MIOLO_001-107_TEOLOGIA PARA PENTECOSTAIS_VOL 2_Maria

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GERÊNCIA EDITORIAL
E DE PRODUÇÃO
Gilmar Chaves
Copyright © 2016 por Editora Central Gospel.
GERÊNCIA DE
PROJETOS ESPECIAIS
Jefferson Magno
COORDENAÇÃO
EDITORIAL
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Michelle Candida Caetano
COORDENAÇÃO
DE COMUNICAÇÃO
E DESIGN
Regina Coeli
1ª REVISÃO
Izaldil Tavares
REVISÃO FINAL
Maria José Marinho
Welton Torres
CAPA
Thiago Ishibashi
ILUSTRAÇÕES
Thiago Ishibashi
Israel Felipe
PROJETO GRÁFICO E
Autor: BRUNELLI, Walter.
Título: Teologia para Pentecostais: Uma Teologia Sistemática
Expandida - Volume 2
Rio de Janeiro: 2016
480 páginas
ISBN: 978-85-7689-475-9
1. Bíblia - Teologia Sistemática I. Título II.
As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas da
Versão Almeida Revista e Corrigida (ARC), da Sociedade Bíblica
do Brasil, salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura
das Sagradas Escrituras.
É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste livro
por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos,
fotográficos etc.), a não ser em citações breves, com indicação da
fonte bibliográfica.
Este livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo
Acordo Ortográfico, que entrou em vigor a partir de janeiro de 2009.
DIAGRAMAÇÃO
Eduardo Souza
IMPRESSÃO E
ACABAMENTO
RR Donnelley
1ª edição: abril/2016
Editora Central Gospel Ltda
Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara
Cep: 22.713-001
Rio de Janeiro – RJ
TEL: (21) 2187-7000
www.editoracentralgospel.com
PREFÁCIO GERAL
E
Estudo a Bíblia há vários anos e, dentre todas as fontes que têm servido de ajuda aos
meus estudos, sempre tive um interesse e um respeito todo especial pelas teologias
sistemáticas. Porém, sempre senti falta de uma teologia que tratasse sistematicamente
dos assuntos teológicos sob a visão pentecostal. Eis que, certo dia, fui procurado pelo
pastor Walter Brunelli, meu amigo de muitos anos, informando-me de que estava trabalhando em uma Teologia para Pentecostais.
Conversamos longamente sobre a conceituação, o conteúdo, o lastreamento do
projeto, e, finalmente, cheguei à conclusão de que eu estava diante da preparação de
uma obra escrita sob uma ótica nova, original e prática. Imediatamente, assumi o compromisso de abraçar editorialmente aquele projeto e de colocá-lo em nosso cronograma de lançamentos.
Todo pastor necessita de ferramentas teológicas ricas, diversificadas, de texto
acessível e construídas sob rigor acadêmico. Esta Teologia para Pentecostais – Uma
Teologia Sistemática Expandida é uma obra com estes e outros méritos. Abrangendo
os 10 temas da teologia sistemática, o pastor Brunelli disserta, de maneira expandida,
sobre: Bibliologia – Estudo sobre as Escrituras; Teontologia – Estudo sobre o ser de Deus;
Cristologia – Estudo sobre a pessoa de Cristo; Pneumatologia – Estudo sobre o Espírito
Santo; Angelologia – Estudo sobre os anjos; Antropologia – Estudo sobre o homem; Hamartiologia – Estudo sobre o pecado; Soteriologia – Estudo sobre a salvação; Eclesiologia
4
TEOLOGIA PARA PENTECOSTAIS
– Estudo sobre a Igreja; Escatologia – Estudo sobre as últimas coisas; e ainda brinda os
leitores com mais dois estudos: a História da Teologia Cristã e a História do Movimento
Pentecostal.
Todo esse arsenal de conhecimentos é o resumo dos estudos de um pastor que
sempre dedicou-se ao aprendizado e ao ensino ao longo de sua vida. Em minha opinião, Walter Brunelli é, entre nós, ministros pentecostais, uma das mais autorizadas
vozes na ministração do ensino da Palavra de Deus, tanto pelos conhecimentos que
tem reunido como pela experiência de cátedra. Tê-lo na lista de nossos autores nacionais com uma obra de tamanha envergadura é algo que nos honra, pois agregará
enorme valor ao nosso catálogo.
Tenho certeza de que, publicando esta obra, a Editora Central Gospel estará facilitando a formação curricular de milhares de estudiosos da Bíblia e tornando acessível
aos pentecostais uma Teologia Sistemática Expandida e destinada a eles.
Pastor Silas Malafaia
Pastor presidente da Igreja ADVEC, presidente da Editora Central Gospel,
psicólogo clínico, conferencista internacional e pastor evangélico.
SUMÁRIO
PREFÁCIO À CRISTOLOGIA......................................................................................................13
Navegadores da divindade de Jesus
O QUE É CRISTOLOGIA?.............................................................................................................15
O Messias prometido
O uso da unção em Israel
O uso no Novo Testamento
Profecias messiânicas
Onde aparece o termo
A profecia de Isaías
A profecia de Jeremias
A profecia de Daniel
A profecia de Miqueias
A profecia de Zacarias
O Messias nos Salmos
O anúncio a Maria
Expectativas messiânicas do passado
O fracasso da monarquia
Profecias de um reinado sobre-humano
A expectativa messiânica a partir do reinado helenista
Jesus no contexto galileu
Jesus, Filho de Davi
Jesus, Filho de Deus
Jesus, Filho do Homem
Objeções judaicas à messianidade de Jesus
Os religiosos dos dias de Jesus
As razões principais da rejeição
Jesus não cumpriu todas as profecias
Jesus não tornou o Deus de Israel conhecido do mundo
Jesus igualou-se a Deus
Não aceitam milagres
O último profeta foi Malaquias
Expectativa frustrada
Hábito de rejeitar
A primeira oposição
A ação do Messias em duas etapas
8
CRISTOLOGIA - ESTUDO SOBRE A PESSOA DE CRISTO
Jesus tornou-se conhecido
Contradições
A PREEXISTÊNCIA DE JESUS.....................................................................................................43
A humanidade do Logos
O Logos na cultura helenista
O Logos na cultura judaica
O Logos na literatura joanina
O esvaziamento de Cristo
Na forma de Deus
A figura de servo
Marcado pela diferença
O nascimento de Jesus
Um nascimento arriscado
A união hipostática
A NATUREZA HUMANA DE JESUS..........................................................................................53
Era sujeito às leis naturais
Jesus possuía todas as características de um ser humano
A educação de Jesus
A integridade de Jesus
A contribuição da natureza divina
Consciência de inocência
A NATUREZA DIVINA DE JESUS..............................................................................................61
Consciência da Sua divindade
Sua intimidade com o Pai
Fala do céu
Perdoa pecados
O pensamento gnóstico
Onde e quando nasceu a consciência
Testemunho do céu
O testemunho de João Batista
Encantava pela sabedoria e pelos milagres
Atendia bem a todos
Priorizava a vontade de Deus
O que Jesus sabia sobre as pessoas
O que Jesus sabia sobre situações
O que Jesus não sabia
O SENHORIO DE JESUS................................................................................................................71
Influência helenista
Influência judaica
No cristianismo primitivo
SUMÁRIO
9
Jesus Salvador
O “Eu sou”
OS OFÍCIOS DE CRISTO...............................................................................................................77
Jesus como profeta
O profeta fala em nome de outrem
Figura amparada por Deus
Um profeta semelhante a Moisés
A responsabilidade de quem ouve esse profeta
A figura popular de profeta
O ministério profético de Jesus
Predições proféticas de Jesus
Jesus se autointitula profeta
Reconhecido por muitos como profeta
Características de um profeta
Ele era a própria fonte
A revelação do Pai aos Seus
Pouco chamado de profeta
O ministério profético de Jesus perdura com a Igreja
JESUS COMO SACERDOTE.........................................................................................................85
O sacerdócio no Antigo Testamento
Pertencer à tribo de Levi
Funções sacerdotais no templo
As ordens sacerdotais
A ordem de Cristo
Outras atribuições sacerdotais
O ministério sacerdotal de Cristo
Sacerdote e sacrifício ao mesmo tempo
Sacrifício perfeito
Intercessor
A superioridade de Cristo
O que dá superioridade ao Seu sacerdócio
Sacerdote sensível
Sumo sacerdote da nossa confissão
O papel do sumo sacerdote
JESUS COMO REI...........................................................................................................................93
A recusa de um Reino terreno
Afinal, Jesus é Rei ou não?
Suas declarações sobre Seu Reino
O tempo do Seu Reino
A plenitude do Reino
Um Reino espiritual
10
CRISTOLOGIA - ESTUDO SOBRE A PESSOA DE CRISTO
O anúncio do Reino
Foi reconhecido como Rei por Natanael
Aclamado Rei pelo povo
Pretexto para a Sua condenação
Um Reino de justiça
Um Reino de reis
Um Reino ao lado do Pai
Um Reino futuro
O cumprimento da profecia
Só uma questão de tempo
Declaração dos que o rejeitaram
Jesus, reconhecidamente um Rei
O MINISTÉRIO DE ENSINO DE JESUS...................................................................................101
Jesus é chamado de Mestre
A posição de Mestre
Consciência dessa posição
Mestre para os discípulos
Mestre para os de fora
Mestre especial
Os métodos de ensino de Jesus
Método discursivo
Método narrativo
Método demonstrativo
Outros métodos
O conteúdo do ensino de Jesus
Ensinamentos éticos
Ensinos sobre o Reino
Prevenções escatológicas
A autoridade no ensino
Ainda é Mestre
JESUS, O OPERADOR DE MILAGRES.....................................................................................109
A noção do milagre
Milagres do Antigo Testamento
Milagres existem
Como encarar os milagres hoje
Milagres no ministério de Jesus
A HUMILHAÇÃO DE CRISTO..................................................................................................115
Previsões do sacrifício de Jesus
A consciência que Jesus tinha do Seu sacrifício
Acertando sem saber
Sacrifício remidor
SUMÁRIO
11
Sacrifício substitutivo
Os sacrifícios da Lei
Coincidência ou providência?
A satisfação divina
A doutrina da expiação
A necessidade da expiação
Um ato de misericórdia
Por que expiação?
Antes da Lei
A legislação dos sacrifícios
As ordens sacrificiais
Expiação e holocausto
Sacrifícios pacíficos
Sacrifícios pelos sacerdotes
Sacrifício pela nação
Outros tipos de sacrifícios
A oferta sem sangue
Teorias sobre a expiação
Visão ortodoxa
Teoria dos Pais da Igreja
Teoria moral
Teoria governamental
Teoria mística
Analogia moral
Analogia comercial
Analogia legal
Analogia sacrificial
O cumprimento da expiação
Não aperfeiçoavam ninguém
O sacrifício perfeito
O sacrifício obrigatório
A sentença do pecador
Expiação limitada
Os resultados da expiação
Entre a morte e a ressurreição
A RESSURREIÇÃO DE JESUS.....................................................................................................137
Predições sobre a ressurreição no Antigo Testamento
As predições feitas pelo próprio Cristo
A aparência do Cristo ressurreto
O fato da ressurreição
As primeiras reações da ressurreição
Resultados da ressurreição
Os quarenta dias na terra
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CRISTOLOGIA - ESTUDO SOBRE A PESSOA DE CRISTO
A EXALTAÇÃO DE CRISTO.......................................................................................................145
A ascensão de Jesus
Um corpo de glória
Testemunhas oculares
Outras aparições
A posição de Jesus no céu
Exerce o domínio sobre tudo
Jesus, o Rei que voltará
A manifestação do Filho
Todo mundo o exaltará
O reconhecimento dos que o rejeitaram
Regalias celestiais
CONCLUSÃO................................................................................................................................151
BIBLIOGRAFIA.............................................................................................................................153
PREFÁCIO à CRISTOLOGIA
Quando Deus se fez homem
e habitou entre nós
A
Ao ser preso na Ilha de Santa Helena, Napoleão Bonaparte escreveu a um amigo: “Conheço os homens e garanto-te que Jesus Cristo não foi simplesmente um homem”. E,
no seu livro Memorial de Santa Helena, o imperador que vencera tantas batalhas e
agora estava ali, naquela ilha, prisioneiro e vencido, reconheceu:
“Apaixonei as multidões que morriam por mim; mas eram indispensáveis minha
presença, a chama do meu olhar, minha voz, uma palavra minha... Agora que estou em
Santa Helena, só e exilado neste rochedo, onde estão os cortesãos do meu infortúnio?
Onde estão os que me acompanhavam? Para onde foram os meus ministros? Quem se
recorda de mim? Quem se move por mim na Europa? Onde estão os meus parentes,
os meus amigos? Que abismo tão grande entre a minha profunda miséria e o Reino
de Jesus Cristo, mais e mais louvado, a cada dia mais amado, sempre e para sempre
adorado em todo o universo!”
Jesus não se apresentou ao mundo somente como o Messias prometido ao povo
judeu, e sim como o Filho de Deus, como o próprio Deus, que se fez homem e veio
habitar entre nós, “cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14b), para salvar-nos.
Estudando atentamente Sua vida na seção Cristologia, o pastor Walter Brunelli consegue esmiuçar os pontos fundamentais acerca de Sua preexistência, Seus atributos, e
a atuação do Filho de Deus sobre a face da terra. É maravilhoso vermos como Jesus
Cristo atrai a atenção de todos sobre si mesmo, conforme reconheceu o próprio imperador Napoleão Bonaparte. O desenrolar de Sua existência entre nós, a sublimidade
de Sua doutrina, a magnitude e os efeitos de Sua obra redentora sobre a humanidade
provam que Ele não foi um mero acidente histórico, como os demais homens, e sim
Deus que se fez homem e veio habitar entre os seres humanos, para reconduzi-los ao
Senhor, ou seja, a si mesmo.
14
CRISTOLOGIA - ESTUDO SOBRE A PESSOA DE CRISTO
Negadores da divindade de Jesus
Ao longo dos séculos, Satanás tem inspirado a descrença no coração de muitos
seres humanos, levando-os a afirmar que Jesus Cristo não é Deus. Muitos o admitem
como profeta, legislador, revolucionário e até como Messias, mas não como Deus.
A divindade de Jesus foi negada de forma sistemática no segundo século pelos
cerintianos e ebionitas, no quarto século pelos arianos, no século 16 pelos socianos e,
em todos os séculos, pelos racionalistas.
Em 1863, o escritor francês e professor de hebraico Ernest Renan publicou o
polêmico livro A Vida de Jesus, com o propósito de provar que Jesus Cristo fora simplesmente um homem, produto de Sua época. Nessa obra, Renan afirma que, nos
Evangelhos, “Jesus jamais declara a ideia sacrílega de que Ele seja Deus”.
Jean Stapfer, outro escritor francês, seguindo o mal exemplo de Renan, afirma
também que “Jesus não foi mais que um homem”. O escritor alemão Johanes Wernle,
encabeçando em sua pátria a lista dos modernos negadores da divindade de Jesus,
disse que Cristo se apresenta nos Evangelhos “com o sentimento da distância em que
toda criatura está de Deus”.
Portanto, esses e centenas de outros escritores racionalistas e materialistas disseram que Jesus nunca afirmou ser Deus. Veremos, porém, que, em um dos mais ricos
tópicos de seu estudo sobre Cristologia, o pastor Walter Brunelli apresenta os argumentos que provam a divindade de Jesus, demonstrando que esses homens estavam e
estão enganados. Jesus Cristo afirmou ser Deus. Nenhum líder religioso reconhecido
ousou fazer tal afirmação.
Nem Moisés, nem Buda, nem o apóstolo Paulo, nem Confúcio, nem Maomé, nem
Allan Kardec afirmaram ser Deus. Só Jesus Cristo afirmou e apresentou provas disso.
O escritor norte-americano F. J. Meldau, diante do assunto, tece o seguinte comentário:
“Os ensinamentos de Jesus eram a palavra final – acima dos de Moisés e dos profetas.
Ele nunca acrescentou melhoras ou revisões a seus pensamentos; nunca se retratou ou
mudou de opinião; nunca falou demonstrando insegurança, incerteza. Isso é absolutamente contrário ao procedimento dos líderes e dos mestres humanos”.
Os leitores desta Teologia para Pentecostais estão de parabéns pela vastidão de
conhecimentos que adquirirão ao estudarem atentamente esta obra, pois ela é o testemunho da vida de um homem que tem passado os seus mais ativos anos debruçado
no estudo das Sagradas Escrituras e em inúmeras fontes de conhecimentos bíblicos. O
Pr. Walter Brunelli é um dos maiores exemplos de estudioso e ensinador que temos em
nosso país.
Jefferson Magno
Ministro e pregador do evangelho, professor, preletor, biógrafo e articulista,
além de Gerente de Projetos Especiais na Editora Central Gospel. Graduado
em Letras (Português-Literatura) pela Sociedade Unificada de Ensino Superior
Augusto Motta (UNISUAM) e bacharel em Teologia pelo Instituto Bíblico
Pentecostal (IBP). É autor de dez livros.
O QUE É CRISTOLOGIA?
C
Cristologia é a área da Teologia Sistemática que estuda a pessoa e a obra de Cristo. Estudar a pessoa de Cristo, do ponto de vista histórico, a partir das Escrituras Sagradas, é
relativamente prático; no entanto, do ponto de vista teológico, é complexo. A história de
vida, que vai do nascimento à morte, incluindo a ressurreição e a ascensão, abrange um
curto período de 33 anos; porém, a complexidade que envolve a humanidade do Logos,
a união hipostática, a deidade, o ministério messiânico, a mensagem de chegada do Reino, o poder, a morte, a ressurreição e a perpetuação de Sua mensagem e o senhorio por
meio da Igreja requerem mais do que um estudo biográfico ou simplesmente histórico.
A dogmática cristológica sofre alguns problemas quando descentralizada das Escrituras Sagradas. Os extremos estão nessas dificuldades, que vão do fanatismo religioso,
passando pelo liberalismo teológico e chegando ao existencialismo. No primeiro, deparamo-nos com a mariolatria e as crendices desenvolvidas em torno da mãe de Jesus;
no liberalismo teológico, percebemos uma maneira de ver o cristianismo como mais
uma religião, entre tantas outras, e a pessoa de Cristo exaltada à condição de Filho de
Deus pela comunidade cristã do primeiro século, quando Ele não passava de um gênio; já o existencialismo – tendo como principal representante Rudolf Bultmann –, na
falta de elementos que garantam a cientificidade do Jesus histórico, trata do mistério da
vinda do Messias como mito. Tais extremos em nada contribuem para uma cristologia
bíblica saudável; antes, polarizam opiniões, descentralizando o verdadeiro sentido e o
16
CRISTOLOGIA - ESTUDO SOBRE A PESSOA DE CRISTO
motivo da fé cristã na pessoa de Jesus
Cristo. No meio desses extremos, ainda
Cristologia é a área da
passamos pelas controvérsias cristológicas que ocorreram nos concílios, onde
Teologia Sistemática
debatiam Sua divindade-humanidade e
que estuda a pessoa
o Seu lugar na Trindade divina.
Berkhof distingue a Cristologia em
e a obra de Cristo.
dois períodos distintos: antes e depois
Estudar a pessoa
do Concílio de Calcedônia. As discussões que surgiram em torno da pessoa
de Cristo, do ponto
de Cristo, na primeira fase, comprode vista histórico, a
metiam a Sua divindade. Os ebionitas,
“pobres”, um grupo cristão que mantipartir das Escrituras
nha os pés fincados na Torá, consideravam Jesus um simples homem, que
Sagradas, é
foi qualificado para ser Messias no ato
relativamente prático.
do batismo, por haver recebido o Espírito Santo. Outro grupo chamado alogi
(“antiLogos”) não aceitava os escritos
de João, porque ele apresentava Jesus como o Logos encarnado, mas admitia o Seu nascimento virginal; contudo, assim como os ebionitas admitiam que o Messias incorporou
em Jesus (homem) no batismo, os monarquistas dinâmicos, representados por Paulo de
Samosata, faziam distinção entre Jesus e o Logos. Os monarquianistas modalistas negavam a humanidade de Cristo, admitindo que Ele se manifestava, de modos diferentes,
ora como Pai, ora como Filho.1
No Concílio de Calcedônia2, afirmou-se o diofisismo, isto é, a dupla natureza de
Jesus: homem e Deus. À altura do Concílio de Calcedônia, a doutrina de Êutico era
muito forte e dizia que a natureza humana de Cristo tinha sido absorvida pela natureza divina. Outra doutrina foi o apolinarianismo, de Apolinário (310–390 d.C.),
a qual dizia que Jesus tinha corpo humano, porém mente divina. Entretanto, depois
do Concílio de Calcedônia, outras discussões em torno da pessoa de Cristo ainda
surgiram, como, por exemplo, o adocionismo, defendido pelo bispo de Urgel, que
considerava Cristo o Filho de Deus, por adoção. Na Idade Média, ainda não se tinha
uma total clareza acerca da doutrina de Cristo. Havia um conceito docético3 entre
1. BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 2. ed. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001.
2. O Concílio de Calcedônia foi realizado na cidade de Bitínia, entre 8 de outubro e 1 de novembro
de 451 d.C., para fazer frente à doutrina monofisista de Eutiques. O concílio foi convocado
pelo imperador bizantino Marciano e contou com a presença de 350 bispos.
3. Docetismo, do grego dokeos, “aparência”, era um tipo de gnosticismo que admitia ser Jesus
apenas uma aparência humana, sem que, de fato, fosse humano; uma vez que o mal está na
matéria, Jesus não pode estar involucrado no próprio mal.
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