplicata. Os dados foram avaliados utilizando o método estatístico de Análise de Variância (ANOVA) e em posterior o teste de Tukey. Para todos os grupos consideraram-se estatisticamente significativos quando p<0,05 (utilizou-se o software GraphPad Prism versão 5.0 - GraphPad, EUA). 36 3.3.2. HET CAM (Hen’s Egg Test Chorioallantoic Membrane) Os ovos fertilizados (com aproximadamente 50 g) de galinhas Leghorn foram incubadas durante nove dias. No dia 10, a membrana córion-alantóide foi exposta a 0,3 mL de suspensão de nanopartículas, mangiferina livre e suspensão de nanocápsulas sem fármaco na concentração de 250 µg/mL. Após 20 segundos de contato, a membrana foi lavada com 5 mL de NaCl 0,9 %. A membrana foi inspecionada visualmente para a vasoconstrição, hemorragia e coagulação por 5 minutos e graduada para o efeito irritante, de acordo com a Tabela 5. No grupo controle positivo, foi utilizado o NaOH 0,01 N (substância irritante severa) e dodecil sulfato de sódio a 5% (substância irritante leve). Para o controle negativo, foi o NaCl a 0,9% (não irritante) (FELIPPI et al., 2012; LUEPKE, 1986). A graduação dos fenômenos foi realizada em triplicata, tanto para a quantidade de ovos quanto para a análise visual. A classificação da substância teste é obtida pelo valor médio de 3 ovos e 3 avaliadores (Tabela 5). 3.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA Os dados experimentais foram avaliados estatisticamente através da análise descritiva de variáveis como média, desvio padrão (DP), coeficiente de variação (DPR) e análise de variância (ANOVA), considerando os níveis de significância de 5%. Ainda assim, quando necessário, aplicou-se Tukey para análise complementar dos resultados encontrados. Os resultados foram analisados utilizando o software GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad, EUA) 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1. PREPARAÇÃO DAS SUSPENSÕES E ANÁLISE MACROSCÓPICA O mecanismo de formação das nanopartículas empregado neste estudo foi à técnica de deposição interfacial do polímero pré-formado descrita por Fessi e colaboradores (1989). Nessa técnica, a formação das nanocápsulas ocorre espontaneamente pela rápida difusão do solvente e pode ser explicado pela turbulência interfacial durante a difusão, decorrente da miscibilidade entre os solventes empregados. A modificação proposta por Venturini e colaboradores (2011) foi o desenvolvimento de nanocápsulas exclusivamente de núcleo lipídico em solução aquosa, o que alterou a composição quantitativa das nanocápsulas para que não ocorresse formação concomitante de nanoemulsões e nanodispersões. 37 A mangiferina possui uma estrutura molecular complexa (Figura 1), possui caráter lipofílico, sendo difícil sua dissolução em solventes orgânicos. Assim foi utilizado nesta formulação o DMSO, um solvente polar, para dissolver a mangiferina na concentração de 200 µL em 25 mL de suspensão final, correspondendo a 0,8% da suspensão. O DMSO foi utilizado neste trabalho como um cossolvente com a finalidade de dissolver a mangiferina. Esse é um subproduto da indústria de madeira que tem sido usado como um solvente comercial desde 1953. É um composto que age como receptor de prótons em ligações de hidrogênio, conferindo-lhe sua afinidade com a água. Por isso, é considerado um solvente bipolar e altamente higroscópico. Possui uma infinidade de efeitos farmacológicos como: a facilitação da penetração rápida e acentuada de outras substâncias através da membrana, o que o faz ser diferente da maioria dos solventes penetrantes. Ainda, promove remoção de radicais livres de oxigênio, proteção isquêmica, analgésica e imunomoduladora, além de possuir atividade antimicrobiana, citoprotetora, miorrelaxante e diurética (BRAYTON, 1986). O DMSO é considerado um solvente relativamente seguro (classe 3) e pode ser considerado como menos tóxico e de baixo risco para a saúde humana. Na medicina, o DMSO é usado rotineiramente como um crioprotetor para proteger tecidos biológicos dos danos causados pelo congelamento (WEIDONG et al., 2008). Segundo Weidong Qi e colaboradores (2008), o tratamento em 24horas com concentrações de 0,025% de DMSO causou pouco ou nenhum dano para as células ciliadas cocleares em culturas organotípicas pós-natal. O DMSO é conhecido por ser um necrófago do radical hidroxila, sendo possível que concentrações baixas de DMSO possam ter função protetora em culturas cocleares (REPINE et al., 1981). No entanto, concentrações de DMSO de 0,5% ou superiores são tóxicas para células ciliadas internas e para células ciliadas externas, ambas em culturas de ratos pós-natais cocleares. Entretanto, não está claro se o DMSO é tóxico para as células ciliadas adultas in vivo e, por isso, estudos mais aprofundados devem ser realizados para avaliar com maior clareza a toxicidade do DMSO (Harris et al, 2005; Liu et al, 2006). O próximo passo a ser seguido é a escolha do polímero para a produção e desenvolvimento das formulações. Inicialmente, foi utilizado o polímero PCL poli (caprolactona) (Figura 4). Porém, essa formulação apresentou precipitação do fármaco, em 38 poucos dias, com formação de cristais, indicando instabilidade da formulação e foi ultrapassada a capacidade de carga do polímero. Sendo assim, o polímero foi substituído pelo Eudragit® S100, que por sua vez, apresentou boas características físico-químicas, podendo ser visualizado reflexo azulado decorrente do movimento browniano das nanopartículas em suspensão (efeito Tyndall) característico de suspensões com partículas submicrométricas (RAFFIN et al., 2003) (Figura 5), descrito também por Schaffazick e Gutteres (2003), indicando aparente encapsulação e estabilidade da suspensão. A determinação da solubilidade da mangiferina em óleos também foi testada. Foram avaliados os seguintes óleos: triglicerídeos dos ácidos cáprico e caprílico, óleo de copaíba, óleo de amêndoas, óleo de abacate, óleo de oliva, benzoato de benzila, óleo de coco, óleo de linhaça e adipato de isopropila, sendo esse o componente selecionado para formulação, devido a sua propriedade de dispersar a mangiferina de maneira mais adequada. Como um dos parâmetros da escolha do óleo a ser utilizado, Guterres e colaboradores (2007) propõem uma metodologia para a determinação de inchamento do polímero pelos componentes do núcleo oleoso, avaliando assim a adequabilidade das matérias-primas (polímeros e óleos) para a formulação das nanocápsulas. Desta forma, filmes de Eudragit® S100 foram testados frente ao óleo de adipato de isopropila. Observou-se que, após 48h, não ocorreu dissolução do polímero em contato com o óleo, logo, a integridade do polímero foi mantida. Com esse resultado, pode-se supor que o adipato de isopropila não dissolve o polímero, sendo indicado para a formulação destas nanocápsulas. Figura 4 - Suspensões de nanocápsulas de mangiferina contendo o polímero PCL, poli (caprolactona),observando-se a precipitação da mangiferina e formação de cristais. 39 Figura 5 - Suspensões de nanocápsulas de mangiferina contendo como polímero o Eudragit® S100, sem precipitação do fármaco. Portanto, a produção de nanocápsulas preparadas pelo método de deposição interfacial de polímeros pré-formados, com o uso de cossolvente o DMSO, foi bem sucedida, apresentando características macroscópicas de acordo com a literatura. A formulação apresentou-se homogênea, com aspecto opaco e leitoso, e pode-se observar reflexo azulado, o que ocorre em virtude do efeito Tyndall, característico de suspensões com partículas submicrométricas (RAFFIN et al., 2003; SCHAFFAZICKet al., 2006). 4.2. AVALIAÇÃO FÍSICO-QUÍMICA DAS SUSPENSÕES DE NANOCÁPSULAS CONTENDO MANGIFERINA 4.2.1. DETERMINAÇÃO DO DIÂMETRO MÉDIO E ÍNDICE DE POLIDISPERSÃO Espalhamento de luz é uma técnica importante nas modernas tecnologias de caracterização de partículas que permite a descrição da distribuição do tamanho e de fenômenos de desestabilização (VENTURINI et al., 2011). Um dos fatores que pode influenciar no diâmetro médio das partículas é a natureza do núcleo oleoso das nanocápsulas, atribuído às diferenças de hidrofobicidade, viscosidade e tensão interfacial das substâncias utilizadas (FRIEDRICH et al., 2008). Com isso, a concentração do polímero e do óleo são determinantes para o tamanho da partícula (QUINTANAR-GUERRERO et al., 1996; VENTURINI et al., 2011). 40 Os resultados apresentados, na Tabela 2, mostram que a técnica utilizada possibilitou a formação de partículas nanométricas em todas as formulações independentes da presença ou não do fármaco. Para as nanocápsulas brancas, obtiveram-se partículas de tamanho reduzido (94,9 ± 0,2 nm) com baixo índice de polidispersão (0,19 ± 0,3) caracterizando, portanto, sistemas coloidais com estreita distribuição de tamanho de partícula (Figura 6). As nanocápsulas de mangiferina também exibiram tamanho médio de partícula diminuto e homogêneo (91,6 ± 0,1 nm), com índice de polidispersão de (0,12 ± 0,01) caracterizando sistema de nanopartículas monodispersas (Figuras 7). Deste modo, os valores de diâmetro médio obtidos estão em concordância com os dados relatados na literatura para nanocápsulas formadas pelo método de deposição interfacial de polímeros pré-formados, indicando que a técnica utilizada possibilitou a formação de partículas nanométricas em todas as formulações, independente da presença ou não do fármaco na formulação (WANG X. & ZHANG Q., 2012). Tabela 2 - Características físico-químicas das suspensões de nanocápsulas sem o fármaco nanocápsulas contendo a mangiferina. Parâmetros Nanocápsulas Brancas Nanocápsulas de Mangiferina Diâmetro de Partícula (nm) ± DP 94,9 ± 0,2 91,6 ± 0,1 Índice de Polidispersão ± DP 0,19 ± 0,03 0,12 ± 0,01 Potencial Zeta (mV) ±DP -18,76 ± 0,06 -18,31 ± 2,37 pH ±DP 3,62 ± 0,03 3,49 ± 0,02 Taxa de associação (%) ±DP - 71,78 ± 1,54 Assim, a partir da avaliação estatística realizada, pode-se inferir que os valores obtidos para o diâmetro médio de partícula e índice de polidispersão entre todas as formulações apresentam-se próximos entre si, pois não houve diferença estatística significativa para p < 5% (ANOVA ). 41 Figura 6 - Diâmetro médio e índice de polidispersão de suspensão de nanocápsulas brancas em função da intensidade de espalhamento de luz dinâmico. Figura 7 - Diâmetro médio e índice de polidispersão de suspensão de nanocápsulas de mangiferina a 250 µg/mL, em função da intensidade de espalhamento de luz dinâmico. 4.2.2. DETERMINAÇÃO DO POTENCIAL ZETA O potencial zeta é um importante parâmetro para prever a estabilidade das suspensões. Considerando que esta medida reflete a carga de superfície das partículas, quanto maior o valor em módulo do potencial zeta, maior será a repulsão eletrostática entre as partículas, mantendo 42 o sistema sem agregação e precipitação das nanoestruturas. Esse é um parâmetro de caracterização, estabilidade e mecanismo de associação do fármaco em nanocápsulas polimérica (SANTOS, 2010). Os valores do potencial zeta apresentados demonstram que tanto as nanocápsulas brancas quanto as nanocápsulas de mangiferina (figura 8 e 9) possuem cargas negativas. O potencial zeta das nanocápsulas brancas foi de (-18,76 ± 0,06 mV) e as nanocápsulas de mangiferina foi de (-18,31 ± 2,37 mV). No entanto, não houve variação significativa ao comparar o potencial zeta entre as formulações (p < 5%). Alguns autores explicam os valores negativos devidos às características estruturais dos componentes da interface das nanocápsulas, especialmente o polissorbato 80 usado em uma concentração elevada na formulação. Neste caso, a cadeia hidrocarbônica do tensoativo interagiria com regiões hidrofóbicas da parede polimérica, que provocaria a exposição dos radicais da cadeia do polissorbato 80 com a fase aquosa, podendo induzir cargas negativas na superfície do sistema (MORA-HUERTAS, FESSI e ELAISSARI, 2010). Em um estudo, desenvolveu-se nanopartículas de insulina, para administração oral, o Eudragit® L100 foi utilizado como polímero e as nanoestruturas também apresentaram um potencial zeta negativo entre -3,1±0,8 e -2,9±0,8 (ZHANG et al., 2012). Segundo Paese (2008), esses resultados encontram-se adequados para manter o sistema estável, ou seja, com menor probabilidade de agregação das partículas e consequentemente precipitação das nanoestruturas tendo dessa forma uma suspensão mais estável. Figura 8 - Determinação do potencial zeta de nanocápsulas na ausência de fármaco. 43 Figura 9 - Determinação do potencial zeta das nanocápsulas de mangiferina, na concentração de 250 µg/mL. 4.2.3. DETERMINAÇÃO DO pH DAS SUSPENSÕES O monitoramento do valor do pH é uma ferramenta importante para fornecer informações relevantes sobre a estabilidade das suspensões, visto que uma diminuição desse valor pode indicar degradação do polímero ou de algum outro componente, ou mesmo representar a difusão do fármaco para o meio aquoso (SHAFFAZICK et al.,2003). As formulações de nanocápsulas brancas apresentaram pH (3,62 ± 0,03) e as nanocápsulas de mangiferina apresentaram pH (3,49 ± 0,02). Ambas as suspensões apresentaram caráter ácido, como pode ser visualizado na Tabela 2. O pH constitui parâmetros de caracterização e estabilidade. Um dos motivos da acidez de uma suspensão é a relaxação da cadeia polimérica, gerando grupos carboxílicos do polímero na interface da partícula/água. Outro motivo para a redução do pH pode ser decorrente da hidrólise parcial do polímero com aumento da concentração de grupos carboxila (SANTOS, 2010). Os valores de pH encontrados estão de acordo com o obtido por Antonow (2012), que desenvolveu suspensões de nanocápsulas com Eudragit® S100 e desonida. Seus resultados apresentaram valores de pH ácidos em torno de 3,90 ± 0,08. Esses valores também 44 foram encontrados por Schaffazick e colaboradores (2006), que obtiveram valores igualmente ácidos de pH para nanocápsulas de Eudragit® S100 contendo melatonina. 4.2.4. DETERMINAÇÃO DO TEOR DA MANGIFERINA NAS SUSPENSÕES E DA TAXA DE ASSOCIAÇÃO O teor de mangiferina nas formulações foi de 88, 17 ±1,80 % e a taxa de associação do fármaco, na suspensão de nanocápsulas de mangiferina foi de 71,78 ±1,54 % (Tabela 2). Esses valores são considerados positivos, visto que as características adversas da mangiferina, como baixa solubilidade em água e baixa estabilidade química. Vários fatores podem exercer influência sobre a taxa de associação, principalmente o óleo utilizado como núcleo oleoso, a natureza do polímero, o pH do meio, as características físico-químicas do fármaco e a quantidade do fármaco adicionada à suspensão. De acordo com Legrand e colaboradores (1999), a porcentagem de encapsulação é geralmente relacionada à solubilidade do fármaco no núcleo oleoso. Losa e colaboradores (1993) já descreviam o núcleo oleoso como principal determinante das características físico-químicas das suspensões. Em um estudo realizado, cujo objetivo foi desenvolver e caracterizar dois nanosistemas de nanoesferas e nanocápsulas diferentes, contendo xantonas (XAN) e outro a 3- metoxixantona (3- MeOXAN), a eficiência de incorporação para nanoesferas foi de 33% para XAN e 42% para o 3- MeOXAN. A presença das xantonas não afetou o tamanho da nanoesferas e nem o potencial zeta. E para o desenvolvimento de nanocápsulas com xantonas (XAN) e 3- metoxixantona (3MeOXAN), utilizando como polímero PLGA. Os valores das eficiência de incorporação foram de cerca de 90% para as formulações com XAN, nas concentrações que variaram de 200 a 600 µg/mL. Para concentrações mais elevadas, cristais de XAN foram observados, o que indica que a capacidade máxima de carga das nanocápsulas foi atingida. Para nanocápsulas de 3MeOXAN, os valores de eficiência de incorporação ficaram perto de 80% para as concentrações que variam de 1000 a 1400 µg/mL. Em concentrações mais elevadas, cristais de 3–MeOXAN foram detectados. O percentual de fármaco encapsulado se correlacionou com a solubilidade do fármaco em óleo. A estratégia adotada pelo autor para aumentar a concentração das xantonas nas nanocápsulas foi aumentar o volume de Myritol® 318 na concentração final (TEIXEIRA et al., 2005). 45 Recentemente, foi proposto o modelo supramolecular para um novo tipo de nanocápsulas preparadas com triacilglicerol, monoestearato de sorbitano (Span® 60), poliéster e polissorbato 80. Variando as proporções dessas matérias-primas na fase orgânica e com isso, diferentes tipos de colóides foram obtidos para o desenvolvimento e otimização de nanocápsulas com núcleo lípidico da formulação. As proporções de matérias-primas (span® 60, polissorbato 80 e polímero) podem ser selecionadas para se obter exclusivamente nanocápsulas de núcleo lipídico em suspensão. O novo tipo de nanocápsulas tem a vantagem de dispersar medicamentos lipofílicos no núcleo, com capacidade de carga mais elevada do que as nanocápsulas obtidas com os núcleos que contêm óleo puro. Esse estudo mostrou um desenvolvimento de uma plataforma de nanocarreadores de alto desempenho com potencial de aplicação em nanomedicina (VENTURINI et al., 2011). 4.3. VALIDAÇÃO DE METODOLOGIA ANALÍTICA POR CLAE PARA A QUANTIFICAÇÃO DE SUSPENSÕES DE NANOCÁPSULAS CONTENDO MANGIFERINA 4.3.1. ESPECIFICIDADE A especificidade avalia o grau de interferência de espécies, como outros ingredientes ativos, excipientes, impurezas e produtos de degradação. A especificidade garante que o pico de resposta seja exclusivamente do composto de interesse. Se essa não for assegurada, a linearidade, a exatidão e a precisão estarão comprometidas (RIBANI et al., 2004). A especificidade do método analítico foi avaliada através de análises comparativas entre a mangiferina na forma livre, a suspensão de nanocápsulas sem o fármaco e a suspensão contendo o fármaco na concentração de 10 μg/mL (Figura 10). Pode-se observar que o método analítico foi específico para esse tipo de análise, sem apresentar interferentes para a leitura das amostras, encontrando-se em concordância com as especificações oficiais. 46 Figura 10 - Cromatogramas sobrepostos da mangiferina livre (A), da suspensão de nanocápsulas de mangiferina concentração de 10 μg/mL (B) e o cromatograma da suspensão sem o fármaco (C). Para fins ilustrativos, evidenciando que os limites encontrados foram considerados satisfatórios, nas figuras 11 e 12, é possível observar o perfil cromatográfico em 3D das amostras com picos de intensidade iguais no comprimento de onda de 254 nm, sendo determinado previamente por UV e confirmado por CLAE, com o tempo de retenção de 4,95 minutos. Não foram identificados picos de impureza pelo equipamento. Figura 11- Diagrama de cores em 3D, obtido para suspensão de nanocápsulas de mangiferina na concentração de 10 µg/mL. 47 Figura 12 - Diagrama de cores em 3D, obtido para mangiferina livre na concentração de 10 µg/mL. Com isso, foi possível verificar que o método analítico foi específico para este tipo de análise, sem apresentar interferentes para a leitura das amostras, encontrando-se em concordância com as especificações oficiais (ICH, 2005; ANVISA, 2003). 4.3.2. LINEARIDADE A linearidade de um método analítico corresponde à capacidade do método em fornecer resultados diretamente proporcionais à concentração da substância em análise dentro de uma determinada variação (ANVISA, 2003). Para o estudo da linearidade, foi preparada uma solução padrão de mangiferina a partir dessa foram preparadas uma curva padrão, nas concentrações de 1, 5, 10, 15, 20, 25 µg/mL analisadas em 3 dias diferentes e com leituras em triplicata. A análise dos resultados da linearidade por ANOVA p < 0,0001 demonstrou ser significativa a diferença de leitura entre as concentrações analisadas. A partir da curva padrão encontrada (y = 98863x -15917), calculou-se o coeficiente de correlação linear de Pearson, obtendo-se, assim, o valor de 0,9996, estando esse resultado de acordo com a legislação vigente (ANVISA, 2003), a qual exige um coeficiente mínimo de 0,99. Os limites de detecção (LD) e de quantificação (LQ) foram calculados através da divisão do desvio padrão dos coeficientes lineares das curvas padrão do ensaio de linearidade pela 48 média dos coeficientes angulares destas respectivas curvas, multiplicados por 3 e 10, respectivamente, conforme sugerido pela ICH (2005). Com base nesses dados, os resultados encontrados foram 18,65 μg/mL e 62, 17 μg/mL, respectivamente. A partir dos resultados obtidos, conclui-se que a curva analítica pode ser utilizada para a quantificação dos valores experimentais da mangiferina, visto que o coeficiente de determinação foi maior que 0,99, atestando a qualidade da curva analítica obtida (ANVISA, 2003; RIBANI et al., 2004; ICH, 2005). 4.3.3. REPETIBILIDADE E PRECISÃO INTERMEDIÁRIA A precisão foi verificada através da repetibilidade por doseamento dos ativos na concentração de trabalho 10 μg/mL (n=6), em um único dia e através da precisão intermediária na concentração de trabalho 10 μg/mL, em três dias. Os resultados obtidos para repetibilidade da mangiferina encontram-se descritos na Tabela 3. Enquanto que os resultados obtidos para a precisão intermediária da mangiferina encontram-se descritos na Tabela 3 respectivamente. Os resultados dos ensaios de precisão revelaram que o método apresenta boa repetibilidade e reprodutibilidade interna conforme dados da Tabela 3, estando esses resultados em concordância com a ANVISA (2003), a qual exige um DPR máximo de 5%. 49 Tabela 3 - Valores obtidos da reprodutibilidade interna e repetibilidade. Concentração µg/ml 1º dia1, teor (%) 2º dia1, teor (%) 3ºdia2, teor (%) 10 88,45 87,75 84,55 10 87,86 87,10 86,30 10 87,72 87,39 88,19 10 88,91 87,45 90,11 10 91,82 87,61 89,81 10 88,35 87,97 89,72 Média 88,85 87,54 88,11 epm 0,57 0,11 0,84 DPR 1,71 0,34 2,56 Reprodutibilidade interna Média (%) 88,17 DPR (%) 1,80 a Analista 1; b Analista 2 4.3.4. EXATIDÃO A exatidão de um método analítico é a proximidade dos resultados obtidos pelo método em estudo em relação ao valor verdadeiro. É determinada através de cálculos que expressam a porcentagem de recuperação de quantidade conhecida do analítico adicionado à amostra, ou como a diferença percentual entre as médias e o valor verdadeiro aceito, acrescida dos intervalos de confiança. Assim, a exatidão é expressa pela relação entre a concentração média determinada experimentalmente e a concentração teórica correspondente (ANVISA, 2003). O ensaio de validação foi realizado como preconizado pela ANVISA, a qual determina que a exatidão do método deve ser realizada após o estabelecimento da linearidade, do intervalo linear e da especificidade do mesmo, sendo verificada a partir de no mínimo 9 (nove) determinações contemplando o intervalo linear do procedimento, ou seja, 3 (três) concentrações, baixa, média e alta com 3 (três) réplicas cada (ANVISA, 2003). Deste modo, as concentrações utilizadas para realizar este ensaio foram de 2,5; 7,5 e 12,5 μg/mL. 50 Como resultado (Tabela 4) do ensaio de exatidão, foi obtido um percentual médio de recuperação de 94,98% e um DPR de 1,19%. Essa análise está próxima dos valores aceitáveis com a resolução n° 899 da ANVISA (2003) o qual orienta que o teor do fármaco recuperado deve estar entre 98 – 102%. Tabela 4- Resultados obtidos no ensaio de exatidão (n = 3). Concentração Teórica Recuperação (%) DPR (%) 2,5 72,23 1,19 7,5 105,02 1,43 12,5 107,69 0,94 Média 94,98 1,19 (μg/mL) 4.3.5. ROBUSTEZ A robustez de um método analítico é a medida de sua capacidade em resistir a pequenos e deliberadas variações dos parâmetros analíticos. Para determinar se o método desenvolvido é robusto, optou-se por variar a vazão da fase móvel em 0,6 e 1,0 mL/min, o pH da fase móvel para 3,0 e 4,0 e a temperatura para 30 °C e 40 °C. A análise de robustez demonstrou que a variação da vazão, do pH da fase móvel e da temperatura não interferiram na análise do mesmo. Esses resultados foram tratados estatisticamente pela ANOVA com auxílio do software GraphPad Prism versão 5.0 (GraphPad, EUA). 4.4. MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE TRANSMISSÃO (MET) A avaliação morfológica das nanocápsulas de mangiferina e nanocápsulas sem o fármaco foi realizada através de MET. Na fotomicrografia das nanocápsulas brancas (Figura 13), pode-se observar que há presença de estruturas esféricas nanométricas e similares entre si, corroborando com o encontrado através da análise por espectroscopia de correlação de fótons para diâmetro médio e para o índice de polidispersão das suspensões de nanocápsulas (Tabela 51 2). Além disso, essas estruturas apresentam um baixo grau de coalescência, sem agregação aparente das partículas. Esse resultado demonstrou que o uso de DMSO não influenciou a formação das nanocápsulas. Figura 13 - Microscopia eletrônica de transmissão de nanocápsulas sem o fármaco. Comprimento da escala: 100 e 300 nm. A Figura 14 mostra a microscopia das nanocápsulas, que pode-se verificar a presença de estruturas esféricas, nanométricas e semelhantes entre si, demonstrando a sua distribuição de tamanho homogêneo. Estes resultados corroboram com o encontrado para o tamanho de partícula e o índice de polidispersão obtidos para estas suspensões de nanocápsulas, através da técnica de espalhamento de luz dinâmico. As estruturas esféricas não apresentaram coalescência entre si. Com isso, houve manutenção da estrutura esférica e nanométrica das partículas. Além disso, a microscopia das nanocápsulas de mangiferina não demonstrou a existência de cristais relativos aos fármacos, indicando também que a mangiferina pode estar dispersa molecularmente nas nanocápsulas. 52 Figura 14 -Microscopia eletrônica de transmissão das nanocápsulas de mangiferina. Comprimento da escala: 100 e 300 nm. 4.5. TESTE DE LIBERAÇÃO DA MANGIFERINA ATRAVÉS DE DIÁLISE No presente estudo, observou-se uma liberação lenta das nanocápsulas de mangiferina seguindo uma liberação de primeira ordem. O perfil de liberação da mangiferina não encapsulada também seguiu o mesmo modelo. Os valores obtidos para a constante de liberação foram 0,255 e 0,530 h-1 para as nanocápsulas de mangiferina e para a mangiferina livre, respectivamente. Os coeficientes de correlação para o modelo foram 0,979 e 0,991 para as nanocápsulas de mangiferina e para a mangiferina livre, respectivamente. Desta forma, a liberação da mangiferina das nanocápsulas foi lenta e controlada apresentando t1/2 de 2,71 hora. Para as nanocápsulas de mangiferina, a metade de ativo foi liberado em 1,30 h. Além disso, a liberação da quantidade de nanocápsulas foram muito superiores do que a do fármaco livre, demonstrando uma maior possibilidade de aumentar a biodisponibilidade desse fármaco, quando administrada clinicamente. Souza (2009) que desenvolveu microesferas de pectina com cálcio revestidas com quitosana e carreada com mangiferina, também obteve percentuais baixos de mangiferina no teste de liberação. O autor descreve, como sendo um dos principais motivos, a baixa solubilidade da mangiferina em água e no meio de liberação (tampão pH 1,2 e tampão pH 7,4). Em um estudo feito por Antonow (2012), foi demonstrado que as nanocápsulas de desonida utilizando o Eudragit® L100 como polímero obtiveram uma liberação mais rápida que as outras formulações que utilizaram o Eudragit S®100 e a PCL. No entanto, os resultados para 53 liberação das nanocápsulas com Eudragit® S100 e com Eudragit® L100 foram próximas a 100% nas primeiras 5 horas. Para as nanocápsulas com PCL, a liberação foi menor, estando próxima a 80% nas primeiras 5 horas. Já a forma livre liberou a desonida na primeira hora. 100 % de mangiferina liberada 90 80 70 60 50 Mangiferin 40 NCM 30 20 10 0 0 5 10 15 20 25 30 Tempo (h) Figura 15:Mangiferina liberada a partir de uma solução do fármaco livre e nanocápsulas (NCM). Marcadores indicam dados experimentais e as linhas indicam os dados de modelos matemáticos. Em outro trabalho realizado por Schaffazick e Gutteres (2003), foram avaliadas as liberações de suspensões de nanocápsulas e de nanoesferas de Eudragit® S90 contendo etionamida, um tuberculostático. As formulações apresentaram rápida e total liberação do fármaco, de 80% e de 90%, as nanopartículas foram preparadas por incorporação do fármaco. Desta forma, os resultados sugeriram que o fármaco estaria majoritariamente adsorvido à superfície das partículas. Como a mangiferina é uma xantonaglicosilada natural, está intimamente relacionada com a família de polifenóis. Estudos sugeriram que a absorção de polifenóis no intestino é relativamente baixo, devido a uma bactéria encontrada no cólon humano, a Bacteroides sp. Essa bactéria produz uma enzima que pode clivar a ligação C-glicosil da mangiferina durante a incubação anaeróbica para dar origem ao noratiriol (1,3,6,7-tetraidroxixantona), a aglicona da mangiferina. No entanto, é preciso um longo tempo para mangiferina atingir o cólon após administração oral. Portanto, a baixa absorção no trato gastrointestinal é provavelmente a 54 principal razão para a aplicação clínica restrita da mangiferina, a fim de melhorar a biodisponibilidade oral da mangiferina e potencializar a sua biodisponibilidade. O estudo de Wang e Zhang (2012) incluiu tensoativos, sais biliares (desoxicolato de sódio) e um polímero mucoaderente (Carbopol 974P) que foram investigadas em uma série de expereimentos in vivo. De acordo com as propriedades físico-químicas da mangiferina (estabilidade química, solubilidade em água e lipossolubilidade), os fatores potenciais sugeridos que contribuiriam para a baixa biodisponibilidade desse ativo são a decomposição química em meio alcalino, o metabolismo de primeira passagem hepática, gastrointestinal, a saturabilidade, a especificidade local de absorção e a precipitação da solução de mangiferina no trato gastrointestinal, devido à sua fraca solubilidade em água (WANG X. & ZHANG Q., 2012). 4.6. VIABILIDADE CELULAR (MTT) Tendo em vista o aumento da utilização de nanopartículas, faz-se necessário o emprego de um método rápido e eficiente para avaliar o seu impacto no ambiente e na saúde humana. Mesmo que modelos in vivo sejam eficazes para avaliação da toxicidade biológica de nanopartículas, os modelos de cultura celular são altamente completos para o uso em estudos fisiológicos e para avaliar a toxicidade pré-clínicos (CHUEHA et al., 2014). Isso porque as amostras contendo células vivas e mortas podem fornecer uma estimativa da resposta celular frente a uma determinada substância (JONES; GRAINGER, 2009). Baseado nisso, este estudo tem como objetivo avaliar in vitro, os possíveis efeitos causados pelas nanocápsulas de mangiferina sobre a viabilidade das células Vero. Os resultados do ensaio do MTT mostram que não houve diferença significativa (p < 5%) na viabilidade celular das células tratadas com 0,75 µg/mL, 1,5 µg/mL e 2,5 µg/mL de suspensão de nanocápsulas contendo mangiferina, suspensão de nanocápsulas sem o fármaco e a suspensão de mangiferina na forma livre, quando comparadas com o controle negativo, como demonstrado na Figura 16. Esse resultado sugere uma baixa toxicidade das formulações. 55 Figura 16 - Efeito da viabilidade celular, de suspensão de nanocápsulas de mangiferina, suspensão de nanocápsulas sem o fármaco e suspensão de mangiferina na sua forma livre, em linhagem de células Vero. Um estudo realizado com nanocápsulas de omeprazol, utilizando o Eudragit® L100-55 como polímero, mostrou in vitro uma boa liberação sensível ao pH e também uma ligeira citotoxicidade das nanopartículas, utilizando células Caco-2. Além disso, esse estudo mostrou que as nanopartículas podem ser absorvidas pelas células Caco-2, após 30 minutos de incubação. Os resultados indicaram que a viabilidade das células decresceu com o aumento da concentração de nanopartículas (HAOA et al, 2013). Segundo García-Riviera e colaboradores (2011), um teste realizado com o extrato Vimang, já mencionado anteriormente, avaliou o efeito da mangiferina e do ácido gálico, (outra substância encontrada neste extrato), em células MDA-MB23, células metastáticas da mama, fibrossarcoma HT1080 e células Caco-2. O uso desse extrato pode inibir a proliferação da linha de células cancerígenas da mama e efeitos citotóxicos similares foram observados para células Caco-2 e para células cancerosas HT1080 de fibrossarcoma, porém um com potencial inibitório mais fraco. 56 4.7. HET CAM (Hen’s Egg Test Chorioallantoic Membrane) O protocolo de HET-CAM (ECVAM, Luepke 1985), para análise de irritabilidade ocular de substâncias testes, consta de dois controles positivos para lise, hemorragia e coagulação (NaOH e SDS) e um controle negativo (NaCl). A análise dos resultados é realizada por dois parâmetros: quantitativo (Tabela 5) e qualitativo (observação do aparecimento de lise, hemorragia e coagulação na membrana CAM). Tabela 5 - Referências quantitativas para classificação final do produto quanto ao seu potencial de irritação no HET-CAM. Classificação Faixa (Graduação das lesões) Nenhuma Reação 0 Reação Leve 1 Reação Moderada 2 Reação Severa 3 Figura 17 - Teste HET CAM:(A) controle negativo (NaCl), (B) substância irritante leve (SDB), (C) substância de irritação severa (NaOH). 57 Figura 18 - Teste HET CAM:(A) suspensão de nanocápsulas sem o fármaco, (B e C) suspensão de nanocápsulas de mangiferina (250 µg/mL). O potencial irritante das nanocápsulas de mangiferina foi testado empregando um método proposto por Luepke (1985), que é aceito hoje pela legislação europeia e indicado pela ANVISA (Agência de Vigilância Sanitária, Brasil) para avaliação de segurança de produtos farmacêuticos e cosméticos. Apesar de tratar-se de um método apenas qualitativo para medir o poder irritante de formulações e com baixa sensibilidade para classificar produtos moderadamente irritantes (DEBBASCH et al., 2005), esse tipo de ensaio vem sendo bastante utilizado por ser de simples execução e uma alternativa para substituição de ensaios de irritação ocular in vivo utilizando coelhos, bastante condenado atualmente pela comunidade científica. As suspensões de nanocápsulas de mangiferina, bem como a suspensão sem o fármaco apresentaram-se como um sistema ligeiramente irritante segundo a metodologia proposta, por não causar nenhum tipo de hemorragia ou coagulação após 5 min de contato com a membrana corion-alantóide de ovo embrionado de galinha (HET-CAM). A única alteração observada, após as aplicações das nanocápsulas de mangiferina e das nanocápsulas sem o fármaco, foi uma hiperemia leve após o contato com a membrana. Supostamente, essa leve hiperemia na membrana seja devido ao pH ácido das formulações (pH = 3,49), o que, no entanto, não compromete o seu uso in vivo. Em um trabalho realizado com dorzolamida carreado por nanocápsulas de quitosana, para tratamento de glaucoma, o teste de HET-CAM apresentou resultados considerados como seguros e não irritantes para formulações. Assim, a formulação carreada por nanocápsulas oferece um tratamento mais intensivo de glaucoma e requer menos aplicações por dia em comparação com formulações convencionais (KATIYAR et al., 2014). 58 Uma vez que a exposição acidental ou intencional para os olhos pode resultar em ligeiras reações como vermelhidão ou mesmo reações graves, como a perda de visão, uma avaliação do potencial de irritação nos olhos é fundamental. Assim, o ensaio HET - CAM foi realizada para avaliar o potencial de irritação ocular de nanopartículas lipídicas sólidas e para nanotransportadores de estruturas multi-nucleadas, para opióides tópicos como morfina, hidromorfona, fentanil e buprenorfina. Os resultados demonstraram que não houve nenhum efeito agudo tóxico das nanopartículas contendo esses fármacos (WOLF et al., 2009). 59 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho mostrou a possibilidade de utilização de técnica de deposição de polímero pré-formado para produzir nanocápsulas de mangiferina. O uso do DMSO como cossolvente foi, primeiramente descrito neste estudo, sendo que sua adição não afetou a formação de nanopartículas. As nanopartículas foram obtidas com as características físicoquímicas adequadas para administração oral de fármacos. O método analítico para quantificação de mangiferina foi validado para cromatografia líquida de alta eficiência. O perfil de liberação da mangiferina das nanocápsulas apresentou liberação lenta com o aumento da quantidade do fármaco liberado, indicando a possibilidade de aumentar a biodisponibilidade in vivo do fármaco. Os testes para avaliação do perfil inicial de toxicidade dessas nanocápsulas (MTT e HET –CAM) não apresentaram efeito tóxicos agudos, no entanto, mais testes são necessários para avaliar o perfil tóxico dessas nanocápsulas. A partir dos resultados obtidos no presente trabalho, têm-se como perspectivas futuras a continuidade dessa pesquisa buscando mais testes tanto de estabilidade, citotoxicidade, melhorias no perfil de liberação, assim como seus possíveis efeitos farmacológicos in vivo. 60 Interdisciplinaridade O presente trabalho visou associar conhecimentos químicos, bioquímicos e físicoquímicos para produzir, caracterizar e avaliar a resposta biológica de novos sistemas poliméricos nanoparticulados acoplados a um peptídeo modelo buscando resultados melhores do que os sistemas convencionais. Este projeto envolverá técnicas de síntese química, caracterização físico-química e avaliação em cultura de células de sistemas nanométricos. O conhecimento já adquirido em síntese orgânica será usado de base para síntese de novos polímeros. Uma vez sintetizados, será necessário conhecimento de nanotecnologia e físicoquímica para preparação das micelas poliméricas. Após, a união com a área da farmácia é clara na aplicação dos sistemas produzidos em modelos de cultura celular. 61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AJAZUDDIN, S. SARAF. Applications of novel drug delivery system for herbal formulations. Fitoterapia v.81. 680–689, 2010. AKHGARI, A.; GAREKANI, H. A.; SADEGHI, F.; AZIMAIE, M. Statistical optimization of indomethacin pellets coated with pH-dependent methacrylic polymers for possible colonic drug delivery. International Journal of Pharmaceutics, v. 305, p. 22-30, 2005. ALAM, M.I.; BEG, S.; SAMAD, A.; BABOOTA, S.; KOHLI, K.; ALI, J.; AHUJA, A.; AKBAR, M. Strategy for effective brain drug delivery. European Journal of Pharmaceutical Sciences, 40, n.5, p.385-403, 2010. AMAZZAL, L.; LAPÔTRE, A.; QUIGNON, F.; BAGREL, D. Mangiferin protects against 1methyl-4-phenylpyridinium toxicity mediated by oxidative stress in N2A cells. Neuroscience Letters, Limerick, v.418, p.159-164, 2007. ANDREU, L.G.; PARDO et al. 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International Journal of Pharmaceutics v.436,p. 341– 350, 2012. 71 ANEXO 1 Manuscrito DEVELOPMENT OF MANGIFERIN-LOADED POLYMERIC NANOCAPSULES Journal of Nanopharmaceutics and Drug Delivery Editorial Office. 72 DEVELOPMENT OF MANGIFERIN-LOADED POLYMERIC NANOCAPSULES JAQUELINE URBAN MOURA1,GABRIELA MORAES BARBOSA1, CAYANE GENRO1, RENE DELGADO HERNÁNDEZ2, SUSLEBYS SALOMON IZQUIERDO2, PATRICIA GOMES1, SOLANGE BINOTTO FAGAN1,RENATA PLATCHECK RAFFIN1* 1 Programa de Pós Graduação em Nanociências, Centro Universitário Franciscano, Santa Maria, RS, Brazil 2 Laboratory of Pharmacology, Department of Biomedical Research, Center for Pharmaceutical Chemistry, Atabey, Playa, Havana City, Cuba *[email protected] Abstract Mangiferin (1,3,6,7-Tetrahydroxy-2-[3,4,5-trihydroxy-6-(hydroxymethyl)oxan-2- yl]xanthen-9-one) is a natural bioactive, more specifically a glycosylated xanthone isolated from Mangifera indical L.. It presents pharmacological activities on different organs and tissues, and already described effects as anti-inflammatory, antitumoral and antioxidant. However, one of the problems of mangiferin is its low aqueous solubility and the low chemical stability. One technological alternative to overcome these limitations is the nanoencapsulation. Polymeric nanocapsules are small nanometric oil droplets surrounded by a thin layer of polymer. In this way, the objective of this study was to develop and characterize mangiferinloaded nanocapsules. In order to obtain mangiferin nanocapsules, the deposition of preformed polymer technique was modified by the addition of a co-solvent, in this case, DMSO. Eudragit S100 was used as polymer. The results showed nanometric particle size with narrow distribution around 95 nm and PDI < 0.2), and large zeta potential, indicating stability of the nanosystem. TEM images showed nanocapsules well formed and with round shape and narrow distribution. Drug release presented controlled profile with first order release and t1/2 of 2.71 h. The analytical methodology was fully validated and drug content was around 90 %. Based on the results, mangiferin nanocapsules are a promising formulation to obtain increased bioavailability of the drug. 73 Key words: mangiferin, nanocapsules, DMSO, controlled release, Eudragit S100 1. INTRODUCTION New therapeutic possibilities have been considered for the treatment of diseases in worldwide. Therefore, the use of natural products appears as a possibility to be considered for the production of controlled release dosage forms, to ensure a greater bioavailability and efficacy1. Mangiferin, a glycosylated xanthone (Figure 1), is an active phytochemical present in various plants including MangiferaindicaL.2. Its properties in different pathologies have been demonstrated, as anti-viral, anti-inflammatory, hypoglycemic, analgesic, hepatoprotective, immunomodulative and antitumoral activities1,3,4.In Cuba, there is a mangiferin enriched extract named Vimang, produced in industrial scale, mainly used for treating inflammation, and pain5. Figure 1. Chemical structure of mangiferin. The solubility in water of mangiferin is very low: 0.111 mg.mL-1 6. Some efforts were done in order to increase its solubility and bioavailability, such as embodying within cyclodextrin derivatives6, preparing inclusion complexes6,or monosodium salt7. One strategy to preserve the chemical integrity and increase bioavailability for poorly water soluble drugs is nanoencapsulation7,8. Nanoencapsulation is a technological tool to increase physical stability, protect ingredients against chemical degradation, and allow for precise control over the release of encapsulated drug9. Therefore, the aim of this study was development a nanoparticle (polymeric nanocapsule) in order to increase the solubility and bioavailability of mangiferin. 74 2. MATERIALS AND METHODS 2.1. Materials Mangiferin and sorbitan stearate were supplied by Sigma-Aldrich. Polisorbate 80 and capric/caprylic triglycerides were acquired from Via Farma, Brazil. Eudragit® S100 was kindly donated by RöhmPharma Polymers. All other chemicals were of analytical grade and used as received. 2.2. Preparation of polymeric nanocapsules Nanocapsule suspensions were prepared using interfacial deposition of preformed polymers technique described initially by Fessi et al., (1989)10 and modified by Venturini et al., (2011)11. Briefly, 0.00625g of mangiferin were dissolved in 200 µL of DMSO. Then, the solution was added to the acetone phase described in Table 1. The acetone phase was added using a funnel to the aqueous phase (Table 1) and the volume was reduced to 25 mL (250µg.mL1 of mangiferin) using a rotary evaporator (NCM). Blank formulations were prepared by the same procedure without adding mangiferin (NCB). Table 1 – Composition of mangiferin loaded nanocapsules (NCM) for a final volume of 25 mL. Component Amount Mangiferin 6.25 mg* Eudragit® S100 250.00 mg Sorbitan stearate 962.00 mg Isopropyl adipate 395.00 mg DMSO 0.20 mL Ethanol 62.5 mL Polisorbate 80 385.00 mg Water 125.00 mL * Blank nanocapsules (NCB) were prepared by withdrawing mangiferin from the composition. 2.3. Physicochemical characterization of nanocapsules 75 2.3.1. Particle size and zeta potential Mean particle size and polydispersity index as well as zeta potential were measured using Zetasizer® nano-ZS model ZEN 3600, Malvern. For particle size, samples were diluted 500x v/v in filtered water. For zeta potential, the sample dilution was used in 10 mM NaCl (previously filtered in 0.45 µm). 2.3.2 Nanocapsule suspension pH pH of the nanocapsule suspensions was directly measured using Digimed® DM-20 potentiometer. Results were obtained after 3 measures of three different batches of the formulations. 2.3.3 Drug loading and validation of LC method for determination of mangiferin in nanocapsules The amount of mangiferin in NCM was determined by liquid chromatography using HPLC Prominence (Shimadzu, Japan), equipped with pump model LC-20AT, detector UV/VIS model SPD-M20A, column C18 (150 x 4.6 mm, 5 µm) Shim-pack CLC-ODS (Shimadzu, Japan) I.D. The LC method was validated according to ICH (1995)12 guidance analyzing the specificity, linearity, precision, accuracy and robustness. 2.3.4. Encapsulation efficiency The amount of mangiferin encapsulated in the nanocapsules NCM were calculated by the difference between the drug loading in nanocapsule suspension (item 2.3.3) and the amount dissolved in water. To determine the concentration of mangiferin dissolved in the water phase, ultrafiltration/centrifugation technique was applied using Microcon® MC Millipore 10,000 Da filters. The ultrafiltrated was analyzed by the same method previously described to quantificate mangiferin. 76 2.3.5 Transmission electron microscopy Particle morphology of NCM and NCB was assessed by transmission electron microscopy (JEM 1200EX II) (Centro de Microscopia Eletrônica da UFRGS) at 120 kV, with magnifications of 50,000, 100,000 e 300,000 x. Suspensions were diluted 10 x in filtered water and dried in copper grids. 2% (m/v) uranile acetate was used as staining and was applied in the samples already in the grid for 1 min. 2.3.6 In vitro release studies of mangiferin from nanocapsules For the release studies, cellulose acetate membranes were used (10,000 Da; 25 mm, Sigma Aldrich) for the dialysis. The bags were hydrated in water for 24 h. Then, they were filled with 4 mL nanocapsule suspension with and without mangiferin and mangiferin solution used as control. The release media was phosphate buffer pH 7.4 (50 mL) kept at 37 °C. Samples were collected in triplicates for 24 h and analyzed by the validated method in HPLC (section 2.3.3). The release profiles were mathematically modeled using Scientist 2.0 software for zero order, first order mono and biexponential13. 2.4 Statistical analysis The experimental data was evaluated using ANOVA at 95% of confidence. 3 RESULTS AND DISCUSSION 3.1 Physico-chemical characterization of mangiferin nanocapsules The results are shown in Table II. The modification of the interfacial deposition of preformed polymers applied in these formulations allowed the formation of small nanometric particles with narrow particle size distribution. For blank nanocapsules NCB, particle size was low as (94.88 ± 0.19 nm) as well as the polydispersity index(0.19 ± 0.03). The addition of mangiferin in the formulations did not affect the particle size distribution (mean size of 91.59 ± 0.06 nm), and polydispersity index of 0.12 ± 0.01).particle size is in accordance to previously reported nanosystems for delivery of drugs, as described for nimesulide-loaded nanoparticles (90.1 nm) 13 , however smaller then nanocapsules prepared with the same polymer and melatonin as drug (186 nm) 14. The reduction of particle size compared to the similar 77 formulation used by Hoffmeister et al. can be due to the modification applied in this study, i.e., the addition of DSMO in the nanocapsule suspension. This modification was not reported previously in literature. Table 2.Physico-chemical characteristics of NCM and NCB. Results are expressed in mean values ± standard deviation. Parameters NCB NCM Mean particle size (nm) 94.88 ± 0.19 91.59 ± 0.06 Polydispersity index 0.19± 0.03 0.12 ± 0.01 Zeta potential (mV) -18.76 ± 0.06 -18.31 ± 2.37 pH 3.62 ± 0.03 3.49 ± 0.02 Drug loading (%) - 88.17 ± 1.54 Zeta potential values for both formulations, NCB and NCM, were negative (-18.76 ± 0.06 mV and -18.31 ± 2.37 mV, for NCB and NCM, respectively). There was no statistical difference between the formulations (p < 0.05), indicating that the addition of the drug did not affect the external potential of the nanocapsules. These high values indicate greater electric repulsions among particles and this characteristic leads to improved physical stability of the nanocapsule suspension15. The variation in the pH of the suspensions can be correlated to polymer stability, as well as, some microbiological contaminations 16 .The formulations NCB and NCM presented similar pH values of 3.62 ± 0.03 and 3.49 ± 0.02, respectively. The acid character is due to the use of Eudragit S 100 polymer. These values are in accordance to the reposted by Hoffmeister et al., (3.87) and ANTONOW, 2012 (3.90)14,17. The latter research developed Eudragit S 100 nanocapsules containing desonide. The acid values are due to the polymer structure that contains a large number of OH groups18. Drug loading was very high (88.17±1.54 %), and it was considered very satisfactory, once there is only one other report of a xanthone encapsulated and the values were similar (between 77 and 89 %) 19.Encapsulation efficiency was 65.5 %, similar to the values reported 78 by Martins et al., 20088 for calcitonin in nanoparticles (between 58 and 85 %, varying the lipids in the formulations).Mangiferin is soluble only in some specific solvents, which leads to an increased difficulty in its encapsulation. The addition of DMSO in the organic phase lead possible the encapsulation, once there was no solvent adequate to nanoprecipitation technique that solubilized mangiferin. For this technique, only solvents miscible with water can be applied, as acetone and ethanol. In this way, we added the smallest amount possible of DMSO to allow the solubilization of the drug. In order to verify the real formation of the nanocapsules, transmission electron microscopy was used. 3.2 Validation of analytical method 3.2.1. Specificty The specificity of method was evaluated by comparative analysis of the mangiferin standard, the suspension of nanocapsules without the drug (NCB) and the suspension containing the drug at a concentration of10 μg.mL-1(Figure 2).We can observe that the analytical method was specific for this of analysis without the interference of NCB, therefore this method is in agreement with the official guidances. 3.2.2. Linearity The results of linearity by ANOVA showed p<0.0001, showing that the significant difference in readings between the concentrations analyzed. The standard curve was y =98,863x-15,917 and the linear correlation coefficient of Pearson was 0.9996. This result is in accordance with current legislation (ANVISA, 2003)21, which requires a minimum coefficient of 0.99.We calculated the DL and QL and the results were18.65 μg.mL-1 e 62.17 μg.mL-1, respectively. The results obtained demonstrate that the standard curve can be used to determinate of mangiferin since the correlation coefficient was greater than 0.99, showing the quality of the analytical curve obtained12,21,22. 3.2.3 Precision The results showed that the accuracy of the method had good repeatability and reproducibility, presenting RSD of 1.80 %. These results are in accordance with ANVISA (2003)21, which requires a maximum RSD of 5 %. 79 3.2.4 Accuracy The accuracy test showed an average percentage recovery of 94.98%, with an RSD of 1.19 %. This result should be between 98 and 102 %12. 3.2.5 Robustness The robustness of an analytical method is a measure of its ability to resist small and deliberate variations of the analytical parameters. To determine whether the developed method is robust, we chose to vary the flow rate is at 0.6 and 1.0 mL.min-1, pH mobile phase (3.0) and temperature. The results were statistically analyzed by ANOVA using the GraphPad Prism software version 5.0 (GraphPad, USA). The method was robust showing that the change of flow, the pH of the mobile phase and temperature do not affect the analysis. 3.3 Transmission electron microscopy Particle morphology was assessed by TEM and the photomicrographs are seen in Figures 2 and 3. Figure 2 shows the lank nanocapsules NCB. It is possible to observe round particles with narrow particle size and no presence of coalescence. Figure 3 shows NCM containing mangiferin. No difference was observed between the formulations with and without drug and no drug crystals were also seen. This indicates that drug is mainly encapsulated in the particles and that particle size results are in accordance to what was seen in the pictures. Figure 2.Photomicrographs of blank nanocapsules (NCB). 80 Figure 3.Photomicrographs of mangiferin-loaded nanocapsules (NCM). 3.4 In vitro release studies of mangiferin from nanocapsules In the present study, it was observed a slow release of mangiferin from nanocapsules following first order release. Unencapsulated mangiferin release profile also followed the same model. The values obtained for the release constant were 0.255 and 0.530 h-1 for NCM and pure mangiferin, respectively. The correlation coefficients for the model were 0.979 and 0.991NCM and pure mangiferin, respectively. In this way, the release of mangiferin from nanocapsules was slow and controlled presenting t1/2 of 2.71 h. For unencapsulated mangiferin, release half live was 1.30 h. furthermore, the amount release from nanocapsules were much higher than pure drug, demonstrating a greater possibility of increasing bioavailability of this drug, when administered clinically. 81 Figura4: Mangiferin release from a solution of pure drug and nanocapsules (NCM). Markers indicate experimental data and lines indicate mathematical models data. 4. CONCLUSION This study showed the possibility of using deposition of preformed polymer technique to produce mangiferin nanocapsules. The use of DMSO as co-solvent was firstly described in this paper and this addition did not affect particle formation. Nanocapsules were obtained with adequate physic-chemical characteristics. The analytical method for quantification of mangiferin was fully validated for liquid chromatography. The release profile of mangiferin from nanocapsules showed a slow release with increased amount released compared to pure drug, indicating the possibility of increasing bioavailability in vivo of this drug. ACKNOWLEDGEMENT Authors thank the financial support of CNPq (chamada MCTI/CNPq Nº 20/2011 –Cooperação Brasil-Cuba), Capes and Fapergs REFERENCES 82 1. I. Rodeiro, T. Donato, I. Hernandez, I. Martinez,J. V. Castell,M.J. Gómez- Lechon,Potencial hepatoprotective effects of new Cuban natural products in rat hepatocytes culture. Tox. In Vitro 22, 1242–1249 (2008). 2. I. Rodeiro,S. Hernandez,J. Morffi,J.A. Herrera,M.J. Gómez-Lechón,R. Delgado,J.J. Espinosa-Aguirre, Evaluation of genotoxicity and DNA protective effects of mangiferin, a glucosylxanthone isolated from Mangifera indica L. stem bark extract, Food Chem.Toxicol. 50,3360–3366(2012). 3. I. Rodeiro, R. Delgado, G. 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