1 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR IV – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA RITA DE CÁSSIA VALÉRIO A COMPULSÃO POR COMPRAS NA PERSPECTIVA DA TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA BIGUAÇU 2005 2 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ CENTRO DE EDUCAÇÃO SUPERIOR IV – BIGUAÇU CURSO DE PSICOLOGIA RITA DE CÁSSIA VALÉRIO A COMPULSÃO POR COMPRAS NA PERSPECTIVA DA TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA Monografia apresentada para a obtenção do grau de Bacharel em Psicologia – Universidade do Vale do Itajaí – Centro de Educação Superior IV - Biguaçu, sob a orientação da professora Drª Vera Baumgarten Ulyssea Baião. BIGUAÇU 2005 3 Dedico esta monografia ao meu marido, aos meus filhos, a minha neta, aos meus familiares, pelo carinho e dedicação, contribuição significativa para a conclusão desta pesquisa. 4 AGRADECIMENTOS À Universidade do Vale do Itajaí. À orientadora Profª Drª Vera B. Ulissea Baião, por sua paciência e colaboração, auxiliando com dedicação e competência os processos de construção desta monografia. Às colegas de curso, Adriana Peres Trajano, Cláudia Michelena e Nilce Nunes, pelo companheirismo, parceria e cumplicidade demonstrados ao longo esta caminhada. Às bibliotecárias, pela atenção, gentileza, competência e presteza no atendimento. Á todos que de maneira direta ou indireta colaboraram para o desenvolvimento deste trabalho. 5 “Neste mundo de enganos Nada é verdade ou mentira Tudo depende da cor Do cristal com que se mira” (Gabriel de Campo y Amor) 6 SUMÁRIO RESUMO..................................................................................................................7 1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................8 2 METODOLOGIA....................................................................................................11 3 OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM SEGUNDO A TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA......................................................................... 11 2.1Condicionamento Respondente............................................................................13 2.2Condicionamento Operante..................................................................................15 2.3Modelo Cognitivo..................................................................................................23 2.4Comportamento Compulsivo................................................................................29 2.5Compulsão por Compras .....................................................................................32 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................40 REFERÊNCIAS.........................................................................................................43 APÊNDICES..............................................................................................................46 7 RESUMO VALÉRIO, Rita de Cássia. A compulsão por compras sob a perspectiva comportamental-cognitiva. 2005, 51 f. Trabalho de Conclusão do Curso (Graduação em Psicologia). Universidade do Vale do Itajaí. Biguaçu, 2005. Comprar é um comportamento característico da sociedade atual, é a forma pela qual adquirimos bens, serviços e itens necessários para a nossa satisfação e sobrevivência. O comportamento de comprar é, de acordo com as teorias de aprendizagem, aprendido durante o período de desenvolvimento com os pais, cuidadores, amigos, seja por observação, regra ou contingências. De uma maneira geral, comprar é uma experiência comum e corriqueira, que a maioria das pessoas experimentará ao longo da vida. Porém, comprar começa a ser um problema quando a pessoa perde o controle e passa a comprar de forma exagerada, sem critérios ou limites por um período prolongado, causando-lhe problemas econômicos, sociais e profissionais. Este tipo de comportamento é o que chamam de comprar compulsivamente, cuja característica é descrita como uma falta de controle, uma preocupação freqüente e intensa de comprar itens desnecessários, o que leva a pessoa a gastar muito além do seu orçamento. Estes comportamentos, de acordo com a teoria comportamental-cognitiva são estratégias aprendidas com base em evitações que geram crenças centrais, e que teriam como função, auxiliar as pessoas a evitar ou fugir de situação aversivas que lhes causam emoções desagradáveis e com as quais não conseguem lidar. A metodologia utilizada para a pesquisa foi a bibliográfica, procurando reunir as últimas publicações na área da Teoria Comportamental-Cognitiva. PALAVRAS-CHAVES: comprar, compulsão, comportamento, aprendizagem, cognição. 8 IDENTIFICAÇÃO ÁREA DE PESQUISA: TRANSTORNOS PSICOLÓGICOS TEMA: O COMPORTAMENTO COMPULSIVO POR COMPRAS SEGUNDO O ENFOQUE DA TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA TÍTULO: A COMPULSÃO POR COMPRAS SOB A PERSPECTIVA COMPORTAMENTAL-COGNITIVA ALUNA Nome: Rita de Cássia Valério Código de matrícula: 00.1.2661 Centro de Educação - Biguaçu ORIENTADOR Nome: Vera Baumgarten Ulissea Baião Categoria Profissional: Psicóloga Titulação: Doutora Curso: Psicologia Centro: Centro de Educação - Biguaçu Curso: Psicologia 9º Semestre 9 1 INTRODUÇÃO No decorrer do curso de Psicologia temos a oportunidade de entrar em contato com diversas vertentes teóricas cujas abordagens pretendem, a partir de uma perspectiva específica, explicar os fenômenos tipicamente humanos sem, contudo, esgotá-los. A partir desse contato, identificamo-nos com essa ou aquela abordagem, com base em nossas experiências, referenciais e interesses, o que nos dá um direcionamento acadêmico e uma definição profissional, caso da presente pesquisa. A escolha do tema resultou de observações cotidianas, constatações que nos levaram a refletir sobre a causa e os fatores que predispõem uma pessoa a comprar de forma compulsiva, ainda que este comportamento se desdobrasse em conseqüências desagradáveis, econômica, profissional e socialmente. Um outro dado que nos desperta a atenção é o fato de vivermos em uma sociedade marcadamente consumista, com fortes apelos mercadológicos, que ditam padrões estéticos estereotipados, e que desde cedo induzem e ensinam a gastar. Este fenômeno contemporâneo pode ser constatado, por exemplo, nas crianças em um shopping ou supermercado acompanhando seus pais. Apesar de entender o ser humano como dotado de vontade, também o entendo vulnerável aos estímulos que podem alterar seus comportamentos. Diante desta perspectiva, a escolha da abordagem para o presente estudo recaiu na teoria comportamental cognitiva pois, esta nos pareceu aquela que reunia um arcabouço teórico mais apropriado aos nossos interesses acadêmicos para a realização do trabalho. Por sua vez, as pesquisas e estudos sobre o tema compulsão por compras ainda são escassos. Os trabalhos encontrados, na grande maioria teóricos, apresentam relatos das experiências profissionais em consultórios, levando-nos a decidir por uma pesquisa bibliográfica. Neste norte, o intuito de compreender o comportamento de comprar compulsivamente a luz da teoria comportamental cognitiva seria contemplado, garantindo assim os recursos necessários para a produção de mais um estudo na área. Este trabalho, portanto, objetiva cumprir e respaldar a pretensão acadêmica referente aos cumprimentos normativos institucionais, quais sejam, de apresentação de 10 uma monografia que demonstre nosso real aprendizado, priorizando a pesquisa com vistas ao conhecimento, do mesmo modo que buscará guiar-se pelas normas da ciência e ética que legitimam e autorizam o conhecimento. 2 METODOLOGIA A presente monografia utilizou como procedimento para a coleta dos dados necessários a sua consecução, a pesquisa bibliográfica, cujo objetivo primordial é, segundo Marconi e Lakatos (1992, p. 97): “colocar o pesquisador em contato com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto”, servindo como meio de explorar e definir temáticas a partir de estudos anteriormente desenvolvidos e publicados. Apesar de utilizar-se de conteúdos já publicados, a pesquisa bibliográfica não se constitui em mera reprodução, mas em uma elaboração com base em um novo entendimento, com a conseqüente construção de diferentes significados e conclusões. De acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliográfica apresenta como vantagem principal o acesso ao pesquisador a um número imenso de informações, o que de outro modo seria inviável, posto que seria impossível reunir a quantidade de dados e de literaturas para o desenvolvimento adequado da pesquisa. Por outro lado, alerta, se faz necessário atentar para os possíveis erros, para que os mesmos não sejam reproduzidos ou ampliados. (p.66) Para Barros e Lehfeld (2000), esse tipo de pesquisa pode atender os objetivos dos alunos na sua formação acadêmica como também pode proporcionar a construção de trabalhos inéditos a partir das interpretações, críticas e análises, contribuindo assim com novas proposições e paradigmas nas mais diversas áreas do conhecimento. (p.70) Os últimos autores também consideram relevante a pesquisa bibliográfica, pois propicia ao estudante a obtenção de uma postura científica na recuperação e elaboração das informações, permitindo desse modo que a aprendizagem ocorra através do autodidatismo, caracterizada como uma das dimensões do aprender a aprender. 11 3 OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM SEGUNDO A TEORIA COMPORTAMENTAL COGNITIVA Como o objetivo do presente trabalho é apresentar o problema segundo o enfoque da teoria comportamental-cognitiva, passamos a abordar o tema inicialmente desenvolvendo brevemente os processos de aprendizagem, ressaltando os mecanismos que envolvem o comportamento humano e suas finalidades, buscando entender as causas do mesmo. O comportamento, conforme definido por Matos (apud BANACO, 1999), é uma série de movimentos organizados com uma finalidade que terá como resultado um efeito. A referida autora em seu trabalho resgata a definição de Skinner em uma publicação de 1938, “The Behavior of Organisms”, a qual passamos a citar: Comportamento é apenas parte da atividade total de um organismo..., e prossegue distingüindo comportamento de outras atividades do organismo, “...é aquilo que um organismo está fazendo (grifo dele)...é aquela parte do funcionamento de um organismo envolvido em agir sobre, ou em interação com o mundo externo. Comportar-se, no dizer de Skinner (apud MATOS, in BANACO, 1999) pode ser definido como: ... movimento de um organismo, ou de suas partes, num quadro de referência fornecido pelo organismo ele próprio, ou por vários objetos ou campos de forças externos . É conveniente falar disto como a ação do organismo sobre o mundo externo, ... (p.46) Portanto, comportar-se está relacionado diretamente com as atividades desenvolvidas por organismos, sejam eles pessoas ou animais, interagindo com o ambiente, o que envolve a fisiologia no que se refere a musculatura estriada e lisa, bem como a secreção de glândulas. O comportamento é um fenômeno complexo, segundo de Rose (apud BANACO, 1999, p. 79): Na linguagem cotidiana, freqüentemente nos referimos aos comportamentos que envolvem a musculatura estriada como comportamentos voluntários , enquanto denominamos involuntários aqueles que envolvem musculatura lisa e as glândulas. Numa linguagem mais rigorosa, esses termos são evitados, e falamos de comportamentos operantes e respondentes (ou reflexos), (grifo da autora) 12 Considerando que a teoria comportamental postula que o comportamento humano está fundamentado nestes processos, aceitando os mesmos como os fundamentos da aprendizagem humana, passamos a abordá-los como base para o entendimento da atual pesquisa. Aprendizagem é uma outra palavra-chave dentro da perspectiva adotada, podendo ser entendida como o ato ou efeito de aprender, reter algo na memória em conseqüência de estudo, observação ou experiência, de acordo com Ferreira (1991, p.119). Para Catania (1999), a aprendizagem é um conceito central em Psicologia. Questionarmos o que é possível para um organismo aprender é o mesmo que perguntarmos o “quanto esse comportamento depende de sua história de evolução e o quanto depende do que ele experimentou durante sua vida.” (CATANIA, 1999, p. VII) A definição do conceito de aprendizagem é bastante difícil, no dizer do citado autor. Não existem, no seu entendimento, definições satisfatórias do que seja aprendizagem, dada a complexidade do fenômeno e das variáveis envolvidas. Ainda conforme Catania (1999, p.23), podemos definir aprendizagem “Como uma mudança relativamente permanente no comportamento resultante da experiência (cf. Kimble, 1961, pp.1-3)”. Skinner assinala, na obra “Ciência e Comportamento Humano” (1998, p. 71): O termo “aprendizagem” pode ser mantido proveitosamente em seu sentido tradicional para descrever a predisposição de respostas em uma situação complexa. As diferentes perspectivas e contribuições dos citados autores, servem-nos como base para entendermos a aprendizagem como um processo. Neste processo, podemos observar etapas distintas, de aquisição de conhecimentos e de incorporação de respostas novas. Estas respostas serão retidas no repertório de comportamentos usuais de um organismo para que o mesmo as utilize no momento apropriado, caracterizando assim o aprendizado. Resumindo, essa predisposição para agir, responder é o que caracteriza a aprendizagem, base sobre a qual se desenvolveram as teorias do condicionamento abordadas na seqüência. 13 2.1 Condicionamento Respondente A teoria sobre os processos de aprendizagem conhecida como condicionamento clássico, condicionamento respondente ou condicionamento pavloviano, desenvolvida por Ivan Petrovich Pavlov (1849-1936), tem como pressuposto básico que a maioria dos reflexos biológicos (por exemplo, a salivação, as respostas sexuais, etc.), associados com um estímulo neutro, definida como emparelhamento, é responsável por um tipo aprendizado. Com base na teoria do condicionamento respondente, o emparelhamento de um estímulo neutro com um reflexo condicionado biologicamente elicia uma resposta reflexa. Nessa perspectiva, o aprendizado tanto pode ser inato quanto aprendido através de nossas experiências cotidianas. Segundo Skinner (1998), em seu livro “Ciência e Comportamento Humano”: O processo de condicionamento, como foi relatado por Pavlov em seu livro Reflexos Condicionados, é um processo de substituição de estímulos. Um estímulo neutro adquire o poder de eliciar a resposta que originalmente era eliciada por outro estímulo. A mudança ocorre quando o estímulo neutro for seguido ou “reforçado” pelo estímulo efetivo. (p.58) Reflexo pode ser definido como uma seqüência de estímulo-resposta, na qual o estímulo provoca uma resposta. Segundo Pavlov (apud PESSOTI, 1979, p 44) “... é legítimo chamar de reflexo absoluto a relação permanente entre o agente externo e a atividade do organismo por ele determinada, e de reflexo condicionado, a relação temporária.” Estímulo, por sua vez pode ser entendido como qualquer evento que produza uma excitação. Comer um alimento gorduroso, em um organismo que não possua o hábito de ingerir esse tipo de alimento, pode ser um estímulo que provoca respostas estomacais como náusea e vômitos. A aprendizagem que envolve os princípios do condicionamento respondente pode se dar de duas maneiras, por reflexos biológicos ou por reflexos condicionados. O reflexo estabelecido biologicamente é o tipo mais básico pois não envolve nenhum condicionamento. É chamado de estímulo incondicionado por ser composto por um estímulo incondicionado que irá eliciar uma resposta reflexa e incondicionada. Esse tipo de aprendizagem é inato, e a maioria dos seres humanos terá respostas 14 semelhantes para eventos ou situações evocadores de estímulos, atuando inclusive nas estratégias de sobrevivência. Por exemplo, a baixa temperatura nos causa tremores quando não estamos vestidos apropriadamente. Conforme assinala de Rose (apud BANACO, 1999, p. 79), Nos comportamentos respondentes uma resposta é eliciada, provocada, por um estímulo antecedente: a comida na boca (estímulo antecedente) elicia salivação (resposta), um toque na pálpebra (estímulo antecedente) elicia um conjunto de respostas, incluindo aceleração da taxa cardíaca, aumento da pressão arterial, queda da resistência elétrica da pele provocada pela atividade das glândulas sudoríporas, etc. A eliciação desse conjunto de respostas em presença desses estímulos é importante para a sobrevivência do organismo, e constitui parte de suas capacidades inatas. O reflexo condicionado pode ser estabelecido por meio do condicionamento pavloviano, ao se emparelhar um reflexo incondicionado com um estímulo neutro com uma determinada freqüência, de tal forma que um estímulo condicionado seja capaz de produzir uma resposta condicionada. No dizer de Pavlov (apud PESSOTI, 1979, p.44) , “...a condição fundamental para que um reflexo condicionado se forme é a coincidência , no tempo, uma ou várias vezes sucessivamente, de uma excitação indiferente, com um excitante incondicionado.” De suas experiências com cães, Pavlov concluiu que os estímulos com maiores probabilidades de tornarem-se estímulos condicionados são aqueles mais fortemente relacionados com um estímulo incondicionado. Quanto mais forte a correlação entre o estímulo condicionado e o incondicionado, mais pistas preditivas ela irá propiciar. Essas informações são chamadas de estímulos preditivos por sinalizarem que um certo tipo de estímulo e reflexo incondicionados estão prestes a surgir. Voltando ao exemplo do alimento gorduroso, a simples visão do mesmo pode ser um preditor de que iremos ter náuseas, por estar correlacionado com este tipo de estímulo. Os estímulos preditivos antecipam a experiência (PESSOTI, 1979) Whaley-Malott (1980-1981) pontuam que, a maioria dos comportamentos emocionais são adquiridas a partir do condicionamento respondente, com o pareamento repetido de objetos, tanto agradáveis como desagradáveis ou estímulos aversivos com outros objetos ou estímulos neutros. 15 A maior parte dos reflexos incondicionados envolvem um componente emocional. O condicionamento pavloviano também propicia o surgimento de emoções associadas aos estímulos que as elicia, que no dizer de Pavlov (apud PESSOTI, 1979, p. 51), “são manifestações de nossa vida subjetiva.” A resposta emocional provocada por um estímulo condicionado é denominada de resposta emocional condicionada. Algumas vezes aquilo que pensamos (aspectos cognitivos) podem atuar como estímulo condicionado para eliciar uma emoção (resposta emocional condicionada), cujo surgimento depende dos antecedentes. Normalmente o condicionamento pavloviano não ocorre de forma rápida. São necessários vários emparelhamentos para que uma resposta aconteça, portanto são necessárias experiências repetidas, nas quais um estímulo neutro seja emparelhado com o reflexo incondicionado. São inúmeros os reflexos que podem ser condicionados por meio desse procedimento. Esses reflexos são mediados pelo sistema nervoso autônomo o que garante o funcionamento biológico interno independente do nosso controle. Dentre eles podemos ressaltar os reflexos envolvidos com o sistema digestivo como o reflexo de salivar, com o sistema reprodutivo envolvendo os reflexos sexuais e de amamentação; os envolvidos com o sistema circulatório e suas respostas que envolvem outros sistemas; o sistema muscular cujos estímulos provocam tremor, contração pupilar, e outros comportamentos reflexos; sistema respiratório, entre outros. Prosseguindo com nossa pesquisa iremos abordar um outro tipo de aprendizagem, teoria que estuda as conseqüências do comportamento e seus efeitos no comportamento voluntário, conhecida como Condicionamento Operante. 2.2 Condicionamento Operante E.L.Thorndike em 1898, a partir de experimentos, formula a “Lei do Efeito” com base na observação de que o comportamento voluntário é influenciado por seus efeitos. Conforme a lei do efeito, os comportamentos tendem a se tornar mais freqüente a medida que produzem resultados esperados, aumentando a probabilidade de respostas. (PESSOTI, 1979; SCHULTZ, 1981) 16 B.F.Skinner, em suas pesquisas, desenvolve e amplia as noções do conceito de probabilidade de respostas, utilizados por Thorndike, demonstrando que o comportamento não é só influenciado por seus efeitos, mas por outras variáveis como por exemplo, as pistas que o precedem, ou pistas antecedentes (PESSOTI, 1979; CATANIA, 1999). O comportamento sofre influências dos eventos que o precedem e também dos efeitos decorrentes do mesmo, portanto, todo o comportamento tem uma ou mais causas que são as pistas que o antecedem e tem como resultado uma conseqüência (CATANIA, 1999). As pistas antecedentes não devem ser entendidas como disparadores automáticos do comportamento, são apenas sinais probabilísticos. Em termos biológicos, o comportamento operante é produzido pelos sistema nervoso e muscular voluntários, então as pistas antecedentes servirão como balizadores para a emissão de um determinado comportamento que atenda de forma eficiente aos estímulos recebidos. Skinner (2000, p.38), em seu livro “Sobre o Behaviorismo” descreve e explica o processo do condicionamento da seguinte forma: Muitas coisas no meio exterior, tais como comida e água, contato sexual e fuga a danos são cruciais para a sobrevivência do indivíduo e da espécie e, por isso, qualquer comportamento que as produza tem valor de sobrevivência. Através do processo de condicionamento operante, o comportamento que apresente esse tipo de conseqüência tem mais probabilidade de ocorrer. Diz-se que o comportamento é fortalecido por suas conseqüências e por tal razão as próprias conseqüências são chamadas de “reforços”. (p.38) As conseqüências são conceitos chaves no condicionamento operante, pois são elas as responsáveis pela freqüência do comportamento diante de um estímulo. As conseqüências determinam se e quando um comportamento irá acontecer ou não. A probabilidade da ocorrência de um comportamento operante é determinada pela conseqüência, podendo o comportamento aumentar ou diminuir. No dizer de Skinner (2000, p. 43), também no livro “Sobre o Behaviorismo”, as conseqüências são reforçadores que podem aumentar a freqüência do comportamento: Quando um comportamento tem o tipo de conseqüência chamada reforço, há a maior probabilidade de ele ocorrer novamente. Um reforçador positivo fortalece qualquer comportamento que o produza: um copo d’água é positivamente reforçador quando temos sede e, se então enchemos e bebemos um copo d’água, é mais provável que voltemos a fazê-lo em ocasiões semelhantes. 17 São denominados estímulos reforçadores as conseqüências que tornam um comportamento mais freqüente. Os reforçadores são bons efeitos que fazem aumentar as chances de ocorrência de um comportamento. Para Catania (1999, p. 91), o termo reforço significa processo, nomeando uma relação entre o comportamento e o ambiente, que resulta em conseqüência. Segundo Souza (apud BANACO, 1999, p. 94), para entender a intensidade de um comportamento, ou tendência de um organismo, em se comportar de uma maneira em detrimento de outras em uma situação, é necessário observar as relações entre “resposta-reforço” no que tange ao tópico das motivações. Afirma a autora que “Os esquemas de reforçamento, tanto os simples como os complexos, são instrumentos poderosos para estabelecer, alterar e/ou manter padrões variados e complexos de comportamento.” Os punidores são as conseqüências que fazem um comportamento se tornar menos freqüente, são maus efeitos que diminuem a probabilidade de um comportamento ocorrer. Segundo Catania (1999, p. 116), “punição é o oposto do reforço, ela é definida pelas reduções no responder...”, os punidores tornam as respostas menos prováveis. Os estímulos que antecedem um comportamento podem ser internos ou externos. As nossas sensações, pensamentos, emoções, as reações fisiológicas , etc, dão origem aos estímulos internos. Os externos são os demais estímulos aos quais estamos expostos no cotidiano e que interferem no nosso comportamento como os fatores ambientais (sol, chuva, calor), nossos relacionamentos, um telefonema, uma boa notícia, entre muitos outros. São igualmente considerados estímulos as conseqüências que reforçam e as que punem nossos comportamentos, e em ambos os casos o comportamento é resultado e resulta dos estímulos que atuam sobre ele, e o processo pelo qual afetam o comportamento é definido como reforçamento e punição. Estímulo reforçador é todo e qualquer evento que faz um comportamento aumentar ou manter a taxa de freqüência. Reforçamento é o processo pelo qual um determinado comportamento se mantém ou aumenta de freqüência, como afirmam Baldwin e Baldwin (1986). Na visão de Skinner (1998, p. 90), ao responder por que um 18 reforçador reforça, apresenta a seguinte hipótese, “Uma teoria é que um organismo repete uma resposta porque acha sua conseqüência “agradável” ou “satisfatória””. A aquisição de um determinado comportamento depende de múltiplos fatores, da complexidade da ação, da capacidade pessoal e dos reforçadores envolvidos. Como exemplo, a aprovação em um concurso é um reforçador que pode aumentar o comportamento de estudar. Ser aprovado é uma conseqüência do empenho nos estudos e é também um estímulo reforçador que pode aumentar a freqüência do comportamento de estudar. Em algumas ocasiões os estímulos são pistas que sinalizam para a ocorrência de determinadas respostas. Uma resposta seguida de estímulos reforçadores em um contexto específico recebe o nome de Estímulo Discriminativo, pois discrimina a probabilidade de uma resposta ocorrer ou não, estabelecendo uma possibilidade de previsão para sua ocorrência no futuro, sem contudo causar o comportamento. (CATANIA, 1999) A tendência é optarmos por comportamentos que envolvam experiências passadas bem sucedidas e prazerosas, exatamente por servirem como estímulos reforçadores que predizem os bons resultados. Estudar muito pode servir como estímulo reforçador para obter aprovação em um concurso, mas, o mesmo comportamento pode não ser útil e eficaz no desempenho das outras atividades. Logo, os estímulos que servem como pistas discriminativas de um comportamento podem não valer para outro. O reforçamento pode ser positivo ou negativo e em ambos os casos o comportamento é fortalecido, pois aumentam a probabilidade da ocorrência do comportamento no futuro. A diferença é que o reforçamento negativo ocorre quando se retira um estímulo aversivo enquanto o reforçamento positivo se dá com o surgimento de um estímulo reforçador. O reforçamento positivo está relacionado ao surgimento de bons efeitos e o negativo com o término dos maus efeitos. O reforçamento positivo é a forma ideal de aprendizado, e a maioria das pessoas prefere aprender por meio de reforços positivos por proporcionar experiências prazerosas e agradáveis na sua vida diária, bem como aumentar o potencial criativo. 19 A maneira singular com que cada um de nós significa suas experiências determina a forma como utilizaremos os esquemas de reforçamento, o que é uma característica definidora das relações pessoais, profissionais e sociais. Nessa perspectiva, o reforçamento negativo ocorre quando fugimos ou evitamos os eventos ou experiências aversivas, envolvendo desse modo, duas classes de comportamento: o comportamento de fuga e o comportamento de esquiva. O comportamento de fuga ocorre, no entendimento de Whaley e Malott (1981, p.189), “quando uma resposta específica permite que o organismo remova ou elimine uma estimulação não desejada, ou termine coma perda de reforçadores positivos.” Adotamos a fuga como uma resposta aos estímulos aversivos após a nossa exposição aos mesmos. Conforme os citados autores, a fuga é uma das formas de reagir aos eventos e às coisas que consideramos ruins ou impróprias, é uma reação que surge após um estímulo aversivo. A resposta de fuga irá ocorrer depois que experimentamos o estímulo aversivo, por exemplo, retiramos a mão quando sentimos o calor do fogo queimando a pele. Desde muito cedo aprendemos a nos comportar utilizando estratégias de fuga. Um outro modo de reagir aos eventos aversivos é previnindo-os, adotando estratégias comportamentais que nos impeçam de sofrer as conseqüências desagradáveis. O comportamento definido como esquiva, é a adoção de medidas que previnem os eventos aversivos. Habilidades que nos possibilitam prevenir e evitar dificuldades são adquiridas mais tarde, a medida em que ganhamos experiência frente a vida. A esquiva será uma resposta preventiva às situações desagradáveis, evitandoas. Esta resposta antecipará a ocorrência de estímulos considerados aversivos. Para Whaley e Malott (1981), o comportamento de esquiva é mantido por reforçamento negativo, o que, no entender dos autores, é um impedimento ou adiamento de contato com um evento aversivo ou desagradável. O comportamento de esquiva “denota uma circunstância na qual o organismo se evade de uma situação antes que esta ocorra” (Whaley e Mallot, 1981, p.174), como no caso das compulsões. A freqüência das repostas pode ser mantida ou mesmo extinta, dependendo da freqüência e do tipo de reforçamento utilizado. 20 À medida que o reforçamento é retirado observamos a diminuição do comportamento, até sua extinção, conforme afirma Catania (1999, p.125), “Suspender as apresentações do estímulo aversivo tem sido o procedimento de extinção mais comum em esquiva...”. A extinção de um comportamento consiste na interrupção de qualquer tipo de reforçador que serve para manter um determinado comportamento. Punição é um estímulo que diminui a freqüência de um comportamento futuro. A extinção e a punição são dois métodos que reduzem a freqüência do comportamento, porém a punição é mais efetiva, mais rápida que a extinção. A diferença entre a punição e a extinção é que a primeira é um processo ativo de suprimir o comportamento, enquanto a extinção diminui a freqüência por falta de reforçamento. Quanto mais rápida e forte for a punição, mais intenso e eficaz seu resultado, chegando a suprimir completamente o comportamento (Baldwin e Baldwin, 1986). A punição pode ser positiva ou negativa. Quando positiva indica o surgimento de um estímulo aversivo que acaba com o comportamento, ela ocorre com o surgimento de maus efeitos. A punição negativa se dá quando o término de um estímulo reforçador que elimina o comportamento, ou, a punição negativa ocorre com o fim de bons efeitos. Quando perdemos coisas que são valorosas ou importantes somos punidos negativamente pelo descuido no comportamento. A punição, tanto negativa quanto positiva, não faz com que se esqueça um comportamento, apenas os retira temporariamente do repertório de respostas, podendo ser recuperado oportunamente (BALDWIN E BALDWIN, 1986; SKINNER, 1998). Podemos aprender a partir de estímulos reforçadores do comportamento, fortes o suficiente para generalizar uma resposta, tornando-a uma opção presente no repertório de respostas. Ou seja, estímulos semelhantes aos já experimentados em situações passadas podem controlar as respostas comportamentais, generalizando-as. Como por exemplo, a criança que chora para ter seus desejos atendidos. Se esse é um comportamento reforçado pelos familiares, ele pode se manter nas várias situações nas quais a criança quer algo. Isso caracteriza a generalização com a ocorrência do mesmo comportamento em novas situações, como na escola, na casa dos avós, etc., bem como o aumento da probabilidade de que a mesma resposta aconteça quanto maior a semelhança entre as situações (BALDWIN E BALDWIN, 1986). 21 O processo de generalização demonstra a possibilidade que uma pessoa tem “para responder de forma semelhante a vários estímulos diferentes, que guardam entre si alguma relação, o que denota uma aprendizagem original para outros contextos e objetos.” (PICCOLOTO, WAGNER, PERGHER E PICCOLOTO, 2003, p.118, apud CAMINHA, 2003). A generalização do comportamento pode ser entendida, de maneira suscinta, como o processo que resulta em respostas semelhantes e conhecidas para eventos ou estímulos diferentes, possuindo um caráter adaptativo. O repertório de respostas armazenadas nas experiências passadas nos permite rapidez e habilidades necessárias e suficientes para o enfrentamento dos desafios novos diários e/ou futuros. Segundo Bandura y Walters (1978), as condutas aprendidas tendem a generalizar-se a situações distintas daquelas em que se deu a aprendizagem. Na visão dos autores “a conduta social seria muito ineficaz se em cada situação tivéssemos que adquirir um novo conjunto de respostas. Neste caso, a socialização implicaria uma série interminável de processos de ensaio e erro.” (BANDURA Y WALTERS, 1978, p. 21) (Tradução nossa). Quando diferentes estímulos ou eventos resultam em respostas distintas temos um aprendizado por discriminação. Então, a discriminação é o processo de aprendizagem no qual emitimos respostas diferentes para estímulos diferentes. Bandura y Walters (1978), pesquisaram os princípios da aprendizagem social com a finalidade de explicar o desenvolvimento e a modificação da conduta humana. Confirmaram em seus estudos que adquirimos respostas novas e as incorporamos, a partir da observação da conduta alheia nas experiências diárias. Ou seja, enriquecemos nosso repertório de respostas através da observação do comportamento de outras pessoas nas diversas situações do cotidiano, o que nos serve como fonte de informação e orientação de ações futuras. À influência e a observação que produz aprendizado e modificação de comportamento chamamos de modelação. A definição deste fenômeno comportamental descrito como modelação ou aprendizagem por observação é, no dizer de Bandura y Walters (1978, p.95) “...a tendência de uma pessoa a reproduzir as ações, atitudes ou respostas emocionais que representam os modelos da vida real ou simbólica...” (Tradução nossa). 22 A criança desde cedo é influenciada pelos membros de sua família, comunidade e sociedade. É observando o comportamento dos mesmos que passa a utilizá-los como modelos da suas ações futuras. Nossas referências de como agir, falar são decorrentes das observações que fazemos na nossa vida diária. Os modelos que adotamos são resultantes da informação recebida pelas nossas observações. Por exemplo, as crianças tendem a imitar o comportamento dos pais nas brincadeiras, nas compras realizadas nos mercados, experiências que consideram bem sucedidas são estímulos suficientes para que sejam duplicados (BANDURA Y WALTERS, 1978; BALDWIN E BALDWIN, 1986). Uma outra fonte de aprendizado por meio do qual ampliamos nosso repertório comportamental são as regras. Estas podem ser definidas como qualquer expressão lingüística com significado suficiente para influenciar ou estimular uma resposta. As regras podem ser instruções, indicações, sugestões, ou seja, todas as formas por meio das quais desenvolvemos estratégias que nos auxiliam no cotidiano. No dizer de Baldwin e Baldwin (1986), a aprendizagem por meio de regras pode ser entendida como: As instruções para se lidar com milhares de situações podem ser codificadas simbolicamente – como regras – que ajudam as pessoas a aprender novos padrões de comportamento rápida e eficiente. As regras são guias verbalmente codificadas – tais como instrução, sugestão, indicações – que ensinam formas de lidar com certas situações. Aprendemos, a seguir, as regras com a aquisição da linguagem, quando seguílas leva ao reforçamento. Estamos aprendendo por regras quando passamos a pautar nossas ações e condutas pelas regras e normas familiares, pois assim recebemos elogios e bons resultados, que são reforçadores do comportamento. Resumindo, os comportamentos são resultados das observações e das experiências cotidianas. O comportamento é um fenômeno complexo composto por múltiplos fatores, dentre os quais destacamos o condicionamento operante e pavloviano, a generalização e discriminação, a modelação e as regras como formas de aprendizado. Nossas motivações para nos comportarmos dessa ou daquela maneira dependem principalmente das contingências, conseqüências, das observações e informações recebidas na vida diária, e a forma como os significamos, pois somos 23 influenciados pelos modelos que adotamos, que podem funcionar como estímulos reforçadores no desempenho habitual. Prosseguindo em nossa pesquisa, abordaremos a seguir, os pressupostos que embasam teoricamente a teoria cognitiva. 2.3 Modelo Cognitivo Cada indivíduo possui, independente da realidade e dos fatos concretos, uma forma de representação do mundo e dos eventos que o constituem, o que torna imprescindível uma ciência que se proponha a investigar e apresentar as funções envolvidas nessas representações mentais do psiquismo humano. Assim nos deparamos com os princípios da Ciência Cognitiva que aponta para um sistema de representação humana, considerado como um fator primordial referente ao gerenciamento dos processos psíquicos, sejam esses processos psíquicos básicos ou superiores, processo que envolve atenção, percepção e os significados a eles atribuídos (CAMINHA E VASCONCELLOS, 2003). Para os autores citados, é de importância capital conhecer o conteúdo das representações mentais dos pacientes, pois é delas que se originam as crenças centrais, que por sua vez se manifestam como esquemas de pensamentos que irão operar no comportamento dos indivíduos. Caminha e Vasconcellos (2003, p.23) ao conceituar representação mental afirmam: ...uma representação mental apresenta-se por meio de uma notação ou de um sinal que “representa” algo para o sujeito, ou seja, que representa alguma coisa na ausência dessa mesma coisa e que é normalmente ou um aspecto do mundo externo ou mesmo do mundo interno, no sentido da imaginação do sujeito. A característica dinâmica, operativa e instrumental das representações mentais é que elas garantem o tratamento das informações sociais e, desta forma, também a planificação das condutas humanas em geral, assim como a planificação para dirigir a ação do sujeito na realização de tarefas ou de um trabalho. Para Beck, “Cognição” é definida como aquela função que envolve deduções sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros” (Beck, 2000, p.23), processo esse entendido como a chave para o entendimento dos 24 transtornos psicológicos. Portanto, segundo o autor, é imprescindível observar a relevância “da percepção fenomenológica das relações entre os eventos”, ou seja, identificar o comportamento no seu acontecer, como um fenômeno no qual é possível “identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar a adaptação a ambientes passíveis de mudanças”. No dizer do citado autor, o funcionamento psicológico se dá por meio de estruturas cognitivas, as quais denomina “esquemas” e a partir das interpretações com base nesses esquemas é que se confere “significados” aos vários eventos. Atribuir significados é controlar os vários sistemas psicológicos, como o comportamento, a emoção, atenção e a memória. (BECK, 2000, p.24) Knapp e Rocha (2003) definem cognição como “aquela função da consciência que envolve deduções sobre nossas experiências e sobre a ocorrência e o controle dos eventos da vida.” Nossas construções e aprendizados são extraídas das nossas experiências cotidianas do jeito pessoal e individual de sentir, pensar, experimentar e interpretar os fatos e ocorrências nos quais estamos envolvidos. No entendimento dos autores, e, segundo o modelo cognitivo proposto, as emoções e os comportamentos são influenciados pela forma como cada um percebe e significa os eventos da vida. Logo, nossos comportamentos e sentimentos são diretamente afetados e dirigidos por nossos pensamentos, sendo que os transtornos psicológicos ou comportamentos disfuncionais resultado da percepção distorcida que afeta o humor e o comportamento. É a partir da forma como o nosso sistema de representação está dinamicamente organizado que se originam os esquemas mentais, que, no dizer de Caminha e Vasconcellos (2003, p. 26), ...são situações cognitivas padronizadas, utilizadas a partir de inputs internos ou externos, do ambiente ou do psiquismo, do sujeito. Os esquemas são formados por crenças centrais, crenças subjacentes, pensamentos automáticos e reações afetivas, fisiológicas e comportamentais; essas reações, produto final dos esquemas, reforçam e mantêm a crença central, logo, a estabilidade e a eficácia do esquema. Segundo Baptista (apud GUILHARDI, 2002 , p. 236), o ser humano é dotado de um suporte biológico que posteriormente será desenvolvido a partir de suas 25 experiências com o ambiente, fornecendo-lhe condições de desenvolver um padrão com o qual se relacionará com o mundo – suas estruturas cognitivas. As estruturas cognitivas podem ser entendidas como a forma segundo a qual os seres humanos são influenciados nas suas experiências e como as mesmas alteram e podem criar ou modificar comportamentos. Ainda conforme o autor, As cognições, segundo Bem (1972), podem ser consideradas como regras para a ação e possuem uma estreita ligação com as emoções e com os comportamentos, sendo que, segundo uma visão cognitivista, o indivíduo responderia às representações sobre o estímulo e não diretamente ao estímulo, em grande parte das situações complexas (Reinecke, Dattilio e Freeman, 1996). (BAPTISTA, AUPD GUILHARDI, 2002, p. 237). Para Beck (1997, p. 29), o modelo cognitivo tem como pressuposto que as emoções e os comportamentos das pessoas recebem influências das percepções que elas possam ter dos eventos. Uma situação em si não serve como critério para determinar o que uma pessoa sente, mas o que irá servir como determinante é o modo pelo qual elas interpretam uma situação. Portanto, o modo como “as pessoas se sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam sobre uma situação.” As emoções, crenças, esquemas de pensamentos são resultantes das aprendizagens ocorridas ao longo da vida, influenciando nas avaliações e nas respostas dos seres humanos. As respostas e avaliações, por sua vez, se desdobrarão em conseqüências que irão reforçar ou não os modelos cognitivos, resultando em comportamento. Logo, existe uma interação recíproca e retroalimentadora entre pensamento e ação, conforme aponta Baptista (2002), citando Salkovskis (apud GUILHARDI, 1998): ...as emoções são o resultante da avaliação dos eventos, incluindo a avaliação dos pensamentos; pelo processo de aprendizagem são desenvolvidos os processos e estruturas cognitivas (crenças, esquemas, etc) que influenciam as avaliações que o indivíduo faz das situações; as avaliações e as respostas emocionais tendem a interagir reciprocamente e, por fim, as conseqüências do comportamento do indivíduo influenciam as avaliações e vice-versa. (p.237) Desse modo, os pensamentos ou eventos mentais disfuncionais caracterizam-se por apresentarem distorções da realidade, mostrando-se automáticos ou arbitrários, de tal forma que a pessoa não se percebe como e quando ocorrem, causando a distorção cognitiva. 26 Os pensamentos geralmente expressam a maneira pela qual interpretamos as situações, e eles por sua vez, irão influenciar as respostas, emocional, comportamental e fisiológica subjacente. Existem situações normalmente aflitivas, como por exemplo, um assalto, caso em que se justifica uma grande carga emocional, uma mudança de afeto e de comportamento e uma resposta automática de defesa. Porém, algumas pessoas interpretam de forma equivocada situações neutras ou positivas, evocando seus pensamentos automáticos, pensamentos que surgem muito rapidamente sem que possamos controlar (BECK, 1997). Algumas características dos pensamentos automáticos foram descritas por Beck (1997, p.88-89) que ao citar Beck (1964), afirma que os mesmos “são um fluxo de pensamento que coexiste com um fluxo mais manifesto de pensamentos, surgem espontaneamente e não são embasados em reflexão ou deliberação. As pessoas estão mais cientes da emoção associada. [...]. As pessoas com freqüência aceitam seus pensamentos automáticos como verdadeiros, sem reflexão ou avaliação.” (BECK, 1997, p.89) ou seja, os pensamentos automáticos são ocorrências espontâneas e comuns a todos, mesmo que não estejamos cientes de sua ocorrência. Além de ser espontânea e comum a sua ocorrência, esses pensamentos automáticos podem ser previsíveis, desde que seja possível identificar as crenças subjacentes. É possível segundo Beck (1997, p. 88) identificar os pensamentos disfuncionais, aqueles que distorcem a realidade, que provocam aflição emocional e/ou interferem nas atividades dos indivíduos. Pensamentos disfuncionais são na maioria negativos. Outra característica apontada é que os pensamentos automáticos são muito breves, e o que se percebe mais, o que o indivíduo tem mais contato, é com a emoção produzida do que com o pensamento que a provocou. Ainda, segundo Beck (1997, p. 89), os pensamentos automáticos podem ser testados com relação a sua validade e utilidade. No entender da autora, o tipo mais comum é o pensamento distorcido de alguma maneira que ocorre mesmo com evidências objetivas em contrário. Esses pensamentos automáticos são comuns a todas as pessoas, são intrínsecos ao pensamento, posto que a todo o momento estamos envolvidos com interpretações de algum evento vivenciado por nós. Portanto, como parte do nosso padrão de raciocínio, são habituais, não sendo percebidos conscientemente pela sua 27 familiaridade. Conforme Wainer, Pergher, Piccoloto (apud CAMINHA, 2003, p. 67), “É esse nível de cognição que faz a mediação entre uma determinada situação vivida e as reações dela advindas, sejam elas comportamentais, emocionais ou fisiológicas.” Os sentimentos que experimentamos no cotidiano, são reflexos dos pensamentos automáticos que aparecem quando damos um significado a essas situações. A origem desses pensamentos automáticos está nas crenças, que são considerados fenômenos cognitivos com uma duração maior, idéias consideradas verdades inquestionáveis, as quais aceitamos passivamente, conforme Beck (1997). As crenças, conforme a autora, tem origem na infância e são entendimentos tão profundos, enraizados e fundamentais que as pessoas nem pensam sobre elas, são idéias firmes e absolutas que não são questionadas. Ao definir o que são as crenças, Beck (1997, p.30) afirma: Começando na infância, as pessoas desenvolvem determinadas crenças sobre si mesmas, outras pessoas e seus mundos. Suas crenças mais centrais ou crenças centrais são entendimentos que são tão fundamentais e profundos que as pessoas freqüentemente não os articulam, sequer para si mesmas. Essas idéias são consideradas pela pessoa como verdades absolutas, exatamente o modo como as coisas “são”. As crenças atuam na cognição como uma lente que filtra os eventos e que desconsidera os dados da realidade que possam contrariá-las. As crenças centrais são o nível mais profundo e fundamental de todas as crenças que possamos ter, segundo Beck (1997, p.31), “elas são globais, rígidas e supergeneralizadas”; elas influenciam as atitudes, regras e suposições. Essas crenças centrais, são, na visão de Caminha e Vasconcellos (2003, p.27) “a instância em torno do qual o esquema “gravita”, se organiza. Ela é intraduzível, ou seja, não há traduções verbais...”. É uma sensação tão intensa quanto o amor por um filho, exemplifica o autor. 28 Figura 1 – Modelo Cognitivo (Knapp e Rocha, 2003, p41) Crença central Crença intermediária Situação Pensamentos automáticos Reações Emocional Comportamental Fisiológica As crenças centrais influenciam e resultam em uma classe intermediária de crenças que se desdobram em atitudes, regras e suposições, são as crenças intermediárias. Estas também são idéias ou entendimentos que as pessoas têm sobre si mesmos, os outros e o as coisas em geral, porém elas são mais flexíveis, mais maleáveis que as crenças centrais. Para Knapp e Rocha (apud CAMINHA, 2003, p. 42), as crenças intermediárias, correspondem ao segundo nível de pensamento, ocorrendo sob a forma de pressupostos, regras e crenças condicionais...”, são afirmações causais tais como: “se.., então..”. Estas crenças, que refletem entendimentos e idéias bastante enraizadas, e, apesar de serem mais maleáveis que as crenças centrais, são menos modificáveis que o os pensamentos automáticos. Uma crença central dá sempre origem a uma crença intermediária (KNAPP E ROCHA, 2003). Como exemplo, se a senhora X pensa que todos devem amá-la, terá como regra que deve fazer qualquer coisa para conseguir ser amada. Para atender a sua expectativa (regra) desenvolve um comportamento de presentear a todos para garantir o afeto e atenção de todos. 29 Uma compreensão adequada de um quadro que envolve compras compulsivas, requer considerarmos a estruturação cognitiva, os significados e representações mentais construídas numa fase passada com base nas experiências pessoais e modelos adotados. Os déficits comportamentais – a compulsão em comprar – seria o resultado desses esquemas mentais disfuncionais, originados pelos pensamentos automáticos e crenças centrais. Os esquemas mentais são nossos referenciais internos, são os nossos modelos, que sendo ativados , codificam os estímulos e o conhecimento, categorizam, aplicando-se a várias situações (CAMINHA E VASCONCELLOS, 2003, p. 26). A intervenção cognitiva envolve estratégias para correção dos pensamentos disfuncionais, como aqueles que fazem com que a pessoa compre compulsivamente sem se dar conta do que está fazendo consigo, comportamento esse que passaremos a descrever. 2.4 Comportamento Compulsivo A descrição oferecida pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtorno Mentais - DSM-IV-TR (2002), inclui o comportamento compulsivo nos transtornos de ansiedade, especificamente no transtorno obsessivo-compulsivo, ou TOC. O mesmo, conforme o Manual, apresenta como características obsessões e compulsões persistentes que fazem com que a pessoa desenvolva pensamentos persistentes e intrusivos (obsessões) e comportamentos que se repetem (compulsões), acarretando com isso, sofrimentos e prejuízos na sua vida. As características essenciais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo são obsessões ou compulsões recorrentes (Critério A) suficientemente severas para consumirem tempo (isto é, consomem mais de uma hora por dia) ou causar sofrimento acentuado ou prejuízo significativo (Critério C). Em algum ponto durante o transtorno, o indivíduo reconheceu que as obsessões ou compulsões são excessivas ou irracionais (Critério B) (p.443) Define-se obsessão como idéias, pensamentos, imagens mentais que insistentemente perturbam e causam ansiedade, sem que seja possível evitá-los, ou seja, a pessoa com obsessão não consegue afastar ou deixar de sentir os 30 pensamentos que a invadem, ainda que possam parecer ilógicos ou irreais (HOLMES, 1997; CORDIOLI, 2004). O transtorno obsessivo-compulsivo é um transtorno mental classificado entre os chamados transtornos de ansiedade, ao lado das fobias, fobia social, do transtorno de pânico, entre outros. Os sintomas do transtorno obsessivo-compulsivo envolvem alterações comportamentais como compulsões ou rituais, repetições, evitações; alterações dos pensamentos como preocupações excessivas, dúvidas constantes, pensamentos catastróficos ou ameaçadores, obsessões, e alterações emocionais, envolvendo medo, culpa, depressão, aflição ou desconforto para a pessoa. A característica principal do TOC é a presença de obsessão e/ou compulsão.(CORDIOLI, 2004). Circunstancialmente, podemos experimentar momentos na vida em que alguns pensamentos ou situações são persistentes, como resultado de uma situação específica e passageira, preocupações familiares, pessoais ou profissionais, sem que as mesmas causem embaraços ou prejuízos no dia-a-dia, o que não caracteriza uma obsessão. As obsessões são pensamentos intrusivos e invasivos, insistentes, demorados e aflitivos que adquirem proporções emocionais exacerbadas, causando assim distorções na avaliação dos eventos da realidade. Na perspectiva de Baptista (apud GUILHARDI, 2002, p. 238), A diferença entre os pensamentos intrusivos e as obsessões se baseia na interpretação das conseqüências e severidade destes pensamentos. O exagero na responsabilidade das conseqüências destes pensamentos (valorização negativa do evento) tende a criar efeitos desagradáveis e severos às pessoas, como o aumento de mal-estar, ansiedade, depressão e as respostas neutralizadoras, com a finalidade de esquiva das conseqüências imaginativas destes pensamentos (Rodriguez, 1998). Cordioli (2004), afirma que as obsessões se originam nos pensamentos automáticos, nas crenças, pensamentos que todos as pessoas têm, mas que algumas delas atribuem significados especiais, interpretando-os de maneira distorcida. As idéias, pensamentos ou crenças que assaltam as pessoas de forma persistente, fazem com que elas interpretem suas percepções de forma distorcida, fazendo avaliações errôneas ou inadequadas. Essa interpretação indevida leva-as a agir de forma compulsiva, sem 31 refletir sobre seus próprios atos, resultando em comportamentos ritualísticos ou evitativos, com a finalidade de evitar ou diminuir o desconforto e ameaças sentidas. Cordioli (2004, p. 21) afirma: Acredita-se que essa interpretação errônea, em razão da aflição que provoca, faça com que certos pensamentos intrusivos normais se transformem em obsessões, levando a pessoa a agir (fazer um ritual ou evitar) no sentido de diminuir as conseqüências desastrosas imaginadas e a aflição sentida. Portanto, essa distorção avaliativa com base nas obsessões é o que levaria a uma ação, ou seja, a pessoa “precisa” desenvolver uma estratégia de enfrentamento que lhe dê a sensação de reduzir o perigo ou a ameaça, caracterizando o comportamento compulsivo ou simplesmente compulsão. As compulsões podem ser entendidas como comportamentos repetitivos ou rituais, que tem como finalidade reduzir a ansiedade originada pelas idéias persistentes ou obsessões. Esses comportamentos repetitivos - compulsões, têm como objetivo diminuir ou extinguir algum tipo de sofrimento ou evitar situações consideradas ameaçadoras. Algumas pessoas, por exemplo, passam a comprar compulsivamente quando se sentem tristes, solitárias ou frustradas, como uma forma de escapar dos seus sentimentos e emoções. Os comportamentos compulsivos podem interferir, e, muitas vezes interferem, no cotidiano das pessoas, trazendo-lhes conseqüências sérias e prejudiciais em uma ou em diversas áreas de suas vidas. No dizer de Cordioli (2004 p.21), “Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos executados em resposta a obsessões ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. ”As compulsões ou comportamentos compulsivos são comportamentos que as pessoas com as características apontadas, não conseguem deixar de emitir, elas sentem-se compelidas a agir. Para Cordioli (2004, p.21), as compulsões baixam a ansiedade produzindo um alívio momentâneo, todas as vezes em que a pessoa “é invadida por uma obsessão acompanhada de aflição”, muito embora os atos nem sempre estejam conectados de forma real ao pensamento ou evento mental. Holmes (1997) também define compulsão como um comportamento que se repete indefinidamente, sem um sentido eficaz. 32 O comportamento compulsivo pode ser originado por múltiplos fatores. De acordo com estudos, atribui-se as causas e influências ao mau funcionamento químico cerebral (teoria neurobiológica), aos fatores sócio-culturais (teoria sócio-cultural) e/ou fatores psíquicos (teoria psicológica), que provavelmente atuam de forma combinada, causando a disfunção comportamental. A separação desses três fatores, o neurobiológico, o psicológico e o sociocultural, é difícil ou impossível, no dizer de Grant e Kim (2003, p.113), muito embora, aqui somente nos ocuparemos do fator psicológico. 3.5 Compras Compulsivas Muito embora a literatura e as publicações na área da saúde ainda não tenham descrito um critério universal para identificar os aspectos básicos e sintomas característicos desse comportamento, os profissionais da saúde mental utilizam os critérios do DSM-IV para fins de diagnóstico da compulsão por compras (GRANT E KIM, 2003). Especificamente o capítulo que trata dos “Transtornos do Controle dos Impulsos Não Classificados em Outro Local” é o mais utilizado, já que o comportamento compulsivo de comprar satisfaz os critérios diagnósticos apontados pelo Manual (2002, p.577), conforme citamos a seguir: O Transtorno do controle dos Impulsos Sem Outra Especificação é incluído para a codificação de transtornos que não satisfazem os critérios para qualquer um dos Transtornos específicos do Controle de Impulsos, descritos antes ou em outras seções do manual. Fazer compras é considerado uma compulsão se o indivíduo descreve que essa é uma preocupação freqüente e intensa que o leva a comprar itens desnecessários regularmente, mais que o seu orçamento permite, ou comprar por um tempo maior do que tinha intenção. A compra compulsiva, segundo Grant e Kim (2003, p. 29) requer também que os pensamentos, desejos ou a própria compra cause angústia, desperdício de tempo, e interfira significativamente no funcionamento social e ocupacional, ou ainda resulte em problemas financeiros. Os compradores compulsivos visitam os shoppings com muita freqüência, gastam excessivamente, como resposta a um evento ou sentimento negativo, e relatam que antes das compras sentem um aumento da tensão, o que os faz buscar algum tipo de alívio. Após as compras experimentam remorsos seguidos de sentimentos de culpa, 33 apesar do prazer momentâneo que sentem ao comprar, conforme pesquisado por Kyrios, Frost e Steketee (2004, p.241) e relatado no artigo “Cognitions in Compulsive Buyng and Aquisition”: Comprador compulsivo é caracterizado pelo excesso de tempo consumindo, idas repetidas aos shoppings ou consumindo para responder a sentimentos negativos e/ou frustrações, resultando em conseqüências nocivas tanto sociais quanto financeiras (Faber & O’Guinn, 1989, 1992; McElroy, Keck, Pope, Smith, & Stakowski, 1994). Ela é precedida por um aumento de tensão e seguida por sentimentos de culpa e remorso, apesar de um prazer inicial (Christenson et al. 1994) (tradução minha). A disfunção do comportamento estaria associada a incapacidade de resistir à compulsão o que leva a pessoa a comprar sem critérios e sem nenhum controle (CORDIOLI, 2004; OTERO, 2002; WIELENSKA, 2002; KYRIOS, FROST e STEKETEE, 2004). Os problemas relacionados as compras compulsivas fazem com que as pessoas que apresentam esse comportamento tentem escondê-lo, guardando segredo por vergonha e medo, para não serem julgadas, causando-lhes mais infelicidade e sofrimento. (GRANT E KIM, 2003; KYRIOS, FROST E STEKETEE, 2004). Wielenska (apud GUILHARDI, 2002, p. 318), ao analisar o comprar compulsivo, define que: Comprar compulsivamente é considerado sintoma ou sinal de quadros clínicos distintos conforme o conglomerado de sintomas em evidência no indivíduo. Há critérios que facilitam avaliar se o ato de comprar seria um problema clínico: ausência de controle sobre o próprio ato, prejuízos ao orçamento, desperdício usual do bem adquirido ou uma aquisição desprovida de propósito cultural/socialmente validado, posterior arrependimento ou constrangimento com a compra, etc. Historicamente, o comprar pode ter sua origem no ato de consumir, necessário e típico do comportamento humano. Desde os nossos ancestrais desenvolvemos estratégias comportamentais que nos garantiam abrigo e alimento, ou seja, recursos que podiam garantir nossa sobrevivência. Controlar a natureza para modificá-la é uma característica da nossa espécie, construindo instrumentos, descobrindo o fogo, aprendendo a acumular bens e recursos, culminando com as trocas e com a invenção do comércio, variável cultural marcante em nossa sociedade. (WIELENSKA, 2002) Porém são muitos os fatores e causas que podem contribuir e concorrer para originar este tipo de comportamento, e provavelmente as pessoas desenvolvem o 34 padrão de comprar compulsivamente por uma combinação de variáveis biopsicossociais. Na visão de Grant e Kim (2003, p.113) a separação das variáveis envolvidas é uma estratégia artificial, pois essas variáveis interagem de maneira complexa, o que torna difícil separá-las, e a ênfase dependerá do viés e da perspectiva adotada pela pesquisa. Com respeito a perspectiva psicológica nos problemas que envolvem e que originam a compra compulsiva, de acordo com a linha teórica que nos dá suporte, aprendemos a fazer compras com os nossos pais, modelamos os comportamentos dos nossos familiares (BANDURA Y WALTERS, 1978). Nossas primeiras experiências do que significa comprar irão ocorrer como mero expectadores, observando o comportamento dos adultos, aprendendo a viver de acordo com as regras socioculturais e adotando estratégias que significamos importantes para o ajustamento social. E, como a atividade de comprar faz parte do repertório rotineiro e necessário dentro da nossa sociedade, é algo que será incorporado pela criança como uma possibilidade de ação. É na adolescência que o acesso às compras torna-se um comportamento rotineiro, pois, é nessa fase da vida que começamos a adquirir um maior controle e liberdade sobre as nossas decisões e desejos por sermos mais vulneráveis nesse período do desenvolvimento (GRANT E KIM, 2003). Pesquisas realizadas nos Estados Unidos nos fornecem dados estatísticos de que, em média, 8-10% da população apresenta problemas com compras compulsivas. O problema, ainda segundo a pesquisa, se desencadearia numa faixa etária que varia dos 18 anos aos 30 e se tornaria um problema sério nas pessoas com idades entre 31 e 39 anos (apud KYRIOS, FROST e STEKETEE, 2004). No que se refere a questões de gênero, as mulheres despontam nas estatísticas como as mais afetadas pelo problema. Kyrios, Frost e Steketee (2004) afirmam que “Compradores compulsivos são geralmente mulheres por volta da casa dos 30 anos de idade com alcance de renda vai de baixa à média com significantes débitos (Schlosser, Black, Repertinger, & Freet, 1994) (tradução nossa).” Os bens mais consumidos seriam sapatos, jóias, roupas, maquiagem, que, na maioria das vezes nem são usados. Em contrapartida, Grant e Kim (2003) alertam que, apesar das evidências de que as mulheres são as maiores afetadas, este dado pode estar alterado pelo fato de que a 35 maioria das pessoas que buscam tratamento são do sexo feminino, logo, não é seguro tecer afirmações sobre a prevalência do problema quanto ao gênero, Tomando-se por base as muitas variáveis que interferem no comportamento, na quantidade de estímulos presentes tanto na formação, desenvolvimento e no cotidiano de um ser humano, considerando que “os humanos ampliaram dramaticamente sua qualidade de vida através de operações de permutas, compras e indevidas usurpações...” (WIELENSKA, 2002, p.319), é complexo delimitar a fronteira que define o prazer de comprar sem conseqüências danosas, do comprar compulsivo. Cabe ressaltar que o comportamento de comprar compulsivo tratado aqui, não pretende descrever os episódios envolvendo o transtorno bipolar de humor ou os episódios maníacos, que também podem apresentar sintomas como “comprar em excesso, consumir serviços ou bens desorganizadamente, endividar-se além dos limites das próprias posses etc.” (WIELENSKA, 2002, p.320) Otero (apud GUILHARDI, 2002, p.381), aponta que o comportamento de comprar compulsivamente é considerado um distúrbio quando o indivíduo “apresenta uma incapacidade de controlar o impulso de comprar, envolvendo a si próprio e a outros em conseqüências desastrosas.”, também se reporta ao capítulo do DSM-IV acima citado que classifica as pessoas com controle de impulso dentro dos mesmos critérios do “jogar patológico”. A pesquisa de Del Porto, 1996 (p.110), Otero (apud GUILHARDI, 2002, p. 382), relata a descrição para dois tipos de comportamentos, os comportamentos compulsivos e os impulsivos. Para o autor, os comportamentos compulsivos teriam como função principal reduzir a ansiedade ou prevenir um sofrimento, enquanto os comportamentos impulsivos teriam como finalidade a obtenção de prazer, apesar de ambos ocorrerem sem o controle do indivíduo. No dizer do autor os comportamentos compulsivos e impulsivos “... acontecem à revelia da pessoa dado que ela não consegue controlar a própria vontade; ambos coexistem em um mesmo indivíduo e constituem padrões repetitivos de comportamento.” (OTERO, 2002, p. 382) Ainda citando Otero, que, com base na observação do comportamento humano e nas diferentes funções e significados gerados pelas aquisições, especificamente nas pessoas que apresentam dificuldades em controlar suas compras, realizou as análises 36 funcionais desses padrões de comportamento e aponta cinco grupos que demonstram características comuns, relevantes para o entendimento da problemática do comprar compulsivo. Um dos tipos característicos é o do consumidor que sente prazer em comprar por associar suas aquisições à capacidade de obter algo. Os aspectos descritos por consumidores com esse perfil, (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p. 382), são sensações de gratificações pela compra realizada, pela satisfação de realizar um desejo, mesmo que o objeto adquirido não venha a ser usufruido. Essas pessoas, conforme pesquisado, apresentam em algum momento de suas vidas “... algum tipo de limitação de gastos, seja a determinada pela falta real de dinheiro ou a imposta por outra pessoa (pais, esposos, filhos, etc.), ...”, porém, apesar das limitações, se comportarão de forma a realizar suas inclinações e desejos. A gratificação buscada é de conseguir comprar o que deseja, ao invés de sentir-se satisfeito com o objeto adquirido. A necessidade no caso, ou, a força que impulsiona a pessoa a agir e comportar-se de forma disfuncional gastando além de suas posses, segundo Otero é a de “sentir-se capaz de obter algo”. Algumas pessoas podem comprar compulsivamente com o intuito de sentirem-se aceitas socialmente ou incluirem-se em um grupo social com maior poder aquisitivo. Essas pessoas estariam “dirigindo comportamentos pela auto-regra que lhes diz que se adquirirem um determinado bem sentir-se-ão incluídas na classe social a que aspiram.” (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p.383). Esse comportamento pode ser observado em pessoas que ascendem socialmente, e isso pode ser comprovado com a aquisição de bens que antes lhes era negado. Essas pessoas passam a vestirem-se com roupas de “grifes caras e esforçamse por exibí-las ou mostrá-las para alguém que supunham julgá-las como uma pessoa inferior.” (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p. 383). Além desse grupo de pessoas, aqui também incluem-se aquelas pessoas que exibem uma condição social que não possuem, apesar de não possuírem condições financeiras, compram com a finalidade de demonstrar e exibir um falso progresso financeiro. Para os cognitivistas, tanto a procura por sentir capaz como os comportamentos determinados, por auto-regras podem ser traduzidos em comportamentos ditados por 37 crenças e pensamentos automáticos, que, em ambos os casos resultam em estratégias disfuncionais. Um outro grupo é aquele no qual o comprar adquire a função ou significado de manifestar afeto, pedir desculpas, exibir poder ou vingança ou pedido de perdão, o que pode ser observado nas famílias e nos casais com uma dinâmica problemática. O “poder comprar” e/ou “fazer compras” funcionaria como uma “moeda” de troca entre casais, para que um dos cônjuges finja não perceber determinados comportamentos ou atitudes. Esse fingir que não sabe o que acontece, essa dissimulação de conhecimento é uma auto-regra, que orienta seu comportamento, escamoteando a realidade já que isso lhe traz rendimentos outros. As compras também podem servir como uma forma vingança, compensação, conforme exemplifica a autora, esposas que justificam seus gastos excessivos como causadas pela ausência do marido, ou o marido que afirma que a mulher pode gastar o quanto quiser, desde que não o importune. Os casais podem ter nos seus relacionamentos regras explícitas, implícitas ou dissimuladas, que contribuem para os comportamentos disfuncionais de comprar compulsivamente. Algumas pessoas compram buscando compensação por um evento ruim vivenciado, e que tenha lhes causado depressão ou ansiedade (OTERO, 2002). As compras funcionam neste caso, “como uma estratégia de enfrentamento de seus estado internos desagradáveis (p.384)”. Esses sentimentos desagradáveis fazem com que as pessoas procurem afastá-los adotando comportamentos de fuga e esquiva, e, comprar é uma das formas encontradas de obter prazer e gratificação, reparando e compensando assim o que elas não desejavam. O comportamento de comprar de forma exagerada também é apontado como uma forma de agir para evitar situações aversivas que venham a desencadear estados internos negativos, como “raiva, irritação, braveza” (OTERO, apud GUILHARDI, 2002, p. 383). Algumas pessoas diante de sentimentos ou emoções que geram tensão, sentem-se compelidas a irem ao shopping fazer compras, adquirindo qualquer coisa, ainda que não necessitem ou desejem o bem comprado. Este comportamento é uma estratégia de fuga e evitação das situações aversivas, e o comprar é uma forma de obter prazer para compensar-se pelas emoções desagradáveis, reduzindo a tensão psíquica. 38 As estratégias comportamentais apresentadas - busca de sensação de capacidade, inclusão social, dinâmica de troca entre casais, compensação, evitação de situação aversiva – que levam as pessoas a adotar um comportamento compulsivo, evidenciam a ação de comprar motivada por reforço negativo. Este reforço negativo seria, conforme suporte teórico, a origem que está na base de todos os exemplos relacionados, pois o que se observa é a remoção dos eventos classificados ou percebidos como aversivos. O comprar seria uma forma de aliviar a tensão(conforme explicaç já que sensação proporcionada – o prazer enquanto gasta – removeria, ainda que momentaneamente, aquelas idéias, pensamentos, situações, consideradas desagradáveis. A saída encontrada no comprar compulsivo é uma estratégia para impedir ou adiar de forma indefinida o contato com eventos que promovam as sensações de tristeza, pesar, desprazer. Comprar, adquirir bens ou serviços é, na maioria das vezes, uma atividade agradável, seja pelo prazer experimentado, ou pelos objetos ou bens que adquirimos, os quais nos trazem algum benefício. Mas para que essa atividade tipicamente humana e corriqueira possa ser realizada de maneira saudável, sem perder sua condição prazerosa, faz-se necessário que adotemos atitudes adequadas, estratégias apropriadas para que nossas ações não resultem em danos e conseqüências desagradáveis e nocivas. Educar para o consumo, nos parece uma alternativa possível e viável enquanto possibilidade de intervenção, como uma proposta psicoeducativa. Aprender a comprar passa por: • Identificar as possibilidades reais para concretizar a compra; as conseqüências das compras que irão surgir a curto, médio e longo prazo; as reais funções do comprar; as motivações que levam às aquisições; se de fato o bem adquirido será usado; refletir sobre as escolhas das estratégias de enfrentamento nas diversas situações da vida; descobrir e aprender a utilizar outras possíveis fontes de reforçamento; aprender a administrar seus desejos e frustrações. Otero (2002) nos sugere um elenco atitudes, que se aprendidas, ampliarão as possibilidades de respostas das pessoas diante das dificuldades ou dos estímulos 39 presentes no cotidiano, tratando-se do comprar compulsivo, pois, comprar pode funcionar como um reforçador positivo ou negativo. Ampliar nossas habilidades de aquisição ou aprender a comprar, só irá os auxiliar a “controlar nossos impulsos e nossas frustrações. Também nos ajuda a aprender e nos proporciona prazer.” (apud GUILHARDI, 2002, p. 385) Como sugestão, outra alternativa possível são as técnicas terapêuticas oportunizadas pela Teoria Comportamental Cognitiva (TCC), o que segundo relatam os estudos consultados, mostram-se bastante eficazes no controle dos sintomas e redução dos comportamentos problemáticos. A metodologia utilizada para a modificação dos comportamentos segundo esta teoria, busca atuar nas crenças, nos esquemas conceituais disfuncionais responsáveis pelos erros avaliativos. Os propósitos fundamentais da Terapia Comportamental Cognitiva consistem em propiciar , por meio de suas técnicas, um controle e monitoramento de seus pensamentos, identificando aqueles que originam os comportamentos difuncionais para que possam ser confrontados com a realidade para testar sua validade a partir de resolução de problemas. (WAINER, PERGHER, PIICCOLOTO apud CAMINHA 2003) 40 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho teve início com o interesse em desenvolver uma pesquisa na abordagem Comportamental-Cognitiva, buscando assim aprimorar meus conhecimentos nesta área teórica da Psicologia. Escolhida a área de investigação, o tema compulsão por compras surgiu com base nas observações e experiências cotidianas, e sensibilizada com a problemática reunimos material para explorar o assunto em questão. Porém, apesar do interesse, os trabalhos e pesquisas sobre o tema são escassos, e a elaboração da presente monografia se caracterizou pela busca por referenciais teóricos atualizados que permitissem abordar o tema escolhido. Além da procura por referenciais teóricos que suportassem o trabalho, foi igualmente necessária apropriação dos conceitos por parte da pesquisadora, para que o aprendizado pudesse de fato ser incorporado de forma a elaborar satisfatoriamente a tarefa, contando sempre com a colaboração da orientadora, Drª Vera Baião. Após a devida revisão literária foi possível delinear e identificar os objetivos a serem investigados com vistas a encontrar respostas que viabilizassem um norteador frente ao transtorno definido como compulsão por compras. Para alcançar os objetivos que almejavam identificar os fundamentos da compulsão por compras, foi, em um primeiro momento, explicitada a teoria comportamental desde os seus primeiros estudos com Pavlov, passando por Skinner até os teóricos da atualidade. Foram pesquisados, o condicionamento respondente (Pavlov), no qual foram desenvolvidos os conceitos de reflexo (condicionado e incondicionado), estímulo e resposta, definições centrais para entendermos os princípios da aprendizagem e dos comportamentos involuntários. Na seqüência foi abordado o condicionamento operante (Skinner), que se ocupa das influências dos efeitos (conseqüências) no comportamento voluntário. As conseqüências são conceitos primordiais nesta teoria, pois para entendermos a tendência de determinadas formas de agir faz-se necessário observarmos as relações entre estímulo e resposta, definidores dos esquemas de reforçamento positivo ou 41 negativo. Em resumo, foram estudadas as formas de aprendizagem que determinam o comportamento. As contribuições dos autores nos levam a concluir, no que se refere aos princípios da aprendizagem nos moldes apresentados, que as bases para o comportamento de comprar compulsivamente principiam muito cedo, em algum momento do desenvolvimento infantil por meio de estímulos que perduram no tempo com força o suficiente para instalar uma resposta. Resgatando Bandura y Walters ao falar do papel da imitação no desenvolvimento da personalidade, assinala a importância da respostas aprendidas por meio da observação dos pais. As crianças, se a considerarmos como um sujeito em formação, tendem a imitar a conduta dos seus cuidadores como uma forma de interação. Por ser um período de exposição muito longo, essas respostas tendem a se perpetuar na vida adulta. Igualmente, para satisfazer os objetivos inicialmente propostos, foram pesquisadas as bases da Ciência Cognitiva, segundo a qual os comportamentos são o resultado das representações mentais, que se apresentam como crenças centrais e se manifestam como esquemas de pensamentos. Nossas emoções e crenças são resultantes dos aprendizados no decorrer da existência e a forma como os significamos irão resultar em comportamentos. É de acordo com esta perspectiva que chegamos ao comportamento compulsivo, entendido como estratégia comportamental disfuncional, por estar alicerçada em crenças e pensamentos distorcidos, que causam aflição e mal estar psicológico. A característica de um comportamento compulsivo é a repetição do mesmo, ainda que ele seja prejudicial, como no caso das compras compulsivas. Segundo os teóricos pesquisados, a compulsão tem o objetivo de aliviar ou neutralizar um sofrimento, desconforto ou medo. Nesta medida, Baldwin e Baldwin, explicam o comportamento compulsivo em comprar como um entrelaçamento das teorias pavloviana e operante. O comportamento de comprar seria uma estratégia para fugir ou esquivar-se de um sentimento, idéia, crença, ou emoção que provoque sofrimento ou desconforto psíquico, evidenciando o reforçamento negativo como base para esse tipo de resposta. De acordo com os autores, as pessoas com esse comportamento procuram fugir de algo que lhes incomoda, compram para evitar um sofrimento, como uma forma de se 42 aliviarem. Mesmo relatando um prazer a emissão do comportamento de comprar, este é um sentimento passageiro, que necessitará ser novamente emitido, quando o indivíduo for outra vez estimulado. É como estar em um círculo que não tem começo nem fim. Mesmo com conseqüências danosas, o comportamento se repete, porque o próprio comportamento irá alimentar e aumentar a aflição e o desconforto sentido, o que novamente estimulará para a ação. As experiências passadas são muitas vezes utilizadas pelas pessoas para corroborar ou fundamentar sua forma de pensar, colocando-as num círculo vicioso, dificultando a emissão de respostas apropriadas, como por exemplo, dar-se conta que o comportamento de comprar não modifica os pensamentos e crenças que atormentam e trazem sofrimento. Com base nestes estudos, sensibilizados pela extensão dos prejuízos causados por este comportamento, chegamos a conclusão que este tipo de problemática merece que mais estudos sejam realizados. Por ser um tema onde existem poucos estudos, parece-nos oportuno ressaltar a relevância das pesquisas, para tal, faz-se necessário desenvolver instrumentos de pesquisa competentes, tornando possível a intervenção conseqüente, beneficiando os indivíduos que tenham desenvolvido este tipo de compulsão. Percebemos que para uma compreensão mais adequada do fenômeno compulsão por compras, seria relevante uma pesquisa empírica, por exemplo, um estudo de caso, na qual fosse possível o acesso aos dados de forma direta, pois somente com aqueles trazidos pela bibliografia ficam lacunas a serem preenchidas. Por meio desta metodologia, bibliográfica, torna-se complexo responder algumas questões que seriam elucidativas para o completo entendimento do processo, pois os dados são muito genéricos e, algumas vezes pouco esclarecedores. Por este motivo sugerimos um estudo empírico para colher dados que venham a corrobarar as teorias já existentes. A título de sugestão, anexamos um questionário adaptado de Grant e Kim (2003), que poderá servir como indicativo para investigações do problema da compulsão por compras, alertando que o mesmo serve como indicativo e não como um diagnóstico, já que qualquer instrumento deve estar inserido num contexto maior. 43 REFERÊNCIAS BALDWIN , J.D. & BALDWIN J.I. 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Sim Não 6.As compras ou o desejo de comprar causam muita angústia? Sim Não 7.As compras, ou o desejo de comprar interfere de forma significativa na sua vida? Sim Não Se você respondeu afirmativamente para quatro ou mais das perguntas, você pode ter desenvolvido o transtorno compulsivo por compras.