Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 27 – Estudos de memória e discurso em Língua Portuguesa
A MEMÓRIA DISCURSIVA ATUALIZADA NAS CAPAS DO PERIÓDICO
BRASILEIRO REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA
Marina Célia MENDONÇA1
RESUMO: Esta pesquisa se insere em projeto que objetiva analisar, em perspectiva
discursiva, as relações entre o discurso purista sobre língua e o discurso científico. O
objeto de análise que se propõe são capas da Revista Língua Portuguesa, publicada pela
Editora Segmento (SP - Brasil). Resultados de que esta pesquisa parte mostram que, na
revista, materializam-se contraditoriamente o discurso purista (presente na tradição
gramatical praticada no país) e o discurso científico produzido pela Linguística. Ao
mesmo tempo em que, no periódico, encontram-se, em diversos gêneros, discursos que
indicam contribuições que a Linguística tem feito ao estudo da língua portuguesa,
encontram-se também discursos que criticam, em tom normativo e purista, usos
linguísticos praticados no Brasil. As capas desse veículo também manifestam esse
entrecruzamento de vozes. Além disso, um aspecto que chama atenção nesses
enunciados é o discurso que adianta ao leitor que a revista apresenta técnicas (lições de
estilo de grandes escritores, por exemplo), truques (entre eles, para redigir determinados
gêneros), macetes (para usar a língua de forma adequada em determinadas situações),
dialogando com o discurso de autoajuda e o pedagógico. As análises consideram,
principalmente, o conceito de compreensão responsiva proposto por Bakhtin para
refletir sobre a ressignificação, produzida pela revista, dos discursos presentes em
diferentes esferas de comunicação: pedagógica, científica e da mídia. Considerando que
o diálogo se produz não somente com a memória do passado, mas também com o
porvir, a análise visa enfocar os movimentos de sentidos que se dão na atualização do
discurso dado (purismo linguístico, discurso científico, de autoajuda e pedagógico) e na
antecipação da compreensão responsiva do outro/destinatário.
PALAVRAS-CHAVE: análise do discurso; memória discursiva; purismo linguístico;
mídia.
Introdução
Este texto apresenta parte de pesquisa desenvolvida sobre o purismo linguístico
no Brasil numa perspectiva discursiva. Integra discussões e estudos feitos em dois
grupos de pesquisa: GADI (Grupo de Pesquisa em Análise do Discurso) e GTEDI
1
- Universidade de Franca, Programa de Mestrado em Linguística, Departamento de Letras. Avenida
Dr. Armando Salles Oliveira, 201. Parque Universitário. CEP. 14.404-600 – Franca – SP – Brasil.
- Uni-FACEF Centro Universitário de Franca, Departamento de Letras.
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(Grupo de Texto e Discurso: Representação, Sentido e Comunicação), presentes no
Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq-Brasil.
Resultados da pesquisa realizada nos últimos anos por esta pesquisadora
mostram o diálogo existente entre o purismo linguístico presente na mídia impressa,
televisiva e on line, a tradição gramatical brasileira do século XX e o purismo
nacionalista romântico praticado por nossos escritores do século XIX. Nesses casos, foi
analisada a polêmica em torno do uso de anglicismos no Brasil, acentuada pelo Projeto
de Lei n. 1676/99, a qual atualiza tanto polêmicas sobre o uso de galicismos em
gramáticas históricas brasileiras, quanto a postura do escritor brasileiro do período do
Romantismo frente à relação da língua nacional com outras línguas na construção da
nação brasileira (MENDONÇA, 2006a, 2006b, 2007a, 2008a). Também foram
analisadas polêmicas sobre o ensino da norma culta, sobre o “internetês” e sobre o
“gerundismo”, cujos sujeitos ora atualizam o discurso purista da tradição gramatical, ora
dialogam parafrasticamente com o discurso científico produzido pela ciência da
linguagem (em especial a sociolinguística), ora produzem deste discurso simulacros
(MENDONÇA, 2006a, 2007b, 2008d). A Carta ao Leitor da Revista Língua
Portuguesa, entrevistas publicadas nesta revista e capas de outros periódicos brasileiros
de grande circulação nacional, como Veja e Você S/A, também foram objeto de análise
desta pesquisadora, com enfoque no purismo linguístico que nelas se manifesta.
(MENDONÇA, 2008b, 2008c, 2006a)
Este trabalho considera as pesquisas anteriormente citadas e apresenta análise de
capas da Revista Língua Portuguesa - Editora Segmento (SP - Brasil). O objetivo da
presente reflexão é apontar indícios de diálogo que esse periódico mantém não somente
com a gramática tradicional e a linguística, mas também com o discurso da autoajuda e
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o pedagógico. Assim, na esfera de atividade de informação, a mídia, entrecruzam-se
discursos que têm seu nascedouro em outras esferas (pedagógica, científica) – refletir
sobre os sentidos que se produzem nesse acontecimento é o que se propõe neste artigo.
O suporte teórico das análises aqui feitas constitui-se de estudos do Círculo de
Bakhtin, que consideram o diálogo como elemento constitutivo do discurso – não há
como significar/existir fora da grande temporalidade, em que os fios de discursos se
entrelaçam em teia a ser sempre novamente tecida, um tecido em que se movimentam
os sujeitos e os sentidos.
A contribuição que se pretende fazer, com esta pesquisa, é mostrar a
produtividade do conceito de “esfera de atividade” para os estudos dialógicos do
discurso e apontar as especificidades do tratamento dado por Bakhtin à memória
discursiva, conceito nem sempre concebido de forma consensual na área.
Memória discursiva em escritos do Círculo de Bakhtin
A concepção dialógica da linguagem está no centro das reflexões do Círculo de
Bakhtin, cujo intelectual de maior destaque foi Mikhail Bakhtin. A linguagem, para o
círculo, é concebida como um fluxo em que as palavras dos outros são constitutivas das
do “eu”, em um processo de constituição não necessariamente detectável no “fio do
discurso” e não necessariamente previsto no contexto imediato da interação verbal:
“Não há palavra que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto
dialógico (este se perde num passado ilimitado e num futuro ilimitado)”. (BAKHTIN,
2000, p. 413)
Diálogo, nessa acepção, não prescinde de movimento. Na atualização da
memória discursiva, o sujeito lida com o que é estável no sentido (para o autor, as
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palavras têm uma significação historicamente estável) e com o que o contexto de
produção – o acontecimento do discurso, que Bakhtin/Volochínov (1988) chama de
tema – contribui para a renovação do sentido.
Nada pode permanecer estável nesse processo. É por isso que a
significação, elemento abstrato igual a si mesmo, é absorvida pelo
tema, e dilacerada por suas contradições vivas, para retornar enfim
sob a forma de uma nova significação com uma estabilidade e uma
identidade igualmente provisórias. (BAKHTIN/VOLOCHINOV,
1988, p. 136)
Esse discurso que renasce num novo contexto é uma resposta ao enunciado que
o precede. A resposta, nos escritos do Círculo, é acompanhada do movimento que
constitui o renascimento do sentido. Enunciar, nessa perspectiva dialógica, é responder
à enunciação do outro com contrapalavras que o interpretam a partir de um horizonte
apreciativo específico, de valores e ideologias que constituem a consciência do eu.
Acrescente-se que, além de realizar um trabalho sobre enunciações anteriores (a
memória discursiva disponível ao sujeito), a enunciação também é uma atividade em
que se dá a palavra ao outro: é direcionada a ele, ou seja, não somente constitui-se a
partir dele, mas também lhe concede a palavra. É nesse aspecto, especificamente, que
os estudos bakhtinianos contribuem com a reflexão sobre a importância da memória
discursiva na constituição do discurso, na medida em que a memória não é entendida
somente como o já-dito, mas também se alimenta da memória do futuro, da resposta
por vir, em sua antecipação, no movimento do discurso entre o já-dito e a contrapalavra
possível do outro (BAKHTIN, 2000). Nessa perspectiva, o discurso é parte indissolúvel
da interação social.
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Considerando-se que a interação se compreende nesse contexto como uma
relação entre sujeitos sociais, no enunciado se dialoga não somente com o discurso
imediato ou com interlocutores diretos, mas também com “vozes sociais” que são
refratadas/antecedidas na atualização do discurso. Bakhtin distingue, no que diz
respeito a essas antecipações, dois tipos de destinatários: o segundo e o terceiro – este,
um superdestinatário. O destinatário “segundo” é aquele, mais ou menos próximo, “de
quem o autor espera e presume uma compreensão responsiva” (BAKHTIN, 2000, p.
356). Já o “terceiro” se trata de uma instância não-imediata:
(...) afora esse destinatário (o segundo), o autor do enunciado, de
modo mais ou menos consciente, pressupõe um superdestinatário
superior (o terceiro), cuja compreensão responsiva absolutamente
exata é pressuposta seja num espaço metafísico, seja num tempo
histórico afastado. (O destinatário de emergência). Em diferentes
épocas, graças a uma concepção variada do mundo, este
superdestinatário, com sua compreensão responsiva, idealmente
correta, adquire uma identidade concreta variável (Deus, a verdade
absoluta, o julgamento da consciência humana imparcial, o povo, o
julgamento da história, a ciência, etc). (...)
Todo diálogo se desenrola como se fosse presenciado por um
terceiro, invisível, dotado de uma compreensão responsiva, e que se
situa acima de todos os participantes do diálogo (os parceiros)
(BAKHTIN, 2000, p. 356)
O enunciado, nessa perspectiva teórica, é constituído no diálogo com o já-dito e
o porvir; só nesse diálogo é que ele atinge sua completude provisória.
Na análise de discurso francesa que tem como figura central Pêcheux, também a
memória, mas aqui relacionada essencialmente ao conceito de interdiscurso, é
concebida como constitutiva do discurso. Nessa perspectiva, como em Bakhtin, ela não
somente é espaço de regularizações, mas de desestabilizações produzidas pelo “choque
do acontecimento”, que introduz um “jogo de força na memória”:
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um jogo de força que visa manter uma regularização préexistente com os implícitos que ela veicula, confortá-la como
uma “boa forma”, estabilização parafrástica negociando a
integração do acontecimento, até absorvê-lo e eventualmente
dissolvê-lo;
mas também, ao contrário, o jogo de força de uma
“desregulação” que vem perturbar a rede dos “implícitos”.
(PÊCHEUX, 1999, p. 53)
Authier-Revuz (1990), autora que contribuiu para o desenvolvimento da análise
do discurso francesa, cunha o conceito de heterogeneidade constitutiva do sujeito e de
seu discurso apoiando-se nos estudos dialógicos de Bakhtin. A autora, a partir das
reflexões do Círculo, assume que todo discurso é constitutivamente heterogêneo porque
“(...) toda palavra, por se produzir em “meio” ao já-dito de outros discursos, é habitada
por um discurso outro” (AUTHIER-REVUZ, 1998, p. 193). Tem-se um discurso
sempre produzido a partir de outro, e que permanece com ele em si: a sua singularidade
específica é a relação com a alteridade. Mas é preciso atentar para a leitura que a autora
faz do dialogismo bakhtiniano. Destaquem-se alguns trechos em que se revela essa
leitura:
Para propor o que chamo de heterogeneidade constitutiva do sujeito
e do discurso, apoiar-me-ei, de um lado, nos trabalhos que tomam o
discurso como produto de interdiscursos ou, em outras palavras, a
problemática do dialogismo bakhtiniano (...)
O “dialogismo” do círculo de Bahktin, como se sabe, não tem como
preocupação central o diálogo face a face, mas constitui, através de
uma reflexão multiforme, semiótica e literária, uma teoria da
dialogização interna do discurso. As palavras são, sempre e
inevitavelmente, “as palavras dos outros”. (...)
O que Bakhtin designa por saturação da linguagem constitui uma
teoria da produção do sentido e do discurso: coloca os outros
discursos não como ambiente que permite extrair halos conotativos a
partir de um nó de sentido, mas como um “centro” exterior
constitutivo, aquele do já dito, com o que se tece, inevitavelmente, a
trama mesma do discurso. (AUTHIER-REVUZ, 1990, p. 26/27)
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Os fragmentos supracitados são representativos daquilo que foi tomado como
importante nos estudos de Bakhtin para a AD francesa – seu enfoque no diálogo
necessário de um discurso com outros já ditos. A memória do futuro e a interação
social, problematizadas em escritos de Bakhtin, ficam em segundo plano em estudos
que se baseiam nessa leitura produzida pela linguista francesa. São precisamente esses
aspectos da obra bakhtiniana que se pretendem recuperar nesta pesquisa.
Atualização da memória discursiva na Revista Língua Portuguesa
Na Revista Língua Portuguesa, encontram-se discursos opostos – o discurso
normativo/prescritivo da tradição gramatical e o discurso descritivo da Linguística.
Considera-se aqui que a Linguística é uma disciplina que se constituiu, no Brasil, com a
valorização da fala e do falante, e com a oposição sistemática ao normativismo das
reflexões sobre língua feitas por gramáticos e filólogos; estas se pautavam pelo caráter
prescritivo, pelos juízos do certo/errado. Geraldi (1996) destaca que a nova ordem
discursiva dos enunciados da “nova disciplina”, no momento de sua constituição no
país, na década de 1960, era a descrição da língua e a posição de que “o informante
adequado para dizer a língua é o falante”.
Exemplo desse diálogo com discursos opostos encontra-se no sumário do
veículo: nele, entrelaçam-se o discurso sobre o “bem dizer” e aquele que descreve
aspectos morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos da língua portuguesa.
Fragmento retirado da edição de n. 23, transcrito a seguir, exemplifica esse diálogo: por
um lado, materializa tanto o discurso do “erro” como desvio da norma prescritiva
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quanto a atitude linguística preconceituosa, características do discurso do “bem dizer”;
por outro, o fragmento materializa discurso que se propõe descrever as variações do
idioma.
Gramática cotidiana
32 DITO & ESCRITO
Os erros induzidos pela forma feminina do pronome Vossa
Excelência, por Josué Machado
38 LINGÜÍSTICA
José Luis Fiorin faz um balanço das variações nos idiomas
40 LIÇÃO DE CASA
O uso indiscutível, aceitável e ruim que dói da expressão “através de”
(LÍNGUA PORTUGUESA, 2007, p. 4)
Análise de uma reportagem dessa revista sobre o uso brasileiro do gerúndio,
feita por esta pesquisadora (MENDONÇA, 2007b), mostra que a atualização da
memória realiza uma aproximação entre esses dois discursos e que ela indicia que os
limites da disciplina Linguística, nesse veículo, não são vistos com o mesmo olhar que
na instância científica. Na reportagem, essas vozes que vêm de esferas diferentes estão
misturadas. Esse esgarçamento dos limites entre a disciplina Linguística e a tradição
gramatical pode gerar, segundo esta pesquisadora, duas possíveis consequências
políticas: ou a Linguística ganha forças por interferir no discurso da tradição gramatical,
ou perde forças pelo apagamento de sua especificidade.
Como nos sumários, as capas atualizam discursos que dialogam com memórias
discursivas em conflito. No suporte de textos revista impressa, mostra Barzotto (1998)
que as chamadas das capas são ressignificadas nos diversos gêneros em que elas
“reaparecem” – no caso, sumário e matérias jornalísticas. O autor interpreta os efeitos
de sentido que se produzem nessas ressignificações, entre eles o “efeito de novidade”:
“(...) de maneira a parecer ao leitor que o que ele vai ler ainda não foi anunciado”. Na
presente pesquisa, interessa considerar não essa ressignificação do discurso quando
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“migra” de um gênero para outro da mesma esfera de atividade, mas os sentidos
produzidos na co-paginação, em uma dada esfera, daquilo que vem de esferas
diferentes. Na capa, os sentidos produzidos por essa co-paginação constroem uma
imagem da revista para o destinatário e uma imagem deste último. Vejamos as
chamadas de algumas capas:2
(1) INVENTE SEU PERSONAGEM – As técnicas de romances para
descrever as pessoas imaginárias.
A INDÚSTRIA DO DICIONÁRIO – As curiosidades, o trabalho e as
palavras que faltam nas obras do gênero.
CONFUSÃO NA FALA TECNO – Ninguém usa a mesma
linguagem no mundo das pistas de dança do país.
CORAÇÃO DE FILÓSOFO, RITMO DE SAMBA –
Acostumado a usar a música para entender a existência humana,
Paulinho da Viola diz que nem sempre se pode respeitar o idioma
para compor uma canção.
Acima do nome da revista: Mais: Eduardo Martins, Elis de Almeida
Cardoso, José Luiz Fiorin, John Robert Schmitz, Marcelo Coelho.
No rodapé: HISTÓRIA DA ORTOGRAFIA – CONTOS DE FADAS
- PALAVRAS DO CORAÇÃO. (REVISTA LÍNGUA
PORTUGUESA, 2006)
(2) VERBETE REGIONAL – O valor dos dicionários amadores.
CASA DE FERREIRO – FHC comete erro ao criticar português
alheio.
A TÉCNICA DA POESIA – Como criar ritmos em forma de versos.
HARRY POTTER PIRATA – A tradução dos internautas para o
bruxo inglês.
MONTEIRO LOBATO – Nova edição de Emília no País da
Gramática revisa manifesto sobre português, feito pelo criador do
Sítio do Picapau Amarelo.
Acima do nome da revista: Mais: Beth Brait, Josué Machado, José
Luiz Fiorin, Mário Eduardo Viaro, Sírio Possenti.
No rodapé: ENTREVISTA COM MARCELO COELHO – O
JARGÃO DOS NOVOS BAIANOS – A ORIGEM DO
“JEITINHO”. (REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA, 2008)
(3) EUFEMISMO – maquiar a linguagem para atenuar a realidade
virou mania nacional em tempos de crise.
Gramática – Origem das palavras – Tradução – Retórica política – e
mais:
CARREIRA – Os dez erros de português que travam a vida nas
empresas.
2
Apesar da extensão da citação, optou-se pela reprodução de todas as chamadas das capas selecionadas
para dar ao leitor uma melhor ideia do corpus da pesquisa.
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SARAMAGO AMARGO – Nobel afirma que Portugal está em
dívida com o Brasil.
O IDIOMA É MACHISTA? – Especialistas debatem se língua
transmite preconceito sexista.
DESCREVA UMA PERSONAGEM – As técnicas narrativas para
caracterizar tipos imaginários.
Acima do nome da revista: ENTREVISTA: AGUALUSA + A
NOVA ORTOGRAFIA.
No rodapé: A LINGUAGEM NO MUSEU DO FUTEBOL:
REPORTAGEM VISUAL. (REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA,
2009a)
(4) CRIATIVIDADE – As técnicas que preparam o terreno para
quem deseja escrever textos mais dinâmicos e inventivos.
Gramática – Filosofia – Entrevista: João Pereira Coutinho – Retórica
– e mais:
PRONOME – Como usar diferentes pronomes relativos e evitar o
excesso de “quês” numa frase.
VÍRGULA ENGANOSA – Pontuação em livro de Içami Tiba indica
forma específica de raciocínio.
ADJETIVO PALPÁVEL – Qualidades concretas, em vez de
abstratas, valorizam seu texto.
POWERPOINT SEM GAFES – Os cuidados no uso da ferramenta
que afeta a linguagem das empresas.
Acima do nome da revista: “DITABRANDA” + EXCOMUNHÃO
EM CORDEL.
No rodapé: UM MERGULHO NAS TRADUÇÕES DE MOBY
DICK. (REVISTA LÍNGUA PORTUGUESA, 2009b)
Conforme anunciado anteriormente, essa revista dilui os limites entre uma
abordagem científica e outra normativa da língua. Nas capas citadas, são atualizados,
indistintamente, o discurso da tradição gramatical e o da Linguística. Representativa
dessa indistinção é o fragmento (2), em que se enuncia o discurso do erro gramatical –
“FHC comete erro(...)” – e o da variação linguística – “VERBETE REGIONAL – O valor dos
dicionários amadores” / “JARGÃO DOS NOVOS BAIANOS”.
Além do esgarçamento dos limites entre o que é científico ou não quando se
trata de língua, destaca-se, nas capas, a presença do discurso da “técnica” aplicada ao
fazer textual: “INVENTE SEU PERSONAGEM – As técnicas de romances para
descrever as pessoas imaginárias.” / “A TÉCNICA DA POESIA – Como criar ritmos
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em forma de versos”./ “DESCREVA UMA PERSONAGEM – As técnicas narrativas
para caracterizar tipos imaginários.” / “CRIATIVIDADE – As técnicas que preparam o
terreno para quem deseja escrever textos mais dinâmicos e inventivos.” Esse discurso
encontra lugar na esfera pedagógica; podemos dizer que uma esfera, nesse caso, invade
a outra (a de informação). A mídia assume o papel do sujeito de saber que ensina o
destinatário a usar a linguagem literária e cotidiana.
Esse discurso pedagógico tem sido estudado por analistas do discurso. É
classificado como discurso autoritário (ORLANDI, 1987, p. 15-16), no sentido de que
“(...) o referente está “ausente”, oculto pelo dizer; não há realmente interlocutores, mas
um agente exclusivo, o que resulta na polissemia contida”. Nessa concepção, fala nesse
discurso uma voz segura e auto-suficiente, que pode interrogar e ordenar, e sua
estratégia básica é a forma imperativa (vejam-se, nos exemplos citados, as chamadas
com os verbos “Invente” e “Descreva”). Considerando-se essa proposta de Orlandi e a
ressignificando à luz dos estudos de Bakhtin, pode-se dizer que esse discurso tende à
monofonia e que atuam nele forças centrípetas.
O discurso pedagógico também é visto, em seu funcionamento, como um
discurso que toma o objeto de ensino como algo cristalizado em seu movimento,
desconsiderando as condições de produção do conhecimento – o conteúdo de ensino,
dessa maneira, é fetichizado, tido como algo destituído de instabilidades, as quais são
constitutivas do fazer científico, da produção do conhecimento (GERALDI, 2003). É
nesse sentido que esse discurso opera com o certo e o errado (de forma polarizada e
cristalizada), com os modelos fechados (por exemplo, de tipos de textos), e com as
técnicas (que permitem que o sujeito atinja um patamar próximo ao sujeito do saber,
mas só próximo, porque a técnica é destituída do novo, do criativo, do acontecimento).
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Assim, as “técnicas de redação”, nessa esfera de atividade, permitem ao sujeito chegar a
um texto escolarizado, somente isso.
Esse discurso que investe o sujeito-autor do saber-fazer (é um sujeito de saber) e
se propõe levar ao interlocutor parte desse saber também está presente em outra esfera
de atividade, na mídia: trata-se do discurso da autoajuda. Brunelli (2004, p. 68) assim se
pronuncia acerca desse discurso:
sabemos que o discurso de auto-ajuda se destina a ensinar, por assim
dizer, aos seus interlocutores, o que e como fazer para realizar uma
série de diferentes aspirações comuns a um grupo indefinido de
pessoas (tais como: conseguir um emprego, melhorar de vida,
enriquecer, curar uma doença, desenvolver-se espiritualmente,
melhorar a auto-estima, etc). Desse modo, podemos concluir que ser
sujeito-enunciador do discurso de auto-ajuda é assumir um lugar de
saber, é colocar-se num lugar de enunciação que implica ter um
conhecimento especial ou específico para ser transmitido.
A contraparte do discurso do saber do enunciador, na autoajuda, é a carência
do destinatário, sua necessidade de orientação; essa necessidade é um pressuposto desse
discurso, caso contrário ele não se legitimaria. No caso das capas da Revista Língua
Portuguesa, o discurso de aconselhamento sobre o uso da língua se manifesta. O
exemplo (4) supracitado apresenta chamadas para textos que se propõem: expor técnicas
“que preparam o terreno para quem deseja escrever textos mais dinâmicos e
inventivos”; ajudar o destinatário a “usar diferentes pronomes relativos e evitar o
excesso de “quês” numa frase”, a valorizar seu texto quando da seleção lexical e a usar
de forma adequada o powerpoint nas atividades profissionais. Esse destinatário, carente
do “bem-dizer”, necessita de um saber linguístico que o torne bem sucedido no trabalho
e capacitado no campo do fazer literário.
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Essa relação entre uso linguístico e sucesso profissional manifesta-se em um tipo
de metalinguagem purista presente na mídia brasileira no final do século XX,
denominada por esta pesquisadora de purismo neoliberal. Essa metalinguagem
advoga (...) a necessidade de limpar os “erros” da fala e da escrita da
classe média, que quer ter sucesso econômico ou acesso aos bens
produzidos pelo mercado. Trata-se de uma atitude lingüística sóciopoliticamente condicionada, em que, frente ao desemprego estrutural,
à terceirização, à insegurança, supervaloriza-se o sucesso
pessoal/individual, em detrimento da “coletivização” (com suporte na
classe social, nos interesses sociais, na busca de um bem-estar
comum etc); em que o sucesso buscado à exaustão é fruto do esforço
de cada um, não das condições sociais a que teve acesso o indivíduo.
(MENDONÇA, 2006a, p 63-64)
Esse purismo também se manifesta nos discursos supracitados, nos trechos: (3)
CARREIRA – Os dez erros de português que travam a vida nas empresas / (4)
POWERPOINT SEM GAFES – Os cuidados no uso da ferramenta que afeta a
linguagem das empresas. Seu contexto de produção é a globalização econômica e
cultural, sob a égide do individualismo – que é o terreno em que, segundo Brunelli
(2004), também se constitui o discurso da autoajuda.
O diálogo que a Revista Língua Portuguesa empreende com o já-dito incorpora
e ressignifica vozes provenientes de esferas de atividade diferentes, entre elas a
científica, a pedagógica e a de informação. No acontecimento dessa materialização
discursiva, como foi apontado, discursos que se opõem em outras esferas
(científica/pedagógica) se mesclam, perdem sua polarização e especificidade. Nessa
grande esfera de atividade que é a mídia, em que se dá o acontecimento em análise,
mesclam-se as atitudes de produzir conhecimento (a revista divulga artigos científicos
de linguistas, por exemplo), informar (o veículo está a meio caminho da divulgação
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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 27 – Estudos de memória e discurso em Língua Portuguesa
científica e da divulgação de assuntos “de última hora” quando o tema é a língua
portuguesa) e ensinar (seja no tom do aconselhamento da autoajuda, seja no tom
normativo das típicas aulas de língua portuguesa regadas a gramática normativa). As
três atitudes são avalizadas pelo sujeito de saber que enuncia.
Acrescente-se a esse diálogo com o já-dito a expectativa da compreensão
responsiva do destinatário – um suposto sujeito destituído de determinado saber, que
valoriza esse saber que se oferta, que se coloca no lugar daquele que aprende e que deve
se informar, que crê e age de acordo com o individualismo, como valor ideológico (já
que busca o aperfeiçoamento de sua linguagem tendo em vista um melhor uso
linguístico).
Esse contexto de interação verbal constitui um discurso em mescla, pedagógicoinformativo, prescritivo-descritivo, cristalizado-fluido, que se propõe democrático
(afinal, distribui saber para a classe média brasileira), mas que é extremamente
excludente. Isso não somente porque designa ao outro um lugar de não-saber e se dirige
a ele como tal, produzindo um diálogo de forças centrípetas, mas sobretudo porque
normaliza o preconceito linguístico ao aproximá-lo de discursos de especialistas quando
atualiza a memória discursiva.
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