análise da organização espacial dos condomínios - Unifal-MG

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ANÁLISE DA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DOS CONDOMÍNIOS
FECHADOS HORIZONTAIS DE ALTO PADRÃO NO MUNICÍPIO DE
INDAIATUBA (SP)
LETÍCIA BARBOSA RIBEIRO1 e LINDON FONSECA MATIAS2
[email protected], [email protected]
1 Bolsista
de iniciação científica FAPESP e estudante de Geografia – UNICAMP/IG
2 Professor
do curso de Geografia – UNICAMP/IG
Palavras – chave: geoprocessamento; espaço urbano, condomínios fechados, gestão
do território, Indaiatuba
Introdução
O município de Indaiatuba é integrante da Região Metropolitana de
Campinas (RMC) e localiza-se a apenas 90 km da capital do estado de São
Paulo. Tem 321 km² de área, 231.033 habitantes (IBGE, 2015) e taxa de urbanização de 98,99% (SEADE, 2014). É detentor de um PIB de R$ 5.982.815,00;
PIB per capita de R$ 29.069,89; IDHM de 0,788 (IBGE, 2012).
Devido a grande atividade migratória de pessoas da própria RMC, sua
população saltou de 56.237 habitantes em 1980, para 100.984 em 1991, quase
dobrando (ALVES, 2002), devido, principalmente, a instalação de importantes
indústrias, incentivadas pelo fácil acesso ao município, que se estende ao longo da Rodovia Santos Dumont (SP-75), integrando-o ao complexo rodoviário
Anhanguera (SP- 330)/Bandeirantes (SP-348), além disso, localiza-se a apenas 13 km do Aeroporto de Viracopos e é servida pela Rede Ferroviária Nacional, a extinta Ferrovia Paulista S.A (FEPASA).
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Na década de 1990, com a duplicação da Rodovia Santos Dumont (SP075) e a ampliação do movimento internacional do Aeroporto de Viracopos,
novas indústrias, principalmente de alta tecnologia, foram atraídas para Indaiatuba, aumentando a demanda por habitações nas bordas do centro urbano,
surgindo grandes condomínios horizontais de alto padrão em bairros nobres,
como Helvétia e Itaici (KOYAMA e CERDAN, 2011). Atualmente, só os condomínios fechados horizontais correspondem a 16,02% da área urbanizada do
município de Indaiatuba, além disso, chamam atenção por seu porte, pois possuem grandes dimensões, são constituídos por residências de alto padrão e
localizam-se próximos as áreas rurais, cada vez mais afastados do centro da
cidade.
Objetivo
Pretendeu-se, com esta pesquisa, realizar um diagnóstico dos reflexos
da instalação dos condomínios fechados horizontais de alto padrão no processo de urbanização no município de Indaiatuba ao longo das últimas décadas,
com foco na sua organização espacial. Para tanto, lançou-se mão de instrumentos de geoprocessamento para mapeamento e construção de base de dados georreferenciados, que somados ao levantamento bibliográfico e trabalhos
e pesquisas de campo, subsidiaram análises qualiquantitativas do processo de
instalação desses empreendimentos no município, de modo a melhor compreendê-lo.
Fundamentação teórica
Os condomínios fechados são produtos da segregação tanto social como espacial, principalmente do novo padrão de segregação que surge a partir
da década de 1980, sobrepondo-se ao modelo centro-periferia, gerando espaços onde os diferentes grupos sociais encontram-se fisicamente próximos, mas
separados por muros e outros aparatos de tecnologia (CALDEIRA, 2000). Os
condomínios são um dos agentes desse processo que confere nova roupagem
a periferia e torna a área central, que antes era tida como nobre, em espaço
decadente (MOURA, 2008).
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Chamados por Caldeira (2000), de “enclaves fortificados”, os condomínios fechados são
(...) fisicamente demarcados e isolados por muros, grades, espaços
vazios e detalhes arquitetônicos. São voltados para o interior e não
em direção à rua, cuja vida pública rejeita explicitamente. São controlados por guardas armados e sistemas de segurança, que impõem as
regras de inclusão e exclusão. (CALDEIRA, 2000, p. 258).
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Farias (2010) lembra que, com o surgimento do elemento “muro” nas cidades, as ideias de limite aparecem com outra significação, pois não separam
mais a cidade e o campo, ou o urbano do não urbano, mas funcionam como
barreira material que serve de instrumento argumentativo do próprio espaço
urbano, separando os moradores conforme seus hábitos de consumo e possibilidades econômicas. Os muros são uma forma literal de segregação, cuja presença no espaço urbano é uma forte afirmação da diferenciação social (CALDEIRA, 2000). Para a autora, os indivíduos que escolhem viver em enclaves
fortificados, valorizam um estilo de vida entre pessoas do mesmo grupo social
e distante de interações com outras classes.
A segregação retroalimenta a intolerância (SOUZA, 2003), de forma que
quando esses indivíduos optam por viver entre muros, seja para se distanciar
das classes pobres ou da violência urbana crescente, eles recusam os espaços
públicos, que ficam cada vez mais vazios e propícios à violência. Como afirma
Caldeira (2000, p. 259), “(...) eles estão transformando a natureza do espaço
público e a qualidade das interações públicas na cidade, que estão se tornando
cada vez mais marcadas por suspeita e restrições”.
Procedimentos metodológicos
A elaboração da presente pesquisa se deu em quatro etapas principais:
levantamento e revisão bibliográfica, compilação de dados e informações,
construção da base de dados georreferenciados e análise dos resultados obtidos. As atividades de geoprocessamento foram realizadas a partir da base cartográfica de 2002 e ortofotos de 2010 (em arquivos digitais em formato matricial
.tif – Tagged Image File Format) disponibilizada pelo Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC) do Estado de São Paulo. Com esses materiais iniciou-se a elaboração de mapas temáticos com auxílio do software ArcGIS© 10.3.1., a partir
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da técnica de vetorização na tela, dando origem ao mapa de localização dos
condomínios fechados horizontais de alto padrão, assim como mapas temáticos (Mapa da diferenciação do preço do m² nos condomínios fechados horizontais de alto padrão de Indaiatuba e Mapa da instalação de condomínios fechados horizontais – em períodos), que auxiliaram na análise espacial dos dados
obtidos ao longo da pesquisa.
Resultados finais
Atualmente o município conta com 52 condomínios fechados horizontais
de alto padrão, sendo considerado de alto padrão todo e qualquer condomínio
composto por residências unifamiliares não germinadas. Ao fim da pesquisa
observou-se que os condomínios fechados horizontais de alto padrão estão
localizados, em sua maioria, em áreas periféricas do município. Segundo Reis
(2006), a dispersão das classes médias e altas pode ser atribuída como consequência da dispersão dos locais de trabalho, assim como pela proximidade e
facilidade para deslocamentos diários.
Os condomínios mais antigos se localizam, principalmente, na região
sudoeste do município. Nesta se destaca o bairro Itaici, onde estão localizados
os maiores e mais antigos condomínios do município. Segundo Koyama e Cerdan (2009), existem registros de referências ao bairro já nos séculos XVIII e
XIX. Este eixo urbano tornou-se bastante atraente na década de 1980, principalmente como local de residências de veraneio, pois é de fácil acesso, mesmo
estando afastado do núcleo urbano, o que atraiu moradores de outras cidades,
como Campinas e São Paulo.
Entre a década de 1980 e final dos anos 1990, nota-se que os condomínios fechados horizontais se concentram em áreas mais próximas ao núcleo
urbano, principalmente no bairro Helvetia, na porção noroeste de Indaiatuba.
Este bairro, originado de uma colônia de imigrantes suíços, abriga inúmeros
campos de polo e os condomínios Helvetia Polo Country e Helvetia Country,
que têm como premissa o intuito de unir a prática do polo com residência. Os
condomínios lá localizados são, em sua maioria, formados por chácaras utilizadas nos fins de semana.
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Na última década e principalmente a partir de 2010, notou-se o despontar de um novo eixo de expansão de condomínios fechados horizontais de alto
padrão. É nessa região, na porção norte do município, que estão localizados os
lotes mais valorizados, chegando a R$ 1.600,00 por m². Estes novos empreendimentos se destacam por sua localização, a menos de 5 km do centro da cidade, fator bastante ressaltado nas propagandas, assim como a proximidade
às áreas verdes e suas extensas áreas de lazer.
Conclusão
Com a pesquisa realizada em Indaiatuba constatou-se que os condomínios fechados horizontais de alto padrão representam parte significativa da malha urbana do município. Essa dinâmica de uso residencial está presente na
cidade desde a década de 1970, mas vem se expandindo consideravelmente,
principalmente a partir do início dos anos 2000, de maneira concentrada na
região norte do município.
Esses empreendimentos são auto-segregatórios, de modo que impõem
barreiras entre o público e o privado, além disso, aqueles que moram nos condomínios renegam os espaços públicos, que se tornam cada vez mais vazios e
a mercê da violência, que é o motivo principal pelo qual as pessoas optam por
viver entre muros, ou seja, esse processo se retroalimenta.
Referências Bibliográficas
CALDEIRA, T. P. R. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania. São Paulo:
Editora 34 / Editora da Universidade de São Paulo, 2000.
FARIAS, Fernanda Otero de. Análise da dinâmica de valorização diferencial da terra
urbana na cidade de Paulínia (SP). 2014. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Campinas, SP.
KOYAMA, Adriana Carvalho; CERDAN, Marcelo Alves. Indaiatuba: história e
memórias da antiga Freguesia de Cocaes e dos anos que se sucederam desde então.
Fotografia de Adriano Rosa. Campinas, SP: Komedi, 2011.
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MOURA, Gerusa Gonçalves. Condomínios horizontais/loteamentos fechados e a vizinhança (in)desejada: um estudo em Uberlândia/MG. 2008.
REIS, N. Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006.
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SOUZA, Marcelo Lopes de. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2003
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