Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES POLIPARASITISMO EM COMUNIDADE REMANESCENTE DOS QUILOMBOS NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PARÁ Rafaela dos Santos Reis1 Elidiane Moreira Kono2 Luana Lorena Rodrigues3 Resumo: Foi realizada uma pesquisa aplicada, quantitativa, descritiva, experimental, longitudinal prospectiva, para analisar a influência de intervenções em saúde nos índices de poliparasitimo e a sua relação com o desenvolvimento infantil de crianças quilombolas, residentes na região do Baixo Amazonas. Foram avaliadas 11 crianças, de ambos os sexos, na faixa etária dos 05 - 11 anos, residentes em duas comunidades do planalto santareno, Tiningú e Bom Jardim. Para a realização deste estudo, foi realizada análise laboratorial de fezes através dos métodos de sedimentação espontânea de Hoffman, Pons e Janer, e coloração pela a solução de Lugol para verificar ocorrência de poliparasitismo intestinal e verificado o estado nutricional através das medidas antropométricas com a utilização do Escore-Z, seguindo o critério da Organização Mundial de Saúde. O desfecho primário foi: ausência ou diminuição de carga parasitária; não ocorrência de eventos adversos no desenvolvimento infantil, após a associação das ações de tratamento medicamentoso antiparasitário e à educação em saúde por meio de palestras e distribuição de cartilhas educativas versão adaptada do Ministério da Saúde. A amostra foi caracterizada como homogênea e independente. A taxa de melhora foi de 100% com as duas ações (medicamentosa e educação), não foram presentes quaisquer alterações preocupantes no desenvolvimento infantil, nem antes (mesmo poliparasitadas) e nem após as intervenções. Assim conclui-se que a continuidade de ações em saúde nesses locais se faz de extrema importância. Sendo necessários continuas pesquisas voltadas para as condições de saúde das comunidades remanescentes de quilombos. Palavras-chave: desenvolvimento infantil; infecções parasitárias; educação em saúde pública; saúde de grupos específicos. 1 Graduada em Bacharel em Fisioterapia, [email protected] 2 Pós-graduada em Fisioterapia traumato –ortopédica e desportiva, [email protected] 3 Mestre em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, [email protected] 17 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES Abstract: To was search this is an applied, quantitative, descriptive, experimental, longitudinal prospective research, to analyze the influence of health interventions in polyparasitism indexes and their relation to child development of Quilobolan children, living in the lower region Amazon. Were reviews children eleven, of both the sexes, on track age 05-11 years, living in the two upland communities of Santarém, Tiningu and Bom Jardim. For achievement this study, was held laboratory analysis of feces was performed by the methods of spontaneous sedimentation of Hoffman, Pons and Janer, and stained by Lugol's solution to verify the occurrence of multiple intestinal and nutritional status was verified using anthropometric measures using the Z-score, according to the Worldwide Health Organization. The was primary denouement: absence or decrease of load parasitic; not occurrence event adverse to child development, after the action association submitted to the antiparasitic drug treatment and health education through lectures and distribution of educational booklets adapted version of the Ministry of Health. The sample was characterized which homogeneous and independent. The rate of improvement was 100% with two action (medication and education), no worrisome to child development, either before (even multiinfested) nor after the interventions. Thus, it is concluded that the continuation of action in health in these locations is of extreme importance. Being necessary research continuous focused terms for aimed at the health of the remaining Quilombolan communities. Keywords: child development; parasitic infection; health public education; health the groups special. 18 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES 1.INTRODUÇÃO Os primeiros anos de vida são considerados críticos para o desenvolvimento infantil, já que nessa fase há uma alta plasticidade cerebral, que favorece a maturação de todas as potencialidades da criança (FERNANDES et al, 2012). A presença de determinadas condições biológicas e/ou ambientais, desfavoráveis ao potencial neuropsicomotor, pode colocar em risco o seu desenvolvimento e aumentar as chances da criança apresentar atraso e distúrbios que envolvem o seu crescimento como um todo (MIRANDA; RESEGUE; FIGUEIRAS, 2003). Dentre os vários fatores que podem interferir nesse processo, as infecções por parasitoses intestinais merecem destaque. Pois, atingem altíssimos índices de prevalência em países subdesenvolvidos e aumentam à medida que piora o nível socioeconômico, a falta de saneamento básico e de educação sanitária (SOUZA et al., 2011). A presença dessas infecções, chamadas também de enteroparasitoses, pode causar a seus portadores: diarreia, má absorção intestinal, anemia, baixa capacidade de concentração, dificuldades no aprendizado (SEGER et al., 2010), além da desnutrição que, segundo Brito et al. (2003), pode facilitar a ocorrência de enteroparasitoses do mesmo modo que as infecções por enteroparasitas podem causar a desnutrição. No Brasil, é notória a existência de inúmeras desigualdades no que se refere ao estado de saúde da população, quando se compara as várias regiões do país. Sendo, que a maior desigualdade se observa quando são estudados os grupos minoritários, como é o caso das comunidades quilombolas. Assim, na região amazônica, a inadequada assistência às condições higiênicas e ausência de políticas públicas voltadas para o saneamento básico, contribuem para a incidência das parasitoses intestinais (HURTADO-GUERRERO; HURTADOGUERRERO, 2005). Neste quadro, possivelmente, encontram-se as comunidades Bom Jardim e Tiningú (alvos do presente estudo), reconhecidas como remanescentes de quilombos, localizadas na região do Baixo Amazonas, mais especificamente no planalto santareno. Dessa forma, intervenções em saúde que possam combater e/ou controlar os possíveis danos causados pelas parasitoses intestinais, principalmente, em crianças potencialmente sujeitas ao atraso e/ou comprometimento do desenvolvimento infantil, são de grande importância para saúde das crianças nessas comunidades. Dentre as ações mais efetivas no combate a essas infecções, destacam-se o tratamento medicamentoso e as ações de educação preventiva, quando realizadas em conjunto e de forma rotineira, principalmente, nas áreas onde os riscos de contaminação por esse tipo de parasita são elevados. Segundo Andrade et al., (2010), o tratamento das parasitoses intestinais consiste no emprego de medicamentos antiparasitários, em medidas de educação preventiva e saneamento básico (ANDRADE et al., 2010). Diante disso, um novo campo de atuação da Fisioterapia deve deixar de ter predominância “curativista” e reabilitadora para, também, ser voltada para a atuação coletiva (PINHEIRO et al., 2009; REZENDE et al. 2009). Do mesmo modo, que as par19 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES cerias multiprofissionais são importantes na promoção, prevenção e reabilitação de saúde por proporcionar um atendimento global, observando as necessidades de uma pessoa no seu âmbito integral. Nesse contexto, insere-se o fisioterapeuta na perspectiva de uma atuação voltada para a atenção básica de saúde (REZENDE et al. 2009). Dessa forma, a realização de pesquisas no campo da Fisioterapia voltada para a atenção primária e que visem agir de forma integral, realizando, também, parcerias com outras áreas de atuação na saúde, são cada vez mais importantes para a inserção do fisioterapeuta nessas ações relacionadas à promoção de saúde. Com isso, notou-se a necessidade da realização dessa abordagem em saúde pela Fisioterapia nas comunidades, Bom Jardim e Tiningú, por serem áreas remanescentes de quilombos, com peculiaridades que possivelmente favoreçam a ocorrência do poliparasitismo intestinal. Portanto, esse trabalho visa mostrar, se a realização de intervenções em saúde, pode ajudar na diminuição do poliparasitismo intestinal e na melhora do desenvolvimento infantil das crianças quilombolas dessas comunidades. Tendo como objetivo principal analisar a influência de intervenções em saúde nos índices de poliparasitimo e a sua relação com o desenvolvimento infantil de crianças quilombolas (05 - 11 anos) residentes em duas comunidades do planalto santareno, Tiningú e Bom Jardim, situadas na região do Baixo Amazonas. E como específicos analisar a ocorrência de poliparasitismo intestinal em crianças quilombolas, antes e depois, das intervenções em saúde; analisar o desenvolvimento infantil das crianças quilombolas antes e depois das inter20 venções em saúde; Analisar o estado nutricional (peso, altura e Índice de Massa Corporal) antes e após as intervenções em saúde. 2. MÉTODO Essa pesquisa foi informada e aprovada no Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Pará (UFPA) em 30 de agosto de 2012, com o parecer nº 138.626 respeitando as exigências da lei 196, Resolução nº. 996/96, sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Uma pesquisa descritiva de natureza aplicada, com intervenção em uma abordagem quantitativa e longitudinal prospectivo. Foi realizado em duas comunidades, Tiningú e Bom Jardim, remanescentes de quilombos do município de Santarém-Pa, localizadas no planalto santareno, na Região do Baixo Amazonas. Na estrada Curuá-Una, Km 19, Ramal Planalto (Jacamim), às margens do rio Maicá, no município de Santarém-Pa. A população alvo desse estudo tratou-se de 11 crianças quilombolas residentes nas comunidades, com idade de 05 a 11 anos, de ambos os sexos, afrodescendentes, com diagnóstico de poliparasitismo intestinal. A amostra foi selecionada de forma não probabilística (por conveniência) pela adesão dos pais e das crianças, o que não permitiu, dessa forma, um cálculo amostral e todos os procedimentos realizados foram feitos da mesma maneira nas duas comunidades envolvidas nesse estudo. A pesquisa foi iniciada em março de 2013, com a primeira etapa da coleta de dados (amostra de fezes, avaliação do desenvolvimento infantil e medidas antropométricas). Após quatro meses dessa coleta, foram realizadas as intervenções em saúde, Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES que ocorreram durante cerca de três meses. Inicialmente, foram realizadas entrevistas com os pais/responsáveis para coletar informações gerais a respeito da criança. Posteriormente as crianças selecionadas foram submetidas à avaliação do desenvolvimento infantil (medidas antropométricas), de acordo com os padrões preconizados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2007). Sendo ainda coletadas as amostras de fezes das crianças. A partir das medidas antropométricas pôde-se avaliar o estado nutricional, seguindo o critério da OMS (2007) com a utilização do escore-Z. Foram identificados os parasitas intestinais e separados por classes, helmintos e protozoários, no Laboratório Santarém localizado nesta cidade. Após a análise dos exames parasitológicos, os participantes dessa pesquisa foram encaminhados à consulta com um médico voluntário em uma unidade básica de saúde do município de Santarém, na qual foram receitados e fornecidos os medicamentos (Albendazol e Metronidazol) para o tratamento parasitológico de acordo com o diagnóstico de cada criança. Associado a este foi realizada a educação em saúde, por meio de visitas nas casas, diálogo com cada responsável e com as crianças, palestras e distribuição de cartilhas educativas versão adaptada do Ministério da Saúde. Após seis meses da primeira coleta de dados e três meses das intervenções em saúde, o exame parasitológico de fezes, a avaliação das medidas antropométricas (peso e altura) foram novamente realizadas. Todos os dados obtidos foram organizados em tabelas do programa Microsoft Office Excel. A análise estatística foi realizada através de cálculos percentuais e, especificamente, no programa BioEstat 5.0. Após essa análise, a amostra que é independente, foi caracterizada como homogênea. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Inicialmente, participaram da pesquisa 94 crianças das comunidades quilombolas de planalto, Bom Jardim e Tiningú, que foram avaliadas através do exame parasitológico de fezes e foram submetidas as verificações das medidas antropométricas. Dessas, apenas 31,48% (17/54) se encaixaram no critério de inclusão e por terem apresentado poliparasitismo intestinal. Sendo excluídas 35,29% (6/17), duas por não residirem mais na comunidade e as outras por não realizar o tratamento medicamentoso proposto. Assim amostra final, composta por 11 crianças poliparasitadas, 72,72% (8/11) do gênero masculino e 27,28% (3/11) do gênero feminino. A idade variou de 5 anos e 6 meses a 11 anos e 3 meses, a idade predominante foi de 8 anos, apresentada por 36,36% (4/11) das crianças. Segundo Chagas (2004), a presença de parasitos contribui para a deteriorização nutricional, desenvolvimento de anemia, complicações respiratórias e gastrointestinais, retardo no crescimento e no desenvolvimento psicomotor. No qual a ocorrência de poliparasitoses contribuiriam negativamente para a saúde dos doentes. No Brasil, as enteroparasitoses são frequentes, especialmente entre as crianças (FILHO et al., 2011). Sendo ainda sério problema de saúde pública no nosso país. Em comunidades vulneráveis das periferias dos centros urbanos e favelas, mais de 50% dos exames pa21 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES rasitológicos constituem positividade para um ou múltiplos parasitas, contrastando com pacientes de classe média de áreas urbanas bem saneadas, onde esse percentual cai para 1 a 5% (FERREIRA et al., 2000). Diante das referencias, o estudo pesquisou acerca do parasitismo na amostra. Ressaltando, que vários fatores podem determinar a maior ou menor incidência de enteroparasitoses em uma comunidade, tais como: nível de saneamento básico, de higiene e de educação sanitária, estado nutricional, manipulação imprópria dos alimentos, assistência médica inacessível, entre outros (INCERTI, 2013). Diante da vivência durante a aplicação dessa pesquisa, notou-se que as comunidades quilombolas estudadas estão expostas a fatores que contribuem para a ocorrência de mono e poliparasitose. De acordo com a pesquisa, notou-se que as estratégias realizadas em conjunto (tratamento medicamentoso e educação em saúde) nas comunidades de Bom Jardim e Tiningú, apresentaram respostas favoráveis ao estado geral das crianças. Dado mesmo sendo uma melhora fatorial, so- mente, 27,27% (3/11) das crianças permaneceu infectado com parasita após as intervenções em saúde. De certa forma, o que se atingiu com o tratamento medicamentoso foi um percentual de 72,73% de negatividade nos exames parasitológicos de fezes das crianças quilombolas, após as intervenções em saúde realizada nas comunidades. Grande parte dos casos de enteroparasitoses não é diagnosticada, visto serem muitas vezes assintomáticos, o que dificulta a determinação de sua prevalência e o controle de sua transmissão. Grupo de crianças sem nenhum tratamento prévio apresenta prevalências maiores quando comparado ao grupo com algum tratamento anterior (MIRANDA; DATTOLI e DIASLIMA, 2010). Na presente pesquisa, foi observada a prevalência dos parasitas encontrados nas crianças quilombolas, antes e após as intervenções em saúde, nessas comunidades situadas na região do Baixo Amazonas. Tabela 1. Prevalência de parasitas intestinais nas crianças de Bom Jardim e Tiningú, antes e após as intervenções de saúde. Parasitas intestinais Entamoeba coli Iodamoeba bütschlii Entamoeba histolytica Entamoeba vermicular Ancilostomídeos Fonte: Autora (2013). 22 Antes n (11) 11 6 5 1 1 % 100% 54,55% 45,45% 9,1% 9,1% Após n (11) 3 0 0 0 0 % 27,27% 0% 0% 0% 0% Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES Na tabela 1 pode ser visto que a Entamoeba coli foi o parasita mais encontrado nas 11 crianças, representando 100% (11/11) do protozoário. Em segundo lugar, ficou a Iodamoeba bütschlii com 54,55% (6/11), seguida pela a Entamoeba histolytica com 45,45% (5/11). E menos frequentes, com 9,1% cada (1/11), foram o Ancilostomídeo e o Enterobius vermiculares. Após as intervenções em saúde, apenas 27,27% (3/11) das crianças apresentaram parasitas intestinais, sendo que esses foram da espécie comensal Entamoeba coli. Vale ressaltar que a tabela demonstra os tipos encontrados nas 11 crianças e que estas apresentavam-se polipasitadas, ou seja, uma criança podia apresentar no seu exame dois ou mais tipos de parasitas associados. Além disso, Andrade et al. (2010) afirma, ainda, que a ocorrência de parasitismo múltiplo é frequente nas regiões tropicais e que estudos têm demonstrado que indivíduos com múltiplas infecções geralmente apresentam infecções mais severas que indivíduos com infecções únicas (DE ANDRADE et al., 2011). Alta taxa de prevalência da Entamoeba coli encontrada neste estudo, corrobora com Lozer (2011) que ao analisar crianças residentes nas comunidades quilombolas do norte do Espírito Santo, detectou a presença desse protozoário em 90% (382/425) dos casos. Apesar de o presente estudo apresentar uma amostra pequena, esse resultado pode ser sugestivo de determinadas condições na qual essas crianças e a comunidade como um todo está visivelmente exposta. Devido todas as crianças ter apresentado esse protozoário antes das intervenções e persistência após as intervenções, mesmo sendo somente em três crianças. Mesmo assim, essa pesquisa mostrou que apesar desses indicadores, relacionados aos aspectos socioeconômicos, hábitos de higiene, imunidade, aspectos nutricionais, entre outros fatores, após as intervenções realizadas nessas comunidades, o índice de parasitoses intestinais presentes nas crianças diminuiu, no qual ao fim apenas três crianças estavam monoparasitadas pelo comensal Entamoeba coli. Pode-se dizer que desparasitação ocorreu, principalmente, devido ao tratamento medicamentoso que age mais rapidamente contra as parasitoses intestinais do que a educação em saúde, pois a mesma precisa de um tempo maior para a obtenção de bons resultados. Assim a educação em saúde vem a ser um complemento dessa intervenção antiparasitária para a obtenção de uma melhor resposta, tentando-se evitar reinfecções, já que as enteroparasitoses podem persistir se não for adquirido hábito de higiene adequado principalmente, e melhoria do saneamento básico. No estudo realizado por Boeira et al. (2010) demonstrou-se a eficiência de um trabalho envolvendo ações de educação, além do correto tratamento das crianças, melhorando as condições de higiene e aumentando a qualidade de vida da população estudada. Além disso, buscou-se, também, envolver os pais e responsáveis – através de instruções e abordagens quanto aos 23 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES cuidados básicos de higiene e saúde, reportando a importância desses procedimentos para o bem-estar das crianças e de toda a família – abrangendo todos os envolvidos no processo de educação. Corroborando com os autores supracitados, Ferreira et al., (2006) afirma que casos positivos relacionados aos protozoários, sugere que a comunidade pesquisada apresente algum problema relacionado ao manuseio da água, além da ausência de cuidados higiênicos com as mãos, principalmente dos manipuladores de alimentos, indicando dessa forma que cuidados básicos como o lavar das mãos quando adotados, ajudariam a reduzir o índice de parasitismo intestinal (VISSER et al, 2011). Logo, pode-se dizer que, talvez, as crianças quilombolas de nosso estudo não tenham assimilado as praticas da educação em saúde, bons hábitos de higiene. Vale ressaltar, também, que a promoção à saúde é uma estratégia defendida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), como um importante instrumento para melhoria da qualidade de vida, através da educação em saúde que possibilita o exercício pleno da cidadania, revelando-se tão eficaz quanto o saneamento básico e sendo superior ao tratamento medicamentoso em massa a longo prazo. Além de ser, comprovadamente, uma medida profilática efetiva, que tem sido utilizada em vários trabalhos de prevenção às parasitoses (CARMO e ALVEZ, 2005). Segundo Gurgel et al.(2005), a maior prevalência de parasitoses intestinais pode levar ao déficit nutricional e do crescimento pôndero-estatural. Na tabela 2, pode-se verificar a classificação do estado nutricional das crianças de acordo com os critérios de referência da OMS (2007), que preconiza a utilização do escore-z para a classificação geral dos índices antropométricos (P/I, E/I, IMC/I), encontradas nas crianças pertencentes às duas comunidades estudadas. Tabela 2. Prevalência de índices antropométricos P/I, E/I,IMC/I nas crianças das comunidades quilombolas Z – score n (11) % P/I (n =10) 10 100% E/I (n =11) 10 91% IMC (n= 11) 1 10 1 9% 91% 9% Antes Classificação % Peso adequado 10 100% Peso adequado Estatura adequada Baixa estatura Eutrofia Sobrepeso 11 100% Estatura Adequada 100% Eutrofia 11 - P/I = Peso pela idade; E/I= Estatura pela idade; IMC= Índice de Massa Corporal. Fonte: Autora (2013). 24 Após Classificação n (11) - Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES Assim antes das intervenções, 100 % (10/11) das crianças foram consideradas com o peso adequado no índice P/I. Exceto uma, que não pôde ser classificada nesse quesito, pois não há escores para a sua idade em meses na tabela de avaliação desse índice antropométrico preconizado pela OMS. Podendo a mesma ser classificada através do IMC. Os índices de E/I mostraram que 91% (10/11) das crianças estavam com adequada estatura e 9% (1/11) baixa estatura. Quanto ao índice IMC, 91% (10/11) das crianças estavam eutróficas, sendo que 9% (1/11) apresentaram sobrepeso. Diferentemente das duas comunidades estudadas, Ferreira et al. (2011) evidenciou um em seus estudos déficit estatural generalizado em uma população de comunidades remanescentes de quilombos de Alagoas. Outro estudo que registrou, também, uma elevada prevalência de déficit de E/I, foi o realizado por Kuhl et al. (2009), onde uma em cada quatro crianças apresentaram 24,8% deste diagnóstico. Para Ferreira et al. (2011) existe um índice maior de casos de desnutrição nos locais, mais afastados e com difícil acesso aos centros de saúde, como em uma população quilombola de Alagoas no qual sua pesquisa foi realizada. Contudo, em relação ao presente estudo, mesmo as comunidades quilombolas de Bom Jardim e Tiningú, sendo distantes do centro urbano e de difícil acesso, principalmente, no período do inverno amazônico; as crianças analisadas apresentaram bom estado nutricional. Diante disso, percebe-se que o grupo analisado nesta pesquisa foi encontrado com bons indicadores de condições de saúde e nutrição, já que a maioria apresentou-se com eutrofia, peso e estatura adequados, antes e após a realização das intervenções em saúde propostas por essa pesquisa. Esta pesquisa teve a importância de pesquisar a prevalência de parasitoses intestinais. Pois segundo Delgado (2010), o estudo da prevalência de parasitose se torna uma ferramenta importante que permite o conhecimento do estado de saúde infantil de uma região ou país. Através de estudos como este, é possível identificar e prevenir fatores que possam influenciar tanto a normal trajetória do crescimento físico infantil, como o seu desenvolvimento intelectual. No qual a modificação das ações em saúde vem evidenciando a necessidade de uma equipe interdisciplinar de saúde que tenha um real contato com a população, a fim de desenvolver atenção integral com promoção, prevenção e cuidado, contando com a participação de seus usuários desencadeando uma globalidade de ações de proteção à comunidade. (BOEIRA et al, 2010). No presente estudo, percebe-se que após o tratamento e a educação em saúde, toda a amostra foi considerada eutrófica, até a criança que apresenta sobrepeso antes das intervenções. Porém, se considerarmos que das 11 crianças poliparasitadas, 4 estavam poliparasitadas com enteroparasitas comensais (não patogênicos), os quais segundo Macedo (2005) não causam pre25 Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES juízos ao seu hospedeiro. E que as outras 7 crianças foram parasitadas por pelo menos um parasita comensal associado a outro patogênico, se torna um fator menos agravante quando se pensa na possibilidade da presença de mais de uma espécie patogênica. A partir disso, presume-se que se isto tivesse ocorrido, talvez, essas crianças apresentassem potenciais danos ao seu desenvolvimento. Assim as presentes comunidades quilombolas dessa pesquisa tem nos últimos anos participado na integração ensinoserviço, campo de pesquisas e extensão, e assim promovendo conforme Carmo e Alvez (2005) ressaltam essas estratégias de educação em saúde, promovendo possíveis melhorias de seus indicadores e qualidade de vida da comunidade. Boeira et al (2010), nas conclusões de seus estudos mostrou a eficiência de um trabalho envolvendo ações de educação, além do correto tratamento das crianças, melhorando as condições de higiene e aumentando a qualidade de vida da população acometida por parasitose intestinal. Andrade et al. (2011) afirma que no Brasil, condições adequadas de saneamento básico e utilização de medicações de fácil administração para o tratamento das enteroparasitoses, sem dúvida, são fundamentais para todas as comunidades em que se pretende diminuir a prevalência do parasitismo. Mas que não menos importantes são os esforços pela melhoria do acesso ao serviço de saúde e participação da comunidade em projetos de educação em saúde. Sabe-se que medidas de educação em 26 saúde geram menos custos para o município que o tratamento de doentes. É uma das ferramentas imprescindíveis para o profissional de saúde, ensinando as crianças, pois nessa fase da vida, as chances de serem adultos com uma maior qualidade de vida, com consciência crítica e com poder sobre as questões de saúde. Além de serem propagadores de informações para os pais, irmãos e colegas, estendendo o conhecimento a todos e promovendo o desenvolvimento e melhoria na qualidade de vida de toda a comunidade (BARBOSA et al., 2009). 4. Considerações Finais A Fisioterapia, enquanto Ciências da Saúde tem o dever de contribuir com as pesquisas, envolvendo o desenvolvimento infantil e os fatores de riscos dos quais as crianças estão expostas. Diante disso, o trabalho buscou informar o estado de saúde das crianças quilombolas de Bom Jardim e Tiningú, comunidades remanescentes de quilombos. Além disso, constatou-se que mesmo essas crianças expostas às condições adversas que poderiam influenciar de forma negativa no seu desenvolvimento, estas, não apresentaram quaisquer alterações preocupantes no seu estado nutricional e no seu desenvolvimento infantil, nem antes (mesmo poliparasitadas) e nem após as intervenções. Talvez o ocorrido possa ser explicado pela idade das crianças, maior de cinco anos, que possuem melhores mecanismos de defesa ou, então, por Revista de Publicação Acadêmica da Pós-Graduação do IESPES terem uma noção mais abrangente aos cuidados de higiene, quando comparadas as crianças menores de cinco anos. Ou, ainda, por terem apresentado predominantemente, com espécies comensais (não patogênicas), que não ocasionam alterações expressivas. Nesse sentido, percebeu-se resultados significativos no combate as parasitoses intestinais com a ação voltada à prática de Educação em Saúde em conjunto com o tratamento medicamentoso. Pois, através da associação das medidas, houve uma melhora de 100% da amostra no que diz respeito à presença do poliparasitismo intestinal. Com isso, conclui-se que a continuidade de ações em saúde nesses locais é de extrema importância, incentivando nos indivíduos às boas práticas de saúde, para a melhoria da qualidade de vida e das condições de saúde. Por fim, sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas voltadas para as condições das comunidades remanescentes de quilombos. 5. REFERÊNCIAS ANDRADE, E. C.; LEITE, I. C. G.; RODRIGUES, V. O.; CESCA, M. G. Parasitoses intestinais: uma revisão sobre seus aspectos sociais, Epidemiológicos, clínicos e terapêuticos. Rev. APS, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, p. 231-240, abr./jun. 2010. BARBOSA, L. A.; SAMPAIO, A. L. A.; MELO, A. L. A.; MACEDO, A. P. N.; MACHADO, M. F. A. S. Revista Brasileira em Promoção da Saúde. Fortaleza, 22(4): 272-278, out./dez., 2009. BELINELO, V. J.; MILANEZE, B. A; ROSA, A. B.; BUSSULAR, J. P. B.; MORAES, A. 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