HUNSCHE, C. M. E.¹; SILVA, I. F.¹ ; TOMIN, D. S. ¹ ; NEGRETTI, F.² ¹Acadêmicos do curso de Medicina da UNIOESTE. ²Professor de Anatomia e Fisiologia Patológica da UNIOESTE. Sexo: masculino; Idade: 56 anos; Estado civil: Casado; Naturalidade: SC; Residente em: Ampére; Profissão: Vigia. A.S.A, procurou serviço médico (pronto socorro) em 2008 queixando-se de dores em MSD há mais de 6 meses. Essa dor teve caráter progressivo, concomitante com o aumento de volume do membro. Fez uso de analgésicos, sem melhora do quadro, sendo encaminhado ao serviço de ortopedia. Foi realizado raio X do MSD, no qual foi identificada lesão óssea patológica de úmero. CA na família Giardíase, amebíase, carcinoma basocelular, ceratose na face, HAS, disúria, diabetes mellitus Nega tabagismo Nega etilismo Mieloma múltiplo; Doença de Paget do osso; Leucemia; Anemia de células falciformes; Osteosarcoma; Metástase; Osteoma; Osteoporose; Dor isquêmica de origem vascular; Compressão cervico-braquial; AIDS; Plasmocitoma; julh/0 8 Ago/08 Out/08 Dez/08 Jan/09 Mar/09 Abr/09 Abr/09 Normal Hb 13,5 13,8 12,0 12,8 11,1 12,1 13,0 12,7 13 g/dl Leucoc 6300 7100 5750 6440 5210 6370 6200 5030 4-11 mil/micr Neutrof 3950 4650 3850 6150 3120 3870 3980 3336 18007000 Plaquet 227 217 246 210 204 191 241 188 150-400 mil / micr Pico M 2,04 3,27 1,11 0,89 0,30 0,41 0,41 ? IgG 641 - - - 244 366 371 336 952-1538 IgA 1967 - - - 210 477 485 628 153-359 412 - - - 89 165 183 174 625-1668 Lambda 1380 - - - 136 98 398 434 368-803 Proteinúria 203 - - 503 - 195 - 237 Até 141 B2 micro 2412 - 2495 1990 2278 1963 1900 2260 101-2730 Albumin 4,17 3,90 4,08 3,63 3,41 3,88 4,05 0,37 3,5-5,0 g/dl Creatinin 0,73 0,72 0,57 0,66 0,46 0,70 0,60 0,62 0,6-1,3 mg/dl 8,8 9,1 8,8 9,1 - 9,0 - 8,4 9-11 mg/dl Kappa Cálcio Microscopia: os seguintes anticorpos demostraram imunorreações positivas: CD138, Cadeia leve Kappa, MIB-1 (Ki 67) positivo em 40% das células neoplásicas; Conclusão: Perfil imunoistoquímico consistente com plasmocitoma pouco diferenciado. Paciente foi submetido a cirurgia em 23/09/08 para retirada do tumor e colocação de prótese em úmero direito. Evoluiu com episódio de pneumonia, giardíase, amebíase. Em 29/10/08 iniciou tratamento de talidomida em combinação com dexametasona, porém começou a apresentar sintomas de fraqueza e parestesias (membros). Três meses depois foi suspenso o uso de talidomida devido a piora do quadro de parestesia do paciente (neurotoxicidade). Refere “formigamento” em hemiface direita antes do uso desse medicamento. Resultado de TAC com parâmetros dentro da normalidade. Porém, em 04/03/09 reiniciou talidomida em dias alternados. No dia 12/04/09 houve remissão completa (SIC), descartado mieloma múltiplo e suspenso talidomida + dexametasona. Aguarda exames com neuro-cirurgia devido a um quadro de cefaléia persistente. Há uma lesão osteolítica no osso rádio interrogada. H.D.: Plasmocitoma Solitário. • • • Tecido Conjuntivo altamente vascularizado Localizado nos espaços entre as trabéculas do osso esponjoso Presente, principalmente, nos ossos do esqueleto axial, cíngulos dos membros superiores e inferiores e nas epífises proximais do úmero e fêmur • Hematopoese: processo pelo o qual os glóbulos sanguíneos se desenvolvem a partir de células mesenquimais, denominadas células-tronco pluripontentes. Ocorre primeiramente no saco vitelino do embrião e, em seguida, fígado, baço, timo e nos linfonodos do embrião. Nos últimos três meses antes do nascimento, a medula óssea vermelha torna-se o local primário de hematopoese e continua a ser a principal fonte de células sanguíneas após o nascimento e durante toda a vida. As células-tronco, na medula óssea vermelha, se autoreproduzem, proliferam e diferenciam-se em células que dão origem a células sanguíneas, macrófagos, celulas reticulares, mastócitos e adipócitos. Junqueira, Luiz C.; Carneiro, José. Histologia Básica. 11a. Ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008 . Plasmócito Megacariócito Linfócito B Célula-tronco hematopoiético - - As células reticulares produzem as fibras reticulares, que formam o estroma (arcabouço), que suporta as células da medula óssea vermelha O sangue proveniente das artérias nutrícia e metafisária entra no osso e passa para os capilares aumentados e mal vedados, chamados seios, que circundam as células da medula óssea vermelha e as fibras. Após a formação das células sanguíneas, elas entram nos seios e em outros vasos sanguíneos, deixando o osso por meio das veias nutrícia e periosteais. Com exceção dos linfócitos, os elementos formados não se dividem quando deixam a medula óssea vermelha As células-tronco pluripotentes produzem mais dois tipos de células-tronco: célulastronco mielóides e células-tronco linfóides As células-tronco linfóides dão origem aos linfócitos As células-tronco linfóides diferenciam-se em linfoblastos T e em linfoblastos B, que se desenvolvem em linfócitos T (células T) e linfócitos B (células B), respectivamente As citocinas estimulam a proliferação das células na medula óssea vermelha e regulam as atividades das células envolvidas nas defesas inespecíficas (como os fagócitos) e nas respostas imunes (como as células B e as células T) • Parte da progênie das células B que proliferaram em respostas ao antígeno e ao auxílio da célula T se diferencia em plasmócitos secretores de anticorpos, que são estimulados por sinais mediados por CD40 e citocinas. Encontrados dentro dos órgãos linfóides São secretores de anticorpos principalmente em sítios extrafoliculares, como a polpa vermelha do baço e a medula dos linfonodos. São gerados após a ativação das células B via BCR, CD40, TLRs e outros receptores Desenvolvimento dependente da indução de um fator de transcrição-chave BLIMP-1. Existem dois tipos: Plasmócitos de vida curta e plasmócitos de vida longa Os plasmócitos de vida curta são encontrados geralmente nos órgãos linfóides periféricos. Após a reação do centro germinativo, os plasmócitos adquirem a capacidade de migrar para a medula óssea, onde são mantidos por meio de um receptor da família BAFF chamado BCMA, e essas células são chamadas de plasmócitos de vida longa Na medula óssea, eles podem continuar a secretar anticorpos por meses ou mesmo anos após o antígeno não estar mais presente. Isso proporciona uma proteção imediata Estima-se que quase metade dos anticorpos do sangue de um adulto sadio é produzida por plasmócitos de vida longa e é específica para antígenos que foram encontrados no passado. • • Neoplasia maligna de proliferação descontrolada dos plasmócitos Acúmulo de plasmócitos intramedular ou extramedular Principalmente a partir da quinta/sexta década de vida Predomínio no sexo masculino em proporção de 3:1 Produzem imunoglobulinas monoclonais ineficientes (proteína M) infecções recorrentes Secreção de proteínas com propensão de polimerização Amiloidose generalizada Podem secretar altos níves de proteínas de cadeia leve que não polimerizam(proteína BenceJones) Filtração nos glomérulos com formação de cilindros hialinos, podendo levar a insuficiência renal crônica Pode ser do tipo lambda ou kappa, nunca as duas em um único anticorpo http:// crentinho.wordpress.com Plasmócitos anormais: produção exagerada de cadeias leves, que não vão se ligar para formar o anticorpo, serão secretadas de forma livre Proteínas Bence Jones OBSERVAÇÕES NOS OSSOS • Lesões osteolíticas solitárias ou múltiplas •Osteoporose difusa (osteopenia) EFEITOS ASSOCIADOS DA DESTRUIÇÃO ÓSSEA • Cálcio sérico elevado • Hipercalciúria (aumento do cálcio na urina) • Fraturas ósseas • Diminuição da estatura (colapso vertebral) MIELOMA EXTRA-ESQUELÉTICO • Envolvimento de tecido mole, mais freqüentemente na região da cabeça/pescoço (p. ex., nasofaringe); também no fígado, nos rins em outros sítios em tecidos moles SANGUE PERIFÉRICO • Anemia • Coagulação anormal • Leucopenia • Trombocitopenia • Linfócitos B monoclonais circulantes (precursores das células do mieloma) ALTERAÇÕES DE PROTEÍNAS PLASMÁTICAS • Hiperproteinemia (proteína elevada) • Imunoglobulinas monoclonais (IgG, IgD, IgA, IgM, IgD, cadeias leves ANORMALIDADES RENAIS • Proteinúria, cilindros sem leucócitos ou eritrócitos • Disfunção tubular com acidose • Uremia (insuficiência renal) Doença óssea: Plasmócitos produção de FAO inibição dos osteoblastos Alterações no reparo e na remodelagem do osso: lesões osteolíticas patológicas A dor óssea é a QP mais freqüênte Alterações neurológicas Efeitos das proteínas (anticorpos produzidos) contra os nervos Deposição de fibras amilóides nos nervos Suceptibilidade a infecções: Infecções virais no tecido nervoso http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/lamdegn8.html Rins: Atrofia do parênquima, perda da distinção córticomedular http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/pecasuro4.html http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia/pecasuro4.html Mieloma Múltiplo: 1) Plasmócitos representando mais que 10% das células da medula óssea (proliferação difusa de plasmócitos) 2) Lesões líticas em pelo menos três óssos diferentes 3) Amostra de sangue e urina com níveis anormalmente elevados de anticorpos ou proteínas Bence-Jones Plasmocitoma solitário 1)Células plasmáticas representando menos de 10% das células da melula óssea 2)Nenhuma lesão lítica apresentada além do local do tumor Podem apresentar níveis elevados de anticorpos no sangue ou proteínas Bence-Jones na urina, que voltam ao normal após o tumor ter sido removido e/ou tratado com radioterapia Quimioterapia Radioterapia Cirurgia para retirada de tumores, reparo ósseo Administração de drogas para controle da dor, da hipercalcemia, destruição óssea e infecções - Bifosfonatos: Se ligam à superfície do osso, impedindo a progressão da degeneração, melhorando a possibilidade de cicatrização, força e densidade óssea. - Antibióticos: assim que houver suspeita de infecção. Uso profilático controverso (diminui complicações de infeçcões recorrentes X aumento da resistência às drogas). -Eritropoetina: Melhorar o nível de Hb em pacientes com anemia persistente. Talidomida: Tratamento alternativo para pacientes submetitos à terapia convencional em em casos de transplantes. Habilidade em inibir angiogênese. Promove um declínio nos níveis de proteína M. ◦ Efeitos adversos: Neuropatia periférica (dores nas pernas e nos pés, redução dos reflexos e ocorrência de cãimbras), sedação excessiva, fadiga, errupção cutânea. É uma doença rara, histopatologicamente caracterizada por infiltrados de células plasmáticas de maturidades diversas e produtoras de imunoglobulinas monoclonais, que surgem em sítios fora da medula óssea; É responsável por apenas 3% dos tumores de células plasmáticas; É mais comum no sexo masculino, e a incidência aumenta com a idade, ocorrendo por volta dos 60 anos; Maior frequência no trato aerodigestivo superior, predominando em cavidade nasal, seios paranasais, nasofaringe, tonsilas e laringe; Strojan et al (2002) reportou 31 pacientes com a doença, dos quais 7 apresentaram acometimento de linfonodo regional isoladamente; Estudo retrospectivo (1969-1999) feito em 2002 mostrou que 84% dos pacientes tiveram acometimento em cabeça e pescoço; dos 16% restantes 40% tiveram o TGI como sítio primário; • O diagnóstico requer avaliação multidisciplinar e está baseado no encontro de tumor monoclonal de células plasmáticas em sítio extramedular e ausência de evidências de mieloma múltiplo; • Proteína M no sangue ou urina pode estar presente ou ausente em pequena quantidade, biópsia de medula óssea sem plasmocitose monoclonal e inspeção normal do esqueleto; Diagnóstico diferencial: neoplasia de células plasmáticas (plasmocitoma solitário de ossos e mieloma múltiplo); Devido à radiossensibilidade do tumor, a radioterapia é peça central da terapêutica, tornando a doença altamente curável (Bertolami, 2005); Cirurgia é mais empregada pósradioterapia ou para tumores recorrentes ou persistentes; A indicação de quimioterapia no tratamento de tumores primários ou doença recorrente, ou ainda, a fim de prevenir a progressão para mieloma múltiplo é controversa (Bertolami, 2005); Por se tratar de uma doença rara, há poucos relatos na literatura, falta um consenso sobre o tratamento mais adequado, embora a maioria dos autores considere a radioterapia o melhor tratamento; Após o tratamento 3 situações podem ocorrer: recorrência local da doença, recorrência em linfonodos regionais e/ou progressão para mieloma após uma média de 2 a 2,5 ano; A sobrevida está intimamente relacionada à probabilidade de progressão para mieloma múltiplo; Plasmocitoma solitário, embora raro, deve ser lembrado como diagnóstico diferencial, para que o tratamento correto da doença seja instituido, promovendo controle precoce. 1.http://www.scielo.br/pdf/ramb/v49n1/15388.pdf – Acesso em 4 de maio de 2009 2. http://74.125.45.132/search?q=cache:-ETNPvPawt8J:myeloma.org/pdfs/Portuguese_CR – Acesso em 2 de maio de 2009 3.http://www.fcm.unicamp.br/deptos/anatomia – Acesso em 7 de maio de 2009 4. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-84842005000100009&script=sci_arttext – Acesso em 4 de maio de 2009 5. http://www.abrale.org.br/doencas/mieloma/ - Acesso em 29 de abril de 2009 6.http://www.oncologiafrancobrasileira.com/sociedade2007/Portugues/congresso2 008/Trabalhos/OUTROS/203.pdf – Acesso em 9 de maio de 2009 7. www.emedix.com.br/not/not2005/05jul01hem-blo-ttp-talidomida.php Acesso em 13 de maio de 2009 8. www.myeloma.org - Acesso em 30 de abril de 2009. 9. Bertolami A, Henriques AC, Penha FG, Trevisan GD, Bigonha JG, Veiga MG, Puzzello TA. Plasmocitoma extramedular. Rev. Med. ABC 2005; 30(1): 58-60. 10. TORTORA, J. Gerard. Princípios de Anatomia Humana. 10ª ed. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan:2007. 11. ABBAS, Abul K. Imunologia Celular e Molecular. 6ªed. Rio de Janeiro. Elselvier: 2008.