Brasília Poética Plano piloto 18 de Dezembro de 2011 Plano piloto Sim, Brasília. admirei o tempo que já cobre de anos tuas impecáveis matemáticas. Paulo Leminski No principio, era apenas a intocada solidão do Planalto Central. Com o decreto de mudança da capital, chegaram os homens em fluxo errante dos brasis apartados. E do mandamento dos projetos esticados sobre as mesas, olhos e dedos pressurosos indicavam uma direção sobre a planura sem fim: surgia a homilia da esperança tutelando o tempo e a geografia, ferida aberta no cerrado imensidão depravada pelo arsenal de tapumes. Diferente dos diademas http://web.brasiliapoetica.blog.br/site _PDF_POWERED _PDF_GENERATED 10 June, 2017, 02:00 Brasília Poética que conformam o céu sobre as Montanhas de Minas, altar em que se debruçam os olhares da História, o desconforto agreste da poeira dos primeiros tempos pairou sobre corpos suados e máquinas infatigáveis no altiplano violado pelo concreto. A retidão do horizonte quebra o rigor da densa couraça da flora retorcida transforma cada alvorada num feixe de brasas prenhe de amanhãs. Essa fosforescência insiste em se proclamar indiferente às mazelas e fetiches da urbe administrativa instaura a eterna marcha para o Oeste Já não és, Brasília, esse tempo de esquadrias ou outro tempo de esquadrões, nem a solitária hora de habitar uma maquete nem a gente desconfiada num lugar inacabado nem a incomunicável aridez de suas vias nem o cansaço dos acampamentos livre dos coturnos http://web.brasiliapoetica.blog.br/site _PDF_POWERED _PDF_GENERATED 10 June, 2017, 02:00 Brasília Poética que a batizaram ainda na antemanhã a cidade sem esquinas não se esquiva nem se fatiga dos traços do arquiteto seus botecos suas noites sua música seus automóveis seus escândalos suas feridas seu festim de esgotos no Paranoá tudo é vida tudo é morte nesse canteiro de repartições nesse plantio de autarquias nessa febre de ângulos retos Capital que se espreguiça e viaja no Grande Circular para chegar cedo à Esplanada e azeitar as engrenagens do poder. Museu do futuro seus blocos como legos sobrevivem como casulos onde habitam políticos sem rosto e sem memória Mas a fuselagem supersônica pilotada por homens verdadeiros desconhece os riscos da prancheta e dá vida ao que era sonho conduzindo almas além das superquadras, eixos e “tesourinhas” http://web.brasiliapoetica.blog.br/site _PDF_POWERED _PDF_GENERATED 10 June, 2017, 02:00 Brasília Poética decola sobre a geométrica metrópole abre suas asas de Norte a Sul no rumo de embrionária utopia. A cidade (im)plantada - cicatriz no mapa do Brasil. Ronaldo Cagiano, poeta mineiro, natural de Cataguases. Poema transcrito do livro “O Sol nas feridas”, Dobra Literatura http://web.brasiliapoetica.blog.br/site _PDF_POWERED _PDF_GENERATED 10 June, 2017, 02:00