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“O movimento estudantil na FFCL São José do Rio Preto de 1960 a
1964: suas atividades segundo os jornais locais.”
Letícia Bortolozo de Oliveira Martins
RESUMO:
O objetivo desta pesquisa é identificar as atividades do movimento estudantil da
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto, de 1960 a 1964,
analisando-as e compreendendo a participação dos estudantes, suas organizações, e
preocupações.
A FFCL de São José do Rio Preto mantinha três cursos, História Natural, Letras e
Pedagogia e possuía um movimento estudantil aparentemente organizado, possuindo
três grupos principais de representações, o Centro Acadêmico de Filosofia, o Grupo de
Teatro Amador (GRUTA) e Centros de Estudos de História Natural
O trabalho se limitará a pesquisar estes movimentos a partir das atividades
divulgadas pelos jornais locais: A Notícia, Correio Araraquarense, A Tribuna, Diário
da Região e Diário da Tarde, no período de 1960 a 1964.
O recorte realizado privilegia a percepção da comunidade com relação às
atividades produzidas pelo movimento estudantil no período pré-ditadura militar de
1960, ano de conclusão de curso das primeiras turmas da Faculdade de Filosofia local,
ao ano de 1964, ano em que foi instituído o primeiro Ato Institucional, iniciando o
Regime Militar, que limitava a produção, pesquisa e pensamento dos cidadãos, podendo
influenciar as atividades do movimento.
A análise inicial dos documentos pesquisados permite perceber que o Centro
Acadêmico de Filosofia da Faculdade de Filosofia de Rio Preto foi o grupo mais ativo
da FAFI e comunidade em geral. No total foram publicadas 38 matérias jornalísticas, a
respeito do movimento estudantil, distribuídas por todos os jornais utilizados.
1 – APRESENTAÇÃO
Durante o final da década de 1950 foram instalados pelo Estado de São Paulo
diversos Institutos Isolados de Ensino Superior, conhecidos como Faculdades de
Filosofia, Ciências e Letras. A de São José do Rio Preto foi uma das primeiras a se
constituir e ser mantida pelo governo estadual pela Lei n. 5.177, de 13 de janeiro de
1959. A Universidade Estadual Paulista – UNESP resultou da incorporação destes
institutos, no ano de 1976. Assim a FFCL de São José do Rio Preto manteve suas
atividades apenas nos anos de 1957 a 1975.
1
O Projeto de Lei da Faculdade de São José do Rio Preto aprovado em 1955
instituiu na cidade uma Faculdade Municipal, cujas atividades se iniciaram somente em
1957, como uma FFCL dos Institutos Isolados de Ensino Superior do Estado de São
Paulo.
A sociedade rio-pretense se mostrou bastante interessada pelo seu funcionamento
considerando o número de 171 matérias e notas publicadas nos jornais locais entre os
anos de 1955 e 1957. O movimento estudantil local apoiou fortemente a organização da
FFCL, razão pela qual grande número dessas publicações fazia referência às atividades
de apoio à Faculdade de Filosofia que o grupo produziu.
Com o inicio das atividades da Faculdade, o movimento estudantil interno se
organizou, desenvolvendo diversas atividades para a comunidade interna e externa à
Instituição. O objetivo desta pesquisa, é identificar as atividades referentes ao
movimento estudantil entre os anos de 1960, ano de conclusão de curso das primeiras
turmas da FFCL e 1964, ano em que o primeiro Ato Institucional foi instituído,
analisando-as e compreendendo a participação dos estudantes, suas organizações, e
preocupações.
O Golpe Militar de 1964 e a educação associada à produção de mercadoria que,
como todo processo econômico, implicava um custo e um benefício, assim a
Universidade era vista como uma empresa, cuja finalidade era produzir ciência, técnica
e cultura em geral (CUNHA, 2007), o movimento estudantil se fez importante para a
busca por uma universidade mais democrática e racional.
Com a Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São José do Rio Preto em
funcionamento e a organização do movimento estudantil, três principais organizações se
destacaram o Centro Acadêmico de Filosofia (CAF), órgão centralizador da
representação discente, o Centro de Estudos de História Natural (CEHN), que possuía
organização e participação dos docentes e discentes, e o Grupo de Teatro Amador
(GRUTA), sob a influência do professor Orestes Nigro do Departamento de Letras.
Houve um grupo mais amplo com participação de estudantes da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras e da Faculdade de Ciências Econômicas e Filosofia, da
cidade, denominado pelos jornais como Universitário também desenvolveu atividades
junto ‘a comunidade, com ou sem parcerias com outras organizações, geralmente de
caráter mais político.
2
O trabalho será desenvolvido de forma a apresentar cada um dos movimentos
estudantis pelas matérias jornalísticas publicadas entre os anos de 1960 e 1964, pelos
jornais A Notícia, fundado em 1924 por Nelson de Veiga e Dário de Jesus; A Tribuna,
criado em 1949 por Coutinho Cavalcanti, Marcelino Cavalieri Jr. e Walter Camarero;
Diário da Região, fundado em 1950 por Eufli Jalles; Correio da Araraquarense, criado
em 1955 por Antenor Pousa Godinho e Diário da Tarde, em 1955, por Marcelino
Cavalieri Junior.
2 – ATIVIDADES DOS MOVIMENTOS
O movimento estudantil da Faculdade organizou diversas atividades, tanto para a
comunidade interna da Instituição, quanto à externa, abrangendo desde palestras e
conferências relacionadas às disciplinas dos cursos de História Natural, Letras e
Pedagogia, até movimentações políticas referentes à Universidade.
Pesquisas realizadas na Seção de Comunicações do Ibilce1 e nas atas encontradas
dos cursos de História Natural, Letras, e do órgão de representação discente CAF,
revelam que havia um grande número de atividades que não foram publicadas nos
jornais locais. No entanto, foram publicadas 38 matérias jornalísticas que diziam
respeito ao movimento estudantil entre os anos de 1957, inicio das atividades da
Faculdade e 1964, ano do AI-12.
Analisaremos cada movimento estudantil organizado na FAFI3, apresentando
algumas atividades que caracterizaram seus perfis e objetivos dentro da Instituição de
Ensino Superior, como conferências, atividades culturais, intelectuais, algumas
atividades direcionadas apenas aos estudantes e pesquisadores da área da atividade e
outras abertas a toda a comunidade.
1
Instituto de Biologia, Letras e Ciências Exatas - Ibilce, campus da Unesp de São José do Rio Preto.
2
O AI-1 foi redigido por Francisco Campos e editado em 9 de abril de 1964 pela junta militar. Com 11
artigos, o AI-1 dava ao governo militar o poder de alterar a constituição, cassar mandatos legislativos,
suspender direitos políticos, demitir, colocar em disponibilidade ou aposentar compulsoriamente quem
atentasse contra o governo.
3
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto, conhecida como FFCL, também era
chamada como FAFI pelos jornais locais.
3
2.1 – CENTRO ACADÊMICO DE FILOSOFIA
Logo após a abertura da FAFI o Centro Acadêmico de Filosofia foi organizado
pelos alunos, cujas preocupações iniciais eram formação intelectual e social dos
universitários e oferta de um cursinho preparatório para o vestibular organizado,
inicialmente, pelos professores do Instituto Monsenhor Gonçalves:
“pelo que ouvimos as aulas do cursinho serão dadas no Instituto
de Educação Monsenhor Gonçalves, [...] os professores [...] se
colocam a disposição dos estudantes a fim de os orientarem nas
matérias exigidas para o exame de ingresso.” (A Tribuna, 15
mar. 1957)
O intuito do curso preparatório era orientar aqueles estudantes que desejassem
prosseguir os estudos em nível superior, e como a Faculdade funcionava inicialmente no
prédio do Instituto Monsenhor Gonçalves, isto facilitaria asa atividades de orientação
realizada pelos referidos docentes.
Entretanto as matérias seguintes informam que o curso pré-vestibular ficou sob a
organização do CAF:
“O Centro Acadêmico ’10 de abril’, órgão centralizador do
corpo discente da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, de
São José do Rio Preto, comunica aos interessados que [...] fará
funcionar um ‘CURSINHO’ que objetiva preparar os candidatos
aos exames de habilitação à Faculdade de Filosofia [...]”. (A
Notícia, 30 jul. 1957)
Portanto, o Centro Acadêmico de Filosofia, CAF, posteriormente chamado de
Diretório Acadêmico de Filosofia, DAF, denominação que permanece até os dias atuais,
foi também denominado referendando as gestões, neste caso “10 de abril”.
Além de organizar o cursinho preparatório para os exames de habilitação, o CAF
também organizou festas comemorativas e receptivas às autoridades da Faculdade,
como a festa de comemoração de um ano de administração do novo diretor, no ano de
1962, Professor João Dias da Silveira, onde se referiam à nova mentalidade
administrativa atribuída à escola; como também para a própria cerimônia de posse de
novas chapas do Centro Acadêmico, com grande participação de entidades
4
representativas da comunidade local, vice-prefeito, professores da instituição, além de
grande parte dos alunos, cuja mesa era composta por Wilson Cantoni, José Aluisio Reis
de Andrade, Flavio Vespasiano di Giorgi que proferiu brilhante conferência sobre o
transcendente papel das instituições culturais em contraposição com os óbices
apresentados pelas conjunturas socioeconômicas que passam as sociedades humanas
fazendo do acesso a cultura um privilégio combatido pelos estudantes, em 14 de
novembro de 1963.
“Com brilhante solenidade foi empossada nova Diretoria do
Centro Acadêmico de Filosofia, de Rio Preto. No Salão Nobre
da Faculdade [...] teve lugar ontem [...] a solenidade de posse da
nova Diretoria do “Centro Acadêmico de Filosofia” [...]
compareceram diversas autoridades como também grande
número de professores e alunos daquele importante
estabelecimento de ensino de nível superior de que muito se
orgulha nossa cidade [...]” (A Notícia, 14 nov. 1963)
Nas eleições de 1962 o CAF organizou uma prévia entre professores, alunos e
funcionários, onde o candidato José Bonifácio fica como favorito. Após, realiza debates
entre os alunos para ver qual dos candidatos era o que tinha mais propostas favoráveis a
sociedade atual:
“O Centro Acadêmico de Filosofia realizou no dia de ontem
uma prévia eleitoral, entre universitários e funcionários daquele
estabelecimento de ensino superior. Dos 244 que votaram houve
um voto nulo para Governador do Estado, cabendo a José
Bonifácio 89 votos [...] Os trabalhos de supervisão e apuração
foram realizados pela Diretoria do CA Filosofia. [...]” (Diário
da Região, 20 set. 1962)
Outro tipo de atividade desenvolvida pelo CAF foram “Conferências”, trazendo
autoridades e pessoas influentes da sociedade para esclarecerem temas como “Ensaio de
uma Conceituação Existencial da Filosofia” por um Juiz de Direito da Comarca de
Tanabi que também era da 1º Vara da Comarca de Rio Preto, após a posse da nova
diretoria do CAF, como foi divulgado dia 13 de novembro de 1962 no jornal A Notícia.
Em setembro de 1964, foi organizado pelos Centros Acadêmicos da Faculdade de
Economia e pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras um Curso de Oratória e
Retórica aberto ao publico em geral, cujas inscrições e outras informações os
interessados encontravam na FAFI. (Diário da Região, 20 set. 1964)
5
Pode-se perceber com o levantamento de atividades produzidas pelo Centro
Acadêmico até então que estas eram bastante diversificadas, visando à politização dos
universitários, seus conhecimentos intelectuais e acadêmicos e até mesmo lazer, como
as festas e coquetéis realizados demonstram. Porém é possível perceber que todas estas
atividades estavam interligadas e que não possuíam só um motivo por trás, mas que
mesmo as atividades de suposto lazer estavam intercaladas com a socialização,
integração dos universitários e conhecimentos sociais e políticos, desta forma não há
como separar as intenções inseridas nas atividades.
2.2 – CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA NATURAL
O Centro de Estudos de História Natural, apesar de ser um grupo organizado por
professores, possuía algumas atividades específicas dos discentes, e algumas
organizadas principalmente por estes, não podem ser caracterizadas apenas de caráter
acadêmico, pois interligavam a socialização, lazer, politização e intelectualidade.
Um grande volume de matérias jornalísticas foi publicado a respeito de atividades
relacionadas ao curso de História Natural, porém apenas duas se mostram relevantes
para o assunto aqui tratado: movimento estudantil, pois apresentam características que
informam que nestas duas atividades houve maior participação dos discentes. Isto se dá,
por que em outras publicações fica bem claro que a atividade foi desenvolvida por
docentes, divulgando o nome e a função (cadeira) de tal.
As atividades propostas pelo CEHN foram palestras e conferências, como a
Conferência sobre a Evolução da Vida, direcionada para intelectuais e pessoas que
possuíssem conhecimentos básicos de genética e que se interessasse por problemas
científicos da especialidade. Divulgada no Diário da Região no dia 24 de novembro de
1962, a matéria deixou clara a participação de professores no grupo:
“Especialmente convidado pelo Centro de Estudos de História
Natural, órgão que congrega alunos e professores da Faculdade
de Filosofia local estará em nossa cidade no próximo dia 30 o
Profº Drº Warwick Estevam Kerr da Faculdade de Filosofia de
Rio Claro [...]” (Diário da Região, 24 nov. 1962)
6
Em 16 de maio de 1963 o Centro de Estudos de História Natural, junto com a
Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência promoveram conferência na
Faculdade sobre Fósseis e Evolução da vida, outra características do Centro de Estudos,
unir-se com outras entidades científicas para promoverem atividades acadêmicas,
geralmente abertas ao público intelectual da área em destaque no evento:
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, através da
Divisão Regional de São José do Rio Preto, promoverá amanhã,
às 20:30 horas, no Auditório da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras, e em colaboração com o Centro de Estudos de História
Natural daquela escola superior, conferência sobre o tema:
“Fósseis: o documentário mais expressivo da evolução da vida”.
(Correio Araraquarense, 16 mai. 1963)
Havia eleições que se referiam a Diretoria deste Centro de Estudos, como o jornal
A Notícia do dia 16 de maio de 1962 publicou, com nome de quatro professores, sendo
presidente, vice-presidente, secretário e tesoureiros da Diretoria e no fim da matéria
aborda o nome de oito discentes, o que mostra que a participação discente era bastante
forte, apesar do nome dos alunos nunca serem proferidos nas publicações jornalísticas,
apenas se fazia referencia ao grupo no geral e ao professor organizador da atividade.
2.3 – GRUPO DE TEATRO AMADOR
Em 1961, o professor Orestes Nigro do Departamento de Letras reuniu um grupo
de alunos da faculdade e desenvolveu o GRUTA, que além de realizar diversas
apresentações de caráter artístico, como teatros, festival e a Semana da Cultura Interna
em dezembro de 1963, organizou também estudos, debates e fomentou a participação
artística de professores, alunos e funcionários, com divulgação nos jornais locais.
O grupo atuava em conjunto com outras organizações, tanto internas quanto
externas, como em 1962, ocasião em que realizou apresentações com o Coral da Igreja
Metodista e Conferências com Cadeiras de Língua e Literatura Francesa e Alemã, a
primeira relacionada às festividades natalinas, onde apresentou o “Grupo Número 1”
dos Jograis do GRUTA:
[...] “O grupo nº 1 de Jograis do Gruta apresentará o seguinte
programa: - 1 – “Canção de Alta Noite” de Cecília Meireles; 2
7
– “Soneto da Separação” de Vinícius de Morais; 3 – “O Menino
Negro Não Entrou Na Roda” de Geraldo Bessa Victor; 4 –
“Berceuse 1950” de Jamil Almansur Haddad; 5 – “Grito Negro”
de José Craveirinha; 6 – “Reflexão em Mi Menor” de Orestes
Nigro; 7 – “A Cavalhada” de Ascenso Ferreira; 8 – “Tem Gente
com Fome” de Solano Trindade.” (Diário da Região, 15 dez.
1962)
O grupo nº1 de Jograis do Gruta, como pode-se perceber pela analise da citação
acima, apenas pelos nomes dos jograis, parece possuir temas revolucionários e que
levam o espectador a questionamentos relacionados a sociedade. Bastante extenso e de
autoria de diversas figuras conhecidas da literatura e do próprio Orestes Nigro, fundador
do grupo foi a atração principal no evento, com Coral Metodista apresentando o grupo
de teatro.
Em outro evento realizado no dia 16 de setembro de 1962, com as Cadeiras de
Língua e Literatura Francesa e Alemã da Faculdade de Filosofia, possuía um caráter
diferente, onde o grupo apresentou na abertura da Conferência “apresentando-a”.
“Segunda e terça-feira, dias 17 e 18 estará em nossa cidade,
convidado pelas Cadeiras de Língua e Literatura Alemã e de
Língua e Literatura Francesa e pelo Grupo Universitário de
Teatro Amador (GRUTA), da Faculdade de Filosofia local, o
doutor Friederich Irmen, ilustre professor alemão, que deverá
pronunciar no auditório daquele estabelecimento de ensino
superior, duas conferências segundo o seguinte programa: 17-9,
às 16 horas: “O teatro épico de Berthold Brecht”; 18-9 às 16:30
horas: “A formação de ‘interpretes’”. Todos os interessados
ficam convidados a comparecer.” (Correio Araraquarense, 16
set. 1962)
Uma de suas características eram atividades abertas ao publico geral mesmo que
seu assunto principal fosse algo específico da alguma graduação da Faculdade.
Em 7 de novembro de 1963 o jornal Diário da Região informou aos leitores que
mais uma Sessão de Cinema seria realizada na Faculdade pelo Gruta, o que nos leva a
compreender que outras sessões foram realizadas, e que nem todas foram divulgadas
por meio dos jornais.
[...] “O comitê de cinema do GRUTA fará realizar, as 20 horas,
na Faculdade de Filosofia, mais uma sessão cinematográfica,
com a exibição do Filme “The Drifters” de autoria de Jhon
Grierson” (Diário da Região, 7 Nov. 1963)
8
Em dezembro do mesmo ano o grupo de teatro realizou uma Semana Interna da
Cultura com atividades culturais como projeções de filmes, peças de teatros e
exposições de pinturas para a sociedade geral.
“Foi exibido ontem na sede da Faculdade de Filosofia de Rio
Preto, o filme ‘A árvore dos enforcados’ [...] dando
prosseguimento a Semana Interna de Cultura, promovida pelo
GRUTA (entidade cultural que congrega alunos da Faculdade de
Filosofia). Após a exibição da película verificou-se debates e
estudos relacionados com o drama da película” [...] (A Notícia, 5
dez. 1963)
2.4 – UNIVERSITÁRIOS
Movimento estudantil mais amplo e sempre presente na trajetória da FFCL, antes
mesmo do inicio de seu funcionamento, o Universitários contava com a participação de
toda a classe discente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras e da Faculdade de
Ciências Econômicas e Filosofia, e esteve em alguns momentos unido com
organizações discentes, tendo uma atuação social bastante ativa. Como já foi dito
anteriormente, este grupo de discentes leva o nome de Universitários por que era dessa
forma que os jornais locais se referiam a este movimento mais amplo.
Os jornais locais publicaram cerca de doze matérias jornalísticas a respeito dessa
organização, sempre de caráter mais político, entre os anos de 1960 e 1964. Essas
publicações variavam de mobilizações sociais, representações em eleições, ex-alunos na
Congregação, Semana Universitária, lutas para concessão de bolsas e cursos entre
outros.
Um exemplo da mobilização que este grupo teve é a greve em apoio aos alunos da
Mackenzie que lutavam pela federalização da Universidade:
“Greve de apoio aos universitários da Mackenzie. Universitários
rio-pretenses aderiram ao movimento juntamente com 38
estabelecimentos de Ensino Superior. Em virtude das
irregularidades existentes na Universidade os universitários do
Mackenzie estão pleiteando do Governo Federal a federalização
da Escola. [...]” (A Notícia, 2 jun. 1962)
9
Esta greve, como abrangia um grande número de estabelecimentos de Ensino
Superior tinha intuito de ficar apenas três dias em vigor, esperando serem atendidos.
Mas os dias se passaram e o Governo não atendeu ao pedido dos Universitários, o que
fez com que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto
continuasse apoiando a Mackenzie, junto com a UNE (União Nacional dos Estudantes),
como foi divulgado pelo jornal A Notícia, em sete de junho de 1963. Pela matéria:
“Universitários continuarão em greve – não assistirão aula até que sejam concedidas as
reivindicações – Assembléia dos Universitários locais”:
“Embora a União Nacional dos Estudantes tivesse determinado
a suspensão da greve dos Universitários do país por um período
de 15 dias, os diretórios estaduais não concordam com a medida
uma vez que suas reivindicações não foram atendidas. [...]”
(idem)
A presença da UNE nos acontecimentos políticos era intensa, “usou uma
linguagem que pode considerar comedida, mas firme, para se posicionar a favor da
legalidade e fazer denúncia das pressões que sofria” (SANFELICE, 2008), pois apoiava
as manifestações grevistas e tinha certo respeito e simpatia pelos países de regime
comunista.
Quanto à posição dos Universitários riopretenses, a matéria aborda o seguinte:
[...] “Na manhã de ontem, os estudantes riopretenses estiveram
reunidos em assembléia geral extraordinária, quando foi
discutida a nova situação criada pela UNE. Por unanimidade
ficou decidido que o movimento grevista continuará até o dia
20 próximo, quando nova assembléia deverá ser realizada.”
(ibidem)
Nada mais foi dito pela imprensa impressa sobre a greve de apoio a Mackenzie.
Em setembro do ano de 1962 os alunos e professores fizeram uma homenagem ao
diretor da Faculdade de Filosofia da época, Professor João Dias da Silveira, pelas
atividades propostas e desenvolvidas por este e por conseguir resolver a crise em que a
Faculdade estava. O CAF também participou da homenagem, organizando uma
recepção calorosa na sede do movimento após a sessão solene realizada no auditório.
“Homenagem ao Diretor da Faculdade de Filosofia. Será
prestada amanhã, por professores e alunos daquele
estabelecimento – 1º Aniversário da Gestão do Profº Drº João
Dias da Silveira” (A Notícia, 27 set. 1962)
10
Em 1963 foi realizada a eleição do representante dos ex-alunos na Congregação,
esta matéria se encaixa no grupo dos Universitários, pois, além dos alunos regularmente
matriculados, todos os e ex-alunos, que comprovassem essa situação poderiam votar,
mas só poderiam se candidatar os ex-alunos que não exerciam funções docentes naquele
instituto:
“De acordo com determinação da Diretoria e nos termos das
disposições em vigor, ficam convocados os ex-alunos da
Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de São José do Rio
Preto para a eleição do seu representante na Congregação [...]”
(Correio Araraquarense, 19 jun. 1963)
A mobilização dos educadores, em âmbito nacional, demonstra a importância do
debate, articulação e socialização das experiências realizadas nas instituições, manter a
vigilância perante as políticas educacionais e reivindicar seus direitos (SAVIANI, 2008)
é de extrema importância para o movimento, tanto estudantil, quanto do professorado,
pois a luta pelos direitos é essencial para a democratização do ensino.
Em 18 de outubro de 1963, foi publicada no jornal A Notícia uma matéria com a
seguinte manchete: “Greve do Professorado”, abordando sobre a associação de exalunos da Faculdade de Filosofia, que apoiava a greve dos professores do magistério,
primário e secundário.
“A Associação de Ex-alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras de São José do Rio Preto, através de seu presidente, na
memorável Assembléia Geral, dia 16 de outubro de 1963,
manifestou seu integral apoio à causa defendida pelos bravos
professores do Magistério primário e secundário. [...]” (A
Notícia, 18 out. 1963)
Em 1964, o fato que teve bastante repercussão na mídia foi a Semana
Universitária. Esta desenvolveu várias atividades para a população geral como bailes,
gincanas, show da bossa nova, exposições de arte, contando com a presença de diversas
autoridades locais, pessoas gradas e representativas de São José do Rio Preto e região.
Na Noite do Cinema, o filme transmitido foi “A Aventura”. As atividades eram
custeadas e o resultado das arrecadações seria revertido ao Abrigo de Tuberculosos da
cidade.
“Com a realização do IV Baile da Caveira na sede social do Rio
Preto Automóvel Clube, na noite de ontem, durante o qual
11
também foi realizado um show a cargo dos estudantes
universitários, teve inicio em Rio Preto a Semana Universitária,
que deverá encerrar-se no dia 26 vindouro. [...]” (Diário da
Região, 19 jul. 1964)
Foram publicadas matérias nos jornais A Notícia, Diário da Região e Correio
Araraquarense, falando da importância da atividade universitária na cidade, e o quanto
era esperado esse acontecimento, como o A Notícia, do dia 17 de julho de 1964
comenta: “O início desta Semana Universitária vem sendo aguardada com grande
expectativa”.
Apesar de o evento contar com a colaboração de universitários, comerciantes,
autoridades entre outros, em momento algum, as quatro reportagens impressas, citaram
a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras local, nem mesmo da Faculdade de Ciências
Econômicas e Filosofia local. Cita-se apenas a “participação de universitários locais, do
Rio de Janeiro, São Paulo, São Carlos e outras cidades do Estado”. (Diário da Região,
15 jul. 1964)
Com isto no dia oito de julho de 1964, o presidente do Centro Acadêmico Jamil
Khauan, da Faculdade de Ciências Econômicas e Filosofia, envia um comunicado ao
Correio Araraquarense que foi publicado no dia 9 de julho de 1964 esclarecendo que
um pequeno grupo de estudantes se juntou com outras organizações locais e
promoveram arbitrariamente uma semana que intitularam de Universitária, esquecendose que na cidade existiam duas Faculdades, representados pelos seus devidos Centros
Acadêmicos e que estas não assumiram a responsabilidade e o compromisso do evento.
Finaliza dizendo que:
“[...] Por tais razões, comunicamos ao público esta situação e ao
mesmo tempo desaprovamos a atitude do referido grupo,
declarando-nos
inteiramente
isentos
de
qualquer
responsabilidade em relação à iniciativa e às conseqüências que
podem advir desse procedimento.” (Correio Araraquarense, 9
jul. 1964)
Em 1964 também houve uma homenagem por parte de alguns professores e
alunos ao diretor da faculdade, Professor José de Castro Duarte, onde outras
organizações se manifestaram, a favor do Diretor, como a Inspetora Regional de Ensino,
que aborda o afastamento de alguns professores, considerados subversivos, por parte do
Diretor, e que foram processados e como ela mesma diz: “provado no inquérito do
12
DOPS4”, e continua falando da importância de ter alguém que não contamine os ótimos
alunos da Faculdade com idéias subversivas. (Correio Araraquarense, 12 dez. 1964)
No mesmo ano, um comunicado do Diretor é publicado, informando que só
seriam permitidas atividades acadêmicas dentro da Faculdade, com os seguintes dizeres:
“Colaborando com as autoridades locais e visando a manutenção
da ordem pública, o Profº João Dias da Silveira, [...] baixou no
dia de ontem uma portaria com os seguintes termos: ‘Faço
ciente aos membros do Corpo Docente, Administrativo e
Discente, que serão rigorosamente observadas, até segunda
ordem as seguintes normas [...] : 1º
serão
permitidas
exclusivamente reuniões com finalidades didáticas e
pedagógicas (aulas, seminários e outras atividades de pesquisa)
e administrativas; 2º O prédio da Faculdade será fechado a cada
dia as 18 horas, não se permitindo a entrada sob qualquer
justificativa [...]” (Correio Araraquarense, 3 abr. 1964)
3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
O movimento estudantil da FFCL de São José do Rio Preto teve uma grande
repercussão na sociedade da região, apresentando diversas atividades de diferentes
características para todos os cidadãos.
Suas atividades, de caráter político e cultural eram desenvolvidas para atender não
só os alunos das duas Faculdades da cidade, mas como também, para todos aqueles que
se interessavam o que contribuiu para a politização e desenvolvimento da cultura da
região. Isto mostra o quanto a participação estudantil nas atividades de uma instituição
de ensino é essencial, pois desenvolve caráter de extrema importância para a concepção
de um cidadão consciente.
O período estudado foi um período de conflitos entre o governo e não só os
estudantes das universidades, mas como também entre trabalhadores de diversos
seguimentos. Os jornais divulgavam diversas matérias, todos os dias, apoiando a elite e
4
A Delegacia de Ordem Política e Social, DOPS, criada em 1924, com a finalidade de manter sob
controle as ações do cidadão em geral.
13
o golpe militar de 1964, e as atividades dos estudantes convergiam entre esclarecimento
dos acontecimentos políticos e atividades culturais e intelectuais.
A maior parte das matérias a respeito da FAFI era sobre o curso de História
Natural, cujo possuía grande influência da sociedade da região, que era basicamente de
valores elitistas. No entanto um grande número de matérias e notas a respeito das
atividades do movimento estudantil, relacionadas aos esclarecimentos nacionais e
locais, também eram divulgados, mesmo que em menor número, mostrando dois lados
da sociedade local.
Isto demonstra que o movimento estudantil possuía valores e preocupações a
respeito da sociedade riopretense, repercutindo e demonstrando seus anseios pelas
atividades que desenvolviam.
4 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A NOTÍCIA. São José do Rio Preto, 1957-1964.
A TRIBUNA. São José do Rio Preto, 1957-1965.
CORREIO ARARAQUARENSE. São José dório Preto, 1960-1964
CUNHA, L. A. A Universidade Reformanda: o golpe de 1964 e a modernização do
ensino superior. 2ª. Ed. São Paulo: Unesp, 2007.
DIÁRIO DA TARDE. São José do Rio Preto, 1960-1964.
DIÁRIO DA REGIÃO. São José do Rio Preto, 1960-1964.
SANFELICE, J. L. Movimento Estudantil: a UNE na resistência ao golpe de 1964.
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