10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A Módulo 11 Equações Diferenciais Parciais Em muitos processos físicos (que na verdade compõe a maioria dos problemas reais) existem duas ou mais variáveis independentes associadas a uma variável de interesse, de forma que os modelos envolvendo estas variáveis são governados por Equações Diferenciais Parciais e não ordinárias. Os módulos anteriores mostraram claramente que já é difícil solucionar muitas das equações diferenciais ordinárias. O que pode-se dizer então a respeito de sistemas que envolvam mais de uma variável independente? Sem dúvida a solução, quando existe, é ainda mais complicada. Felizmente é possível a solução de diversas EDP’s. Este módulo introduzirá o método mais importante para a resolução de EDP, que é o método de separação de variáveis. Em essência, o método de separação de variáveis substitui a equação diferencial parcial por um sistema de equações diferencias ordinárias que representa a EDP. Nota-se que a solução é geralmente expressa em termos de um somatório (usualmente uma série infinita), obtida em função das EDO’s. O método de séries de Fourier é necessário para a determinação das constantes multiplicando as funções periódicas. Para exemplificar o método, consideremos o problema da condução de calor em uma aleta isolada termicamente em sua lateral, portanto permitindo a troca térmica somente através das suas extremidades, ou seja, em x=0 e em x=L. r =a LATERAL ISOLADA x=0 x=L Figura 1. Esquema da Aleta isolada na lateral. Considera-se também que as dimensões da secção transversal são tão pequenas que a temperatura pode ser considerada uniforme em cada secção da aleta. Fisicamente podemos dizer que L>>>a, de forma que nestas condições a temperatura em uma dada secção transversal é constante. Nas condições formuladas acima, A variação da temperatura na aleta é governada pela seguinte EDP: 2 .TXX T 1 Equação 1 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A Na qual: 2 corresponde a difusividade térmica; TXX corresponde a segunda derivada da temperatura com respeito a direção axial x; T corresponde a primeira derivada da temperatura com respeito ao tempo . Sabe-se que a difusividade térmica 2 pode ser dada por: k Equação 2 Cp A dedução da equação acima encontra-se no livro Boyce-DiPrima. Alguns valores de difusividade térmica estão tabelados na Tabela 10.1.1 do mesmo livro. 2 Assume-se que a distribuição de temperatura inicial é um dado do problema. Desta maneira: Tx, 0 f ( x ) 100 OC 0xL Equação 3 Neste caso assume-se que a aleta está a uma temperatura inicial uniforme Finalmente assumiremos que ambas as extremidades da barra são expostas a uma temperatura de 20OC a partir do instante inicial. Desta maneira: T0, T, 20 OC Equação 4 A resolução do problema consiste em se determinar o perfil de temperatura T(x,) que satisfaça a equação (1) a condição inicial (3) e as condições de contorno (4). Primeiramente aplicamos uma mudança de variáveis para a simplificação do problema. Chamamos: Ux, Tx, 20 Equação 5 Desta forma: Ux,0 80 OC U0, U, 0 OC Equação 6 O problema é linear , visto que as derivadas de U são todas elevadas a primeira. Trata-se ainda de uma equação homogênea (sem solução particular). O mesmo não pode ser dito de T(x,). Portanto U(x,) segue uma solução do tipo: Ux, Yx . na qual: 2 Equação 7 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A Y(x) é uma função que depende exclusivamente da posição x; () é uma função que depende exclusivamente do tempo . Desta forma: U XX Y' ' x . Equação 8 U Yx .' Equação 9 Substituindo 8 e 9 em 7 , obtém-se que: 2 .Y' '. Y.' Y' ' 1 ' . Y 2 Equação 10 A equação 10 traz a variação de quatro diferentes funções que são Y’’, Y, ’ e . Estas funções que tem variações diferentes ao longo da distância (x) e do tempo (), respeita a equação 10 ao longo de todo o intervalo de aplicação ( 0 x L e 0). Isto somente é possível se: Y' ' 1 ' . Y 2 Equação 11 No momento sabemos que é uma constante, mas não sabemos se deve ser negativo ou positivo ou até mesmo nulo e isto é exatamente o que analisaremos agora. Antes desta análise, é conveniente desmembrarmos as EDO´s provenientes da equação 11. São elas: Y' '.Y 0 ' 2 .. 0 Equação 12 Equação 13 Análise para =0: Neste caso as equações 12 e 13 se tornam: Y' ' ' 0 Equação 14 Y A.x B Equação 15 C Equação 16 nas quais A, B e C são constantes. Desta maneira: U x, C A x C B Aplicando as condições de contorno (equação 6): 3 Equação 17 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A U0, 0 C.A.0 C.B 0 C.B 0 U, 0 C.A. C.B 0 C.A. 0 C.A 0 Portanto as constantes são iguais a zero e a solução torna-se: Ux, 0 Equação 18 Este resultado leva à uma solução trivial, e não existe interesse em soluções triviais, portanto =0 não produz solução física de interesse. A expectativa agora é que outros valores de produzam soluções possíveis fisicamente. Suponhamos que = 2 seja positivo: Neste caso: Y' '2 .Y 0 Cuja solução é: Yx A. expx B. exp x Equação 19 Da condição de contorno (equação 6) aplicada a esta equação: U0, 0 A. exp0 B. exp 0 0 A B 0 Equação 20 Alguém poderia comentar que a condição de contorno referida aplica-se a U(x,) =Y(x).() e não somente a Y(x). Entretanto, estamos interessados em soluções não triviais, de forma que ()0. Desta maneira, somente a função Y(x) poderá ser zero em x=0 e x=L. Da outra condição de contorno e sabendo-se que B = -A (pela equação 20): U, 0 A. exp A. exp 0 A.exp exp 0 Equação 21 Como o termo das exponenciais será sempre diferente de zero, tem-se que A=0=-B, o que nos conduz mais uma vez a uma solução trivial. Assim sendo, um valor positivo de não produz uma solução física possível. Somente falta tentar atribuir um valor negativo, ou seja: 2 Neste caso: Y' ' 2 . Y 0 4 Equação 22 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A , 2 0 Equação 23 A solução da equação 22 é: Y A.cos x B.sen x Equação 24 Da condição de contorno na posição x=0 sabe-se que U(0,)=0. Como se trata de um regime transiente, (t)0, então: 0 A.cos .0 B.sen .0 A0 Equação 25 Portanto: Y x B.sen . x Equação 26 Da condição de contorno para a posição x=L: B.sen . L 0 Equação 27 Como desejamos soluções não triviais, então B0, portanto sen(.L)=0. Isto é verdade somente se . = n., ou seja: n. L Equação 28 Substituindo para (os valores de são chamado de autovalores): 2 n 2 . 2 L Equação 29 2 Portanto existe solução para = - 2 (negativo). Solução para (): 2 n. ' . . 0 L Equação 30 n. 2 C.exp . . L Equação 31 Logo: 5 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A A solução geral U(x, ) é dada pelo produto de cada uma das soluções (equações 26 e 31), lembrando que dada uma solução da equação, uma combinação linear de soluções também será solução, assim observa-se que a solução da EDP passa a ser: n. 2 n..x U x, Y x . An . sen . exp .. L L n 1 Onde AN=BN.C: Notem que B foi substituído por BN, visto que esta constante depende do valor de N. A solução T(x, ) é dada por: n. 2 n..x T x, 20 A n . sen . exp . . Equação 32 L n 1 L Quando = 0 (condição inicial) sabe-se que T(x, ) é igual a 100, portanto U(x, ) = 100 e a exponencial vale 1. Logo: 80 n. . x L A n .sen n 1 Equação 33 Sendo assim, pode-se determinar o valor de AN através de uma série de senos de Fourier, obtendose: An 160 .1 cos n. n. Equação 34 n. 2 160 n. . x T x, 20 .1 cos n .sen .exp . . t L n. L n 1 Caso as duas extremidades da barra estivessem a temperaturas diferentes, como por exemplo T1=T(x=0, ) = 20 OC e T2=T(x=L, ) = 80 OC, notemos o que acontece para a solução Y(x) se =0. Y' ' 0 Y C. x D Como ’()=0, logo () = E (uma constante). Então: T x 0, T1 A.0 B B T1 na qual: A=C.E e B=D.E. 6 10 Semestre de 2000 Módulo 11 EQ-502/A Como T(x=L,)=T2, então tem-se que: T x L, T2 A. L T1 A T2 T1 L Portanto para =0, nas temperaturas referidas em ambas as extremidades, obtém-se: 60 T T1 T 2 . x T1 . x 20 L L Pode-se então relacionar esta temperatura a variável U da seguinte maneira: T T1 U x, T x, T T x, 2 . x T1 L Desta maneira, obtém-se que U(0,) = 0 e U(L,) = 0, ou seja, o problema torna-se igual ao tratado anteriormente, logo a solução é novamente: n. 2 n. . x U x, A n .sen .exp . . t L L n 1 Já para a temperatura, obtém-se n. 2 T2 T1 n. . x T x, . x T1 A n .sen .exp . . t L L L n 1 Observe que quando o tempo tende a infinito o termo da somatória será igual a zero. Nesta condição tem-se o regime permanente, que será dado somente por T, que é justamente o perfil linear obtido para =0. Assim incluiu-se a solução para =0, sem dificuldade adicional. De todo este cálculo restou explicitar a determinação do valor de An. Esta etapa foi feita utilizandose Séries de Fourier, que é justamente o assunto do Módulo 12. 7