Trabalho Científico PROPOSTA DE PLANO DE MANEJO PARA O AMARELINHO – Tecoma stans (BIGNONIACEAE), CAUSADORA DE INVASÃO BIOLÓGICA NO SUL DO BRASIL. Vitorino, M. D.1; Pedrosa-Macedo, J. H.2; Menezes Jr., A. O.3 INTRODUÇÃO Este trabalho é o resultado do projeto “ESTUDO DE AGENTES PARA O CONTROLE DE Tecoma stans” apresentado ao PROBIO/MMA e selecionado no edital 004/2001. ECOLOGIA DA ESPÉCIE HABITAT A espécie Tecoma stans popularmente conhecida como amarelinho, falso ipê de jardim e carobinha é originária do México e sul dos Estados Unidos (MORTON, 1981). No México o amarelinho é conhecido popularmente como: palo de arco, tronador, tronadora, trompetilha, cameri, hierba de san pedro, san pedrito e san pedro. A espécie tem grande amplitude ecológica, prosperando em vegetação secundária em regiões tropicais e xerófilas, florescendo durante todo o ano em altitudes entre 150 e 2700 metros principalmente entre abril e novembro (SEMARNAT, 2003).1 Fora de sua área de ocorrência natural esta espécie é relatada comumente em áreas alteradas, encostas de morros, solos bem drenados calcários, solos arenosos pouco férteis, solos alcalinos e vulcânicos, preferindo áreas antropizadas onde apresenta crescimento denso impedindo ou dificultando o crescimento de outras espécies (PELTON 1964). Segundo FURTINI NETO et al. (1999), em estudo realizado no Cerrado brasileiro, a espécie apresenta sensibilidade a solos ácidos. Isso mostra um fator de restrição de ocorrência da planta no Brasil em solos com pH abaixo de 7,0 e solos turfosos. Quanto à calagem a espécie apresenta boa resposta, apresentando também boa adaptação à presença de alumínio. A presença de esterilidade em Tecoma stans foi detectada na Índia em áreas com temperaturas entre 34 a 44 °C ± 2 °C no verão, apresentando esterilidade sazonal naquele País. Este fato poderia explicar porque esta espécie não apresenta caráter invasor em algumas regiões do Brasil, principalmente onde o verão é mais quente ou mais seco não havendo estabelecimento das plântulas após a dispersão, desta forma se apresentando somente de forma isolada como ornamental. CLASSIFICAÇÃO BOTÂNICA A classificação botânica do amarelinho é a seguinte: Reino Sub- reino Classe Sub-classe Super-ordem Ordem Família Tribo 1 Plantae Tracheobionta Magnoliotae Asteridae Lamianae Scrophulariales Bignoniaceae Tecomae http://www.semarnat.gob.mx/pfnm3/fichas/tecomastans.htm 1- Universidade Regional de Blumenau – FURB; 2 - Universidade Federal do Paraná – UFPR; 3 - Universidade Estadual de Londrina - UEL 2 Gênero Espécie Tecoma stans stans Variedades angustata velutina MARCHIORI, 1995; GENTRY, 1992 A Família Bignoniaceae possui 600 gêneros com ampla distribuição nas regiões tropicais de todo o mundo especialmente freqüentes nos trópicos americanos, sendo plantas lenhosas, arbustivas ou arbóreas e também trepadeiras (JOLY, 1976 ;GENTRY, 1992). A tribo Tecomae é exclusiva do novo mundo, exceto pelo gênero Catalpa spp. que ocorre na África. (GENTRY, 1992). O Gênero Tecoma spp. possui 209 espécies catalogadas. São 203 espécies nativas, cinco cultivadas e uma naturalizada num total de 209 espécies, 11 subespécies e sete variedades na zona neotropical. (GENTRY, 1992). Sinonímias da espécie Tecoma stans : Bignonia frutensis Mill. ex DC.; Bignonia incisa Hort ex DC.; Bignonia stans L.; Gelseminum stans (L.) Kuntze; Stenolobium incisum Rose & Standl.; Stenolobium stans (L.) Seem, Stenolobium quinquejugum Loes.; Stenolobium stans var. apiifolium (Hort ex Dc.) Seem.; Stenolobium stans var. mutijugum Fr.; Stenolobium stans var. Pinnatum Seem.; Tecoma incisa Sweet.; Stenolobium stans var. apiifolia Hort. ex DC.; Tecoma tornadora (Loes.) Johnst. Kokoschkinia paniculata Turcz. O amarelinho Tecoma stans devido à semelhança de suas flores, pode ser confundida com diferentes espécies da família Bignoniaceae, principalmente dos gêneros: Tabebuia spp. e Jacaranda spp. (KRANZ, 1997; PASSINI, 1997). Descrição no Brasil Segundo KRANZ & PASSINI (1997), no Paraná a planta vegeta praticamente durante todo o ano e floresce principalmente entre agosto e setembro. Em geral, o amarelinho é um arbusto ou pequena árvore que atinge entre 8 e 12 metros de altura, não mais que 15 metros, possuindo ramos eretos, subcilíndricos, finamente estriados, lenticelados com textura glabra ou finamente escamoso. As plantas jovens possuem raiz pivotante, as raízes secundárias são horizontais, paralelas à superfície do solo, as quais acumulam grande quantidade de reservas nutritivas e água e ainda possuem capacidade de emitir brotações, (PELTON, 1964; GENTRY, 1992; KRANZ, 1996, 1997). Variedades Levantamentos da flora de Bignoniaceae na região tropical das Américas demonstram que Tecoma stans possui 3 variedades: stans, angustata e velutina, com diferenças morfológicas evidentes (PELTON, 1964; GENTRY, 1992). No Brasil não há indícios das variedades angustata e velutina (KRANZ & PASSINI, 1997). a) Tecoma stans variedade stans É uma árvore ou arbusto de até 10 m de altura e 25 cm de DAP. Folhas com 3 a 9 folíolos opostos imparipenados, serreadas, lanceolada, com folíolo apical de 2,4 a 15 cm de comprimento e de 0,8 a 6 cm de largura, pecíolo de 1 a 9 cm de comprimento freqüentemente com pilosidade nos veios secundários e principal. Inflorescência terminal ou subterminal acima de 20 flores com poucas flores abertas ao mesmo tempo. Flores amarelas, por vezes tendendo para o amarelo-alaranjado de 3,5 a 5,8 cm de comprimento e 1,2 a 2,4 cm de largura glabras por fora e pilosas por dentro, com tricomas nos estames e na sua inserção. Fruto cápsula linear de 7 a 21 cm de comprimento e 5 a 8 mm de largura. Sementes de 3 a 5 3 mm de comprimento por 2,4 a 2,7 cm de largura alada membranosa. Apresenta folhas compostas imparipenadas, com até 13 pares de folíolos lanceolados. A inflorescência é terminal paniculado com muitas flores amarelas, muito semelhantes às do ipê-amarelo. O fruto é uma cápsula glabra deiscente, terminada em ponta, com 10 a 22 centímetros de comprimento e contém em média 77 sementes aladas, também semelhantes às dos ipês. A espécie possui sementes pequenas (1,0 cm de largura), aplanadas, circuncavadas e com asas membranosas, estando contidas em cápsulas alargadas, cilíndricas e deiscentes (PELTON, 1964; HOLDRIDGE & POVEDA, 1975; GENTRY, 1992; MARCHIORI, 1995; KRANZ & PASSINI 1996, 1997). Figura 01. Floração de Tecoma stans – amarelinho Foto: Marcelo Diniz Vitorino REPRODUÇÃO E FENOLOGIA O florescimento do amarelinho possui um período de duração longo, estando em pleno florescimento no mês de julho, e ainda em princípio de setembro, podendo-se encontrar flores e frutos jovens, maduros e secos (MELLO, 1952). Há diferença entre plantas utilizadas para fins ornamentais e plantas espontâneas em áreas com infestação, como no norte do Paraná, município de Jacarezinho (RENÓ, 2003). As plantas utilizadas como ornamentais florescem de julho a setembro com a deiscência dos frutos entre novembro e dezembro, já as plantas espontâneas ou com características de 4 invasora, apresentam florescimento de junho a novembro com a deiscência e dispersão ocorrendo entre agosto e fevereiro. POLINIZAÇÃO DUTRA et al. (2001), constataram que os estames amadurecem depois do androceu reduzindo a autopolinização. Apresenta reprodução autógama, gentógama (autopolinização com flores da mesma planta) e xenógama (polinização cruzada). O equilíbrio entre autocompatibilidade e fecundação cruzada é vantajosa entre espécies daninhas, pois ocorrendo a dispersão, a formação da população dependerá da capacidade de auto-fecundação desta espécie. A apomixia apresentou 0% de sucesso e a autopolinização 8% dependendo do tipo de polinizador. O teor de açúcar do néctar obtido foi de 25% nas primeiras horas da manhã. Apresenta absorção e reflexão de UV no estigma e na flor, menos nos lóbulos. Encontram-se osmóforos exalando um odor adocicado nas anteras, lobos do estigma, e extremidades das pétalas. O percentual de visitação por ordens de insetos foi de: 83% Hymenoptera, 5% Coleoptera e Diptera, 3% Lepidoptera, 2,5% Hemiptera e 1,5% outras. As espécies mais presentes foram: Apis melifera como polinizadora ocasional, Bombus morio (Swederus) polinizador mais eficiente pelo seu porte, outras espécies de Hymenoptera que se alimentam de néctar ou como predadoras, alguns Diptera alimentando-se de néctar e material em decomposição e exemplares de Hemiptera como predadores. A facilidade de acesso ao néctar e pólen e a presença de vários polinizadores, evidencia a não especificidade da planta, mostrando o caráter invasor que ocorre em ambientes alterados onde a flora e fauna também se alteraram. GALETTO (1995), estudando o néctar e o nectário, comparou com outras espécies e mostrou que o amarelinho apresenta baixo volume de néctar e diâmetros de núcleos médios de células produtoras, aminoácido e porcentagem de sacarose, de açúcar, e glicose mais frutose muito baixo em relação a outras plantas da família Bignoniaceae. Apresenta um ácido redutor singular dentre as Bignoniaceae estudadas, sem que tenha sido identificado. Observou-se que não é um bom pasto apícola, sendo pouco visitada por abelhas, não apresentado um possível interesse econômico nesta área. SINGH et al. (1999), descobriu a presença de tricomas em anteras, presentes nos meses de setembro à abril e ausente de maio a agosto. São do tipo glanular e não-glanular. Primeira descrição de tricomas no lóbulo da antera em T. stans originados nas células epiteliais, contém base unicelular com duas células na haste, e uma cabeça multicelular com seis células secretoras. São estruturas para a secreção de odores. Está relacionado ao período de frutificação onde flores ainda estão sendo polinizadas. Bignoniaceas são caracterizadas por conter tricomas florais e extra florais GALETTO (1995), observou que há presença destes, próximo aos nectários de 15 espécies e 12 gêneros de Bignoniaceae. DISPERSÃO E REPRODUÇÃO A dispersão das sementes de amarelinho se dá principalmente pelo vento. Plantas analisadas em Porto Rico apresentaram 208.000 sementes/Kg com germinação de 97%. As sementes do tipo ortodoxa, podem ser armazenadas em local seco e fresco por até 07 meses necessitando de até 4 semanas para iniciar a germinação. Testes realizados no Laboratório Neotropical de Controle Biológico de Plantas - LNCBP, foi observado que em 3 meses em temperatura ambiente obteve-se germinação de 40% e após 10 meses em câmara fria a 5,5°C +- 2°C a taxa de germinação foi de 55%. Na Índia estudos sobre dispersão relacionada à fecundação testaram auto-cruzamentos com flores emasculadas fecundadas com pólen das mesmas flores; pólen de flores diferentes na mesma planta e também uma mistura de pólen de três plantas diferentes. Os parâmetros analisados foram a área da semente, seu peso e a relação área com o peso da semente. A dinâmica de dispersão foi analisada liberando-se a semente a uma altura de 2,5 metros ao ar livre e medindo o seu tempo de queda através de uma correlação. Os resultados mostram que a autopolinização apresenta maior número de sementes e estas com área maior, mas com 5 baixa relação entre peso e área. O cruzamento de flores diferentes na mesma planta apresentou números intermediários de sementes e área de sementes com valores semelhantes aos obtidos na autopolinização. O cruzamento com uma mistura de pólens apresentou menor número de sementes, mas com área maior em comparação às outras, e uma alta relação peso versus área de sementes. Este fenômeno ajuda a explicar o fato de que plantas isoladas como ornamentais apresentam menor dispersão, comparada com as de condições de agrupamentos, ou invasoras (RAJU et al., 2001). MENDONÇA et al. (1998), refere-se ao amarelinho como planta da flora vascular do cerrado (ambiente alterado). ZILLER (2001), comenta que ambientes como campos e cerrados, há uma maior tendência de invasão por espécies arbóreas que em áreas florestais. Certas espécies, como as pioneiras, invadem rapidamente áreas abertas, mas outras, de porte arbóreo, arbustivo ou herbáceo, preferem se estabelecer em florestas já existentes. Pesquisas vêm tentando identificar características comuns a espécies invasoras, para antecipar os problemas e definir medidas de controle e restrição. Dentre as maiores características que ampliam o potencial invasor da planta estão a produção de grande quantidade de sementes, dispersão eficiente (em especial pelo vento) e alta longevidade no solo. Outros fatores favoráveis são crescimento rápido, maturação precoce, reprodução também por brotação, floração e frutificação com longa duração, adaptação a áreas degradadas e liberação de toxinas alelopáticas. Espécies invasoras tendem a se adaptar com maior facilidade a ambientes similares à sua região de origem. Isso explica a rápida adaptação de seus ciclos de germinação e ocupação em ambientes que sofrem perturbações naturais ou induzidas. A espécie T. stans apresenta a formação de gemas adventícias nas raízes que podem ser estimuladas naturalmente ou por agentes externos como fogo, luz e revolvimento do solo, iniciando o crescimento de ramos adjacentes endógenos ou exógenos, adicionais ou reparativos. No caso do amarelinho, a formação de gemas ocorre tanto em estacas como em raízes ligadas à planta mãe ou parte de suas raízes. As mesmas estimuladas pela luz, são do tipo reparativa exógena, pois não há sinais anatômicos de gemas pré-formadas. Raízes gemíferas são descritas como superficiais e estas características dificultam as práticas de manejo. Brotos originados por raízes de plantas mãe são mais competitivos, apresentam maiores condições de desenvolvimento e de captação de recursos nutricionais em relação a raízes soltas e plântulas. Isto demonstra a facilidade desta espécie a se adaptar a locais pedregosos ou de encostas rochosas (Figura 02), além de seu potencial invasor e conseqüente dificuldade no controle mecânico (RENÓ, 2003). CAUSAS DO PROCESSO DE INVASÃO DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL O amarelinho originário do México, está se naturalizando em todo o Brasil. Trata-se de planta muito cultivada em todo País para fins ornamentais, tornado-se espécie invasora de pastagens e de terrenos baldios, graças a sua ampla produção de sementes (LORENZI, 1991). Relatos encontrados no site da HEAR2 no programa PIER – Pacific Island at Risk, citam a planta como um problema em algumas ilhas oceânicas. Está presente nas ilhas do Pacífico: Samoa, Ilhas Marianas, ilhas Cook, Estado da Micronésia, Polinésia Francesa, Tahiti, Fiji, Hawaí, Kiribati, Ilhas Marshal, Nauru, Nova Caledônia, Ilhas Salomon, Samoa, Tonga e nas ilhas do Oceano Índico: Ilhas Christmas. Artigo encontrado no site do USDA3 cita a planta como presente no sul do Estados Unidos e Caribe, apresentando dados gerais da planta, corroborando com os encontrados em diversas bibliografias. GRAU et al. (1997), estudou o padrão estrutural, florístico e cronosequência de florestas com a presença do amarelinho na Argentina. Neste País a planta é considerada naturalizada não havendo preocupação com sua presença nas áreas 2 3 http://www.hear.org/pier/species/tecoma_stans.htm http://www.fs.fed.us/global/iitf/pdf/shrubs/Tecoma%20stans.pdf 6 estudadas. Segundo o autor, plantas com dispersão anemocórica dominam as áreas abandonadas e capoeirões mais facilmente que as de dispersão zoocórica. Constatou em levantamento de campo que a planta em área de capoeirão tinha a densidade de 13.000 plantas/ha. Atualmente o amarelinho é considerado como planta indesejável na Austrália (Mic Julien; Ricardo Segura - comunicações pessoais), na África do Sul (Arne Witt; Stephan Neser comunicações pessoais) e no Brasil (VITORINO et. al., 2001), sendo em todos os casos a questão ornamental a principal causa da introdução desta espécie. Nos 3 países encontram-se em fase de implantação programas de controle biológico, sendo que na Austrália e África do Sul os programas são de controle biológico clássico e no Brasil até o momento o programa em desenvolvimento é não clássico (ver item 4.). DISTRIBUIÇÃO NO BRASIL No Brasil sua presença é tão comum que muitos a confundem como sendo uma espécie nativa. Sua utilização como ornamental é ampla principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul. A espécie adquiriu caráter invasor na região Sul (Figura 02), estando presente em 85 municípios do Estado do Paraná, invadindo principalmente pastagens. Sua presença está confirmada em cerca de 50.000 hectares de pastagens, dos quais 15.000 estão totalmente improdutivos (KRANZ, 2003). Em levantamento realizado pelo grupo de pesquisa do LNCBP, constatou-se a densidade de 5000 plantas/ha. Em Santa Catarina, foi encontrada na forma subespontânea em terrenos baldios e proximidades de habitações, (SANDWITH & HUNT, 1974), além de um princípio de invasão junto a rodovia SC 153, km 77 no sentido ao Paraná, no município de Concórdia (VITORINO E ANDREAZZA dado não publicado). O amarelinho foi observado como planta invasora de pastos degradados do Estado do Paraná. A população dessa espécie forma um dossel denso sob o qual as forrageiras não se desenvolvem. Está sendo observada em mais de 170 dos seus 393 municípios do Paraná, ocorrendo como ornamental, espontânea, nas áreas urbanas, ao longo das rodovias e em pastagens (KRANZ, 1996; PASSINI, 1997). 7 Figura 02. Área de pastagem com infestação de amarelinho, Assaí-PR. Foto: José Henrique Pedrosa-Macedo IMPACTOS CAUSADOS NA BIODIVERSIDADE BRASILEIRA Não há até o momento trabalhos que demonstrem o real impacto de Tecoma stans na biodiversidade nacional. Existem duas situações distintas de infestação na região Sul do Brasil. A primeira está localizada no Paraná, principalmente nas regiões Norte e no chamado norte velho, onde o amarelinho está associado a áreas com alto grau de antropização, como margens de rodovias e terrenos baldios, chegando a áreas agrícolas submetidas a um regime de manejo inadequado, ou que foram abandonadas. Não foram encontradas situações onde o amarelinho estava associado aos poucos remanescentes de vegetação nativa da região. Diferentemente do que ocorre no Estado do Rio Grande do Sul, onde além de áreas antropizadas, a espécie encontra-se também em processo de infestação da floresta nativa da região da serra gaúcha. Embora o amarelinho esteja associado à flora nativa da região, principalmente em áreas adjacentes a rodovias, não é a espécie indesejável mais freqüente, sendo esta a uva do Japão Houvenia dulcis (Rhamnaceae), que ao contrário do amarelinho está amplamente distribuída na vegetação serrana. Embora dados confiáveis sobre os impactos causados na biodiversidade não existam, é provável que a presença desta espécie deva estar influenciando algumas relações ecológicas daquele ecossistema. Um exemplo a ser destacado é a baixa importância do amarelinho como pasto apícola (GALETTO, 1995), sendo também pouco visitado por polinizadores nativos. Desta forma, a presença de áreas com grandes concentrações de amarelinho próximo à floresta nativa podem afetar as populações destes insetos. 8 METODOLOGIA PROPOSTA PARA O CONTROLE DA ESPÉCIE INVASORA As principais ações a serem tomadas para a implantação de um programa de controle para o amarelinho Tecoma stans no Brasil são os seguintes: 4.1 UTILIZAÇÃO DO CONTROLE BIOLÓGICO O controle biológico de plantas é uma técnica ambientalmente correta e de excelentes resultados se realizada dentro de princípios ecológicos e de segurança. É utilizado em vários países desenvolvidos através da utilização de inimigos naturais da planta alvo, sendo na maioria das vezes insetos. A introdução de inimigos naturais da mesma área de origem da planta que se deseja controlar caracteriza o controle biológico clássico. Esta é a forma de controle biológico que mais apresenta chances de êxito, pois prioriza a utilização de agentes que apresentaram relações co-evolutivas com a planta alvo, relações estas que se refletem principalmente na capacidade que o agente introduzido tem em regular a população desta planta e também na especificidade do mesmo, ou seja, o agente após sua introdução e estabelecimento não utilizará outras espécies vegetais como recurso trófico, abrigo ou para reprodução. As técnicas tradicionais de controle do amarelinho no Brasil não apresentam bons resultados ou possuem um custo muito alto (KRANZ, 2003; RENÓ, 2003), tornando-se inviável ao agricultor que possui infestações em sua área a utilização destas. Desta forma é comum o encontro de áreas abandonadas devido à presença do amarelinho. No caso do amarelinho, além das dificuldades de controle intrínsecas da espécie como alta plasticidade, grande produção de sementes aladas e a presença de brotação de gemas adventícias nas raízes, sendo estimuladas naturalmente ou por agentes externos como fogo, luz, danos mecânicos e revolvimento do solo, dificultando o controle mecânico e químico e facilitando a ocupação de áreas abertas por esta espécie. Segundo estudos realizados na Índia em áreas com grande ocupação (infestação), a autopolinização fenômeno que provavelmente se torna mais comum devido a pouca ação do vento, aumenta a produção de sementes mais leves, favorecendo a dispersão das plantas de bordadura e conseqüentemente influenciando no aumento do raio da área de infestação. Seleção de Inimigos Naturais na Área de Origem da Planta A primeira condição para atingir o sucesso do controle biológico de uma planta indesejável é buscar a origem da mesma. Nesta origem devem ser feitas as explorações, busca e seleção de todos os seus inimigos naturais que apresentem potencial para seu controle. O controle biológico clássico, sempre que possível deve ser priorizado, pois é através desta forma de controle que as maiores chances de sucesso para a implantação de um programa contínuo ocorrem. Desta forma a busca de inimigos naturais específicos a Tecoma stans deverá ocorrer no continente norte americano, principalmente no México. Alguns países além do Brasil estão interessadas nesta busca, entre eles se destacam Austrália e África do Sul, que já estão realizando tal busca (Stefan Neser – ARC/South África e Ricardo Segura – CSIRO/México; comunicações pessoais). Sendo assim, o Brasil deverá procurar contato com organizações de pesquisas preferencialmente no México e estabelecer convênio cooperativo. Há ainda a possibilidade de utilização do que se conhece por “via curta”, ou seja, a utilização de um agente selecionado por um outro País que também apresente problemas com a mesma planta alvo. Esta metodologia embora útil, não pode ser considerada como totalmente segura, pois os agentes selecionados e introduzidos/utilizados em outros países não necessariamente apresentarão o mesmo comportamento se introduzidos em um terceiro País. Neste sentido, a 9 vantagem da utilização da via curta é a “queima” de etapas principalmente na exploração e busca/conhecimento bem como o ganho de tempo na seleção dos potenciais agentes. Utilização de Inimigos Naturais Presentes na Área de Infestação (Controle Biológico não Clássico) A possibilidade do uso de inimigos naturais adaptados à planta alvo, presentes no local onde a mesma é considerada indesejável, é possível, porém alguns fatores devem ser analisados. Primeiramente esta forma de controle biológico pode não fornecer um controle duradouro e auto-sustentável, pois o agente selecionado poderá não ser parte permanente da biota, sendo necessário re-introduções. Caso o(s) agente(s) seja integrante permanente da biota do local, sua densidade populacional não será suficientemente grande para exercer um controle aceitável (regular a densidade populacional) da planta alvo. Desta forma, técnicas inundativas ou aumentativas deverão ser aplicadas, sendo que tais técnicas são por uma série de razões mais viáveis, se utilizadas para patógenos, principalmente fungos na forma de micoherbicidas. A técnica de aplicação inundativa baseia-se na produção massiva do patógeno que adaptado às condições climáticas e com grande disponibilidade do hospedeiro (planta alvo) poderá desenvolver grandes infecções - epidemia na população da planta, uma vez que a grande quantidade de inóculo liberada no ambiente “inundação” favorecerá tal desenvolvimento. Outra possibilidade é a utilização da técnica aumentativa que pode ser aplicada a patógenos do tipo biotróficos (ferrugens), ou seja, patógenos que necessitam do hospedeiro para seu desenvolvimento, não sendo possível, ou muito difícil, a utilização de tais patógenos como micoherbicidas, uma vez que os mesmos não são facilmente desenvolvidos em meios de cultura. Neste tipo de técnica o aumento da quantidade de patógenos nas áreas de infestação pode ser realizado através do manejo do ambiente, favorecendo o estabelecimento, reprodução ou dispersão do patógeno selecionado. No caso das áreas de infestação com Tecoma stans na região Sul do Brasil, há a possibilidade de implementação das duas técnicas para o potencial agente de controle selecionado, a ferrugem Prospodium appendiculatum que ataca tecidos meristemáticos como brotações, folhas jovens, frutos e flores em desenvolvimento além de flores e síliquas já formadas. Os trabalhos realizados durante a execução do sub-projeto “Seleção de Agentes para o Controle Biológico de Tecoma stans” demonstram que para as áreas de infestação situadas nos Estados do Paraná e Rio Grande do Sul, a técnica mais viável para a implantação de um programa de controle biológico é a inundativa, no entanto o agente selecionado é biotrófico sendo imprescindível para o sucesso deste programa o desenvolvimento de formulação (meio de cultura) que possibilite a criação massal artificial em laboratório. Outra possibilidade seria a produção massal deste fungo sob seu hospedeiro vivo, ou seja, a produção de tumores (galhas) e conseqüente esporulação em mudas de amarelinho. Isto poderá ser realizado através da utilização de um número considerável de mudas que sob casa de vegetação e alta taxa de umidade relativa serão um substrato adequado à colonização fúngica. O transporte deste material contaminado ao campo fornecerá grande quantidade de inóculo que será disperso naturalmente, principalmente pelo vento. Haverá a necessidade de cronologia entre a fenologia da planta e a necessidade do patógeno, ou seja, a inundação de esporos no campo deverá ocorrer em épocas em que os tecidos meristemáticos da planta estejam presentes e as condições climáticas favoráveis. A ocorrência natural deste patógeno inicia-se no outono com a presença da fase espermogonial que atravessa o inverno e finda-se na primavera, sendo procedida pelas fases ecial, uredinial e telial (VITORINO et al., 2005). A utilização da técnica aumentativa segundo os resultados obtidos no sub-projeto citado acima, também poderá ser aplicada através do manejo das condições necessárias ao desenvolvimento da doença. Neste sentido, os resultados obtidos demonstram que o corte de plantas presentes nas áreas de infestação, cerca de 45 a 30 dias antes do aparecimento natural do mesmo, propiciando uma grande produção de brotações é uma boa medida para aumentar a quantidade desta ferrugem no campo. Tais cortes poderão ser realizados em faixas ou em pequenas áreas (parcelas) dispersas pelas áreas infestadas, criando áreas de grande 10 concentração fúngica que serão centros de dispersão para o resto da população da planta alvo. Outra necessidade para a implementação desta técnica é a necessidade da presença de umidade nas folhas das plantas durante o início do processo de infecção. Para tal, o corte de plantas em áreas sombreadas e o envolvimento de brotações com sacos plásticos se faz necessário. Outra forma viável de tentativa de controle biológico não clássico é a associação das técnicas inundativa e aumentativa, lembrando que no caso da técnica inundativa atualmente só é possível através da criação do patógeno sobre o hospedeiro – mudas de amarelinho. Obviamente apenas a utilização da ferrugem do amarelinho Prospodium appendiculatum poderá não ser suficiente para o controle das áreas de infestação no Sul do Brasil, principalmente porque os danos causados por este patógeno afetam a dispersão da planta, ou em casos de infecções recorrentes, o stress fisiológico causado à planta permitirá que outros agentes encontrados associados ao amarelinho nas áreas de estudo possam causar danos mais significativos. Vários foram os artrópodes associados ao falso-ipê-de-jardim encontrados nos 3 Estados do Sul (Tabela 01). Tabela 1. Índice de freqüência e cálculo de constância de insetos e ácaro possíveis agentes de controle, e de cigarrinhas transmissoras da CVC, associados a T. stans, no período de novembro/ 2002 a outubro/ 2003. Londrina-PR. Freqüência Constancia Espécies (%) (%)1 2 Acari Tetranychus ludeni Zacher, 1913 (Tetranychidae) 45,3 25 Y Homoptera Acrogonia citrina (Cicadellidae) 2,8 63,6 X Bucephalogonia xanthophis (Berg, 1879) (Cicadellidae) 0,22 18,2 Z Dilobopterus costalimai Young, 1977 (Cicadellidae) 0,48 31,8 Y Macugonalia leucomelas (Walker, 1851) (Cicadellidae) 2,4 59,1 X Oncometopia fascialis (Signoret, 1854) (Cicadellidae) 4,1 81,8 X Parathona gratiosa (Cicadellidae) 0,66 31,8 Y Lepidóptera 2 Eulepte sp. (Pyralidae) 15,4 45,9 Y Espécie 139 (Sphyngidae) 0,53 5,0 Z Thalesa citrina (Sepp, 1848) (Arctiidae) 0,26 2,7 Z Espécie 142 (Tortricidae) 0,22 1,8 Z 1 X= Espécie constante; Y= Espécie acessória; Z= Espécie acidental. 2 Índices calculados em relação a análise visual. A maioria destes inimigos naturais são generalistas com exceção de Eulepte sp. que trata-se de espécie nova e não dispõe de informações sobre especificidade, sendo pouco provável que algum deles venha a se prestar e satisfazer, dentro dos princípios do controle biológico, todas as exigências para uso em um projeto de controle do amarelinho. Além disso, a maioria deles são importantes pragas agrícolas que utilizam o amarelinho como hospedeiro alternativo. IMPLANTAÇÃO INFESTADAS. DE ESPÉCIES DE RÁPIDO CRESCIMENTO JUNTO ÀS ÁREAS ESPÉCIES EXÓTICAS A utilização de espécies exóticas de rápido crescimento pode ser outra forma viável de regular as populações de Tecoma stans no Estado do Paraná, principalmente a espécie Pinus taeda. A abertura de faixas para o plantio de Pinus poderá, a curto prazo (2 a 3 anos), iniciar um processo de estresse ou até mesmo supressão das plantas de amarelinho, causadas pela 11 concorrência e sombreamento. Os principais fatores para a indicação da espécie Pinus taeda como uma alternativa ao controle do amarelinho são os seguintes: Em maio de 2001 o Ministério do Meio Ambiente - MMA editou a Instrução Normativa nº 01 estabelecendo que o plantio de espécies florestais nativas ou exóticas com a finalidade de produção e corte, em áreas agrícolas, de pecuária, alteradas, sub-utilizadas ou abandonadas, localizadas fora das áreas de preservação permanente e de reserva legal estavam isentas da apresentação de projeto e de vistoria prévia; estabeleceu também que o Ibama, ou o órgão conveniado, em qualquer tempo poderia realizar vistoria nos plantios determinando ainda que por ocasião da colheita e comercialização, os proprietários deveriam informar as espécies, quantidades e destinatários com vistas à legalização da circulação desses produtos. Em agosto de 2004 com a edição da Instrução Normativa nº 08 revogando a IN01 de 2001, o MMA isentou os proprietários de florestas plantadas com exóticas alóctones (o caso do Pinus) de prestar quaisquer informações ao Ibama. Neste sentido, entendemos que o MMA, sensível a atual demanda de madeira proveniente de reflorestamentos e a importância deste setor para a conservação da biodiversidade brasileira, apóia o plantio de novas áreas de reflorestamentos de espécies do gênero Pinus e Eucalyptus. É evidente que tais plantios não podem ser realizados sem critérios técnicos ou em qualquer área. A maioria absoluta das áreas infestadas por amarelinho no Paraná são de pequenas propriedades, onde o proprietário na maioria das vezes, por falta de recursos, realiza um manejo inadequado na reforma das culturas ou mesmo abandona áreas que encontram-se nutricionalmente esgotadas. Grande parte das propriedades visitadas possuem baixo índice de mecanização e aplicação tecnológica. O gênero Pinus, sabidamente de alta plasticidade e rápido crescimento, possui condições de adaptação a estas áreas, podendo concorrer com as plantas de amarelinho com a vantagem de após 2-3 anos de idade, iniciarem um processo de sombreamento nas populações de Tecoma stans. A crescente demanda por madeira de Pinus, seu valor comercial, o conhecimento da silvicultura e a fácil comercialização na região são fatores favoráveis e estimulantes ao pequeno proprietário rural para investir nas áreas ocupadas pelo amarelinho. A possibilidade de obtenção de financiamento oficial para a implantação dos povoamentos. A necessidade de fornecer aos pequenos proprietários rurais uma alternativa viável para a recuperação das áreas infestadas. As medidas acima citadas são indicadas apenas para as áreas de infestação do Estado do Paraná, ou em áreas onde o amarelinho não esteja associado à vegetação nativa como é o caso no Rio Grande do Sul. ESPÉCIES NATIVAS A utilização de espécies nativas em plantios consorciados nas áreas de infestação também é uma alternativa viável na tentativa de supressão das populações de amarelinho, desde que as espécies selecionadas tenham crescimento rápido e fácil adaptação às condições das áreas onde o amarelinho habita. Segundo CARVALHO (1994), as espécies Guazuma ulmifolia Lam e Trema micrantha Bloom, conhecidas popularmente como mutambo e grandiúva, são espécies que apresentam essas características, além de possuírem madeira de valor comercial sendo potenciais candidatas à experimentação para tal utilização. A utilização de espécies nativas é mais desejada do que a utilização de espécies exóticas, porém alguns fatores devem ser considerados: A falta ou o pouco conhecimento silvicultural sobre as possíveis espécies potenciais pode causar desestímulo aos pequenos produtores, principalmente se tais plantios exigirem muita manutenção, por exemplo controle de pragas ou tratos culturais e silviculturais freqüentes. A necessidade de seleção de espécies de rotação curta, embora, uma maior rotação possa ser compensada pelo valor da madeira. No entanto, a visão da maioria dos proprietários de terra é a da possibilidade de utilização da área para alguma atividade que propicie retorno financeiro em curto prazo e preferencialmente com baixo custo de implantação, caso contrário preferem não intervir nas áreas infestadas. 12 Quais serão os requisitos para a exploração comercial da madeira de forma sustentada no futuro, precisa ser definida com antecedência e garantida pelos órgãos ambientais. Experiência neste sentido vem sendo desenvolvida pelo Instituto Hórus (Silvia Ziller comunicação pessoal) no Estado do Rio Grande do Sul, podendo servir de referência para as ações no Paraná. CONFLITOS DE INTERESSES QUANTO À UTILIZAÇÃO DO GÊNERO PINUS Recentemente alguns trabalhos têm relatado as características invasoras do gênero Pinus no Brasil, principalmente relacionado à sua presença em Unidades de Conservação. A espécie está citada também no informe nacional sobre espécies invasoras, e é facilmente encontrada invadindo áreas degradadas, abandonadas, de pasto nativo e mesmo em áreas de floresta nativa com algum grau de antropização. Por outro lado, esta essência conta hoje com cerca de 2 milhões de hectares plantados, é a base do setor florestal no sul do País, sendo de grande importância na balança econômica brasileira (cerca de 10% das exportações são do setor florestal) além de contribuir significativamente com o Produto Interno Bruto - PIB nacional. Embora importante, é impossível não admitir que o gênero Pinus tenha potencial invasor (Figura 08), sendo necessárias medidas preventivas para a contenção de sua dispersão e conseqüente estabelecimento em áreas não desejadas. O Zoneamento Ecológico Econômico – ZEE poderá ser uma importante ferramenta neste sentido, porém não será suficiente para evitar tais infestações. Há a necessidade urgente de que o setor florestal invista em pesquisa nas diferentes áreas de plantio de Pinus spp. para o conhecimento das características de dispersão e estabelecimento locais para que medidas preventivas ou de controle possam ser tomadas precocemente. É provável que a solução venha através do melhoramento genético no desenvolvimento de plantas estéreis ou com sementes não aladas ou de peso maior, lembrando também aqui a importância do ZEE. Embora com potencial invasor, as espécies de Pinus não possuem todos os atributos de uma invasora como o amarelinho, sendo que as principais características favoráveis do gênero e que minimizam sobremaneira sua classificação como invasora são o fato de só se reproduzir naturalmente através de sementes, ou seja, não rebrotar o que facilita seu controle mecânico, além de possuir controle químico conhecido e eficiente. Outra característica importante é que sua madeira possui valor comercial, além das sementes, estando ai o conflito de interesses, mas tornando as ações de controle factíveis economicamente. Desta forma acreditamos que a indicação de plantios de Pinus spp. associados às áreas de infestação de amarelinho, em regiões já alteradas pela atividade agrosilvipastoril como é o caso do Estado do Paraná, não se trata de uma medida absurda, mas importante, pois pode estimular a vontade dos proprietários de terra na participação da resolução do problema conciliando a uma atividade lucrativa com o uso da terra. Ainda assim, a possibilidade de êxito no uso de espécies nativas torna-se fascinante e não menos importante. Neste sentido, sugerimos a experimentação de plantios com espécies nativas e também Pinus spp., com a ressalva de que áreas onde sejam feitos consorciamentos com Pinus spp., 10% da área total a ser recuperada seja consorciada com espécies nativas. Desta forma, espera-se poder demonstrar a viabilidade do uso das espécies nativas, criando uma conscientização através de ações na prática. PROPOSTA DE ESTRATÉGIA PARA A IMPLEMENTAÇÃO DO PLANO DE MANEJO – POLÍTICAS PÚBLICAS - Fiscalizar o cumprimento da Lei (Resolução Estadual 151/97) no Estado do Paraná. - Fomentar o desenvolvimento do controle biológico na área de invasões biológicas através do lançamento de editais específicos, principalmente para o controle biológico de plantas indesejáveis. Priorizar o financiamento para a realização de controle biológico clássico, prevendo a necessidade de busca de inimigos naturais no exterior (passagens e estada para o exterior) com duração de até 03 anos possibilitando a realização de acordos internacionais de cooperação entre entidades de pesquisa. No caso do amarelinho a busca por seus inimigos 13 naturais deverá ser feita principalmente no México e Sul dos Estados Unidos, cooperando com entidades mexicanas (universidades, departamento de agricultura) ou ainda com a unidade do CSIRO-Australia no México. Já nos Estados Unidos a cooperação poderá ser realizada com o Departamento de Agricultura – USDA, Serviço Florestal – USFS ou Universidades. As entidades americanas USDA e USFS são também agências de fomento possuindo acordos de cooperação com o Brasil através de Universidades americanas (Universidade da Flórida e Universidade de Manoa – Havaí), para o controle biológico de algumas plantas nativas de nossa flora e consideradas indesejáveis naquele País. O desenvolvimento do controle biológico de plantas depende basicamente do conhecimento adquirido através de experiências de sucesso, do conhecimento gerado nas resoluções de problemas e do investimento realizado no setor. - Incentivar o desenvolvimento e a utilização de micoherbicidas ou bioherbicidas sempre que possível (Controle Biológico não Clássico). - Fomentar a criação de leis estaduais que proíbam a comercialização de mudas e estacas, plantio e produção de sementes do amarelinho, principalmente nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do País. - Incentivar a inclusão de cadeiras (disciplinas) sobre invasões biológicas e controle biológico de plantas indesejáveis em cursos como: Biologia, Engenharia Florestal, Agronomia, Engenharia Ambiental, Medicina Veterinária, Zootecnia entre outros. Neste sentido alguns cursos já tratam do assunto, como os cursos de Engenharia Florestal da Universidade Regional de Blumenau – FURB, e o curso de Engenharia Florestal da Unicentro, além do curso de Pósgraduação em Engenharia Ambiental da FURB. A Universidade Federal de Viçosa também já conta com cadeiras que tratam sobre invasões biológicas. - Criar critérios junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ibama e Embrapa para adaptar a IN 16 de 1999, para viabilizar o credenciamento de entidades de pesquisa e universidades como quarentenários. Esta medida visa o credenciamento de órgãos qualificados técnica e estruturalmente para utilização de parte de sua estrutura física como quarentenário, a ser utilizado na introdução de agentes de controle biológico (inimigos naturais) de uma determinada espécie vegetal, ou seja, credenciamento temporário para a execução de um determinado projeto. Esta medida visa compensar a atual estrutura quarentenária brasileira (apenas duas quarentenas, uma em Jaguariúna-SP na Embrapa Meio Ambiente (CNPMA) e outra em Brasília-DF na Embrapa Recursos Genéticos (CENARGEN)), insuficientes para um País das dimensões do Brasil. Tal medida é justificada principalmente na agilização dos trabalhos envolvidos em introduções de material biológico como criação, adequação ao hospedeiro, testes de especificidade, entre outros. Solução como esta, vem sendo adotada na introdução de parasitóides para o controle dos pulgões do Pinus (Cínara atlântica e Cínara pinivora), com o credenciamento do Laboratório de Entomologia do Centro Nacional de Pesquisas Florestais CNPF da Embrapa em Colombo no Paraná. Desta forma, com o credenciamento temporário de instituições habilitadas espera-se agilizar o desenvolvimento do controle biológico clássico de plantas indesejáveis no Brasil. Em nenhum momento está sendo recomendado que o sistema quarentenário brasileiro deva sair do controle do governo, muito pelo contrário, apenas possibilitar a outras instituições envolvidas com controle biológico, fiscalizadas e credenciadas pelos órgãos governamentais competentes, desenvolver seus programas de controle de forma ágil e desburocratizada. - Monitorar as populações de amarelinho nas áreas de infestação através de Técnicas de Sensoriamento Remoto. Neste sentido a Universidade Regional de Blumenau através do Departamento de Engenharia Florestal e do LAMPF, iniciaram um projeto de pesquisa para o desenvolvimento de técnicas de monitoramento das áreas invadidas pela planta através do uso de imagens de resolução espacial e espectral médias (Landsat) nos municípios de Londrina, Assai, Congoinhas e Cornélio Procópio no Estado do Paraná. Os resultados preliminares mostram comportamento espectral similar ao de áreas de pastagem e culturas anuais agrícolas, sendo necessário aprofundar a análise das respostas espectrais e testar imagens da época de floração da planta ou utilizar imagens de alta resolução espectral, como do sensor Hyperion/E0-1. - Criar campanhas de conscientização sobre o manejo de plantas de amarelinho no ambiente urbano, através da distribuição de folders, realização de palestras e entrevistas nos mais 14 diversos meios de divulgação. Tais campanhas deverão ter como público alvo principalmente organizações/empresas que atuem na área de ornamentação e paisagismo como viveiros de mudas, floras e floriculturas, além do público em idade escolar do ensino médio e fundamental. As campanhas de divulgação deverão ser realizadas principalmente nas regiões onde o processo de invasão já está estabelecido (Região Sul) e também noutras onde o potencial de invasão é bastante grande (Regiões Sudeste e Centro-Oeste). As campanhas no meio rural poderão ser executadas pelos órgãos de extensão de cada Estado. CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização do controle biológico na resolução de problemas advindos de invasões biológicas causadas por plantas no Brasil ainda não possui nenhum caso de êxito, na verdade nunca houve nenhuma proposta neste sentido que fosse implementada. Esta proposta de manejo para a espécie Tecoma stans constitui-se na primeira tentativa de implementação de um programa de controle, fundamentado principalmente no controle biológico, de uma espécie invasora vegetal. Para tanto, é fundamental que novos editais para financiamento contemplem a possibilidade de realização de programas de controle biológico clássico. Outra questão importante é a conscientização a nível nacional da problemática relacionada às invasões biológicas, principalmente dos setores produtivos ligados a introdução dos mais diversos organismos. Há a necessidade premente de divulgação dos problemas atualmente enfrentados no País advindos de introduções mal sucedidas e sem nenhum critério. Neste sentido, o Ministério do Meio Ambiente através do PROBIO e do FNMA, poderá contribuir decisivamente incluindo em seus futuros editais a necessidade de divulgação destas problemáticas através de meios de comunicação de massa. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, P. C. R. Espécies florestais brasileiras: recomendações silviculturais, potencialidades e uso da madeira.1 ed. EMBRAPA-CNPF: Brasília 1994. 604 p. DUTRA, J. C. S.; MACHADO, V. L. L. Entomofauna visitante de Stenolobium stans (Juss.) Seem (Bignoniaceae), durante seu período de floração. Neotropical Entomology, v. 30, n. 1, p. 43-53, 2001 FURTINI NETO, A. E.; RESENDE, A. V. de; VALE, F. R. do; SILVA, I. R. 1999. Liming effects on growth of native woody species from Brazilian savannah. Brazil. Pesquisa-AgropecuariaBrasileira. 34: 5, 829-837; 26 ref. GALLETO, L. 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