A CARACTERIZAÇÃO DA LEISHMANIOSE: o contexto norte mineiro DAYANE SOARES RUAS [email protected] Bolsista de Iniciação Científica - UNIMONTES ANETE MARÍLIA PEREIRA [email protected] Professora do Departamento de Geociências - UNIMONTES RESUMO O objetivo deste trabalho é evidenciar estudos sobre a Leishmaniose identificada pela suas formas de ocorrência: a Leishmaniose Visceral e a Leishmaniose Tegumentar. Para isto, foi feito um levantamento bibliográfico acerca da leishmaniose no Norte de Minas com enfoque em Montes Claros – MG, além de pesquisa de dados secundários lidos e informações oriundas do Manual de Vigilância e controle do Ministério da Saúde. Observou-se que a Leishmaniose é uma doença que acompanha o homem desde os tempos remotos. Com o estudo foi possível analisar a importância dos agentes responsáveis pela Saúde na ajuda à prevenção dessa doença e na contenção da proliferação do inseto vetor no Norte de Minas. Palavras-chave: Leishmaniose. Norte de Minas. Montes Claros. INTRODUÇÃO Não há como iniciar um estudo empírico sem nos atentarmos para os conceitos que irão dar sustentação ao mesmo. No nosso caso específico, encontramos em Lacaz (1972, p.1) uma das definições mais utilizadas para a Geografia médica, quando ele afirma que A Geografia Médica é a disciplina que estuda a geografia das doenças, isto é, sua patologia ligada à luz dos conhecimentos geográficos. Conhecida também por Patologia geográfica, Geopatologia ou Medicina geográfica (...) é o resultado da interligação dos conhecimentos geográficos e médicos, mostrando a importância do “meio geográfico” no aparecimento e distribuição de uma determinada doença, visando disponibilizar bases seguras também para os programas de saúde publica. Isso significa que há uma estreita ligação entre algumas doenças e o ambiente no qual elas ocorrem. Quando se estuda uma doença partindo do pressuposto da Geografia Médica, deve-se considerar ao lado do agente etiológico, do vetor, do reservatório, do hospedeiro intermediário e do Homem suscetível, os fatores geográficos representados pelos fatores físicos, fatores humanos ou sociais e fatores biológicos. A Geografia médica é uma disciplina dinâmica, pois constantemente notam-se focos de moléstias antigas ou extinguem-se focos recentes. O presente artigo busca evidenciar estudos sobre a Leishmaniose identificada pela suas formas de ocorrência, com ênfase na Leishmaniose Visceral tendo como objetivo de estudo descrever os processos de transmissão, evolução e de prevenção da doença. MATERIAL E MÉTODOS Para atender a esse objetivo foram utilizados os seguintes procedimentos metodológicos: revisão de literatura e pesquisa de dados secundários lidos e analisados diversos artigos que tem alguma correlação com o tema desenvolvido neste, a partir de pesquisas por meio de livros, além de informações oriundas do Manual de Vigilância e controle do Ministério da Saúde. RESULTADOS E DISCUSSÃO A Leishmaniose ou Leishmaníase é uma doença infecciosa, porém não contagiosa pelo modo homem-homem considerada primariamente como uma zoonose podendo acometer o homem, quando este entra em contato com o ciclo de transmissão do parasito, transformando-se em uma antropozoonose. A Leishmaniose se manifesta de modo diversificado tanto no que diz respeito à forma quanto ao grau de periculosidade. A forma mais comum em Minas Gerais é a do tipo tegumentar, que compromete o tecido das células, podendo ocorrer a migração de feridas da área infectada para outras partes do corpo. Já a forma visceral atinge baço, fígado e medula óssea e a difusa ataca a pele, causando um tipo diferente de lesão (LIMA, s/d). De acordo com o Ministério da Saúde (2006), nas áreas urbanas o principal reservatório é o cão1 que por sua vez é a principal fonte de infecção. Já nos ambientes silvestres os reservatórios são outros são as raposas e os marsupiais. Os vetores da Leishmaniose Visceral são os insetos denominados de flebotomíneos popularmente são conhecidos 1 Em outras palavras, a leishmaniose é provocada por um protozoário que fica na corrente sanguínea do cão que atua como hospedeiro. A doença é transmitida pelos mosquitos flebotomíneos que picam o cão e depois as pessoas. por mosquito palha, tatuquira, cangalinha, asa branca, asa dura e palhinha dependendo da região. Os mosquitos, devido ao seu pequeno tamanho, são capazes de atravessar as malhas dos mosquiteiros e telas. Apresentam cor amarelada ou acinzentada e suas asas permanecem abertas quando estão em repouso. No homem a Leishmaniose Visceral pode se manifestar compulsoriamente e com características clinicas de evolução graves, seu diagnóstico deve ser feito de forma rápida e precisa e o mais precocemente possível. No cão essa doença é de evolução lenta e de início insidioso. Nos últimos anos, a doença vem se tornando um importante problema de saúde pública. A leishmaniose visceral encontra-se atualmente entre as sete endemias consideradas prioritárias no mundo. De acordo com Freitas et al., (2006) “em Minas Gerais, os municípios de Belo Horizonte, Montes Claros, Ribeirão das Neves, Janaúba, Santa Luzia e Paracatu correspondem a 56% das notificações do Estado” . Neste estado, o norte de Minas é uma região de grande concentração de casos. A referida região abrange oitenta e nove municípios que apresentam baixos indicadores socioeconômicos, sendo que entre os anos de 2001 e 2005, esta região registrou 45% dos casos de leishmaniose visceral do estado e, apenas o município de Montes Claros, representou 17%. Nota-se que em Montes Claros-MG há condições favoráveis para o aparecimento e manutenção das taxas da doença como: presença elevada do vetor, grande número de reservatórios caninos, e ambiente favorável. De acordo com Gomes et al (2009, p.2) caracterizada como uma doença rural, vem apresentando um processo de urbanização com crescente expansão para cidades de médio e grande porte, principalmente nas regiões sudeste e centro-oeste. É uma doença em expansão no Norte de Minas e também vem apresentando uma forte tendência à urbanização, fato este já destacado por diversos autores Segundo Monteiro et al., no município de Montes Claros é encontrado um ambiente característico e propício à ocorrência de LV. As habitações são, em sua maioria, extremamente pobres, com deficiência na coleta de lixo e no saneamento básico. Em algumas áreas, muitos moradores possuem baixos índices socioeconômicos e a convivência com animais domésticos é bastante elevada, resultando em acúmulo de matéria orgânica e proporcionando condições favoráveis para a ocorrência da transmissão da doença. O elevado número de registro da doença na cidade de Montes Claros deve-se ainda ao fato de ser essa cidade a que possui o único hospital público de referência para o Sistema Único de Saúde no tratamento – o Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF) - e atende pacientes procedentes de toda a região norte mineira. O Sinan/SMS registrou, no período de janeiro de 2001 a outubro de 2007, 288 casos de leishmaniose visceral município de Montes Claros. A tabela 1 mostra a evolução da doença nos anos de 2008 e 2009. Tabela 1: CASOS DE LEISHMANIOSE VISCERAL POR ANO MUNICÍPIO DE RESIDÊNCIA BOCAIUVA BRASILIA DE MINAS CAPITÃO ENEAS CORAÇÃO DE JESUS ENGENHEIRO NAVARRO ESPINOSA FRANCISCO SÁ GRÃO MOGOL GUARACIAMA ICARAÍ DE MINAS ITACAMBIRA ITACARAMBI JAÍBA JANAÚBA JANUÁRIA JEQUITAÍ JURAMENTO MANGA MATIAS CARDOSO MIRABELA MONTALVÂNIA MONTE AZUL MONTES CLAROS NOVA PORTEIRINHA OLHOS D’ÁGUA PINTÓPOLIS PIRAPORA PORTEIRINHA RIO PARDO DE MINAS SALINAS SÃO FRANCISCO SÃO JOÃO DA PONTE SÃO JOÃO DAS MISSÕES SÃO JOÃO DO PACUI SERRANÓPOLIS DE MINAS TAIOBEIRS URUCUIA VÁRZEA DA PALMA VARZELÂNDIA VERDELÂNDIA TOTAL Fonte: Agência Regional de Saúde 2008 8 7 4 1 1 0 3 1 0 1 0 2 5 3 1 1 0 2 7 2 1 3 36 0 0 1 3 3 0 2 3 2 0 1 1 1 0 8 0 1 116 2009 11 1 0 0 1 1 0 0 1 0 1 0 1 5 2 0 2 0 4 0 0 6 36 1 1 0 5 3 1 2 2 0 3 0 1 0 1 0 3 0 95 TOTAL 19 8 4 1 2 1 3 1 1 1 1 2 6 8 3 1 2 2 1 2 1 9 72 1 1 1 8 6 1 4 5 2 3 1 2 1 1 8 3 1 211 Os dados mostram a preponderância de Montes Claros na ocorrência da doença. Como o cão funciona como reservatório do protozoário as estratégias de combate à doença implica ações de vigilância da saúde desses animais. A esse respeito, o jornal Estado de Minas do dia 21/08/2012 notifica: Começa hoje em Montes Claros (Norte de Minas) um trabalho que visa ao combate da leishmaniose visceral, doença também conhecida como calazar, com o uso de uma coleira à base da substância deltramina a 4%, que funciona como inseticida e repelente e protege os cães contra o transmissor da doença, o mosquito flebótomo. Montes Claros é a segunda cidade do país a ser beneficiada com o projeto piloto do Programa Federal de Controle da Leishmaniose Visceral, uma ação inédita no mundo, que englobará 12 municípios em sete estados brasileiros. O primeiro a receber o projeto foi Teresina. Segundo dados do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Montes Claros, de 2007 a 2011 foram confirmados 129 casos em humanos, com 10 óbitos. Entre 44.228 exames preventivos em cães na cidade, realizados no período de 2009 a 2011, foram diagnosticados 2.472 casos positivos do calazar – em todos os casos de confirmação da doença, é recomendado o sacrifício dos animais. Ainda de acordo com o CCZ, a cidade possui uma população de aproximadamente 60 mil cães e a estimativa de que 5% deles estejam contaminados com a enfermidade. Há contradições quanto a necessidade de sacrificar os animais, mas essa tem sido a medida mais comum na cidade e na região. Para os pacientes o tratamento especifico de acordo com Lacaz (1972) visa através da terapêutica especifica eliminar as fontes primárias da infecção para os vetores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como se sabe a Leishmaniose é uma doença que acompanha o homem desde os tempos remotos e tem suas fases onde em determinados períodos há maior incidência de casos, e há períodos com menor incidência de casos nas regiões geográficas. Este trabalho mostrou as variadas formas que a Leishmaniose pode se apresentar e se manifestar, uma vez, que foram destacados os processos de transmissão e as subespécies dessa doença, não deixando de destacar os vetores causadores. Destacou-se também a sua ocorrência em municípios do Norte de Minas. Assim foi possível analisar a importância dos agentes responsáveis pela Saúde na ajuda à prevenção dessa doença e a conter a proliferação do inseto vetor no Norte de Minas e a conscientizar a população a não ocupação desordenada do território para que não haja ali mais um fator para contribuir para a proliferação do inseto. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Vigilância e controle da leishmaniose visceral. Brasília-DF: Editora do Ministério da Saúde; 2006.120 p.: il.color – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). FREITAS, J.S. et al. Levantamento dos casos de leishmaniose registrados no município de Jussara, Paraná, Brasil. Arq. Cienc. Saude Unipar, Umuarama, v. 10, n. 1,p. 23-27, 2006. GOMES, Ludmila Mourão Xavier et all. Características clínicas e epidemiológicas da leishmaniose visceral em crianças internadas em um hospital universitário de referência no norte de Minas Gerais, Brasil. In: Revista brasileira de epidemiologia. vol.12 n.4 São Paulo, Dec. 2009. Jornal Estado de Minas do dia 21/08/2012 LACAZ, c. s. Introdução à Geografia Médica Do Brasil. São Paulo: Edgard Blucher, Editora da Universidade de São Paulo, 1972. 568 p LIMA, Daniel. Leishmaniose se alastra por irresponsabilidade. Jornal A nova democracia. N.20, s/d. Disponível em http://www.anovademocracia.com.br/no-25/645leishmaniose-se-alastra-por-irresponsabilidade MOURA, K.V.R; LIMA, G.F; MAGALHÃES, S. C. M. A Expansão da Leishmaniose Tegumentar Americana no Município de Bocaiúva-Minas Gerais. Anais I Simpósio Internacional Sobre Território e Promoção da Saúde. Uberlândia, 2012. NEVES, David Pereira. Parasitologia Humana. 11ª Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005. Mg.gov.br. Disponível em: http://www.saude.mg.gov.br/noticias_e_eventos/montesclaros-promove-acoes-combate-e-prevencao-a-leishmaniose. Acesso em: 09 de Ago. 2012 In360. Disponível em: http://in360.globo.com/mg/noticias.php?id=14331. Acesso em: 09 de Ago. 2012.