Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal Área de Concentração Saúde Animal MARIANA BUENO CARVALHO TRATAMENTO DA PITIOSE CUTÂNEA EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA Cuiabá, 2013 MARIANA BUENO CARVALHO TRATAMENTO DA PITIOSE CUTÂNEA EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pósgraduação em Biociência Animal, da Universidade de Cuiabá – UNIC como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre. Orientador: Prof. Dr. Luciano A. Pimentel Cuiabá, 2013 FICHA CATALOGRÁFICA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C331t Carvalho, Mariana Bueno Tratamento da pitiose cutânea em membros de equinos por meio de perfusão regional intravenosa. / Mariana Bueno Carvalho. – Cuiabá, 2013. 78 f. : il. Dissertação apresentada à Universidade de Cuiabá, para obtenção do título de Mestre em Biociência Animal. Orientador: Prof. Dr. Luciano A. Pimentel 1. Veterinária. 2. Patologia. 4. Fungo. 5. Pitiose Equina I. Título. II. Universidade de Cuiabá. CDD 571.995 Normalização e Catalogação na fonte Bibliotecária Valéria Oliveira dos Anjos - CRB1/1713 MARIANA BUENO CARVALHO TRATAMENTO DA PITIOSE CUTÂNEA EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Biociência Animal, da Universidade de Cuiabá – UNIC como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre. Orientador Prof. Dr. Luciano A. Pimentel BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________ Orientador: Prof. Dr Luciano A. Pimentel - UNIC ___________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. Armando de Mattos Carvalho - UNIC ___________________________________________________ Membro Titular: Prof. Dr. Edson Moleta Colodel - UFMT Cuiabá, 01 de novembro de 2013. Conceito Final: _____________ Dedico este trabalho á minha família que tanto me incentivou, pois sem eles nada seria possível. Em especial ao meu pai que mesmo com problemas de saúde não mediu esforços, dedicação e compreensão. AGRADECIMENTOS À Deus por te me dado forças e iluminado meu caminho para que pudesse concluir mais uma etapa da minha vida. A minha co- orientadora, Prof. Dra. Renata Gebara Sampaio Dória, por me aceitar com sua orientada, e mesmo estando distante não mediu esforços. Ao meu orientador Luciano A. Pimentel que me orientou cada passo deste trabalho, por acreditar na minha capacidade e mostrar que sou capaz de chegar onde eu desejo. Aos professores Marco Aurélio M. Pires, Luciane M. Laskoski, Djeison Raimundo, Lívia Saab Muraro pela dedicação dispensado no auxílio a concretização deste trabalho. Armando de Mattos Carvalho, Michelle Igarashi e Edson Moleta Colodel pela disposição, presença e sugestões feitas na banca de qualificação e defesa de tese de mestrado, certamente com o objetivo de enriquecer o trabalho. A minha mãe Ana Clara C. B. Carvalho e meu pai Carlos Roberto de Carvalho, por estarem torcendo e rezando para que meus objetivos sejam alcançados, por todo amor que ambos me dedicaram, meu eterno amor e agradecimento. Ao meu irmão Gabriel pelo carinho e atenção que teve comigo. Ao meu namorado Diego Santos, pelo imenso apoio, esforço, compreensão e companheirismo diário. Ao Programa de Pós-Graduação em Biociência Animal, ao Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária e ao Hospital Veterinário da UNIC, pela oportunidade e apoio à realização de pesquisas científicas. Aos amigos que fiz durante a realização do projeto, pela verdadeira amizade que construímos em particular aqueles que estavam sempre ao meu lado (Luciana Palu, Sidney, Vinicius e Rafael). À Universidade de Cuiabá (UNIC), Faculdade de Medicina Veterinária e Hospital Veterinário da UNIC, por fomentar este projeto de pesquisa. À Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), Laboratório de Patologia Veterinária, pela colaboração com a realização do método de imuno-histoquímica. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso (FAPEMAT) que acreditou e auxiliou no desenvolvimento deste estudo experimental. À Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos que apoiou este estudo experimental, fornecendo a anfotericina B. O maior respeito que você pode ter por um adversário é entrar e ganhar dele. (autor desconhecido) RESUMO CARVALHO, Mariana Bueno. Tratamento da pitiose cutânea em membros de equinos por meio de perfusão regional intravenosa. 2013. 78 f. Dissertação (Mestrado em Biociência Animal) – Coordenação de Pós-Graduação e Pesquisa, Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2013. A pitiose é uma doença cutânea, gastrintestinal ou multissistêmica, granulomatosa, que atinge equinos, caninos, bovinos, ovinos, felinos e humanos e ocorre em áreas tropicais, subtropicais ou temperadas, causada pelo oomiceto Pythium insidiosum. Este organismo filamentoso encontra-se em ambientes aquáticos, especialmente em regiões pantanosas, com temperaturas superiores a 25º C, como o Pantanal MatoGrossense. Em equinos, a enfermidade caracteriza-se pela formação de granulomas eosinofílicos, com a presença de massas necróticas denominadas “kunkers”. Tradicionalmente, o diagnóstico da pitiose no Brasil baseia-se nos dados clínicoepidemiológicos, exame histopatológico e/ou micológico sendo confirmado pela imuno-histoquímica. A pitiose causa prejuízos significativos na criação de equinos no Brasil, seja pela morte dos animais, pela perda de função ou pelos gastos com tratamentos. Vários métodos terapêuticos têm sido utilizados, principalmente em equinos, incluindo tratamento medicamentoso (antimicóticos), cirúrgico e imunoterápico. Existe dificuldade no tratamento devido às características deste oomiceto, que não apresenta esteróis de membrana, sendo, portanto, resistente à maioria dos antimicóticos. Palavras-chave: Dermatologia. Infecção. Fungo. ABSTRACT CARVALHO, Mariana Bueno. Pythiosis treatment cutaneous of equine limb by means of intravenous regional perfusion. 2013. 78 f. Dissertation (MSc Animal Bioscience) - University of Cuiabá, Cuiabá, 2013. Pythiosis is a cutaneous, gastrointestinal or multisystem granulomatous affecting horses, dogs, cattle, sheep, cats and humans and occurs in tropical, subtropical and temperate caused by oomycete Pythium insidiosum). This filamentous organism found in aquatic environments, especially in marshlands, with temperatures above 25 º C, as the Pantanal of Mato Grosso. In horses, the disease characterized by eosinophilic granuloma formation in the presence of necrotic masses called "kunkers". Traditionally, the diagnosis of pythiosis in Brazil is based on clinical, epidemiological, histopathological and / or mycological, was confirmed by immunohistochemistry. Pythiosis cause significant damage in the creation of horses in Brazil, is the death of the animals, the loss of function or by spending on treatments. Several therapeutic methods have been used primarily in horses, including drug treatment (antifungal), surgical and immunotherapy. There is some difficulty in handling due to the characteristics of the oomycete that has no membrane sterols, therefore, resistant to most antimycotics. Key words: Dermatology. Infection. Fungus. LISTA DE QUADROS Quadro 1. Valores referentes ao número e porcentagem (%) de equinos que apresentavam feridas grandes (> 25 cm2) e feridas pequenas (< 25 cm2), submetidos à técnica de perfusão regional intravenosa do membro com anfotericina B e DMSO e de equinos do grupo controle... 63 Quadro 2. Discriminação da localização anatômica, tempo de evolução e dimensões da ferida (cm2) na primeira avaliação (D0) dos equinos submetidos à técnica de perfusão regional intravenosa do membro com anfotericina B e DMSO e nos equinos do grupo controle. .............. 64 LISTA DE FIGURAS Figura 1. Ilustração do progresso da condição corporal de equinos do grupo tratado com anfotericina B e DMSO, aplicada pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, entre a primeira (D0) e a terceira semana (D21) avaliação........................................................................... 60 Figura 2. A - Derme, área focal de necrose (Kunkers) e dermatite eosinofilica, neutrofílica e tecido de granulação H&E 10x. B - área de central de necrose com imagens (negativas) não coradas, tubulares, ramificadas e irregulares (hifas) H&E 40x. C - Hifas irregulares e ramificadas no centro ou na periferia dos “kunkers”, Gömori (GMS) 40x. D imunomarcação positiva com uso do kit (LSAB - DAKO) para Pythium insidiosum 40x. ......................................................................................... 62 Figura 3. Ilustração da evolução da cicatrização de feridas de pitiose de eqüinos tratados com aplicação única de anfotericina B e DMSO, pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, no primeiro dia (D0) e nos dias 7. ................................................................................................ 65 Figura 4. Ilustração da evolução da cicatrização de feridas de pitiose de equinos tratados com anfotericina B e DMSO, aplicada pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, na primeira avaliação (D0) e no último dia (D60) do período pós-operatório. ..................................... 66 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 ARTIGO 1 - REVISÃO DA LITERATURA ............................................................. 15 2.1 HISTÓRICO ........................................................................................................ 15 2.2 ETIOLOGIA ......................................................................................................... 16 2.3 EPIDEMIOLOGIA ................................................................................................ 17 2.4 PATOGENIA ....................................................................................................... 19 2.5 SINAIS CLÍNICOS ............................................................................................... 21 2.6 DIAGNÓSTICO ................................................................................................... 23 2.6.1 Diagnóstico Laboratorial da Pitiose Equina ................................................ 23 2.6.2 Imuno-histoquímica ....................................................................................... 24 2.6.3 Sorologia ......................................................................................................... 24 2.6.4 Isolamento ...................................................................................................... 25 2.7 TRATAMENTO.................................................................................................... 26 2.7.1 Imunoterapia ................................................................................................... 32 3 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 35 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 36 4 ARTIGO 2 .............................................................................................................. 48 TRATAMENTO DA PITIOSE EM MEMBROS DE EQUINOS POR MEIO DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA COM ANFOTERICINA B ASSOCIADA AO DIMETILSULFÓXIDO ......................................................................................... 49 4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 51 5 MATERIAL E MÉTODOS ...................................................................................... 54 5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA ......................................................................................... 54 5.2 AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA ..................................................................... 54 5.3 TÉCNICA DE IMUNO-HISTOQUÍMICA .............................................................. 55 5.4 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL................................................................... 57 5.5 AVALIAÇÃO DAS FERIDAS ............................................................................... 58 6 RESULTADOS ....................................................................................................... 60 6.1 AVALIAÇÃO DA DOSE DE ANFOTERICINA B .................................................. 66 7 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 67 8 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 72 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 73 APÊNDICE ................................................................................................................ 77 APÊNDIA A - DISCRIMINAÇÃO DAS CIDADES DE ORIGEM, RAÇA, SEXO, IDADE E PESO (KG) DOS EQUINOS QUE FORAM TRATADOS COM ANFOTERICINA B E DMSO, APLICADA PELA TÉCNICA DE PERFUSÃO REGIONAL INTRAVENOSA DO MEMBRO E DOS EQUINOS DO GRUPO CONTROLE .............................................................................................................. 78 13 1 INTRODUÇÃO A zigomicose denominada Pitiose é uma doença multissistêmica, piogranulomatosa causada pelo oomiceto Pythium insidiosum e que afeta equinos, caninos, bovinos, ovinos, felinos e humanos (DE COCK et al., 1987; LEAL et al., 2001b; SANTURIO et al., 1998). A pitiose ocorre em regiões de clima tropical, subtropical e temperado, em áreas alagadiças ou com histórico de inundação e temperaturas médias de 25ºC (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996). No mundo, o Pantanal brasileiro é o local de maior incidência de pitiose equina, apesar de não se ter dados completos sobre a incidência da pitiose no Brasil, esta representa um grande problema na criação de equinos (LEAL et al., 2001). Nas porções norte e sul do Pantanal, onde a doença tem maior ocorrência e é conhecida como "ferida-brava" ou "ferida-da-moda" (CARVALHO et al., 1984; MEIRELES et al., 1993), certamente a enfermidade causa perdas econômicas de grandes proporções na equinocultura (SANTURIO et al., 2004). Atribui-se estas observações, principalmente, pelo fato do pantanal ser uma planície inundável de aproximadamente 140.000 km², situada na região centro-oeste do Brasil e figura como a maior área de planície inundável do mundo, fatores estes que predispõem há ocorrência da pitiose (SILVA; ABDON, 1998). Nesta região a enfermidade vem sendo estudada devido pantanal MatoGrossense ser uma das regiões predominantes para a ocorrência de pitiose no Brasil, devido seu clima quente e úmido particular e a existência de muitas lagoas, lagos, pântanos e áreas alagadas proporcionando um ambiente favorável para o P. insidiosum (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995). No Pantanal Sul-Mato-Grossense, a maioria dos casos de pitiose equina é registrada entre os meses de fevereiro e maio (verão-outono), período que corresponde ao ápice das cheias, acarretando prejuízos significativos, direta ou indiretamente. O prejuízo provocado pela pitiose é bem documentado e inclui disfunção, custos de tratamento e mortes (FREY JR et al., 2007; LEAL et al., 2001; MENDOZA; ALFARO, 1986). Estudos mais recentes visaram métodos de tratamento adequado e de eficácia satisfatória, pois os métodos convencionais não produzem bons resultados. Nesta casuística, foi demonstrado que, em associação com a excisão cirúrgica do 14 tecido de granulação, a infecção causada por P. insidiosum, utilizando perfusão intravenosa regional de 50 mg de anfotericina B foi uma técnica eficaz para o tratamento da pitiose em membros de equinos, com efeitos colaterais mínimos (DÓRIA et al., 2012). Um dos principais fatores para o insucesso no tratamento é o diagnóstico tardio, pois com lesões iniciais consegue-se promover terapêutica adequada (LEAL et al., 2001). Do contrário, os animais enfermos evoluem, por alterações consequentes, para a morte ou são encaminhados para eutanásia. O presente estudo será dividido em dois capítulos. O capítulo 1 tem por objetivo fazer uma revisão da epidemiologia, sinais clínicos, patologia, formas de controle e profilaxia da pitiose equina no Brasil. O capítulo 2 trata-se de um estudo do tratamento cirúrgico e farmacológico das lesões de membros de equinos com diagnóstico de pitiose, que ingressaram ao Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá (UNIC), Cuiabá, MT. 15 2 ARTIGO 1 - REVISÃO DA LITERATURA 2.1 HISTÓRICO Os primeiros relatos de pitiose foram creditados a Smith, em 1884 e Drouin, em 1896, quando comentaram a presença de hifas em lesões de equinos. A primeira evidência definitiva da causa ser um fungo foi feita por Fish, em 1895 quando descreveu hifas com características de um ficomiceto em cortes histológicos de lesões cutâneas, em equinos, na Flórida. O agente da pitiose Pythium insidiosum é um pseudo-fungo. O primeiro isolamento desse organismo filamentoso foi realizado em 1901 por Haan e Hoogkamer, a partir de granulomas subcutâneos em equinos. Esses autores chamaram a doença de "hyphomycoses destruens", porém não conseguiram classificar o agente. Somente em 1961 o agente foi identificado, recebendo o nome de Hyphomyces destruens (MENDOZA et al., 1996). Austwick e Copland (AVEMANN, 1974) verificaram a capacidade desse agente em produzir zoósporos biflagelados, permitindo classificá-lo como um fungo da família Pythiaceae, ordem Peronosporales, que deveria ser incluído no gênero Pythium. No entanto, a denominação Hyphomyces destruens continuou sendo utilizada nas descrições da doença (MCMULLAN et al.,1977; MURRAY et al.,1978). Ichitani e Amemiya (1980) compararam as características reprodutivas de diferentes espécies de Pythium e classificaram um isolado de equino como Pythium gracile (MIDDLETON, 1943). De Cock et al. (1987) analisaram isolados de equinos, bovinos, cães e humanos e concluíram que se tratava do mesmo organismo, o qual foi denominado Pythium insidiosum e que essa nova espécie era igual as anteriormente descritas (Pythium sp - Austwick e Copland; Pythium gracile – Ichitani e Amemiya e Hyphomyces destruens – Bridges e Emmons). Embora o nome do agente tenha sido estabelecido, a sua classificação taxonômica continuou sendo discutida nos anos seguintes. Segundo De Cock et al. (1987), os oomicetos são seres eucariotas produtores de zoósporos biflagelos, característica comum ao Pythium insidiosum, incluindo-o na ordem Peronospolares, filo Oomycota e reino Protista. Mendoza et al. (1996), apresentaram o P. insidiosum como um organismo do reino Chromista, filo Pseudo-fungi, classe Oomycetes, ordem Pythiales, e família Pythiaceae. Entretanto, estudos detalhados sobre a 16 classificação dos fungos dividiram os organismos anteriormente classificados como fungos em três reinos: Fungi, Stramenopila e Protista (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996). Baseado nessa classificação, o agente etiológico da pitiose pertence ao reino Stramenopila, filo Oomycota, família Pythiaceae, gênero Pythium e espécie P. insidiosum. 2.2 ETIOLOGIA As zigomicoses constituem um conjunto de afecções micóticas de estreita semelhança anatomopatológica, que acomete a pele e o tecido subcutâneo, o trato digestório e o respiratório, especialmente de equinos (BIAVA et al., 2007; RODRIGUES e LUVIZOTTO, 2000). Constituem ainda um grupo complexo de doenças piogranulomatosas que inclui a pitiose, a conidiobolomicose e a basidiobolomicose causadas pelo Pythium insidiosum, Conidiobolus coronatus e Basidiobolus haptosporus (Basidiobolus ranarum), respectivamente (BIAVA et al., 2007; MENDOZA et al., 1996; UBIALAI et al., 2012). O gênero P. insidiosum possuem reprodução assexuada, reprodução sexuada oogâmica, parede celular composta de ß-glucanos, celulose e hidroxipolina, talo diplóide, mitocôndria com crista tubular e características moleculares e bioquímicas próprias, destacando-se uma rota alternativa para a síntese de lisina (MOORE-LANDECKER, 1996), particularidades que os diferenciam dos fungos verdadeiros. A ausência de componentes esteróides na membrana plasmáticas dos oomicetos tem importância clínica porque as maiorias das drogas antifúngicas atuam na molécula do ergosterol (SANTURIO et al., 2004). O P. insidiosum é a única espécie do gênero que além de plantas pode infectar animais mamíferos, incluindo o homem. A infecção no homem e em animais, no entanto, é casual e não tem importância na manutenção do agente no ambiente. Nos animais há somente crescimento vegetativo das hifas, sem produção das formas propagativas infectantes (oósporos e zoósporos). Também não há relatos de transmissão entre os animais e o homem (MENDOZA et al., 1993). 17 2.3 EPIDEMIOLOGIA A pitiose é considerada uma doença emergente (VANITTANAKOM et al., 2004), caracterizada como uma enfermidade crônica, que acometi animais de todas as idades, sexo e raças. Tem ocorrência cosmopolita em áreas temperadas, tropicais e subtropicais, com relatos na Argentina, Austrália, Brasil, Colômbia, Costa Rica, Estados Unidos, Haiti, Índia, Indonésia, Japão, Nova Zelândia, Papuá Nova Guiné, Tailândia (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995; FOIL, 1996; MENDOZA et al., 1996, MENDONZA; NEWTON 2005), Venezuela (PÉREZ et al., 2005) e África (RIVIERRE et al., 2005) afetando diversas espécies domésticas, selvagens e também humanos (MARQUES et al., 2006). Das espécies domésticas a maioria dos casos corresponde a lesões cutâneas em equinos (SANTURIO et al., 2006) porém vem sendo registrados casos em bovinos (GABRIEL et al. 2008, GRECCO et al., 2009), ovinos (TABOSA et al., 2004) e caninos (PEREIRA et al., 2010). Nos últimos anos, é crescente também o número de relatos de Pitiose em espécies não-domésticas como urso, jaguar, camelo e tigre (CAMUS et al., 2004; GROOTERS, 2003). No Brasil, o primeiro relato, em equinos, ocorreu no Rio Grande do Sul, por Santos e Londero (1974), apartir desse momento, os relatos de Pitiose no país, somam em estados como o Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Paraíba e Pernambuco (CARVALHO et al., 1984; FREY JR et al., 2007; HEADLEY; ARRUDA, 2004; LEAL et al., 2001a,b; LUVIZARI et al., 2002; MEIRELES et al., 1993; REIS JR; NOGUEIRA, 2002; SALLIS et al., 2003; SANTOS et al., 1987; TABOSA et al., 1999; TÚRY; COROA, 1997) e em bezerros do Pantanal mato - grossense (SANTURIO et al., 1998). Nas infecções pelo microorganismo P. Insidiosum não há relatos de transmissão direta entre os animais ou entre animais e humanos (MENDONZA et al., 1996). Comumente, os animais afetados permanecem por longos períodos em contato com águas paradas em lagos, açudes ou locais pantanosos (CHAFIN et al., 1995). Portantoas condições ambientais são fundamentais para o desenvolvimento do organismo no meio ambiente. Para a produção de zoósporos são necessárias 18 temperaturas entre 30º e 40º e o acúmulo de água em banhados e lagoas, já que a maioria dos casos de infecção por pitiose ocorre durante ou após a estação chuvosa, entre os meses de fevereiro e maio (verão-outono), período máximo das cheias do Pantanal, (MILLER; CAMPBELL, 1982). Em águas estagnadas a temperatura é variável de acordo com a profundidade do solo, com a irradiação solar, com a nebulosidade, com a temperatura ambiente, com a hora do dia e com a presença de ventos. Visto que a temperatura em águas paradas é superior a do ar, tanto em dias de alta irradiação solar como em dias nublados ou chuvosos. Além disso, a água tem capacidade de reter calor contribuindo para que as flutuações térmicas sejam bem mais atenuadas do que as flutuações térmicas do ar (ANGELOCCI; VILLA NOVA; 1995). Isso sugere que mesmo que a temperatura do ambiente seja inferior a 30°C ou que tenha variações durante as várias horas do dia, as águas onde P. insidiosum está presente podem ter a temperatura ideal para a zoosporogênese (ANGELOCCI; VILLA NOVA; 1995). Este fato poderia explicar o aparecimento de lesões de pitiose nos meses mais frios do ano. Essas características epidemiológicas foram observadas no Pantanal mato grossense, onde a maioria dos casos de pitiose equina ocorrem entre os meses de fevereiro e maio, que corresponde as estações do verão e outono, (LEAL et al., 2001). Provavelmente, o Pantanal brasileiro seja o local de maior ocorrência e prevalência de pitiose equina no mundo, constituindo-se planície inundável de, aproximadamente, 140.000 km2, com população estimada em 140.000 equinos, sendo a pitiose um problema frequente para a criação de equinos (MENDOZA et al.,1996; SANTURIO et al., 2006ª; SILVA et al, 1995). Situações epidemiológicas com características semelhantes foram observadas em alguns estudos da enfermidade, tais como na Paraíba por Tabosa et al. (1999), ocorrendo nos meses de julho a outubro, sete a dez meses após o início das chuvas, e por Santos et al. (1987) no Rio Grande do Sul descreveram a ocorrência de 12 casos de pitiose equina nos meses mais quentes do ano (janeiro – março). Diferentes estudos de prevalência da pitiose nas espécies domésticas apontam que a espécie equina é mais frequentemente afetada. De acordo com Santos et al. (2011), a incidência de pitiose em equinos em seu estudo foi 57,23 vezes a observada em bovinos. Mesmo sendo exposto às mesmas condições 19 ambientais, o padrão de comportamento das espécies provavelmente influencia a ocorrência da patologia. Equinos se mantêm mais tempo nos locais alagadiços, quando comparados com os bovinos, os quais preferem, ou são conduzidos às coxilhas nas situações de alagamentos. Desta forma os equinos têm maior risco de contato com as formas infectantes do pseudo-fungo. (MENDOZA et al., 1996; SANTURIO et al. 2006). Embora não haja dados epidemiológicos bem definidos estima-se que a incidência de 1% entre os aproximadamente 120 mil equinos, somente a região do Pantanal, acarretaria em custos com a perda de animais doentes que poderiam alcançar R$ 1.000.000,00 para o ano de 2009 (TOMICH et al., 2010). Santos et al., (2011d) observaram em uma população de 3205 equinos, entre 2009 e 2010, na região do Pantanal norte, incidência de 5,88 a 28,57% de casos de pitiose, com índices de mortalidade e letalidade (similares) variando de 40% a 100% e risco para equinos de 12,5%. 2.4 PATOGENIA Os zoósporos são biflagelados, procedentes de esporângios filamentosos que são a forma de propagação do agente. O agente habita água estagnada infectando plantas aquáticas. Reproduz-se de forma sexuada, por esporangiósporos móveis, liberados dos esporângios, que se aderem em plantas aquáticas e/ou restos vegetais em decomposição. Nos animais, a instalação desses oomiceto ocorre, principalmente, em soluções de continuidade na pele (BIAVA et al., 2007; MENDOZA et al., 1993; MILLER, 1983). Eles são liberados periodicamente em águas pantanosas e infectam equinos e outros mamíferos que frequentam esses locais. Os zoósporos móveis são atraídos para o pêlo dos animais, penetram na pele através de lesão preexistentes produzindo a enfermidade (MILLER; CAMPBELL,1982), comprovado pela análise in vitro que evidencia a atração dos zoóporos por substâncias presentes nos pêlos e tecidos de animais e vegetais, essas substâncias atuam com um adesivo para o zoóporo permitindo a formação do tubo germinativo (MENDOZA et al.,1993). Essas observações sustentaram a teoria de infecção, sugerindo que os eqüinos em contato com água contaminada poderiam atrair os zoósporos (MENDOZA et al., 1993; MILLER, 1983). 20 Outros autores sugeriram a possibilidade de penetração dos zoósporos através dos folículos pilosos, baseados na detecção de hifas no interior do folículo de bovinos infectados naturalmente ou no fato da quimiotaxia ser mais ativo na região do pêlo encontrada dentro do folículo piloso (SANTURIO et al.,1998). Essa observação pode questionar a necessidade de lesão na pele para que ocorra a germinação dos zoósporos. Além disso, diferenças individuais de suscetibilidade, ao exemplo do que ocorre em humanos (talassemia), parecem ocorrer também em equinos. Macroscopicamente, a lesão demonstra intensa proliferação de tecido esbranquiçado em forma sinuosa, com ramificação com bordas escuras e repletas internamente de material amarelado em forma de coral marinho conhecido como “kunkers”. Apresentando ainda material necrótico friável, observado somente em eqüinos. Ao ser pressionada a lesão, facilmente consegue-se extrair “kunkers” com facilidade de onde foram isoladas estruturas posteriormente identificadas como P. insidiosum. Os eqüinos com tais lesões atípicas de pitiose não apresentam emagrecimento progressivo e, após um ano de observação as lesões permanecem do mesmo aspecto e tamanho (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995; MARTINS et al., 2006; MENDONZA; AJELLO, 1996), Microscopicamente, os kunkers são grandes massas eosinofílicas, formadas ainda por celulares necróticos, inclusive colágenos e as hifas do P. insidiosum localizam-se nas margens dessas estruturas. A principal manifestação clínica desse distúrbio é a eliminação abundante de corrimento serossanguinolento, mucopurulento e filamentoso, sendo esses chamados de sanguessugas em função de seu aspecto serpejante, cujos trajetos drenantes representam os núcleos de necrose contendo o organismo (TABOSA et al., 1999). Em cortes histológicos corados com coloração especial de prata, é possível observar as hifas com paredes espessas, esparsamente septadas, irregularmente ramificadas (normalmente em ângulo reto) e medindo de 2 a 6 um de diâmetro (BROWN et al., 1988; CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995; MILLER; CAMPBELL, 1984). Os achados histopatológicos variaram de tecido conjuntivo fibroso com áreas de necrose de coagulação e focos de mineralização (sem infiltrado eosinofílico) à granuloma eosinofílico crônico, porém sem a observação de “kunkers” (ALLISON; GILLIS, 1990; MORTON et al., 1991; PURCELL et al., 1994). 21 2.5 SINAIS CLÍNICOS Os equinos são os mamíferos mais atingidos pela pitiose, não havendo predisposição pela idade, raça ou sexo. As lesões mais características são subcutâneas, que atingem principalmente as extremidades distais dos membros e porção ventral da parede toraco-abdominal, provavelmente devido ao contato com águas contaminadas com zoóporos (REIS et al., 2003; SANTOS et al., 2011c; SANTOS et al., 2011d). As lesões podem aparecer isoladas ou múltiplas (KAUFMAN, 1990; TABOSA et al., 1999), iniciando pequenas e com aspecto inofensivo, de forma circular, podendo aumentar sobre uma área que estava apenas tumefeita, de maneira ulcerativa. Os sinais clínicos da pele caracterizam-se por lesões ulcerativas, tem forma irregular, ramificada, com aspecto arenoso e penetram no tecido granular, dentro de seios formados ao longo do seu trajeto. O tamanho das lesões depende do local e duração da infecção e apresenta secreção serossanguinolenta, mucossanguinolenta, hemorrágica e, às vezes, muco-purulenta e fétida, que drenam dos tecidos piogranulomatosos e necróticos, semelhantes a corais chamadas internacionalmente, de “kunkers”, que variam o tamanho de 2 a 10 mm de diâmetro. A lesão alastra-se rapidamente pelos tecidos, ocasionando à formação de tecido de granulação e hemorragias. Essa perda sanguínea pode ser suficiente para causar anemia nos animais acometidos (KNOTTEMBELT; PASCOE, 1998; LUVIZARI et al., 2002). Na maioria dos casos, cada animal apresenta foco único da lesão, porém, lesões cutâneas multifocais já foram relatadas (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992; MILLER; CAMPBELL, 1982). Já a pitiose intestinal apresenta como a segunda forma mais comum da doença nos equinos e caracteriza-se por episódios de cólica devido a presença de massas tumorais que causam a diminuição ou obstrução do lúmen intestinal. Os dados de excisão cirúrgica e necropsia mostram ulceração intestinal e massas nodulares que podem atingir ate 20 cm de diâmetro localizadas na parede do jejuno (SANTURIO; FERREIRO, 2008). A claudicação é comum entre os cavalos com lesões nos membros, além de apresentarem prurido, dor, apatia, inapetência, perda de peso e hipoproteinemia sendo que a claudicação é frequente em animais afetados nos membros havendo na 22 maioria das vezes necessidade de eutanásia (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995). O prurido e a dor levam os animais à automutilação, como mordidas e traumas se debatendo contra objetos rígidos na tentativa de aliviar o desconforto. No entanto, há descrição de lesões cutâneas multifocais (SANTOS et al., 2011c; SANTOS et al., 2011d; SANTURIO; FERREIRO, 2008), disseminação para órgãos internos (REIS JR. et al., 2003) e casos atípicos no Pantanal brasileiro em que os animais com pitiose apresentam emagrecimento progressivo, com lesões deformantes recobertas com pele escurecida e espessa, mas sem a constante saída de secreções e manutenção do aspecto e tamanho após um ano de observação (SANTURIO; FERREIRO, 2008; SANTOS et al., 2011d). Muitas lesões ósseas, na maioria das vezes são limitadas aos ossos adjacentes ás lesões subcutâneas crônicas dos membros, comumente são refratárias aos tratamentos convencionais, caracterizando-se por exostoses, áreas de osteólise, sinais de osteomielite ao exame radiológico e presença de granulomas eosinofílicos, além de identificação de hifas em áreas de necrose ao exame histopatológico (POOLE; BRASHIER, 2003). Já foram relatados casos de metástase via linfática para os pulmões e linfonodos regionais (cervicais inferiores, inguinais e submandibulares), onde apresentavam “kunkers”, e sendo possível o isolamento do fungo. Na grande maioria, os linfonodos regionais encontram-se aumentados de volume, porém isso nem sempre caracteriza metástase (GOAD, 1984; LEAL et al., 1997; MURRAY et al., 1978). 23 2.6 DIAGNÓSTICO 2.6.1 Diagnóstico Laboratorial da Pitiose Equina Embora o P. insidiosum possua semelhança estrutural com os microorganismos fúngicos, acaba tendo características específicas em seu ciclo biológico, fazendo com que a maioria dos laboratórios não disponha de estrutura funcional correta para sua identificação. No entanto, a identificação precoce da doença, torna-se difícil. O diagnóstico diferencial inclui habronemose, neoplasia, tecido de granulação exuberante e granulomas fúngicos ou bacterianos (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992). O isolamento do P. insidiosum pode ocorrer mediante o aspecto das colônias e das características das hifas (BROWN et al., 1988; FISCHER et al., 1994; HOWERTH; BROWN; CROWER, 1989; PURCELL et al., 1994). Este isolamento requer colheita de material adequado e pode ser dificultado por contaminações secundárias da lesão. Na avaliação microscópica com emprego de KOH 10% (exame direto), realizada geralmente da extração de Kunkers (massas necróticas), observa-se P. insidiosum desenvolvendo hifas hialinas e eventualmente septadas, morfologia que facilmente pode ser confundida com a maioria dos fungos filamentosos (MENDONZA et al., 2009). O crescimento das hifas pode ser visto a partir de 24 horas após a incubação a 37 C, e estas se apresentam submersas no meio e com coloração branca e hialina (GROOTERS; GEE, 2002). Uma vez que P. insidiosum não produz estruturas reprodutivas nos meios tradicionais de cultura, a indução da zoosporogênese (formação assexuada de zoósporo) pode ser obtida a partir do cultivo de P. insidiosum em folhas de grama estéreis que posteriormente são transferidas para uma solução de sais minerais, que deve incluir (PEREIRA et al., 2008). Na histologia observa inflamação granulomatosa e granulocítica, os “kunkers” de tamanho variado, forma circular e contonos irregulares, contendo hifas, colágeno, arteríolas e infiltrado inflamatório principalmente eosinofílico. Já nos casos de pitiose equina que o animal não se encontra perto dos laboratórios de referência, o envio de soro para realização de ELISA, de Kunkers e tecidos para cultivo microbiológico e análise histopatológica estão caracterizadas 24 como as principais formas utilizadas de diagnóstico. 2.6.2 Imuno-histoquímica O diagnóstico precoce da pitiose pode ser feito com métodos imunohistoquímica (TROST et al., 2009) ou pelos testes sorológicos para detecção de anticorpos, como imunodifusão em gel de Agar, Enzyme – Linked Immunosorbent Assay (ELISA), Western blot, aglutinação em látex e testes imunocromatógráficos (BOTTON et al., 2011). A técnica de imuno-histoquímica foi descrita pela primeira vez em 1988, desde então está sendo utilizada por vários autores, com inúmeras vantagens, pois possibilita a diferenciação do P. insidiosum de outros fungos, pela utilização de coloração seletiva com a metodologia da peroxidase indireta, com uma alta especificidade no diagnóstico (REIS JR., NOGUEIRA, 2002; BIAVA; et al., 2007). 2.6.3 Sorologia A utilização de técnicas sorológicas foi impulsionada por Miller e Campbell (1982), que desenvolveram as técnicas de imunodifusão em gel de ágar, fixação do complemento e hipersensibilidade intradérmica, para o diagnóstico e monitoramento da resposta imunológica em eqüinos afetados. Os testes realizados em eqüinos com pitiose clínica, demonstraram que apresenta alta sensibilidade e especificidade para a detecção de anticorpos anti-P. insidiosum (MILLER; CAMPBELL, 1982). Kaufman, Mendoza e Standard (1990), demonstraram a eficiência da imunodifusão em gel de ágar para o soro-diagnóstico e diagnóstico diferencial das entomoftoromicoses causadas por Basidiobolus ranarum e Conidiobolus coronatus em humanos e animais, assim como para pitiose, Mendoza et al. (1997) desenvolveram um teste de ELISA para o soro-diagnóstico de pitiose em humanos e animais, utilizando antígeno solúvel de hifas. Os resultados indicaram que o ELISA é eficiente para o diagnóstico da pitiose e possui especificidade semelhante à imunodifusão em gel de ágar, porém com maior sensibilidade. No Brasil, Rosa et al. (1999) desenvolveram um teste de ELISA para diagnóstico da pitiose eqüina e Pinto et al. (1999) descreveram a padronização de teste ELISA para detecção de IgG em coelhos imunizados com antígenos de P. 25 insidiosum. Um teste de “dot-blot” modificado foi desenvolvido para detecção de IgG anti-pythium em coelhos e eqüinos (ROSA et al., 1999). A técnica desenvolvida utilizou sistema de luminescência química para visualização da reação, no entanto, pode ser adaptada para um sistema de visualização direta na membrana, podendo ser utilizada como um teste de campo, possuindo boa especificidade, sensibilidade, praticidade e baixo custo (LÜBECK et al., 1999). 2.6.4 Isolamento O sucesso no isolamento de P. insidiosum é alto quando as amostras de biópsias forem armazenadas ou transportadas à temperatura ambiente, com o acréscimo de antibióticos, entre 1 e 3 dias antes de seu processamento no laboratório. Quando o meio de transporte da biópsia não contiver antibióticos é melhor transportá-la a 4ºC. Estes dados sugerem que a inibição do crescimento bacteriano, que contamina a amostra, aumenta as chances de isolamento de P. insidiosum dos tecidos infectados (MILLER, 1983). Os procedimentos de diagnósticos da pitiose segundo (QUINN et al., 2005), segue os seguintes itens: 1. A natureza e a distribuição das lesões e o histórico de acesso á água estagnada em regiões onde a pitiose ocorre podem sugerir a doença; 2. Os espécimes, incluído material de biópsia e amostras de lesões cutâneas em equinos; 3. Cortes de tecidos são usados para demonstrar formas de hifas; 4. Técnicas de imunofluorescência ou imunoperoxidase podem ser usadas para identificar P. insidiosum nos cortes de tecidos; 5. Agar dextrose Sabouraud, inoculado com material das lesões, é incubado aerobiamente a 37º C por 24 a 48 horas. As colônias, que são planas esbranquiçadas e radiadas, podem ter até 20µm de diâmetro após 24 horas; 6. Critérios para identificação dos isolados: morfologia colonial, hifas asseptadas; 7. Identificação especifica deve ser realizada em um laboratório de referência; 26 8. Teste sorológicos, tais como Difusão em Ágar-gel e ELISA, tem sido usados para diagnósticos em animais. 2.7 TRATAMENTO A maioria dos antifúngicos não possuem uma reposta adequada no tratamento de infecções pelo P. insidiosum, tanto em animais quanto em humanos, sendo considerados ineficientes pela maioria dos autores (FOIL, 1996; SATHAPATAYAVONGS et al., 1989). A explicação para tal fato é inerente às características do agente, implicado pela composição da parede celular, principalmente pela ausência de algumas substâncias encontradas na constituição dos fungos comuns, como exemplo, a ausência de quitina na parede e de esteroides (ergosterol) na membrana celular, que são alvos pelos princípios ativos (FOIL, 1996). Já evidenciado a dificuldade em obter êxito no tratamento, diversas tentativas e alternativas estão sendo desenvolvidas como a utilização de antimicótico, cirurgias e a imunoterapia (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992; FOIL, 1996; SANTURIO et al., 2006a). Além disso, o sucesso depende de fatores ligados ao animal e a história natural da doença, como o tamanho e localização da lesão, o tempo de instalação, a idade e estado nutricional do animal (MEDONZA et al., 1997). No tratamento químico, as drogas mais utilizadas até o momento foram a anfotericina B, cetoconazole, miconazole, fluconazole e itraconazole, além dos compostos iodínicos como iodeto de potássio e sódio (SHENEP et al., 1998). Não observando resultados satisfatórios. Em estudos realizados demonstrando a eficácia dos medicamentos para o tratamento observaram que a anfotericina B não obteve atividade satisfatório, já o fluconazol, cetoconazol e miconazol inibiram o cresimento in vitro de P. insidiosum. Em outro teste, todos os fármacos testados (anfotericina B, flucitosina, miconazol e griseofulvina) não inibiram o crescimento do oomiceto, porém, o itraconazol apresentou atividade moderada, e apenas a terbinafina foi ativa, entretanto, a associação deste dois obteve efeito sinérgivo e eficaz em infecção facial no homem (SEKHNON; PADHYE; GARG, 1992). Uma terapia complementar importante é a administração sistêmica de 27 antimicrobianos, porém a administração local e regional permite atingir picos maiores de concentrações, muito superiores à administração sistêmica e além de oferecer vantagens como: maior segurança de que o antimicrobiano alcance concentrações terapêuticas no local de infecção; concentrações do antimicrobiano, locais e regionais, superiores à concentração inibitória mínima, o que reduz o aparecimento de resistência emergente; diminuição ou eliminação do risco de desenvolvimento de efeitos adversos sistêmicos, como a nefrotoxicidade, a ototoxicidade e a neurotoxicidade e custo econômico reduzido, o que possibilita a utilização de fármacos onerosos em animais de grande porte, como os equinos (BERTONE; CAPRILE; DAVIS, 1990). O grande determinante para uma resposta clínica à terapia com antimicrobianos é que a concentração inibitória mínima deste fármaco seja atingida no tecido infectado. Dessa forma, os tecidos infeccionados apresentam, normalmente, trombose vascular e isquemia, limitando a entrega dos antibióticos sistêmicos aos tecidos infectados, em concentrações suficientes para efeito bactericida (McILWRAITH, 1983). Já a perfusão regional é uma técnica que produz maiores concentrações de antimicrobianos nas porções distais dos membros quando comparada à administração sistêmica (BUTT et al., 2001). Existe algumas técnicas para a administração local ou regional de medicamentos, como: a administração intra-articular, os implantes de polimetilmetacrilato (PMMA) ou de polímeros biodegradáveis impregnados com antibióticos, as bombas de infusão e a perfusão regional intraóssea e intravenosa (ERRICO et al., 2008; GILLIAM et al., 2008; MARTÍNEZ, 2004; WERNER; HARDY; BERTONE, 2003). Dessas técnicas a de escolha é a perfusão regional, sendo de fácil realização e baixo custo, onde promove a difusão local do medicamento aos tecidos, pelo sistema venoso regional, utilizando-se de uma veia superficial. Para a realização desta técnica, um garrote (torniquete) é colocado proximal ao local de infecção (ou lesão) e um antimicrobiano é injetado, sob pressão, no sistema venoso, de forma que a pressão utilizada durante a infusão intravenosa do fármaco resulte em difusão do antibiótico ao tecido afetado (BUTT et al., 2001; GAGNON et al., 1994; MURPHEY; SANTSCHI; PAPICH, 1994; MURPHEY; SANTSCHI; PAPICH, 1999). Muitos estudos buscam a dose apropriada do fármaco, melhor volume de administração, o intervalo apropriado entre as perfusões e o número de perfusões 28 necessárias para conter condições sépticas nas porções distais dos membros de equinos. Já foi demonstrado que doses inadequadas podem, em excesso, promover necrose de tecidos moles na região perfundida (SANTSCHI; ADAMS; MURPHEY, 1998). Da mesma forma, não existem dados informando o volume de perfusão ideal para que se alcance a completa difusão do fármaco no tecido afetado. Presumivelmente, o volume a ser infundido deve estar correlacionado com o tamanho do membro (BUTT et al., 2001). Whitehair et al. (1992c) demonstraram em seus estudos que a realização da perfusão regional do membro, em equinos adultos, com um grama de gentamicina promoveu a concentração de 221,2 ± 71,4 µg/mL deste fármaco no líquido sinovial, 24 horas após o procedimento e que quatro administrações de 2,2 mg/kg, a cada seis 31 horas, via intravenosa, deste mesmo antibiótico, promoveu a concentração de apenas de 7,6 ± 1,6 µg/mL, intra-articular. Atualmente, há pesquisas que comprovam que a técnica de perfusão regional do membro de equinos com antibióticos, como gentamicina, ceftiofur, amicacina, vancomicina e enrofloxacina promove concentrações ósseas, intra-articulares, peri-articulares e nos tecidos perfundidos pelo fármaco, várias vezes maiores que a concentração inibitória mínima dos patógenos, durante várias horas (ERRICO et al., 2008; GILLIAM et al., 2008; MARTÍNEZ, 2004; MURPHEY; SANTISCHI; PAPICH, 1999; PILLE et al., 2005; WERNER; HARDY; BERTONE, 2003). A perfusão regional tem sido considerada mais eficaz que a administração sistêmica para o tratamento de artrite infecciosa e osteomielite (KETTNER; PARKER; WATROUS, 2003; WHITEHAIR et al., 1992a,b,c), permitindo a eliminação de infecções resistentes à terapia convencional e sua aplicação, em combinação com a antibioticoterapia sistêmica, incrementa as taxas de sobrevivência até valores maiores que 70% (FINSTERBUSH; ARGAMAN; SACKS, 1970; PALMER; HOGAN, 1999; SANTSCHI; ADAMS; MURPHEY, 1998). Outras afecções dos equinos que tem sido tratadas com resultados satisfatórios são a laminite séptica, a osteíte séptica da falange distal e dos ossos sesamoideos proximais, a artrite séptica das articulações dos dedos, a tenossinovite séptica, a bursite séptica do sesamóide distal e feridas no casco (SANTSCHI; ADAMS; MURPHEY, 1998). Os ossos da porção isolada pelo torniquete também são perfundidos e, neles, a concentração do antibiótico também é elevada (BERTONE, 2003). 29 A anfotericina B é um antimicótico pertencente ao grupo dos antibióticos macrolídeos poliênicos, seu nome deriva da característica anfotérica de sua estrutura molecular, formando tanto sais solúveis em meio ácido como em meio básico (ASHER; SCHURARTZMAN, 1977). Produzido naturalmente pelo actinomiceto Streptomyces nodosus cujo mecanismo de ação se baseia na ligação com os esteróis da membrana celular, provocando alteração funcional com saída de metabólitos essenciais, nucleotídeos e proteínas, levando à morte celular (RICHARDSON; WARNOCK, 1993; SANDE; MANDELL, 1987). Foi isolada em meados de 1955 (GOLD; STOUT; PAGANO, 1956; VANDEPUTTE; WACHTEL; STILLER, 1956) e, desde então, apenas poucos agentes com ação antimicótica foram descobertos e tornaram-se viáveis para o tratamento das micoses sistêmicas. A atividade da anfotericia B é máxima na faixa de pH 6,0 a 7,5 e a ação pode ser fungistática ou fungicida, dependendo da concentração sérica e tecidual do antimicótico e da suscetibilidade do patógeno (FILIPPIN; SOUZA, 2006). No final dos anos 50, em 1965, a anfotericina B foi aprovado pela United States Food and Drug Administration (U.S. FDA) como o primeiro agente antimicótico (WU, 1994; DISMUKES, 2000). A anfotericina B possui atividade contra a maioria das espécies de Candida spp (BURGESS et al., 2000; CLANCY; NGUYEN, 1999; DAVEY et al., 1998; PFALLER et al., 2002), fungos filamentosos, incluindo o Aspergillus fumigatus, Aspergillus flavus, Fusarium oxysporum, Fusarium solani, Rhizopus arrhizuz e Paracoccidioides brasiliensis (HAHN; HAMDAN, 2000). A anfotericina B também possui atividade contra Histoplasma capsulatum (GONZALES et al., 2000; LI et al., 2000), Cryptococcus neoformans (DAVEY et al., 1998), Coccidioides immits e Blastomyces dermatitidis (LI et al., 2000). Sua atividade foi considerada limitada contra algumas cepas de Fusarium spp (ESPINELINGROFF et al., 1997). Cepas de Leishmania (Viannia) braziliensis também foram suscetíveis a ação da anfotericina B, sendo também empregada na terapia de leishmaniose visceral (DAVIDSON et al., 1991; DURAND et al., 1998) e mucocutânea (AMATO et al., 2000). A anfotericina B é pouco solúvel na maioria dos solventes, com exceção do dimetilsulfóxido (DMSO) e da dimetilformamida, é praticamente insolúvel em soluções aquosas de pH neutro (LEGRAND et al., 1992). Sendo assim interage especificamente com o ergosterol, esteróide constituinte exclusivo da parede celular 30 fúngica, visto que muitos dos efeitos tóxicos que lhe são atribuídos são resultados da sua capacidade em ligar-se ao colesterol e outros constituintes da membrana celular de mamíferos (BOLARD; JOLY; YENI, 1993; HUANG et al., 2002; MORIBE; MARUYAMA; IWATSURU, 1999; WHITE; PETERSON; HARTSEL, 1989). Do ponto de vista bioquímico, a resistência aos antibióticos poliênicos poderia estar associada ao aumento ou diminuição dos esteróides da membrana, especialmente ergosterol e seus precursores. Na ação da anfotericina B existem mudanças nas propriedades de leucócitos, como na inibição da quimiotaxia (BERNAUDIN et al., 1987), na produção de anticorpos (BOGGS; CHANG; GOUNDALKAR,1991), nas propriedades funcionais dos leucócitos polimorfonucleares (PMN) (JULLIEN et al., 1991), na diminuição significativa da fagocitose e na destruição de Candida albicans (PALLISTER; WARNOCK, 1989), quando altas doses de anfotericina B foram utilizadas (BERNAUDIN et al., 1987). Várias são as reações adversas agudas da anfotericina B, no homem, são: febre, calafrios (MORA-DUARTE et al., 2002), tremores, náusea (NUCCI et al., 1999), vômitos e dor de cabeça (WALSH et al., 1999) e frequentemente, estão relacionados à infusão intravenosa. Hipocalemia, hipernatremia, diurese aumentada (GERBAUD et al., 2003), hipomagnesemia, disfunção renal e efeitos tóxicos sobre a medula óssea (anemia, leucopenia e trombocitopenia) estão associados com administrações repetidas (SCHÖFFSKI et al., 1998). O tratamento sistêmico com anfotericina B quase sempre resulta em algum grau de disfunção renal, total (MORA-DUARTE et al., 2002). Efeitos neurotóxicos são raros (RACIS et al., 1990), a cardiotoxidade foi descrita (CRAVEN; GREMILLION, 1985; SCHÖFFSKI et al., 1998). O antibióticos quando manipulados de forma correta, possuem uma efeito de cura excelente. Até agora, a anfotericina B constitui a base terapêutica das infecções fúngicas graves (FILIPPIN; SOUZA, 2006). O tratamento cirúrgico apresenta bons resultados em lesões pequenas e superficiais, nas quais seja possível a retirada de toda área afetada, em lesões maiores é necessário associar a administração de medicamentos, porém a recorrência é comum (MILLER, 1981). A excisão cirúrgica deve atingir as bordas da pele, ao redor da região ulcerada, que, aparentemente, encontra-se íntegra. Em muitos dos casos ocorrem 31 hemorragias que são contidas por cauterização, ligadura dos vasos ou bandagens compressivas (BIAVA et al., 2007). De acordo com alguns autores, é importante a associação da excisão cirúrgica com medicamento, como observado por Gonzales et al. (1979) e Chaffin, Schumacher e McMullan (1992) que o o iodeto de potássio é mais eficiente quando utilizado após a extirpação cirúrgica do granuloma. Dória, Freitas e Linardi (2012) descrevem casos de perfusão regional com Anfotericina B (50 mg) nos membros de eqüinos, em uma ou duas aplicações, associada à remoção cirúrgica, promove a remissão da infecção por Pythium insidiosum, embora isso causou inflamação local na administração local em alguns cavalos. Os efeitos secundários, como a inflamação, edema e dor poderia ter sido causado por inflamação vascular comumente induzida pelo fungo. Para minimizar tais efeitos secundários, a Anfotericina B, foi diluído em solução de ringer com lactato com pH neutro a infusão com poucas reações adversas sobre os tecidos diretamente expostos ao fármaco, constituindo-se uma alternativa terapêutica, viável e eficaz, para o tratamento de pitiose em membros de eqüinos, promovendo cicatrização completa das feridas. Sedrish et al. (1997) relataram o sucesso do uso de raio laser vermelho de alumínio, neodímio e ítrio como tratamento suplementar após a remoção cirúrgica de lesões de pitiose equina. Apesar da taxa de recidiva ser relativamente alta, a excisão cirúrgica é a mais utilizada e a que apresenta os melhores resultados, quando realizada o mais precocemente possível e de forma abrangente. 32 2.7.1 Imunoterapia Atualmente, tem sido proposta a imunoterapia empregando-se culturas de fungo fenolizadas, expostas às ondas ultrassônicas, onde as hifas são maceradas e liofilizadas (BIAVA et al., 2007; MARIELLO; DE BOER, 2000). A imunoterapia pode ser realizada utilizando-se vários antígenos derivados de Pythium insidiosum. Esta modalidade terapêutica constitui uma alternativa concreta para o controle da doença e tem apresentado resultados promissores (BIAVA et al., 2007; LEAL et al., 2001b; MILLER, 1981). Porém, o diagnóstico precoce e a intervenção cirúrgica, associado ao tratamento imunoterápico, são fundamentais para a eficácia do tratamento (MENDOZA; HERMANDEZ; AJELLO, 1993). Uma alternativa para o tratamento da pitiose eqüina foi proposto por Miller, em 1981, que desenvolveu um imunoterápico a partir de culturas do próprio agente (hifas). Monteiro (1999) testou um imunobiológico produzido a partir de culturas do Pythium insidiosum, baseando-se na metodologia descrita por Miller (1981), obtendo índices de cura entre 50% e 83,3%. Nas décadas de 80 e 90, vários autores utilizaram a imunoterapia. Mendoza e Alfaro (1986) utilizaram o sobrenadante das culturas como antígeno e obtiveram recuperação de 3 entre 5 animais tratados. Mendoza, Hermandez e Ajello (1993) compararam vacinas produzidas com massa celular e com antígeno solúvel concentrado, em 71 eqüinos afetados, obtendo 60% e 70% de cura, respectivamente. Segundo Mendoza, Hermandez e Ajello (1993), o soro de eqüinos infectados, testado pelo immunoblot, reagiu contra três proteínas (28, 30 e 32 kDa) imunodominantes e amostras de soro eqüino, obtidas um ano após a cura pela imunoterapia, também apresentaram anticorpos contra esses três antígenos. Estudos recentes com Western immunoblot sugerem a presença de cinco antígenos imunodominantes no P. insidiosum e avaliação de soro eqüino pré e póstratamento (com imunoterápico) não revelou alterações no perfil de imunoglobulinas G durante a imunoterapia. Isso permite um questionamento sobre a real importância desses antígenos na cura dos animais (LEAL et al., 1997). Mendoza, Ajello e McGinnis (1996) acredita que os mecanismos envolvidos na cura pela imunoterapia, baseiam-se principalmente na resposta celular. Isto é sustentado pelas alterações teciduais após início da imunoterapia, com mudança de 33 inflamação eosinofílica no início para uma resposta mononuclear, mediada por macrófagos e linfócitos T. Os autores acreditam que os antígenos presentes no imunógeno induziriam esta alteração no padrão inflamatório, culminando com a cura dos animais. Entretanto, Newton e Ross (1993) verificaram que o nível de anticorpos anti-Pythium aumenta em eqüinos doentes submetidos à imunoterapia. De acordo com os autores, o aumento do nível de anticorpos auxiliaria na cura. Todos os animais apresentaram reação inflamatória moderada a severa no local da injeção subcutânea da vacina e formação de abscesso estéril em 30% dos casos. 7 a 10 dias após a primeira injeção do imunoterápico os animais apresentaram redução do prurido, drenagem na superfície da lesão, expulsão dos “kunkers” e fibrose dos granulomas. Na Costa Rica, com um imunobiológico obtido a partir do sobrenadante da cultura visando diminuir a reação no local de aplicação três de cinco animais foram curados. Duas características dos imunoterápicos produzidos até então; necessidade de serem mantidos a 4º C e tempo de armazenagem relativamente curto, praticamente impediam seu uso no Pantanal devido as condições inerentes a região. Para viabilizar o uso da imunoterapia no tratamento da pitiose eqüina no Pantanal foi produzido, a partir de culturas de isolados do agente, um imunoterápico liofilizado que possibilitasse armazenagem por um período longo em temperatura ambiente (ALEXOPOULOS; MIMS; BLACKWELL, 1996). Entre os anos de 2001 e 2006 mais de 2800 doses do imunoterápico tem sido utilizada em 18 estados brasileiros localizados nas regiões Sul, Sudeste, Centro Oeste, Norte e Nordeste (TRISCOTT; WEEDON; CABANA, 1993). Exceto em algumas regiões, como no Pantanal, onde a doença é mais prevalente e os veterinários e mesmo os proprietários estão familiarizados com a doença, de modo geral, as solicitações do imunoterápico é realizada após o insucesso com outras abordagens terapêuticas. A aplicação do imunoterápico baseada muitas vezes apenas no diagnóstico clínico não conclusivo e o não acompanhamento dos casos, contudo, não permite avaliar a eficiência do imunoterápico nas diferentes regiões do país (THITITHANYANONT et al., 1998). O prognóstico da pitiose, em equinos, depende do comprometimento de estruturas adjacentes à ferida, como tendões, articulações, fáscias e tecido ósseo, além da linfadenopatia regional ser também frequente, proporcionando a disseminação do agente a regiões distantes como trato gastrintestinal e pulmões 34 (BIAVA et al., 2007; RODRIGUES; LUVIZOTTO, 2000). A evolução é rápida, pois, devido ao prurido, os animais dilaceram a ferida, causando sangramento profuso, levando ao emagrecimento e debilidade orgânica (BIAVA et al., 2007; LEAL et al., 2001a). 35 3 CONCLUSÃO Com base na revisão de literatura realizada, conclui-se que novas terapias alternativas devem ser estudadas, sendo assim conhecer as características do agente em questão é fundamental para diagnóstico da doença. Embora exista diferentes técnicas para o tratamento da pitiose em equinos, atualmente poucos resultados satisfatórios são descritos no curso da doença. 36 REFERÊNCIAS ABRAHAMSEN, E. et al. Tourniquet-induced hypertension in a horse. Journal of American Veterinary Medical Association, v.194, p.386-8, 1989. ALEXOPOULOS, C. J.; MIMS, C. W.; BLACKWELL, M. Phylum Oomycota. In:______. Introductory Mycology. 4. ed. New York: John Wiley & Sons, 1996, p. 683-737. ALFARO, A. A.; MENDOZA L. Four cases of equine bone lesions caused by Pythium insidiosum. 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Vericou-se que cem por cento (100 %) dos cavalos tratados com anfotericina B associada com DMSO teve cicatrização completa num período entre 6-9 semanas após um tratamento, dependendo do tamanho da lesão. A infusão não induziu efeitos colaterais locais. Estudos hematológicos revelaram anemia inicial associada com baixa contagem de hemácias e hematócrito, que foram resolvidos durante o período de tratamento. Um aumento significativo na contagem total e diferencial leucocitários foi encontrado antes do tratamento que diminui para valores fisiológicos durante as semanas após o tratamento. A análise bioquímica de soros não apresentaram alterações significativas nos parâmetros determinados utilizados para a avaliação das funções hepática e renal. A infusão regional com administração de anfotericina B em uma solução de DMSO a 10% por perfusão foi eficaz para o tratamento da pitiose em membros equinas, sem efeitos colaterais. Palavras chave: Análise bioquímica. Equinos. Infecção. 50 ABSTRACT The equine pythiosis is endemic in the Brazilian Pantanal and cause significant damage to equine . In this work are reported 15 cases of infection by Pythium insidiosum as the distal aspect of the hind limbs and through surgical excision torácica.Por granulation tissue thermocautery and 50 mg amphotericin B (10 mL) , diluted in a solution of DMSO at 10 % (6 mL DMSO in 44 ml of lactated Ringer ) , the infusion was administered through a catheter placed in the vein of the affected surface being adjacent to the lesion, after placing a tourniquet above the injection site. Profiles biochemical , hematological and serum were investigated and the lesions were evaluated before treatment and weekly until complete healing of injuries . Vericou that one hundred percent (100%) horses treated with amphotericin B was associated with DMSO in complete healing time between 6-9 weeks after treatment, depending on the size of the lesion. The infusion did not induce local side effects. Hematologic studies showed low initial anemia associated with red cell count and hematocrit, which were resolved during the treatment period. A significant increase in total and differential leukocyte count was found that before the treatment decreased to physiological values during weeks after treatment. Biochemical analysis of serum showed no significant changes in certain parameters used for the evaluation of hepatic and renal function. The infusion regional administration of amphotericin B in a DMSO solution at 10% by infusion was effective for the treatment of equine limb Pythiosis without side effects. Keyword: Biochemical analysis. Horses. Infection. 51 4.1 INTRODUÇÃO Pitiose é uma doença infecciosa piogranulomatosa causada pelo oomyceto parasita Pythium insidiosum. Este organismo filamentoso, inicialmente, afeta os tecidos da pele e subcutâneo, mas pode afetar os tecidos adjacentes (tendões, ligamentos e ossos), ou invadem o trato gastrointestinal e outros tecidos e órgãos, resultando em doença multissistêmica (DE COCK; MENDONZA; PADHYE, 1987; LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; LEAL; LEAL; FLORES, 2001; MENDOZA; AJELLO; MCGINIS, 1996). A pitiose ocorre com frequência em regiões tropicais, subtropicais e temperadas, provavelmente porque P. insidiosum requer um, o ambiente aquático com temperatura elevada (30 a 40º C) e substrato orgânico vegetal para completar seu ciclo de vida (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992; CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995). A pitiose cutânea em cavalos é caracterizada por granulomas eosinofílicos com massas necróticas conhecidas como “kunkers”, e que são caracterizadas macroscopicamente por massas irregulares amareloacinzentadas, em forma que lembra corais marinhos. Histologicamente este material é composto por debris celulares de neutrófilos e eosinófilos e hifas do P. insidiosum (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995). O diagnóstico é geralmente baseado em dados clínicos, epidemiológicos e confirmado por exames histopatológico e de imuno-histoquímica (LEAL; LEAL; FLORES, 2001). O tratamento da pitiose é um desafio, e a eficácia aparentemente depende de fatores como o tamanho, duração e local da lesão; imunocompetência e tipo de tratamento (LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; LEAL; LEAL; FLORES, 2001). Os tratamentos conservadores são atualmente utilizados com ou sem excisão cirúrgica da lesão para melhorar os resultados (LEAL; LEAL; FLORES, 2001). As drogas antifúngicas mais comumente administrados sistemicamente utilizados para tratar pitiose são iodeto de potássio e de sódio, cetoconazol, miconazol, fluconazol, itraconazol, e anfotericina B (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992; LEAL; LEAL SANTURIO, 2001; SALLIS; PEREIRA; RAFFI, 2003; SANTURIO; ALVES; PEREIRA, 2006), no entanto, P. insidiosum, por não ser um fungo verdadeiro, o organismo possui uma maior resistência aos antifúngicos atualmente disponíveis (FOIL, 2006). A anfotericina B, um antibiótico macrólido polieno, produzido naturalmente pelo Streptomyces nodosus actinomiceto (GOLD; STOUT; PAGANO, 1956; 52 DISMUQUES, 2000; VANDEPUTTE; WACHTEL; STILLER, 1956). O mecanismo de ação do fármaco é caracterizado a partir da ligação direta aos esteróis presentes na membrana celular do parasita, alterando a integridade e resultando em reações osmóticas de eletrólitos (potássio, sódio, magnésio, cloreto) para o meio intracelular, e também alterando metabolitos essenciais ao fungo (nucleótidos e proteínas), provocando assim a morte do parasita (CHAPMAN; SULLIVAN; CLEARY, 2008; RICHARDSON; WARNOCK, 2003). Dória, Freitas e Linardi (2012) descreveram que 92% dos cavalos afetados por P. insidiosum e apresentando tecido de granulação exuberante nos membros torácicos ou pélvicos, tratados com perfusão regional intravenosa com anfotericina B mostrou resolução completa da lesão 35 ou 60 dias depois de um ou dois tratamentos, respectivamente e considerou a perfusão regional intravenosa de anfotericina B uma terapia adjuvante eficaz para excisão cirúrgica e termocauterismo, no tratamento de pitiose cutânea em membro de equinos. Perfusão regional intravenosa é uma técnica indireta que consiste na infusão de fármaco num vaso periférico isolado, a partir da circulação sistêmica, através da utilização de um torniquete (garroteamento) (MARTINEZ, 2004; SANTSCHI; ADAMS; MURPHEY, 1998). Com isso, espera-se que as drogas administradas mediante esta técnica, irão atingir os tecidos alvos, por difusão através de leitos nas proximidades dos capilares devido ao grande volume de perfusão. A concentração elevada da droga, e a alta pressão transitória intravascular estabelecida pelo torniquete, gera um aumento do gradiente de concentração entre os tecidos e espaço intravascular. Esta técnica maximiza a difusão da droga para o fluido sinovial, ossos e tecidos moles, bem como tecidos pouco vascularizado, onde os agentes são geralmente protegidos (ERRICO; TRUMBLE; BUENO, 2008; GILLIAM; STREETER; PAPICH, 2008; MARTINEZ, 2004; WERNER; HARDY; BERTONE, 2003). Diante dos resultados obtidos por Dória et. al 2012, hipoteticamente melhores resultados poderiam ser evidenciados com a administração perfusão intravenosa membro regional (IRLP) fazendo a associação de anfotericina B e dimetilsulfóxido (DMSO), para alcançar maiores concentrações anfotericina B dentro de tecidos infectados por P. insidiosum, e reduzir os efeitos colaterais inflamatórias locais. Já foi demonstrado que o DMSO é um eficaz antiinflamatório e analgésico (ALSUP; DEBOWES, 1984; BRAYTON, 1986; WELCH; DEBOWES; LIEPOLD, 53 1989, WELCH; WATKINS; DEBOWES, 1991). Pode também possuir algum efeito inibitório sobre o crescimento de uma variedade microrganismos, inclusive fungos, como resultado do seu efeito sobre a resposta imune e a redução de endotoxina induzidas por danos nos tecidos (ALSUP; DEBOWES, 1984; BRAYTON, 1986; WELCH; DEBOWES; LIEPOLD, 1989). Outros estudos têm demonstrado aumento do fluxo sanguíneo por dilatação vascular com aplicação de DMSO (ALSUP; DEBOWES, 1984). Tais propriedades associadas com a sua capacidade para penetrar as membranas biológicas fornecem base para a sua utilização em conjunto com um fármaco anti-fúngico para perfusão regional de membro afetados por dermatites fúngicas (CIMETTI; MERRIAM; D'OENCH, 2004). Diante deste contexto, objetivo do presente estudo foi avaliar a eficácia e viabilidade de uso da técnica de perfusão intravenosa membro regional no tratamento adjuvante de pitiose cutânea em membros de equinos, utilizando uma associação de anfotericina B e DMSO diluídos em solução de Ringer com lactato, administrados após a excisão cirúrgica e termocauterização de feridas causadas por granulação exuberante na pitiose. Avaliar também, os efeitos adversos, locais e sistêmicos, da administração dos fármacos e a evolução da reparação cicatricial das lesões cutâneas. O presente estudo compreende uma atividade complementar, qualitativa, aos estudos realizados por Dória, Freitas e Linardi (2012). 54 5 MATERIAL E MÉTODOS Foram utilizados 19 equinos, destes 15 que tinham entre 4 meses a 15 anos de idade, de ambos os sexos, sendo eles de diferentes raças, entre elas, raça Pantaneira, Quarto de Milha e alguns sem raça definida, com escore corporal entre 2 e 3 (HENNEKE et al., 1983). Estes 15 animais apresentavam ferida granulomatosa devido à infecção por pitiose, em membro torácico ou pélvico, distalmente às articulações úmero-radial e úmero-ulnar ou femoro-tibial e femoro-patelar. Os 19 equinos foram distribuídos em dois grupos experimentais. Um grupo constituído de 15 equinos, machos (n=10) e fêmeas (n=5), tratados mediante a excisão cirúrgica da ferida, termocauterização e a IRLP com anfotericina B e Dimetilsufóxido (DMSO), e com peso médio variando entre 100 e 400 kg e outro grupo constituído de quatro animais controles, não tratados porém contém a doença administrando o ringer lactato, machos (n=2) e fêmeas (n=2), com idades entre 4 meses a 15 anos e peso entre 200 e 450 kg. Os animais foram encaminhados para o Hospital Veterinário da Universidade de Cuiabá (HOVET), por meio de contatos com proprietários de fazendas na região do Pantanal Mato-Grossense e adjacências do município de Cuiabá, MT. Estes animais foram mantidos em baias, livres de áreas alagadiças, em regime de alimentação à base de alfafa, concentrado (ração comercial), suplementação mineral e água ad libitum, durante todo o período experimental. 5.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA No 1º dia do experimento, os equinos foram contidos em tronco individual e submetidos ao exame clínico (FEITOSA, 2004). Avaliou-se a frequência cardíaca (FC; batimentos/minuto) por auscultação torácica, a frequência respiratória (FR; movimentos respiratórios/minuto) pela observação da movimentação do gradil costal, o tempo de preenchimento capilar (TPC; segundos) por compressão digital da gengiva, a motilidade intestinal (classificada como normal, hipomotilidade ou hipermotilidade) por auscultação abdominal e a temperatura retal (T) por meio de termômetro clínico convencional. 5.2 AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA A avaliação histopatológica foi realizada no Laboratório de Patologia 55 Veterinária da Universidade de Cuiabá (LPV-UNIC). Foi realizada biópsia para confirmação do diagnóstico em cada uma das feridas, nos membros dos equinos. As biópsias contendo “kunkers” (1x1x1 cm), destinados à avaliação histopatológica, foram fixados em solução de formol neutro a 10% e, posteriormente, clivados, processados rotineiramente e incluídos em parafina. Dessa forma, após fixação e clivagem, o material foi desidratado em concentrações crescentes de álcool etílico. Em seguida, foram submetidos à diafanização pelo xilol e embebição em parafina líquida a 59 ºC. Dos fragmentos incluídos em blocos de parafina, foram realizados cortes de 5 µm de espessura, com auxílio de micrótomo rotativo16. Os cortes foram corados pela hematoxilina-eosina (HE) e Prata Metenamina de Grocott (GMS - Grocott´s methenamine silver) (LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; SALLIS; PEREIRA; RAFFI, 2003; PEDROSO et al., 2009). As lâminas coradas foram analisadas em microscopia de luz e fotografadas com câmera fotográfica digital acoplada ao microscópio. 5.3 TÉCNICA DE IMUNO-HISTOQUÍMICA O método imuno-histoquímico foi realizado no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso (LPV-UFMT). Os materiais de biópsia contendo “kunkers” (1x1x1 cm), destinados à imunohistoquímica, foram imersos em solução de formol neutro a 10%, por um a dois dias, clivados, processados rotineiramente e incluídos em parafina. Cortes histológicos de 5 µm de espessura foram obtidos com auxílio de micrótomo rotativo. Os cortes histológicos foram montados nas lâminas, previamente tratadas com solução de gelatina 0,3% e aderidos a estas por meio do calor (60 ºC), durante 24 horas, após o que as lâminas foram submetidas à imuno-histoquímica. Utilizou-se o método streptavidina-biotina marcada19 (LSAB), de acordo com Brown et al. (1988) e Gimeno, Massone e Portiansky (1999). A desparafinização dos cortes foi realizada em estufa à 60º C, durante 30 minutos. Na sequência, os cortes foram hidratados em soluções de xilol I e II, permanecendo dez minutos em cada solução e com passagens sucessivas, a cada dois minutos, em álcool 100%, 90%, 80% e 70% e, posteriormente, foram lavados em água destilada por dez vezes. Foi realizado o bloqueio da peroxidase endógena pela incubação das lâminas com peróxido de hidrogênio a 3%, em água destilada, 56 durante 15 minutos, à temperatura ambiente e, as amostras foram, novamente, lavadas em água destilada. O bloqueio de proteínas inespecíficas foi realizado incubando-se os cortes com leite em pó desnatado a 5%, diluído em solução tampão de fosfato (PBS), durante 15 minutos. A recuperação antigênica foi realizada com solução tampão de citrato de sódio a 10 mM, com pH 6,0, mediante calor (microondas, potência máxima), por dois minutos, adicionando, conforme necessário, solução tampão (citrato de sódio ou PBS) para evitar a evaporação. Após cinco minutos, destinados à resfriação da amostra, nova lavagem em água destilada foi realizada. A incubação com o anticorpo primário policlonal anti-Pythium insidiosum produzido em coelho (cedido à Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, produzido pelo Laboratório de Pesquisas Micológicas – LAPEMI da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM) foi realizada na diluição de 1:100, em solução tampão (PBS), mantida por 1 hora, a 37 ºC, em estufa e, nova lavagem com água destilada foi realizada. Após este procedimento, incubou-se o complexo streptavidina-biotina (LSAB) com o anticorpo secundário biotinilado universal durante 20 minutos, em temperatura ambiente, seguido pela lavagem com tampão TBS (solução TRIS salina tamponada) e incubação pela streptavidina, também, por 20 minutos, em temperatura ambiente e lavagem com água destilada. A revelação da reação foi feita com o cromógeno diaminobenzidina20 (DAB), durante 5 a 10 minutos, seguido de lavagem em água destilada. A contra-coloração dos cortes foi realizada com hematoxilina de Harris, com permanência de um minuto. As lâminas foram lavadas em água corrente e passaram por desidratações sucessivas, a cada um minuto, em banhos de álcool 70%, 80%, 90% e 100% e soluções de xilol III e IV. A montagem das lâminas foi realizada com bálsamo do Canadá21. O protocolo para a imuno-histoquímica utilizada neste trabalho foi adaptado de Gimeno, Massone e Portiansky (1999). As lâminas coradas foram analisadas em microscopia de luz e fotografadas em câmera fotográfica digital acoplada ao microscópio. O anticorpo primário foi produzido em coelho por meio de uma única inoculação de 20.000 zoósporos de Pythium insidiosum, via subcutânea, sem a utilização de adjuvantes. Coletas de sangue a cada 14 dias foram realizadas e a quantificação dos anticorpos foi feita pela técnica de Elisa. O soro utilizado corresponde à coleta no 45º dia, o qual apresentou uma densidade ótica (DO) de 0,281. A DO considerada positiva para coelhos é de 0,105 (PEDROSO et al., 2009). 57 5.4 PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Os animais foram submetidos a jejum alimentar, doze horas antes do início do experimento. Após avaliação clínica, em ambos os grupos, colocou-se um cateter intravenoso, 14G, na veia jugular dos equinos e foi realizada anestesia geral intravenosa, mediante tranquilização com acepromazina 1%, na dose de 0,1 mg/kg, via intravenosa e após 5 minutos, a administração intravenosa de éter-glicerilguaiacol, na dose de 100 mg/kg e indução/manutenção anestésica com cetamina 10% (2 mg/kg), associada na mesma seringa, com midazolam (0,1 mg/kg), via intravenosa. Doses complementares de cetamina 10% (2 mg/kg) associada ao midazolam (0,1 mg/kg) foram realizadas, conforme necessário, para eliminar dor e movimentação durante o procedimento experimental. Após a anestesia, os animais foram posicionados em decúbito lateral, esquerdo ou direito, de acordo com a localização da ferida. Os membros sadios foram contidos com auxílio de cordas e/ou travões e o membro com a ferida de pitiose mantido em posição elevada em relação ao solo, para realização do procedimento experimental. Procedeu-se a limpeza da ferida e regiões adjacentes com água e sabão e antissepsia com povidona-iodo e álcool 70%. Na sequência, foi realizada hemostasia preventiva, por meio de garroteamento do membro, com torniquete de borracha, na região proximal à ferida (em relação ao tronco) e excisão cirúrgica, com lâmina de bisturi número 23, do tecido de granulação exuberante e dos “kunkers”, evitando exposição óssea ou penetração articular. Fragmentos cúbicos de 2 cm² foram colhidos, acondicionados em solução de formol tamponado a 10% e enviados para avaliação histopatológica e imunohistoquímica (BROWN et al., 1988, GIMENO; MASSONE; PORTIANSKY, 1999). Os testes de imuno-histoquímica foram realizados, mediante o encaminhamento de blocos de parafina contendo fragmentos de tecido, pelo Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. O protocolo utilizado foi semelhante ao realizado por Ubiali et al. (2013) em animais com rinite micótica causada por P. insidiosum. Na sequência, o torniquete foi lentamente afrouxado para que se realizasse a hemostasia por termocauterização. Após cinco minutos, destinados à reperfusão sanguínea do membro, o garrote de borracha foi reposicionado, padronizando-se 58 duas voltas (360º) em torno do membro, de maneira tensa. Após tricotomia e antissepsia com povidona-iodo, uma veia superficial engurgitada, localizada proximal à ferida e distal ao torniquete, foi canulada, conforme o diâmetro, com cateter intravenoso números 20, 22 ou 24 G para a administração da droga. De acordo com a localização das feridas, as veias ou seus ramos cateterizados foram, no membro torácico, cefálica e digital palmar comum e, no membro pélvico, safena, digital plantar comum e digital dorsal comum. Após implantação do cateter, administrou-se, no Grupo Anfotericina B mais DMSO, 10 mL da solução de anfotericina B (0,83 mg/mL), composta por 50 mg de anfotericina B (10 mL de diluente), diluída em 44 mL de solução de Ringer Lactato com 6 ml de DMSO e no grupo controle, 60 mL de solução de Ringer lactato. O volume total foi administrado manualmente, padronizando-se o tempo de infusão em cinco minutos, com auxílio de seringa de 60 mL e extensor de cateter o escalpe número 21. O garroteamento, em ambos os grupos, foi mantido por 40 minutos após a administração das soluções, perfazendo um total de tempo de garroteamento de 45 minutos. O cateter foi retirado 10 minutos após a remoção do torniquete e exerceu-se pressão manual sobre a veia canulada, durante 10 minutos, para hemostasia. Após este procedimento, foi realizada bandagem com algodão e ataduras na ferida, as quais eram substituídas a cada 3 ou 4 dias, sendo o curativo tópico realizado apenas com povidona-iodo. Após recuperação anestésica, todos os animais receberam dose única de antiinflamatório (fenilbutazona 4 mg/kg, via intravenosa). A aplicação do protocolo foi realizada pelo mesmo pesquisador, em todos os animais deste estudo, para minimizar variações. 5.5 AVALIAÇÃO DAS FERIDAS As feridas foram fotografadas e avaliadas antes do início do procedimento experimental, quanto à localização anatômica, dimensões (cm²) sendo o tamanho da lesão (comprimento e largura) utilizando uma régua, tempo de evolução e macroscopia da lesão. As feridas foram consideradas como pequenas, quando sua área atingia até 25 cm2 como feridas grandes quando sua área ultrapassava 25 cm². Durante o período de avaliação, foi realizado o exame da locomoção, observando-se presença de ferida no local de infusão das soluções, aumento de volume, sensibilidade à palpação do membro afetado e claudicação ao passo, a qual foi 59 classificada em: severa (++), discreta (+) e ausente (-). Além disso, as feridas foram classificadas conforme o seguinte critério: Ferida tipo 1: a lesão constitui-se de tecido de granulação exuberante, com ulcerações cutâneas extensas, com superfície de aspecto nodular, que drena exsudato serossanguinolento viscoso, geralmente acompanhada por grande aumento de volume local. Ao corte, a coloração das superfícies é esbranquiçada, a consistência firme, com presença de fístulas que se comunicam com cavidades, as quais contém concreções branco-amareladas, de consistência firme, com aspecto de coral (“kunkers”), quase sempre envoltas por exsudato purulento. Ferida tipo 2: a lesão constitui-se de tecido de granulação não exuberante, de coloração róseaamarelada, com presença de tecido necrótico e ausência de secreção serossanguinolenta ou “kunkers”. Ferida tipo 3: evidencia-se linha de epitelização nas margens da lesão, a qual constitui-se de tecido de granulação rosado, plano, com ausência de secreções ou “kunkers”. Ferida tipo 4: evidencia-se epitelização parcial da lesão, a qual constitui-se de tecido de granulação rosado, plano, com ausência de secreções ou “kunkers”. Ferida tipo 5: Ferida cicatrizada. Evidencia-se epitelização completa, com pelos na região da lesão. As feridas foram fotografadas e avaliadas imediatamente antes do início do procedimento experimental (D0) e aos sete (D7), catorze (D14), vinte e um (D21), vinte e oito (D28), trinta e cinco (D35) e sessenta (D60) dias após o procedimento experimental inicial (D0). Os dados obtidos na fase experimental foram avaliados nos diferentes tempos e apresentados de maneira descritiva, por meio de texto, tabelas e figuras, descrevendo - se as variáveis qualitativas e quantitativas, em forma de frequências (absolutas e relativas) e percentuais de animais que apresentavam determinada característica, em determinado tempo, para cada item avaliado nos grupos tratamento e controle. 60 6 RESULTADOS Em ambos os grupos, os equinos com pitiose, no dia 0 (D0), evidenciavam condições corporais de animais muito magros e magros (escore corporal entre 2 e 3). No grupo tratado por perfusão regional intravenosa com anfotericina B e dimetilsulfóxido, todos os animais, no D60, apresentavam condições corporais classificadas como moderadas (escore corporal 5), enquanto no grupo controle o escore corporal dos animais foi mantido entre 2 e 3 (FIGURA 1). Todos os animais possuíam históricos de insucesso nos tratamentos adotados, seja por excisão do tecido de granulação exuberante e cauterização com ferro incandescente ou por aplicação de produtos cáusticos, como o ácido sulfúrico (solução de bateria) ou mesmo com outros produtos como grafite, zinco e óxido de manganês (pilha seca). Figura 1. Ilustração do progresso da condição corporal de equinos do grupo tratado com anfotericina B e DMSO, aplicada pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, entre a primeira (D0) e a terceira semana (D21) avaliação. Os animais de ambos os grupos apresentaram frequências cardíaca (FC 61 entre 28 a 40 batimentos/minuto) e respiratória (FR entre 8 e 16 movimentos respiratórios/minuto), tempo de preenchimento capilar (TPC entre 1 e 2 segundos), motilidade intestinal (normal) e temperatura entre 37,2 e 38,9 C º) dentro dos valores considerados fisiológicos para a espécie equina (FEITOSA, 2004), o que permitiu que fossem submetidos aos procedimentos anestésico e cirúrgico. No exame clínico inicial (D0), constatou-se, em todos os animais tinham inchaço nos membros afetados e as lesões foram clinicamente descrita como tecido de granulação exuberante com extensa ulceração, superfície nodular e exsudato viscoso, geralmente associado a edema local. Cortes de tecido tinha uma superfície branca, consistência firme, e fístulas contendo Kunkers, geralmente rodeado por exsudato purulento com sinais intensos de prurido, caracterizado pela automutilação. Os animais, em ambos os grupos, no D0, apresentavam feridas tipo 1. Em todos os casos, a evolução da ferida, descrita pelos proprietários, foi rápida, sendo que, em torno de 15 a 20 dias, as lesões atingiam grande tamanho. Todas as feridas, embora fossem granulomatosas e com secreção abundante, não apresentavam miíase. A análise das alterações por meio da técnica histoquímica de H&E revelou, em todos os animais, áreas necróticas eosinofílicas extensas (“kunkers”) e multifocais, na derme superficial e profunda, contendo imagens negativas de estruturas tubuliformes, irregulares, septadas e com ramificações em ângulo reto (“pseudo-hifas”). Associado as lesões anteriormente descritas havia também infiltrado inflamatório difuso e intenso, principalmente na periferia dos “kunkers”, predominando eosinófilos e, também, neutrofílos e células mononucleares (macrófagos, linfócitos, plasmócitos e raras células gigantes de Langerhans). Havia tecido de granulação exuberante, com proliferação de fibroblastos, fibras colágenas e neovascularização acentuada (FIGURA 2). As ulcerações na epiderme apresentavam infiltrado neutrofílico moderado a intenso e, por vezes, colônias bacterianas basofílicas superficiais. Por meio da técnica histoquímica de coloração pela prata (GMS), nas áreas de necrose, visualizou-se grande quantidade de “pseudo-hifas” longas, septadas, irregulares e bem delimitados, seccionadas longitudinal e transversalmente, coradas em preto ou marrom-escuro e localizadas principalmente na periferia dos “kunkers”, características de P. insidiosum (FIGURA 2). O diagnóstico histopatológico foi de dermatite piogranulomatosa, focal extensa, acentuada, associada a “pseudo-hifas” características de P. insidiosum (pitiose 62 cutânea), nos 18 animais desta pesquisa. O diagnóstico etiológico de pitiose, nos 18 casos, foi elucidado pela aplicação da técnica de imuno-hístoquimica, obtendo-se imunomarcação positiva com uso do kit (LSAB - DAKO) anti-Pythium insidiosum, e caracterizada pela visualização de estruturas ramificadas e septadas. Neste estudo observou-se que o tempo de evolução apresentado pelas feridas pequenas foi de seis semanas enquanto para as feridas grandes o tempo de evolução foi de oito semanas. No dia 0, todos os cavalos (15) do grupo tratamento possuíam lesões, em torno de 90º (4 cavalos, 26,7%), 180 º (7 cavalos, 46,6%) e 360º (4 cavalos, 26,7%) da área afetada em relação a circunferência do membro. Dos Quinze animais que foram submetidos ao tratamento com anfotericina B e DMSO, 11 possuíam feridas grandes (73,3%) e, outras quatro feridas pequenas (26,7%). (TABELA 2). Figura 2. A - Derme, área focal de necrose (Kunkers) e dermatite eosinofilica, neutrofílica e tecido de granulação H&E 10x. B - área de central de necrose com imagens (negativas) não coradas, tubulares, ramificadas e irregulares (hifas) H&E 40x. C - Hifas irregulares e ramificadas no centro ou na periferia dos “kunkers”, Gömori (GMS) 40x. D - imunomarcação positiva com uso do kit (LSAB DAKO) para Pythium insidiosum 40x. 63 Quadro 1. Valores referentes ao número e porcentagem (%) de equinos que apresentavam feridas 2 2 grandes (> 25 cm ) e feridas pequenas (< 25 cm ), submetidos à técnica de perfusão regional intravenosa do membro com anfotericina B e DMSO e de equinos do grupo controle. Grupos Ferida Grande (> 25 cm) Potro Ferida Pequena (< 25 cm) Adulto Total Potro Total Anfotericina e 3 (20%) DMSO (73%) 8 ( 53%) 11 1(7%) 27%) Controle 4 (80%) 5 0 1 (20%) (100%) Adulto 3 (20%) 0 4( 0 Os três equinos adultos e um potro do grupo controle apresentavam feridas grandes (100%), perfazendo um total de cinco feridas, pois um animal apresentava feridas em ambos os membros torácicos. Dois animais (13,4%) do grupo tratamento apresentavam feridas no metacarpo ou metatarso (canela), sendo que em quatro animais (26,6%) a lesão estava localizada, também, na articulação metacarpo-/metatarso-falangiana (boleto); em um animal (6,6%) a ferida estava sobre as falanges proximal e média (quartela), em dois animais (13,4%) a localização da lesão era sobre o tarso (jarrete) e em dois animais (13,4%) a ferida localizava-se no rádio (braço). Em outros casos, teve envolvimento de mais de uma região, três animais (20%) a ferida se estendia da articulação metacarpo-/metatarso-falangiana (boleto) até as falanges proximal e média (quartela), e um animal (6,6%)l a ferida inicia no rádio até as falanges proximal e média (quartela). Dentre essas feridas, seis (40%) estavam distribuídas nos membros torácicos e 9 (60%) nos membros pélvicos. No grupo controle, três animais (75%) apresentavam as feridas sobre o metacarpo (canela), sendo que um desses apresentava feridas em ambos os membros torácicos e, outro animal (25%), apresentava ferida sobre as falanges proximal e média (quartela). Dentre essas feridas, quatro se desenvolveram nos membros torácicos (80%) e uma abrangia o membro pélvico (20%). 64 Quadro 2. Discriminação da localização anatômica, tempo de evolução e dimensões da ferida (cm2) na primeira avaliação (D0) dos equinos submetidos à técnica de perfusão regional intravenosa do membro com anfotericina B e DMSO e nos equinos do grupo controle. ANIMAL LOCALIZAÇÃO DIMENSÃO CICATRIZAÇÃO Reaplicação (SEMANAS) 01 Região cranial, medial e caudal distal do 180º 9 Não rádio até casco; MAD 02 Região cranial, lateral e caudal do boleto 180º 8 Não e quartela; MPE 03 Região cranial, lateral e caudal do 180º 9 Não boleto; MPE 04 Região boleto; MPD 180º 8 Não 05 Região cranial, medial e caudal da 180º 6 Não porção média e distal tíbia e do tarso; MPD 06 Região cranial, lateral e caudal da 180º 9 Não porção média e distal do rádio; MAE 07 Região lateral do terço proximal da 90º 6 Não canela; MAD 08 Região palmar do carpo; MAD 180º 6 Não 09 Região cranial e lateral da porção 90º 6 Não proximal, média e distal da tíbia; MPD 10 11 12 13 14 15 Região lateral, cranial e medial do boleto e quartela; MPE Região lateral, cranial e caudal da porção média e distal da canela; MPE 180º 8 Não 180º 9 Não Região cranial, lateral e caudal da porção média e distal do rádio; MAE Região cranial, lateral e caudal da quartela; MPD Região cranial, lateral e caudal do boleto; MAE Região lateral, cranial e medial do boleto e quartela; MPE 90º 6 Não 90º 6 Não 90º 6 Não 180º 9 Não Foi verificado que todas as quinze lesões regrediram após uma única administração de anfotericina B, em uma solução de DMSO a 10%. Nestes casos, no sétimo dia (D7), as feridas foram classificadas como tipo 2, sendo que, em uma pequena área ou em alguns pontos havia tecido de granulação de coloração vermelha-escura ou preta, com secreção serossanguinolenta e “kunkers” (FIGURA 3). No 14º dia (D14), as lesões iniciais regrediram para tecido de granulação rosa – amarelo com ausência de exsudato, fístulas e Kunkers, caracterizando ferida tipo 2. Com ausência de Kunkers, não houve necessidade da reaplicação. Nas semanas subsequentes, até reepitelização completa, já se observava crescimento de pelos na sexta semana (cinco cavalos 33,33 %), em 8 semanas (cinco cavalos 33,33%), e 9 semanas (cinco cavalos 33,33%) após a perfusão 65 regional com anfotericina B e DMSO. No D60 (de 8 a 9 semanas), as feridas foram classificadas como tipo 5. Figura 3. Ilustração da evolução da cicatrização de feridas de pitiose de eqüinos tratados com aplicação única de anfotericina B e DMSO, pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, no primeiro dia (D0) e nos dias 7. Todos os animais (100%), em ambos os grupos, apresentavam, antes do tratamento (D0), aumento de volume dos membros afetados, mais acentuado nas áreas adjacentes às feridas granulomatosas com exsudato serossanguinolento, os quais foram reduzidos, após o tratamento, para lesão mínima ou imperceptível, no 60º dia do período pós-operatório (D60). A administração de anfotericina B e DMSO pela técnica de perfusão regional intravenosa não induziu efeitos colaterais locais. No grupo controle não foram evidenciadas alterações no aparelho locomotor decorrentes da perfusão regional intravenosa com ringer lactato. Cem por cento (100%) dos cavalos tratados com anfotericina B associado com DMSO tiveram evolução completa de cicatrização da lesão em um período que variou entre 6 -9 semanas após o tratamento, dependendo do tamanho da lesão. O tempo de garroteamento de 45 minutos foi considerado adequado para tratar feridas de pitiose, por meio da técnica de perfusão regional intravenosa do membro, independente do tamanho ou peso do animal ou localização da ferida. Não foram observadas alterações locais, regionais ou sistêmicas devido ao tempo de garroteamento e ao material usado no garroteamento (compressão) do membro. 66 6.1 AVALIAÇÃO DA DOSE DE ANFOTERICINA B A dose e o volume total de anfotericina B (0,83 mg/mL/60 mL) e DMSO (6 mL/60 mL) foi adequada para tratar feridas de pitiose, por meio da técnica de perfusão regional intravenosa do membro, independente do tamanho ou peso do animal ou localização da ferida. Figura 4. Ilustração da evolução da cicatrização de feridas de pitiose de equinos tratados com anfotericina B e DMSO, aplicada pela técnica de perfusão regional intravenosa do membro, na primeira avaliação (D0) e no último dia (D60) do período pós-operatório. 67 7 DISCUSSÃO Foram empregados animais adultos e jovens, machos e fêmeas, com feridas de localização em membro torácico ou pélvico, esquerdo ou direito, em posição distal às articulações do cotovelo e joelho, de forma que houvesse espaço suficiente para posicionamento do torniquete e que favorecesse a canulação de uma veia distal a este, o mais próximo possível da ferida a ser perfundida. Com a perfusão regional intravenosa do membro, buscou-se obter uma concentração elevada do fármaco antimicótico (anfotericina B) e no local e nos tecidos circunvizinhos às lesões, conforme descrito por Pille, Baere e Ceelen (2005). Deve-se destacar que, além da exérese cirúrgica, outro fármaco foi administrado concomitantemente, o dimetilsufóxido para aumentar a absorção dérmica. Todos os animais desse estudo possuíam histórico de habitarem pastos com áreas alagadiças, ambiente considerado como predisponente para que ocorra a infecção pelo P. insidiosum. Sabe-se que a enfermidade causada por este “pseudofungo” quase que invariavelmente está localizada nos apêndices locomotores ou nas partes baixas do corpo que entram em contato com o material vegetal submerso, contaminado pelo “pseudo-fungo”, sendo os membros de equinos, a região anatômica mais frequentemente acometida, pois ao adentrar os alagados para beber água ou se alimentar de capim, na época chuvosa, como no Pantanal MatoGrossense, os animais adquirem a doença (MENDOZA; AJELLO; McGINIS, 1993; SANTURIO; ALVES; PEREIRA, 2006). Descrevemos o tratamento bem sucedido de pitiose em membros de cavalos usando IRLP, ambos com anfotericina B e solução de DMSO em associação com a excisão cirúrgica e termocautério. Nossos resultados estão em contraste com os relatórios (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1992. ; FOIL, 1996; LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; LEAL; LEAL; FLORES, 2001; SALLIS; PEREIRA; RAFFI, 2003; SANTURIO; ALVES; PEREIRA, 2006) anteriores e oferece um tratamento eficaz para pitiose, da mesma forma como mostrado por Dória, Freitas e Linardi (2012) , tecnicamente economicamente viável. Infecção por P. insidiosum em membros equinos ainda representa um desafio. A excisão cirúrgica tem sido combinada com a imunoterapia, e/ou terapia sistêmica, intralesional, que estão ligadas a administração tópica de drogas antifúngicas para melhorar a eficácia terapêutica (LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; 68 LEAL; LEAL; FREITAS, 2001; SANTURIO; ALVES; PEREIRA, 2006). Características típicas de lesões pitiose tais como trombose local, isquemia, necrose do tecido e formação de abscessos, diminuição fornecimento de sangue local, fornecem uma concentração baixa do fármaco terapêutico o que diminui a eficácia para atingir o organismo alvo (MARTINEZ, 2004; POOLE; BRASHIER, 2003; WHITEHAIR; ADAMS; PARKER, 1992). Com isso, a administração sistêmica de anfotericina B não resultar em concentrações terapeuticamente eficazes no local da infecção por P. insidiosum, e ainda promove efeitos colaterais como nefrotoxicidade e anemia (CHAPMAN; SULLIVAN; CLEARY, 2008; WORSTER; LILLICH; COX, 2000). No entanto, IRLP demonstrou ser uma técnica eficaz para a obtenção de alta concentração de fármaco nos tecidos (HARISS; GALUPO; VAN HOOMGMOED, 2002; MARTINEZ; CRUZ, 2006; MURPHEY; SANTICHI; PAPICH, 1999; PARRASANCHEZ; LUGO; BOOTHE, 2006; PILLE; BAERE; CEELEN, 2005; SCHEUCH; VAN HOOMGMOED; WILSON, 2002; WHITEHAIR; ADAMS; PARKER, 1992, WHITEHAIR, 1995), certamente, aumentando a eficácia terapêutica da anfotericina B contra o agente. A morte se dá por inibição de processos metabólicos essenciais do P. insidiosum (DÓRIA; FREITAS; LINARDI, 2012). Tratamento sistêmico de pitiose tem sido relatada a ser marginalmente eficaz quando as lesões estavam localizadas nos membros (FREY; VELHO; LINS, 2007). A incapacidade de reduzir completamente uma lesão, por causa de sua proximidade com articulações ou ossos aumenta o desafio de tratar pitiose e favorece a persistência da infecção. Segundo alguns autores, apenas pequenas lesões e superficial pitiose podem ser tratadas com mais sucesso (FOIL, 1996; FREY; VELHO; LINS, 2007; LEAL; LEAL; SANTURIO, 2001; LEAL; LEAL; FLORES, 2001). No entanto, Doria, Freitas e Linardi (2012) foram capazes de tratar com êxito lesões pitiose independentemente do tamanho, por uma combinação de um protocolo semelhante ao do nosso estudo, porém sem uso do DMSO. Do mesmo modo, este estudo demonstra que a associação da anfotericina B e DMSO proporciona melhores resultados uma vez que 100% de cavalos (15 cavalos) mostraram resolução completa da lesão após uma única aplicação da técnica de perfusão regional intravenosa, enfatizando que todos eles eram grandes lesões circunvizinhas até 360 º da área afetada. A excisão do tecido de granulação é importante para proporcionar uma superfície apropriada para a cicatrização, porque a presença de tecido de 69 granulação exuberante é considerada um inibidor da mitose epitelial (FOSSUM et al., 2002). No entanto, a excisão cirúrgica e termocautério não são suficientes para o tratamento de infecções locais, com membros de P. insidiosum (DÓRIA; FREITAS; LINARDI, 2012). Em situações excessivamente crônicas, há mais fibrose e tecido de granulação, o que isola o oomiceto de mecanismos de defesa do organismo, bem como de drogas antifúngicas administradas sistemicamente, mas uma concentração elevada concentração ocorre na IRPL (WHITEHAIR; ADAMS; PARKER, 1992), tal como demonstrado no presente estudo. Nos 15 cavalos tratados, com resolução completa da lesão, não houve recorrência por até 1 ano, após o uso do presente protocolo de tratamento, mesmo quando a excisão dos tecidos de granulação e kunkers estava incompleta. Em alguns casos podemos observar a resolução completa da infecção pitiose, uma semana após o tratamento, observa-se tecido de granulação com ausência de exsudato, fístulas ou kunkers e a tendência para epitelização nas semanas subsequentes. O membro com infecção teve o período de cura relacionado com o tamanho da lesão. Como podemos observar, quanto maior a lesão era, mais tempo demora para cicatrizar completamente. Verificou-se que 27% das lesões levaram 6 semanas para cicatrizar, sendo quatro lesões com dimensões de 90 º C. Já 46% das lesões cicatrizaram com oito semanas, representados por sete lesões que cercavam 180 º da área afetada e 27 % das lesões demoraram nove semanas para cicatrizar, representado por quatro lesões que cercavam 360 º da área afetada. Dória, Freitas e Linardi (2012) reportaram que a administração de anfotericina B por perfusão regional intravenoso foi eficaz para tratar pitiose nos membros de equinos, porém com efeitos colaterais manejáveis. A associação de anfotericina B e DMSO proporcionou melhores resultados uma vez que um único IRLP foi eficaz para tratar a infecção e não houve observação dos efeitos colaterais locais ou sistêmicos, demonstrado no presente estudo, com a ajuda de perfis hematológicos e da bioquímica do soro. A presença de anemia em animais com pitiose cutânea esta associada à redução de glóbulos vermelhos e o valor de PCV, como foram registrados nos equinos antes do tratamento, entre outros fatores atribui-se a anemia a presença de feridas exsudativa e prurido que levam à auto- mutilação, sangramento e ambiente propício à infecção secundária (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995; FOIL, 1996; MEIRELES; RIET-CORREA; FISCHMAN, 1993; MENDOZA; AJELLO; 70 MCGINIS, 1996; POOLE; BRASHIER, 2003). O leucograma revelou uma leucocitose marcado com neutrofilia e eosinofilia antes do tratamento. As maiores contagens de neutrófilos no sangue foram para a remoção fagocítica dos produtos de degradação do tecido ou P. insidiosum. Da mesma forma, Worster, Lillich e Cox (2000) e Sallis, Pereira e Raffi (2003) mostraram leucocitose neutrofílica em cavalos com pitiose. A eosinofilia observada foi devido à sensibilidade à proteína estranha de um parasita que pode ser uma parte de um fenómeno imunológico (FELDMAN; ZINKL; JAIN, 2000). Os resultados do leucograma estavam de acordo com as descobertas de outros (CHAFFIN; SCHUMACHER; McMULLAN, 1995; FOIL, 1996; MEIRELES; RIET-CORREA; FISCHMAN, 1993, MENDOZA; AJELLO; MCGINIS, 1996; POOLE; BRASHIER, 2003). Podemos observar em nosso estudo que o quadro hematológico (inflamação) foi reestabelecido nos animais do grupo tratamento uma ou duas semanas após o procedimento, o que de certa forma pode ser atribuído ao efeito da administração IRLP com DMSO. Concentrações de proteínas de fase aguda no plasma confirmou estes resultados demonstrados pelo decréscimo nos valores de fibrinogênio após o tratamento. Quanto aos resultados bioquímicos, não foram observadas alterações nas atividades das enzimas séricas (AST, GGT, ALP, uréia e creatinina). Certificando a ausência dos efeitos colaterais sistêmicos, como as alterações descritas para fígado e rins. Com isso, os resultados obtidos estiveram de harmonia com descobertas anteriores que indicam que o aumento da concentração de droga em perfusão regional, mantém a concentração plasmática abaixo do limite de toxicidade. Estes avanços permitem um uso mais amplo de certos medicamentos que são considerados perigosos e dispendiosos, quando administrada sistemicamente em cavalos, como é o caso da anfotericina B e DMSO (CHAPMAN; SULLIVAN; CLEARY, 2008; DISMUKES, 2000; ERRICO; TRUMBLE; BUENO, 2008; FILIPPIN; SOUZA, 2006; GILLIAM; STREETER; PAPICH, 2008; GOLD; STOUT; PAGANO, 1956; MARTINEZ, 2004; VANDEPUTTE; WACHTEL; STILLER, 1956; WERNER; HARDY; BERTONE, 2003). Esta técnica foi considerada apropriada para o tratamento de pitiose sem efeito local (espessamento da pele, celulitico, inflamação, edema, dor) ou (disfunção hepática ou renal) colaterais sistêmicos. Embora seja esperado que a anfotericina B poderia induzir a inflamação vascular no sítio da administração (DÓRIA; FREITAS; LINARDI, 2012), DMSO por ser um potente antinflamatório que atua por limitação da produção de radicais livres e por suprimir a produção de prostaglandina 71 (MCILWRHAITH, 2002; WELCH; WATKINS; DEBOWES, 1991). DMSO também reduz a agregação de plaquetas e, portanto, reduz a incidência da formação de trombos nos locais de anastomose dos pequenos vasos (BRAYTON, 1986). Essa atividade ajuda a normalizar a perfusão tecidual em face dos insultos vasculares que muitas vezes acompanham as condições sépticas da extremidade equina (BRAYTON, 1986). DMSO também parece possuir atividade analgésica (ALSUP; DEBOWES, 1984; WELCH; DEBOWES; LIEPOLD, 1989). Especula-se que os efeitos bacteriostático e bactericida de DMSO pode ser provocada pela sua capacidade para penetrar as membranas biológicas (ALSUP; DEBOWES, 1984; BRAYTON, 1986). Partimos do pressuposto de que, usando uma taxa de infusão apropriado, o aumento da pressão intravascular favorece a difusão da droga através dos tecidos e aumenta a concentração do fármaco nos tecidos-alvo (WHITEHAIR, 1995; HARRIS; GALUPO; VAN HOOMGMOED, 2002; SCHEUCH; VAN HOOMGMOED; WILSON, 2002) e a associação DMSO aumentou a difusão da droga através dos tecidos afetados proporcionando melhores resultados no que diz respeito do controle de infecção pitiose. Em contraste com Dória, Freitas e Linardi (2012) o estudo, foi possível observar que as características iniciais de feridas pitiose complicados não foram associados com o sucesso do tratamento. Demonstramos que as lesões maiores e mais invasivas em que a excisão cirúrgica completa não foi alcançada, devido ao risco de expor o osso ou estruturas sinoviais, foram completamente curada após uma única administração. Assim, os nossos resultados sugerem que mesmo quando uma dose baixa de anfotericina B é administrada em associação com DMSO por perfusão intravenosa do membro regional, o sucesso no tratamento da pitiose em membros de equino é promissor. 72 8 CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, conclui-se que a administração de anfotericina B e dimetilsufóxido por perfusão regional intravenosa nos membros de eqüinos, em uma aplicação, associada à remoção cirúrgica, promove a remissão da infecção por Pythium insidiosum, com nenhuma alteração sobre os tecidos diretamente expostos ao fármaco, constituindo-se uma alternativa terapêutica, viável e eficaz, para o tratamento de pitiose em membros de eqüinos, promovendo cicatrização completa das feridas.Visto que é uma técnica vantajosa, principalmente em questão de custo e também no caso do DMSO que diminui o tempo de cicatrização sendo assim a associação do DMSO com anfotericina B se torna uma técnica melhor que a já testada sem o uso do DMSO. 73 REFERÊNCIAS ALSUP, E. 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