«FIM DA AUSTERIDADE»? A miragem do «fim da austeridade

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«FIM DA AUSTERIDADE»?
A miragem do «fim da austeridade» vem alimentando muitas ilusões. Na verdade, não
existem motivos suficientes para esperarmos que ela já acabou ou vai acabar a curto
prazo: basta pensarmos que o défice orçamental continua alto, o endividamento do país
altíssimo, o sistema bancário ainda não estabilizou, os níveis de pobreza e exclusão social
continuam extremamente preocupantes... A isto acresce que a poupança e o investimento
estão muito aquém do necessário, as taxas de desemprego ainda não baixaram para níveis
aceitáveis e tanto os salários médios como várias prestações sociais não proporcionam os
requisitos suficientes para uma vida condigna. Será também necessário acrescentar que a
austeridade não foi novidade para inúmeras pessoas e famílias que já viviam nela muito
antes da crise e, na maior parte dos casos, não têm razões para admitir que vai acontecer
uma reviravolta libertadora.
A maneira como se concebe o «fim da austeridade» também não contribui para que ela
acabe, e até pode agravá-la. Pensa-se em geral que esse fim depende fundamentalmente
do crescimento económico, o qual traria consigo o crescimento do emprego e,
consequentemente, a diminuição do desemprego e da pobreza. Porém, ao contrário
destas expectativas, a economia portuguesa debate-se com enormes dificuldades na
concorrência internacional, agravadas pelo facto de a atual conjuntura ser bastante
desfavorável; e, para cúmulo, os problemas do ambiente, a par das limitações do nosso
planeta, aconselham muita prudência nas previsões de crescimento económico. A recente
encíclica do Papa Francisco, sobre «O Cuidado da Casa Comum», bem nos alerta para este
constrangimento universal e invencível.
Assim, num contexto de tamanha gravidade, justifica-se perguntar se será possível a
melhoria do bem-estar humano, em Portugal, com ritmos de crescimento relativamente
baixos ou até nulos?
Acácio F. Catarino
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