FILOSOFIA COM CRIANÇAS: A proposta de Matthew Lipman

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SEMANA DE PEDAGOGIA 2013
“GESTÃO DA EDUCAÇÃO EM ALAGOAS: AMEAÇAS E DESAFIOS”
FILOSOFIA COM CRIANÇAS: A proposta de Matthew Lipman1
Jardiel Francisco da Silva (PEDAGOGIA/UNEAL)
[email protected]
Jaeliton Francisco da Silva (FILOSOFIA/UFAL)
[email protected]
RESUMO:
Fazer uma aproximação da filosofia com as crianças para muitos é uma tarefa impossível, porém a
partir do final dos anos 60, o professor norte americano Matthew Lipman depois de muitos estudos
rompeu com esse paradigma, ao criar o “Programa de Filosofia para Crianças”. Portanto, esta
comunicação objetiva fazer uma apresentação descritiva sobre esta proposta de ensinar filosofia aos
estudantes das séries iniciais do ensino fundamental. Sendo assim, o texto base deste trabalho é
proveniente de estudos feito ao longo da nossa graduação sobre as ideias de Lipman em levar os
estudantes a terem um contato desde cedo com a filosofia. Para isto tivemos como fundamentação
teórica os textos do próprio autor além de textos dos principais pesquisadores brasileiro de sua
proposta.
PALAVRAS-CHAVE: Matthew Lipman. Filosofia com crianças. Ensino de Filosofia.
1 INTRODUÇÃO
O ensino de Filosofia com crianças vem sendo desenvolvido a cerca de quatro (4)
décadas, desde os anos 60, pelo professor norte americano Matthew Lipman, que criou um
programa denominado de “Filosofia para Crianças”.
Segundo Lipman a pud Kohan (2000, p. 21), o trabalho de “Filosofia para crianças”
teve início quando, em 1969, ele trabalhando como professor de Introdução à Lógica em uma
Universidade da Columbia, Nova York, percebeu falhas no raciocínio de seu alunos. Após
estudos, constatou que os estudantes universitários deveriam estudar Lógica e Filosofia bem
antes de entrar na universidade.
Na mesma época, havia um professor que Lipman acompanhava o seu trabalho de
ensinar crianças com problemas neurológicos, os quais, uns conseguiam ler e outros não. A
sugestão de Lipman para este professor foi trabalhar com estes estudantes através de
1
Matthew Lipman.nasceu em 1923 na cidade de Vineland - New Jersey - EUA. Doutorou-se em Filosofia na
Universidade Colúmbia, em Nova York, em 1953. Fez pós doutorado na França e foi o fundador do IAPC
(Instituto para o Desenvolvimento de Filosofia para Crianças) ligado à Universidade Estadual de Montclair New Jersey - EUA. É o criador do Programa de Filosofia para Crianças. Faleceu em 26/12/2010 em MontClairUSA. (LORIERI, 2012, p. 944. Nota de roda pé).
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atividades
onde
os
estudantes
tirassem
inferências
lógicas.
O
resultado
foi
surpreendentemente útil.
A partir disso, Lipman concluiu que essas crianças podiam aproveitar as instruções do
raciocínio desde que alguém lhes concedessem/orientassem durante o seu desenvolvimento.
Desta forma, o autor concluiu que é possível sim o trabalhar de Filosofia com crianças, pois
na concepção de Lipman apud Kohan, (2000, p. 22) “as crianças pensam, mas é preciso
pensar bem”.
Foi a partir destas ideias que surgiu o “Programa de Filosofia Para Crianças” em que o
ensino de filosofia é ministrado por meio de diálogos que possibilitam o desenvolvimento de
habilidades de pensamento, capaz de levar as crianças a alcançarem o pensamento de ordem
superior em uma Comunidade de Investigação, através de discussões realizadas a partir de
leituras feitas das novelas filosóficas por estudantes e professores.
Portanto este trabalho tem como objetivo fazer uma análise descritiva do programa de
filosofia para crianças de Matthew Lipman para nos aprofundarmos no conhecimento a cerca
desta proposta de ensino que nos últimos anos vem ganhando espaço nas pesquisas sobre o
ensino de filosofia no Brasil.
1 DESENVOLVENDO OS PENSAMENTOS DAS CRIANÇAS
Um dos principais objetivos de Lipman com seu programa é o de transformar o
pensamento das crianças, levando-as a pensar de maneira melhor. Segundo ele: “[...] não tinha
dúvidas que as crianças pensavam tão naturalmente como falavam e respiravam”. (LIPMAN
apud KOHAN, 2000, p.22). O problema para o autor estava em descobrir de que forma
poderia fazer com que essas crianças pensassem melhor. Para isso, se faz necessário explicar
os dois tipos de pensamento que existem em Lipman: o “pensar bem” e o “pensamento
pobre” (1994, p. 35), esse pensar “pobre” segundo Lipman “pode ser considerado uma
habilidade passível de ser aperfeiçoada”(IDEM, p. 34). Sendo assim aperfeiçoando o pensar,
as crianças podem alcançar o “pensamento de ordem superior”.
Mas, afinal o que é “pensamento de ordem superior”? Para Lipman:
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[...] o pensar de ordem superior. Trata-se de um pensar complexo e
inventivo, que põe em ação três aspectos, facetas ou modos do pensar: a
criticidade, a criatividade e o cuidado. Somente a presença conjunta destes
três aspectos revela um pensar complexo ou de ordem superior.”Lipman
(1995, p. 110).
Como vimos o “pensamento de ordem superior” é o conjunto de três modos de pensar
diferentes que juntos levarão as crianças a uma boa reflexão.
O primeiro modo de pensar é o “pensamento crítico” que é aquele onde podemos
realizar julgamentos racionais, é um pensamento com critérios de “verdade” com objetivo de
julgar, “orientado por critérios individuais”, ele é “autocorretivo” e é “sensível ao contexto”.
(Lipman, 1995 p. 279). Kohan afirma que neste tipo de pensamento podemos: problematizar,
distinguir, examinar e avaliar os “critérios e as razões que se baseiam as crenças” (2000,
p.111).
O segundo, é o "pensamento criativo” sendo este o “pensar que conduz ao
julgamento”, ele é “orientado pelo contexto, é autotranscendente, e é sensível aos critérios”.
Por tanto é para Lipman um pensar que tem como critério o “significado” com objetivo de
julgar, ele é “sensível a critérios contrários”. É um pensamento que tem sensibilidade ao
“critério da verdade”, porém “é orientado pelo contexto da investigação que está
acontecendo”. É um pensamento que tem como preocupação “a invenção e a totalidade”
(LIPMAN, 1995. p. 279).
E o terceiro, denomina-se o “pensamento cuidadoso” que é aquele onde os pequenos
poderão fazer distinção sobre a importância ou não de um determinado acontecimento, sobre
o que é certo ou errado, empregando “valores no próprio pensar”. (KOKAN, 2000. P. 111).
Como este pensamento está relacionado com valores, podemos concluir que ele é um
“pensamento ético”. Sendo assim com a junção destas três facetas do pensamento,
chegaremos a um “pensamento de ordem superior”.
Lipman acredita que desde cedo as crianças têm capacidades de realizar “raciocínios”
sofisticados, por isso ele defende que elas são capazes de alcançar o “pensamento bom”.
Vejamos a seguir o que ele afirma sobre essa habilidade infantil.
As crianças aprendem lógica ao mesmo tempo em que aprendem linguagem.
As regras da lógica, assim como as da gramática, são adquiridas quando as
crianças aprendem a falar. Se dissermos a uma criança bem pequena ‘se você
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fizer isso você apanha’, pressupomos que acriança entende que ‘se não quero
apanhar, eu não devo fazer isso’. Esta pressuposição geralmente está correta.
As crianças bem pequenas, em outras palavras, reconhecem que negar o
consequente exige negação do antecedente. Embora isso seja um exemplo de
um raciocínio muito sofisticado, as crianças são capazes de fazê-lo ainda
bem pequenas (LIPMAN, 1997, p. 34).
De acordo com o exposto, fica claro porque Lipman defendia, e seus colaboradores
ainda defendem, à filosofia como uma disciplina que deveria (ou deve) ser ensinada desde as
primeiras séries do ensino fundamental. Para ele é possível sim ensinar filosofia para as
crianças, porém é preciso que os professores sejam orientados e treinados para tal atividade.
Mas como desenvolver nos infantes esse “pensamento de ordem superior”? Lipman
em seu livro “O pensar na Educação” de 1995, nos responde da seguinte maneira: “Fazer
com que os alunos filosofem é um exemplo de como o pensamento de ordem superior pode
ser estimulado em uma sala de aula, fazendo uso da comunidade de investigação”.
Com a resposta de Lipman podemos nos deter no que muitos consideram como o
ponto chave do Programa de Filosofia para Crianças que é a comunidade de investigação que
segundo o criador do programa é o ambiente onde podemos fazer com que nossas crianças
filosofem e aprendam a pensar de maneira melhor fazendo uso do diálogo.
1.1 COMUNIDADE DE INVESTIGAÇÃO2
A “comunidade de investigação” que teve suas origens nas “investigações científicas”
por Peirce. Em Lipman esse termo é usado de outra forma, na transformação da sala de aula
em um ambiente de discussão. (LIPMAN 1995, p. 31).
Entendemos então como “comunidade de investigação”, segundo Lipman, o lugar
onde os estudantes irão debater sobre assuntos de seus interesses presentes nos seus
cotidianos, além disso as crianças também farão ali as leituras das novelas filosóficas e de
2
Comunidade de investigação: este termo foi criado por Charles Sanders Peirce. Originalmente foi restrito aos
profissionais da investigação científica, por realizarem um trabalho comum com objetivos idênticos. A partir
daí, o termo foi utilizado também para qualquer tipo de investigação, científica ou não. Portanto, na educação, a
sala de aula torna-se uma Comunidade de Investigação, na qual os alunos dividem opiniões com respeito,
desenvolvem questões a partir de ideias de outros, desafiam-se para dar as razões de seus argumentos, enfim, é
um diálogo que pretende ser orientado por um raciocínio lógico (BROCANELLI, 2010, p. 32. Nota de roda pé).
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discutirão os temas filosóficos presentes nas histórias . É, portanto, um lugar de diálogos
entre os membros da comunidade, onde eles buscarão sempre um consenso e respeitarão a
opinião dos outros. Sendo assim:
A comunidade de Investigação é uma sociedade deliberativa envolvida com
o pensar de ordem superior. Isto significa que suas deliberações na são
simples bate-papos ou conversações; são diálogos logicamente estruturados,
todavia, não os impossibilita de atuarem como um estágio para o
desempenho criativo (LIPMAN, 1995, p.302).
Aqui vemos mais uma vez a preocupação de Lipman com o diálogo, como vimos
anteriormente, não se diz respeito a conversas sem fundamentos e sim diálogos filosóficos.
O diálogo é algo que as crianças podem utilizar para perceberem as falhas dos seus
raciocínios, pois é ele que nos possibilita refletir sobre diferentes assuntos. Lipman afirma que
essa forma de conversação nos possibilita a “realizar um grande número de atividades mentais
nas quais não teria se desenvolvido se a conversação não tivesse ocorrido”, é indiscutível que
aprendemos mais em aulas onde há debates e discussões, do que nas simples aulas
expositivas. Isso ocorre porque naquelas todos os envolvidos participam de alguma maneira
nos debates, ajudando-nos a melhorar nossas respostas bem como nossas argumentações.
São, portanto essas aulas que nos possibilitam um melhor entendimento, bem como uma boa
compreensão do que foi discutido em aula. (LIPMAN, 1994, p. 44-45).
Isso é o que Lipman defende, um ambiente escolar onde todos possam falar. Sendo
assim, é ali onde podemos refletir sobre nossos apontamentos, bem como sobre o que
poderíamos ter falado. Além disso, fazemos também uso de nossa memória para lembrar o
que as outras pessoas falaram e assim ajudá-las a melhorarem seus argumentos.
Com essa metodologia de ensino, podemos destacar ainda a importância de aprender
com os outros a partir de suas experiências. Lipman enfatiza que:
A comunidade de investigação, em certo sentido, é uma aprendizagem
conjunta e, portanto, um exemplo da experiência partilhada. [...] representa
a exaltação da eficiência do processo de aprendizagem, visto que os alunos
que acreditaram que toda a aprendizagem significava aprender sozinho
descobriram que podem também utilizar a experiência das outras pessoas e
beneficiar-se dela. (1995, p.348).
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A sala de aula vista como comunidade de investigação é um lugar onde os membros
ali presentes, professores e alunos devem usar para refletirem, discutirem e investigarem os
temas de filosofia presentes nas novelas filosóficas, cabendo ao professor ser o mediador
desses diálogos. O professor para atuar em uma comunidade de investigação deve ter um bom
conhecimento sobre o programa e sobre a filosofia, pois “conseguir com que os estudantes se
envolvam num diálogo filosófico é uma arte. E, como em qualquer arte, um pouco de
conhecimento é um pré-requisito” (LIPMAN, 1994, p. 157).
Sendo assim, é por meio do diálogo e das discussões presentes no ambiente da
comunidade de investigação que as crianças irão desenvolver o pensamento de ordem
superior, sendo este um dos objetivos principais do programa de Lipman.
1.2 AS NOVELAS FILOSÓFICAS
As “novelas filosóficas” são pequenas histórias com personagens infantis onde são
recriadas “as ideias dos filósofos, despindo-as de modo mais simples e menos inibidor”
(KOHAN, 2000, p. 85). No decorrer da trama, os personagens junto com a leitura feita na
“comunidade de investigação” levam os leitores para o desenvolvimento do “bom
pensamento”. O público alvo (os leitores) a que se destinam esses livros são as crianças e
jovens. Ressaltamos que os personagens presentes nas histórias têm a mesma idade que as do
público a qual são destinadas essas histórias.
Através desta proposta, a Filosofia é passada de forma lúdica, ou seja, é uma forma de
ensinar filosofia mais dinâmica, onde as crianças sintam-se interessadas pelo ensino, sendo
envolvidas no gosto pela leitura e pela Filosofia.
Este programa de filosofia com crianças não tem a intenção de “transformar as
crianças em filósofos”, mas sim segundo Lipman (1994, p. 35):
[...] ajudá-las a pensar mais, ajudá-las a terem mais consideração e serem
mais razoáveis. As crianças que foram ajudadas a serem mais criteriosas não
só têm um senso melhor de quando devem agir, mas também de quando não
devem fazê-lo. Não só são mais discretas e ponderadas ao lidarem com os
problemas que enfrentam como também se mostram capazes de decidir
quando é apropriado adiar ou evitar tais problemas em vez de enfrentá-los
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diretamente. Assim, um dos objetivos de um programa de habilidades de
pensamento deveria ser o desenvolvimento do juízo, pois ele é o vínculo
entre o pensamento e a ação. As crianças que refletem estão preparadas para
emitir bons juízos e crianças capazes de realizar bons julgamentos,
dificilmente agirão de maneira inadequada ou sem consideração.
Sendo assim as habilidades que deverão ser desenvolvidas nas crianças estão presentes
nas novelas filosóficas criadas por Lipman e seus colaboradores. No texto que se segue,
apresentaremos as histórias, bem como a idade a qual se destina os tramas seguindo dos temas
ali presentes e as habilidades que serão desenvolvidas por meio das leituras e discussões na
comunidade de investigação.
A novela “Elfi”, destinada as crianças com idade entre 5 e 6 anos, desenvolverá as
habilidades básicas de pensamento como: estabelecer relações, encontrar semelhanças e fazer
distinções. Os temas proposto para desenvolver as habilidades são: pensar, ensinar, escola,
improvisações, amizade, amor, perguntas, mente, realidade, pessoa, escolha e sabedoria. As
áreas da filosofia que estão presentes nesta novela são: Antropologia filosófica e
procedimentos de investigação filosófica em comunidade.
A novela filosófica “Issao e Guga”, destinado aos estudantes de 6 a 8 anos, trabalha
com as questões sobre a natureza e a percepção, desenvolvendo habilidades como: olhar/ver,
tocar/apalpar, ouvir/escutar, saborear, cheirar, perceber, detectar pressupostos, levantar
questão, brincar de ser outro, achar alternativas. Alguns temas para serem trabalhados a partir
deste livro são: verdade, mundo, amor, seres vivos, seres humanos, direitos humanos,
esperança, beleza, bem, amizade, ecologia, direitos dos seres vivos e seres humanos, geologia
e cooperação. Filosofia da Natureza e Teoria do Conhecimento são as áreas da Filosofia que
estão presente nesta novela.
A proposta para as idades de 9-10 anos, envolve a Filosofia da Linguagem e a
Metafísica, e estão contempladas na novela “Pimpa”, onde se propõe o desenvolvimento de
habilidades como: interpretar, criar metáforas, projetar modelos, realizar símiles, traçar
comparações, avaliar analogias, estabelecer relações, dar e pedir razões e fazer perguntas. Os
temas propostos para esta faixa etária são os seguintes: origem, identidade, beleza, classes,
regras, realidade, amizade, relações, história, nome, pensar, mente-corpo, corpo/alma,
liberdade, linguagem, pensamento, espaço/tempo e relato.
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Já a proposta para as crianças e pré-adolescentes de 10 a 13 anos, baseado na
investigação filosófica geral envolvendo Lógica, Teoria do Conhecimento e Filosofia da
Educação, pretende ajudar a desenvolver habilidades como: conversação, padronização,
ambiguidade, imprecisão, indução, lógica de relações, silogismo, lógica informal, verdade e
validade, silogismo hipotético e contradição. Alguns temas a serem trabalhos são:
perspectivismo, objetividade, comunidade de investigação, Deus, origem do mundo, ciências,
arte, direito das crianças, direitos, direito de investigar, mente, educação, paradigma,
conhecimento, investigação, verdade, descobrimento, invenção, o bom, pensamento, ideias,
pensar, sexismo e racismo. A descoberta de Ari dos Telles é a novela que contempla o que foi
exposto.
“Luisa” destinada para os adolescentes entre 12 e 15 anos,vai tratar da “Investigação
ética”, desenvolvendo habilidades como: ter visão de conjunto, antecipar consequências,
procurar consistências, levantar hipóteses, dar e pedir boas razões, universalizar, considerar o
contexto, desenvolver a empatia, detectar pressupostos valorativos, levar em conta a intenção,
considerar a verdade e a falsidade, as habilidades mencionadas anteriormente serão
trabalhadas a partir dos seguintes temas: direitos humanos, direitos animais, justiça, bondade,
reciprocidade, liberdade/determinismo, solidariedade, personalidade, beleza, roubo, mentira,
drogas, competições, sexismo, etarismo, racismo, morte e tentações. A área da filosofia que é
desenvolvida nesta novela é a Ética.
Em “Satie” por meio da investigação estética, serão desenvolvidas habilidades para os
adolescentes entre 14 e 16 anos referente ao desenvolvimento da: percepção estética tendo
em conta: o sentido, a harmonia, a unidade, a complexidade, a expressividade a textualidade.
Essas habilidades serão desenvolvidas por temas como: ficção, fato, cuidado, imaginação,
rima, beleza, comunicação, conteúdo, forma, possibilidades, descrição, explicação, sintético,
analítico, poesia, escrita, amor, amizade e sentido. Envolvendo a Estética como área da
Filosofia.
Para os jovens de 16 a 18 anos, Lipman junto com seus colaboradores criou a novela
intitulada como: “Marcos”, que através da “Investigação social” irá desenvolver habilidades
como: praticar a democracia, ser solidário, respeitar as regras, reconhecer e exercer direitos, e
dar e pedir razões, essas habilidades serão desenvolvidas a partir dos seguintes temas:
esperança, solidariedade, comunidade, justiça, crime, imparcialidade, democracia, vontade
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geral, discriminação, educação, regras da maioria, direitos das minorias, relações amorosas,
ciúmes, igualdade de gêneros, trabalho, emprego, alienação e liberdade. Temas esses que
estão envolvidos na Filosofia social e política.
Por meio dessas novelas serão desenvolvidas habilidades básicas de pensamento
como: habilidades de questionamento, habilidades de investigação, habilidades de formação
de conceitos e habilidades de tradução. Para serem desenvolvidas essas habilidades como
vimos anteriormente a sala de aula será palco do que Lipman chama de “comunidade de
investigação.
Além de ter sido desenvolvido esses materiais, existem também, segundo Kohan
(2000, p. 97): “volumosos manuais de apoio para os professores”, criados com o objetivo de
ajudá-los na prática de sala de aula.
Vale salientar que as aulas de filosofia, de acordo com as orientações do Programa,
devem ser ministradas por professores com graduação em filosofias ou com especialização no
ensino de filosofia com crianças, pois espera-se que tal professor tenha um total domínio da
história da filosofia e seja capaz de levar os estudantes, neste caso, crianças e jovens, para a
reflexão filosófica e alcançar o “pensamento de ordem superior”. Quanto a esta formação
veremos com mais detalhes a seguir.
1.3 FORMAÇÃO DOS PROFESSORES
A maior preocupação na proposta de Lipman com seu programa é a formação dos
professores, pois, estes são considerados os principais responsáveis para o sucesso da filosofia
com crianças. Pensando nisso ele organizou um curso para formação dos professores para
atuarem no ensino de filosofia com crianças. Este curso de acordo com a proposta de Lipman
se dá por meio de (quatro) 4 estágios.
O primeiro estágio diz respeito à preparação dos monitores, que futuramente serão
responsáveis pela formação dos professores. São considerados candidatos para este posto, os
professores de filosofia de faculdades, bem como os que possuem diplomas de filosofia, pois
para ocupar esse cargo é necessário ter um amplo conhecimento filosófico.
Neste estágio os monitores participam de um treinamento com duração de (dez) 10
dias, onde eles tomam conhecimento a cerca do currículo do programa de Lipman e são
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treinados para que possam trabalhar nas escolas. Em seguida, o monitor parte para a parte
prática, ou seja, um estágio com duração ente (quatro) 4 e (seis) 6 semanas em uma sala de
aula, é neste estágio que o monitor adquire o conhecimento prático com o ensino de filosofia
com as crianças. Sempre que necessário o monitor é acompanhado de um outro que já tenha
tido experiência neste trabalho para poder tirar as possíveis dúvidas que possam surgir.
O próximo estágio é o inicio da formação dos professores que efetivamente irão
trabalhar diariamente na sala de aula. Denominado de “estágio de exploração do currículo”
sendo esta a primeira etapa da formação dos professores.
Nesta primeira etapa é realizada uma oficina onde participam de (quinze) 15 a (vinte)
20 professores, sendo acompanhado por (um) 1 monitor que é responsável por realizar a
formação desses docentes. Os participantes neste treinamento tem a oportunidade de conhecer
e explorar o currículo do programa lipmaniano. O curso tem duração de (treze) 13 à
(quatorze) 14 dias, onde eles são preparados para atuarem com uma ou duas séries.
Outro estágio que faz parte da preparação dos professores é o “estágio modelador”,
este acontece por volta de (seis) 6 semanas após o início das aulas com as crianças. Aqui o
professor conta com ajuda de um monitor para orientar em suas salas de aula quando o
professor sentir dificuldades em relação aos conteúdos a serem trabalhados. Este estágio é
uma forma que Lipman encontrou para superar as falhas nas formações dos professores, pois
em geral, nos cursos de formação os docentes formadores apenas falam como eles devem
ensinar as crianças, pelo contrário no programa de Lipman, os formadores além de ensinarem
eles vão até as escolas e mostram como eles devem ensinar. (LIPMAN, 1990, p.180).
Por último temos o “estágio de observação”, este acontece aproximadamente (seis) 6
semanas depois do estágio anterior. É aqui que os professores concretizam a sua formação,
para isso eles passam por observações e avaliações feitas pelos monitores. Os monitores
também são avaliados durante toda a sua formação.
Hoje no Brasil, a formação para os professores são realizadas por meio de cursos em
São Paulo e no Paraná pelo Instituto de Filosofia e Educação para o Pensar (IFEP). Além
destes, também são oferecidos cursos à distância pelo menos (duas) 2 vezes no ano pelo
mesmo instituto.
Os principais formadores também se disponibilizam para realizar a formação em
qualquer lugar do Brasil para escolas, secretarias de educação ou qualquer grupo de
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professores que se interessarem pelos cursos, desde que sejam pagas as despesas com
transportes e hospedagem, além do valor do curso.
2 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho nos possibilitou um esclarecimento detalhado da proposta do ensino de
filosofia com crianças pensada pelo seu precursor Matthew Lipman. Apesar de ter sido
elaboradas as metodologias de ensino, bem como os recursos e um currículo específico que
pudessem levar a filosofia a ser ensinada nas séries iniciais do ensino fundamental, bem com
ter pensado na formação dos professores para atuarem neste ensino, percebemos que existem
alguns limites e desafios a serem superados.
Porém isso não quer dizer que seja impossível levar as crianças a terem um contato
com a reflexão filosófica desde cedo, pois muitos são os que se dedicam em estudar esta
proposta para encontrar meios de superar os desafios enfrentados por ela.
O caminho para superar os desafios é longo, mas com a escolha de um currículo
adequado atrelado de bons recursos didático e uma boa formação dos professores,
acreditamos que o ensino de filosofia terá grandes resultados, principalmente na formação da
moral e dos valores das crianças.
REFERÊNCIAS
BROCANELLI, Cláudio Roberto. MATTHEW LIPMAN: Educação para o pensar
filosófico na infância. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
KOHAN, W. O., WUENSCH, Ana Mirian. Filosofia para crianças: a tentativa pioneira de
Matthew Lipman. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes 2000.
LIPMAN, Mathew. O pensar na educação. Trad. de Ann Mary Fighiera Perpétuo.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.
_____. SHARP, Anne Margaret; OSCANYAN, Frederck. A Filosofia na sala de aula. Trad.
de Ana Luiza Fernandes Falcone. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.
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