CENÁRIO ECONÔMICO QUINTA-FEIRA, 31 DE DEZEMBRO DE 2015, e sexta-feira, 1º de janeiro de 2016 política/economia 9 O Estado e o país vivem em um cenário de adversidade e de profunda crise financeira. Aqui, no Rio Grande do Sul, o Piratini tem tido dificuldades em manter os salários dos servidores em dia e, em 2016, jogou no colo dos gaúchos mais uma conta: o aumento do ICMS e que, a curto prazo, terá efeito cascata em produtos da cesta básica. Pelo país, os preços subiram a um ritmo não visto desde 2002. Relatório Focus, divulgado em dezembro, aponta para mais recessão em 2016. O setor industrial foi, em 2015, um dos mais prejudicados pelo desaquecimento do consumo dos brasileiros. Tanto o Estado quanto a União buscam em medidas – como as políticas de austeridade – formas de sanar a sangria dos cofres públicos. “A expressão ‘não existe almoço grátis’, amplamente utilizada pelos economistas, faz menção ao fato de que se existe algum bem ou serviço que está sendo disponibilizado para os consumidores. Existe um custo correspondente para a produção desse respectivo bem e serviço que, inevitavelmente, deve ser pago por alguém. Assim sendo, bens e serviços que são oferecidos pelo governo que, aparentemente, parecem ser gratuitos do ponto de vista da totalidade dos consumidores. Na verdade, implicam em um custo que é socializado entre a totalidade dos pagadores de impostos. Atualmente, a economia brasileira está enfrentando a cruel realidade de sentir na pele quanto custa um almoço que aparentemente parecia ser gratuito. Utilizando-se de políticas fiscais perdulárias e inconsequentes, o governo, em nível Federal e Estadual, lançou-se em um ambicioso processo de gastança, alimentadas por promessas de produzir um crescimento econômico milagroso, de reduzir as desigualdades sociais, de melhorar os indicadores de renda, enfim, de garantir o paraíso na terra. Na verdade, o que conseguiram foi produzir um aumento no endividamento e um profundo desequilíbrio nas contas públicas que vem se refletindo de forma negativa em distintos setores da economia, gerando profundos desequilíbrios. A conta do almoço que parecia ser gratuito começa a chegar para a economia na forma de crescimento negativo, queda de arrecadação, aumento do desemprego, pressão na inflação, aumentos nos preços das tarifas, aumentos de impostos, e o que é pior, uma completa perda de confiança de quem produz e de quem consome. Não existem fórmulas mágicas para contornar esses desequilíbrios senão adotando uma política de austeridade rigorosa.” Anderson Antonio Denardin, mundial a esta situação em 2013, em trilhões de dólares (...) Os proprietários deste capital especulam com dívida pública, câmbio e juros. A ‘varinha de condão’ é essa: proceder a uma rigorosa regulamentação financeira, reduzir os juros, manter o câmbio no patamar atual, taxar as grandes fortunas e ‘rendimentos’, criar a CPMF com taxas diferenciadas e elevadas para os ‘derivativos’, combater a escandalosa sonegação fiscal e aplicar tudo isso na produção e inovação tecnológica.” José Vieira Loguercio “Na economia, o cenário é cruel e degradante. Burocratas incompetentes, com deficit de altruísmo e vivendo encastelados em ternos e mordomias, se valem de um vocabulário hermético para repetir fórmulas perigosas e inconsistentes. Trabalham para as elites e não em nome do povo. Em sua maioria, desconhecem quanto custa uma passagem de ônibus ou o preço médio do pão e do leite.” Antônio Augusto Mayer dos Santos “Sobre os que cuidam da Fazenda pública, Barbosa (no governo federal) e Feltes (no Estado), devemos ter claro, com que tipo política estão comprometidos. Da mesma forma como descrito antes, existem compromissos fiscais destes governos (federal e estadual) com o capital financeiro que os elegeu. O ‘remédio amargo’ é amargo com a população, com o contribuinte, com o assalariado e o pequeno e médio produtor e industrial. As grandes empresas, o setor financeiro, os bancos não tiveram perdas significativas nos últimos anos. Pelo contrário, seus balanços apontam para ganhos sem precedentes, às custas do trabalho de toda a população. As políticas de verdadeira ‘austeridade’, seriam a retomada dos compromissos sociais, das bandeiras de campanha, de um compromisso moral com a superação das desigualdades criminosas que persistem desafiando gerações e gerações de brasileiros, das lutas históricas contra a perpetuação das elites no poder.” Guilherme Howes “Para se entender a economia na atualidade tem que se partir do essencial. Há, no chamado mundo ocidental, dois tipos de mercado: o liberal e o neoliberal. Ao mercado liberal interessa a produção para poder obter lucro. Ao mercado neoliberal interessa a desregulamentação financeira para poder especular, agiotar, usurar, não lhe interessa a produção. O mercado neoliberal levou a distribuição da riqueza “O Brasil e o Rio Grande do Sul precisam de uma ampla reforma do Estado. A questão de fundo não é financeira, mas política. O fato é que temos um Estado que é caro e, como regra, ineficiente e injusto. Dentro do Estado brasileiro, há castas de privilegiados que, além dos altos salários, contam com benefícios, auxílios e toda sorte de mordomias, independentemente da qualidade dos serviços que prestam. Na outra ponta, temos servidores muito mal remunerados, sem perspectivas de carreira profissional e submetidos à toda sorte de dificuldades. (...) Temos um Estado atormentado por uma herança burocrática, leis que não funcionam, regras formais em excesso e um crescente descompromisso com a função pública, tornado manifesto também pelas ambições corporativas disseminadas no próprio funcionalismo público. Todos se queixam, todos são vítimas, todos se julgam desprestigiados e subvalorizados, mas ninguém quer ser avaliado e a qualidade do serviço entregue à população despenca. Na gestão pública, o improviso e as posturas reativas seguem sendo a regra. Não produzimos diagnósticos, não monitoramos nossas políticas públicas e não avaliamos seus resultados. O resultado é que desperdiçamos fortunas em projetos sem sentido e em políticas ineficientes. Para piorar o quadro, a corrupção virou paisagem. Em cada espaço do poder público que se possa imaginar há alguém roubando, traficando influência ou tramando mais uma vantagem a ser paga pela ‘viúva’. O Estado que temos adoeceu e que se encontra na UTI da história. Podemos mantê-lo vivo por muito anos ainda, mas a um custo elevadíssimo e sem que possamos esperar do paciente alguma reação importante. Melhor seria desligar os aparelhos e iniciar o processo de refundação do Estado. Para isso, entretanto, será preciso enfrentar interesses poderosos. No Brasil, nossos gestores preferem fazer acordos com esses interesses.” Marcos Rolim “A saída do Estado passa, necessariamente, pela cobrança de setores que não pagam impostos, pela revisão de benefícios, créditos presumidos, pela negociação da dívida do Estado ou, simplesmente, pela mudança do indexador desta dívida. A saída do país não passa pela mudança presidencial. Mas, sim, pela reforma da Previdência, reforma trabalhista, pelo direcionamento de incentivos (setores incentivos em tecnologia e ao pequeno empreendedor), diminuir a máquina pública, não somente em tamanho, mas também a ingerência do Estado.” Mateus Frozza “Os ideólogos da esquerda brasileira deveriam ter aproveitado o período do Natal para conversar com o Papai Noel. Talvez, ele pudesse trazer, em seu trenó, algum pacote que resolva, sem contenção de gastos, o déficit das nossas contas públicas. Tudo indica que o governo, ao derrubar o ministro Levy, fez uma opção pelo agravamento da crise. Isso foi imediatamente identificado pelo mercado.” Percival Puggina Na vida prática, o que fazer O Diário conversou com vários especialistas, entendedores da parte comportamental humana em tempos de crise, e todos concordam em um ponto: na vida real, não há margem para uso de subterfúgios. Não há receituários nem fórmulas prontas. Palavras motivacionais ou livros de auto-ajuda são um alento. Nada mais. O que vale são atitudes, proatividade e uma imensa capacidade de se reinventar. “Diante de previsões, que apontam um cenário de dificuldades para 2016, é preciso se questionar sobre como estou me preparando para enfrentar esse período. Também vale lembrar que, para bons profissionais e empreendedores sempre haverão oportunidades. Frente a uma recessão as empresas podem se reestruturar e reduzir pessoal. Quem está empregado deve se preocupar em manter o trabalho atual, assim como, quem está procurando, precisa se questionar sobre o que precisa fazer para conseguir uma oportunidade. Algumas das principais competências que as empresas buscam em seus trabalhadores são o comprometimento, saber trabalhar em equipe, boa comunicação, ter iniciativa e flexibilidade. Então, cabe uma autoavaliação sobre como estão estas competências pessoais e o que ainda é preciso desenvolver. Questionese sobre o que você tem feito para se manter atualizado. Além da escolaridade é preciso investir em outros cursos de qualificação. E, hoje, além dos cursos presenciais, podemos encontrar diversas oportunidades de capacitação na internet, algumas até mesmo gratuitas. Depois é preciso se organizar para enviar os currículos. Então, é importante acompanhar os classificados do jornal e sites de vagas para saber das oportunidades. Olhar o site de empresas que tem interesse em trabalhar, pois a maioria já possui um espaço online para envio de currículos. E outra opção é se cadastrar diretamente em sites de agências de empregos, pois esses além de já possuírem várias oportunidades, encaminham seu currículo para vagas que você possua o perfil, o que aumenta as chances de contratação. O principal é lembrar que o momento de crise para as organizações é hora de transformação, mudar, criar e se adaptar a nova realidade. E isso é extremamente positivo e necessário para as empresas crescerem. Então, por que isso não pode acontecer com as pessoas também? Dedique um tempo para você e reflita sobre quais transformações e adaptações precisará realizar em sua vida para enfrentar o novo cenário.” Liana Bohrer Berni, psicóloga, consultora da área Organizacional e do Trabalho e professora da Unifra