PDF - Sociedade Brasileira de Reumatologia

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ABR / MAI / JUN 2016 • No 2 • ANO XL
Editorial
Dor física ou sentida na alma...
T
ratamos muito além do que enxergamos. Diariamente nos
deparamos com a queixa de dor. Dor que pode ser física
ou sentida na alma, descrita em palavras, retratada em
fotografias e pinturas ou mesmo declamada em poesias e músicas.
Muitas vezes de difícil aferição, escondida nas entranhas, com
cicatrizes invisíveis e indeléveis, incapazes de julgamento e, não
raramente, de difícil tratamento. Quem nunca teve o sintoma de
dor também com certeza padece de alguma doença. Como diria
Arnaldo Antunes na música “De mais ninguém”: “Se eu não tenho
o meu amor. Eu tenho minha dor (...)”.
A Sociedade Brasileira para Estudo da Dor define dor como experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada
a lesão real ou potencial dos tecidos, sendo que cada indivíduo
aprende a utilizar esse termo através das suas experiências vividas
anteriormente. A reumatologia, como especialidade ímpar com
possibilidade de atuação multidisciplinar, tem papel fundamental no
tratamento de pacientes com dor aguda ou crônica. Além de grande
área de atuação e campo aberto de mercado de trabalho, possibilita
ao profissional da área da saúde vivência singular ao defrontar-se
diariamente com o alívio do sofrimento daqueles que nos procuram.
Dr. Roberto Heymann, reumatologista com experiência na área de
atuação de dor, escreve texto sobre o assunto.
Além disso, quem nunca precisou de uma ajuda do destino
para realizar escolhas na vida profissional? Dr. Latorre, reumatologista experiente e ex-presidente da Sociedade Paulista
de Reumatologia, com área de atuação tanto na vida pública
como privada, conta-nos sobre a experiência de trabalhar no
sistema público de saúde. Afinal, para que tanta pressa em
tomar essa decisão? O que vale a pena experimentar?
Na seção Rheuma & Ethos, dr. José Marques escreve
sobre “Qual o tempo mínimo para uma consulta médica?”
Há uma definição clara para o tema? Devemos cronometrar
nossa ação e relação com o paciente? Não deixem de ler este
texto imperdível.
Muitas notícias ainda da Sociedade Brasileira de Reumatologia e através das regionais. Enfoque especial ainda para a
reumatologia pediátrica, com três reumatologistas pediatras
contando-nos o porquê desta escolha e o dr. Clóvis Artur,
chefe da Reumatologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP, literalmente sempre correndo
atrás de melhores resultados.
Aproveitem!
Edgard Reis
SOCIEDADE
BRASILEIRA DE
REUMATOLOGIA
Diretoria Executiva da SBR – Biênio 2014-2016
Presidente
César Emile Baaklini – SP
Tesoureiro
José Roberto Provenza – SP
Secretário-geral
José Eduardo Martinez –SP
Vice-Tesoureiro
Luiz Carlos Latorre – SP
1º Secretário
Silvio Figueira Antonio – SP
Diretor científico
Paulo Louzada Jr. –SP
Representante junto à Panlar
Adil Muhib Samara – SP
Antonio Carlos Ximenes – GO
Fernando Neubarth – RS
Maria Amazile Ferreira Toscano – SC
Representante junto ao Ministério da Saúde
Ana Patrícia de Paula – DF
Mário Soares Ferreira – DF
2º Secretário
Washington Alves Bianchi – RJ
Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Av. Brig. Luís Antônio, 2.466, conjuntos 93 e 94
01402-000 – São Paulo - SP – Tel.: (11) 3289-7165 / 3266-3986
www.reumatologia.com.br
@ [email protected]
@ [email protected]
Coordenação editorial
Edgard Torres dos Reis Neto
Jornalista responsável
Maria Teresa Marques
Editores
Tania Caroline Monteiro de Castro
Renê Donizeti Ribeiro de Oliveira
Sandra Hiroko Watanabe
Layout
Sergio Brito
Colaborador
Plinio José do Amaral
2
Impressão
Sistema Gráfico SJS
Tiragem: 2.000 exemplares
ÍNDICE
Representante junto à AMB
Eduardo de Souza Meirelles – SP
Gustavo de Paiva Costa – DF
Ivone Minhoto Meinão - SP
3
4
6
8
10
14
15
16
18
20
22
23
Espaço do residente
SBR.doc
Notas
O melhor do Brasil
Por que me tornei reumatologista
Profissão reumato
Coluna Neubarth
Rheuma & Ethos
Por onde andei
Coluna Seda
Foco em
Além da Reumatologia
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
E s pa ç o
do rEsidEntE
Sou um
reumatologista.
E agora?
Que tal considerar a carreira pública como opção
após completar a residência? Veja o que diz sobre a área
um reumatologista que nela atua há 34 anos
Luiz Carlos Latorre
Reumatologista e servidor público desde 1982.
Terminei a residência médica!
Passei na prova do título de especialista!
Sou um reumatologista!...E agora?
Continuo nos plantões de PS?...UTI?...
Mas eu sou um reumatologista!
... Mas eu preciso casar!!!
Serviço Público? Ambulatório privado? Consultório?
D
úvidas que, há 34 anos, eu tinha e, por incrível que
possa parecer, ainda tenho (com o adendo de que,
hoje, não penso em casar!). Naquele tempo havia algumas
vantagens interessantes nos serviços públicos. A remuneração não era tão precária e muitos deles serviam ao público,
creio, melhor que hoje. Presidentes, ministros, deputados
eram do quadro de serviços públicos! Não acreditam?
Perguntem aos seus pais. E havia ainda a vantagem de o
concurso dar estabilidade de emprego que, concordemos,
tinha um papel importante na escolha.
Outro estímulo para a carreira pública era um vínculo com
a pós-graduação senso lato (residência médica ou especialização) ou senso estrito (mestrado ou doutorado). Não tenho
dúvidas que a pós-graduação, atrelada ao serviço público,
hoje continua sendo o maior atrativo para essa empreitada.
Trabalho honesto e eficaz
Nestes 34 anos de serviço público tive muito mais satisfações que decepções. Pode-se fazer um trabalho honesto e
eficaz, mesmo em condições adversas. Com algumas “ilhas
de exceção” o médico faz o nome do serviço e não o contrário! Claro que o renome da própria instituição, por mérito
presente ou passado, conta na escolha e contribui para a
satisfação e promoção pessoal.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
No entanto, de modo geral, nos dias de hoje vejo um
declínio preocupante na qualidade dos serviços públicos.
Faltam verbas, salários dignos que façam jus a todo o nosso
investimento, condições institucionais, etc, etc...
O médico acaba perdendo o estímulo e, contrariamente a
sua vocação, mal atendendo seus pacientes, o que o deixa, às
vezes mesmo sem perceber, numa condição de desconforto
extremo.
Sem dúvida, um plano justo de cargos e carreira pode
vir a corrigir, parcialmente esse desequilíbrio na balança
investimento intelectual x qualidade digna de atuação e
sobrevivência. Cabe aos nossos gestores, desde que por
mérito e não por leilão de cargos, definirem um resgate da
qualidade de atendimento que, podem acreditar, mesmo
longe do ideal, já existiu.
“
Com algumas ‘ilhas de exceção’ o
médico faz o nome do serviço e não
o contrário! Claro que o renome da
própria instituição, por mérito presente
ou passado, conta na escolha e contribui
para a satisfação e promoção pessoal.”
3
sB r . d o c
Divulgação de Balancete
A Sociedade Brasileira
de Reumatologia
divulga Balancete gestão 2014/2016
– em 31/03/2016 e
Demonstrativo do
Resultado do Exercício até
31/03/2016.
Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR)
Balancete – Gestão 2014-16
ATIVO
DISPONÍVEL
Caixa
Bancos - Conta movimento
Investimentos - ADM
Investimentos - FAP
CRÉDITOS
Anuidades
Adiantamentos - Regionais
Resultados - Eventos
Patrocínios
Adiantamentos - Salariais
IMOBILIZADO
Imóveis - Sede SP
iPads - Prog. AR na Vida Real - Brasil
31/03/2016
17.619.546,58
15.635.887,55
452,66
15.262,38
10.540.252,07
5.079.920,44
1.111.199,45
316.588,50
494.610,95
0,00
300.000,00
0,00
872.459,58
843.221,28
29.238,30
PASSIVO
FORNECEDORES
Prestadores de serviços
TRABALHISTA
Saldo de salários
Contribuição previdenciária
Fundo de Garantia
PIS - Folha de pagamento
TRIBUTOS
Retidos na fonte
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Patrimônio social acumulado
Superávit
31/03/2016
17.619.546,58
0,00
0,00
23.520,92
15.298,15
6.522,87
1.511,02
188,88
2.625,77
2.625,77
17.593.399,89
14.623.587,73
2.969.812,16
Valores em reais - R$
31/08/2014
14.662.904,43
12.856.067,26
1.413,16
3.700,22
8.368.655,14
4.482.298,74
963.615,89
366.996,00
104.120,00
134.173,16
357.784,00
542,73
843.221,28
843.221,28
–
Demonstrativo do Resultado
Gestão 2014-16
Valores em reais - R$
Até 31/03/2016
RECEITAS
Anuidades
5.436.410,79
808.060,58
Financeiras
2.449.697,55
Patrocínios
1.000.000,00
Eventos oficiais
1.178.652,66
DESPESAS
2.466.598,63
Administrativas
1.614.061,68
Atividades
-58.169,47
Publicações
910.706,42
SUPERÁVIT
2.969.812,16
Valores em reais - R$
Prezado associado:
Comunicamos que tivemos alguns problemas com a emissão
de boletos da anuidade de 2016 da SBR, no Banco do Brasil.
Caso você receba a cobrança do Banco do Brasil, solicitamos
que não efetue o pagamento desse boleto.
O boleto da anuidade de 2016 será encaminhado posteriormente via Banco Safra/Itaú aos associados, mas com tempo
hábil de quitação, sem danos a ninguém.
Atenciosamente
Diretoria executiva
4
31/08/2014
14.662.904,93
20.457,82
20.457,82
17.763,38
11.335,40
5.094,67
1.185,17
148,14
1.096,00
1.096,00
14.623.587,73
14.623.587,73
–
Sócio da SBR pode pagar
anuidade em eventos
A Tesouraria da SBR informa a seus associados
que, durante os eventos oficiais da Sociedade Brasileira de Reumatologia, será possível acertar as
anuidades diretamente no estande da SBR, por meio
de cartão de débito ou de crédito. Os boletos de
anuidades serão encaminhados via correio a partir
da segunda quinzena de maio e terão vencimento
em 30/06 conforme o Estatuto da SBR.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
Membros
da Comissão
de Título de
Especialista em
Reumatologia
da SBR.
Comissão de Título de Especialista
saúda novos reumatologistas
A presidente da Comissão
de Título de Especialista
em Reumatologia da
SBR, dra. Emilia Inoue
Sato, parabeniza e dá
as boas-vindas aos
novos reumatologistas,
profissionais aprovados
na prova de obtenção de
Título de Especialista em
Reumatologia – 2016.
Veja, ao lado, a carta da
dra. Emilia:
“
Caros reumatologistas
Em nome da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia, gostaria de lhes
transmitir nossos parabéns e dar boas-vindas à grande família de reumatologistas! Os srs(as)
estão aptos(as) a exercer a especialidade e ajudar a diminuir o sofrimento dos pacientes
com doenças reumáticas.
Podemos ressaltar que os srs(as) estão entrando para um mercado de trabalho em uma
fase difícil da economia brasileira, mas reumatologistas são especialistas ainda em falta em
nosso meio.
O trabalho realizado com dedicação e competência deverá trazer o reconhecimento profissional e com ele o sucesso financeiro. De qualquer forma, há necessidade de atualização
continuada, pois o progresso na área médica é espantosamente rápido. Felizmente, o avanço
tecnológico permite a atualização do especialista à distância, portanto, independentemente
de onde os srs(as) optem por trabalhar, nunca deixem de estudar e se atualizar! Muito
sucesso e felicidades!”
Profa. Dra. Emilia Inoue Sato
Presidente da Comissão de Título de Especialista em Reumatologia da Sociedade Brasileira de Reumatologia.
Aprovados na prova para obtenção de TE em Reumatologia
(março 2016)
ALOISIO ANTONIO GOMES DE MATOS BRASIL
ANA PAULA ADAME
ANA PAULA KLEIN DIAS
AYSA CESAR PINHEIRO
BRUNA COSTA DA MATA
BRUNA LAIZA FONTES ALMEIDA
BRUNO RUBINSTEIN
CAIO CAVALCANTE MACHADO
CARINI IUMI OTSUZI
CARLA FORGIARINI SALDANHA
CARLA LEMOS GOTTGTROY
CARLOS ANTONIO GUSMAO G DE MOURA
CRISTIANE BERNARDES MEDEIROS CASTEDO
DAMARIS OTT
DANIELE MAIA DE JESUS
DIEGO LOPES DE BARROS
DIOGO SANTORO COSTA DA SILVA
ELIANE TEREZINHA FETISCH
FABIO VICENTE LEITE
FARLEY CARVALHO ARAUJO
FELIPE SEBASTIAO DE ASSIS REIS
FLAVIO AUGUSTO DELBEM CHAGAS
GABRIELA DAFFRE CARVALHO
GABRIELLA STEFENONI KRUGER
GIORGINA FALCAO BRANDAO CORTES GOBBO
GLENIO MARCHEZAN GUTJAHR
GUILHERME GOMES DIAS CAMPOS
ISABELLA MATIAS RIBEIRO
JOANA MARINS SOARES
JOANA STARLING DE CARVALHO
JOSE DE PAULA LIMA JUNIOR
JULIANA D’AGOSTINO GENNARI
KARINE SOARES DE SOUZA
LEONARDO TEIXEIRA DE MENDONCA
LIVIA MACHADO FARIA
LIVIA MADEIRA
LORENA CHAVES DE MELO CASTELO BRANCO
LUCAS LEONARDO DE CASTRO BORGES
LUIZ FELIPE DIPE PRATES MIRANDA
LUIZA DE ARAUJO PORTO
LYSIANE MARIA ADEODATO RAMOS FONTENELLE
MARCELA GROBERIO BORBA GALVAO
MARIA ESTER SIMEIRA FONSECA
MARIA GABRIELA LANG
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
MARIANA ALVES DA SILVA
MARILIA SIMOES BIANCHINI
MARTA ALINE COELHO DA COSTA
MURILLO DORIO QUEIROZ
NATALIA RODRIGUES QUERIDO FORTES
PAULA GUIOMAR UBIRAJARA FRANZON DE SA
RAFAELA MARTINEZ COPES
RAQUEL GOMES DE OLIVEIRA
REBECA CARDOSO DE FARIAS
RENATA VALENTE LISBOA
RICARDO AMARO NOLETO ARAUJO
ROBERTA HORA ROCHA
RODRIGO BARBALHO CHAVES
RODRIGO PERES TOLEDO
TACIANA FERNANDES ARAUJO PEREIRA
TAISA MORETE DA SILVA
TALITA KASSAR SIVIERI
THAISA TENORIO ABREU
THAMMI DE MATOS AMORIM
VIVIANE MACHICADO CAVALCANTE
WALESA BASTOS SILVINO
WILDNER MARDEGAN SARDENBERG
5
n ota s
RBR passa a ter apenas versão eletrônica
Devido ao alto interesse dos leitores da Revista Brasileira
de Reumatologia pela versão eletrônica de leitura, a Sociedade Brasileira de Reumatologia decidiu manter apenas o
acesso à revista através deste meio. Os editores da RBR
divulgaram uma carta aberta aos sócios da entidade, explicando em detalhes os motivos da mudança. Veja abaixo:
“Caros amigos e colegas da reumatologia:
Fizemos recentemente a renovação de contrato da Revista Brasileira de Reumatologia (RBR) com a Elsevier pelo
próximo biênio. Em nossas negociações, ponderando-se
o contexto econômico delicado do País, conseguimos que
não houvesse reajuste de valores. No entanto, estendemos
a discussão durante a reunião anual da diretoria executiva
e das comissões a respeito dos investimentos e das necessidades para subsidiar nossas decisões junto a revista.
A versão impressa da RBR vem sendo enviada aos sócios
gerando-se um gasto anual somente com a impressão de R$
60 mil, sem que haja captação de recursos significativa em
patrocinadores. Verificamos que grande parte dos colegas
que leem a revista o fazem através da versão eletrônica e
buscam artigos de seu interesse, fazendo o acesso gratuito
pela web seja na página da publicadora ou na base Scielo.
Estivemos também em reunião com a equipe que reestrutura a página da Sociedade Brasileira de Reumatologia
(SBR) para expor nosso interesse em ampliar a divulgação
e facilitar o acesso à RBR. Em breve deveremos contar
com o envio de mensagens eletrônicas a todos os sócios
com o índice de cada volume que permitirá o acesso a cada
artigo ao se clicar no título. Teremos também a possibilidade de ler os artigos através da página da SBR tanto em
computadores como em dispositivos móveis, atendendo às
demandas de indexação da Scielo e seguindo as tendências
do mercado atual.
Portanto, tendo em vista a subutilização das revistas
impressas e o gasto substancial com elas, decidimos manter
apenas a versão eletrônica. Acreditamos que seja a maneira
mais racional de uso de recursos sem prejuízo para a RBR.
Continuamos contando com a colaboração de todos para
o sucesso de nossa revista.”
Atenciosamente
Marcos Renato de Assis
Roberto Ezequiel Heymann
Editores-chefes da RBR
Simone Appenzeller
Marcelo de Medeiros Pinheiro
Claiton Viegas Brenol
Editores associados da RBR
Homenagem a
reumatologista em Londrina
Doenças autoimunes foram
tema de evento em Leipzig
A linda cidade de Leipzig, na Alemanha,
recebeu em abril deste ano, mais de 2 mil
congressistas do mundo todo interessados
na troca de conhecimentos das mais de 80
doenças autoimunes até agora identificadas.
A cidade onde Richard Wagner nasceu, Johann Sebastian Bach tocava suas
composições na Igreja de São Tomás e Johann Wolfgang von Goethe frequentava o Auerbachs Keller, um dos bares mais famosos do mundo, é conhecida
pelos eventos culturais, museus e pelas suas igrejas.
Dentre os brasileiros que apresentaram seus trabalhos estavam os drs. Luis
Eduardo Coelho Andrade, Roger Levy, Tania Caroline Monteiro de Castro,
Sofia Fernanda Gonçalves Zorzella-Pezavento, Larissa Lumi Ishikawa, Ida
Cristina Gubert, Paula David, Mônica Prado, Francisco Assis de Andrade,
Danielle Baldo, e Juliana Goldbaum Crescente.
Com esse clima de aprendizado cultural e de conhecimentos médicos, Leipzig nos mostrou o fascínio de uma volta ao passado e, ao mesmo tempo, o
conhecimento científico visionário das patologias autoimunes.
6
A médica Margarida de Fátima
Fernandes Carvalho foi homenageada pela Câmara Municipal de
Londrina (PR), por proposta do
vereador Roque Neto, que lhe concedeu o título de Cidadã Honorária
de Londrina. A dra. Margarida
foi superintendente do Hospital
Universitário entre 2010 e 2014,
é docente do curso de Medicina da
Universidade Estadual de Londrina
(UEL) e reconhecida como das mais
competentes profissionais na área
de reumatologia pediátrica. A dra.
Margarida foi também presidente
do Departamento de Reumatologia
Pediátrica da Sociedade Brasileira
de Reumatologia.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
A pacata Guararema recebeu
a XVI Reciclagem da Reumatologia Unifesp
Participantes da
XVI Reciclagem
da Reumatologia
Unifesp: destaque
para presença
de egressos do
Nordeste.
A XVI Reciclagem da Reumatologia
Unifesp ocorreu nos dias 7 a 10 de abril
de 2016, em Guararema, uma linda e
pacata cidade a pouco mais de 70 km
da capital paulista, margeada pelo rio
Paraíba do Sul e rodeada pela antiga
estrada de ferro Central do Brasil, fundamental para o crescimento do povoado
e atração de imigrantes. A sessão de
abertura foi sobre um dos temas mais
atuais e relevantes: As arboviroses e
as artropatias crônicas: O que está por
vir?, sob a tutela da dra. Carolina Lázari, médica infectologista e responsável
pela assessoria médica do laboratório
Fleury. O ponto alto da discussão foi a
participação de diversos egressos, particularmente provenientes do Nordeste,
que citaram o grande número de casos
diários e graves encaminhados para
avaliação do reumatologista.
Nos outros dias do evento, a abordagem teórica foi feita em pequenos
grupos de 20-25 pessoas (workshops),
promovendo interatividade e discussão
de problemas práticos da vida diária
dos reumatologistas. Nesta edição, o
setor de Procedimentos e de Reabili-
O nobre legado do professor Charles Joel Menkès
Dra. Helenice Gonçalves
Charles Joel Menkès nasceu em Paris, em 14 de maio de 1932 e em 1942
deixou a França com a família por causa do nazismo, emigrando para o Brasil.
Fez o ensino secundário no Liceu Francês no Rio, curso que terminou em 1947,
quando retornou para o Lycee Condorcet. Bacharel em 1949, entrou para a
Faculdade de Medicina de Paris. Casou-se em 1957 com Pierrette Zolotarevsky,
com quem teve três filhas que lhe deram nove netos.
Em 1966 escreveu a sua tese sobre complicações pulmonares nas doenças
do tecido conjuntivo pela qual recebeu a medalha de prata. Em 1966, tornou-se chefe professor clínico assistente no Hospital Cochin. Em 1980, chefe do
departamento de Reumatologia do Hospital Cochin, onde abriu as portas a
estagiários.
Inovou dentro da reumatologia francesa e mundial com a publicação de
inúmeros trabalhos. Dr. Menkès morreu em 8 de janeiro de 2016, em consequência de complicações de cirurgia abdominal.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
tação fez demonstrações práticas de
infiltrações intra-articulares e de partes
moles em modelos vivos, bem como de
órteses e fisioterapia. No domingo, pela
primeira vez, a reciclagem foi realizada
em conjunto com o Encontro Anual de
Pós-Graduação.
Não deixe de visitar a Turma Reciclagem EPM, no Facebook, e no site:
www.reciclagemreumatounifesp.com.br,
a fim de atualizar-se e inscrever-se nas
atividades da Disciplina. Mantenha-se
atualizado e não perca a próxima.
Até 2018.
João Francisco
Marques Neto é
maestro Panlar 2016
Em 10 de abril de
2016, na abertura
do Congresso Panlar
Panamá 2016, o reumatologista brasileiro João Francisco
Marques Neto foi
homenageado com
a nominação de Maestro Panlar 2016.
O reumatologista foi escolhido em
sessão do comitê executivo do Panlar
em fevereiro deste ano.
7
o
mElhor do
Brasil
Notícias das regionais
CEARÁ
Sociedade promove encontros e palestras
A Sociedade Cearense de Reumatologia (SCR) já realizou atividades importantes neste ano e passa a divulgá-las.
• Em 12/03/2016 foi realizado, no
Marina Park Hotel, o evento promovido
pela SCR em parceria com a ABBVIE,
quando foram abordados casos difíceis
na reumatologia. O evento foi aberto
pela presidente da SCR, profa. dra.
Sheila Fontenele.
SCR e ABBVIE realizaram evento no
Marina Park Hotel.
• Em 12/04/2016, o dr. Theogenes M.
Silva palestrou sobre diagnóstico e tratamento das espondiloartrites. O evento
ocorreu no Hospital Geral Waldemar
Alcântara e foi destinado a clínicos, em
especial os residentes de Clínica Médica,
mostrando a importância do diagnóstico
e tratamento precoce da doença.
• Em 26/04/2016, às 19 horas, no
restaurante Alchymist houve mais um
Ciclo de Palestras da Sociedade Cearense de Reumatologia. A dra. Sâmia
Studart ministrou a palestra “Drogas
anti-reumáticas no período perigestacional: indicação, eficácia e segurança”
e explicou quais são as drogas seguras
para uma gestante lúpica, quais as drogas não indicadas, drogas usadas no período perigestacional, no aleitamento e
também a vacinação em recém-nascidos,
filhos de mãe que foram submetidas aos
medicamentos imunossupressores.
PARAÍBA
Curso do Gruparj teve apoio de regional
Com apoio da Sociedade Paraibana de Reumatologia e a
convite da organização da Jornada Norte Nordest, o Grupo de
Pacientes Artríticos do Rio de Janeiro em Petrópolis (Gruparj
Petrópolis) realizou o XXXI Curso de Educação em Saúde
para Portadores de Doenças Reumáticas na cidade de João
Pessoa, em 19 e 20 de abril de 2016.
O número expressivo de participantes, 87 no total, confirma o bom resultado obtido nos cursos anteriores. Com a
participação de aproximadamente 35 pessoas com artrite
reumatoide, diversos assuntos foram abordados, o que, além
do aprendizado, proporcionou ao grupo maior integração
e disponibilidade para esclarecimentos de dúvidas e novos
questionamentos. Surpreendeu o nível cultural dos participantes e o número de profissionais da área da saúde presentes: fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia, nutricão e
enfermagem, inclusive do centro de infusão do hospital que
agradeceram todo o aprendizado proporcionado pelo curso.
8
Novidades: fan page e site
A SCR tem duas novidades
importantes de comunicação.
Uma fan page no Facebook,
criada para encurtar as distâncias entre os reumatologistas
cearenses e os pacientes da
reumatologia, e um site, onde
é possível acompanhar as
ações realizadas pela SCR,
bem como encontrar um reumatologista que atenda pelo
plano do paciente ou mais
próximos sua residência.
Endereço Facebook:
www.facebook.com/
scearensereumatologia
Endereço site:
reumatoceara.blogspot.com.br
GOIÁS
Sociedade goiana divulga
eventos para 2016
Neste ano, a Sociedade Goiana de Reumatologia
já tem programados vários eventos e planeja ainda
realizar outros que terão futura confirmação.
A grade de eventos já aprovados é a seguinte:
• Outubro
Tema: Encontro GO-DF
Programação a ser definida.
• Novembro
Tema: Sessão clínica HC-UFG
Programação a ser definida.
Novo site
A regional de Goiânia
tem um novo site,
importante canal de
comunicação entre seus
sócios e a entidade. Para
acessar, digite: www.
reumatologiago.com.br.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
PARANÁ
Reuniões científicas e simpósios
estão entre ações mensais
As atividades da Sociedade Paranaense de Reumatologia formam uma agenda
mensal que inclui reuniões científicas e
simpósios. Tais eventos têm participação
média de 50 médicos e profissionais
que discutem sobre as mais novas tecnologias em diagnóstico e clínica, além
de relatos de casos e discussões fundamentadas em experiências do cotidiano
dentro de suas práticas habituais.
Abaixo estão as atividades de maior
destaque nos últimos meses e a programação especial do mês de junho.
Abril – Nesse mês, os médicos da
Sociedade Paranaense de Reumatologia
participaram de um simpósio em parceria com a UCB Biopharma. O palestrante
foi o dr. Max Victor Carioca de Freitas,
que falou sobre os imunobiológicos em
monoterapia. Na reunião científica, o
tema foi Biológicos e Biossimilares,
com palestras dos drs. Thaís Meneghetti
(Emprego de Biológicos na Infância e
Adolescência), Valderílio Feijó Azevedo
(Biossimilares) e Fernanda Borghi (Estudos de Caso do Hospital de Clínicas).
Ainda em abril, a SPR foi destaque
na mídia paranaense, com entrevistas do
presidente, Marco Rocha Loures, que
discursou sobre Lúpus Eritematoso para
a Rádio Difusora, além dos médicos Valderílio Feijó Azevedo, Carolina de Souza
Müller e Roberto Antonio Carneiro, que
tiveram quadros especiais no programa
Vida em Ação (TV Evangelizar) e conversaram ao vivo com os telespectadores sobre Lúpus, Artrite Reumatoide/
Artrose e Ácido úrico, respectivamente.
Maio – A associada Anna Hermínia de
Amorim concedeu, em maio, uma entrevista à Rede Globo na qual falou sobre o
Curso de Capacitação em Reumatologia
que ministra para médicos da Rede
Ação Fibrocuritiba,
na Boca Maldita,
em Curitiba:
participação de 15
reumatologistas para
atender à população.
Pública de Saúde do norte do Paraná.
Ainda em maio, a SPR participou do II
Encontro Regional Para Conscientização
Sobre Lúpus, em Londrina, quando
estiveram presentes as reumatologistas
Margarida Carvalho e Tatiana Veiga.
Aconteceu também em maio o ciclo
de palestras do 1° Dia Mundial de
Atenção à Pessoa com Lúpus, na cidade
de Maringá, evento que teve apoio da
Câmara Municipal, do vereador Flávio
Vicente, da Fan Page Lúpus e Você e
do grupo Angel’s Health. Na ocasião, o
presidente da SPR discursou a pacientes,
familiares e amigos, dando orientações
sobre a doença.
Foi um sucesso a Ação do Fibrocuritiba (foto), grupo de apoio para familiares
e pacientes diagnosticados com fibromialgia. O evento, na Boca Maldita, em
Curitiba, aconteceu em parceria com a
SPR e contou com cerca de 15 médicos
reumatologistas e demais profissionais
que deram à população orientações
sobre saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento, avaliações dos especialistas e
esclarecimento de dúvidas a respeito da
doença. Aproximadamente 200 pessoas
foram atendidas.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
Na penúltima semana do mês, foi
realizado um simpósio (em parceria
com o laboratório Pfizer) com o tema
Tofacitinibe – Atualização de Dados e
Práticas Clínicas, com os palestrantes
David Titton e Pedro Weingrill. Também
foi realizada uma reunião científica, com
palestras dos reumatologistas Andreas
Funck e Luís Santos de Freitas, além da
dermatopatologista Betina Werner, que
falaram sobre vasculites.
Junho – Nesse mês, a programação
da SPR será especial, com a realização,
de 23 a 25, da XX Jornada do Cone
Sul de Reumatologia e VII Jornada Paranaense de Reumatologia, em Foz do
Iguaçu (PR). A programação científica
do evento trará aos participantes as mais
modernas informações da área, incluindo atualização na clínica, diagnóstico e
terapêutica, além de discussões sobre as
dificuldades do dia a dia no consultório.
No dia 30 de junho, a programação
encerra-se com um simpósio, em parceria com a Abbve, cujo tema é Manifestações Extra-articulares nas Espondilites
(Manifestações Oculares).
9
por
Q u E m E to r n E i r E u m ato lo g i s ta ?
Reumatologia aliada à pediatria
Três profissionais da pediatria que agregaram a reumatologia a sua formação
falam sobre seus processos de escolha. Na vida de Blanca Elena Rios Gomes,
o balé atravessou lindamente seu caminho, mas um incidente físico mudou tudo.
Já a reumatologista Cássia M. Passarelli Lupoli Barbosa tem a Unifesp ligada a suas escolhas.
E, para Teresa Cristina M. Vicente Robazzi, unir pediatria e reumatologia
foi forma de não perder contato com crianças e adolescentes.
Acompanhe os depoimentos de cada uma delas.
Blanca Elena
Blanca Elena Rios Gomes Bica
Professora adjunta de Reumatologia;
chefe do Serviço de Reumatologia do
Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho (HUCFF), Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ)
Sem médicos na família, minha vida
médica teve alguma influência do “destino”.... Meu pai era advogado e minha
mãe, comerciária. Ambos sempre nos
incentivaram a realizar atividades paralelas tais como música, idiomas e balé.
Fui aluna da antiga Escola de Danças
do Teatro Municipal, cuja base era a
formação clássica, com duração de nove
anos. Aos 17 anos, deparei-me com uma
importante decisão a tomar: seguir a
carreira de bailarina, que eu amava, ou
10
prestar vestibular para Medicina (desejo
de meu pai). Sempre simpatizei com a
ideia de estudar o corpo humano, mas
a dança era a minha vida.
Estudei com conhecidos mestres
internacionais do balé e me preparava
para uma vaga no tão sonhado Corpo de
Baile do Teatro Municipal do Rio. Entretanto, paralelamente prestei vestibular
para Medicina, sendo aprovada para a
UFRJ, que era o desejo de qualquer aspirante à carreira médica. Iniciei o curso
convencida de que, assim que passasse
no concurso para o teatro, trancaria a
faculdade para seguir meu sonho de
bailarina. Contudo, o “destino” prega
suas peças e, um mês antes do concurso,
tive um abdômen agudo cirúrgico que
me afastou da dança por mais de oito
meses, o que me fez cursar a faculdade
de Medicina, pois não podia dançar
naquele momento.
No terceiro ano do curso médico,
minha mãe foi diagnosticada com artrite
reumatoide. Tinha doença refratária,
que me obrigou a estudar intensamente
essa doença tão complexa para entendê-la. Como adoro crianças, optei pela
pediatria e no primeiro ano de residência
médica na UFRJ tive contato com a profª
Sheila Oliveira que guiou meus primeiros passos na especialidade.
Os conhecimentos adquiridos durante
a enfermidade de minha mãe facilitaram
nosso entrosamento e a partir daí decidi
que seria reumatologista pediátrica.
Além disso, é uma especialidade que
tem muito a ver com a atividade física...
Durante o concurso para professora de
Reumatologia pediátrica da Faculdade
de Medicina da UFRJ, um dos membros
da banca me fez a seguinte pergunta
após ler meu memorial: “Você escolheu
a reumatologia por que foi bailarina
ou por que sua mãe tinha artrite reumatoide?” Sorri e respondi: “Acho que
ambas foram fundamentais na minha
escolha...”
Teresa Cristina M. Vicente Robazzi
Professora adjunta do Departamento
de Pediatria da Faculdade de Medicina
da Bahia, Universidade Federal da Bahia
(FMB/UFBA – pediatria/reumatologia
pediátrica)
Quando entrei na Faculdade de
Medicina, tive uma certeza quase que
imediata: seguiria uma área clínica em
que pudesse explorar o raciocínio e os
diagnósticos diferenciais. Bastava deixar
o tempo correr para que as descobertas,
as afinidades e as paixões aflorassem.
Quando estudei Reumatologia, percebi
que um fascínio muito grande e um
encantamento tomavam conta de mim.
Sentia um grande prazer em estudar a
disciplina e grande interesse por aqueles
pacientes, acometidos por doenças nem
sempre amigáveis, precisando não só de
tratamento, mas também de compreen-
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
Teresa Cristina
são e apoio psicológico. Me questionava
até onde o emocional e a vida pessoal
poderiam interferir sobre o desenvolvimento das doenças.
O curso de Medicina seguiu adiante,
houve novas descobertas e entre elas
o conhecimento da pediatria. Veio
então a oportunidade de fazer a minha
residência em pediatria no Instituto da
Criança-USP, de onde só guardo memórias lindas e pessoas muito especiais no
meu coração. Neste ambiente, o destino
ou o universo, ou seja lá como cada um
queira interpretar, mais uma vez me
colocou diante da reumatologia, agora
pediátrica.
Desde o primeiro ano de residência,
havia um magnetismo. Fosse qual fosse
o estágio pelo qual eu passasse, eu literalmente atraía pacientes do serviço de
reumatologia pediátrica para ficarem
sob a minha responsabilidade. O contato, a evolução, o estudo destes pacientes
reacenderam de imediato o interesse por
esta especialidade.
Não tive mais muitas dúvidas em relação a qual seria a minha opção de R3.
Me dedicaria a esta especialidade, que
havia me tocado em fase mais precoce
da minha jornada acadêmica, e manteria
meu contato com as crianças e os adolescentes. Percebi que essa opção me
daria a oportunidade de oferecer uma
qualidade de vida melhor a muitas crianças portadoras de doenças crônicas. E
que seria infinitamente recompensador
ver uma criança voltar a correr, pular e
brincar. Enfim, nesta especialidade, eu
poderia nem sempre oferecer a cura, mas
poderia oferecer alguma melhora e atenuação do sofrimento de uma criança.
A especialidade exigiria o aprimoramento da relação médico–paciente, e
aqui a escuta, o carinho, o apoio e a
humanização da relação seriam imprescindíveis. Tudo isso aliado ao fato de ser
uma especialidade clínica, investigativa
e cheia de descobertas.
Sabia que a jornada não seria fácil
e que encontraria dificuldades pelo
caminho, sobretudo quando retornasse
à minha cidade natal. Mas, talvez, isto
tenha tornado a escolha ainda mais
interessante. Um desafio. E hoje não
me arrependo, sobretudo quando estou
atendendo no serviço público do Hospital Professor Edgar Santos, da UFBA,
e recebo um abraço ou um sorriso dos
meus “meninos e meninas reumáticos”.
Cássia M. Passarelli Lupoli Barbosa
Pediatra, reumatologista pediatra.
Médica assistente do setor de
reumatologia pediátrica da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp)
“Uma ideia que fica balançando no
trapézio do meu cérebro” é uma frase
de Machado Assis que me acompanha
desde que a li na adolescência.
Toda a minha vida acadêmica aconteceu na Unifesp, onde terminei a
graduação em 1982. Durante o curso
interessei-me pela reumatologia (no tempo do querido professor Edgard Atra).
Matéria intrigante! No ano seguinte,
paixão pela pediatria.
Fiz minha escolha e em 1984 terminei
a residência, em um tempo no qual as
especialidades pediátricas ainda engatinhavam. Virei pediatra, fui mãe de três
filhos e fiquei 15 anos longe da Unifesp, com a ideia de voltar balançando
na cabeça. Voltei em 1999 disposta a
aprender uma especialidade dentro da
pediatria; escolhi reumatologia. Matriculei-me, voltei a ser aluna, fiz estágio de
dois anos, atendi sob supervisão, estudei
muito! Reencontrei a reumatologia em
uma fase de grande desenvolvimento,
com novos tratamentos e a possibilidade de melhor qualidade de vida para
os pacientes. Veio a paixão da idade
adulta, mais madura, calma, segura. Fiz
mestrado, doutorado. Em 2007 fui para
o Hospital Infantil Darcy Vargas, onde
na época não havia reumatologista pediátrico. Reiniciei o serviço, que cresceu;
conta hoje com três profissionais para
o atendimento de pacientes da especialidade e para o ensino de residentes de
pediatria.
Filhos criados e bem encaminhados,
volto para a Unifesp. Outras ideias penduradas no trapézio do meu cérebro...
Cássia
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
11
p r o f i s s ã o r E u m ato
O desafio de proporcionar
alívio ao paciente
Será que estamos preparados para proporcionar o alívio da dor ao nosso paciente?
Roberto Ezequiel Heymann
Assistente Doutor da Disciplina de Reumatologia
da Universidade Federal de São Paulo /Unifesp.
A
dor, o quinto sinal vital é o principal sintoma pelo qual
os pacientes procuram o reumatologista. As doenças
reumáticas, geralmente crônicas, cursam com sintomas, em
especial a dor, que perduram e flutuam em intensidade ao
longo do tempo.
Frequentemente nos deparamos com um paciente cujo
quadro doloroso é desproporcional à atividade inflamatória
da doença de base naquele momento. Esta condição é observada com frequência em pacientes com artrite reumatoide ou
lúpus eritematoso sistêmico. Eventualmente, eles apresentam
marcadores de inflamação sistêmica dentro da normalidade
e ausência de inflamação articular, embora seus índices de
atividade da doença encontrem-se acima do valor normal e
a queixa de dor encontra-se presente, por vezes, exagerada.
Esta dicotomia observada frequentemente na prática reumatológica reflete mudanças fisiopatológicas nos mecanismos
de controle da dor, que podem modificar as características do
quadro doloroso ao longo do tempo, quando uma ocorrência inicialmente inflamatória pode sofrer influências álgicas
secundárias a danos estruturais articulares ou relacionadas
à amplificação dos mecanismos centrais de sensibilidade
dolorosa. Além desses fatores, o quadro álgico certamente
sofre influências culturais, sociais, religiosas e emocionais,
que aumentam a complexidade do seu tratamento.
Estes fatos explicam por que cerca de 20% a 30% dos pacientes com doenças reumáticas inflamatórias são acometidos
concomitantemente pela fibromialgia ou apresentam sintomas
sugestivos de amplificação dolorosa.
Como dar o alívio?
Será que estamos preparados adequadamente para proporcionar o alívio da dor que nosso paciente tanto anseia?
Recebemos suporte educacional suficiente para determinar
as diferentes características de dor por eles apresentadas?
Sabemos manejar adequadamente as diversas modalidades
de medicamentos utilizados nestes casos?
Apesar de o preparo durante a formação do reumatologista
ser insuficiente nesta área de atuação, temos observado um
número cada vez maior de reumatologistas realizarem um
esforço individual para suprir esta falha. A própria Sociedade
Brasileira de Reumatologia, reconhecendo esta carência na
nossa formação, tem investido, nos últimos 20 anos, em
cursos específicos.
Sem dúvida, devemos considerar essa providência como
uma grande evolução da nossa especialidade, pois no passado não muito longínquo o médico reumatologista tinha
preconceito em atuar nesta área, dando ênfase somente para
queixas de natureza autoimune, ficando o paciente sem uma
atenção adequada para o seu quadro de dor.
Felizmente, nossos colegas reumatologistas têm se conscientizado da necessidade de assumir seu papel na área de
atuação da dor, aprofundando seus conhecimentos nesta matéria e oferecendo uma assistência melhor aos seus pacientes.
Este movimento dentro da nossa especialidade tem resultado, ainda que timidamente, em uma reavaliação curricular
por parte dos serviços de formação reumatológica, agregando
ao alto nível de conhecimento clínico o complexo estudo do
tratamento da dor.
14
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
coluna nEuBarth
A luz da lua
em maio
Fernando Neubarth *
Q
uando Suyana sentiu as primeiras
contrações ainda era dia, mas,
à medida que elas foram se tornando
mais frequentes, também a escuridão se
avolumava. Estava apreensiva, carregava
em si, além do significado de seu nome
– esperança -, todos os temores do mundo. O trabalho de parto deu-se numa
singular competição com a chegada da
lua. Um caprichoso bordado ascendia
às margens opostas da grande várzea,
uma luz líquida, cristalina, revelando
cada reentrância, cada pedra, os muros
que formavam os terraços onde sua
família, seus parentes e vizinhos plantavam feijão, milho, batata. No mesmo
instante em que um mar de luz rasgou
definitivamente o vale, ouviu-se o choro
forte de Killari. Para Jarawi, o poeta, não
poderia ser outro o nome. No idioma
quíchua, luz de lua.
Inspirada por tanto aclaramento, a
menina cresceu com um espírito curioso
aliado a uma singular sagacidade. Foi assim que, numa das tantas andanças que
faria, acompanhando o pai no pastoreio
das alpacas, notou que os animais quando doentes bebiam em águas próximas a
árvores de casca grossa e flores rosadas.
Da observação ao experimento, logo os
incas aprenderam a fazer chás da casca
da quina-quina e a amarga infusão bem
servia no combate à febre e a dor.
O fato real é que, quando os conquistadores espanhóis chegaram à
América, havia na farmacopeia inca um
medicamento com base no revestimento
do tronco de um arbusto da família Rubiaceae, a mesma do café. O primeiro
a descrevê-la teria sido o padre jesuíta
Antonio de la Calancha, em 1633: “Uma
árvore cresce, que eles chamam árvore
da febre, na região de Loxa, cuja casca
tem cor de canela. Quando transformada em pó, juntando-se uma quantidade
equivalente ao peso de duas moedas
de prata, e oferecida ao paciente como
bebida, ela cura febre e tem curado
miraculosamente em Lima”.
Os jesuítas passaram a usá-la para
tratar malária e logo levaram a novidade
à Europa. Em 1742, Lineu a batizaria
de Cinchona, dessa fazendo parte pelo
menos 40 variedades diferentes de
espécies, sendo a C. ledgeriana e C.
officinalis as com maior teor de quinina.
O nome basear-se-ia na lenda de que
a esposa do vice-rei do Peru, Ana de
Osório, condessa de Chinchón, teria se
curado da malária tornando-se “garota
propaganda” do remédio milagroso, o
“pó da condessa”.
Comércio lucrativo
Em 1820, os químicos franceses
Jo seph Pelletier e Joseph Caventou
isolaram a quinina das cascas da Cinchona e a identificaram como sendo um
alcaloide. Bem mais tarde reconhecida
como da classe dos quinolínicos. Durante anos, a exploração e o comércio
lucrativo renderiam lucros e aventuras
para contrabandistas e piratas. Os holandeses levaram da América sementes
selecionadas e plantaram-nas em Java,
com grande sucesso. Em 1940, os nazistas apoderaram-se de todo o estoque
europeu ao invadir Amsterdã. Os aliados
ficaram sem medicação para os milhares
de soldados que contraíam malária nas
campanhas da África e Ásia. Em plena
guerra, uma expedição norte-americana
chegava aos Andes, enquanto químicos aliados tentavam criar substitutos
sintéticos.
Atualmente, outros antimaláricos,
tanto de origem sintética quanto naturais, como a cloroquina e a primacrina,
resultaram na diminuição do uso farmacológico de quinina. Ela ainda é, no
entanto, o fármaco mais eficiente contra
a malária devida ao Plasmodium falciparum. Seu derivado, a quinidina, segue
útil em arritmias cardíacas. E de maneira
mais prosaica, como flavorizante, esse
pó branco, inodoro e amargo mantém-se
bem perceptível no sabor da água tônica.
Filha dileta, a cloroquina foi descoberta por Hans Andersag e colegas, da
Bayer, em 1934 e possui, em semelhança
à quinina, o núcleo quinolínico. Para
além de seu uso como antimalárico, é um
importante medicamento em doenças
auto-imunes, artrite reumatoide, lúpus
eritematoso sistêmico, porfiria cutânea
tarda. Utilizada com segurança na gravidez, parece reservar mais uma boa
surpresa nessa já longa história.
Pesquisadores dos Institutos de Biologia e de Ciências Biomédicas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) e do Instituto D’Or anunciaram
que a cloroquina pode ser eficaz na
proteção dos cérebros de fetos contra a
infecção pelo vírus da zika, evitando os
tão temidos danos cerebrais e o fantasma
da microcefalia. Falta a pesquisa em humanos, mas a notícia, no início de maio,
mês das mães, do ano da graça de 2016,
é um alento. E a luz da lua, presente
nesses dias, parece predizer um futuro
menos sombrio.
* Médico e escritor. Presidente da SBR, gestão 2006-2008
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
15
rhEuma & Ethos
Qual o tempo mínimo para uma
José Marques Filho
Presidente da Comissão de Ética e Disciplina da Sociedade Brasileira de Reumatologia
Ao longo dos muitos anos em que exerci a função de conselheiro do Conselho
Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), ouvi, por diversas vezes, um
questionamento formulado por médicos e jornalistas ligados à área da saúde
e a pacientes: qual o tempo mínimo para uma consulta médica?
U
ma lenda que circulou pela comunidade
médica durante muito tempo, divulgada
por algumas autoridades sanitárias, é que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendava, principalmente nos atendimentos públicos,
quatro pacientes por hora. Portanto, segundo
essa recomendação, no período de quatro horas
de trabalho, o médico seria obrigado a atender
16 pacientes, com média de 15 minutos para
cada um. Na verdade, essa recomendação nunca
passou de uma lenda, mas sempre foi utilizada
para determinar, autoritariamente, o número de
pacientes que deveriam ser atendidos em quatro
horas de trabalho, independentemente da especialidade do médico.
Com o passar do tempo, essa determinação foi
estendida aos atendimentos privados, principalmente aqueles cobertos pelos planos de saúde.
No Brasil não existe norma ética ou legal determinando um tempo mínimo para consulta médica.
Por outro lado, a legislação ética atual – o
Código de Ética Médica – determina:
Capítulo II
DIREITO DOS MÉDICOS
VII – Decidir, em qualquer circunstância,
levando em consideração sua experiência e capacidade profissional, o tempo a ser dedicado ao
paciente, evitando que o acúmulo de encargos
ou de consultas venha a prejudicá-lo.
Alguns conselhos regionais têm sugerido um
número de atendimentos por hora que entendem
como adequados. O Cremesp tem vários pareceres sobre o tema, mas dois, em nossa visão,
merecem destaque:
CONSULTA CREMESP n° 29349/97
EMENTA: A duração da consulta para dois pacientes com uma mesma doença poderá ter variações enormes na prática diária, dependendo de
uma série de fatores. A relação médico-paciente
é a base de qualquer ato médico e, portanto, deve
ser protegida de qualquer tentativa de restrição.
CONSULTA CREMESP n° 87399/14
EMENTA: Não deve existir número grande ou
pequeno de pacientes por jornada de trabalho e
sim atendimento adequado, competente, atencioso e pertinente ao quadro; a chamada “linha
de produção” não é meio ético de assistência
médica aos cidadãos.
Repito, com muita frequência, que em medicina nada é mais importante que o paciente e que
a busca da excelência é uma obrigação de todos
que exercem nossa nobre profissão. Em minha
visão, esse é o norte que deve ser perseguido
por todos nós.
16
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
consulta médica?
“
Não é possível que se
pratique uma medicina
de excelência sem que
cumpramos um check list
obrigatório – identificação,
queixa principal, história da
doença atual, antecedentes
pessoais, antecedentes
familiares e cuidadoso
exame físico”.
Como um piloto de avião
Na área da reumatologia, especialidade eminentemente clínica, a coisa fica um pouco mais
complicada.
Embora seja uma relação um pouco pedante,
porém muito didática, a consulta médica deve
ser comparada à atividade diária de um piloto de
avião. Todos já observamos que, antes do início
do voo, a tripulação realiza, sistemática e obrigatoriamente, um check list sob a supervisão do
piloto, que é o comandante e responsável maior
pela segurança da tripulação e dos passageiros.
Na área médica também temos nosso obrigatório check list para cada paciente. O nome que
se dá para esse procedimento é semiologia ou
propedêutica clínica.
Não é possível que se pratique uma medicina
de excelência sem que cumpramos um check
list obrigatório – identificação, queixa principal,
história da doença atual, antecedentes pessoais,
antecedentes familiares e cuidadoso exame físico.
Atualmente, quando todo conhecimento médico
está, democraticamente, disponível a todos os
médicos, a diferença de competência e qualidade entre os profissionais pode ser medida pela
eficiência do uso desse instrumento obrigatório
– a semiologia médica.
Incluam-se nesse tempo de consulta a obrigatória informação ao paciente e os devidos
esclarecimentos, direitos de todos os cidadãos.
Direitos estes, vale a pena ressaltar, devidamente tutelados pela legislação ética e judicial
brasileira.
Alguém consegue realizar esse check list
obrigatório, nos ambulatórios e consultórios especializados em reumatologia, em 15 minutos?
Impossível!
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
ERRATA
Na edição do Boletim da Sociedade Brasileira de Reumatologia Jan/Fev/Mar 2016, na seção Rheuma & Ethos, o texto
“Ética em pesquisa” foi atribuído erroneamente pelos editores
a outro autor. A autora do referido texto é a reumatologista
dra. Lilian Schade, membro da Comissão de Ética e Disciplina
da SBR. Lamentamos profundamente o ocorrido e os possíveis
transtornos causados a todos os envolvidos neste episódio.
Ressaltamos que o Boletim tem como objetivos levar informação de qualidade de forma clara, ágil, agradável e imparcial
ao associado da SBR.
Os editores
17
por
ondE andEi
Islândia, uma
aventura extrema
Flávio Sztajnbok, reumatologista pediátrico da Universidade Federal do
Rio de Janeiro e Universidade do Estado do Rio de Janeiro
– Senhores passageiros, favor afivelar o
cinto de segurança e colocar a sua poltrona
na posição vertical. Em poucos instantes
estaremos pousando em Keflavik.
Do lado de fora da janela, tudo branco,
muito branco. E, de repente, aquele solavanco significando que o avião pousou.
Pousou? Mas continua tudo branco, muito
branco, visão mantida há mais de 30 minutos, sem qualquer modificação. Mas sim, o
avião tinha pousado e não se enxergava nada
além do branco. Assim fomos recebidos
em Keflavik, cidade onde fica localizado o
aeroporto internacional da Islândia, a cerca
de uma hora de ônibus ou carro da capital,
Reykjavik. Recebidos com uma
tempestade de neve. Nunca
imaginei que pudesse haver
condições de pouso daquela
maneira. Mas, depois, soube
que os pilotos islandeses são
capazes de pouso ou decolagem nas piores condições
atmosféricas possíveis. Era tanto vento e
tanta neve que mal conseguíamos caminhar
para pegar o flybus, tradicional e mais barato transporte para a capital.
A família toda já me perguntava o que
estávamos fazendo ali. Antigo desejo meu de
infância, curiosidade em conhecer um país
tão diverso e inóspito, local onde a aurora
boreal mostrava-se mais bela, habitado por
descendentes de vikings perdidos em pleno
oceano Atlântico, e onde as baixas temperaturas eram amenizadas pela Corrente
do Golfo que, vinda do Golfo do México,
aquecia a costa islandesa. Este foi o primeiro
“mal-entendido”: não sei por onde andava
a tal corrente que, durante os oito dias em
que lá passamos, não “deu as caras” não.
A temperatura de dia variava de -5oC a +
5oC, mas a sensação térmica variava de -10
a -25oC!
Mas a aurora boreal, quando vamos ver
a aurora boreal? Esta é a primeira pergunta
que todos fazem ao desembarcar. Mas é bom
saber que só é possível apreciá-la de outubro
a abril, no inverno islandês. Mas cuidado
com as definições de estação do ano. Por
18
exemplo, no verão, a temperatura fica muito
agradável, chegando a 15oC de dia!!!
Língua incompreensível
Bom, os dois primeiros dias foram em
Reykjavik, capital de um país com menos
de 500 mil habitantes e aonde se fala uma
língua impossível de ser compreendida.
Aqui outro “mal-entendido”. Na Islândia
fala-se islandês, língua que utiliza as letras
ocidentais. Ledo engano. Muitas das letras
são ocidentais, mas há letras estranhíssimas
e mesmo uma coisa pequena pode ter um
nome imenso e impossível de pronunciar.
Por exemplo, se você procura uma agência
de turismo para um passeio, deve pedir
“ferðaþjónustu auglýsingastofu”. Deu para
falar? A língua é uma mistura de norueguês
com faroese antigo (Ilhas Faroe, ali perto).
A capital é pequena, mas muito bonita. Estava tudo congelado, inclusive o grande lago
atrás do Parlamento, que serve de local para
esquiar e caminhar a pé durante o inverno.
A vista da cidade a partir da torre da Igreja
Hallgrímskirkja é estonteante(foto 1). Antes de
sairmos para o interior do país, fomos à Blue
Lagoon, complexo geotérmico aonde você
toma banho em uma água azul claríssima a
cerca de 37-39oC, enquanto a temperatura
externa é de cerca de zero graus com muita
neve em todo o redor(foto 2).
Mas o nosso objetivo era ir para o interior
do país para conhecê-lo melhor e, longe das
Foto 2: Blue Lagoon: águas
quentes com neve ao redor
luzes e qualquer possibilidade de poluição,
podermos admirar a aurora boreal. No primeiro dia, partimos para oeste e, dentre as
várias paradas, a mais impressionante foi escalar um vulcão (Grábrók) para apreciarmos
a cratera. Não era muito alto, mas o vento
a cerca de 80 km/h tornava a subida difícil,
com uma sensação de estarmos escalando
o Himalaia, a ponto de os membros do
grupo ter de apoiar-se uns nos outros para,
literalmente, não voar. À noite, dormirmos
na cidade de Borgarnes, onde presenciamos
a primeira e mais bela das auroras boreais
que veríamos durante a viagem(foto 3).
Por volta da meia-noite, batidas na porta
do nosso quarto chamavam para ver a
aurora, que surgira de repente de forma
intensa (também pode desaparecer repentinamente). E o hotel inteiro entra em um
estado de excitação, todos correndo para ver
a aurora. Só um pequeno problema: à noite,
a temperatura lá fora era de cerca de -10oC e
todos estávamos sob bons cobertores. Volta
todo mundo para os quartos para colocar
casacos e casacos sobre os pijamas, as meias,
as botas... Nosso grupo teve muita sorte,
pois presenciamos a aurora boreal por seis
noites, enquanto há grupos que viajam por
uma semana e não conseguem ver nenhuma.
A aurora boreal (ou austral, na Antartica) ocorre após o choque de partículas
eletricamente carregadas vindas do sol
com gases de nossa atmosfera. Assim,
Foto 5: Vulcão Eyjafjallajökull e a fazenda localizada
a seu pé, já existente muito antes da erupção.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
Foto 1: Vista da cidade de
Reykjavik a partir da torre da
Igreja Hallgrímskirkja
Foto 4: Geysir no
momento da explosão
a possibilidade de visualização depende
da intensidade das explosões solares, da
ausência de poluição e luzes ao redor e de
um tempo claro. São várias cores, sendo a
verde a mais frequente, significando que a
luz solar está colidindo com o oxigênio em
baixas altitudes. Outras cores são menos
comuns, como vermelho, azul e púrpura,
mais associadas ao choque com oxigênio
em altas altitudes e nitrogênio.
Outro “mal-entendido”: a aurora boreal é
visível nos polos norte e sul. Na verdade, ela
é visível nos polos magnéticos da Terra, que
não são exatamente localizados nos polos
geográficos. Por exemplo, apenas a parte sul
da Groenlândia e norte da Escandinávia conseguem ver a aurora. O único país inteiramente inserido no cinturão que corresponde
ao polo magnético no hemisfério norte é a
Islândia. Ou seja, de qualquer ponto do país
você é capaz de admirar a aurora, mesmo
nas cidades grandes. Voltando à aurora, é
emocionante e indescritível: luzes paradas,
de várias formas; luzes dançantes; verde,
eventualmente avermelhada. E o céu? São
tantas estrelas que parecem aqueles filmes
em que pintam estrelas no céu. E você fica
horas a fio admirando esse belo fenômeno da
natureza, e esquece até do sono, frio e cansaço. Presenciamos a aurora boreal em muitos
outros dias, mas não tão bela como neste
primeiro dia. E mais um “mal-entendido”:
não dá para fotografar a aurora de celular.
Foto 6: Vik: praia de areia preta
(lava vulcânica)
Foto 3: Aurora Boreal
e céu com inúmeras
estrelas em foto cedida
pelo amigo Ilan
Tem que levar uma boa máquina fotográfica
e tripé, pois o tempo de exposição é longo.
Degustação de ostras
Nos dias seguintes, conhecemos outras
tantas coisas belas. Mais à noroeste, fizemos
um cruzeiro a partir de Stykkishhólmur
(conseguiu falar?) com direito à degustação,
no barco, de ostras colhidas na hora no
fundo dos profundos fiordes. A rota conhecida como Golden Circle abrange a visita a
uma área com vários geysers com erupções
frequentes(foto 4), além de Gullfoss, impressionante queda d’água, mas com várias áreas
congeladas, espetáculos impressionantes.
Neste dia visitamos também uma área de
criação de cavalos islandeses, que apresentam cinco tipos de marchas, algumas únicas.
A criação destes cavalos é tão especial para
o país que, uma vez que o cavalo tenha
saído, ainda que para participar de competição ou exposição, não pode retornar sob a
desculpa de portar alguma enfermidade. Em
homenagem à minha grande amiga Cláudia
Magalhães, da Unesp-Botucatu, praticante
de hipismo, fiz uma filmagem das marchas
e, quem quiser ver, é só me escrever.
Hora de rumar para o sul e sudeste. Na
parte sul da ilha, visitamos a impressionante área do vulcão Eyjafjallajökull (leu?
é fácil: eia-fiátla-iocutl), aquele que parou
o tráfego aéreo europeu em 2010. A seu
pé, encontramos a mesma fazenda que lá
havia antes(foto 5). Na Islândia ocorrem cerca
de 300-400 abalos sísmicos ao mês, mas a
maioria não é sentida. Eles dizem que, pior
que as erupções, são as inundações que vêm
com o derretimento das geleiras secundário
ao aquecimento das explosões.
Desde o final do primário é obrigatório o
ensino de geologia, bem como os treinamentos para desastres naturais periodicamente
após a adolescência. Tivemos a chance de
conhecer muitas outras cachoeiras e quedas d’água muito bonitas. Outros pontos
altos foram a praia de lava de vulcão em
Vik(foto 6), com areia preta e vários acidentes
pós derrames de lava dentro do oceano, e a
localidade de Þingvellir, local que foi sede
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
do parlamento islandês do ano 930 a 1798
e onde tivemos a chance de andar por um
caminho que divide as placas tectônicas
norte-americana da eurasiana, ou seja, de
um lado, literalmente o submundo da Europa e, do outro, da América do Norte. Existe
uma possibilidade de mergulhar nesta fossa
oceânica, mas não tivemos tempo para isto.
No último dia da viagem, uma visita
inesquecível ao Glaciar Vatnajökull, repleto
de icebergs flutuantes indo em direção ao
mar; geleiras e mais geleiras, muitas focas à
espreita. E, finalizando a viagem, após uma
semana de ônibus pela Islândia, mais um
relaxamento na Lagoa Azul, acompanhado
de um jantar maravilhoso. E, já no fim do
jantar, aquele rebuliço: a aurora boreal aparecia quase tão linda como da primeira vez,
como que se despedindo do grupo.
Por fim, “outro mal-entendido”: a população islandesa é toda loura, pela sua
ascendência escandinava. Estudos recentes
mostraram que mais da metade da população tem genes irlandeses! Para os vikings,
era mais fácil e mais perto “roubar” mulheres na Irlanda do que na Escandinávia. É a
história mesmo.
A Islândia é um país bem caro, mas vale
a pena conhecê-lo. Não creio que haja nada
parecido, ou seja, tantas coisas diferentes
em uma ilha relativamente pequena (ao
menos a parte habitável). Notei que o ideal
é conhecer este país em duas ocasiões, verão
e inverno, pois parecem dois lugares muito
diferentes. No verão, com o degelo, os rios
e as cachoeiras ficam muito mais bonitos,
como pude verificar nas fotos, e é possível
fazer muitas caminhadas pelo interior das
geleiras. Mas é no inverno, com o clima
hostil, que o branco que cobre o país torna
tudo muito enigmático e silencioso, e ficamos pensando em como somos pequenos
diante da força da natureza. Natureza que,
neste país, é “extrema”. Fogo e água que
forjaram as sagas, palavra esta de origem
islandesa, que são as narrações, histórias e
lendas muito interessantes deste povo. E só
quem for lá entenderá o real significado do
que seja “saga”.
19
coluna sEda
Curiosidades e dúvidas na
história da artrite reumatoide
Hilton Seda
N
Dedicado ao professor dr. João Francisco Marques Neto
a história da artrite reumatoide
devem ser considerados dois
aspectos: sua descrição como entidade
autônoma e a precedência de sua denominação. Como não é raro acontecer
em relatos históricos, existem pequenas
divergências em relação ao assunto.
Classicamente, afirma-se que
a primeira individualização da
doença foi feita por Augustin-Jacob Landré-Beauvais, em tese
defendida em Paris em 1800, na
qual foram descritos nove casos
de mulheres que sofriam de uma
doença considerada como variante
da gota, por isto denominada “goutte
asthenic primitive”. Nessa tese foi estabelecida uma diferença básica: a “gota
astênica primitiva” (artrite reumatoide)
ocorreria mais nas classes pobres, “com
fraqueza primária”, a gota propriamente
dita, nas pessoas abastadas e robustas.
Também foi mostrado que a doença
era mais frequente no sexo feminino.
Estudo histológico revelou destruição
cartilaginosa provocada por tecido de
granulação(1,2).
Contrariando o geralmente admitido,
Jónsson e Helgason publicaram, em
1996, trabalho no qual afirmam que a
primeira descrição da artrite reumatoide
foi feita em livro texto da Islândia, datado de 1782, por Jón Pétursson (17731801), que distinguia a “arthritis fixa”
da “arthritis vaga”, descrita como uma
artropatia inflamatória frequente, crônica, simétrica, destrutiva, poliarticular, às
vezes apresentando manifestações sistêmicas, acometendo pessoas de todas as
idades, com maior incidência em torno
dos 40 anos e predominância feminina(3).
20
Suspeita-se que ele próprio tenha sofrido
de artrite reumatoide para explicar sua
excelente descrição.
Outras contribuições importantes
foram aparecendo, gradativamente, para
ampliar o conhecimento clínico sobre a
artrite reumatoide. Em 1819, Benjamin
Collins Brodie (1783-1862), fisiologista
e cirurgião britânico, acentuou sua lenta
evolução como também o fato de atingir,
além das articulações, bolsas e tendões.
Jean-Martin Charcot (1825-1893),
consagrado clínico e psiquiatra francês,
fez, em 1867, excelente diferenciação
entre gota, febre reumática, osteoartrite e “reumatismo crônico” (artrite
reumatoide), salientando que este era
mais comum que a gota no Hospital da
Salpêtrière, onde atuava.
Artrite reumatoide como designação
É interessante lembrar que o prédio
desse hospital foi construído no século
XVII para abrigar, inicialmente, uma
fábrica de pólvora. A designação artrite
reumatoide só apareceu em 1858, criada
por Alfred Baring Garrod (1819-1907),
justificando sua escolha porque “o nome
não implicaria em qualquer erro”(1). O
filho de Alfred Baring Garrod, Archibald
Baring Garrod (1857-1936), continuou
a tradição do pai no estudo da artrite
reumatoide e demonstrou que a alcaptonúria era doença causada por um
erro metabólico herdado(4). Em 1922,
o British Ministery of Health adotou
oficialmente a designação de artrite
reumatoide para a doença e, em 1956,
a American Rheumatism Associacion
(ARA), posteriormente denominada
American College of Rheumatology
(ACR) criou o primeiro critério para o
seu diagnóstico(1).
Um fato que desperta curiosidade
é saber se a artrite reumatoide é uma
doença antiga ou relativamente moderna. Contrariamente ao que se sabe sobre
a osteoartrite, já descrita em esqueletos
pré-históricos(5), não há dados concretos
que permitam estabelecer, com segurança, quando surgiram os primeiros
casos de artrite reumatoide.
Existiria já no século XVII?
É possível, tendo em vista
que Thomas Sydenham
(1624-1689) já fazia referência a deformidades em
pescoço de cisne nos dedos
das mãos de reumáticos,
alteração encontrada na
artrite reumatoide, mas
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
não patognomônica. Viana de Queiroz
salienta que, à época, a febre reumática
era muito prevalente e, por isto, essas
lesões poderiam ser resultantes da síndrome de Jaccoud(2).
Outra fonte que pode auxiliar a desvendar este mistério é a iconografia.
Realmente em algumas pinturas podem
ser vistas deformidades que lembram
as encontradas na artrite reumatoide.
Alguns exemplos: “Virgem” de Rogier
van der Weiden (1400-1464); “Cristo
benzendo São Pedro” de Jan Rombauts
(1480-1535); “Retrato de um jovem” e
“Madonna Bardi” de Sandro Botticelli
(1445-1510); e “A família do pintor”
de Jacob Jordaens (1593-1678)(6). Se
essas pinturas representam, realmente,
doentes reumatoides é possível aceitar
que a doença já existiria, pelo menos
a partir do século XV, mas a pintura
mais característica, de Jacob Jordaens,
é do século XVII. Viana de Queiroz(2)
refere-se a uma teoria de Rothschild et
al, publicada em 1992, que sugere que
a artrite reumatoide nasceu na América
e foi levada para a Europa no século
XVIII. Nesse trabalho, os autores identificaram lesões ósseas características
da doença em 36 esqueletos de índios
americanos (ameríndios), do período
compreendido entre 4300 e 5500 a.C.
A doença ter-se-ia espalhado de uma
região entre o Rio Verde (Kentuck) e
um afluente do Tennessee para
o resto do continente americano. Tinha como característica:
ser erosiva, mais frequente no
sexo feminino, afetando, em
média, 12 articulações periféricas simetricamente, mostrando erosões marginais nos
ossos do carpo, das metacarpo
e interfalangeanas proximais e
das metatarsofalangeanas, poupando as
interfalangeanas distais e as sacroilíacas.
Esta teoria pode ter fundamento, mas o
assunto permanece em aberto.
Tratamento
Outro aspecto a ser discutido refere-se ao tratamento da artrite reumatoide.
Diante do desconhecimento do momento exato em que a doença foi identificada, fica difícil definir, com segurança, a
época em que se iniciou o tratamento
especificamente a ela dirigido. De
qualquer forma, de um modo simplista,
pode-se supor que consistiu, basicamente, na Idade Média, de sangrias e
purgantes; a partir de 1876, salicilatos;
em 1884, antipirina; em 1887, fenacetina; em 1893, piramido; em 1899,
finalmente a aspirina. No século XX, até
cerca de 1940: remoção de focos (19121940); vacinas (1915-1940), utilizadas,
inclusive, por figuras importantes como
Russel Cecil e Philip Hench; irrigação
do cólon (1915-1940); enxofre coloidal
(1917-1938); aminopirina (1927-1934);
ouro (a partir de 1929)(1).
No início do século XX havia uma variedade de propostas para o tratamento
da artrite reumatoide, em sua maioria
ineficientes e, eventualmente, prejudiciais, o que levou o famoso clínico R.
L. Cecil a criar uma lista terapêutica
satírica, para salientar a situação, que ia
de A a Z: Aspirin, Bee venom, Climate,
Diathermy, Exercices, Fever therapy,
Gold salts, Hydrotherapy, Iron, Joint
surgery, KI, Low-calory diet, Massage,
Neo-salvarsan, Orthopedics, Psycotherapy, Questionable methods, Rest,
Spas, sulphur, Transfusions, Ultraviolet
light, Vaccines, vitamins, X-ray therapy,
Young & Youman’s iodoxyl, Zero therapy (do nothing) & (and so on)(7).
Uma revolucionária mudança no cenário aconteceu durante o 7th International
Congresso on Rheumatic Diseases, em
New York, em 1949, quando Philip Hench, depois ganhador do Prêmio Nobel,
e seus colaboradores apresentaram os
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
primeiros resultados do uso da cortisona
no tratamento da artrite reumatoide.
Esta descoberta constituiu-se em grande
incentivo para o estudo das doenças
reumáticas: “It led to research into the
mechanisms of inflammation, the role of
immunology, genetics, and biochemistry
in the rheumatic diseases, and sparked
many other studies of the etiology and
pathogenesis of arthritis”(8).
Após o aparecimento, em 1950,
da fenilbutazona, o primeiro anti-inflamatório não hormonal, outros
foram comercializados, como também
entraram na terapêutica da artrite
reumatoide medicamentos tidos como
capazes de influenciar sua evolução, os
chamados DMARDS (Disease Modifyng
Antirheumatic Drugs) que incluem
ouro, antimaláricos, D- penicilamina,
azatioprina, ciclofosfamida, sulfasalazina, metotrexato, leflunomide, ciclosporina. Mais recentemente, uma nova
perspectiva surgiu com os denominados
“biológicos”, aquisição importante que
pode abrir novos caminhos na direção
da cura da doença.
Referências
1
Seda H: A evolução do tratamento
da artrite reumatoide, in História da
Reumatologia (Viana de Queiroz M,
Seda H, Editora Kaligráphos,
Porto Alegre, 2007).
2
Viana de Queiroz M: História da artrite
reumatoide alusiva a Sir Alfred Baring
Garrod e a Jean-Martin Charcot (idem).
3
Jónsson H, Helgason J: Rheumatoid
arthritis in na iceland textbook from 1782,
Scand J Rheumatol 25: 134-137, 1996.
4
Seda H: A importância dos Garrod na
evolução da reumatologia. No prelo.
5
Seda H: Aspectos históricos da
osteoartrite/osteoartrose in História da
Reumatologia (Viana de Queiroz M,
Seda H, Editora Kalligráphos,
Porto Alegre, 2007).
6
Castillo-Ojugas A, Castilo Aguilar S:
La Reumatologia em el Arte, Editorial
Médica Internacional S.A., Madrid, 1987.
7
Cecil RL: Rheumatoid arthritis:
a new approach to the disease,
JAMA 100: 1220-1227, 1933.
8
Smyth CJ, Freyberg BH, McEwen C:
History of Rheumatology in the United
States, Arthritis Foundation, Atlanta, 1985.
21
foco
Em
Ambulatório da UEM foi criado em 1993
Exclusivamente para atendimento do SUS, o espaço foi ampliado em 2009,
quando, de uma vez por semana, o atendimento passou a ser diário.
O
curso de Medicina da Universidade Estadual de Maringá
(UEM) teve início em agosto de 1988 e
a disciplina de Reumatologia, ministrada
para o quarto ano, foi implantada a partir do segundo semestre de 1992, com
a contratação do prof. Paulo Roberto
Donadio.
Um ano após, com a contratação do
prof. Marco Antonio Araújo da Rocha
Loures, foram iniciadas as atividades do
Ambulatório de Reumatologia, todas as
terças-feiras no período da manhã. Este
ambulatório, exclusivamente para atendimentos do SUS, foi ampliado a partir
de 2009, passando a ser diário, possibilitando a implantação do Programa de
Residência Médica em Reumatologia
em 2010, aprovado pela CNRM através
do parecer 479/2010, de 16/12/2010.
Na graduação, a Disciplina de Reumatologia é coordenada pelo prof. Marco
Antonio Araújo da Rocha Loures, e a
residência está sob a supervisão do prof.
Paulo Roberto Donadio, que conta ainda
com a valiosa colaboração dos professores Cássia de Fátima Monteiro Franchini
e Felipe Merchan Ferraz Grizzo, e da ex-residente Eliane Alves de Freitas Souza,
como voluntária.
Integração
Os atendimentos ambulatoriais são
realizados todas as manhãs no Ambulatório de Especialidades do Hospital
Universitário Regional de Maringá
(HUM), para toda a gama de doenças da
especialidade, distribuídas em atividades
gerais e específicas, para artrite reumatoide e lúpus eritematoso sistêmico. Esta
última atua de forma integrada com a
nefrologia, com a participação do prof.
Sergio Seizi Yamada. Também de forma
integrada são feitos os atendimentos
com a dermatologia, com a participação
22
Equipe que atua no serviço de reumatologia da UEM, em Maringá (PR).
da profa. Fabíola Menegoti Tasca e da
dra. Roberta Ayres F. Volpe, e com a pediatria. A média atual de atendimentos
é de dez pacientes/dia.
Os médicos residentes participam
de atividade integrada semanal com
o Programa de Residência Médica de
Medicina da Família e Comunidade,
discutindo casos de pacientes com as
doenças reumáticas mais prevalentes,
que fazem parte do dia a dia do clínico.
As internações da especialidade são
realizadas nas enfermarias da Clínica Médica do HUM, além de serem
atendidas as interconsultas nas outras
enfermarias do hospital.
Estágios
Além das atividades ambulatoriais e
de enfermaria, os residentes desenvolvem estágios em serviços de Fisioterapia,
Diagnóstico por Imagem e Laboratório
de Imunologia, e os R4 passam 30 dias
em outra instituição de ensino convenia-
da, geralmente em São Paulo ou Curitiba. Seminários, discussões clínicas e de
artigos são desenvolvidas semanalmente.
O primeiro médico residente, Marcelo de Loyola e Silva Avellar Fonseca,
cursou o programa em 2010-11. Concluíram também Clarissa Sousa e Eliane
Alves de Freitas Souza, e atualmente
terminando o R4, Priscilla Heriny Versari Prajiante. Juliana Lustoza Mauad
Forastiero, R4, e Felipe Cayres Nogueira da Rocha Loures, R3, são os atuais
residentes.
Em 2014 foi desenvolvido treinamento para clínicos da rede básica
do município de Maringá (PR), com
ênfase para as doenças reumáticas mais
comuns e que podem ser avaliadas por
estes profissionais, o que contribuiu de
forma significativa para a redução da
fila de espera por consultas da especialidade. O sucesso desta experiência foi
estimulante para que seja reprisada com
outras turmas.
BOLETIM DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA • abr/mai/jun 2016
além
da
r E u m ato lo g i a
Corrida e exercício
todos os dias,
esteja onde estiver
Em São Paulo, em viagens pelo Brasil ou pelo
exterior, o reumatologista pediátrico Clovis
Artur Almeida da Silva jamais deixa de correr
ou fazer atividade física diariamente.
Maria Teresa Marques
Jornalista responsável pelo Boletim SBR
le corre quatro vezes por semana
e faz bicicleta ou transport duas
vezes por semana. E não importa se são
tempos de cotidiano normal, se são férias
ou se está em viagem a trabalho. Esteja
onde estiver, ele procura a academia mais
próxima para passar duas horas na esteira
e no transport ou bicicleta. Isso de segunda a sexta. Aos domingos, ele corre cerca
de 16 km na rua, mais especificamente
no Parque Villa Lobos, em São Paulo.
Só “descansa” no sábado, quando vai
caminhar na rua.
Esse é o reumatologista baiano Clovis
Artur Almeida da Silva, que conta muito
animadamente estar “viciado” em correr.
Atualmente ele vive em São Paulo, onde
veio fazer residência na Universidade de
São Paulo (USP) e acabou ficando na
capital (isso há 26 anos). Em 92, lembra Clovis, ele cumpriu residência em
reumatologia pediátrica, sendo um dos
pioneiros na área como residente. Depois
passou num concurso para reumatologia
pediátrica, tornou-se médico assistente,
fez mestrado, doutorado, livre docência
e por fim é hoje chefe do grupo no Departamento de Pediatria do Hospital das
Clínicas. E desde 2013 é professor associado da Faculdade de Medicina da USP.
Cotidianamente, ele passa o dia inteiro
no Instituto da Criança, no Hospital das
Clínicas, de onde sai apenas em torno das
18h, 19h. Nas terças-feiras está, à tarde,
em seu consultório.
Paralelamente, enfrenta o rigoroso e
prazeroso dia a dia de exercícios físicos
que começam muito cedo, já que ele
levanta diariamente às 5h da manhã. E,
como já se notou neste texto, a corrida
não é um simples hobby, mas uma séria
paixão. “Eu sempre fiz atividade física,
mas, por conta dos estudos universitários,
deixei-a um pouco de lado”, lembra. Em
96, porém, durante o mestrado, ele resolveu voltar, até porque tem linha genética
de diabetes e pressão alta e quis cuidar-se.
Com 1,78m de altura, ele pesava 80 kg na
época. Hoje pesa 65kg.
“Quando recomecei, eu disse ao instrutor na academia: ‘Se eu passar seis meses
aqui fazendo aeróbico, te dou um litro de
uísque’”. O resultado é que a corrida foi
entrando cada vez mais em seu dia a dia.
A ponto de, desde 2000, ele participar da
corrida São Silvestre, realizada na cidade
de São Paulo anualmente. “A primeira vez
em que cheguei ao final chorei de felicidade”, conta. Ele chama a São Silvestre
de “o prazer do ano”, porque corre nela
cantando, rindo ou ouvindo música.
Viagens
Clovis, por conta da profissão ou férias,
é viajante frequente ao exterior, mas isso
em absoluto o impede de correr. “Passei
três meses na Califórnia e corri todos os
dias”, diz ele, contando que a primeira
coisa que põe na mala é sua roupa de corrida. “Nem nas férias eu largo a atividade.
É meu combustível para acordar”, conta.
Ele chega a dizer a seus alunos que durante as corridas tem ideias para pesquisas.
Clovis explica que se depara, no hospital, com frequência com casos de alta
complexidade e, como chefe, tem de
enfrentar tudo com firmeza. E conta
para isso com a sua santa corrida de cada
dia, claro. “O esporte me ajuda demais.
É muito difícil me ver desanimado e sei
que tiro minha energia da corrida”, diz.
Ah, detalhe... Após os seis meses na academia, ele presenteou o personal, Ricardo,
não com um, mas com dois litros de uísque.
A CHARGE DO PLÍNIO
E
Nas viagens,
o cotidiano de
exercícios físicos
não muda.
Aqui está Clovis
em Sidney,
na Austrália.
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