INSTITUTO DE QUÍMICA – UFG 1 Físico-Química Experimental Ebuliometria Introdução As propriedades físicas podem depender do tamanho da amostra, como massa e volume e serem extensivas, ou podem ser independentes desse tamanho, como densidade e concentração, e serem intensivas. Uma terceira categoria, conhecida como propriedades coligativas, pode ser aplicada somente às soluções. Nesse caso, essa propriedade depende da razão entre o número de partículas do soluto e do solvente na solução, não da identidade do soluto. Como exemplo, considere o que acontece à pressão de vapor do solvente quanto um soluto é adicionado para formar uma solução. Vamos definir Po como a pressão de vapor do líquido puro (solvente) e P a pressão de vapor do solvente após a adição do soluto. Quando a temperatura de um líquido está abaixo do seu ponto de ebulição, podemos assumir que apenas as moléculas que estão próximas à superfície do líquido são as que podem escapar do líquido para formar o gás. Figura 1. Ocupação da interface do líquido pelas moléculas do soluto (azul) Quando um soluto é adicionado ao solvente, algumas moléculas do soluto ocupam os espaços próximos à superfície do líquido, conforme ilustrado na Figura 1. Quando o soluto é dissolvido no solvente, o número de moléculas do solvente próximo à superfície diminui e, consequentemente, a pressão de vapor do solvente diminui. No entanto, apesar desse efeito não alterar a velocidade com a qual as moléculas do solvente na fase gasosa se condensam para formar o líquido, ele diminui a velocidade com a qual as moléculas do solvente escapam da solução quando comparada à velocidade para o solvente puro. Como resultado, a pressão de vapor do solvente que escapa da solução será menor do que a pressão de vapor do solvente puro (P < Po). A figura 2 ilustra as consequências do fato do soluto diminuir a pressão de vapor do solvente. A curva acentuada em vermelho contém as combinações de temperatura e pressão onde o solvente puro e o seu vapor estão em equilíbrio. Cada ponto nessa linha descreve, portanto, a pressão de vapor do solvente puro em uma dada temperatura. A curva acentuada em verde descreve as propriedades de uma solução obtida pela dissolução de um soluto no solvente. Em uma dada temperatura, a pressão de vapor do solvente que escapa da solução é menor que a pressão de vapor do solvente puro (Psoln < Psolv). Por esse motivo, essa linha verde fica abaixo da linha vermelha. De acordo com a Figura 2, a solução não pode entrar em ebulição na mesma temperatura do solvente puro. Se a pressão de vapor do solvente que escapa da solução é menor do que a pressão Manual de laboratório INSTITUTO DE QUÍMICA – UFG 2 Físico-Química Experimental de vapor do solvente puro em uma dada temperatura, a solução deve ser aquecida em uma temperatura maior antes que entre em ebulição. Ou seja, a diminuição da pressão de vapor do solvente que ocorre quando ele está em solução aumenta o ponto de ebulição do líquido. Figura 2. Diagrama de fases para o solvente (vermelho) e para solução (verde) A equação que descreve a magnitude do aumento do ponto de ebulição é ∆𝑇𝑒𝑏 = 𝑘𝑒𝑏 𝑚 onde ∆𝑇𝑒𝑏 é a elevação do ponto de ebulição, 𝑘𝑒𝑏 é uma constante de proporcionalidade conhecida como constante de elevação do ponto de ebulição molal e 𝑚 é a molalidade da solução. Ebuliometria envolve a medida da diminuição do ponto de ebulição causada pela presença de álcool em bebidas alcoólicas como vinho e cachaça. Devido ao fato de que o ponto de ebulição de uma solução também varia com a pressão atmosférica, os efeitos do etanol são avaliados em relação ao ponto de ebulição de uma amostra referência de água destilada, determinada em condições idênticas. A relação entre ∆𝑇(𝑇𝑒𝑏,á𝑔𝑢𝑎 − 𝑇𝑒𝑏,𝑏𝑒𝑏𝑖𝑑𝑎 ) e o teor alcoólico na amostra de bebida é apresentada na Figura 3. Objetivo Determinar o teor alcoólico de bebidas usando ebuliometria. Manual de laboratório INSTITUTO DE QUÍMICA – UFG 3 Físico-Química Experimental Figura 3. Gráfico do teor alcoólico da bebida em função da diferença de temperatura de ebulição entre uma amostra diluída 1:1 bebida:água e uma amostra referência de água destilada. Procedimento Experimental 1. Determinação do ponto de ebulição da amostra de bebida (diluição 1:1) Adicione 50 mL de água destilada no balão de destilação; Adicione 50 mL da amostra de bebida no balão de destilação (diluição 1:1); Adicione cuidadosamente a rolha com o termômetro ao balão de destilação (Figura 4); O bulbo do termômetro deve estar submerso cerca de 1 cm; Abra, lentamente, a torneira da água de resfriamento do condensador; Figura 4. Aparato de destilação para Ligue o aquecimento no máximo; ebuliometria. Monitore o aumento de temperatura; Começe anotando a temperatura em intervalos de 15 s após a temperatura passar de 80 °C; A temperatura de ebulição é alcançada quando a temperatura se mantiver constante por 8 medidas consecutivas; Anote, então, a temperatura de ebulição da amostra de bebida diluída (𝑇𝑒𝑏,𝑏𝑒𝑏𝑖𝑑𝑎 ). Manual de laboratório INSTITUTO DE QUÍMICA – UFG 4 Físico-Química Experimental 2. Determinação do ponto de ebulição para a água destilada (referência atmosférica) Deixe o aparato de destilação resfriar; Retire o líquido do balão de destilação; Adicione 100 mL de água destilada ao balão de destilação; Determine o ponto de ebulição da água destilada da mesma forma que para a amostra de bebida; Anote 𝑇𝑒𝑏,á𝑔𝑢𝑎 ; 3. Cálculo do teor alcoólico da bebida Determine a diferença nos pontos de ebulição: ∆𝑇 = 𝑇𝑒𝑏,á𝑔𝑢𝑎 − 𝑇𝑒𝑏,𝑏𝑒𝑏𝑖𝑑𝑎 ; Use a equação abaixo para o cálculo do teor alcoólico (%v/v) 𝑇𝑒𝑜𝑟 𝐴𝑙𝑐𝑜ó𝑙𝑖𝑐𝑜 (%v/v) = 0,435 + 1,6687∆𝑇 + 0,1234∆𝑇 2 Resultados a Apresentar Compare os teores alcoólicos obtidos com as medidas por refratometria e ebuliometria; Para o cálculo do teor alcoólico por refratometria use a tabela disponível no link Refractive index of ehanol solution; Avalie o erro padrão relativo de cada bebida em cada técnica. Manual de laboratório