OBTENÇÃO, AVALIAÇÃO DA LIBERAÇÃO IN VITRO E CARACTERIZAÇÃO POR ANÁLISE TÉRMICA DE NANOCÁPSULAS POLIMÉRICAS CONTENDO CILOSTAZOL Naiara de Oliveira Pazian (BIC/CnPq/UEPG), Paulo Vitor Farago (Orientador), e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Ponta Grossa/Departamento de Ciências Farmacêuticas Área da Saúde/ Farmácia Palavras-chaves: Nanotecnologia Claudicação intermitente. farmacêutica, Liberação controlada; Resumo O cilostazol (CLZ) é um inibidor seletivo da fosfodiesterase III. Tem função vasodilatadora e age também como antiagregante plaquetário. É o medicamento de primeira escolha para o tratamento de claudicação intermitente relacionada com a doença arterial periférica (DAP). O CLZ possui baixa solubilidade e alta permeabilidade no trato gastrointestinal. A sua posologia é de 100 mg, duas vezes ao dia, o que leva à baixa adesão ao tratamento. Além disso, outra desvantagem do CLZ é apresentar vários efeitos colaterais, como dor de cabeça, diarreia, coriza, e tonturas. Este trabalho teve como objetivo obter suspensões de nanocápsulas de blendas compostas por poli(-caprolactona) (PCL) e polietilenoglicol (PEG), contendo cilostazol. As suspensões de nanocápsulas poliméricas obtidas apresentaram características que representam o movimento browniano das estruturas coloidais. A análise térmica por DSC conformaram que o CLZ encapsulado em nanocápsulas estava num estado amorfo, o que resulta em uma melhor taxa de dissolução e de liberação para um fármaco pouco solúvel a partir dos nanocarreadores. A liberação in vitro da droga mostrou-se prolongada, levando a uma melhora do efeito terapêutico. Portanto, as suspensões de nanocápsulas poliméricas desenvolvidas podem ser consideradas adequadas para a liberação controlada do CLZ conduzindo a melhores perfis de dissolução e efeito terapêutico. Introdução O cilostazol é indicado para o tratamento clínico da claudicação intermitente. É classificado como antiagregante plaquetário e antitrombótico. Age sobre a fosfodiesterase III, levando o aumento de AMPc, diminuição de cálcio intracelular, causando relaxamento dos vasos sanguíneos (ROSA; BARONI; PORTAL, 2007). Entretanto, devido aos efeitos colaterais causados pelo esquema terapêutico, de duas doses diárias de 100mg do cilostazol, a adesão ao tratamento diminui, prejudicando a ação terapêutica. Os efeitos colaterais mais frequentes incluem cefaleia, taquicardia, palpitações, fezes amolecidas e diarreia (ROSA et al., 2008). Atualmente, a nanotecnologia farmacêutica tem apresentado benefícios na área médica/farmacêutica, principalmente no aumento da adesão ao tratamento pelos pacientes, devido à diminuição da dose terapêutica e do número de administrações. Outras vantagens que os nanossistemas oferecem: a proteção do fármaco no sistema terapêutico contra possíveis instabilidades no organismo, promovendo manutenção de níveis plasmáticos em concentração constante; o aumento da eficácia terapêutica; a liberação progressiva e controlada do fármaco pelo condicionamento a estímulos do meio em que se encontram (sensíveis a variação de pH ou de temperatura); a diminuição expressiva da toxicidade pela redução de picos plasmáticos de concentração máxima; a diminuição da instabilidade e decomposição de fármacos sensíveis; a possibilidade de direcionamento a alvos específicos (sítio-especificidade); a possibilidade de incorporação tanto de substâncias hidrofílicas quanto lipofílicas nos dispositivos (VERMA, GARG, 2001; DUNNE et al., 2003; TAO, DESAI, 2003). Além disso, a existência de poucos trabalhos voltados à liberação modificada do cilostazol são argumentos que justificam a realização do presente projeto. Material e Métodos Obtenção das suspensões de nanocápsulas poliméricas: As suspensões de nanocápsulas obtidas a partir do polímero poli(caprolactona) (PCL) e de blendas com polietilenoglicol (PEG), PCL-PEG contendo CL, foram preparadas por deposição interfacial do polímero préformado, desenvolvido e descrito por Fessi et al.(1989). Uma solução coloidal de PCL/PEG (100 mg, 3:1) foi solvatado em acetona (27 mL) na presença de Span 80® (77 mg), CLZ em diferentes concentrações (30, 60 e 120 mg) e triglicerídeos dos ácidos cáprico/caprílico (MCT) (300 mg) , constituindo assim a fase orgânica. Em seguida, foi gotejado lentamente na fase aquosa contendo Tween 80® (77 mg) e água purificada (60 mL) previamente preparada e mantida sob agitação magnética vigorosa e temperatura controlada de 40 oC. Após 60 minutos, a acetona foi removida, através de rotaevaporação e a fase aquosa foi concentrada sob pressão reduzida. O volume final foi ajustado a 10 ml e a concentração de CLZ de 3,0 mg.mL-1 (NC-3), 6,0 mg.mL-1 (NC-6) e 12,0 mg.mL-1 (NC-12). Também foi preparada uma suspensão de nanocápsulas sem a adição do fármaco (NC-0), como controle negativo. Todas as formulações de suspensões de nanocápsulas poliméricas foram preparadas em triplicata a partir de três lotes diferentes. Caracterização por análise térmica: As curvas de calorimetria exploratória diferencial (DSC) de CLZ , PCL , PEG , MCT , PCL/PEG e PCL/PEG/MCT/CLZ, para as misturas físicas e nanocápsulas poliméricas liofilizadas foram obtidas em Analisador Térmico Simultâneo STA 6000 (Perkin Elmer , Waltham , MA , EUA), usando cadinho de alumina com 4,0 ± 0,1 mg de cada amostra, sob atmosfera dinâmca de nitrogênio (50 ml.min-1). A faixa de temperatura foi de 20-300oC, com taxa de aquecimento de 10 oC.min- 1 . . A célula de DSC foi previamente calibrado com índio (PF = 156.45 oC ; ΔHfusão = 28,54 J.g- 1) . Estudo liberação do fármaco in vitro: Os perfis de liberação das nanocápsulas poliméricas de CLZ foram obtidos pela técnica de difusão por membrana de diálise. Cada amostra foi colocada em um saco de diálise (Spectra/Por ® tubo de membrana porosa molecular, 10.000 MWCO, Spectrum Laboratories, Inc., Rancho Dominguez, CA, EUA). Este sistema foi então imerso em 500 ml de água com 30% de etanol a 37 °C e sob agitação magnética contínua de 50 rpm. Alíquotas de 5 mL foram retiradas em intervalos de tempo predeterminados. A quantidade de CLZ liberada foi analisada por HPLC (GOMES et al., 2015). O experimento foi realizado em triplicado de três lotes independentes. Resultados e discussão Obtenção das suspensões de nanocápsulas poliméricas: As suspensões de nanocápsulas poliméricas obtidas apresentaram macroscopicamente o aspecto de um líquido leitoso e opalescente com reflexo azulado, relacionado ao movimento browniano das estruturas coloidais (Efeito Tyndall) em acordo com os resultados previamente relatados para outros sistemas nanoparticulados (SCHAFFAZICK et al., 2003; MORA-HUERTAS; FESSI; ELAISSARI, 2010). Caracterização por análise térmica: O perfil térmico do CLZ mostrou um evento endotérmico a 160.53ºC que corresponde à temperatura de fusão do fármaco cristalino (PATEL; RAJPUT, 2009). Os polímeros PCL e PEG apresentaram temperaturas de fusão de 60,21 °C e 60,08 °C, respectivamente, o que confirmou dados relatados anteriormente (CHASSOT et al., 2014;. PATIL; GAIKWAD, 2011). Como esperado, os termogramas de misturas físicas revelou os eventos térmicos atribuídas a ambos os polímeros e drogas. No entanto, o típico ponto de fusão do CLZ não foi observado nas curvas de DSC quando a droga foi aprisionado em nanocápsulas de PCL-PEG, indicando a amorfização do fármaco, que provavelmente ocorreu devido à sua solubilização no núcleo oleoso. Este comportamento térmico pode ser favorável para a fácil difusão das moléculas do fármaco através do invólucro polimérico, o que resulta em uma melhor taxa de dissolução para um fármaco pouco solúvel e de liberação a partir dos nanocarreadores (DIAN et al., 2013). Estudo liberação do fármaco in vitro: Nos testes de liberação in vitro, a mistura de nanocápsulas que continham PCL-PEG, obteve perfil de liberação semelhante, sendo independente da concentração da droga (p > 0,05). NC-3, NC-6 e NC-12 liberaram 80% de CLZ em 90, 96 e 108 horas do experimento, respectivamente. Por outro lado, a solução de CLZ em etanol:água (30:70, v/v) obteve uma liberação de 80% do fármaco em um menor tempo. A diferença na taxa de liberação pode ser explicada pelo gradiente de concentração entre cada formulação e o meio de dissolução. Em concentrações mais elevadas da droga, este processo foi mais rápido uma vez que este gradiente é a força motriz para a dissolução de drogas. Além disso, uma maior concentração do fármaco presente no nanocarreador favorece sua distribuição próxima à superfície das nanocápsulas, proporcionando uma rápida liberação in vitro. Portanto, a tecnologia de nanoencapsulação de CLZ pode prolongar o seu efeito terapêutico. Conclusão As nanocápsulas poliméricas foram obtidas com sucesso pelo método de deposição interfacial do polímero pré-formado. As curvas de DSC evidenciaram que o processo de nanoencapsulação conduziu a uma amorfização do fármaco. A liberação in vitro pode ser modificada pelo processo de nanoencapsulação, melhorando o efeito terapêutico da droga. Agradecimentos Ao CNPq / Brasil e Fundação Araucária / Brasil pelo apoio financeiro. Ao Complexo de Laboratórios Multiusuários e instalações da Universidade Estadual de Ponta Grossa, por fornecer infra-estrutura, apoio constante e encorajamento. Referências DUNNE, M.; BIBBY, D.C.; JONES, J.C.; CUDMORE, S. Encapsulation of protamine sulphate compacted DNA in polylactide and polylactide-co-glycolide microparticles. J. Control. Release, Amsterdam, v.92, p.209–219, 2003. GOMES, M.L.S.; KLEIN, T.; SIMIONATTO, M.; NADAL, J.M.; ZANIN, S.M.W.; BORSATO, D.M.; FARAGO, P.V. A simple RP-HPLC/UV method for determination of cilostazol in polymeric nanoparticles suspensions: development and validation. Lat. Am. J. Pharm., v. 34, p. 803–809, 2015. J.M. CHASSOT, L.M. FERREIRA, F.P. GOMES, L. CRUZ, L. TASSO, Stabilityindicating RP-HPLC method for determination of beclomethasone dipropionate in nanocapsule suspensions. Braz. J. Pharm. Sci. 51(4) (2015) 803–810. L. DIAN, Z. YANG, F. LI, Z. WANG, X. PAN, X. PENG, X. HUANG, Z. GUO, G. QUAN, X. SHI, B. CHEN, G. LI, C. WU, Cubic phase nanoparticles for sustained release of ibuprofen: formulation, characterization, and enhanced bioavailability study, Int J Nanomedicine. 8 (2013) 845–854. PATEL, S.G., RAJPUT, S.J. Enhancement of oral bioavailability of cilostazol by forming its inclusion complexes. AAPS PharmSciTech, v. 10, p. 660–669, 2009. ROSA, M. P.; BARONI, G. V.; PORTAL, V. L. Contribuição na prevenção da isquemia cerebral pelo cilostazol, um inibidor da fosfodiesterase III: revisão de literatura. Jornal Vascular Brasileiro, v. 7, p. 49–55, 2008. SCHAFFAZICK, S.R.; GUTERRES, S.S.; FREITAS, L.L.; POHLMANN, A.R.; Caracterização e estabilidade físico-química de sistemas poliméricos nanoparticulados para administração de fármacos. Quím. Nova, v. 26, p. 726– 737, 2003. TAO, S.L.; DESAI, T.A. Microfabricated drug delivery systems: from particles to pores. Adv. Drug Del. Rev., v. 55, p.315–328, 2003. VERMA, R.K.; GARG, S. Current status of drug delivery technologies and future directions. Pharmac. 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