Perspectiva da educação para o pensar

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Junho de 2007 - páginas 45 a 54
PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO PARA O PENSAR
Henriqueta Alves da Silva∗
Fernando Battisti∗
Introdução
O presente artigo objetiva fazer uma reflexão a respeito do exercício do filosofar na perspectiva da
contribuição da filosofia para uma formação mais integral e crítica humana, tendo em vista a importância da
filosofia ao longo da história da construção humana e desenvolvimento das sociedades em especial da
formulação de conceitos e teorias a respeito das problemáticas de cada contexto e época vivida ao longo do
desenvolvimento humano, vindo a questionar alguns aspectos inerentes a existência e conseqüências do agir
humano ao longo de sua história.
A reflexão em torno da importância do exercício do filosofar nos dias atuais por sua constituição
ampla de conhecimentos faz-se explícita nessa breve exposição, sendo enfocada a questão da implantação
obrigatória da Filosofia no currículo escolar no que se refere a atitude filosófica com um meio de
desenvolvimento social e cognitivo que vem a contribuir essencialmente na melhor sistematização e
organização de um pensamento mais coerente diante da realidade conturbada que em nossa atualidade se
faz presente.
A presença da abordagem filosófica a respeito dos temas política e cidadania na visão de alguns
pensadores também no intuito de objetivar uma contextualização destes com a realidade vêm a contribuir
para a reflexão e meditação em torno das questões que envolvem aspectos circundantes e presentes na
realidade vivida.
∗
Acadêmicos do Curso de Filosofia da Uri/FW – V semestre / 2007-I
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2 O exercício do filosofar
A importância da Filosofia ficou marcada desde suas origens com os gregos até a atualidade.
Tendo uma repercussão social, papel importante do filósofo no meio científico e nas questões sociais. No
Brasil, com a ditadura militar a partir dos anos 60, a Filosofia foi excluída do currículo escolar, por ser um
instrumento de especulação, crítica e ter grande reflexão. Nesse sentido a pergunta filosófica está em saber
questões que envolvem o pensar e as problemáticas que estão imbricadas ao agir humano e a sua época.
O ensino da Filosofia na educação brasileira é um debate proveniente das estruturas que
repercutem na história do ensino-aprendizagem, a formação dos professores e principalmente o processo
educacional da cultura contemporânea.
Assim, percebe-se que há uma carência do ensino da Filosofia na educação brasileira devido o
desencanto dos educadores pela incapacidade de ver que a filosofia tem seu lugar e que é uma disciplina
muito importante para a formação integral de todos os alunos pelo fato de ajudar a promover a passagem de
uma visão um pouco mais limitada a respeito dos problemas e questionamentos sociais para um estudo mais
sistemático e organizado, com uma fundamentação mais ampla e consistente a respeito do mundo que nos
circunda.
Pode ser demarcada essa mudança de atitude e de perspectiva como que uma passagem da
infantilidade para uma visão um pouco mais madura no intuito de conquistar a autonomia do pensar e do agir.
Muitas pessoas, desse modo, vivem infantilizadas quando não exercitam um olhar crítico da realidade e de si
mesmo.
Com relação ao ambiente educativo nota-se que muitos alunos não aceitam a filosofia como uma
disciplina interessante por ela não oferecer utilidade imediata e não ter a finalidade precisa em face às
exigências do “mercado”, dos vestibulares e da própria profissionalização.
Hoje estamos reconquistando e ampliando este espaço da Filosofia não só na universidade como
no cotidiano da vida e em especial, sendo uma disciplina na Educação Básica. A Filosofia não é apenas uma
visão da vida, é uma disciplina específica que diligencia desenvolver uma visão compreensiva do universo e
uma visão holística dos seres humanos de sua natureza essencial e dos limites de suas capacidades.
Ela é o desejo de descobrir as coisas. Ensina-nos como pensar, o que pensar, e principalmente o
nosso próprio modo de pensar. A filosofia tem o objetivo de melhorar a vida das pessoas por meio do
exercício de nossa consciência crítica e se apresenta como forma de reflexão ética e política. Evoca valores
compartilhando o amor pelo conhecimento.
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No entanto, a partir do Iluminismo1 na filosofia moderna algumas transformações podem ser
notadas no que se refere ao desenvolvimento das ciências, da disponibilização e enfoque maior na
perspectiva científica, sendo também presente com relação ao conhecimento escolar. Isto é, foi a partir daí
que as ciências naturais e específicas foram se especializando e desvinculando do conhecimento filosófico e
em especial no espaço educativo com uma diferenciação e como que um “engavetamento” das disciplinas
que foram colocadas no currículo escolar.
Ampliando o acesso metódico desses conhecimentos, verifica-se que eles tornaram um tipo de
conhecimento dogmático que não podem ser contestados, tem que ser exatos com a resposta esperada, isso
acarretou o desafeto com o próprio sujeito que não tem a oportunidade de colocar o que pensa sem a
interferência de métodos e isso é o que levou o homem a ser objeto da ciência, com a sacralização do
método científico, deixando-se de lado outros campos do conhecimento e aspectos relacionados à filosofia e
formação do ser humano.
Portanto, imersos na afirmação científica, o estudo da filosofia, que é fundamental para o pensar do
homem por oferecer condições teóricas que facilitam o desenvolvimento da consciência crítica para o
exercício do interrogar e para a participação mais ativa na sociedade em que vivemos, foi reduzido a uma
minoria sendo considerado conhecimento inútil e que não tem importância para a sociedade.
Diante do exposto, cabe aqui ressaltar, que a filosofia se manifesta na investigação e reflexão como
exercício vital do pensamento. A partir de teorias estudadas é que o aluno vai discordar ou não com as idéias
tratadas por autores nos temas estudados. O pensamento de reflexão eleva os alunos num estágio
sistemático e instrumentalizador, construindo interpretações e concatenando com a realidade para a sua
aprendizagem.
O aluno deverá aprender a interpretar, valorizar os procedimentos na constituição dos problemas,
na análise de textos, na construção de conceitos, no qual o estudante recria seus próprios conceitos que
digam a respeito da realidade onde atua.
Quer-se explicitar que não se pretende com esta análise legitimar que o ensino da filosofia precisa
ser ensinado tal qual está em suas teorias, mas ir além do que está, mostrar a importância desse ensino em
sua amplitude, possibilitando o acesso do conhecimento de si e do próprio filosofar.
Filosofar é questionar as idéias, é não aceitar tudo como está, precisamos despertar para a
reflexão crítica da realidade, saber discernir o que é certo do que aquilo que é colocado como verdade, pois
em muitos casos o que é imposto como verdade não passa de uma falácia ideológica e manipuladora da
consciência das pessoas.
Movimento Filosófico, também conhecido como Esclarecimento, Ilustração ou século das Luzes, se desenvolve na França,
Alemanha e Inglaterra no século. XVIII, caracterizado pela defesa da ciência e da racionalidade crítica, contra a fé, a superstição e o
dogma religioso.
1
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A importância da filosofia reside no ato de não aceitar de ir contra o que é colocado de forma
sistemática redutível a uma utilidade material, precisa-se resgatar a relevância dela para com o humano.
Fundamentar a relevância da filosofia na educação humana não é restringir a própria ciência
filosófica ou descartar a ciência moderna, mas buscar nela o pensar, a essência das coisas com direção ao
bem que ela pode proporcionar para a vida do ser humano. Precisa-se repensar os conceitos e as produções
do mercado capitalista que só vê o que é de útil e imediato e não pensa nas conseqüências que pode trazer
para a humanidade.
A marca fundamental do pensamento filosófico tem uma repercussão relevante no meio social,
papel importante do filósofo no meio científico e nas questões sociais.
Diante da relevância do estudo da filosofia na universidade e na educação básica, precisa ser
estudado com maior aproveitamento e dedicação o ensino da filosofia através de seus precursores
inspirando-se para a busca do exercício do pensar através de pesquisa, leituras, debates das temáticas,
instigando-se assim, para o professor e o aluno desenvolver a educação para o pensar.
A formação do discente e do docente na escola é um espaço favorável, indispensável para que
saibam como interagir na sociedade. Auxiliar para que os jovens possam desenvolver suas potencialidades
em caminhos em que a sociedade não condene que sejam positivos para a vida pessoal e coletiva. A reflexão
filosófica leva-nos a ampliarmos no campo educacional os horizontes do pensar, para resolver diante do
contexto em que vivemos.
O Curso Perspectivas da Educação para o Pensar traz hoje um desafio relevante na formação do
professor para disciplinar o ensino da Filosofia em sala de aula, pensamento este lançado para o pensar-se
no como a educação contribui para os saberes positivos que constituem a base fundamental do ser humano.
Sabe-se que a filosofia é uma disciplina indispensável, para a formação integral do aluno ao possibilitar
reflexão crítica superando a visão do senso comum, dos fatos e idéias da experiência cotidiana.
A filosofia pode ser caracterizada como uma interrogação sobre o que são as coisas, as idéias, os
fatos, as situações ela interroga sobre o que é? Como é? Para quê é?
Filosofar é interrogar-se sobre os fins que perseguimos, sobre o valor dos acontecimentos que
podem sobre as possibilidades do agir. Ela não se define nem pelo objeto nem pelo método. Define-se antes
por uma atitude de reflexão característica frente a qualquer objeto.
O ensino-aprendizagem de filosofia não é um ensino-aprendizagem como outro qualquer, possui
uma particularidade, pois o ato de ensinar e de aprender só se realiza como uma experiência filosófica, ou
seja, com um filosofar. O saber filosófico é uma prática de questionamento da autoridade intelectual e das
tradições. Pensar filosoficamente é estabelecer uma simpatia com o pensamento, e se integrar como outro, o
filosofar consiste em uma especial experiência com a linguagem, é um debate dialógico.
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Filosofar é ser amigo do saber, é tomar o discurso do outro como se fosse seu, mas ao mesmo
tempo estar consciente que é de outro e vem de fora. A filosofia é um recomeçar, ela busca respostas,
sobrevoa, eleva-se, desenvolve-se, reflete, retoma, é sempre reformulada e buscada, ela não tem uma
resposta exata das coisas por buscar a essência além dos objetos, é por isso que ela não se reduz a ciência
particular.
O pensar filosófico provoca no docente-discente uma sede de buscar o ser das coisas,
fundamentado pela base teórica e intelectual que possibilitará uma formação do professor de filosofia, um
aperfeiçoamento da práxis pedagógica e o enriquecimento do processo educativo, relacionando teoria e
prática, para contribuir na formação integral do aluno mostrando os caminhos para o próprio conhecer-se.
3 Política e Cidadania
O desenvolvimento histórico preparava o caminho para despertar a racionalidade, com isso a
formação das primeiras aglomerações urbanas ressaltou mudanças na estrutura social, política e econômica.
Nascia então, a pólis, a cidade-estado grega, que dá início a uma nova organização política típica da Grécia
Antiga.
A pólis caracterizava-se como uma unidade de vida social e política autônoma, da qual os cidadãos
participavam ativamente, decidindo sobre os interesses da cidade.
Hoje a política apresenta-se como a arte de governar, de atuar na vida pública e gerir os assuntos
de interesse comum, não diz respeito apenas ao Estado, mas faz parte de nossa vida, permeia todas as
formas de relacionamentos sociais.
Para Platão, há uma relação dialética entre o conhecimento da realidade, seja individual, seja
social, e o fim do homem enquanto indivíduo e integrante da cidade. Se ocorrer uma desarmonia entre a alma
do homem, enquanto indivíduo fatalmente a cidade ficará em desarmonia, a harmonia da alma e da cidade
corresponde à justiça.
A pólis é a cidade do bem, uma ciência que conduz a uma boa existência. A pólis tem por fim
encarnar a justiça e assim, libertar os cidadãos da violência provocada por quem ainda não sabe ser senhor
do seu corpo.
Segundo o Dicionário de Filosofia, Política é:
Tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos e ao governo da cidade, aos negócios públicos. Segundo
Aristóteles, o homem é um animal político, que se define por sua vida na sociedade organizada
politicamente. Em sua concepção, e na tradição clássica em geral a política como ciência pertence
ao domínio do conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios de
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justiça e do bom governo, e examinando as condições sob as quais o homem pode atingir a
felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva.2
Para Aristóteles o homem é um ser político porque desde que ele nasce se envolve numa
sociedade começando pelo terreno familiar. A política para Aristóteles é natural. A cidade é um lugar de
promoção humana, de cidadãos unidos visando a felicidade. A cidade não é tida apenas como uma simples
comunidade, onde se busca a sobrevivência da espécie; é mais que isto, na cidade busca-se o bem viver e
não somente condições que satisfaçam as necessidades elementares.
Por isso o Estado é uma instituição política, não é produto da natureza, mas uma produção do
trabalho do homem. Foi a partir do momento em que o homem começou a viver em coletividade é que foi
formando os primeiros grupos, sendo que a relação das pessoas sempre ficou subordinada a restrições de
um chefe, como o pai representa o chefe da família.
O Estado é considerado o maior representante político, ele é a estrutura que domina a vida política
das sociedades. A formação da sociedade se dá a partir das primeiras relações que o homem desenvolve
desde seu nascimento até a sua morte. Rousseau defende a formação da sociedade como vinda da própria
família.
Nesse sentido ele contribui:
A família é, pois, se quiser o primeiro modelo das sociedades políticas; o chefe é a imagem do pai, o
povo é a dos filhos, e, tendo nascido todos igualmente livres, não alienam a sua liberdade senão em
proveito da própria utilidade. Esta diferença consiste em que na família, o amor do pai pelos seus
filhos é recompensado com o cuidado que lhes dedica, enquanto no Estado, o prazer de mandar
substitui este amor que o chefe não sente para com seus súditos3.
O Estado é uma construção humana, uma associação viabilizadora da convivência humana,
organizado coletivamente, é uma organização política. É a partir do Estado que as pessoas tornam-se
importantes, ou seja, cidadãos com direitos e deveres a serem exigidos e cumpridos. O Estado, como forma
de organização social, é sempre a expressão da força, da vontade dominante, da vontade soberana. Essa
forma de organização da sociedade estabelece leis para manter o todo social organizado, coeso.
O Estado é capaz de manter a ordem dos cidadãos e preservar as vontades e as necessidades
humanas. Ele é uma criação da comunidade para servir o povo e não o contrário. O Estado é conceituado
como o Soberano, ou seja, é composto com maior poder da sociedade, ele não se encontra subordinado a
2
3
JAPIASSU, Hilton Ferreira. et al.Dicionário Básico de Filosofia. 3 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999, p. 215.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O contrato social. Grandes Mestres de Pensamento. V. II. São Paulo: Editora Formar LTDA. p. 12.
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qualquer outra autoridade. Apenas impõe leis para seus “súditos”. Ele é um poder racional, instrumental e
dominador.
Com a Idade Moderna a concepção de Estado através das novas relações de produção que foram
implantadas desencadeou profundas mudanças nas relações sociais e políticas. Com o movimento
econômico emergiram a instauração do Estado Moderno como um organismo distinto da sociedade civil. Ele
se organizou como uma máquina administrativa para governar a sociedade, assumiu o papel de garantir a
paz e a segurança a todos os indivíduos.
A forma de Estado que passou a predominar a partir da Idade Moderna foi o pensamento liberal
proprietário, possessivo, defendido por Locke. Locke defende que o direito natural é o direito a liberdade que,
junto com o trabalho, sustenta o direito a propriedade. Para Locke o Estado tem como objetivo defendê-la, e
esta deve ser a função essencial do Estado sob o controle de representantes delegados com o direito de
fazer as leis e aplicá-las.
Para Rousseau, a concepção liberal tem outra vertente defende a igualdade, para ele o contrato
social pressupõe a idéia do direito natural à liberdade, da igualdade como condição humana.
Nesta perspectiva, Rousseau argumenta:
O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um terreno, lembrou-se
de dizer “isto é meu”e encontrou pessoas suficientes para acreditá-lo. Quantos ciúmes, guerras,
assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que arrancando as
estacas ou enchendo o fosso, tivesse, gritado aos seus semelhantes: “defendei-vos de ouvir este
impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém!’ Grande é a possibilidade, porém, de que as coisas já então tivesse chegado ao ponto de
não poder mais permanecer como eram, pois essa idéia de propriedade, dependendo de muitas
idéias anteriores que só poderiam ter nascido sucessivamente, não se formou repentinamente no
espírito humano. Foi preciso fazer-se muitos progressos, adquirir-se muita indústria e luzes,
transmiti-las e aumentá-las de geração para geração, antes de chegar a esse último termo do
estado de natureza.4
Rousseau defende uma sociedade igualitária, a origem das desigualdades teve inicio com a
civilização no momento em que o homem cercou um pedaço de terra e disse que era de sua propriedade sem
nenhuma contradição o terreno foi instituído como seu.
Podemos notar que havia uma preocupação desde muito tempo sobre o resgate das desigualdades
que superavam as condições humanas. A sociedade de hoje esta perdendo o seu valor humano, não se
valoriza mais o ser enquanto espírito sujeito de seu próprio pensamento, com a modernização sabe-se que
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social; Ensaio sobre as línguas; Discurso sobre a origem e os fundamentos das
desigualdades entre os homens; Discurso sobre as ciências e as artes. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 259.
4
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tudo está se racionalizando até o homem está sendo explicado, medido, o homem enquanto ser pensante e
diferente não pode ser explicado, como se fosse um objeto qualquer, o humano é ser único, insubstituível e
universal enquanto ele próprio.
A política não se restringe apenas aos políticos, mas a todos os cidadãos, pois desde a nossa
relação com os membros da família como também todas as vivências que envolvem relações de poder é que
engendram e mantém a ordem social.
Para Herbert José de Souza:
Política tem a ver com poder ela nasce de uma relação de poder que se estabelece entre as
pessoas ou grupos de uma sociedade. Por isso, existe a política e as várias políticas determinadas
por relações de poder em campos específicos. Poder é uma relação, mas um tipo especial de
relação em que existe domínio5.
A política é uma relação social que visa organizar a sociedade prestando trabalho para todo o
cidadão de direito. Para muitos ser cidadão confunde-se com o direito de votar. Mas quem já teve uma
experiência política sabe que o ato de votar não garante nenhuma cidadania, se não vier acompanhado de
determinadas condições de nível econômico, social e cultural.
Ser cidadão significa ter direitos e deveres, ser súdito e soberano. A cidadania em sua proposta diz
que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor. E ainda diz
que a todos cabe o domínio de seu corpo e sua vida, com acesso a um salário condizente para promover a
própria vida, com direito à educação, a saúde, a habitação, ao lazer. Enfim, ser cidadão significa ter uma vida
digna e feliz.
Para isso, precisa-se de uma política condizente capaz de trabalhar para promover o bem-estar da
população, o que não está acontecendo nos dias de hoje. O que falta é exercer nossa soberania além de
votar também pressionar através de movimentos sociais, ao participar de assembléias para a conquista das
condições para o exercício da verdadeira cidadania.
O homem enquanto ser humano é um ser racional capaz de educar-se para o crescimento pessoal,
mas para isso a educação para a cidadania precisa empenhar-se para extrair de cada homem as crenças, as
fantasias, a ilusão de dono do saber.
Precisamos sair da ingenuidade, discernir e esmagar os focos de dominação, estimando o papel no
jogo político da sociedade, o ingênuo abre mão de participar na solução dos conflitos, nas tensões sociais.
Assim, ele acaba não desenvolvendo a prática democrática necessária nas negociações desses conflitos.
5
SOUZA, Herbert Jose de. Ética e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1994, p. 20.
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“(...) superar essas ingenuiades-aquela que sufoca o descontentamento ou aquela que se lança cegamente
nos conflitos – é tarefa da Educação”.6
A escola é vista como um espaço político onde se deve ministrar um conjunto de disciplinas para
que o aluno saiba desenvolver o senso crítico e adquira o saber necessário para não deixar-se enganar.
O conhecimento intelectual é um suporte para a formação da cidadania, um instrumento básico
qualitativo entre consciência ingênua e consciência crítica.
A educação é um espaço político para a formação de conhecimentos que contribuem para a
formação pessoal, tende formar cidadãos éticos e conscientes. É a partir da educação que o cidadão sabe
discernir o que é certo ou errado, é aquele que age de maneira ética, ou seja, o agir bem respeitando a
liberdade do outro e reconhecendo os seus valores. A ética e a cidadania se forma pela educação seja
familiar ou escolar, e não só em sociedade.
À educação cabe investir nas forças construtivas da mediação entre o sujeito e a sua práxis, num
procedimento contínuo e simultâneo de denúncia, desmascaramento e superação de sua inércia, bem como
buscar contribuir, a partir de sua própria especificidade, para a construção de uma humanidade renovada,
com valores relevantes para o pensar nos dias de hoje.
4 Considerações Finais
Pode-se dizer que a abordagem filosófica trás presente em nossa atualidade questões referentes
ao agir humano, a construção e desenvolvimento do pensamento humano, bem como, uma ampliação das
possibilidades e condições de abordagens a respeito de uma mesma temática devido a amplitude por que
perpassa o conhecer filosófico.
O exercício do filosofar proporciona uma nova forma de ver a realidade que nos circunda, sem falar
no crescimento intelectual e pessoal proporcionado pela reflexão e exercício da reflexão em torno dessas
questões humanas que lapidam o agir humano e as relações sociais.
Portanto, o exercício do filosofar no ambiente escolar é de extrema necessidade para a formação
discente por proporcionar um exercício mental marcado pela organização de idéias, atitude crítica frente às
situações impostas, e formação mais integral diante da construção do conhecimento que a filosofia trás em
suas abordagens.
Filosofar é educar para o pensar, mas educar de forma dialógica com os diversos saberes no intuito
de proporcionar maior capacidade intelectiva e crescimento humano.
6
FERREIRA, Nilda T. Cidadania: uma questão para a educação. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993, p. 221.
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4 Referências Bibliográficas
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Editora Martin Claret, 2004.
FERREIRA, Nilda T. Cidadania: uma questão para a educação. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1993.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2002.
JAPIASSU, Hilton Ferreira. et al.Dicionário Básico de Filosofia. 3 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
JAPIASSU, Hilton. Um Desafio à Filosofia: Pensar-se nos Dias de Hoje/ Hilton Japiassu – São Paulo:
Editora Letras e Letras, 1997.
SOUZA, Herbert Jose de. Ética e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1994.
ROUSSEAU, Jean Jacques. Do contrato social; Ensaio sobre as línguas; Discurso sobre a origem e os
fundamentos das desigualdades entre os homens; Discurso sobre as ciências e as artes. São Paulo:
Abril Cultural, 1983.
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