Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária BANANICULTURA: Dezembro de 2008 PESQUISAS VOLTADAS PARA A AGRICULTURA FAMILIAR Adriana Novais Martins¹, Fernanda de Paiva Badiz Furlaneto² ¹Engenheira Agrônoma, Doutora, Pesquisadora Científica, APTA Médio Paranapanema, Caixa Postal: 263, CEP: 19800-000, Assis (SP). e-mail: [email protected]. ²Médica Veterinária, Mestre, Pesquisadora Científica, Pólo APTA Médio Paranapanema. RESUMO A bananicultura assumiu nos últimos anos, papel importante na diversificação e geração de renda dos produtores familiares da região do Médio Paranapanema, Estado de São Paulo. Por ser uma atividade ainda recente nos agronegócios da região, os sistemas produtivos adotados carecem de tecnologias desenvolvidas para as condições edafoclimáticas específicas desta região do Estado, sendo necessárias a geração e divulgação de inovações tecnológicas neste setor. Assim sendo, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) do Médio Paranapanema está desenvolvendo, em parcerias com produtores rurais, empresas privadas, institutos de pesquisa, cooperativas e outros, tecnologias de modo a garantir o sucesso do empreendimento, aumentando a rentabilidade do produtor e a produção desta fruta, associando qualidade ao produto final e agregando valor por meio de ações desenvolvidas na implantação de agroindústria e confecção de produtos artesanais, fomentando esta atividade na agricultura familiar regional. Palavras-chave: Musa sp., banana, sistemas de produção, rentabilidade, inovação tecnológica www.apta.sp.gov.br 77 Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária INTRODUÇÃO A banana (Musa sp.) é a fruta tropical mais produzida no mundo, com a colheita estimada em 71 milhões de toneladas em 2006. O Brasil é o segundo maior produtor mundial, sendo superado apenas pela Índia com 12 milhões de toneladas (Agrianual, 2008). A banana, independentemente de seu grupo genômico, é uma das frutas mais consumidas no mundo (Oliveira & Souza, 2003), no Brasil é a atividade agrícola mais antiga, produzindo a fruta de maior consumo anual per capita, com quantidades médias de 35 kg/habitante (Carvalho, 1998). A fruta é um alimento altamente energético (cerca de 100 kcal por 100 g de polpa), cujos carboidratos (aproximadamente 22%) são facilmente assimiláveis. Embora pobre em proteínas e lipídeos, seus teores superam os da maçã, pera, cereja ou pêssego. Contém teores de vitamina C similares aos da maçã, além de razoáveis quantidades de vitamina A, B1, B2, pequenas quantidades de vitaminas D e E, e maior percentagem de potássio, fósforo, cálcio e ferro do que outras frutas, como a maçã ou a laranja (Medina, 1995). O centro de origem da banana é a Ásia Tropical, com centros secundários na África e Ilhas do oceano Pacífico. Resultados dos cruzamentos de espécies selvagens Musa acuminata (genoma A) e Musa balbisiana (genoma B), as bananeiras encontram-se em todas as regiões tropicais e subtropicais do globo. No Brasil, é cultivada em todas as unidades da federação (PBMH & PIF, 2006). Os sistemas produtivos adotados na bananicultura brasileira apresentam grandes contrastes entre regiões e produtores, sendo encontradas desde áreas extrativistas até cultivos altamente tecnificados. Desse modo, várias pesquisas estão sendo desenvolvidas no sentido de garantir aos produtores familiares maiores rentabilidades no processo produtivo dessa fruta, com a obtenção de maiores produtividades, aliadas à qualidade, além da redução dos custos de implantação e manutenção dessa cultura na região do Médio Paranapanema, Estado de São Paulo. DISCUSSÃO Embora exista um número expressivo de cultivares de banana no País, quando são considerados aspectos como preferência dos consumidores, resistência à seca e ao frio, além de tolerância às pragas e doenças, existem poucas cultivares com potencial 78 Dezembro de 2008 agronômico para produção comercial. As cultivares mais difundidas no Brasil pertencem ao grupo Prata (Prata, Pacovan, Prata-Anã, etc.), grupo Nanica subgrupo Cavendish (Nanica, Nanicão, Grande Naine, etc.) e grupo Maçã (Maçã, Mysore, Thap Maeo, etc) (Figura 01). As variedades pertencentes ao grupo Prata ocupam aproximadamente 60% da área cultivada com banana no País (Oliveira et al., 1999). Figura 1. A nomenclatura do genoma (A e B) estabelece os grupos varietais, que agrupam cultivares com características semelhantes. Fonte: PBMH & PIF, 2006. A Bahia é o maior Estado produtor de banana do país, a produção da fruta concentra-se na agricultura de base familiar, que representa 60% dos produtores rurais, sendo cultivados cerca de 14 mil hectares de banana, com uma produção de 35 mil toneladas/ano e geração de aproximadamente 14 mil empregos diretos e 20 mil indiretos (Notícias da Bahia, 2008). A exploração da bananicultura por produtores familiares é uma realidade identificada nas demais regiões agrícolas brasileiras. No Estado de São Paulo, 69% dos estabelecimentos rurais são de agricultores familiares e deste total 85% compreendem áreas com até 50 hectares (INCRA, 2005). Nos municípios do interior do Estado, a atividade agrícola familiar destaca-se ainda mais, como é o caso dos municípios do Médio Paranapanema, onde a economia local é predominantemente agrícola. Nessa região existe uma grande dependência entre o dinamismo econômico da agricultura e a expansão do setor terciário. www.apta.sp.gov.br Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária Na região do Médio Paranapanema, a fruticultura, em especial a bananicultura, foi intensificada na década de 90 com o objetivo de substituir e diversificar as atividades agrícolas tradicionais como o cultivo da soja, do milho e da mandioca. No ano de 2000, foi criada a Cooperativa Palmitalense dos Bananicultores (COOPABAN), localizada no município de Palmital, visando fortalecer o agronegócio da fruta no Médio Paranapanema (Furlaneto et al., 2007a; Furlaneto et al., 2008). Dada a importância econômica e social da bananicultura para os produtores familiares, a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, desde o ano de 2005, vem desenvolvendo tecnologias adaptadas às condições edafoclimáticas locais. A relevância dos trabalhos regionais deve-se ao fato das plantas de bananeiras serem relativamente exigentes quanto ao cultivo. Para o bom desenvolvimento da planta, e principalmente dos frutos, é necessário um solo de fertilidade natural elevada, bem estruturado, aerado, que disponha de nutrientes de maneira equilibrada. Essa nutrição pode ser estabelecida por meio externo, com a adição de fertilizantes químicos e/ou orgânicos associados à correção do pH do solo (calagem). Além dos nutrientes, a bananeira exige grande quantidade de água, que deve estar permanentemente disponível no solo (Fontes et al., 2003). Outro fator muito importante na produção comercial de banana refere-se ao espaçamento entre as plantas. Este varia de acordo com a cultivar de banana a ser trabalhada e a localidade da lavoura, podendo variar de 2,0 x 1,8 m até 3,0 x 2,0 m, de forma que a densidade do plantio fique em torno de 1.500 a 3.000 plantas/hectare, no caso das cultivares do grupo Cavendish (Nanica). Experimentos com banana Nanicão demonstraram que a utilização de altas densidades (3.333 plantas/hectare) aumenta a produtividade até o terceiro ciclo, passando a diminuir desde então. O bananal deve ser renovado a cada cinco, oito ou dez anos, dependendo das suas condições fitossanitárias e/ou produtivas, podendo até mesmo se tornar perene (Moura et al., 2002). Grande enfoque deve ser dado ao manejo fitossanitário da cultura. Dentre os principais problemas encontrados destacam-se os insetos-pragas, principalmente a broca de bananeira, e doenças como Sigatoka-amarela, Sigatoka-negra, Mal-do-Panamá e doenças de frutos. www.apta.sp.gov.br Dezembro de 2008 P RINCIPAIS BANANEIRA PROBLEMAS NA DA AGRICULTURA FAMILIAR a) Broca da bananeira (Cosmopolites sordidus (Germar, 1824) (Coleoptera: Curculionidae) A broca da bananeira, também conhecida como moleque da bananeira, em todo o País, é considerada a principal praga da cultura (Figura 2), podendo ocasionar perdas na produção em até 80%. Além dos danos diretos causados às plantas, esse inseto facilita a penetração de outros insetos, nematóides e microrganismos patogênicos (Oliveira & Souza, 2003). Um dos principais problemas do ataque desse inseto na agricultura familiar diz respeito ao seu controle, que é feito na região do Médio Paranapanema, quase que exclusivamente com o uso do método químico, utilizando o ingrediente ativo carbofuran, altamente tóxico e perigoso para a saúde do produtor. Outros métodos de controle podem ser empregados e devem começar a ser avaliados na região dentro de poucos meses, como, por exemplo, o controle biológico com o uso de fungos entomopatogênicos. A utilização de extratos vegetais, principalmente extratos da semente de nim (Azadirachta indica) demonstrou ótimo controle, causando a repelência dos insetos adultos. O uso de mudas micropropagadas também tem contribuído substancialmente para a redução dos danos causados por essa praga (Gold & Messiaen, 2000). O controle biológico é outro método que vem sendo investigado e cada vez mais aceito pelos produtores. O uso de fungos entomopatogênicos, como a Beauveria bassiana e Metarhizium anisopliae, tem apresentado resultados excelentes no controle da Broca da bananeira (Reis et al., 1999). b) Sigatoka-amarela musicola Leach) (Mycosphaerella A Sigatoka-amarela foi relatada em 1944, pela primeira vez no Brasil, na região Amazônica. Em 1952, a doença foi encontrada na região Sudeste. A média de perda de produção causada por M. musicola no Brasil é de cerca de 50%, podendo alcançar 100% em algumas regiões do País. A Sigatoka-amarela é uma doença foliar, com sintomatologia característica (Figura 3), e provoca um declínio acentuado no vigor da planta, além de diminuir a produção, com o aumento do ciclo reprodutivo da planta. 79 Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária Dezembro de 2008 c) Siégatela-negra fijiensis Morelet) Figura 2. Broca da bananeira (Cosmopolites sordidus (Germar, 1824) (Coleoptera: Curculionidae)) em sua fase adulta e sintomas característicos (galerias) causados pelas larvas desse inseto. Fotos: C. Gold. Estima-se que o custo do controle da doença seja de cerca de 10% do custo total de produção (Cordeiro & Matos, 2003). O controle é feito normalmente com a utilização racional de fungicidas, sendo que na região do Médio Paranapanema faz-se uma média de cinco aplicações anuais. As pulverizações são feitas na maior parte dos casos com equipamento conhecido como canhão e em situações mais específicas com pulverização aérea. Atualmente encontra-se em andamento pesquisas visando estabelecer os parâmetros regionais para instituir o monitoramento climático da severidade da doença, visando à adequação das aplicações de defensivos. Figura 3. Sintomas característicos da doença Sigatoka-amarela em folhas de bananeiras Foto: A. P. da Silveira. 80 (Mycosphaerella A Sigatoka-negra é considerada a doença mais problemática da bananicultura comercial moderna. No Brasil, o primeiro relato de ocorrência dessa doença foi feito em 1998, no Estado do Amazonas (Pereira et al., 2000). No Estado de São Paulo, a primeira ocorrência foi registrada em 2004, no município de Miracatu, região do Vale do Ribeira (Ferrari et al., 2005). No ano seguinte, 2005, foi feita a primeira ocorrência da doença em situação exclusiva, ou seja, a Sigatoka-negra já estava substituindo a Sigatoka-amarela em uma mesma planta, mostrando o seu alto poder de infecção (Moraes et al., 2005). Essa doença ataca as folhas novas da bananeira, sendo que a infecção inicial ocorre na folha “vela”, com a entrada do fungo através dos estômatos. Os sintomas iniciais aparecem na forma de estrias marrons (sempre visíveis na parte de baixo da folha), evoluindo para manchas necróticas (Figura 4), reduzindo os tecidos fotossintetizantes e, consequentemente, a produção (Pereira et al., 2000). Figura 4. Sintomatologia inicial e necrose final das folhas, características da Sigatoka-negra em bananeiras Foto A: W. da S. Moraes; Foto B: L. Gasparotto. www.apta.sp.gov.br Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária Na região do Médio Paranapanema, as condições edafoclimáticas não são favoráveis ao desenvolvimento do fungo Mycosphaerella fijiensis, responsável pela doença Sigatoka-negra, fazendo com que a severidade dessa doença seja significativamente menor daquela encontrada nas condições do Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo. Assim sendo, observa-se que as pulverizações realizadas para o controle da Sigatokaamarela são suficientes para manter a Sigatoka-negra em níveis muito baixos. Na maior parte das lavouras não são observados sintomas, nem mesmo as estrias inicias. Isso ocorre devido às baixas temperaturas observadas no início das manhãs, fazendo com que a evolução da doença seja interrompida. Atualmente na região, está sendo desenvolvida pesquisa para o monitoramento dessa doença, apesar das baixas incidência e severidade observadas. Dezembro de 2008 ainda no campo, com a fruta verde, ocasionando perdas significativas. O adequado ensacamento dos cachos em campo tem contribuído para diminuir a incidência dessa doença, que ocorre com maior intensidade em temperaturas entre 25 e 30ºC e período de molhamento dos frutos de 36 horas (Pessoa et al., 2007). A aplicação de fungicidas, associada aos inseticidas (para evitar ferimentos na casca dos frutos ainda verdes), tem sido estudada nas lavouras regionais. d) Mal-do-Panamá (Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E. F. Smith) Sn e Hansen) Principal doença vascular da bananeira ataca principalmente a cultivar Maçã. O único controle efetivo para o Mal-doPanamá é o plantio de clones e cultivares tolerantes a essa enfermidade (Cordeiro & Kimati, 1997). Esse patógeno tem capacidade de sobreviver no solo por mais de 50 anos, por meio de suas estruturas de resistência (clamidósporos). Esse fungo provoca a necrose do sistema vascular da planta, sendo que as folhas mais velhas amarelecem e posteriormente quebram o pecíolo junto à inserção no pseudocaule, ficando pendentes, com uma aparência de um guarda-chuva fechado, uma vez que as folhas mais novas ficam eretas (Figura 5). Na fase final da doença, observa-se a morte da planta, sendo que os cachos produzidos são irregulares, pequenos e sem valor comercial (Pereira et al., 1999). d) Doenças de frutos Antracnose (Colletotrichum musae (Berk. & Curtis) von Arx.) A antracnose é considerada a principal doença de frutos na região do Médio Paranapanema. A infecção muitas vezes ocorre ainda em condições de campo, sendo que as lesões aparecem principalmente na fase de pós-colheita (Figura 6). Essa doença prejudica significativamente o comércio e o consumo da fruta in natura, causando perdas expressivas da ordem de até 40% da produção (Cordeiro et al., 2005). Vários trabalhos estão sendo realizados na região para monitorar sua ocorrência, principalmente no sentido de evitar que a infecção ocorra www.apta.sp.gov.br Figura 5. Sintomas internos (necrose do sistema vascular) e externos de bananeiras infectadas pelo Fusarium oxysporum f. sp. cubense (E. F. Smith) Sn e Hansen, fungo causador do Mal-do-Panamá Fotos: A.P. da Silveira. MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS E DOENÇAS NA CULTURA DA BANANA Os melhores resultados obtidos indicam que a adoção do manejo integrado de pragas e doenças é o melhor caminho a ser tomado pelo bananicultor na região do Médio Paranapanema. 81 Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária Figura 6. Lesões características da antracnose em frutos verdes e maduros de banana Fotos: A.P.da Silveira. Testes de cultivares tolerantes e/ou resistentes às doenças, monitoramento da severidade e incidência de Sigatoka-amarela e Sigatoka-negra, interação entre nutrição equilibrada de plantas e qualidade de frutos têm contribuído de maneira expressiva para o crescimento da bananicultura regional, com aumento de renda para o produtor. Foram implantados diversos campos experimentais para testes de cultivares (bancos de germoplasma), em parceria com a Embrapa, visando à avaliação do desenvolvimento, produção, incidência de pragas e doenças e qualidade de frutos nas condições edafoclimáticas regionais. Os primeiros resultados já estão sendo obtidos, com previsão de identificar materiais potenciais para plantios comerciais na região do Médio Paranapanema. Pesquisas visando resultados referentes à interação da nutrição das plantas com a qualidade final dos frutos estão sendo realizadas no município de Palmital (SP), numa parceria entre a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Instituto Agronômico (IAC) e Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL). Os resultados poderão direcionar o 82 Dezembro de 2008 produtor quanto a melhor maneira de realizar adubações e monitoramento da nutrição das plantas, para se obter alta produtividade, agregando qualidade ao fruto, com o objetivo de exploração de novos mercados consumidores. Nessa mesma linha de pesquisa está sendo desenvolvido um projeto com objetivo de avaliar o comportamento de bananeiras do grupo Nanica (Cavendish) submetidas a diferentes regimes hídricos (irrigação localizada, tipo microaspersão) associados a diferentes doses de adubação potássica. Os municípios de Palmital, Cândido Mota e Pedrinhas Paulista destacam-se como maiores produtores de banana da região do Médio Paranapanema. A cultivar Maçã é explorada com maior intensidade nos municípios de Pedrinhas Paulista e Cândido Mota, enquanto em Palmital, observa-se a expansão das cultivares do grupo Nanica (Cavendish). Atualmente, esse grupo ocupa cerca de 30% da área dos bananais no Médio Paranapanema. Houve tentativa da exploração da banana Prata, entretanto a falta de uma tecnologia apropriada desestimulou os produtores. Atualmente, com testes de novas cultivares do grupo Prata resistentes às principais doenças, o interesse pelo cultivo desse grupo de banana voltou à região. Outra tecnologia muito estudada em toda a região diz respeito às mudas micropropagadas (Figura 7), em projetos de pesquisa em parceria com o BIOMAVALE (laboratório de micropropagação), a APTA do Médio Paranapanema e a Prefeitura do Município de Assis (SP). Os projetos de pesquisa desenvolvidos nessa área já proporcionaram informações sobre o melhor método de micropropagação e enraizamento das plântulas (Souza et al., 2006a; Souza et al., 2006b), além de indicações sobre os melhores substratos e tipos de adubação a serem utilizados no período de aclimatação das mudas (pesquisa em andamento). Outra pesquisa, que está em fase de conclusão, diz respeito ao comportamento de mudas micropropagadas de banana Maçã, em diferentes protocolos de micropropagação, em condições de plantio a campo e seu comportamento frente à doença Mal-do-Panamá. Pretende-se ainda iniciar trabalhos regionais com enfoque na produção de banana sob cultivo orgânico. O sistema de produção de alimentos orgânicos se contrapõe aos desafios impostos pela cultura de massa (produção agrícola em larga escala) e apresenta algumas particularidades em relação às demais propriedades agrícolas por possuir basicamente as seguintes www.apta.sp.gov.br Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária características: o tamanho da propriedade (pequeno porte); utilização de mão-de-obra familiar; renda familiar oriunda principalmente da propriedade e moradia na propriedade ou próxima dela, sendo, portanto, esse perfil basicamente encontrado na agricultura familiar. Figura 7. Micropropagação e aclimatação de mudas micropropagadas de bananeiras Fotos: L.D. Souza. São citados como casos de sucesso com o plantio de banana sob sistema orgânico, produtores do Estado de Santa Catarina que comercializam a fruta com Selo de Certificação (Rocha, 2004), pequenos agricultores do município de Itapajé (zona norte do Estado do Ceará) que vendem a fruta com selo de “produto seguro” www.apta.sp.gov.br Dezembro de 2008 (isento de agrotóxico) e produtores familiares do município de Batuva, PR, (Rocha, 2007), que exportam a fruta com o selo “Bio-Suiço” (certificação internacional de produtor orgânico que facilita a entrada da produção no mercado Europeu). Em pesquisa com consumidores de banana, verificou-se que 90% dos entrevistados veêm o produto orgânico como alimento saudável e acreditam que a certificação garante que o produto está livre de agentes contaminantes químicos e/ou tóxicos. Adicionalmente, 40% dos consumidores estariam dispostos a pagar um valor superior pela banana produzida em sistema orgânico. Tais dados demonstram que o consumo de alimentos orgânicos pode ser uma forma alternativa de agregação de valor nas pequenas e medias empresas rurais. Quanto à viabilidade da produção orgânica, concluiu-se que a atividade é rentável economicamente, pois os indicadores de lucratividade, custo total de produção, margem bruta, bem com o ponto de nivelamento apresentaram-se positivos (Andrade, 2005). As principais vantagens da banana orgânica, no que concerne ao consumo, produção e comercialização, referem-se à qualidade superior da fruta (saudável), além da segurança de aquisição de um produto cultivado de acordo com as exigências sociais e preservação do meio ambiente - desenvolvimento sustentável e melhoria da qualidade de vida do homem do campo. As desvantagens em relação ao sistema convencional estão relacionadas com a escassez de informações sobre o sistema de produção, falta de assistência técnica, mão-de-obra qualificada, custos com a certificação, acessibilidade e adequação às linhas de financiamento. Outra linha de pesquisa a ser iniciada em um futuro próximo diz respeito a métodos alternativos para a convivência por períodos mais longos com a doença Mal-do-Panamá, em banana Maçã. Uma vez que grande parte da produção regional é oriunda dessa variedade e a doença encontra-se espalhada por todos os locais de cultivo. Há uma grande demanda por informações sobre métodos que poderiam auxiliar na redução da severidade da doença na região. Dessa maneira, está prevista instalação de um projeto de pesquisa com o objetivo de avaliar a ação de fungos micorrízicos na redução dos danos provocados pela doença. Já existem resultados na literatura confirmando a eficiência dessa técnica (Borges et al., 2007); assim, pretende-se agregar informação avaliando-se outros parâmetros, em outras condições ambientais. 83 RevistaRevista Tecnologia Tecnologia & Inovação & Inovação Agropecuária Agropecuária O aproveitamento de subprodutos e resíduos da bananicultura também é alvo de estudos regionais. O descarte de frutos não comerciais da cultura da banana pode ser aproveitado para produção artesanal/industrial de doces, balas, banana-passa, purê, entre outros. Estudo sobre a banana-passa no município de Guaraqueçaba,PR (Bittencourt et al., 2004) mostrou que o processamento da fruta é viável tanto para a produção orgânica como para a convencional. A banana-passa orgânica é exportada para a Europa e a banana-passa convencional é comercializada na região de Curitiba (PR). A banana-passa orgânica apresenta os melhores índices econômicos (TIR 94%, VPL R$ 486.009,39 e relação benefício/custo de 2,11) do que a banana-passa convencional (TIR 14%, VPL R$ 34.668,00 e relação benefício/custo de 1,17), ainda apresenta um custo de produção de R$ 3,64/kg, sendo 50% desse valor relativo aos gastos com insumos e 27% com mãode-obra. A banana-passa convencional apresenta custo de R$ 3,21/kg, sendo 45% para insumos e 31% para mão-de-obra. Ainda segundo os mesmos autores, a banana-passa orgânica apresenta melhores rentabilidades devidas, principalmente, à exportação. Algumas comunidades familiares do Vale do Ribeira estão envolvidas no aproveitamento dos resíduos de bananeiras (fibra de bananeiras) para confecção de produtos artesanais como esteiras, cortinas, assentos de cadeiras, sandálias, bolsas, jogo americano e outros objetos de uso doméstico e pessoal, além de papel artesanal. Exemplo semelhante pode ser observado no município de Tarumã, região do Médio Paranapanema (SP), onde um grupo de 37 famílias, agregadas em uma Associação de Produtores Familiares foi capacitado para fazer artesanato com a fibra de bananeiras produzidas por essa Associação. Foram plantadas, em 2008, cerca de 42 mil mudas micropropagadas de bananeiras da cultivar Nanicão Jangada e pretende-se alcançar, em 2009, 70 mil plantas, em uma área aproximada de 30 hectares. Ainda está prevista nesse projeto a instalação de uma fábrica artesanal de doce de banana, para aproveitamento das frutas descartadas, incrementando dessa maneira a renda de cada família componente do projeto. Em trabalhos sobre sistemas e custos de produção na região do Médio Paranapanema, SP, (Furlaneto et al, 2007a; Furlaneto et al, 2007b), verificouse que o custo operacional total (COT) de implantação e manutenção de uma lavoura da variedade Nanicão Jangada é de cerca de R$ 8.500,00/ha (US$ 4,250,00/ha) 84 Dezembro Dezembro de 2009 de 2008 no primeiro ano. Aproximadamente 70% desse custo referem-se aos gastos com insumos, representado principalmente pelas mudas micropropagadas (R$ 1,50/muda), seguido pelos fertilizantes. Nos anos seguintes, o COT foi cerca de R$ 5.500,00/ano (US$ 2.750,00), sendo significativo o gasto com o controle fitossanitário (30%) e fertilizantes (20%). Considerando o preço de venda de R$ 4,84 (US$ 2,42/caixa de 22 kg, a receita bruta no segundo ano foi de aproximadamente R$ 9.000,00/ha, R$ 10.000,00 no terceiro e R$ 11.000,00 nos anos subsequentes, sendo o investimento inicial recuperado ao término do terceiro ano. A partir do quarto ano, o índice de lucratividade chega a 45% e o ponto de nivelamento da produção próximo de 27 toneladas/ha, evidenciando ganhos expressivos ao produtor, posto que a produtividade média equivale a 40 t/ha (Hashimoto & Martins, 2007; Furlaneto et al., 2007b). Por sua vez, na cultura de banana cultivar Maçã, com produtividades de 14 a 17 t/ha, nos dois únicos anos produtivos e preço de venda de R$ 12,00 (US$ 6,00)/caixa de 22 kg, a lucratividade média foi de 38%, apesar da longevidade média dessa cultura dificilmente ultrapassar três anos e da lucratividade média ser menor que a da cultivar Nanicão Jangada, o retorno do investimento é mais rápido (Furlaneto et al., 2005). CONSIDERAÇÕES FINAIS A tendência regional é de crescimento significativo da área plantada com banana nos próximos anos. Grande parte da área atualmente ocupada com a cultivar Maçã será replantada com cultivares do grupo Nanica (Cavendish), devido a alta incidência da doença Mal-do-Panamá, que reduz drasticamente a vida útil da lavoura, sendo responsável, em algumas situações, pela interrupção do primeiro ciclo de produção. A utilização de um sistema de monitoramento da incidência da Sigatoka-amarela e da Sigatoka-negra, bem como da severidade dos fungos responsáveis por essas doenças, culminará com um uso racional de defensivos agrícolas, trazendo benefícios para os produtores e também para o meio ambiente. O processo de tecnificação do sistema de produção de banana na região do Médio Paranapanema já é uma realidade; desse modo, são necessárias a geração e a divulgação de novas tecnologias para que a atividade seja ainda mais lucrativa. www.apta.sp.gov.br Revista Tecnologia & Inovação Agropecuária A adoção de tecnologias como fertirrigação, mudas micropropagadas e manejo integrado de pragas e doenças, resultará em aumento de poder de competição com outras regiões produtoras do Estado, abrindo novos mercados, com aumento da rentabilidade para o produtor familiar e visando ao aumento de produção associado à qualidade superior de frutos, de modo a agregar valor na atividade. As atividades agroindustriais, aliadas às atividades artesanais (fibra de bananeiras), fazem parte do processo de valorização dessa cadeia produtiva familiar, que representa a fruta tropical mais consumida no mundo. REFERÊNCIAS ANDRADE. J.C. 2005. 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