Trabalho - SOVERGS

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AVALIAÇÃO HEMATOLÓGICA DE EQUINOS SUBMETIDOS À OBSTRUÇÃO
INTESTINAL EXPERIMENTAL
HEMATOLOGICAL EVALUATION OF HORSES UNDER INDUCED INTESTINAL
OBSTRUCTION
José Corrêa de Lacerda Neto1; Luisa Gouvêa Teixeira2; Rita de Cássia de Lima Sampaio3;
Letícia Abrahão Anai4; Mariana Gesualdo de Oliveira5; Deborah Penteado Martins Dias2
Resumo
O objetivo do presente estudo foi avaliar as alterações hematológicas de oito equinos hígidos,
entre seis e 12 anos de idade, submetidos à obstrução intestinal experimental. O segmento
distendido (SD) foi submetido a 240 minutos de distensão do lúmen do cólon descendente,
por meio de um balão de látex inflado, exercendo pressão intraluminal de 40 mmHg.
Avaliação hematológica foi realizada no período pré, trans e pós-operatório, durante 10 dias
consecutivos. O presente modelo experimental promoveu alterações significativas no perfil
hematológico dos equinos, sugestivas de síndrome da resposta inflamatória sistêmica
associada à peritonite. Conclui-se que a realização de exames laboratoriais seriados possibilita
o acompanhamento das respostas fisioimunológicas e auxiliam no direcionamento do
tratamento médico de equinos acometidos por obstrução simples do cólon descendente.
Palavras-chave: cavalo, cólica, inflamação, patologia clínica.
Summary
The aim of this study was to evaluate the hematological changes of eight healthy horses, aged
between six and twelve years old, and submitted to experimental intestinal obstruction. The
lumen of the descending colon was obstructed by a latex balloon which was insufflated with
the pressure of 40 mmHg and the distended segment (DS) was kept distended for 240
minutes. For 10 consecutive days hematologic assessment was accomplished before, during
and after surgery. The experimental model caused significant changes in the hematological
profile of horses, which suggests systemic inflammatory response syndrome associated to
peritonitis. We concluded that serial laboratorial exams allows monitoring both physiological
and immunological responses and assists medical treatment of horses suffering from simple
obstruction of the descending colon.
Key words: clinical pathology, colic, horse, inflammation.
A síndrome cólica é a maior causa de óbitos em equinos e, em média, 84% das
condições cirúrgicas do cólon descendente são obstruções simples (TRAUB-DARGATZ et
al., 2001). Os resultados do hemograma, isoladamente, são inespecíficos, mas sua combinação
com outros exames laboratoriais auxilia na caracterização da natureza do distúrbio e na
elaboração do prognóstico, considerando o estado de hidratação, o tipo e a duração do
processo inflamatório (FAGLIARI & SILVA, 2002). O presente estudo avaliou alterações no
exame hematológico de equinos submetidos à obstrução experimental intestinal. Foram
utilizados oito equinos hígidos, sem raça definida, entre seis e 12 anos de idade e pesando em
1
Médico Veterinário, Prof. Adjunto do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV/UNESP. Via
Prof. Paulo Donato Castellane s/n, 14.884-900, Jaboticabal – SP. Processo Fapesp nº 2008/07877-7 e
2009/17342-6. E-mail: [email protected]
2
Médica Veterinária, Mestre em Cirurgia Veterinária – FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
3
Médica Veterinária, Doutora em Cirurgia veterinária – FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
4
Médica Veterinária, Doutoranda em Medicina Veterinária - FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
5
Aluna de graduação em Medicina Veterinária - FCAV/UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
média 354 ± 44 kg. Estes foram submetidos à anestesia geral inalatória seguido de obstrução
intraluminal do cólon descendente por meio de celiotomia mediana transumbilical. O
segmento intestinal foi distendido por meio da introdução e insuflação de um balão de látex
até atingir a pressão de 40 mmHg, o qual permaneceu quatro horas no lúmen do cólon
descendente. Durante o pós-operatório os equinos receberam ceftiofur sódico (2,2 mg/kg,
BID, IV), metronidazol (15 mg/kg, BID, VO) e flunixina meglumina (1,0 mg/kg, BID, IV)
durante 10, sete e três dias, respectivamente. Fluidoterapia foi administrada durante os cinco
primeiros dias pós-operatórios utilizando-se solução de Ringer com lactato (4,5 mL/kg/h, IV).
As amostras de sangue foram obtidas por meio de venipunção jugular em tubos contendo
EDTA 10%, durante 17 momentos, sendo imediatamente antes da sedação (M0h), a cada 2
horas depois de instituída a obstrução intestinal até completar 12 horas (M2h ao M12h) e a
cada 24 horas, durante 10 dias (M24h ao M240h). Avaliou-se a contagem de hemácias,
leucócitos totais, teor de hemoglobina, plaquetas e volume globular em aparelho automático
(pocH-100iV Diff®). A contagem diferencial dos leucócitos foi realizada a partir de
esfregaços sanguíneos corados com May-Grunwald-Giemsa. Mensurou-se a proteína
plasmática e o teor plasmático de fibrinogênio por meio da leitura em refratômetro manual.
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância em blocos e as médias submetidas
ao Teste de Tukey, utilizando-se o programa SAS®, onde p≤0,05. Os valores hematológicos
referentes ao M0h foram: hemácias (7,19±1,12x106/µL); hemoglobina (11,44±1,79g/dL);
volume globular (34,58±5,56%); plaquetas (229,26±74,44x103/µL); proteínas totais
(7,50±0,43g/dL); fibrinogênio (237,50±65,62g/dL); leucócitos totais (9,59±1,61x103/µL);
basófilos (36,13±44,50/µL); eosinófilos (423,00±360,38/µL); neutrófilos bastonetes
(11,25±28,06/µL);
neutrófilos
segmentados
(5.421,13±1.135,54/µL);
linfócitos
(3.503,25±1.502,31/µL) e monócitos (181,50±91,29/µL). Foi observada redução na contagem
de hemácias, teor de hemoglobina e volume globular nos M2h (5,51±0,99x106/µL;
8,70±1,43g/dL; 26,20±4,46%), M4h (5,36±0,85x106/µL; 8,45±0,91g/dL; 25,44±2,73%) e
M6h (5,64±0,94x106/µL; 8,96±1,06g/dL; 26,83±3,27%). Diminuição do teor de hemoglobina
e volume globular também foi observada no M240h (10,23±1,58g/dL e 30,79±4,81%). As
concentrações da proteína plasmática diminuíram do M2h ao M10h (5,35±0,40g/dL;
4,90±0,35g/dL; 4,83±0,43g/dL; 5,60±0,47g/dL e 5,93±0,53g/dL) e M72h ao M240h
(6,25±0,67g/dL;
5,98±0,73g/dL;
6,06±0,90g/dL;
6,14±1,25g/dL;
6,26±1,20g/dL;
6,00±1,20g/dL; 6,23±1,14g/dL e 6,34±1,08g/dL). O teor de fibrinogênio plasmático aumentou
durante M120h (485,71±220,39g/dL), M168h (542,86±192,72g/dL) e M192h
(514,29±196,40g/dL). Aumento na contagem total de leucócitos foi observado do M8h ao
M12h (11,95±3,51x103/µL; 12,78±4,60x103/µL e 14,58±4,78x103/µL), assim como os
neutrófilos
segmentados
nos
M12h
(11.488,00±5.343,42/µL)
e
M24h
(11.300,38±4.750,82/µL). Houve diminuição da contagem de neutrófilos segmentados nos
M48h
(4.096,75±2.759,14/µL),
M72h
(4.096,75±2.759,14/µL)
e
M96h
(3.346,50±1.429,40/µL). Foi constatada diminuição na contagem de eosinófilos do M8h ao
M24h (16,00±39,91/µL; 10,10±25,26/µL; 0,0±0,00/µL e 0,0±0,00/µL). Durante M240h
constatou-se aumento na contagem de basófilos (180,00±0,40/µL). A redução na contagem de
hemácias, teor de hemoglobina, volume globular e proteína plasmática do M2h ao M6h estão
associados à perda de sangue total durante celiotomia (FALEIROS, 2003) e procedimento
anestésico prolongado (LORDING, 2008). A diminuição tardia na concentração de proteína
total está relacionada ao aumento da permeabilidade intestinal e sequestro peritoneal, devido à
enteropatia e exsudação inflamatória (MAIR, 2002). O aumento da concentração do
fibrinogênio é indicativo da presença de reação inflamatória ou infecciosa sistêmica, com
origem peritoneal (FAGLIARI & SILVA, 2002). A presença de leucocitose por neutrofilia,
com desvio à esquerda, indica o desenvolvimento de processo inflamatório agudo (MAIR,
2002), com possível alteração da barreira mucosa intestinal e absorção de endotoxinas
2
(MOORE, 2005). A subsequente diminuição na contagem de neutrófilos segmentados ocorreu
devido à migração destes para o foco inflamatório intestinal (LASSEN & SWARDSON,
1995), comum em infecção bacteriana peritoneal ou endotoxemia (CARRICK & BEGG,
2008). A diminuição de eosinófilos está relacionada à liberação de cortisol endógeno,
ocasionado pelo estresse e desconforto abdominal (LASSEN & SWARDSON, 1995) após a
obstrução intestinal. Os basófilos auxiliam na hemostasia e fibrinólise, participando do
desenvolvimento de reação de hipersensibilidade sistêmica tardia (CARRICK & BEGG,
2008), justificando o aumento de seus valores no presente estudo. Conclui-se que a realização
de exames laboratoriais seriados possibilita o acompanhamento das respostas
fisioimunológicas e auxiliam no direcionamento do tratamento médico de equinos acometidos
por obstrução simples do cólon descendente. O presente modelo experimental promoveu
alterações significativas no perfil hematológico dos equinos, sugestivas de síndrome da
resposta inflamatória sistêmica associada à peritonite.
REFERÊNCIAS
CARRICK, J.B.; BEGG, A.P. Peripheral Blood Leukocytes. Veterinary Clinics of North
America: Equine Practice, Philadelphia, v.24, p.239-259, 2008.
FAGLIARI, J.J.; SILVA, S.L. Hemograma e proteinograma plasmático de equinos hígidos e
de equinos acometidos por abdômen agudo, antes e após laparotomia. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.54, n.6, p.559-567, 2002.
FALEIROS, R.R. Obstrução experimental do cólon menor equino: Aspectos clínicos,
patológicos e terapêuticos. 2003. 172f. Tese (Doutorado em Cirurgia Veterinária) - Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, Jaboticabal.
LASSEN, E.D.; SWARDSON, C.J. Hematology and hemostasis in the horse: normal
functions and common abnormalities. Veterinary Clinics of North America. Equine practice,
Philadelphia, v.11, n.3, p.351-389, 1995.
LORDING, P.M. Erythrocytes. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice,
Philadelphia, v.24, p.225-237, 2008.
MAIR, T.S. Contributions to an evidence-based medicine approach to colic surgery. Equine
Veterinary Journal, London, v.34, p.428-429, 2002.
MOORE, J.N. An update on endotoxemia in horses. Proceedings of the Annual Convention of
the AAEP, v.51, p.1-6, 2005.
TRAUB-DARGATZ, J.L.; KOPRAL, C.A.; SEITZINGER, A.H.; GABER, L.P.; FORDE,
K.; WHITE, N.A. Estimate of the national incidence of and operation-level risk factors for
colic among horses in the United State, spring 1998 to spring 1999. American Journal
Veterinary Research, Chicago, v.219, n.1, p.67-71, 2001.
3
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