Data: 28-05-09 Vieira da Silva desvaloriza aumento de despedimentos colectivos O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social considerou hoje que o aumento dos despedimentos colectivos nos primeiros quatro meses do ano afectou uma pequena minoria no conjunto de desempregados. Vieira da Silva advertiu ainda que os efeitos da crise mundial vão demorar a passar. Vieira da Silva admitiu a existência de um maior recurso ao despedimento colectivo - cujos dados relativos ao terceiro trimestre os dados foram hoje divulgados - mas sublinhou não ser essa a causa da maioria do desemprego em Portugal. "Mais de metade dos desempregados em Portugal são-no por fim de um contrato de trabalho e não por processos de despedimento colectivo", afirmou o ministro aos jornalistas, à margem da conferência anual da Confederação Internacional das agências privadas de Emprego. Dispensadas 1.718 pessoas em 4 meses De acordo com os dados publicados pela Direcção- Geral do Emprego e das Relações do Trabalho (DGERT), entre Janeiro e Abril foram dispensadas 1.718 pessoas ao abrigo de processos de despedimento colectivo. Este valor é já superior ao total dos despedimentos verificados no primeiro semestre de 2008, em que foram despedidas 1.082 pessoas. Ministro desvaloriza despedimentos colectivos Para Vieira da Silva, os despedimentos colectivos representam uma escassa minoria no conjunto de desempregados que em qualquer ano são colocados nessa situação através dos processos de despedimento. "Infelizmente temos um desemprego na ordem das 480 mil pessoas e o valor referido para os despedimentos colectivos comprova o que disse" afirmou o ministro. A "dimensão" do desemprego "é o problema" "Não é esse o problema (...) O problema com que nos confrontamos não é a forma mas a dimensão do desemprego, que é muito elevada", sublinhou. Nos quatro primeiros meses do ano 143 empresas concluíram processos de despedimento colectivo, visando o despedimento de 1.790 pessoas. As 143 empresas empregavam na totalidade 9.110 trabalhadores. Despedimentos colectivos de Janeiro a Abril No período considerado, as empresas conseguiram salvar 72 postos de trabalho e acabaram por despedir 1.718 trabalhadores, com recurso ao despedimento colectivo. A DGERT publica ainda o número de processos iniciados até Abril e que podem vir a originar despedimentos colectivos nos próximos meses, conforme o evoluir dos processos. De acordo com os valores divulgados, nos quatro primeiros meses do ano, 336 empresas (que empregam actualmente um total de 27.736 funcionários) manifestaram intenção de despedir 5.297 pessoas. No total do ano passado, de acordo com a mesma fonte, foram dispensados ao abrigo de processos de despedimento colectivo, 3.318 pessoas. Processo No processo de despedimento colectivo, a empresa entra com um pedido inicial junto do Ministério do Trabalho, manifestando a sua intenção e o número de trabalhadores abrangidos pela acção. Segue-se uma fase de negociação entre a empresa, os representantes dos trabalhadores e os serviços do ministério, onde se tentam, nomeadamente, soluções de reconversão e negociações compensatórias. A entidade empregadora comunica a decisão definitiva de despedimento e entrega um mapa final aos serviços do Ministério do Trabalho onde consta o número de trabalhadores efectivamente dispensados. Efeitos da crise mundial "vão demorar a passar" O ministro advertiu também que os efeitos decorrentes da crise económico-financeira vão demorar a passar, apesar da existência de sinais de estabilização no plano financeiro. Vieira da Silva comentava declarações proferidas quarta-feira pelo governador do Banco de Portugal, Vitor Constâncio, na Assembleia da República, numa audição da Comissão de Orçamento e Finanças, segundo as quais "a crise vai-se manter e poderá gerar uma recessão mundial significativa, com efeitos no emprego". Pensar no futuro O responsável pela pasta do Trabalho sublinhou a necessidade de resistir à crise pensando no futuro. "A recuperação da confiança não é imediata mesmo quando os mercados financeiros estabilizarem, ou mesmo quando algumas economias começarem a dar os primeiros sinais de retoma económica", afirmou. Resistir à crise Vieira da Silva referiu que a melhor forma de resistir à crise é "ajudar a preparar as empresas para poderem aproveitar todas as oportunidades de negócio que vão fazer o processo de recuperação quando ele começar a acentuar-se". "O que é importante é que estamos a fazer todos os possíveis para ajudar as empresas, as instituições e as pessoas a manterem-se activas no mercado de trabalhão para que Portugal possa aproveitar os sinais de recuperação", sublinhou. Trabalho temporário Numa alusão às empresas de trabalho temporário, considerou tratar-se de uma das formas de criação de emprego e de colmatar crescimentos momentâneos de mão-de-obra por parte das empresas, desde que geridas de forma correcta. "Enquanto se situarem nesse plano" - acrescentou - "podem ter um papel positivo, nomeadamente em situações de maior instabilidade, em que as empresas não estão ainda em condições de estabilizarem quadros de pessoal mais alargados". Neste contexto, "bem geridas, pagando os seus impostos e as suas contribuições para a segurança social, podem ser um instrumento ao serviço do emprego", sublinhou. Fiscalização Interrogado sobre as respostas do Governo quando algumas dessas empresas não cumprem essas regras, Vieira da Silva referiu tratar-se de "um dos sectores de risco e a que mais atenção é dada, nomeadamente ao trabalho não declarado ou à fuga às contribuições para a Segurança Social". "É um sector que mais frequentemente é alvo de processos de fiscalização", acrescentou. Encerramentos fraudulentos Questionado sobre denúncias de aproveitamento da crise por algumas empresas para procederem a encerramentos fraudulentos, afirmou que o seu ministério está "atento e a trabalhar para evitar os comportamentos ilegais", mas frisou que o combate principal "é contra uma crise sem precedentes e de características mundiais". "A Alemanha está com uma quebra de criação de riqueza superior a cinco por cento e não me consta que seja em virtude de comportamentos irregulares de empresários portugueses", ironizou. Combate à ilegalidade "Temos de identificar os problemas e valorizá-los na dimensão que têm. Esse é um problema sério que tentamos atacar com todas as energias, mas o problema que efectivamente defrontamos e que está a provocar o desemprego é uma crise que é mundial e que fez com que no último trimestre a economia europeia caísse 4,5 por cento", declarou. Quanto à fiscalização, Vieira da Silva recordou que foram contratados recentemente 150 novos inspectores para a Autoridade para as Condições de Trabalho, mas, insistiu, que o combate à actuação ilegal é um objectivo da acção do Governo, mas "um objectivo ainda mais importante é combater a crise". Com Lusa