SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR: UMA INTERVENÇÃO PSICOEDUCATIVA¹ SOARES, Iracil Rosinda Pires²; PINTO, Luciano Haussen³ ¹ Trabalho de Pesquisa _UNIFRA. ² Pedagoga e Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. ³ Professor do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO A adolescência é de vital importância por ser um período de grandes transformações biopsicosociais. Neste período problemas psicológicos são comuns para o adolescente e algumas vezes são visto como uma crise. O presente estudo objetivou esclarecer as dúvidas dos adolescentes referentes às mudanças do corpo e fenômenos da sexualidade. Diante deste contexto buscou-se proporcionar aos adolescentes espaços de discussão e de expressão das vivências. O trabalho teve um caráter qualitativo de revisão de literatura, onde foi utilizada como instrumento, a intervenção escolar em sala de aula a partir do jogo “Aprendendo a Viver”. A intervenção através do jogo proporcionou uma aprendizagem significativa e valorativa, por ser um método de investigação que além do lúdico, promove a psicoeducação e também é terapêutico. A proposta de trabalho voltada as questões de sexualidade despertou nos estudantes interesses o que fez com que os mesmos participassem ativamente. Dessa forma, a intervenção psicológica em âmbito escolar, está permeada indiretamente e diretamente pelas relações grupais que se sucedem no decorrer de todo processo evolutivo. Por isso é essencial o estudo e entendimento da sexualidade para que assim se possa compreender, transformar e desenvolver práticas que visem à promoção da saúde e bem-estar do adolescente. Palavras-chave: Adolescente; Sexualidade; Educação; Psicologia. INTRODUÇÃO Por estar o ser humano desde o princípio de sua vida inserido em uma cultura e fazendo parte de um contexto que é permeado por relações entre os sujeitos. Torna-se de vital importância estudar e compreender os processos que ocorrem no adolescente em processo de desenvolvimento e aprendizagem no que diz respeito a sexualidade. Nesse sentido a compreensão dos aspectos relacionados a sexualidade vem ao encontro da dinâmica natural da vida assumindo assim um compromisso de promover um desenvolvimento saudável no adolescente. A adolescência é um processo psicossocial que gera diferenças conforme o conhecimento, a cultura e o contexto em que o adolescente se desenvolve. Portanto, é necessário que se respeitem as peculiaridades das características do processo de adolescer como sendo este um processo normal da adolescência. Sendo assim, o sujeito nasce fazendo parte de um grupo familiar e no decorrer do seu desenvolvimento se expande para o grupo social, grupo escolar, grupo profissional, entre outros. É através do convívio grupal que o sujeito aprende suas primeiras lições de sobrevivência, vivência e constrói sua identidade. A partir desta inserção no contexto escolar pretendeu-se desenvolver intervenções nas turmas, visto que as relações grupais são imprescindíveis. A abordagem em sala de aula quando bem-sucedida proporciona aos adolescentes maior capacidade de usufruir desse momento tão importante do ciclo evolutivo. Tendo em vista que na adolescência o ser humano se vê obrigado a passar por transformações que se sucedem no organismo de 1 forma generalizada tanto fisiológica como psicológica que vai refletir na formação de sua personalidade. O presente trabalho é relevante uma vez que a adolescência é de vital importância por ser um período de grandes transformações biopsicosociais. Neste período problemas psicológicos são comuns para o adolescente e algumas vezes são visto como uma crise. Sendo assim, este estudo visa relacionar os estudos teóricos com os práticos a partir da vivência com o grupo de adolescente pertinentes as questões que envolvem a sexualidade de modo amplo. O presente estudo teve por objetivo esclarecer as dúvidas dos adolescentes referentes às mudanças do corpo e fenômenos da sexualidade. Diante deste contexto buscou-se proporcionar aos adolescentes espaços de discussão e de expressão das vivências. Refletindo com os adolescentes sobre os diferentes aspectos que envolvem o corpo e a sexualidade. METODOLOGIA O trabalho teve um caráter qualitativo de revisão de literatura, onde foi utilizada como instrumento, a intervenção escolar em sala de aula referente ao desenvolvimento do adolescent6e no que diz respeito a sexualidade. A pesquisa qualitativa propõe o estudo aprofundado do tema compreendendo-o em seus múltiplos fatores. O objetivo de uma pesquisa qualitativa de coleta de dados é aprofundar o conhecimento de determinados fenômenos sociais com base nos aspectos subjetivos da ação social em sua maior relevância, portanto não se objetiva criar leis que generalizem as opiniões (GOLDENBERG, 2005). Ferreira (2002) denomina as pesquisas bibliográficas de “estado da arte” ou “estado do conhecimento”, onde o pesquisador é desafiado ao escolher fazer uma pesquisa de levantamento e de avaliação do conhecimento sobre determinado assunto, pois procura conhecer o já produzido para então se voltar a um tema pouco explorado no campo científico. O trabalho foi realizado numa Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio localizada no município de Santa Maria - RS. A mesma tem em média 2.000 estudantes matriculados em três turnos. A escola tem em andamento programas como, “escola aberta para cidadania” e “mais educação”, bem como projetos clube de ciências, PIBID, laboratório de informática, xadrez, escola de dança, educação ambiental, entre outros. O público alvo foi constituído por adolescentes que estavam matriculados na 5º série, 6º série, 7º série e 8º série, perfazendo um total de 13 turmas distribuídas nos três turnos. O delineamento correspondeu a um estudo de levantamento das necessidades das turmas que precisavam de intervenção psicológica voltada as questões de sexualidade, procedimento este realizado pela orientadora educacional da escola. Num primeiro momento a escola solicitou o serviço de psicologia, logo após foi contatado o estabelecimento para verificar a demanda, na qual foi feito um planejamento de acordo com o número de turmas para serem trabalhadas com a temática da sexualidade. Posteriormente com os grupos já formados foram definidos os dias da semana e horários. Tratou-se de um grupo heterogêneo, fechado, com número de participantes matriculados no respectivo ano escolar. Os encontros foram realizados nas dependências da escola com o planejamento de dois encontros por turma durante os meses de setembro e outubro do ano vigente com duração de cinqüenta minutos. Os professores previamente informados disponibilizavam a aula para que a atividade proposta fosse realizada, porém os mesmos não participavam da atividade. Como instrumento para trabalhar a temática foi proposto a realização de uma atividade lúdica que além de oportunizar a diversão, também pudesse desenvolver um ambiente de diversas aprendizagens. Após a aceitação da turma, a mesma foi dividida em dois grandes grupos e solicitada que os integrantes dessem um nome ao grupo, fato este que desperta nos adolescentes um sentimento de pertença. Logo após foi explicado as regras do jogo 2 “Aprendendo a Viver”. O objetivo do jogo é passar por diferentes ambientes, tais como, bar, festa, escola, praça, posto de saúde, casa, entre outros vivenciando as diversas situações propostas, mas sem correr risco. No decorrer do jogo, o grupo se depara com três tipos de cartas situações (pergunta, ação e desafio) que colocam os integrantes numa reflexão para definir em grupo qual a resposta certa, ações que o grupo participa coletivamente e desafios a enfrentar através de mímicas, encenações, conselhos, enfim situações educativas. Desse modo o grupo vai acumulando pontos conforme as atitudes desempenhadas, bem como pode pegar cartas risco que colocam o grupo em alerta e cuidado. De acordo com o grupo de estudantes, escolheram-se as cartas de situação que seriam utilizadas no decorrer do jogo. Existe dois grupos de cartas com situações para estudantes entre 7 e 12 anos e cartas com situações para estudantes a partir de 13 anos. Durante a atividade os estudantes liam as cartas (perguntas, ação ou desafio) para o outro grupo tentar em conjunto responder o que sabia sobre a temática e logo após a acadêmica explicava o motivo pela qual era aquela a resposta e não as demais de modo psicoeducativo. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Neste período da vida é muito difícil demarcar no adolescente o que é normal do que é patológico, e toda síndrome é composta por um conjunto de sintomas que definem o tipo de síndrome e neste caso se tratando da adolescência existem sintomas que demarcam a adolescência. Os autores pontuam que seria anormal um adolescente que esteja em total equilíbrio com toda a dinâmica pela qual passa o seu organismo, visto que esta é uma fase de grandes transformações e desenvolvimento do indivíduo com o seu meio. Aberastury (1981) estabelece muito bem este pensamento afirmando que o adolescente passa por desequilíbrios e instabilidades extremas. O que configura uma entidade semipatológica, que denominou “síndrome normal da adolescência”, que é perturbada e perturbadora para o mundo adulto, mas necessária para o adolescente, que neste processo vai estabelecer a sua identidade. Este período da vida, como todo fenômeno humano, tem sua exteriorização características dentro do marco cultural-social no qual se desenvolve. Assim, devemos considerar a adolescência como um fenômeno específico dentro de toda história do desenvolvimento do ser humano e tentar entender como se dá os princípios psicológicos fundamentais desta etapa do ciclo vital. De acordo com Eizirik (2001), o adolescente é um sujeito em vias de transformação, imerso em um processo profundo de revisão de seu mundo interno e de suas heranças infantis, visando adaptação ao novo corpo decorrente da puberdade. Para Blos (1998), a maturação sexual é o fato biológico que introduz a puberdade, na qual as pulsões se intensificam e novos alvos instintuais só emergem lenta e gradualmente, quando os alvos e os objetos infantis de satisfação instintual são levados temporariamente para o primeiro plano. Este processo é concluído quando se estabelece uma identidade sexual adequada e egossintônica. Segundo Outeiral (2003), as transformações corporais constituem uma das questões primordiais da adolescência, pois o indivíduo se vê obrigado a assistir passivamente uma série de transformações que ocorrem no seu corpo e consequentemente em sua personalidade. Neste momento evolutivo a perda do corpo infantil leva o adolescente a temer e desconhecer o novo corpo. Esta transformação desejada por um lado e por um outro vivida como uma ameaça, leva o adolescente a buscar um refúgio repressivo em seu mundo interno. Parafraseando o autor supra citado, o corpo neste momento assume um importante papel na aceitação ou rejeição por parte da turma. O adolescente começa a perceber que seu corpo não corresponde a idealização que havia feito de como seria quando adulto e é pela identificação e comparação com outros adolescentes que ele começa ter uma idéia concreta de seu esquema corporal. Isso pode determinar situações ou momentos de afastamento ou isolamento social. 3 O grau de normalidade de um adolescente pode ser avaliado pela sua relação com o corpo, pois pode senti-lo como totalmente próprio ou como algo dissociado de si. A relação do adolescente com seu corpo é um dos indícios de integridade e normalidade de sua personalidade (OUTEIRAL, 2003). Segundo Carrion e Pesca (1998), a identidade sexual começa a se organizar desde o nascimento, adquire sua estrutura, seu perfil definitivo na adolescência, nesta etapa da vida ocorre a passagem da bissexualidade infantil para heterossexualidade adulta, é uma vivência muito importante tanto socialmente como para o mundo interno do indivíduo. Um dos melhores exemplos que temos da atividade bissexual na adolescência é a masturbação tão comum a ambos os sexos nessa etapa da vida. Conforme Eizirik (2001), a adolescência no menino se dá quando o jovem supera as proibições infantis no tocante a masturbação, a exploração do corpo, e também a medida que se sente mais afirmado em sua incipiente identidade masculina, inicia-se a aproximação com o sexo oposto. Nessas experiências não há ainda a ternura e consideração pelo outro enquanto objeto de amor. Uma vantagem do menino é que sua genitália é externa e desde o início do desenvolvimento pode manipulá-la e formar uma representação mental. Esse estado de narcisismo máximo ajudará o adolescente a lidar com o medo, a solidão e a ansiedade decorrente da desidealização e do afastamento dos pais da infância, como também realizar as experimentações imprescindíveis do processo de amadurecimento. De acordo com Eizirik (2001), a trajetória seguida pela menina em seu desenvolvimento psicossexual é significativamente diferente. A adolescente mobilizada pela menarca sente-se ainda mais atraída a voltar-se para seu interior. Pela primeira vez em seu desenvolvimento, pode formar uma imagem mais nítida de seu corpo feminino, sentir de fato os órgãos internos. A menina somente a partir da puberdade pode formar representações mentais de sua genitália interna, que é facilitado pelo desenvolvimento da capacidade para o pensamento abstrato que a habilita a formar uma representação a partir de sensações internas. As primeiras relações amorosas da menina têm um caráter de afirmação de sua feminilidade e de elaboração das relações primitivas tanto com a mãe quanto com o pai. Em ambos os sexos há uma evolução que vai das primeiras experimentações, mas popularmente conhecido como “ficar”, em que se buscam mais uma afirmação narcísica e o conhecimento corporal, até o aparecimento dos namoros propriamente ditos, dominados por um sentimento de ternura. Uma vez tendo chegado ao estabelecimento de relacionamentos heterossexuais, os adolescentes evoluem em um ciclo que oscila entre a paixão e o luto. Apaixonam-se no início por um representante muito próximo dos objetos originais que são o pai e a mãe, que são tidos como tendo os atributos de perfeição máxima. A seguir é desidealizado, sendo vivido um novo luto. Essa sucessão de paixões e lutos permite que o sujeito vá elaborando progressivamente o luto maior decorrente da renúncia aos pais da infância (MACHADO, 1994). Conforme Aberastury (1981) é muito difícil assinalar o limite entre o normal e o patológico na adolescência, visto que toda comoção deste período da vida deve ser considerado como normal, assinalando também que seria anormal a presença de um equilíbrio estável durante o processo adolescente. Neste sentido o jovem nesta fase exterioriza seus conflitos de acordo com sua estrutura e suas experiências. Segundo Zimerman (2000), o grupo oportuniza um suporte social para que o indivíduo possa se sentir individualizado, diferenciado dos demais, socialmente integrado e consequentemente estruturando no seu sentimento de identidade individual, grupal e social. No entanto no que tange a temática da sexualidade Outeiral (2003) reforça, a sexualidade talvez se constitua num dos tópicos mais importantes e mais difíceis de ser abordado pelo adolescente que está passando por um período de excessiva estimulação da sexualidade. Muller (2009), afirma que para enfrentar essa jornada de desafios pertinentes a fase de desenvolvimento o adolescente precisa encontrar seu caminho que é único e pessoal. Nesse processo, costuma se distanciar de seus pais e passa a entrar em choque com eles, começando a lutar pelos seus pensamentos. Ao mesmo tempo aproxima-se do grupo de 4 iguais, no qual encontra conforto, entendimento, compreensão, por estar ao lado de pessoas que enfrentam as mesmas dúvidas, dilemas e desafios que a adolescência desperta. Zimerman (2000), o grupo não é um mero somatório de indivíduos, pelo contrário, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos, porém todo o grupo se comporta como se fosse uma individualidade; estão reunidos em torno de uma mesma tarefa e objetivo em comum; ocorre o cumprimento das combinações nele estabelecidas, tais como tempo, espaço e regras que delimitam e normatizam a atividade grupal proposta; existe uma interação afetiva entre os integrantes; a coesão grupal expressa através da capacidade de absorver e/ou perder outros indivíduos; é inevitável a formação de um campo grupal dinâmico em que gravitam fantasias, ansiedades, identificações, papéis e outros. Por tudo isso o grupo não deve ficar esperando que alguém seja o líder e sim que todos tomem a iniciativa para serem líderes. Esse ambiente colaborativo de aprendizagem fundamenta-se no grupo que oferece situações que permitem o desenvolvimento de estratégias no processo de aprendizagem (SEMINOTTI, BORGES e CRUZ, 2004). Para Castilho (2002), aprender é uma questão primordial no existir social, a consciência de ser aceito e compreendido e, portanto de aceitar e compreender as demais pessoas, falar e ouvir empaticamente cria condições para que cada um consiga encontrar novos modos de agir frente a suas problemáticas pessoais. De acordo com Seminotti, Borges e Cruz (2004), todo trabalho em grupo oportuniza o aprender e o agir, é um momento de reflexão, construção de novas idéias, aceitação de pensamentos opostos, respeito para com o outro, enfim é um ambiente onde ocorre uma aprendizagem significativa, por ser este um ambiente colaborativo e de construção em conjunto. Segundo Maraschin (2003), a escola pode assumir uma função social imprescindível na discussão crítica das pedagogias sociais, explicitando seus mecanismos, propondo modos alternativos de socialização e aprendizagem, bem como incorporando-os de forma criativa e crítica as questões pertinentes a sexualidade. Conforme Machado (1994), o ideal seria que todos recebessem, desde criança, uma educação sexual livre de preconceitos, verdadeira e que ajudasse a vivenciar a sexualidade de modo que experimentasse bem-estar e alegria. E os relacionamentos fossem mais abertos e comunicativos, ou seja, que a vida adquirisse mais gosto e sentido. A prática do psicólogo escolar segundo Martins (2002) deve focalizar-se na equipe de um modo geral, buscando através de suas intervenções as ressignificações que envolvam o coletivo escolar de modo democrático. Para isso o psicólogo precisa se colocar numa posição que oportunize a escuta clínica para que os sujeitos possam refletir sobre suas vivências. Castilho (2002) ressalta que este momento da vida tem um misto de tensão, curiosidade e espera, é a expectativa do que o outro tem a dizer, sendo assim um estímulo para que o outro expresse o que sente, mesmo estando com dificuldade. No entendimento de Maraschin (2003), uma atitude problematizadora e inventiva de compromisso, com a criação de ferramentas conceituais e técnicas, são formadoras de psicólogos que desejam pensar e intervir no presente ambiente educacional de modo efetivo. O psicólogo escolar para Marinho e Almeida (2005) é um profissional apto a lidar com situações de incerteza, singularidade e conflito, ou seja, comprometido com ações que visem à promoção de saúde no contexto escolar, de modo preventivo e participativo. De acordo com Polônia e Dessen (2005), uma boa relação entre família e escola gera uma integração mútua que leva a uma aprendizagem significativa do aluno que está cercado de atenção e cuidado de ambas as partes através da responsabilidade compartilhada e acolhedora. Para Zanella (2003), o aluno é protagonista de sua própria história que não é somente sua, mas sim produzida e reproduzida por outros com quem convive, o que faz gerar no aluno mudanças de postura do próprio sujeito no sentido de pensar, sentir, expressar e agir. 5 RESULTADOS As intervenções através do jogo “Aprendendo a Viver” com adolescentes proporcionaram uma aprendizagem significativa e valorativa, por ser um método de investigação que aborda o lúdico, a psicoeducação e tem uma função terapêutica. Fato este presenciado pelo atravessamento da teoria com a prática construída e vivenciada no contexto escolar. Foi relevante o fato de que a proposta de trabalho voltada as questões de sexualidade despertou nos estudantes interesses o que fez com que os mesmos participassem ativamente das atividades sugeridas. Os estudantes não demonstraram vergonha para abordar as dúvidas referente a sexualidade. Foi possível observar também que os adolescentes foram muito criativos e os questionamentos foram muito bem fundamentados e discutidos no grupo. Observou-se diante da prática a dificuldade que os estudantes tinham para formar os grupos diante da atividade lúdica proposta. Em algumas turmas formaram duplas, quartetos e alguns estudantes ficavam isolados. Algumas turmas optaram em formar grupos de meninos versus meninas, atitude esta que não prejudicou o andamento da atividade, inclusive em alguns momentos erravam questões que envolviam o seu próprio gênero. As turmas demonstraram envolvimento com o jogo e quando não entendiam solicitavam explicações, tais como, orgasmo, frígida, hímen, não sabiam que um casal de namorados pode decidir quando ter filhos, diferenças entre o profissional que atende meninos do que atende meninas, métodos preventivos, diferentes práticas sexuais, mitos e verdades, gravidez, doenças, entre outras. As turmas na sua maioria acertavam as perguntas do jogo demonstrando conhecimento pelas questões abordadas, porém não compreendiam por qual motivo aquela era a resposta adequada. O objetivo principal do jogo era não se contaminar pelo vírus HIV, objetivo este que foi alcançado em algumas turmas, pois alguns grupos pegaram apenas uma carta de risco não formando a sigla HIV, apenas passaram por algum momento de perigo que colocou a vida destes em risco. Situação essa muito bem administrada por todos os grupos que ficavam atentos para não correr mais risco de se contaminar. Dentre as várias perguntas o que chamou a atenção foi o quanto os adolescentes estão preocupados com as doenças sexualmente transmissíveis, principalmente com o vírus da imunodeficiência humana (HIV). Os jovens têm pouco acesso às informações sobre doenças sexualmente transmissíveis, boa parte dos adolescentes obtém as informações sobre sexualidade de colegas e amigos, cujas opiniões, na maioria das vezes, são baseadas em mitos e preconceitos. Os estudantes afirmaram que os pais não falam sobre esse assunto e quando tratam da temática passam uma idéia distorcida, tais como “meus pais pensam que é pecado”, “o meu pai disse que o homem que se masturba cria pêlos nas mãos”, “minha mãe disse que engravida até do ar”. Outro fato marcante foi a verbalização de um adolescente que falou de si próprio, de suas atitudes, afirmando “eu me masturbo”, enquanto que os demais sempre se referiam a um amigo, que ouviram falar, que ficaram sabendo e nunca falavam de si próprio. A turma nesse momento respeitou a opinião do colega e solicitaram mais esclarecimentos sobre a prática da masturbação. Temática esta que foi explicada de modo psicoeducativo como os demais questionamentos solicitados. Observou-se que as turmas de um modo geral têm dificuldade de trabalhar em grupo, visto que não conseguem se integrar para pensar juntos e assim escolher a melhor resposta, ou seja, agem por impulso muitas vezes prejudicando o grupo. Diante da observação desse comportamento reforçou-se qual era o objetivo da atividade proposta que sempre englobava o trabalho em equipe para que assim os estudantes buscassem construir em conjunto e não de forma isolada. Outro fato evidenciado foi a presença constante do mesmo líder nos grupos. Algo que também foi explicado devido a importância de que todos tivessem a oportunidade de escolher e se posicionar, visto que este é um ambiente de aprendizagem e para isso é 6 preciso oportunizar e ousar. Após a construção desses valores de convivência os estudantes tentavam mudar a dinâmica de funcionamento do grupo. Sendo assim, se faz necessário desenvolver com os estudantes atividades que contemplem essa habilidade que é de vital importância para vida, pois o trabalho em grupo/equipe é socializador. Ao final de cada encontro o grupo expressou seus sentimentos a respeito do trabalho realizado e os mesmos afirmaram “está muito bom”, “foi muito legal”, “foi interessante que a gente entendeu”, “quanta coisa não era como eu pensei que fosse”, “aprendemos bastante”, “volta sempre”, “nossas dúvidas não terminam nunca”, entre outros. A prática proporcionou aos adolescentes uma troca de experiências e reflexões a cerca das questões pertinentes a adolescência, bem como das curiosidades e dúvidas que surgiram no decorrer da atividade. A intervenção psicológica em sala de aula é um instrumento de trabalho, um método de investigação e neste contexto escolar cumpriu sua função terapêutica. Diante da atividade lúdica realizada com os adolescentes percebeu-se que a vivência a respeito da sexualidade fez com que os mesmos tivessem um crescimento intelectual e pessoal. Observou-se nas vivências com o grupo que a proposta levou-os a um aprendizado significativo e os integrantes estavam sempre em um constante processo de análise da sua realidade de acordo com suas crenças e valores. As turmas demonstraram interesse e motivação pelo tema, tanto é que solicitaram mais encontros. Fato este que depois foi comentado com a orientação e direção para futuras intervenções referente a sexualidade e demais temáticas. CONCLUSÕES Dessa forma, a intervenção psicológica em âmbito escolar, está permeada indiretamente e diretamente pelas relações grupais e não tem como se desvincular dessas relações que se sucedem no decorrer de todo processo evolutivo. Por isso é essencial o estudo e entendimento da sexualidade para que assim se possa compreender, transformar e desenvolver práticas que visem à promoção e bem-estar do adolescente. A adolescência sempre vai se fazer presente por períodos de crises e desequilíbrios que é difícil de ser entendida e compreendida pelo mundo dos adultos que muitas vezes passaram por esta realidade e se esqueceram ou não querem admitir por medo de perder a autoridade e perder o controle da situação. Esta fase do desenvolvimento é produto da evolução do individuo que está passando de criança para adulto que surge da interação do indivíduo com o meio e da elaboração dos diferentes lutos que são básicos e imprescindíveis. Faz-se necessário que o adolescente experiencie esta vivência no seu processo de adolescer, na qual é através destas diversificadas perturbações que o adolescente vai estabelecer a sua identidade para o resto de sua vida caminhando rumo ao mundo adulto que exige deste independência, que estabeleça sua própria identidade e consiga viver em sociedade. Neste contexto biopsicosocial o adolescente precisa ser respeitado na sua forma de ser e de administrar essa fase que exige deste a emancipação. Que se leve em conta que cada adolescente passará por um processo que será com certeza diferente de outro adolescente por este motivo não existe receitas prontas e acabadas de como se deve lidar com o adolescente, mas autores que orientam e explicam as diversas condutas que o adolescente pode demonstrar. A adolescência deve ser vista e tomada como um processo universal de troca, desprendimento que será influenciada pela cultura na qual se faz parte. Esta etapa da vida é um processo evolutivo em que prepara o adolescente para uma conseqüente maturidade que precisa ser superada nesta fase. Dessa forma, observa-se a partir deste estudo que o caminho a ser trilhado pelo adolescente é bastante complexo, na qual o jovem busca integrar-se ao mundo adulto, onde terá que aceitar e saber administrar sua nova configuração de ser humano e sua sexualidade. 7 Espera-se que com o presente trabalho possamos compreender melhor a dinâmica do adolescente a partir da teoria e prática vivenciada. Outro propósito é o de que os adolescentes consigam perceber seu mundo interno mais fortificado e os conflitos serão menos perturbadores e mais adaptativos. Uma vez que este processo de adolescer traz uma série de aspectos gerais da adolescente que precisam ser compreendido e respeitado. Contudo isso se acredita que o trabalho individualizado por turmas tenha sido benéfico para os estudantes. Visto que momentos como esse que exploram a reflexão e não julga os pensamentos pode proporcionar para o adolescente um apoio psicológico e afetivo trazendo ganhos significativos para a vida. Espera-se que a proposta tenha contribuído e proporcionado aos jovens uma maior capacidade de usufruir desse momento tão importante do ciclo de vida. Desta forma também foi possível observar a importância de se ir ao encontro do contexto escolar, a fim de realmente poder ouvir o que os adolescentes têm a dizer a respeito de sua dúvidas e expectativas. Ou seja, com este trabalho foi possibilitado a oportunidade de “sentir na pele”, e assim realmente compreender os motivos pelos quais os adolescentes se sentem muitas vezes um tanto revoltados ou deslocados no mundo real devido as suas singularidades não serem respeitadas e compreendidas, tanto na família como na escola. Através da vivência grupal os adolescentes tiveram a oportunidade para pensar, refletir, aceitar e consequentemente respeitar a sua própria emancipação enquanto ser humano que está em pleno desenvolvimento, formação e transformação. Desta forma, a intervenção no âmbito escolar proporcionou aos adolescentes uma troca de experiências e reflexões a cerca das questões pertinentes a sexualidade, bem como das curiosidades e dúvidas que surgiram no decorrer da intervenção. Neste sentido, adolescência é um período da vida caracterizado por intenso crescimento, desenvolvimento e mudanças diversas, que se manifestam por transformações físicas, psicológicas e sociais. Nesse período o adolescente tenta buscar informações e esclarecimentos referente as suas dúvidas, mas acaba se deparando com uma sociedade que é permeada por dogmas e regras referente a sexualidade e esta acaba exigindo um pensamento padronizado do adolescente em processo de descobrimento e muitas reflexões e indagações do porque as coisas são do jeito que são. Dessa forma, o jovem se vê frente a um enorme leque de possibilidades e opções e, por sua vez, quer explorar e experimentar tudo a sua volta. O processo de autorização no âmbito da educação precisa ser entendido como um tornar-se, assumir-se, enfim autorizarse onde o sujeito reconhece a si mesmo e é reconhecido pelos outros, responsabilizando-se pela sua ação e consequentemente contribuindo para uma evolução humana. Buscou-se com esse trabalho compreender e desenvolver habilidades para futuras práticas escolares com o intuito de promover uma reflexão crítica a partir da relação teoriaprática. Mas também analisar e evidenciar a relevância do Psicólogo no contexto escolar aliado a toda equipe escolar. REFERÊNCIAS ABERASTURY, Arminda. Adolescência normal. Porto Alegre: Artes Médicas. 1981. BLOS, Peter. Adolescência: uma interpretação psicanalítica. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes,1998. CARRION, Carlos Eduardo e PESCA, Lúcia. O sexo como o sexo é: mitos e desmitificação, 3. ed. Porto Alegre: Sulina, 1998. CASTILHO, Áurea. A dinâmica do trabalho de grupo. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002. 8 EIZIRIK, Cláudio Laks. O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed, 2001. FERREIRA, N. S. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação & Sociedade, ano XXIII, n° 79, Agosto/2002, 23, 257-272. GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. 9. ed., Rio de Janeiro: Record, 2005. MACHADO, Júlio Cesar Faria. Sexo com liberdade. 9. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. MARASCHIN, C. 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