A PEDAGOGIA MARXISTA COMUNISTA SOVIÉTICA E AS PEDAGOGIAS ANARQUISTAS: UM ESTUDO COMPARATIVO DAS PRIMEIRAS DÉCADAS DO SÉCULO XX ORIENTADOR: LEONARDO GUEDES HENN ([email protected]) / UNIFRA, SANTA MARIA - RS EDUARDO DA SILVA SOARES ([email protected]) / UNIFRA, SANTA MARIA - RS Palavras-Chave: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO, COMUNISMO, ANARQUISMO, URSS, ENSINO LIBERTÁRIO Anarquismo e comunismo marxista constituem-se em visões de mundo tão próximas no que diz respeito às sociedades humanas almejadas e, ao mesmo tempo, tão conflituosas no que diz respeito às suas relações históricas. As duas correntes de pensamento tiveram sua origem, quase concomitantemente, no século XIX. Embora tivessem existido variadas vertentes representativas do anarquismo, e mesmo o marxismo, enquanto escola de pensamento consolidada após o período de vida de seu inspirador Karl Marx, disponha em seu interior de uma gama expressiva de tipificações analíticas, em muitos pontos conflitantes entre si, pode-se grosso modo considerar que os comunistas marxistas e anarquistas discordam principalmente acerca da natureza do Estado e sobre sua forma de superação na sociedade idealizada. Em relação à educação, mesmo que em seus períodos de vida Marx, Engels (inspiradores do marxismo), e Bakunin, Proudhon e Kropotkin (pensadores anarquistas) não chegaram a aprofundar, como outros pontos de seus pensamentos, análises a respeito do seu papel, especialmente do ensino, nas sociedades que almejavam, alguns seguidores chegaram a fazê-lo. No entanto, no período de existência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fruto de uma revolução de inspiração marxista, vários educadores soviéticos desenvolveram reflexões sobre a educação sob o socialismo, englobando teoria e prática, em um verdadeiro exercício da práxis revolucionária. Já no que tange aos anarquistas, muito embora nunca tenha existido de fato no mundo uma nação organizada sob seus princípios, em vários momentos e lugares foram organizadas instituições de ensino seguidoras dos seus preceitos. O presente trabalho analisa e compara os preceitos da educação anarquista e da educação marxista soviética, bem como as suas aplicações práticas. O período temporal delimitado na pesquisa corresponde às primeiras décadas do século XX, no qual a URSS implantou um projeto de educação obviamente inspirado no pensamento marxista; e, no qual, ao mesmo tempo, sob a inspiração anarquista, variadas experiências do que seria a educação sob seus princípios foram postas em prática, mesmo que inseridas em sociedades capitalistas. Como mecanismo metodológico para analisar as aplicações práticas do ensino anarquista, utiliza-se o estudo das experiências ocorridas nas primeiras décadas do século XX no Brasil. Ao longo da pesquisa, verificou-se que a educação providenciada pelos anarquistas, tomando como objeto de análise as escolas mantidas por suas diversas tendências no Brasil nas duas primeiras décadas do século XX, inspirava-se, de maneira geral, nas propostas de pensadores libertários europeus, especialmente nas do educador espanhol Francisco Ferrer y Guardia. Aproveitando-se da inexistência no Brasil de um maior controle governamental sobre as escolas privadas e das insuficiências da rede de ensino estatal, os anarquistas mantiveram escolas em vários estados da federação, como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, as quais gozaram de uma boa dose de autonomia, até serem proibidas na passagem da década de 1910 para a de 1920. Em linhas gerais, a filosofia educacional de tais escolas tinha como norte a preocupação em possibilitar o acesso dos trabalhadores ao acúmulo de conhecimento científico da humanidade. Prezavam-se o ensino laico, racional e a escola única para todos, sem distinções de conteúdos direcionados segundo divisão por classes ou por papéis sociais. Criticava-se veemente as escolas confessionais e estatais, as quais contribuiriam para garantir a submissão dos trabalhadores ao status quo. Por outro lado, declaradamente reconheciam as limitações da instauração de escolas libertárias em uma sociedade capitalista. Reconhecia-se que enquanto não houvesse a destruição do Estado não poderia haver a implantação plena de uma educação escolar anarquista. No que diz respeito à URSS, na primeira dedada após a Revolução de 1917, as preocupações mais prementes acerca da educação diziam respeito ao combate ao analfabetismo e à delinquência juvenil, decorrente da situação do expressivo número de crianças e adolescentes órfãos ou separados de suas famílias, especialmente na zona rural, como consequência da participação da nação na Grande Guerra e do período de guerra civil que perdurou até o início da década de 1920. No que tange à filosofia educacional, uma das orientações que mais se destacava consistia na não-dissociação do trabalho produtivo do ensino, ou seja, a educação tendo como centro o trabalho, inicialmente sob a forma de oficinas, para a tenra idade, e, a partir dos treze anos, associando o trabalho realmente produtivo nas fábricas e nas fazendas estatais ao ensino teórico. Tratava-se da tentativa de implantação da denominada escola única do trabalho, tipo de instituição experimentada inicialmente nas escolas de internato, denominadas de Escolas-Comunas e posteriormente ampliadas para a rede regular de ensino. REFERÊNCIAS: GALLO, Sílvio; Pedagogia libertária: anarquistas, anarquismos e educação; São Paulo; Imaginário (Editora da Universidade Federal do Amazonas; 2007. FERRER Y GUARDIA, Francisco ; La escuela moderna; Barcelona; Tusquets; 2002. MAKARENKO, Anton; Poema pedagógico; São Paulo; Ed. 34; 2005. PISTRAK, Moisey (org.); A Escola-Comuna; São Paulo; Expressão Popular; 2009. JOMINI, Regina Célia Mazoni; Uma educação para a solidariedade: contribuição ao estudo das concepções e realizações educacionais dos anarquistas na República Velha; Campinas; Pontes; 1990.