RELATÓRIO DE PROJETO DE PESQUISA Nome do Projeto: Alterações radiográficas em pacientes com a co-infecção vírus da imunodeficiência humana/tuberculose: relação com a contagem de células TCD4+ e celularidade do escarro. Protocolo: 1005. Nome do(a) Proponente ou Orientador(a): Rosemeri Maurici da Silva. Nome do(a) Bolsista: Paula Luz Stocco. Campus/Unidade: Tubarão. Data do Relatório: Agosto/2008. Tipo do Projeto: PIBIC. 1. Introdução Com o advento da síndrome da imunodeficiência adquirida, reconhecida no ano de 1981, ocorreu um profundo impacto no problema global da tuberculose, que modificou a sua epidemiologia e, principalmente, dificultou o seu controle.(1,2) A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) é um dos maiores fatores de risco para o desenvolvimento de doença em indivíduos previamente infectados pelo bacilo. Enquanto que nas pessoas imunocompetentes a chance de uma infecção tuberculosa evoluir para doença tuberculose é de 10% ao longo de sua vida, nos indivíduos infectados pelo HIV essa chance passa a ser de 8% a 10% a cada ano. Além disso, ela é uma das primeiras e principais complicações entre os infectados pelo HIV, surgindo antes de outras infecções freqüentes.(3,4) No ano de 1999, foram identificados 10,7 milhões de pessoas coinfectadas com tuberculose/HIV, o que corresponde a 0,18% da população mundial. No Brasil, dos 40,7 milhões de infectados por tuberculose, cerca de 300 mil estariam co-infectados com o HIV.(3) A contagem de células TCD4+ no sangue periférico tem implicações prognósticas na evolução da infecção pelo HIV, sendo a medida de imunocompetência celular mais útil no acompanhamento de pacientes acometidos por esta síndrome.(1,5) Na infecção pelo HIV existe uma diminuição dessas células, o que provoca uma grande susceptibilidade para a primoinfecção ou reativação de uma infecção tuberculosa prévia. As alterações radiológicas dos pacientes com co-infecção tuberculose/HIV dependem da contagem de células TCD4 +. Quando a contagem dessas células está abaixo de 200 células/mm3, as apresentações são, em sua grande maioria, atípicas. No início da infecção pelo HIV, ou seja, quando a contagem de células TDC4+ está acima de 200 células/mm3, a tuberculose apresenta-se de forma radiológica semelhante àquela presente nos pacientes imunocompetentes, com padrão típico de reativação, e com áreas de consolidação alveolar no ápice, segmentos posteriores dos lobos superiores e segmentos superiores dos lobos inferiores, freqüentemente associadas à cavitação.(6-12) Em pacientes que se encontravam em fases mais avançadas da infecção pelo HIV, com contagens de células TCD4 + abaixo de 200 células/mm3, foram documentadas diferenças radiográficas importantes, comparadas aos pacientes imunocompetentes.(6-8,10,11) Embora primariamente a imunidade celular encontre-se acometida, outros defeitos também são percebidos e desempenham importante papel na morbimortalidade da infecção pelo HIV. Os linfócitos T são críticos para a ativação dos linfócitos B e subseqüente produção de imunoglobulinas, que encontra-se comprometida pela desordem primária da imunidade celular. Estas alterações sistêmicas são concomitantes a alterações locais. Por exemplo, o trato respiratório, que tem como linhas de defesa importantes os macrófagos alveolares, linfócitos e leucócitos polimorfonucleares, encontra-se amplamente susceptível a uma série de condições clínicas. Os macrófagos apresentam antígenos CD4 e podem ser diretamente infectados pelo HIV. O processo de quimiotaxia também é perturbado, o que resulta em diminuição ou até mesmo ausência de reação granulomatosa. Paralelamente, há também diminuição na quimiotaxia para polimorfonucleares.(4) Portanto, alterações da celularidade do escarro ocorrem concomitantemente às alterações das células TCD4 + no sangue periférico, repercutindo sobre as manifestações das doenças respiratórias neste grupo específico de pacientes, inclusive as manifestações radiológicas. A ausência de estudos que avaliam o comportamento da tuberculose pulmonar relacionado às alterações da celularidade de escarro motivou esta proposta de estudo. 2. Objetivos 2.1 Objetivo Geral: Avaliar a relação das manifestações radiológicas da tuberculose pulmonar com as contagens de células TCD4+ no sangue periférico e com a celularidade do escarro. 2.2 Objetivos Específicos: 1) Descrever as alterações radiológicas encontradas. 2) Correlacionar as alterações radiológicas com a contagem de células TCD4 +. 3) Correlacionar as alterações radiológicas com a celularidade do escarro. 4) Correlacionar as variações na celularidade do escarro com as contagens sanguíneas de células TCD4+. 5) Estimar um ponto de corte para a celularidade de escarro como preditor das manifestações radiológicas. 3. Material e Métodos Foi realizado um estudo transversal no Hospital Nereu Ramos, em Florianópolis (SC), no qual foram analisados todos os pacientes acima de 14 anos, admitidos entre agosto de 2007 a abril de 2008, co-infectados com HIV e tuberculose pulmonar. Os pacientes que apresentaram alguma co-morbidade pulmonar foram excluídos do estudo, assim como aqueles que não concordaram em participar por assinatura de termo de consentimento livre e esclarecido ou que não apresentaram expectoração espontânea. Foram considerados pacientes portadores do HIV aqueles que apresentaram sorologia positiva para o vírus, e portadores de tuberculose pulmonar aqueles com identificação do Mycobacterium tuberculosis em amostras de origem respiratória (escarro, lavado broncoalveolar e/ou biópsias pulmonares e pleurais). As radiografias de tórax foram classificadas de acordo com os padrões de alteração em consolidação alveolar, intersticial, derrame pleural, cavitação, linfonodomegalia mediastinal e/ou hilar, e suas respectivas associações, e realizadas em aparelho da marca Siemens, nas incidências em póstero-anterior e perfil, com regime de 120 Kv e 3 a 6 MaS. Foram coletadas amostras sanguíneas para a contagem de células + TCD4 e amostras de escarro para a realização da celularidade, com os procedimentos de coleta seguindo as normas do Ministério da Saúde. As amostras de escarro foram processadas em até duas horas após a coleta. Uma alíquota de escarro foi tratada com aproximadamente 4 volumes de DTT (ditiotreitol), mais 4 volumes de PBS (tampão fosfato) e filtrada após homogeneização. Vinte microlitros do filtrado foram misturados com 20l de tripan blue a 4%. Esta mistura foi colocada em câmara de Neubauer onde foram contadas, em microscópio de campo claro, com aumento de 400 x, as células vivas e mortas. Foram consideradas viáveis as amostras de escarro que apresentaram 40% de células vivas. Esta percentagem foi resultante da equação: número de células vivas/número total de células X 100. A presença de macrófagos alveolares foi determinada pela contagem diferencial dos leucócitos presentes no filtrado da amostra de escarro. Os filtrados foram concentrados pela técnica de citospin e as lâminas coradas pelo método de May-Grünwald/Giemsa e visualizadas em microscópio de campo claro com aumento de 1000 X. Foi determinada a percentagem de células epiteliais escamosas, células epiteliais brônquicas, eosinófilos, linfócitos e leucócitos polimorfonucleares.(12,13) Cada participante foi cadastrado em uma ficha de inclusão. O programa Epidata foi utilizado para a elaboração do banco de dados e o programa Epiinfo para a análise estatística. As freqüências das alterações radiológicas entre os intervalos de contagem de células TCD4+ e da celularidade de escarro foram comparadas em um nível de significância de 95% (p<0,05). O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Unisul. 4. Resultados Foram avaliados 31 indivíduos, 23(74,2%) do gênero masculino e 8(25,8%) do gênero feminino. A prevalência de caucasianos foi de 64,5% e de não caucasianos de 35,5%. A média de idade foi de 39,97 anos (DP±10,97), sendo a idade mínima de 22 anos e a idade máxima de 68 anos. Dos participantes, 15(48,39%) eram HIV positivos, e 16(51,61%) eram HIV negativos. Dos indivíduos HIV positivos, três foram excluídos por não apresentarem expectoração espontânea. A amostra então ficou constituída de 12 indivíduos com idade média de 34,75 anos (DP±6,6), sendo 7(58,3%) do gênero masculino e 5(41,7%) do gênero feminino. A prevalência de caucasianos foi de 8(66,7%) e 4(33,3%) de não caucasianos. Com relação às alterações radiológicas, a associação de padrões estava presente em 8(66,7%) e ausente em 4(33,3%). A lesão intersticial estava presente em 6(50%), a lesão alveolar em 10(83,3%), cavitação em 4(33,3%), derrame pleural em 2(16,7%), e atelectasia em 1(8,3%). Os valores médios encontrados nas células do escarro foram viabilidade de 73.83 x 106, células escamosas de 137.58, neutrófilos de 0.67 x 106, eosinófilos de 0.04 x 106, macrófagos de 0.38 x 106, linfócitos de 0.18 x 106, e células totais de 1.28 x 106. A média da contagem de células TCD4+ foi de 101,33 células/mm3 (DP±71,81). O coeficiente de correlação de Pearson entre as células CD4 + e as células encontradas no escarro foi respectivamente: viabilidade de – 0.29, células escamosas de 0.197, neutrófilos de – 0.196, eosinófilos de – 0.128, macrófagos de – 0.21, linfócitos de – 0.126 e células totais de – 0.25. A Tabela 1 demonstra a distribuição das alterações radiológicas de acordo com as médias de células do escarro e TCD4+. Tabela 1 – Distribuição das alterações radiológicas de acordo com as médias de células do escarro e células TCD4+. Rx n Viabilidade* Associação de Padrões Presente Associação de Padrões Ausente Lesão Alveolar Presente Lesão Alveolar Ausente Lesão Intersticial Presente Lesão Intersticial Ausente Cavitação Presente Cavitação Ausente Derrame Pleural Presente Derrame Pleural Ausente 8 * x 106 células/mm3 # Neutrófilos* Eosinófilos* Macrófagos* Linfócitos* 46.1 Células Escamosas 169.13 CD4+# 0.14 Células Totais* 0.85 0.44 0.03 0.23 4 129.5 74.5 1.14 0.05 0.69 0.25 2.14 126.75 10 76.9 149.3 0.53 0.02 0.41 0.11 1.08 110.8 2 58.5 79 1.4 0.1 0.22 0.51 2.26 54 6 26.3 243.5 0.93 0.07 0.09 0.34 1.44 96 6 121.3 31.7 0.42 0.0004 0.67 0.02 1.11 106.67 4 83 54.5 0.18 0.007 0.42 0.04 0.67 51.25 8 69.25 179.13 0.91 0.05 0.36 0.25 1.59 126.38 2 46 10 0.02 0.0007 0.31 0.014 0.38 97.5 10 79.4 163.1 0.8 0.04 0.39 0.21 1.46 102.1 88.65 Não houve diferença estatisticamente significativa (p>0,05) entre as médias encontradas (celularidade/TCD4+) para a presença ou ausência dos padrões radiológicos. 4.1 Outros Resultados: Todos os resultados encontrados foram descritos no tópico resultados. 5. Conclusões: Não houve diferença estatisticamente significativa (p>0,05) entre as médias encontradas na celularidade de escarro e nos níveis sangüíneos de células TCD4+, e a presença ou ausência dos diferentes padrões radiológicos. 6. Referências 1. Brasil. Ministério da Saúde. Coordenação Nacional de DST/AIDS. Manual de controle das doenças sexualmente transmissíveis. 3a Ed. Brasília. Ministério da Saúde; 1999. 2. Duncan BB, Schimidt MI, Giugliani ERJ. Tuberculose. In:Palombini BC, Hetzel JL, Correa da Silva LC, editores. Medicina ambulatorial: condutas clínicas em atenção primária à saúde. 2a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; 1996. p. 352-8. 3. Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Centro de Referência prof. Hélio Fraga. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Controle da Tuberculose: uma proposta de integração ensino-serviço. 5a Ed. Rio de Janeiro; 2002. 4. Davis L, Beck JM, Shellito J. Update: HIV infection and pulmonary host defenses. 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