Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

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Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto
Serviço de Fisiologia
AUSCULTAÇÃO CARDÍACA
Texto de Apoio
Dr. Roberto Roncon Albuquerque
Dr. Tiago Henriques Coelho
Prof. Doutor Adelino Leite Moreira
Porto, Ano Lectivo 2001 / 02
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ÍNDICE:
!" RESENHA HISTÓRICA .................................................................................................................. Pg. 3
!" O ESTETOSCÓPIO E OS FOCOS AUSCULTATÓRIOS ..................................................................... Pg. 4
!" SONS CARDÍACOS ........................................................................................................................ Pg. 5
Primeiro Som Cardíaco ............................................................................................... Pg. 5
Segundo Som Cardíaco ................................................................................................ Pg. 5
Terceiro Som Cardíaco ................................................................................................ Pg. 7
Quarto Som Cardíaco .................................................................................................. Pg. 7
Estalidos de Abertura .................................................................................................. Pg. 8
Cliques ........................................................................................................................... Pg. 9
Atrito Pericárdico ........................................................................................................ Pg. 9
!" SOPROS CARDÍACOS ................................................................................................................. Pg. 10
Generalidades ............................................................................................................. Pg. 10
Sopros Mesossistólicos de Ejecção ............................................................................ Pg. 10
Sopros Holossistólicos de Regurgitação ................................................................... Pg. 11
Rodados ....................................................................................................................... Pg. 11
Sopros Diastólicos de Regurgitação .......................................................................... Pg. 12
Sopros Contínuos ....................................................................................................... Pg. 13
!" MÉTODOS ESPECIAIS DE DIFERENCIAÇÃO................................................................................ Pg. 14
!" ROTINA AUSCULTATÓRIA ......................................................................................................... Pg. 15
!" BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................... Pg. 15
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RESENHA HISTÓRICA
Não há qualquer referência aos sons cardíacos antes de William Harvey (1578-1657). No
seu famoso De Motu Cordis, Harvey compara o som do Coração ao som de um cavalo a deglutir:
«... with each movement of the heart, when there is the delivery of a quantity of blood from the veins
to the arteries, a pulse take place and can be heard within the chest.»
Nos finais do século XVII, foi preconizada a Auscultação Directa que, desde logo, se
revelou pouco útil e, sobretudo, inaceitável pelas Doentes. A este propósito refere Laennec: “Direct
auscultation was as unconfortable for the doctor as it was for the patient, disgust in itself making it
impracticable in hospitals. It was hardly suitable where most women were concerned and, with
some, the very size of their breasts was an obstacle to the employment of this method”.
Em 1816, René Laennec inventa o Estetoscópio. Para esta descoberta, que ocorreu
parcialmente por acaso quando observava crianças a transmitir sons através de tubos de madeira,
contribuiu também o longo interesse de Laennec pelo estudo do coração através do ouvido,
faltando-lhe apenas o instrumento para interpor entre ele e o Doente. O primeiro Estetoscópio
consistiu num cilindro de madeira de 33cm de comprimento, com um canal de 7mm de diâmetro
cheio de ar que transmitia o som. Tratava-se de um Estetoscópio rígido e monoauricular.
Em 1852, o médico americano George Camman inventa o Estetoscópio biauricular.
O Século de Ouro da Auscultação Cardíaca (Sec. XIX), iniciou-se com Laennec e terminou
com Sir James Mackenzie (1908). Foi o período de Bouillaud, Hope, Flint, Duroziez e Potain, para
citar apenas cinco entre muitos. Praticamente toda a fenomenologia dos Sons Cardiovasculares foi
descrita neste período.
O aparecimento da Fonocardiografia, da Ecocardiografia, da Angiografia, da Ressonância
Magnética e dos Estudos com Radioisótopos contribuiu para uma relativa negligência da
Auscultação Cardíaca. No entanto, este Progresso exponencial da Medicina acompanha-se por um
aumento das despesas na Área da Saúde. Uma vez que os recursos humanos e económicos são
limitados, a excelência do Acto Médico passa, cada vez mais, pela escolha adequada dos Exames
Subsidiários de Diagnóstico tendo em conta a sua razão Custo / Eficácia. Assim, a Auscultação
Cardíaca reveste-se actualmente de uma enorme importância na avaliação inicial do Doente e no
seu follow up, uma vez que se trata de gesto simples, rápido e muito informativo.
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O ESTETOSCÓPIO E OS FOCOS AUSCULTATÓRIOS
ESTETOSCÓPIO
O estetoscópio tem vários componentes (olivas, tubos, cabeça com diafragma e com
campânula) e a sua utilização obedece a algumas regras. O diafragma utiliza-se na audição dos sons
de alta frequência, devendo o examinador premi-lo com força sobre a pele do Doente. A
campânula, por sua vez, permite uma melhor audição dos sons de baixa frequência, devendo ser
encostada levemente na pele do Doente. Quando se prime a campânula com força, a pele
subjacente, distendida, funciona como diafragma, prejudicando deste modo a percepção dos sons de
baixa frequência.
Fig. 1 - Manuseamento correcto do Diafragma (à esquerda) - premir com força sobre a pele
do doente - e da Campânula (à direita) - aplicar levemente sobre a pele do doente.
FOCOS
AUSCULTATÓRIOS
A Auscultação Cardíaca é efectuada preferencialmente em determinados locais da parede
torácica denominados por Focos Auscultatórios. O Foco Aórtico localiza-se no segundo espaço
intercostal direito, junto ao esterno, ao nível da aorta ascendente. O Foco Pulmonar situa-se no
segundo espaço intercostal esquerdo, junto ao esterno, ao nível do tronco pulmonar. Os Focos
Aórtico e Pulmonar também se designam por Focos da Base. O Foco Tricúspide localiza-se na
extremidade inferior do bordo esquerdo do esterno, ao nível do ventrículo direito. O Foco Mitral,
por sua vez, situa-se na área apical que corresponde à projecção parietal da porção mais superficial
do ventrículo esquerdo.
Fig. 2 - Focos Auscultatórios.
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SONS CARDÍACOS
PRIMEIRO
SOM
CARDÍACO
O Primeiro Som Cardíaco (S1) é um som de alta frequência com origem nas vibrações do
sistema cardio-hemático durante a oclusão das válvulas aurículo-ventriculares (A-V). Localiza-se,
portanto, no início da Fase de Contracção Isovolumétrica sendo audível em todos os focos
auscultatórios. A intensidade de S1 é influenciada por vários factores: 1) Condições de transmissão
através da parede torácica; 2) Posição das válvulas A-V no início da sístole; 3) Estrutura das
válvulas A-V; e 4) Contractilidade Ventricular.
Fig. 3 - Primeiro Som Cardíaco.
SEGUNDO
SOM
CARDÍACO
O Segundo Som Cardíaco (S2) é um som de alta frequência com origem nas vibrações do
sistema cardio-hemático durante a desaceleração do fluxo retrógrado da coluna de sangue da artéria
aorta (A2) e do tronco pulmonar (P2). O S2 localiza-se, assim, na incisura dos traçados de pressão
da aorta ascendente e do tronco pulmonar. Em condições fisiológicas A2 precede P2, pelo facto de
o tempo de ejecção ventricular direita ser mais prolongado que o tempo de ejecção ventricular
esquerda. A intensidade de A2 e de P2 é, por sua vez, influenciada pela pressão diastólica na aorta e
no tronco pulmonar, respectivamente (e.g. A2 mais intenso na Hipertensão Arterial Sistémica).
Fig. 4 - Segundo Som Cardíaco.
O desdobramento fisiológico do S2 refere-se ao desfasamento temporal entre A2 e P2. No
entanto, durante a expiração, A2 e P2 estão separados por menos de 30 mseg, pelo que o S2 é
auscultado como um único som. Durante a inspiração observam-se dois fenómenos: 1) Atraso de P2
devido ao aumento do retorno venoso ao Coração direito (pela diminuição da pressão intra-torácica)
que prolonga o tempo de ejecção do ventrículo direito; e 2) Antecipação de A2 pela diminuição da
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quantidade de sangue ao Coração esquerdo (por alargamento do leito pulmonar) que encurta o
tempo de ejecção do ventrículo esquerdo. Estas duas alterações fazem com que o desdobramento
fisiológico de S2 passe a ser perceptível durante a inspiração. Dado que A2 é audível em todos os
focos auscultatórios e tendo em conta a má irradiação de P2, deve-se sempre pesquisar o
desdobramento fisiológico de S2 no Foco Pulmonar.
EXPIRAÇÃO
INSPIRAÇÃO
Fig. 5 - Desdobramento Fisiológico do Segundo Som Cardíaco
O Desdobramento Exagerado de S2 consiste num desdobramento de S2 audível durante a
expiração e que se torna ainda mais evidente na inspiração. Pode surgir, por exemplo, na presença
de um atraso da activação eléctrica do ventrículo direito.
EXPIRAÇÃO
INSPIRAÇÃO
Fig. 6 - Desdobramento Exagerado do Segundo Som Cardíaco.
No Desdobramento Paradoxal de S2, P2 precede A2. Neste caso, o desdobramento do S2,
audível na expiração, torna-se imperceptível durante a inspiração. Esta alteração pode surgir, por
exemplo, na presença de estenose da válvula aórtica, pelo prolongamento da ejecção ventricular
esquerda.
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EXPIRAÇÃO
INSPIRAÇÃO
Fig. 7 - Desdobramento Paradoxal do Segundo Som Cardíaco.
TERCEIRO
SOM
CARDÍACO
O Terceiro Som Cardíaco (S3) é um som de baixa frequência, com fraca irradiação, que
surge no final da Fase de Enchimento Rápido (Protodiástole). Deve-se a uma limitação intrínseca
súbita da expansão longitudinal do ventrículo no início do enchimento. Pode ter origem no
ventrículo direito, quando tem intensidade máxima no Foco Tricúspide e se acentua com a
inspiração, ou no ventrículo esquerdo, quando tem intensidade máxima no Foco Mitral e se acentua
com o Doente em decúbito lateral esquerdo. O S3 pode ser fisiológico quando surge no foco mitral
em crianças e adultos jovens (até aos 40 anos de idade). A presença de novo de um S3 pode no
entanto indicar o início de uma descompensação cardíaca, insuficiência das válvulas A-V ou um
estado hipercinético. Quando surge em circunstâncias patológicas designa-se Galope
Protodiastólico ou Galope Ventricular.
Fig. 8 - Terceiro Som Cardíaco
QUARTO
SOM
CARDÍACO
O Quarto Som Cardíaco (S4) é um som de baixa frequência, com fraca irradiação, que
surge na Fase de Contracção Auricular (Telediástole). Deve-se ao impacto do ventrículo contra a
parede torácica causado pelo enchimento e consequente desaceleração do sangue causada pelo
aumento da rigidez ventricular. Pode ter origem no ventrículo direito, quando tem intensidade
máxima no Foco Tricúspide e se acentua com a inspiração, ou no ventrículo esquerdo, quando tem
intensidade máxima no Foco Mitral e se acentua com o Doente em decúbito lateral esquerdo. O S4
raramente é fisiológico e também pode ser designado por Galope Telediastólico ou Galope
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Auricular. Pode surgir num contexto de doença cardíaca isquémica (e.g. angina de peito) ou de
diminuição da complacência ventricular (e.g diminuição da complacência ventricular esquerda por
Hipertensão Arterial Sistémica). Quando resulta de insuficiência A-V ou de um estado hipercinético
pode estar associado a um S3.
Fig. 9 - Quarto Som Cardíaco
ESTALIDOS DE
ABERTURA
Os Estalidos de Abertura são sons protodiastólicos de frequência relativamente elevada,
que surgem por abertura das válvulas A-V em circunstâncias patológicas - estenose e/ou
espessamento. A sua causa mais frequente é a Estenose Mitral Reumatismal. O Estalido Tricúspide,
quando presente, sobrepõe-se temporalmente ao Estalido Mitral, o que o torna inaudível. A
intensidade máxima do Estalido Mitral ausculta-se entre o Foco Mitral e o Foco Tricúspide
irradiando para os focos da base. O Estalido Mitral não varia com os movimentos respiratórios e
não se relaciona com a gravidade da estenose. Para a mesma frequência cardíaca, há uma relação
quase directa entre a gravidade da estenose e a precocidade do Estalido. O Estalido Mitral
acompanha-se frequentemente por um Rodado Mitral e pelo reforço de S1.
Fig. 10 - Estalido de abertura.
A auscultação de um Estalido Mitral exige o diagnóstico diferencial com o
Desdobramento Fisiológico do S2 e com S3. O Desdobramento Fisiológico do S2 distingue-se por
ser variável com os movimentos respiratórios, ser mais precoce e apresentar a intensidade máxima
no Foco Pulmonar. O S3, por sua vez, é um som de baixa frequência, irradia mal e é mais tardio.
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CLIQUES OU SONS SISTÓLICOS
CLIQUES
Os Cliques ou Sons Sistólicos são sons cardíacos de curta duração e de frequência elevada.
De acordo com a sua localização na sístole podem-se designar por Cliques Precoces,
Mesosistólicos ou Telessistólicos. Os Cliques Precoces, que também se podem designar por
Cliques de Ejecção ou Sons de Ejecção, têm origem na abertura súbita de uma válvula sigmoideia
e/ou distensão súbita do grande vaso respectivo (tronco pulmonar ou aorta). Quando se devem a
dilatação do tronco pulmonar ou a estenose da válvula pulmonar têm intensidade máxima no Foco
Pulmonar, irradiam mal, diminuem de intensidade durante a inspiração, havendo relação entre a
precocidade e a gravidade: quanto mais precoce, mais grave é a estenose. Quando se devem a
dilatação da aorta ascendente ou a estenose da válvula aórtica têm intensidade máxima no Foco
Mitral, irradiam bem para os focos da base, não variam com os movimentos respiratórios, não
havendo relação entre a precocidade e a gravidade da estenose. Em ambos os casos não há relação
entre a intensidade do Clique Precoce e a sua gravidade.
Fig. 12 - Clique de ejecção.
Os Cliques Meso- e Telessistólicos, por sua vez, são quase sempre devidos a um prolapso
da válvula mitral, sendo audíveis electivamente no Foco Mitral. Podem-se associar a um pequeno
grau de insuficiência mitral dando origem a um Sopro Telessistólico Mitral. Esta situação
denomina-se por Síndrome do Clique ou Síndrome da Válvula Mitral em Pára-quedas.
ATRITO
PERICÁRDICO
O Atrito Pericárdico tem origem na fricção entre o folheto visceral e o folheto parietal do
pericárdio em situações de Pericardite (inflamação do pericárdio). É um som de alta frequência,
caracteristicamente raspante, com intensidade máxima no bordo esquerdo do esterno e que se torna
mais evidente com o Doente sentado, inclinado para diante e em expiração forçada ou com o
Doente em decúbito ventral. Este som é audível nas fases em que há maiores variações de volume
ventricular: Contracção Auricular, Ejecção e Enchimento Rápido.
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SOPROS
GENERALIDADES
Os Sopros são fenómenos acústicos de duração prolongada com origem num mecanismo
turbilhonar por: 1) Fluxo excessivo através de uma área normal; e/ou 2) Fluxo normal através de
uma área pequena ou irregular. Quando se originam num fluxo sanguíneo anterógrado podem ser
Sopros Mesossistólicos de Ejecção ou Rodados. Os Sopros que resultam de um fluxo turbilhonar
de regurgitação podem ser Sopros Holossitólicos de Regurgitação ou Sopros Diastólicos de
Regurgitação. A intensidade de um sopro é directamente proporcional à velocidade do fluxo
sanguíneo, que por sua vez depende do gradiente de pressão. Para a caracterização completa de um
Sopro, devemos ter em conta um conjunto de parâmetros:
1.
Localização no Ciclo Cardíaco: sistólico vs diastólico;
2.
Intensidade: classificação de Freeman e Levine em 6 graus;
3.
Localização: da intensidade máxima (origem anatómica);
4.
Irradiação
5.
Frequência
6.
Carácter: suave, aspirativo, musical, rude, áspero, piante;
7.
Manobras Provocatórias
Por vezes é possível palpar um Frémito na área de intensidade máxima do Sopro. Os
Sopros com tradução palpatória têm um grau superior a 4.
SOPROS
MESOSSISTÓLICOS
DE EJECÇÃO
Os Sopros Mesossistólicos de Ejecção são de alta frequência e originam-se após a abertura
das válvulas sigmoideias, não englobando a Fase de Contracção Isovolumétrica. São tipicamente
em crescendo-decrescendo de acordo com a velocidade de fluxo sanguíneo na aorta ascendente
durante a Fase de Ejecção. Estes Sopros não englobam S2, uma vez que no final da Fase de Ejecção
a velocidade de fluxo aórtico é insignificante. Os Sopros Mesossistólicos de Ejecção podem não
ser patológicos tomando o nome de Sopros Inocentes (< grau 3). Neste particular o Sopro de Still
corresponde a um Sopro Inocente nas crianças, por vibrações da válvula pulmonar. Podem
igualmente ser Sopros Funcionais, como nos estados hipercinéticos e na comunicação interauricular. Surgem também em circunstâncias patológicas por dilatação dos grandes vasos (e.g.
aneurisma da aorta ascendente) ou por obstrução à ejecção ventricular (e.g. estenose sub-aórtica
hipertrófica).
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Fig. 12 - Sopro Mesossistólico de Ejecção.
SOPROS
HOLOSSISTÓLICOS
DE REGURGITAÇÃO
Os Sopros Holossistólicos de Regurgitação são de alta frequência, iniciam-se com S1 e
prolongam-se para além do S2. De facto, estes Sopros resultam de fluxo retrógrado A-V durante a
Sístole Clínica, prolongando-se durante a Fase de Relaxamento Isovolumétrico uma vez que nesta
fase as pressões ventriculares ainda são superiores às pressões auriculares. São de três tipos: 1)
Sopro da Regurgitação Mitral; 2) Sopro da Regurgitação Tricúspide; e 3) Sopro da
Comunicação Interventricular. O Sopro da Regurgitação Mitral tem intensidade máxima no
Foco Mitral, irradia para a axila esquerda e não varia com as fases da respiração. O Sopro da
Regurgitação Tricúspide tem intensidade máxima no Foco Tricúspide, não irradia para a axila
esquerda e é mais intenso durante a inspiração. O Sopro da Comunicação Interventricular
apresenta intensidade máxima no bordo esquerdo do esterno, ao nível dos 3º, 4º e 5º espaços
intercostais, não irradia para a axila esquerda, não varia com a respiração, acompanha-se por vezes
de um desdobramento exagerado de S2 e tem normalmente um frémito proeminente.
Fig. 13 - Sopro Holossistólico de Ejecção.
RODADOS
Os Rodados são Sopros diastólicos com origem nas válvulas A-V (Sopros diastólicos de
ejecção). São de baixa frequência uma vez que têm origem em gradientes de pressão pouco
elevados. Iniciam-se após a abertura da válvula A-V, observando-se um intervalo livre após S2
correspondente à Fase de Relaxamento Isovolumétrico. São mais intensos ou exclusivos nas fases
de maior enchimento ventricular: Fase de Enchimento Rápido e Fase de Contracção Auricular
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Fig. 14 - Rodado (Estenose Mitral discreta).
Fig. 15 - Rodado (Estenose Mitral grave).
RODADOS DE
ORIGEM MITRAL
Os Rodados de origem Mitral pesquisam-se no Foco Mitral e são mais intensos com o
posicionamento do Doente em decúbito lateral esquerdo. Existem fundamentalmente em três
situações clínicas: 1) Estenose Mitral; 2) Sopro de Austin Flint; e 3) Rodados Funcionais. Na
Estenose Mitral o Rodado Mitral é geralmente precedido por um estalido de abertura da válvula
mitral e tem uma duração proporcional à gravidade da estenose: quando só tem componentes
protodiastólico e préssistólico a estenose é discreta. O Sopro de Austin Flint surge quando há
regurgitação aórtica grave: o enchimento ventricular diastólico precoce é feito simultaneamente da
aurícula esquerda e da aorta ascendente provocando um encerramento parcial da válvula mitral na
meso- e na telediástole. O fluxo aurículo-ventricular na meso- e na telediástole é então efectuado
por um orifício estreito originando um Sopro Meso- e/ou Telediastólico. O Sopro de Austin Flint
tem intensidade máxima no ápex, é normalmente precedido por um S3 e não se acompanha por um
reforço de S1. Os Rodados Funcionais, por sua vez, têm origem num fluxo A-V diastólico
exagerado por um orifício de dimensões normais (e.g. Rodado Funcional Mitral na Insuficiência
Mitral).
RODADOS
TRICÚSPIDES
Os Rodados Tricúspides têm intensidade máxima no Foco Tricúspide e aumentam a sua
intensidade com a inspiração. Podem ser devidos a Estenose Tricúspide ou ser Funcionais (e.g.
Comunicação Interauricular).
S. DIASTÓLICOS DE
REGURGITAÇÃO
Os Sopros Diastólicos de Regurgitação são de alta frequência e podem ser Aórticos ou
Pulmonares. Iniciam-se imediatamente após S2, em decrescendo e têm uma duração variável: na
regurgitação moderada a duração é longa podendo prolongar-se até ao S1 seguinte, enquanto que na
regurgitação aguda grave ou na regurgitação discreta a duração é curta. Os Sopros Diastólicos de
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Regurgitação Aórtica pesquisam-se no bordo esquerdo do esterno e assumem uma maior
intensidade com o Doente sentado, inclinado para diante e em expiração forçada. Os Sopros
Diastólicos de Regurgitação Pulmonares também se pesquisam no bordo esquerdo do esterno e
devem-se, na maioria dos casos, a Hipertensão Pulmonar - Sopro de Graham Steel.
Fig. 16 - Sopro Diastólico de Regurgitação: regurgitação moderada.
SOPROS
CONTÍNUOS
Os Sopros Contínuos iniciam-se durante a Sístole, não são interrompidos por S2 e
terminam na Diástole, não tendo necessariamente de se manter durante todo o Ciclo Cardíaco.
Surgem quando há shunts de elevada pressão (e.g. Persistência do Canal Arterial, Defeito do Septo
Aorto-Pulmonar, Fístulas Arterio-Venosas) e na obstrução arterial localizada (e.g. Coartacção da
Aorta). Podem também surgir em situações de fluxo sanguíneo rápido (e.g. Sopro Mamário da
Gravidez, devido à hipervascularização mamária durante a gravidez).
Fig. 17 - Sopro contínuo.
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MÉTODOS ESPECIAIS DE DIFERENCIAÇÃO
EFEITO DA
RESPIRAÇÃO
Na inspiração, com o aumento do retorno venoso, os fenómenos acústicos provenientes do
Coração Direito tendem a aumentar de intensidade. No entanto, o Clique Precoce Pulmonar
representa um excepção a esta regra, pois que a sua intensidade diminui na inspiração. De referir
apenas que este efeito desaparece em Doentes com Insuficiência Ventricular Direita, uma vez que
nestes casos o ventrículo direito não é capaz de acomodar o aumento do retorno venoso durante a
inspiração.
MANOBRA DE
VALSALVA
A manobra de Valsalva efectua-se pedindo ao Doente para expirar prolongadamente com a
glote encerrada. Durante a fase de esforço há uma diminuição do afluxo de sangue ao Coração, com
diminuição de intensidade da generalidade dos Sopros Cardíacos. O Sopro Sistólico da Estenose
Sub-Aórtica Hipertrófica consitui a excepção a esta regra, pelo exagero da barragem
intra-ventricular com o menor volume sanguíneo ventricular. Após a fase de esforço o fluxo
sanguíneo ao ventrículo direito aumenta imediatamente, com a intensificação dos Sopros do
Coração Direito. Seguidamente, dá-se o aumento do fluxo sanguíneo ao Coração Esquerdo (após
percorrer a circulação pulmonar) com a intensificação dos fenómenos acústicos do Coração
Esquerdo.
POSIÇÃO DE
CÓCORAS
Com o Doente na posição de cócoras dá-se a intensificação da generalidade dos Sopros
com a excepção do Sopro Sistólico da Estenose Sub-Aórtica Hipertrófica que diminui de
intensidade. Quando o Doente assume novamente a posição erecta observam-se os fenómenos
inversos.
NITRITO DE
AMILO
A inalação do vasodilatador Nitrito de Amilo provoca uma diminuição quase imediata da
resistência arterial periférica com hipotensão e taquicardia. Verifica-se então a atenuação dos
Sopros de Regurgitação e a intensificação dos Sopros resultantes do fluxo no sentido da corrente.
Este gesto permite a distinção entre a Estenose Mitral e o Sopro de Austin Flint: enquanto o
primeiro aumenta de intensidade como consequência de um maior fluxo através da válvula mitral o
segundo atenua-se, pois que há diminuição da Regurgitação Aórtica.
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ROTINA AUSCULTATÓRIA
A rotina auscultatória tem por objectivo a sistematização da Auscultação Cardíaca e não a
repetição de um procedimento inflexível. De facto, a rotina auscultatória pretende ser um
instrumento de aprendizagem adequado, em cada momento, ao contexto clínico do Doente.
A rotina auscultatória inicia-se com o Doente em decúbito dorsal: com o diafragma,
percorrem-se os quatro focos auscultatórios e o bordo esquerdo do esterno. No foco pulmonar o
Doente realiza uma inspiração profunda para auscultação do desdobramento fisiológico do S2. A
auscultação do bordo esquerdo do esterno, por sua vez, poderá ser importante para pesquisar Sopros
Diastólicos de Regurgitação Aórtica e Pulmonar, o Atrito Pericárdico bem como o Sopro da
Comunicação Interventricular. Com a campânula auscultamos novamente os Focos Tricúspide e
Mitral por forma a estudar a presença de S3, S4 e Rodados.
Posicionando agora o Doente em decúbito lateral esquerdo, auscultamos com a campânula
o Foco Mitral. Esta manobra tem por objectivo evidenciar a presença de fenómenos auscultatórios
de baixa frequência com origem no ventrículo esquerdo.
Por fim, com o Doente em expiração forçada e inclinado para diante, percorremos com o
diafragma o bordo esquerdo do esterno para caracterizar melhor um eventual Sopro Diastólico de
Regurgitação Aórtico ou a presença de Atrito Pericárdico
BIBLIOGRAFIA
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Don Michael A. Auscultation of the Heart: A Cardiophonetic Approach. New York:
McGraw-Hill, 1998.
2.
Crawford M, Flinn R, editors. Auscultation of the Heart. American Heart Association, 1990.
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Fauci AS, Braunwald E, Isselbacher KJ, Martin JB, Kasper DL, Hauser SL, Longo DL, editors.
Harrison´s Principles of Internal Medicine. New York: McGraw-Hill, 1998:1233-1235.
4.
Epstein O, Perkin GD, de Bono DP, Cookson J. Clinical Examination. London: Mosby,
1997:158-164.
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