UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE CIÊNCIAS MÉDICAS FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PATOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ANATOMIA PATOLÓGICA ANGELA CRISTINA GOUVÊA CARVALHO RESPOSTA LINFÓIDE EM BIOPSIAS GÁSTRICAS DE CRIANÇAS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO: ASSOCIAÇÃO COM HELICOBACTER PYLORI E COM VÍRUS EPSTEIN-BARR Niterói 2006 ANGELA CRISTINA GOUVÊA CARVALHO RESPOSTA LINFÓIDE EM BIOPSIAS GÁSTRICAS DE CRIANÇAS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO: ASSOCIAÇÃO COM HELICOBACTER PYLORI E COM VÍRUS EPSTEIN-BARR Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação em Patologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Anatomia Patológica Orientadora: Profª Dra. Vânia Glória Silami Lopes Co-orientadora: Profª Dra. Eliane Pedra Dias Niterói 2006 ANGELA CRISTINA GOUVÊA CARVALHO RESPOSTA LINFÓIDE EM BIOPSIAS GÁSTRICAS DE CRIANÇAS DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ANTONIO PEDRO: ASSOCIAÇÃO COM HELICOBACTER PYLORI E COM VÍRUS EPSTEIN-BARR Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação em Patologia da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Área de concentração: Anatomia Patológica Aprovado em_____________de 2006. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Profa. Dra. Lélia Paiva e Guedes Universidade Federal Fluminense ______________________________________________ Prof. Dr. Heleno Pinto de Moraes Universidade Federal Fluminense ______________________________________________ Prof. Dra. Gesmar Volga H. Herdy Universidade Federal Fluminense Antonio, meu amado companheiro e ao Vitor e a Isabela, sem dúvida minhas melhores e mais amadas produções. Tudo aquilo que tem a sua atenção, ganha sua força e sua ação... e tende a crescer. Aldo Novak AGRADECIMENTOS Aos meus pais Antonio Paulo e Augusta e minha irmã Ana pelo amor incondicional e apoio sempre. Ao Prof. Dr. Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega, meu marido, pela competência, paciência, compreensão, força e amor a toda prova. A Profª Dra. Vânia Glória Silami Lopes por me aceitar como orientanda e pelo apoio sempre carinhoso, gentil e pelas palavras sempre doces. A Profª Dra. Eliane Pedra Dias pelo seu incentivo, amizade e firmeza, sem os quais não teria chegado até aqui. Ao Prof. Dr. Heleno Pinto de Moraes, meu mestre de Patologia e da vida, que os anos de convivência estreita felizmente me proporcionaram, meu mais carinhoso obrigada. A Profª Eliene Carvalho da Fonseca pela recepção carinhosa, vontade de ajudar e ensinar sempre e apoio no laboratório de Imuno-histoquímica. Às técnicas da Patologia Aline Ferreira Dias e Ana Maria Rodrigues pela realização prestimosa das lâminas de coloração especial e pelo carinho. À técnica do laboratório de Imuno-histoquímica Rita de Cássia da Costa Cunha pelas ―aulas‖ carinhosas, paciência e ajuda inestimáveis. Aos meus mais que colegas de plantão Mônica Pureza de Almeida e Bruno de Souza Bianchi Reis pelo apoio, incentivo e companheirismo, sempre carinhosos e a toda hora. Às minhas amigas e sócias patologistas Dra.Adelaide Lucas de Souza e Dra. Ana Luisa Figueira Gouvêa pelo apoio, ajuda, compreensão pela ausência e principalmente e sobretudo pela amizade. Ao Prof. Phorphirio José Soares Filho pela boa vontade e gentileza de ensinar e ajudar, muito obrigada. Às Dras. Carla de Carli e Fátima Caldoncelli pela ajuda prestimosa na organização do material. Ao técnico Wellington Vargas Pavão pela realização rápida e a qualquer hora das lâminas e vontade de ajudar sempre. A todos os funcionários do serviço de Patologia pela ajuda. Às funcionárias do Nucleolab Alessandra Sander, Caroline Malizia, Maria da Conceição Campos, Maria da Luz e Paula Brasil pela paciência e compreensão, muito obrigada. RESUMO A infecção gástrica pelo Helicobacter pylori (H.pylori) pode estar relacionada ao aparecimento de carcinomas e de linfomas MALT e a infecção latente pelo vírus Epstein-Barr (EBV) está associada tanto ao desenvolvimento de neoplasias malignas epiteliais gástricas usuais, quanto a neoplasias epiteliais com estroma linfomatoso. O objetivo deste trabalho foi realizar uma análise histopatológica sistemática e global das biópsias gástricas de crianças submetidas a endoscopia digestiva alta, com queixas de dor abdominal recorrente, no Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF e estudar a possível associação da resposta linfóide com Helicobacter pylori e com vírus Epstein-Barr. Foram revistas as biopsias gástricas (n=142) realizadas entre janeiro de 2002 a dezembro de 2004 de crianças com até 12 anos (n=129; 52% masculino; idade 8±3 anos) e os fragmentos foram submetidos às colorações de Giemsa e Whartin-Starry para pesquisa de H.pylori, à imunohistoquímica para pesquisa de EBV (anti-LMP1) e pesquisa de linfócitos T CD8+. À microscopia, 63% apresentaram gastrite crônica e 30% infecção pelo H.pylori. Dentre as crianças com gastrite crônica, 48% apresentaram resposta linfóide, sendo que apenas 15 dessas não tinham positividade para H.pylori. Nenhuma das crianças apresentou positividade para EBV e 83% delas exibiu até 5 linfócitos T CD8+ por 100 células epiteliais superficiais. A idade das crianças positivas para H.pylori foi maior do que as negativas (9,1±2,8 vs. 7,1±3,3 anos; P<0,001) e a presença de resposta linfóide foi mais freqüente nas crianças com H.pylori (80% vs. 15%; P <0,001). Em conclusão, o EBV não está relacionado a resposta linfóide em biopsias gástricas de crianças, entretanto este afluxo linfóide está associado a positividade do H. pylori em 48% das crianças com gastrite crônica. De quinze crianças com reposta linfóide e H.pylori negativo, cinco foram tratadas para erradicação do bacilo, podendo ser esta resposta uma seqüela pós-tratamento. As dez biopsias restantes sugerem tratar-se também de resolução/seqüela pós-tratamento para outras infecções sistêmicas. Palavras-chave: gastrite crônica, Helicobacter pylori, resposta linfóide, vírus EpsteinBarr ABSTRACT The infection by Helicobacter pylori (H.pylori) can be related to the occurrence of carcinomas and MALT lymphomas, while the latent infection by Epstein-Barr virus (EBV) is associated both to gastric epithelial malignant neoplasias as to lymphomatous gastric epithelial neoplasias. The purpose of this study was to perform a systematic and global histopathological analysis of gastric biopsies from children submitted to upper digestive endoscopy, with recurrent abdominal pain, in Antonio Pedro University Hospital/UFF and to study the association between lymphoid proliferation and H.pylori and EBV. The gastric biopsies (n=142) from children up to 12 years old (n=129; 52% male; age 8±3 years) from January 2002 to December 2004 were reviewed and the slides were stained with Giemsa and Whartin-Starry for identification of H.pylori and immunostains for EBV (anti-LMP1) and T-lymphocytes CD8+ were used. Under light microscopy, 63% presented chronic gastritis and 30% infection by H.pylori. Forty-eight percent of children with chronic gastritis had lymphoid proliferation, but 15 among these were negative for H.pylori. None of the children was positive for EBV and 83% of them presented up to five T CD8+ lymphocytes per 100 superficial epithelial cells. H.pylori positive children were older than the negative ones (9.1±2.8 vs. 7.1±3.3 years; P<0,001) and the presence of lymphoid response was more frequently found in children with H.pylori (80% vs. 15%; P <0,001). In conclusion, EBV is not related to lymphoid response in children gastric biopsies. However, this lymphoid proliferation is associated with H.pylori infection in 48% of children with chronic gastritis. Five out of 15 children with lymphoid proliferation but negative for H.pylori, had been previously treated for this bacteria, suggesting that this response could be post-treatment sequelae. The remaining 10 biopsies could represent post-treatment sequelae from other systemic infections. Key words: chronic gastritis, Helicobacter pylori, lymphoid proliferation, Epstein-Barr virus SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2 REVISÃO DA LITERATURA 11 2.1 HELICOBACTER PYLORI 11 2.2 VÍRUS EPSTEIN-BARR 16 2.3 GASTRITE E RESPOSTA LINFÓIDE EM CRIANÇAS 18 3 OBJETIVOS 24 4 MATERIAIS E MÉTODOS 25 5 RESULTADOS 30 6 DISCUSSÃO 37 7 CONCLUSÕES 50 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52 8 1 INTRODUÇÃO O conhecimento da prevalência e das características dos diferentes achados histopatológicos é fundamental para o diagnóstico preciso, para a orientação terapêutica e formulação de novas hipóteses sobre o mecanismo das doenças. Múltiplos achados histopatológicos já foram descritos em biópsias de crianças com sintomas dispépticos (DOHIL et al, 1999, SABBI et al, 2005), relacionados ao Helicobacter pylori (PRIETO et al, 1992) ou ainda ao Vírus Epstein-Barr (EBV) (JASKIEWICZ & KOBIERSKA, 2000). Diversos estudos já foram realizados em várias comunidades americanas, européias, japonesas e canadenses (SINHA et al, 2004). Estudos brasileiros também já foram relatados, com resultados diferentes ou semelhantes a literatura internacional (OLIVEIRA et al, 1994; SOUSA et al, 2001; MORAES & SILVA, 2003). A infecção pelo Helicobacter pylori ocorre na primeira infância sendo portanto de extrema relevância conhecermos o comportamento histopatológico agudo e crônico desta infecção nesta época da vida. Sabe-se atualmente da relação deste patógeno com o aparecimento posterior de disfunções dispépticas, gastrites, úlceras e até ao desenvolvimento de neoplasias epiteliais (carcinomas) e de neoplasias linfocíticas, linfomas MALT principalmente (COVER & BLASER, 1996). 9 A infecção latente pelo vírus Epstein-Barr em indivíduos jovens é sabida e esperada, pois 95% da população mundial está infectada por este (ANDERSSON, 2000), estando também associado ao desenvolvimento futuro de neoplasias malignas tanto epiteliais gástricas (HUNGERMANN et al, 2001), via metaplasia intestinal, quanto neoplasias epiteliais com estroma linfomatoso (BURKE et al, 1990). A resposta linfóide nas biopsias gástricas de crianças parece estar relacionada a infecção pelo H.pylori na maioria dos casos, estando também presente em casos de mononucleose com acometimento gástrico ou ainda como resultado de infecções prévias (respostas imuno-mediadas inflamatórias do hospedeiro) com ou sem tratamentos específicos (antibióticos para outras infecções sistêmicas). Uma análise histopatológica sistemática e global das biópsias gástricas de crianças submetidas a endoscopia digestiva alta no Hospital Universitário Antonio Pedro (HUAP/UFF), ainda não foi relacionada e analisada. É de suma importância conhecermos, portanto, as características da nossa população pediátrica, da prevalência das alterações histopatológicas gástricas e da etiologia no nosso Hospital. Há poucos relatos na literatura referentes a gastrites agudas, presença ou não de atrofia glandular e de metaplasia intestinal em crianças (RICUARTE et a,l 2005), o que torna este estudo mais interessante e relevante. A prevalência da infecção pelo H.pylori é muito maior nos países em desenvolvimento (BOURKE et al, 1996), onde a aglomeração domiciliar e a baixa condição de higiene, favorecem a transmissão da bactéria. O Hospital Antonio Pedro é referência de atendimento da população sócio-economicamente carente de Niterói, 10 sendo de se esperar portanto uma alta prevalência de infecção pelo H.pylori nestas crianças. Por outro lado também é de se esperar uma participação do EBV na etiologia dos sintomas e achados histopatológicos gástricos destas mesmas crianças, já que se trata de uma amostragem infantil e a infecção por este vírus se dá na infância predominantemente, sabendo-se que 95% da população mundial está infectada por este vírus (ANDERSSON, 2000). Tanto o H.pylori, como o EBV compartilham mecanismos imunológicos de reação do hospedeiro que envolvem os linfócitos T, particularmente os CD8+. É importante também, estudar a população linfocitária associada tanto ao H.pylori (MACIORKOWSKA et al 2004), quanto ao EBV (ABBAS et al 1994), pois sabe-se que a resposta linfocitária em alguns casos, deixa de ser protetora e passa a ser responsável por uma (JASKIEWICZ et al, 1993). resposta imunologicamente mediada e exacerbada 11 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 HELICOBACTER PYLORI Desde a primeira cultura do Helicobacter pylori (H.pylori) há vinte e quatro anos (WARREN,1983; MARSHALL, 1983; MARSHALL & WARREN, 1984), que valeu aos autores o prêmio Nobel em 2005 (ZETTERSTRÖM, 2006), o diagnóstico e tratamento das doenças do trato gastrintestinal superior mudou drasticamente. A doença ulcerosa péptica é considerada atualmente, em 90% dos casos, de caráter infeccioso (COVER & BLASER, 1996). A eliminação deste agente causal pode curar o paciente. O papel do H.pylori em cânceres gástricos (carcinomas e linfomas) já está bem estabelecido, a ponto deste bacilo ser considerado a partir de 1994 pelo IARC, uma afiliada da OMS (Working Group Meeting of the International Agency for Research on Cancer em Lyon) um carcinógeno tipo1, ou seja, aquele que é capaz de, independente de outros fatores, causar câncer (LEITE et al, 2005). O risco (odds ratio) de uma pessoa infectada com H.pylori de desenvolver câncer é de 1,9 a 3,8 vezes maior quando comparado com os indivíduos sem H.pylori. Caso a infecção ocorra em indivíduos mais jovens o risco é ainda maior. 12 Enormes progressos vêm sendo obtidos na compreensão da patogênese da infecção, bem como na terapêutica que está cada vez mais eficaz. EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO A infecção com H.pylori ocorre em todo o mundo, estimando-se que 50% da população mundial esteja infectada. A prevalência varia muito entre os países (SINHA, 2004) e entre uma população de um mesmo país (OLIVEIRA, 1994; SOUSA, 2001; MORAES, 2003). A prevalência da infecção está diretamente e fortemente relacionada às condições sócio-econômicas. Na Alemanha verificou-se 13,4% de prevalência da infecção pelo H.pylori, na Dinamarca 21%, no Canadá 56%. No Brasil também há variações como: em Belo Horizonte foi de 34%, em Porto Alegre 24,86% e em Pernambuco 32%. A infecção é adquirida por ingestão da bactéria e é transmitida entre os familiares na infância mais tenra, havendo relatos de transmissão nas primeiras seis semanas de vida (SINHA, 2004). A transmissão do H.pylori parece ocorrer predominantemente através do contato pessoa-pessoa, tanto fecal-oral quanto oral-oral. Este fato parece ser favorecido pela aglomeração domiciliar. Quanto maior o número de habitantes por cômodo, maior a probabilidade de contrair a bactéria. Outro fator de risco para infecção pelo H.pylori em crianças é a história positiva dos pais para doenças gástricas, independente das condições sócio-econômicas. 13 A infecção nos adultos em geral é crônica. Nas crianças é aguda causando hipocloridria raramente detectada, sendo relativamente comum a remissão espontânea (SUERBAUM, 2002), ou cura por ingestão de antibióticos para outras infecções. PATOGÊNESE O Helicobacter pylori é uma bactéria Gram negativa, espiralada, microaerófila, contendo flagelos, sendo provavelmente o agente da infecção crônica mais comum em seres humanos. Este microorganismo foi descrito inicialmente como Campilobacter pyloridis (PRADO et al, 1988), tendo sido classificado posteriormente em um novo gênero, Helicobacter, com base nas características ultraestruturais, genéticas e de componentes de ácidos graxos, além da produção de urease característica desta espécie. O genoma do H.pylori (1.65 milhões de pares de bases) codifica cerca de 1500 proteínas. O genoma muda continuamente durante a colonização da mucosa do indivíduo. Após ser ingerida, a bactéria penetra a mucosa, embora seu principal nicho seja o muco superficial. A produção de urease e a motilidade são essenciais para esta etapa. A urease hidrolisa a uréia em dióxido de carbono e amônia, permitindo com isto, que ela sobreviva em um meio ácido. O H.pylori pode se ligar às células epiteliais por múltiplos receptores de superfície. 14 A maioria das cepas de H.pylori expressa uma citotoxina vacuolada, de 95 kD denominada vacA (vacuolated associated gene), a qual tem papel controverso na patogenicidade do H.pylori, porém um deles é a indução da apoptose através da liberação de citocromo C. Outras cepas possuem uma ilha de patogenicidade, conhecida como cagA (cytotoxin associated gen), um fragmento genômico de 40-Kb contendo 31 genes. Esta região genômica provavelmente está envolvida com o maquinário secretório que faz a translocação da proteína cagA para a célula gástrica epitelial, com associação e liberação de fatores de proliferação celular e desenvolvimento da doença. A heterogeneidade genômica dos H.pylori isolados: cagA, vacA influencia a resposta inflamatória em conjunto com fatores fenotípicos como: variáveis ambientais (dieta, idade da primeira infecção) e resposta imunológica do hospedeiro. A infecção pelo H.pylori tem sido reconhecida como a causa mais freqüente da gastrite e doenças ulcerosas pépticas em crianças (ELITSUR et al, 2002). A infecção crônica pode gerar, no futuro, as lesões malignas (carcinomas ou linfomas) nos adultos. RESPOSTA DO HOSPEDEIRO O H.pylori causa uma inflamação gástrica contínua em potencialmente todas as pessoas infectadas por ele. Esta resposta inicialmente consiste no recrutamento 15 de neutrófilos que suscitam o recrutamento de linfócitos T e B, plasmócitos e macrófagos, com dano epitelial gástrico concomitante. A bactéria raramente invade a mucosa gástrica e todo este desencadear, dá-se pela adesão desta, na célula epitelial, através dos complexos maiores de histocompatibilidade de classe II (MHC), os quais induzem a apoptose, além da secreção de interleucinas. O H.pylori induz uma vigorosa resposta humoral mucosa e sistêmica, com produção de auto-anticorpos relacionados a atrofia gástrica da região do corpo (NEGRINI, 1997).Esta produção de anticorpos não leva a erradicação da infecção, mas ao dano epitelial gástrico. Durante a resposta imune específica, diferentes classes de linfócitos T são recrutadas, que identificam e diferenciam o H.pylori das bactérias comensais. Por ser preferencialmente um agente infeccioso extra celular, é de se esperar uma resposta do tipo Th2 com estímulo dos linfócitos B. Paradoxalmente, as células TH.pylori específicas são fenotipicamente Th1 (CD8+), determinando a persistência da inflamação e do dano epitelial, que também é potencializado pela produção das interleucinas, pelos produtos secretados por neutrófilos e pela apoptose induzida. A resposta do hospedeiro e o curso clínico da doença são extremamente variáveis e influenciados tanto pela bactéria, quanto pela capacidade individual imunológica ou pela interação de ambos. O padrão e a distribuição da gastrite se correlacionam diretamente com a faixa etária (WHITNEY, 2000; ELITSUR et al; 2002), estando também associada ao 16 risco de desenvolvimento de seqüela/reparo (FICHMAN, 2004), úlceras (RAJAN, 1999), carcinomas e linfomas (BEN REJEB, 2000). 2.2 VÍRUS EPSTEIN-BARR O vírus Epstein-Barr (EBV) está disseminado pelo mundo todo, infectando mais de 95% da população adulta (ANDERSSON, 2000). Na maioria dos casos a infecção é assintomática, principalmente em adultos jovens e recebendo por isso, informalmente, a denominação de ―Every Body’s Virus‖ (ANDERSSON, 2000). Em 1958, baseado em extensos estudos epidemiológicos, o cirurgião britânico Dennis Burkitt (BURKITT, 1963), propôs uma hipótese bastante provocativa de que o linfoma entre as crianças da África tropical, seria causado por um vírus ligado aos artrópodos. Em 1964 Epstein e Barr (EPSTEIN & BARR & ACHONG, 1964), a partir de células extraídas e cultivadas das biopsias de linfomas destas crianças africanas e através de observações em microscópio eletrônico, descobriram partículas semelhantes aos herpesvirus, porém com características antigênicas e biológicas distintas daquelas conhecidas naquela época. O vírus então, foi considerado um novo tipo de herpesvirus e nomeado vírus Epstein-Barr por causa do estudo e da descoberta por estes autores. Em 1968 foi estabelecida a ligação do EBV com a mononucleose infecciosa (MI) e desde então, novas terapêuticas têm sido exaustivamente testadas para a MI, entretanto sem o devido sucesso, sendo usado hoje em dia como paliativo a imunomodulação. 17 O EBV é γ-herpes, pertencente ao grupo dos herpesvírus, sendo um DNA vírus, consistindo de uma dupla fita de aproximadamente 175 kpb, subfamília gamaherpesviridae e gênero Linfocriptovírus. Como outros herpesvírus, tem a capacidade de produzir infecção latente, que periodicamente se reativa, produzindo três diferentes formas de latência, através da expressão de nove possíveis proteínas. A importância desta reativação da latência está no fato da maioria destas infecções serem adquiridas na infância e na hipótese do surgimento no futuro de cânceres nos adultos. A associação do EBV com neoplasias malignas humanas é bem conhecida e foi estabelecida com a descrição do linfoma de Burkitt africano e do carcinoma de nasofaringe (ZUR HAUSEN et al, 1970). Além disso, tem sido associado a inúmeras doenças tais como: linfoma B em pacientes imunocomprometidos, linfoma de Hodgkin (EPSTEIN et al, 1964), carcinoma com estroma linfóide (―linfoepiteliomalike‖) de glândula salivar, linfomas T, retocolite ulcerativa e doença de Crohn (HUNGERMANN, 2001). A presença do EBV em carcinomas gástricos com estroma linfomatoso foi relatada em 1990 (BURKE et al, 1990) e em 1992 foi associado ao adenocarcinoma gástrico usual (SHIBATA & WEISS, 1992). É provável que o EBV participe da carcinogênese gástrica através da metaplasia intestinal, já que há relato da presença do EBV (da proteína latente de membrana 1-LMP1) em epitélios gástricos não neoplásicos (YANAI, 1997). Entretanto, recentemente, estudos com hibridização ―in situ― com sondas de RNA marcadas radioativamente para EBER1 e EBER2 18 (HUNGERMANN, 2001), contestam as hipóteses da participação do EBV na etiogênese das alterações adaptativas nas gastrites. O EBV infecta linfócitos B circulantes e T teciduais (KAIZAKE et al, 1998; HIRANO et al, 2003). A infecção se dá nos linfócitos B por ligação específica a receptores de complemento tipo 2 (CD21), seguido de ligação a receptor de endocitose. Sabe-se do fenômeno de imortalização destes linfócitos, ou seja eles podem ser propagados em culturas de células in vitro indefinidamente. O controle destes linfócitos B é feito pela população de linfócitos T do hospedeiro hígido (ABBAS, 1994). O mecanismo de ―homing‖ parece ter participação fundamental na escolha do local onde se assestarão as células infectadas pelo EBV e sendo portanto, de extrema relevância conhecermos o comportamento histopatológico ―agudo‖ e crônico destas infecções nesta época da vida. 2.3 GASTRITE E RESPOSTA LINFÓIDE EM CRIANÇAS O termo gastrite com frequência é usado erroneamente. Gastrite não é um diagnóstico clínico, radiológico, ou endoscópico. Gastrite é um diagnóstico histopatológico. O sufixo ―ite‖ significa inflamação e pressupõe a presença de células inflamatórias (polimorfonucleares e, ou mononucleares) na lâmina própria (DOHIL et al , 1999). As outras condições que não apresentem células inflamatórias na lâmina 19 própria, podendo ou não ter dano ou regeneração epitelial, devem ser referidas como gastropatias. Existem múltiplas causas de gastrites e gastropatias infantis, listadas a seguir: gastropatia por stress, gastropatia neonatal, traumática, gastropatias associadas ao uso de anti-inflamatórios não esteróides, gastropatia hipertensiva congestiva, urêmica, gastropatia por refluxo biliar, corrosiva, induzida por exercício, induzida por radiação, gastrite erosiva e, ou hemorrágica, gastrite varioliforme, gastrite linfocítica, gastrite associada ao Helicobacter pylori , gastrite granulomatosa, gastrite alérgica, por CMV, gastrite celíaca, gastrite eosinofílica, gastrite auto-imune, gastrite flegmonosa, gastrites infecciosas e gastrite inespecífica (DOHIL et al , 1999). A endoscopia gastrointestinal com biopsia é o ―padrão ouro‖ no diagnóstico das condições clínicas gástricas em crianças, sendo considerado um procedimento seguro, com uma baixa taxa de complicações (BOURKE et al, 1996; DIETZ et al, 2001). Desde os primeiros exames endoscópicos realizados em crianças, a incidência da infecção pelo H.pylori aumentou, bem como o diagnóstico de gastrite relacionada a ele, superando atualmente em freqüência os demais agentes etiológicos. A necessidade de uma classificação e graduação mundial para os casos de gastrites, de etiologia variada, e para que todos os patologistas ―falassem‖ uma só linguagem, tornou-se imperativa. A realização de um workshop de patologistas e gastroenterologistas estabeleceram o ―Sistema de Sydney‖ (MISIEWICZ et al, 1990), com sua posterior revisão e atualização sendo realizada em Houston somente por 20 patologistas (DIXON et al, 1996). Este sistema utiliza dois parâmetros: endoscópicos e histológicos e está baseado na topografia, morfologia e etiologia da inflamação. A versão atualizada implementou uma escala visual análoga, que facilitou a graduação da gastrite (severidade da inflamação), da atividade, da atrofia glandular e da metaplasia intestinal, bem como a quantificação da infecção pelo H.pylori, considerado a maior causa de gastrite. O primeiro passo da utilização do Sistema de Sydney é a topografia, ou seja de qual região é a biopsia: fúndica, transição ou antral ou uma combinação estatística de regiões, ou até uma pangastrite. O segundo passo é a morfologia, detalhada a seguir: A atividade é considerada a presença de neutrófilos no epitélio (exocitose) ou no córion, ou ainda no lúmen-microabscessos. A ausência de atividade atualmente é denominada de gastrite inativa. A atrofia glandular é definida como ausência de glândulas, total ou parcial, relacionada ou não ao agente etiológico, ou associada ou não a metaplasia intestinal. Metaplasia intestinal é definida como a substituição do epitélio glandular gástrico ou foveolar, pelo epitélio intestinal com a presença ou não das células de Paneth. Todos, pela escala visual análoga do ―Sistema de Sydney‖ (ANEXO), são quantificados em: ausente (0), leve (1), moderado (2) e acentuado (3); sendo a metaplasia intestinal classificada em completa (presença das células de Paneth) ou incompleta. 21 Este sistema foi criado e depois modificado, baseado em estudos com biopsias gástricas de adultos. Atualmente há vários estudos propondo classificações para as afecções gástricas pediátricas (DOHIL et al 1999), havendo entretanto tantos outros que mostram com propriedade, a aplicabilidade do ―Sistema de Sydney‖ em biopsias gástricas de crianças (COHEN et al, 2000). Este estudo mostra inclusive que o número requerido de fragmentos pelo ―Sistema de Sydney‖ para crianças, parece ser excessivo, podendo o fragmento antral ser somente representativo para amostragem na população pediátrica. Outros estudos substanciam esta afirmação mostrando que a gastrite causada pelo H.pylori tem uma predileção pelo antro-parede anterior da pequena curvatura da porção mediana do antro (ELITSUR et al 2002). Eles concluem que se só for possível a obtenção de poucos fragmentos (por questões éticas ou clínicas), que o local de escolha seja o antro. A mucosa gástrica naturalmente não contem tecido linfóide, mas somente poucos linfócitos T e B: 2 a 5 linfócitos no córion, 2 a 3 em cada fovéola, além de até 5 linfócitos por 100 células epiteliais superficiais. Normalmente não há plasmócitos e macrófagos na lâmina própria gástrica (OWEN, 1986; DIXON et al, 1996). Qualquer infiltrado mononuclear com números de células acima destes mencionados possibilita o diagnóstico de gastrite crônica. A inflamação crônica tem um papel importante através dos linfócitos T citotóxicos na destruição tissular (glandular). 22 Os linfócitos T supressoras/citotóxicas, CD8 ou também OKT8. são Possuem conhecidos receptores como que células se T ligam especificamente a receptores MHC de classe I e que podem aumentar a afinidade da interação entre estas células e a célula alvo durante a ativação antígenoespecífica. Esta célula contribui para a iniciação, progressão e regulação de processos auto-imunes (WALTER & SANTAMARIA, 2005) A inflamação linfocitária gástrica, seja ela na forma de agregados linfóides com ou sem a formação de centros germinativos bem definidos, é um achado característico da gastrite pelo H.pylori e representa uma resposta imune da mucosa à bactéria, parcialmente como um processo auto-imune (JÁSKIEWICZ & KOBIERSKA, 2000). O tamanho dos agregados linfóides em gastrites crônicas de crianças se correlaciona com a presença histológica do H.pylori, mas não exclusivamente, podendo também estar associado a outros agentes infecciosos como o EBV, a gastrite linfocítica, linfomas MALT em fase inicial, ou ainda à persistência deste infiltrado inflamatório linfocitário após terapêutica para erradicação do H.pylori. Há estudos que demonstram que o infiltrado linfóide pode persistir após o tratamento para o bacilo (GENTA et al, 1993) e ser observado em biopsias gástricas realizadas vários meses e até dois anos após interrupção dos medicamentos. O infiltrado inflamatório polimorfonuclear neutrófilo é responsável pelo conceito de atividade da gastrite crônica (gastrite crônica ativa), que está preferencialmente relacionada ao H.pylori como o agente etiológico. A densidade de neutrófilos está diretamente relacionada ao dano mucoso e a intensidade de 23 infecção pelo H.pylori. Neutrófilos são indicadores sensíveis da presença ou ausência desta bactéria e desaparecem dias após a cura da infecção. Se eles são observados em biopsia pós-tratamento, procura cuidadosa deve ser feita inclusive com colorações mais específicas (colorações pela prata), estudos imunohistoquímicos ou até reação da polimerase em cadeia, a qual aumenta em 20% a positividade da bactéria (ZSIKLA et al, 2006). 24 3 OBJETIVOS GERAL Estudar a associação da resposta linfóide com Helicobacter pylori e com vírus Epstein-Barr em biópsias gástricas de crianças submetidas a endoscopia digestiva alta no Hospital Universitário Antônio Pedro/ UFF. ESPECÍFICOS 1. Descrever as características demográficas, clínicas, endoscópicas e histopatológicas de crianças submetidas à endoscopia digestiva alta no Hospital Universitário Antônio Pedro/ UFF. 2. Determinar a presença de gastrite crônica segundo os critérios do Sistema de Sydney, nas crianças definidas no objetivo 1. 3. Observar a prevalência da infecção pelo H.pylori nas biopsias de crianças definidas no objetivo 1. 4. Verificar a presença da resposta linfóide nas biopsias gástricas de crianças definidas no objetivo 1 e sua possível associação com H.pylori e EBV. 5. Estudar a presença de linfócitos T através de estudo imuno-histoquímico para linfócitos T CD8 +. 25 4 MATERIAIS E MÉTODOS A amostra do presente estudo consta de 142 biopsias procedentes de 129 crianças e foi selecionada retrospectivamente no arquivo do Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP), identificando a totalidade das biopsias gástricas de crianças de 01(um) a 12 (doze) anos de idade, no período de janeiro de 2002 a dezembro de 2004. A idade limite de 12 anos foi baseada nos critérios da Sociedade Brasileira de Pediatria, adotada no HUAP, para início da préadolescência. Foram excluídas as biopsias das crianças com história de ingestão prévia de substâncias tóxicas (por ex.: soda cáustica e água sanitária). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade de Medicina/ HUAP. Todas as biopsias foram obtidas através de endoscopia digestiva alta, sob narcose, realizadas por uma mesma gastroenterologista ou sob sua supervisão direta, no Serviço de Endoscopia do HUAP. Estas, foram coletadas nos locais de lesão (na endoscopia) ou quando ―normais‖(na endoscopia), da região fúndica e,ou antral. Os dados clínicos mais relevantes foram obtidos a partir dos registros das solicitações de exames histopatológicos pelos gastroenterologistas e foram registrados como: idade, sexo, sinais ou sintomas (dor, refluxo, náuseas, hematêmese e vômitos), relato de tratamento prévio para o Helicobacter pylori, bem 26 como os dados endoscópicos usuais (gastrite enantematosa leve definida como: edema e congestão leves da mucosa; erosão; hiperplasia nodular linfóide e endoscopia normal). As biopsias foram acondicionadas em frascos com formol a 10% e levadas ao Serviço de Anatomia Patológica do HUAP. Foram descritas macroscopicamente quanto ao número de fragmentos, cor, consistência e tamanho. Após serem processadas no auto técnico Jung histokinette 2000- Leica, com banhos consecutivos de álcool e xilol, foram obtidos blocos de parafina, que a seguir foram cortados em seções seriadas (mínimo de três) de 4 micra (técnica de processamento -Anexo I) e coradas pela hematoxilina-eosina (HE)[ANEXO II]. Todas as biopsias coradas pela HE foram revistas pela autora utilizando-se microscópio óptico (Nykon Alphaphot- Japão) e classificadas pelo ―Sistema Sydney‖ atualizado ( DIXON et al, 1996) e com aplicação pediátrica (COHEN et al, 2000), valendo-se de uma escala visual análoga semi-quantitativa, com base na topografia, morfologia e etiologia. Os achados histopatológicos foram considerados por indivíduo, isto é, caso houvesse mais de uma biopsia gástrica por criança, acondicionadas em diferentes recipientes, elas foram analisadas em conjunto considerando o quadro morfológico de maior gravidade referente a cada variável. As biopsias foram classificadas como gastrites crônicas quando houve a presença de linfócitos [mais de 2 a 5 linfócitos no córion ou fovéola, por campo de 27 grande aumento (CGA)-objetiva de 40x ] e,ou plasmócitos no córion (OWEN, 1986; DIXON et al, 1996) . A gastrite crônica foi quantificada em leve (grau 1), moderada (grau 2) e acentuada (grau 3), segundo a escala visual análoga, semi-quantitativa criada pelo Consenso de Sydney (DIXON et al, 1996), na qual se compara o aspecto morfológico, com padrões de referência (ANEXO). A presença de atrofia glandular também foi analisada qualitativa e quantitativamente (leve- grau 1, moderada- grau 2 e acentuada- grau 3). A atividade inflamatória (neutrófilos no córion ou exocitose epitelial) também foi avaliada e se presente, graduada em: leve- grau 1, moderadagrau 2 e acentuada- grau 3. A presença de metaplasia intestinal foi observada na coloração da hematoxilina-eosina classificada como completa (presença de células de Paneth) ou incompleta (ausência das células de Paneth) (WALKER, 2003). Resposta linfóide equivaleu a: agregado linfóide (definido como mais de 50 linfócitos por Campo de Grande Aumento) ou hiperplasia nodular linfóide (definido como folículos linfóides com centros germinativos bem formados). Foram relatados, como presentes ou ausentes e analisados como alteração histológica única para efeitos estatísticos. Alterações inflamatórias mínimas também foram observadas, a saber: edema e, ou congestão e, ou hemorragia do córion superficial. Para a pesquisa do Helicobacter pylori foram realizadas em todas as biopsias as colorações de Giemsa modificada (ANEXO III), além do Whartin-Starry (ANEXO IV). 28 A presença ou ausência da bactéria H.pylori foi determinada em cada uma das biopsias examinando-se a coloração de Giemsa modificada (ANEXO III), no aumento pela objetiva de 40x, considerada somente a forma bacilar como critério para positividade (GOLDSTEIN, 2002). A quantificação foi também visual e análoga em: leve-1, moderada-2 e acentuada-3. A presença ou ausência (positividade ou negatividade) da bactéria H.pylori também foi examinada na coloração de Whartin-Starry (impregnação pela prata), no aumento pela objetiva de 40x, considerada somente a forma bacilar como critério para positividade. Para a pesquisa do vírus Epstein-Barr foi realizado em todas as biopsias o estudo imuno-histoquímico com o anticorpo anti- LMP1 da DAKO, Carpinteria CA, clones CS1, CS2, CS3 e CS4, com diluição de 1/500 e com recuperação antigênica com tampão citrato pH 6,0 em banho-maria a 96° C (técnica da imuno-histoquímica no ANEXO V). O estudo imuno-histoquímico para EBV utilizando-se o anticorpo anti-LMP1 foi considerado positivo quando houve forte marcação citoplasmática no linfócito, revelada pelo cromógeno, contra-corado com hematoxilina de Harris. Para o estudo dos linfócitos T CD8+ (citotóxicos-helper TH1), foi realizado o estudo imuno-histoquímico com o anticorpo anti-CD8, NovoCastra, clone NCL-CD8, com diluição de 1/400 e recuperação antigênica com tampão citrato pH 6,0, em banhomaria à 96° C (técnica da imuno-histoquímica em ANEXO). 29 Os linfócitos T CD8+ foram considerados positivos quando houve forte marcação citoplasmática. Foram quantificados e contados em cada (por) 100(cem) células epiteliais superficiais e agrupados em: até 5 linfócitos/100 células epiteliais; até 10 linfócitos/100 células epiteliais; até 15/ linfócitos/100 células epiteliais; até 20/ linfócitos/100 células epiteliais; até 25/ linfócitos/100 células epiteliais. A análise estatística envolveu métodos descritivos e analíticos. Todos os dados apresentaram distribuição normal, conforme determinado pelo teste de Kolmogorov-Smirnov e portanto, foram submetidos a testes paramétricos. O Teste t de Student foi utlizado para comparação de variáveis contínuas entre dois conjuntos de dados e o Teste do Qui-quadrado para comparação de proporções. Em todos os casos, foi considerado estatisticamente significativo quando P foi menor que 0,05. As fotos foram realizadas com câmara digital Nikon Coolpix 950, EUA, com as imagens observadas em microscópio Nikon Eclipse E400, Japão. Foram retocadas quanto ao contraste e brilho no programa CorelDraw 9 e trabalhadas graficamente no Microsoft Word 2003. 30 5 RESULTADOS O número de crianças deste estudo totalizou 129, havendo em doze casos, mais de uma biopsia por paciente, perfazendo um total de 142 biopsias. A idade mínima foi de 01 ano e a máxima de 12 anos, sendo a média igual a 08 anos (Tabela 1). A maioria das crianças foi do sexo masculino (52%). A indicação da endoscopia em 87% dos casos, foi para investigação diagnóstica, sendo o restante realizado para controle pós-tratamento (total de 15 crianças). Não foi possível determinar quanto tempo após a primeira biopsia foi realizado este controle pós-tratamento. As crianças apresentavam como queixa principal a dor epigástrica em 74% dos casos, vômitos, refluxo (Tabela 1) e em um percentual mínimo, hematêmese e engasgos (menos de 1%). Na endoscopia, o achado mais freqüente foi de gastrite enantematosa leve (61%), seguido de erosão (16%), endoscopia normal (15%) e aspecto nodular da mucosa, referido pela endoscopista como hiperplasia nodular linfóide (8%). 31 Tabela 1 – Características clínicas, endoscópicas e histopatológicas da amostra (n=129). VARIÁVEL Idade (anos) 8±3 Sexo masc/fem (%) 52/48 Indicação da endoscopia Investigação diagnóstica 112 (87%) Controle tratamento 17 (13%) Clínica Dor 76 (74%) Vômito 18 (17%) Refluxo 9 (9%) Achados na endoscopia Normal 22 (15%) Gastrite enantematosa leve 87 (61%) Erosão 23 (16%) Hiperplasia nodular linfóide 11 (8%) Achados histopatológicos Normal 2 (1%) Alteração inflamatória mínima 41 (29%) Erosão 10 (7%) Gastrite crônica 89 (63%) Helicobacter pylori Negativo 90 (70%) Positivo 39 (30%) Obs: Os números e percentuais em cada variável podem ser diferentes, pois algumas crianças podem apresentar mais de um sintoma e mais de uma biopsia e podem existir mais de um achado em cada biopsia. Quanto à análise histopatológica (Tabela 2), a moda em relação ao número de fragmentos foi igual a 02 (dois), com tamanho médio de 0,4cm na totalidade de fragmentos por biopsia. O padrão (topografia) mais observado foi o antral (Figura 1), seguido da região fúndica, além de um percentual de 7% das biopsias que foram classificadas como não determinado (superficial). A totalidade das biopsias apresentou diferentes achados histopatológicos que variaram de gastrite crônica (63%; Figura 2), alterações inflamatórias mínimas edema, congestão, hemorragia - (29%), erosão (7%) e biopsia normal (1%). Estes 32 achados às vezes foram observados em mais de uma biopsia de uma mesma criança. A prevalência da infecção pelo H.pylori nestas crianças foi de 30,2% (39 positivas em 129 crianças analisadas; Figura 3). Apenas uma criança com H.pylori positivo não apresentava gastrite crônica ou aguda, somente alteração inflamatória mínima. A análise da gastrite, pelo Sistema Sydney, revelou que entre as 129 crianças biopsiadas, 83 (64%) delas apresentavam gastrite crônica, com a análise qualitativa exibida na Tabela 2. Destas 83 crianças, 24% mostravam atividade inflamatória leve, sendo entretanto a maior parte inativa (55%). A atrofia glandular só foi observada em 20% dos 83 casos, sendo leve nestes e foram sempre observadas nos fragmentos de origem antral (Figura 4). A metaplasia intestinal foi observada em 5 casos (6%), sendo completa (com células de Paneth) em 2% (Figura 5). A resposta linfóide foi agrupada em agregados linfóides (sem centros germinativos bem formados) e hiperplasia nodular linfóide, tendo sido encontrada em 48% desta amostra (Figura 6). 33 Tabela 2 – Descrição dos achados histopatológicos segundo o sistema de Sydney (n=83) em crianças com gastrite crônica. VARIÁVEL Topografia (padrão) Fúndico Transição Antral Não determinado Intensidade Leve Moderada Acentuada Atividade Inativa Leve Moderada Acentuada Atrofia Ausente Leve Moderada Acentuada Metaplasia intestinal Ausente Incompleta Completa Hiperplasia nodular linfóide/agregado linfóide Ausente Presente Helicobacter pylori Negativo Positivo n (%) 31 (22%) 3 (2%) 98 (69%) 10 (7%) 58 (70%) 19 (23%) 6 (7%) 46 (55%) 20 (24%) 16 (19%) 1 (1%) 66 (80%) 17 (20%) --78 (94%) 3 (4%) 2 (2%) 43 (52%) 40 (48%) 44 (54%) 38 (46%) Obs: As variáveis topografia (padrão) e H.pylori referem-se ao total de biopsias (n=142). O estudo imuno-histoquímico para linfócitos CD8+ revelou que 12% das biopsias não apresentavam positividade para estes linfócitos no epitélio superficial (Figura 7). Oitenta e três por cento das crianças mostravam até cinco linfócitos CD8+ (Figura 7 a) por cem células epiteliais superficiais (CES). Quatro por cento das crianças tinham até 10 CD8+/100 CES (Figura 7 b) e 1% até 25 CD8+/100 CES. 34 O estudo imuno-histoquímico para pesquisa da proteína latente do EBV com o anticorpo anti-LMP1 mostrou negatividade na totalidade das 142 biopsias testadas (Figura 8), tanto nos agregados linfóides, quanto na hiperplasia nodular linfóide e como também nas células epiteliais, com ou sem metaplasia intestinal. A pesquisa do Helicobacter pylori foi feita na coloração de Giemsa modificada em todos as cento e quarenta e duas biopsias bem como a coloração de WhartinStarry. Das biopsias sem gastrite crônica (GC) nenhuma demonstrou positividade para H.pylori. Daquelas que foram classificadas como GC (n=83) 46% foram positivas para H.pylori, enquanto 54% foram negativas. Apenas uma biopsia resultou positiva na coloração Whartin-Starry após ter sido considerada negativa no Giemsa. Este caso, portanto, foi considerado positivo (Figura 9). Todos os casos que mostraram atividade inflamatória (Figura 10) mostraramse positivos para H.pylori (100%). Os casos sem atividade inflamatória e H.pylori positivo foram os casos com erosão, em que a presença dos neutrófilos é marcador da própria erosão e portanto especificamente não se quantificou a atividade nestes casos. Os casos com metaplasia intestinal incompleta (n=3) em que a pesquisa de H.pylori foi positiva, mostraram também atividade inflamatória concomitante, enquanto os outros dois casos de metaplasia intestinal completa não demonstraram esta mesma relação. 35 A média de idade das crianças com pesquisa negativa para H.pylori foi de 7,1 anos, com desvio padrão de ± 3,3 enquanto que a média da idade das crianças com pesquisa positiva para H.pylori foi de 9,1, com desvio padrão de ± 2,8. O teste T de Student mostrou que a idade das crianças positivas para H.pylori foi significativamente maior do que as que foram negativas para H.pylori (p <0,001). A média de idade das crianças com pesquisa positiva para H.pylori e que mostraram a resposta linfóide foi 8,8 com desvio padrão de ± 3,0; enquanto média de idade das crianças com pesquisa negativa para H.pylori e que exibiram resposta linfóide foi de 7,6 e com desvio padrão de ± 3,0. O teste T de Student também mostrou que há diferença significativa na idade mais elevada das crianças que mostraram-se positivas para H.pylori e com resposta linfóide presente (p <0,001). O achado da resposta linfóide (agregados linfóides/ hiperplasia nodular linfóide) foi mais freqüente nas crianças com positividade para H.pylori (p <0,001; Figura 11). 36 Helicobacter pylori (+) 20% 80% Resposta linfóide (+) Resposta linfóide (-) Helicobacter pylori (-) 15% 85% Resposta linfóide (+) Resposta linfóide (-) Figura 11: Proporção de crianças com resposta linfóide nas biopsias ástricas naquelas com positividade e negatividade para H. pylori (P<0,001). Quinze crianças revelaram resposta linfóide com H.pylori negativo nas colorações pelos Giemsa e Whartin-Starry, negatividade também para EBV (LMP1) e quantificação normal de linfócitos T CD8+ (5/100). 37 6 DISCUSSÃO Este estudo foi elaborado a partir do exame durante a checagem na rotina com residentes do Serviço de Anatomia Patológica do HUAP em 2003, de uma biopsia gástrica de uma criança de 03 anos de idade (B03.1595) com gastrite crônica moderada, resposta linfóide evidente e pesquisa para H. pylori positiva com grande quantidade de bacilos na coloração pelo Giemsa. Este achado impulsionou a análise retrospectiva detalhada e sistemática de biopsias gástricas infantis, na intenção de sabermos o comportamento da população local e investigarmos se aquele era somente ou não um caso isolado. Outro ponto importante é a escassez na literatura de dados brasileiros da nossa região (RJ), sobre achados em biopsias gástricas de crianças, principalmente as de pouca idade. A amostra retrospectiva foi selecionada no nosso serviço, com revisão dos achados histopatológicos e investigação do agente causal. Os achados da prevalência da infecção pelo Helicobacter pylori foram apresentados primeiramente na Semana Científica do HUAP/UFF em 2004 e mais detalhadamente (prevalência, histopatologia e etiologia) no Congresso Brasileiro de Patologia em Natal em 2005 (ANEXO). As crianças apresentaram como queixa principal a dor epigástrica em 74% dos casos, muitas vezes de caráter recorrente o que está em concordância com a literatura, como descreve Cover (COVER, 1996). Vômitos, refluxo gastro-esofágico e, em um percentual mínimo, náuseas, anemia, hematêmese e engasgos (juntos estes quatro somaram menos de 0,1%), são os outros sintomas relatados. Trinta por 38 cento dos nossos casos apresentaram positividade para H. pylori e a queixa mais freqüente das crianças foi dor epigástrica. A infecção aguda pelo referido bacilo pode levar semanas apresentando a clínica de dor e náuseas ou tornar-se crônica por décadas, assintomática por anos ou até apresentar novamente dor, náuseas e até sintomas dispépticos ulcerosos (COVER, 1996). Na endoscopia, o achado mais freqüente no Serviço de Endoscopia do HUAP/UFF foi de gastrite enantematosa leve (61%), seguido de erosão (16%), endoscopia normal (15%) e aspecto nodular da mucosa, referido pela endoscopista como hiperplasia nodular linfóide (8%). Este achado endoscópico correlacionou-se com os achados histopatológicos de resposta linfóide em 100% dos casos, novamente em concordância com a literatura (COHEN et al, 2000; RAFFEY, 2004). A moda em relação ao número de fragmentos foi igual a 02 (dois), com tamanho médio de 0,4cm na totalidade de fragmentos por biopsia. O padrão histológico (topografia) mais observado foi o antral, seguido do padrão fúndico, além de um percentual de 7% das biopsias que foram classificadas como não determinado (superficial). O número de dois fragmentos,a maioria proveniente do antro, embora pequenos, foi suficiente para os diagnósticos aqui apresentados.O grupo argentino do Dr. Drut relata que um fragmento seria suficiente caso o antral fosse o de escolha para retirada (COHEN et al, 2000); outro trabalho mostra que o local de preferência do H. pylori é a região médio-antral (ELITSUR et al, 2002), portanto nossa amostra está em concordância com a literatura. 39 A totalidade das biopsias apresentou diferentes achados histopatológicos que variaram de alterações inflamatórias mínimas: edema, congestão, hemorragia (29%), erosão (7%) a biopsia normal (1%). Estes podem ser observados em crianças com quadro provavelmente agudo, ou por H. pylori ou outras causas como estresse por exemplo (DOHIL et al, 1999). Em 63% dos casos o achado foi de gastrite crônica e a prevalência da infecção pelo H.pylori nestas crianças foi de 30,2% (39 positivas em 129 crianças analisadas). A análise da gastrite crônica pelo Sistema Sydney ratificou nos nossos dados os achados da Dra. Cohen, mostrando também ser aplicável nas crianças brasileiras. Entre as 129 crianças biopsiadas, 83 (64%) delas apresentavam gastrite crônica, sendo mais freqüentes nas crianças de maior idade. Destas 83 crianças, 24% mostravam atividade inflamatória leve, sendo entretanto a maior parte inativa (55%). Todos os casos que mostraram atividade inflamatória mostraram-se positivos para H.pylori (100%). Os casos sem atividade inflamatória e H.pylori positivo foram os casos com erosão, em que a presença dos neutrófilos é marcador da própria erosão e portanto especificamente não se quantificou a atividade nestes casos (COHEN et al, 2000). A atrofia glandular foi observada em 20% dos 83 casos, sendo leve nestes e foram sempre observadas nos fragmentos de origem antral. O trabalho da Dra. Cohen não observou atrofia nas 15 biopsias examinadas, bem como refere que desconhece tal achado em crianças. A amostra do nosso estudo (n=142) talvez tenha permitido achar mais facilmente este parâmetro. O carcinoma gástrico tem relação direta com a atrofia glandular (RICUARTE et al, 2005). O trabalho deste 40 autor recomenda que em países em desenvolvimento acrescente-se um fragmento da região da transição na pequena curvatura, local de incidência nestes países dos adenocarcinomas gástricos. A metaplasia intestinal foi observada em 5 casos (6%), sendo completa (com células de Paneth) em 2%. O grupo da Dra. Cohen observou metaplasia intestinal em 3 das 15 biopsias examinadas, mas também refere que este é um achado pouco freqüente nas crianças. Sabe-se que o tratamento e acompanhamento posterior mostra que tal adaptação celular desaparece com o tempo (GENTA et al 1983; COHEN et al, 2000), o que é benéfico já que a metaplasia intestinal é considerada um ambiente propício para o desenvolvimento da neoplasia epitelial gástrica (ODZE et al, 2004). O agente causal preponderante da inflamação foi o H. pylori, associado a evidente resposta linfóide. Entretanto um percentual de crianças demonstrou resposta linfóide com a pesquisa do H. pylori negativa. Nosso estudo foi motivado pela tentativa de conhecermos a etiologia deste fenômeno, pois sabe-se da relação do tecido linfóide associado a mucosa (MALT) e a possibilidade de desenvolvimento de linfomas (BEn REJEB et al, 2000). Para isto realizamos a pesquisa do EBV em todas as biopsias destas crianças, sabidamente agente causal latente extremamente freqüente na população mundial (ANDERSSON, 2000) e enfim quantificamos na mucosa os linfócitos CD8+, implicados em processos de intolerância alimentar e auto-imunidade e também aumentada na resposta imunológica ao H. pylori (LI et al, 2005). 41 O presente estudo através dos resultados observados nas biopsias gástricas das crianças submetidas a endoscopia no HUAP/UFF, mostrou uma prevalência de 30,2% de infecção pelo H. pylori. Outros estudos que buscaram determinar a prevalência do H.pylori, encontraram uma ampla faixa de resultados. Sinha et al (SINHA et al, 2002) mostrou que a soropositividade na comunidade Wasamagak (comunidade Canadense) foi de 95% (adultos e crianças) e que entre as crianças de 0 a12 anos a pesquisa de antígeno fecal para H.pylori, desta mesma comunidade foi de 56%, tendo sido realizado em algumas crianças a análise pelo PCR. No Japão verificou-se H. pylori positivo em crianças e adolescentes de 0 a 16 anos de idade, em biopsias gástricas analisadas com colorações pelo Giemsa e pela prata, além de cultura para H.pylori (KATO et al, 2004). A prevalência de H. pylori neste estudo japonês variou de 28,8% nos casos com gastrite crônica sem agregado linfóide a 98,5% nos casos de gastrite nodular, ou seja, com agregado linfóide. Além das diferenças sócio-econômicas entre os países, alguns aspectos metodológicos dificultam uma comparação direta com os nossos resultados. Por exemplo, o estudo japonês incluiu crianças com idade até 16 anos, o que pode explicar uma maior prevalência (BOURKE et al, 1996) que o nosso, já que não incluímos crianças maiores de 12 anos. Outro aspecto foi a utilização de múltiplos métodos de detecção da bactéria tanto no estudo de Sinha et al (2002), quanto de Kato et al (2004). O primeiro utilizou o PCR para identificação da bactéria, o que pode aumentar e muito a detecção do microorganismo como demonstrou Zsikla et al (2006), enquanto que o segundo amplificou a possibilidade de detecção pela realização de cultura para H.pylori. Outro elemento metodológico relevante é o fato de que a análise sorológica e pesquisa de antígeno nas fezes tem a capacidade de detectar a infecção de H.pylori na fase aguda, enquanto que o nosso estudo foi realizado em crianças com 42 quadro de dor recorrente, portanto mais provavelmente portadoras de um processo crônico. Uma outra explicação teórica para a nossa baixa prevalência, apontado pelos autores japoneses (KATO et al 2004), é o desmame precoce destas crianças e a introdução de chupetas e mamadeiras naqueles países, aumentando portanto, o risco de contaminação oral-oral, oral-fecal, sendo a mãe o vetor responsável. No nosso meio, o aleitamento materno exclusivo é incentivado até os seis meses de idade, com retardamento da introdução das mamadeiras e chupetas, o que diminuiria a prevalência da infecção, agindo o leite materno também como fator de proteção humoral (KATO et al 2004). Outro fato importante é que provavelmente somente a biopsia gástrica não seja suficiente para excluir a infecção pelo H.pylori, sendo necessária a associação com outros métodos para aumentar a sensibilidade diagnóstica, como por exemplo a realização do PCR a partir da biopsia gástrica (ZSIKLA et al, 2006). A prevalência no HUAP/UFF de 30,2% de positividade para o H. pylori foi semelhante a outros estudos realizados no nosso país. Levantamento realizado na cidade de Porto Alegre (SOUSA et al, 2001) demonstrou que a prevalência de H. pylori em biopsias gástricas de crianças no Hospital de Clínicas daquela cidade foi de 24,9%, enquanto na cidade de Belo Horizonte (Oliveira et al, 1994) a soroprevalência foi de 34,1%. Este último foi realizado em uma comunidade sabidamente de baixo padrão sócio-econômico. Em Pernambuco, no Hospital Geral de Pediatria a soroprevalência do H. pylori variou de 28,6% nos pré-escolares a 39,4% nos escolares (MORAES et al, 2003). Estes estudos sugerem que, populações de baixo nível sócio-econômico, com aglomerações domiciliares, ausência de saneamento básico, comidas e águas infectadas e devido a alta 43 prevalência de adultos infectados, a contaminação infantil seja facilitada e consequentemente a prevalência da infecção entre as crianças seja maior. Uma característica da nossa população infantil estudada é que a maioria, 51% das crianças, não possuíam prontuário do HUAP, eram portadoras de FAE (ficha de atendimento especial), ou seja eram provenientes de outras clínicas, hospitais ou municípios (São Gonçalo por exemplo). Portanto, não foi possível analisar as condições sócio-econômicas e sanitárias, já que tais fichas trazem informações resumidas. A população atendida no HUAP é proveniente de comunidades carentes, isto é, de padrão sócio-econômico baixo, por esta razão esperávamos uma alta prevalência de infecção pelo H. pylori, mas assim como no estudo de Belo Horizonte, encontramos uma baixa prevalência. Há que se considerar, porém sem podermos afirmar com certeza, tal como o autor mineiro Oliveira et al (1994) especulou, que a água e os alimentos consumidos talvez estejam em melhores condições e com menores índices de coliformes fecais, justificando desta maneira o índice observado. De acordo com David A. Owen (OWEN, 1986) a mucosa gástrica naturalmente não apresenta tecido linfóide, como vemos as placas de Payer no intestino delgado. Poucos linfócitos T e B são evidenciados na lâmina própria, na fovéola ou nas células superficiais. O achado morfológico da resposta linfóide em 40 casos (48%), sob a forma de agregados ou hiperplasia nodular linfóide com centros germinativos bem definidos nas nossas biopsias infantis, estava associada em 80% dos casos com positividade para H.pylori. Este resultado está de acordo com a literatura mundial, tanto para adultos (COVER & BLASER, 1996; GENTA et al, 44 1993), quanto para crianças (COHEN, et al, 2000). Quanto maior a idade, maior a resposta linfóide, provavelmente pela imuno competência adquirida com o crescimento e amadurecimento do sistema imunológico. A coloração da impregnação pela prata foi usada nos nossos casos na intenção de maior detecção de positividade para H.pylori, principalmente nas biopsias negativas para H.pylori, mas com resposta linfóide presente. Somente uma biopsia com resposta linfóide foi negativa para H.pylori na coloração de Giemsa modificada e positivou após a realização da coloração de Whartin-Starry. Vários estudos demonstraram que não houve diferença significativa entre as colorações especiais de Giemsa modificada (GRAY et al, 1986) e Whartin-Starry (ORTIZMARTINEZ et al, 2005) para a detecção do bacilo na sua forma espiralada. Entretanto, há diferença destas se comparadas com a coloração da hematoxilina e eosina (H.E.) usada na rotina para diagnóstico. Ambas são mais sensíveis que o H.E. (ORTIZ-MARTINEZ et al, 2005). Nosso estudo mostrou dados concordantes com a literatura. A coloração de Giemsa revelou-se mais fácil, rápida, barata e de fácil identificação da bactéria. A coloração de Whartin-Starry é mais cara, demorada e não se mostrou na prática mais eficiente que o Giemsa na detecção do H.pylori. Portanto, os resultados deste nosso estudo parecem não justificar, em exames de rotina, o uso das duas colorações, mas somente a coloração do Giemsa modificada, pelas vantagens acima expostas. Entretanto, com o advento das técnicas mais avançadas de diagnóstico, sabe-se que hoje em dia o exame de preferência em casos duvidosos não são as colorações especiais, mas sim a reação da polimerase em cadeia (PCR), como relatado por ZSIKLA V.et al em fevereiro de 2006. 45 Quinze crianças apresentaram resposta linfóide na ausência do Helicobacter pylori. Esta ausência foi detectada no Giemsa e confirmada pela coloração de Whartin-Starry. Neste momento coube a pergunta: ‖Qual seria a etiologia desta resposta linfóide‖? De acordo com a revisão de Andersson (2000) sobre EBV 95% da população mundial está infectada pelo EBV. Portanto pareceu-nos razoável investigar se a etiologia da resposta linfóide nestes casos era este vírus. É sabido também que o EBV está implicado na gênese de carcinomas com estroma linfomatoso e de linfomas do tipo Burkitt (ANDERSSON, 2000). Além disto, há relatos (HUNGERMANN et al, 2001) do envolvimento do EBV com a Doença de Crohn, a qual também pode acometer a mucosa gástrica. Por todas estas razões relevantes realizamos então, em todas as biopsias (n=142) e não somente nas quinze referidas, estudo imuno-histoquímico para LMP1, já que estaríamos buscando uma infecção latente, pois nenhuma criança apresentava quadro clínico compatível com mononucleose, na época em que foi realizada a biopsia. O resultado revelou negatividade na totalidade da amostra, tanto nos linfócitos, assim como demonstrou KAIZAKE Y. et al em 1998, quanto nas células metaplásicas relatado por YANAI H. et al em 1997. Observamos entretanto um aspecto interessante nas glândulas da região fúndica, particularmente nas células parietais. Estas mostraram imuno marcação citoplasmática positiva e forte, sem ―reação de fundo‖ associada (Figura 12). Tal aspecto pode estar relacionado ao fato destas células produzirem uma glicoproteína chamada ―fator intrínseco‖ responsável pela ligação da vitamina B12 na superfície ou no lúmen gástrico, formando um complexo que é absorvido no íleo terminal. Este fato pode explicar uma ligação inespecífica com a biotina (que pertence a classe do complexo de vitaminas B), utilizada na reação imunohistoquímica (avidina-biotina-peroxidase). Tanto a região fúndica, quanto a transição 46 e o antro exibem células parietais, porém em proporções diferentes. Portanto para que tal fenômeno não seja detectado nas biopsias gástricas, o ideal seria fazer o sistema Envision, da DAKO Carpinteria CA, que não utiliza a biotina no processo, porém de custo bem mais elevado para ser utilizado na rotina. Outro aspecto a ser considerado é que a LMP1 foi descrita para linfócitos cancerosos e não para biopsias gástricas de crianças com gastrite crônica, embora esta técnica tenha sido usada por outros autores, com resultados semelhantes (JASKIEWICZ et al, 2000). Dentre as quinze crianças com resposta linfóide e pesquisa para H. pylori negativa, cinco fizeram endoscopia de controle pós-tratamento para H. pylori, o que explica nestes casos a presença ou melhor, a persistência da resposta linfóide. Vários autores têm relatado tal aspecto, a começar pelo trabalho mais clássico de GENTA e colaboradores (GENTA et al, 1983). Neste artigo os autores apresentam a hipótese da presença dos folículos linfóides relacionados a estimulação antigênica crônica exercida pelo microorganismo sobre a mucosa gástrica, representando desta forma uma resposta imune contra o bacilo. Este fenômeno não é H.pylori- específico, também acontecendo em outras entidades, porém de forma diversa como na gastrite auto-imune (JASKIEWICZ et al, 2000). A presença da resposta linfóide foi observada em adultos como nos estudos citados acima, entretanto autores como D’Armiento e Prieto mostram achado semelhante em crianças (PRIETO et al,1992; D’ARMIENTO et al, 1994). O fato é que estes estudos evidenciam que a resposta linfóide pode demorar para desaparecer de meses até três anos após o tratamento para erradicação do bacilo, demonstrado pelo grupo argentino do Prof. Drut (COHEN & DRUT, 2005). Portanto, nestes nossos cinco casos a presença da resposta linfóide notada, pode estar relacionada ao tratamento 47 prévio, coletado dos dados clínicos, embora não haja referência ao tempo entre a primeira biopsia e a realizada para controle pós-tratamento. Entretanto ficou a indagação a cerca da causa para as dez biopsias restantes. A hipótese do H. pylori como responsável era remota, pois as duas colorações haviam sido negativas anteriormente, mesmo sabendo que atualmente o exame de escolha para certeza nestes casos seja o PCR. Há um indicador nestas biopsias que chama a atenção que é a ausência de atividade inflamatória ou até de erosão. Nos nossos casos e de acordo com a literatura (COHEN et al, 2000), os neutrófilos são marcadores da presença do bacilo. Portanto é pouco provável que tal microorganismo seja o agente etiológico nestes casos. A procura pelo EBV também foi realizada através da proteína latente da infecção. O método de escolha mais adequado também é o PCR (ZSIKLA et al, 2006), porém estudos na literatura (HUNGERMANN et al, 2001) mostram que o estômago não é o local de escolha para os linfócitos B imortalizados pela infecção pelo EBV, como já foi apontado anteriormente. A mucosa gástrica não parece possuir o mecanismo de homing necessário para o assentamento destes linfócitos infectados (ABBAS ET AL, 1994). Portanto, assim com no estudo de Jaskiewicz (JASKIEWICZ et al, 2000) há que se considerar outros fatores para a gênese deste processo. Cinqüenta por cento dos pacientes com agregados ou hiperplasia linfóide na mucosa antral (nossa maior amostra), está relacionada a clínica de anemia perniciosa (FONG et al 1991), tratando-se de gastrite do tipo B, isto é auto-imune. Não há também nestes casos quadro clínico compatível com anemia. A única criança com clínica de anemia (ferropriva) era H. pylori positiva. 48 Realizamos através de estudo imuno-histoquímico a análise da presença dos linfócitos T CD8+. Há evidências recentes que mostram que estes linfócitos regulam, propagam e iniciam diversas respostas patogênicas auto-imunes (WALTER et al, 2005), matando células alvo diretamente ou através da secreção de citocinas. A gastrite linfocítica seria outra possibilidade de etilogia nestes casos, estando diretamente ligada a processos imuno mediados e tendo relação direta com a intolerância a glúten, ou seja a doença celíaca (ALASAIGH et al, 1996; DRUT & DRUT, 2004). Desta forma resolvemos estudar não só nestas dez biopsias mas nas 142, o comportamento dos linfócitos CD8+, através da contagem deles por 100 células epiteliais, à semelhança do diagnóstico da gastrite linfocítica ( acima de 25 CD8+/100 células epiteliais), na intenção de confirmar ou descartar a hipótese desta entidade como responsável ou co-responsável pela resposta linfóide. Nossos resultados nestas dez biopsias foram de normalidade da presença deles na mucosa, isto é: até 5 linfócitos CD8+ por cem células epiteliais superficiais, o que está de acordo com a normalidade citada por David Owen que descreve a histologia normal do estômago (OWEN et al,1986). Das 142 biopsias das 129 crianças, somente seis apresentaram contagem de CD8+ acima do normal. Cinco delas mostraram até 10 CD8+/100 CES e uma mostrou 25 CD8+/ 100 CES. Quase todas tinham relação ao H. pylori, ou eram H. pylori positivas ou haviam feito tratamento prévio para erradicação do bacilo. Só uma criança era H. pylori negativa, apresentando na clínica dado interessante de diarréia crônica a esclarecer. Neste caso fica a hipótese da possibilidade da intolerância alimentar, relacionada a reação imuno-mediada pelo linfócito CD8+ (NEGRINI et al, 1997), sem no entanto sabermos exatamente qual seria o fator alimentar associado. Exames clínicos seriam necessários neste caso. Para os patologistas que encontrassem nas biopsias esta quantidade de linfócitos 49 intra-epiteliais, valeria a pena ressaltar no laudo anotando a possibilidade da existência de uma intolerância alimentar, na dependência da correlação com os dados clínicos e laboratoriais. Nossa resposta a cerca da etiologia para estes dez casos fica na verdade em aberto, cabendo novas e minuciosas investigações, bem como as possibilidades de outros agentes infecciosos. Sabemos que crianças tomam antibióticos para outras infecções bacterianas como por exemplo: amigdalites, faringites, pneumonias,etc. Uma outra hipótese é a da cura ou resolução do processo infeccioso gástrico pelo tratamento cruzado, restando no estômago somente a ―seqüela‖ da resposta linfóide (PRIETO et al, 1992). 50 7 CONCLUSÕES 1. A maioria das crianças submetidas à endoscopia digestiva alta no HUAP/UFF era do sexo masculino, com queixa principal de dor abdominal recorrente, com achado endoscópico mais relevante de gastrite enantematosa leve e alteração histopatológica mais freqüente de gastrite crônica. 2. As biopsias das crianças com gastrite crônica mostraram-se na maioria de intensidade leve e inativa, sendo o padrão da região antral o mais encontrado. A atrofia glandular e a metaplasia intestinal foram observadas em um percentual reduzido das biopsias. Quase a metade dos casos evidenciou hiperplasia nodular linfóide/agregado linfóide e positividade para Helicobacter pylori. 3. Embora em um percentual reduzido, a atrofia glandular estava presente, acontecendo em crianças com infecção pelo H. pylori, podendo ser uma seqüela no processo de cura. 51 4. A prevalência de infecção pelo Helicobacter pylori nas crianças submetidas a endoscopia digestiva alta no HUAP/UFF foi de 30,2%, concordante com a população brasileira. 5. A resposta linfóide esteve presente em 48% das biopsias gástricas de crianças submetidas à endoscopia no HUAP/UFF e não está associada ao EBV (LMP1). Entretanto, há associação desta resposta linfóide em 80% dos casos com positividade para H.pylori. 6. A resposta linfóide pode ser um achado morfológico pós-tratamento para erradicação do H. pylori, ou ainda após tratamento com antibióticos para outras infecções sistêmicas; sugerindo que a resposta linfóide seja uma seqüela do processo de cura/reparo. 7. A resposta linfocitária T CD8+ nas biopsias gástricas de crianças submetidas à endoscopia no HUAP/UFF, está em concordância com a literatura, sendo que a grande maioria apresentou menos de 5 linfócitos CD8+/ 100 células epiteliais (dentro dos limites da normalidade) 52 8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ABBAS, ABUL K.; LICHTMAN ANDREW H.; POBER, JORDAN S. Cellular and Molecular Immnology Second edition W.B.Saunders Company, 1994. 457p. 2. ALVES, VENÂNCIO A. F.; BACCHI, CARLOS E.; VASSALLO, JOSÉ Manual de Imuno-histoquímica Editora:Sociedade Brasileira de Patologia, 1ª ed.,1999. 270p. 3. ALSAIGH, N. et al. Gastric and esophageal intraepithelial lymphocytes in celiac pediatric disease. Am. J. Surg. Pathol. Jul 20(7): 865-70, 1996. 4. 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Acta Paediatrica, 95:3-5, 2006. 60 ANEXOS Anexo I Processamento de biopsias e peças cirúrgicas SEQUÊNCIA: 1) ÁLCOOL 99% 1 - 20MIN- 75°C 2) ÁLCOOL 99% 2 - 20MIN 75°C 3) ÁLCOOL 99% 3 - 20MIN 75°C 4) ÁLCOOL 99% 4 - 20MIN 75°C 5) XILOL 1 – 20MIN 75°C 6) XILOL 2 – 20MIN 75°C 7) XILOL 3 – 20MIN 75°C 8) PARAFINA 1 – 20MIN 75°C 9) PARAFINA 2 – 20MIN 75°C 10) PARAFINA 3 – 20MIN 75°C Obs: O último frasco (álcool, xilol e parafina) sempre será o mais novo. 61 Anexo II COLORAÇÃO HEMATOXILINA-EOSINA 1) DESPARAFINIZAR EM ESTUFA 2) XILOL 1 – 2MIN 3) XILOL 2 – 5 MERGULHOS 4) XILOL 3 – 5 MERGULHOS 5) ÁLCOOL 99% 1 – 5 MERGULHOS 6) ÁLCOOL 99% 2 – 5 MERGULHOS 7) ÁLCOOL 99% 3 – 5 MERGULHOS 8) ÁGUA CORRENTE 9) HEMATOXILINA – 4MIN 10) ÁGUA CORRENTE (LAVAGEM RÁPIDA) 11) SOLUÇÃO ÁLCOOL/ÁCIDO – 3 MERGULHOS 12) ÁGUA CORRENTE 13) ÁLCOOL 99% 1 - 3 MERGULHOS 14) EOSINA – 3 MIN 15) ÁLCOOL 99% 1 – 5 MERGULHOS 16) ÁLCOOL 99% 2 – 5 MERGULHOS 17) ÁLCOOL 99% 3 – 5 MERGULHOS 18) ÁLCOOL 99% 2 – 5 MERGULHOS 19) ÁLCOOL 99% 3 – 5 MERGULHOS 20)XILOL 1 – 5 MERGULHOS 21)XILOL 2 – 5 MERGULHOS 22)XILOL 3 – 5 MERGULHOS 23)XILOL 4 – 5 MERGULHOS 24)MONTAGEM COM BÁLSAMO Hematoxilina e eosina Preparo das soluções HEMATOXILINA: Hematoxilina...................................5g Álcool 99%.....................................50ml Sulfato de Alumínio ou Alúmen de Potássio......100g Água Destilada...............................1000ml Óxido de Mercúrio..........................2,5g Ácido acético...................................3 gotas (optativo) PROCEDIMENTO: 1) Dissolver a Hematoxilina no álcool + Alúmen na água destilada (fora do fogo) 62 2) Misturar as duas soluções e levar ao fogo até a ebulição (+- 1 min) 3) Retirar do fogo e juntar o Óxido de Mercúrio Amarelado lentamente aos pouquinhos com cuidado e misturar bem. 4) Reaquecer até a fervura e contar um minuto (a solução estará vermelho-escura) 5) Retirar do fogo e mergulhar em uma bacia com água e gelo imediatamente, até esfriar totalmente. 6) Adicionar 3 gotas (4ml) de Ácido Acético quando o corante estiver resfriado. 7) Filtrar e colocar em frasco escuro para amadurecer por +- 2 dias. EOSINA Eosina amarelada................10g Água destilada...................300 ml Álcool 99%.........................700 ml Ácido acético glacial.........5ml (+- 5 gotas) PROCEDIMENTO: Dissolver a EOSINA na água destilada, acrescentar o álcool e ainda 5 ml de Ácido Acético. 63 Anexo III WHARTIN-STARRY Nitrato de Prata a 1% Nitrato de prata................................................................................1 g Água destilada..............................................................................100ml Nitrato de Prata a 2% Nitrato de Prata...............................................................................2g Água destilada..............................................................................100ml Gelatina a 5% Gelatina............................................................................................5g Água destilada..............................................................................100ml Hidroquinona 0,15% Hidroquinona..................................................................................0,15g Água destilada..............................................................................100ml Colocar a prata 2%, gelatina 5% e hidroquinona 0,15% em frascos separados em banhos-maria a 54°C (na hora que for corar). Revelação (preparar só na hora) Hidroquinona 0,15% ........................................................................2,0ml Gelatina a 5% ................................................................................3,75ml Nitrato de Prata a 2% .....................................................................1,5ml Método de coloração: Desparafinizarar em xilol ( 5 mergulhos) Hidratar em álcool ( 5 mergulhos) Lavar em água corrente (retirar excesso) Passar na água destilada Solução de Nitrato de Prata a 1% em banho-maria a 43°C (30 min) Preparar a revelação Revelar as lâminas em uma placa térmica, até os cortes ficarem marrom claro ou amarelados Lavar em água morna (retirar excesso) Passar na água destilada Desidratar em álcool ( 5 mergulhos) Clarificar em xilol ( 5 mergulhos) Montar 64 Anexo IV Coloração de GIEMSA modificada - 600 ml de glicerol - 10 g de GIEMSA Solução da ALLKIMIA - 600 ml de metanol P.A. Aquecer a glicerina e colocar o pó de Giemsa. Acrescentar o metanol e agitar bastante e só depois filtrar. As lâminas são imersas nesta solução por 10 a 15 minutos. Banho rápido na água e cerca de cinco mergulhos rápidos no álcool 99°GL (desidratar), passando por quatro banhos de xilol ( mergulhos rápidos), para depois montar a lâmina . Nota: Pode se usar Giemsa a 2%( água destilada). NOTA: A coloração acima é baseada no artigo da Dra. Susan Gray (GRAY, 1986) 65 Anexo V IMUNO-HISTOQUÍMICA ROTINA DO EXAME IMUNO-HISTOQUÍMICO Estufa a 60° C por 10min. (desparafinizar) Colocar em cubas de xilol na estufa a 60° C mais 10 min. (desparafinizar) Quatro cubas de xilol (temperatura ambiente), após 2 cubas de álcool absoluto e 2 de álcool 96%.( 5 min. em cada cuba)-desparafinizar Água destilada por 2 min. 30 min. no citrato pH 6,0 a 96° C por 20min. Esfriar em temperatura ambiente por mais 20 min. Câmara úmida: coloca as lâminas após cicladas (marcadas com um círculo ao redor dos fragmentos, para que as substâncias não escorram do campo) com a caneta específica para este fim, da DAKO, Carpinteria . Pinga-se o leite e espera-se 30 minutos. Após, diluir os anticorpos LMP1- 1/500 e CD8- 1/400, ambos com solução diluidora da DAKO (antibody diluent with background reducing components). Coloca-se o anticorpo primário previamente diluído, por 30minutos. LSAB (linked streptavidin biotin peroxidase)+ system HRP por 30 minutosanticorpo secundário. Primeiro, coloca-se o link por 30 min, depois o complexo avidina-biotina-peroxidase por mais 30 min. OBS.:Lava-se com TBS entre um e outro por 5 min. Após, lavar no TBS (tampão) por 5 min. DAB (3,3’ diaminobenzidine tetrahydrocloride), substrato cromógeno. A solução é : DAB-substrate: 2 ml e DAB-cromogen: 1gota. 66 A reação do DAB é interrompida pela água destilada. Contra corar com Hematoxilina de Harris 30 segundos Antes de montar,as lâminas são imersas em 2 cubas com água, 1 com amônia e mais 2 com água, 1 min em cada uma delas. Por último as lâminas são imersas em cubas respectivamente contendo: álcool a 90°, álcool absoluto, álcool absoluto, xilol, xilol, xilol, xilol, por 1 min. em cadauma delas. Montam-se as lâminas com um meio especial da DAKO que preserva a reação e a coloração por mais tempo. Protocolo básico da LMP1 (controle: linfoma de Hodgkin) Diluição 1/500 Bloqueio da peroxidase endógena por 30 minutos (min.) Recuperação antigênica- banho maria com citrato ph 6,0 preparado no laboratório de IHQ por 30 minutos Leite (desnatado) por 30 minutos Anticorpo primário monoclonal por 30 minutos LSAB DAB por 2 minutos Hematoxilina de Harris 30 segundos