ENTERITE GRANULOMATOSA POR PYTHIUM INSIDIOSUM EM CÃO GRANULOMATOUS ENTERITIS BY PYTHIUM INSIDIOSUM IN DOG Andréia Stragliotto1* Marco Aurélio Molina Pires1 Cristiano Ivan Presser2 Daniel Guimarães Ubiali3 Edson Moleta Colodel4 Caroline Argenta Pescador4 RESUMO Pitiose é uma doença granulomatosa progressiva, causada pelo Pythium insidiosum que acomete eqüinos e caninos. Descreve-se um caso de pitiose intestinal em canino com histórico de exposição a ambientes alagados (Pantanal Mato-grossense). Macroscopicamente observouse espessamento transmural e segmentar do intestino delgado e região colon-retal, causando estreitamento da luz intestinal. Microscopicamente foi observada enterite piogranulomatosa e imagens negativas de hifas ramificadas e ocasionalmente septadas. Estas estruturas foram evidenciadas à impregnação pela prata e marcadas pela imuno-histoquimica com anticorpo policlonal anti-Pythium insidiosum. Palavras-chave: Pythium insidiosum, cães, enterite, imuno-histoquímica, Mato Grosso. ABSTRACT This paper describes a case of canine intestinal pythiosis with a history of exposure in flooded environments (Pantanal Mato-grossense). Macroscopically transmural and segmental thickening of the small intestine and colon-rectal region were observed causing narrowing of the bowel. Pyogranulomatous enteritis was observed microscopically, and negative images of branching hyphae. Such structures were evidenced by silver impregnation and immunohistochemical stained with anti-Pythium insidiosum polyclonal antibody. Key words: Pythium insidiosum, dogs, enteritis, immunohistochemistry, Mato Grosso. A pitiose é uma doença cosmopolita, granulomatosa progressiva, de ocorrência em áreas tropicais e subtropicais, causada pelo oomiceto Pythium insidiosum (SANTURIO, ALVES, PEREIRA et al., 2006). A espécie equina é a mais acometida, apresentando principalmente lesões cutâneas (PEDROSO, JUNIOR, PESCADOR et al., 2009) e nos caninos, a forma gastrointestinal é a mais comum (TROST, GABRIEL, MASUDA et al., 2009). A doença normalmente afeta cães que frequentam regiões alagadas, sugerindo que a ingestão de água contaminada pelos zoósporos móveis de P. insidiosum esteja envolvida no mecanismo da infecção gastrointestinal em cães (GROOTERS e GEE, 2002). Um canino, da raça Shi-tzu, macho, 3 anos de idade foi atendido com histórico de tenesmo por aproximadamente quatro meses. Clinicamente apresentava-se magro, com hiperemia e sensibilidade da região perianal e estenose do reto constatada pela palpação digital e por exames radiológicos simples e contrastados. O fragmento intestinal comprometido foi excisado e submetido a exame histopatológico (Figura 1). A microscopia revelou intenso infiltrado inflamatório polimorfonuclear representado _______________________ 1 Médico Veterinário, Msc., professor, Universidade de Cuiabá. Médico Veterinário, Residente, Hospital Veterinário Universidade de Cuiabá. 3 Médico Veterinário, Mestrando, Universidade Federal de Mato Grosso. 4 Médico Veterinário, Dr., Professor, Universidade Federal de Mato Grosso. * Autor para correspondência: Andréia Stragliotto. Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Cuiabá, Av. Beira Rio, n. 3100, CEP: 78065-900 , Cuiabá, MT. [email protected] 2 por neutrófilos, plasmócitos e histiócitos permeando difusamente a lâmina própria, alcançando a parede muscular subjacente, indicando enterite piogranulomatosa. Na coloração HE observaram-se imagens negativas semelhantes a hifas fúngicas. Foi realizada coloração de Grocott (GMS), visualizando-se hifas com ramificações irregulares, por vezes septadas. Imuno-histoquímica foi realizada utilizando-se anticorpo policlonal anti-Pythium insidiosum produzido em coelho, na diluição de 1:200 (Figura 2), confirmando o agente etiológico como P. insidiosum. A suspeita clínica inicial no presente caso foi neoplasia intestinal, mas de acordo com Fischer, Pace, Turk et al. (1994) e Trost, Gabriel, Masuda et al. (2009), a pitiose gastrointestinal deve ser incluída no diagnóstico diferencial de doenças debilitantes crônicas que cursam com emagrecimento, vômito e/ou diarréia e massas abdominais palpáveis. De acordo com Santurio, Alves, Pereira et al. (2006), o histórico clínico de contato do animal com áreas alagadas é uma evidência epidemiológica que pode colaborar no diagnóstico. No presente estudo, o cão freqüentava um sítio na região do Pantanal Matogrossense, sugerindo o local como possível fonte de contaminação. Entretanto, Grooters e Gee (2003) e Berryessa, Marks, Pesavento et al. (2008) afirmam que uma porcentagem significativa de cães não apresenta informações sobre exposições a ambientes com essas características, ocorrendo casos de pitiose também em áreas suburbanas. Segundo Bentinck-Smith, Padhye, Maslin et al. (1989), a técnica de GMS é utilizada para evidenciar as estruturas observadas como imagens negativas na técnica de HE, permitindo melhor caracterização morfológica das hifas, sendo importante para complementação diagnóstica de enterite fúngica. A imuno-histoquímica foi o método para confirmar o diagnóstico de pitiose, evidenciando hifas associadas com a reação inflamatória, conforme afirmam Junior, Pedroso, Pavarini et al. (2010). Por fim, o diagnóstico de pitiose gastrointestinal deve incluir a habilidade do clínico veterinário em reconhecer as diferentes patologias que cursam com sintomatologia gastroentérica, para assim, disponibilizar espécime adequado ao laboratório de patologia, que pode então submetê-lo às técnicas investigativas necessárias para um diagnóstico definitivo. Figura 1. Canino. Intestino grosso. Massa de coloração esbranquiçada (tecido conjuntivo) contendo pequenos focos amarelados (necrose), com estreitamento da luz intestinal. Peça fixada em formol a 10%. 2 Figura 2. Marcação positiva em vermelho de hifas de Pythium insidiosum. Imuno-histoquímica, método biotinastreptavidina ligada à fosfatase alcalina. Obj. 40x. REFERÊNCIAS BENTINCK-SMITH, J.; PADHYE, A.A.; MASLIN, W. R. et al. Canine pythiosis – isolation and identification of Pythium insidiosum. Journal of Veterinary Diagnostic Investigation, v.1, n.4, p.295-298, 1989. BERRYESSA, N.A.; MARKS S.L.; PESAVENTO, P.A. et al. 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