A PEDAGOGIA FREINETIANA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM OLHAR SOBRE A AULA PASSEIO 1 Jussara de Fátima Ivanski Ruppel 2 Angela Maria Corso RESUMO: Esse texto é resultado de uma pesquisa realizada no curso de Especialização em Educação Infantil da Unicentro/Irati. Objetiva apresentar as contribuições de Célestin Freinet para a prática educativa na Educação Infantil, em especial, a aula passeio. A pesquisa empírica foi realizada em uma escola particular de Educação Infantil de Irati/Paraná, tendo a entrevista como instrumento de coleta de dados. O estudo evidenciou que Freinet dotou a sala de aula de condições estruturais para uma prática educativa baseada na liberdade de expressão, no intercâmbio de idéias, no tateio experimental, no trabalho criativo e na cooperação. A aula passeio é umas das técnicas implantadas por Freinet, que foi um educador humanista preocupado com o bem estar da criança, bem como, a simbologia para o aprendizado, então, Freinet criou a aula passeio com o intuito de levar às crianças a novas descobertas fora da sala de aula, envolvendo as crianças num processo de aprendizagem cunhado na liberdade, espontaneidade e confiança, buscando a sede pelo saber. Os resultados da pesquisa traz a constatação da riqueza do trabalho proposto por Freinet, principalmente no que se refere a prática da aula passeio no contexto da Educação Infantil. PALAVRAS-CHAVE: Freinet - aula passeio – educação infantil ABSTRACT: This text is the result of a survey conducted in the course of specialization in Early Childhood Education Unicentro / Irati. Aims to present the contributions of Celestin Freinet for educational practice in early childhood education, in particular, the class trip. The empirical research was conducted in a private school for kindergarten Irati / Paraná, with the interview as an instrument of data collection. The study showed that Freinet classroom provided the structural conditions for an educational practice based on freedom of expression, exchange of ideas, groping in experimental, creative work and cooperation. The lecture tour is one of the techniques deployed by Freinet was a humanist educator concerned about the welfare of the child, as well as the symbology for learning, then created the Freinet school trip in order to take the children out of the new discoveries classroom, involving children in learning coined in freedom, spontaneity and confidence, thirst for knowledge seeking. The search results brings the realization of the richness of the work proposed by Freinet, especially as regards the practice of classroom walk in the context of early childhood education. Key Words: Freinet - lecture tour - early childhood education 1 Pós graduanda em Educação Infantil, Universidade Estadual do centro Oeste- Unicentro. Irati, Paraná, email:[email protected] 2 Orientadora, mestre em Educação, professora do Curso de Pedagogia – Unicentro\Irati 1 INTRODUÇÃO Esse texto tem como intenção apresentar os resultados da pesquisa intitulada “A Pedagogia Freinetiana no Contexto da Educação Infantil: um olhar sobre a aula passeio”, cujo objetivo principal foi compreender alguns aspectos da pedagogia de Freinet, mais especificamente, a aula passeio, técnica de ensino cunhada por esse educador. O cenário da pesquisa é a Educação Infantil, já que esta pesquisa tem como objetivo mostrar a importância da pedagogia de Célestin Freinet e suas contribuições para a educação infantil. Por ser um educador humanista, Freinet aprimorou todas as atividades infantis, tendo como concepção o bem-estar e a dignidade da criança como ser humano. Nessa pedagogia, a criança é vista como ser autônomo e que tem a capacidade de escolher, sob orientação e de acordo com seu próprio interesse, as atividades que vão ser desenvolvidas. Ela é vista também como ser racional capaz de, desde muito cedo, opinar e fazer críticas sobre fatos e assuntos. Dessa forma, são dados a criança o direito e a oportunidade de raciocinar sobre tudo aquilo que lhe é proposto. O livre arbítrio também é respeitado entre as crianças, assim como suas escolhas e recusas, mas sempre analisando os motivos desta ou daquela decisão. Na sua produção e suas formulações acerca da educação, Freinet queria despertar no aluno a sede pelo saber. Nesse sentido, a aula passeio foi pensada por Freinet, de acordo com Elias (1997), como uma forma de envolver todas as crianças no processo de aprendizagem, através da liberdade, espontaneidade e confiança. Freinet percebia que o interesse da criança estava fora da classe: nos bichinhos, nas plantas, nos rios, em tudo, menos no trabalho em sala de aula. De acordo com Elias (1997), para Freinet não deveria haver separação entre as aprendizagens do meio escolar e a realidade da criança, e as aulas passeio permitiam essa aproximação, desenvolvendo na criança a livre expressão, proporcionando na criança a experiência através de conhecimentos adquiridos nas saídas diárias, bem como a liberdade construída coletivamente pelo respeito mútuo. Neste sentido entendemos que seria importante investigar como a aula passeio tem sido desenvolvida no contexto da Educação Infantil, pois, a literatura já nos indica as contribuições dessa técnica para o aprendizado das crianças. Então com base nos dados coletados durante a pesquisa procuramos desvelar os desafios e as potencialidades subjacentes às práticas das aulas passeio, identificando como acontece a escolha do lugar para realização da aula passeio, os encaminhamentos realizados antes e após a aula passeio. A coleta de dados ocorreu numa escola de educação infantil que tem realizado as aulas passeio na sua prática educativa. Os dados foram transcritos e analisados a luz da literatura da área. Algumas questões nortearam esse estudo: • • • • Que espaço da prática educativa da educação infantil há para aula passeio? Como surge o interesse em realizar a aula passeio? Quais são os encaminhamentos feitos pela professora, antes e depois da aula passeio? Quais os desafios e as potencialidades dessa técnica de Freinet na educação infantil? BREVE HISTÓRICO DE FREINET Celestin Freinet, filho de agricultores, nasceu em 15 de outubro de 1896, na França, e estudou na escola normal de Nice. Com o início da guerra, em 1914, Freinet foi participar dos combates, lá sofreu as ações de gases tóxicos, que comprometeram seus pulmões, e apesar de passar 2 anos de hospital em hospital não deixou-se vencer pelo desânimo. Decidido, e sabendo o que realmente queria que era ser professor primário. Conforme coloca Sampaio (1994), Freinet iniciou seus trabalhos em 1920 em uma casa antiga, pobre e escura, que tinha as carteiras em mau estado, dispostas em fila, de maneira tradicional. Apesar de estar realizando o seu sonho de ser professor, faltava a Freinet a experiência pedagógica, pois devido à guerra, não havia terminado o curso normal. “Todavia, trazia consigo um profundo respeito pela criança e também um instinto de pastor que provinha de sua infância”. (SAMPAIO, 1994). Surgiu, então, o interesse em estudar sozinho. Freinet teve sua visão de mundo fortemente influenciada pela sua origem familiar e pelo contexto em que viveu. Pois, segundo Oliveira-Formosinho et all (2007, p. 14l): Nunca conheceu a brincadeira livre, uma vez que desde cedo, ajudava os pais na lavoura e pastoreio de cabras, um trabalho relativamente autônomo do qual, possivelmente, originava-se a dimensão de liberdade de sua filosofia. O fato de exercer um trabalho socialmente útil, desde muito pequeno, fez com que ele se sentisse como alguém que contribuía com a coletividade, com o social, mas também como alguém que encontrara no trabalho uma forma de ludicidade. Em suas aulas, Freinet anotava tudo o que seus alunos falavam, registrava o que considerava original, bem como o comportamento de cada criança perante as novas situações, seus sucessos, e os fracassos. Com isso, descobria os interesses, a personalidade e os problemas de cada criança, individualmente, a qual passava a ser objeto de seu carinho e preocupação. (SAMPAIO, 1994) Com a convivência, Freinet passou a conhecer cada vez mais a personalidade de seus alunos e foi percebendo que existiam outras formas de melhorar o relacionamento entre as crianças e ele próprio. Começou a questionar a eficiência das rígidas normas educacionais: filas horários e programas exigidos oficialmente. Para ele ficou claro que o interesse das crianças estava lá fora, nos bichinhos que subiam pelo muro, nas pedrinhas redondas do rio, pois percebia que, nos momentos de leitura dos livros da classe, o desinteresse era total. Nessas ocasiões, os olhares dos meninos atravessavam a janela e acompanhavam o voo dos pássaros ou das abelhas zumbindo e batendo nos vidros das janelas empoeiradas. (SAMPAIO, 1994, p.15) Passou a interessar-se, conforme descreve Elias (1997), por Rousseau, Rabelais, Montaigne e, sobretudo, Pestalozzi, obras as quais passou a ler com muito interesse e pôde prestar o exame que o habilitou a exercer a tão sonhada “função de professor”. Diante da preocupação com o estudo voltado para a vida, Freinet pensava numa aprendizagem significativa, com capacidade de transformar a realidade. Buscava transformar a prática docente tradicional, através de um método inovador, chamado por ele de método natural, procurava aproveitar o meio, a terra, a água, as plantas e os animais, ou seja, toda a natureza, a favor da aprendizagem do aluno. Ou seja, buscava recursos pedagógicos do próprio meio a que a criança estava inseridos como forma de tornar o processo de ensino aprendizagem mais significativos para a criança. Freinet entendia que o progresso depende da capacidade intelectual do indivíduo e é produto de sua ação. O conhecimento é melhorado 3 por meio da observação das leis de hereditariedade, da influencia do ambiente ou do processo de aquisição de conhecimento, e nisso via a escola, sem dúvida uma grande participação. (OLIVEIRA FORMOSINHO et all, 2007,p.148) Para a autora, Freinet partindo da intuição e da observação do interesse de seus alunos, elaborou técnicas que pudessem enriquecer suas experiências diárias. Tinha como objetivo principal, dinamizar as atividades escolares, com o interesse de levar as crianças a comunicarem e expressarem seus sentimentos. Oliveira Formosinho et all (2007), ressalta que Freinet a partir das suas observações e dos interesses dos alunos, criou várias técnicas de trabalho que enriqueceram suas experiências diárias. Seu objetivo, sempre foi levar as crianças a se comunicarem e a expressarem seus pensamentos, e construir seus próprios pontos de vista e superar a visão de que o conhecimento não está somente nos manuais escolares. Entre essas técnicas, podemos destacar: aula passeio, livre expressão da criança, jornal escolar, imprensa escolar, jornal impresso, livro da vida e o texto livre. A AULA PASSEIO COMO POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM Freinet busca atender as necessidades vitais das crianças e, assim, conhecendo cada vez mais a personalidade de seus alunos, passa a questionar sobre as rígidas normas educacionais. Percebendo, que na classe não havia nada que motivasse as crianças, e que o interesse estava lá fora, nos animais, nas pedras, nos rios, entre outros. Freinet passou então a organizar as aulas passeios diariamente. Saiam todos juntos, passando pelas ruas estreitas da vila, parando um pouco para admirar o trabalho do marceneiro ou para ver e ouvir as marteladas fortes e firmes do ferreiro. Também passava pelos campos que, ao se transformarem conforme as estações aguçavam a curiosidade das crianças: as flores que se abriam na primavera, mais tarde os frutos que ficavam maduros, em seguida, a colheita. Tudo era percebido. Além do trabalho dos camponeses, observavam os pássaros, as nuvens, o vento, a cor das matas, que cobriam os morros ao redor do vale, a água do rio que subia e baixava. Eram momentos mágicos. (SAMPAIO, 1994, p. 16) Na volta do passeio a atmosfera era outra, as crianças queriam contar tudo e mostrar o que traziam nos bolsos. Porém, depois do passeio, chegava a hora da leitura obrigatória e tudo o que as crianças viam e aprendiam limitava-se a isso, não sendo transportado a nenhuma de conhecimento, e o entusiasmo das crianças acabava assim que adentravam a sala de aula, pois, o conhecimento adquirido fora da sala não era transportado para dentro da sala. Mandar abrir a página de um livro, onde as frases feitas nada tinham a ver com a vida da criança, era cortar o entusiasmo que as crianças tinham trazido lá de fora. Somente liam o que lhes era imposto, sem respeitar a pontuação. Acontecia uma total dissociação entre a escola e a vida. (SAMPAIO,1994, p.22) Ou seja, a aprendizagem limitava-se ao passeio em si, embora a técnica fosse interessante ao voltar para a sala voltava-se a rotina normal e corriqueira. Foi aí que Freinet, sentiu necessidade de encontrar uma nova forma para aprendizagem da leitura. Então, quando voltava dos passeios com as crianças, escrevia na lousa o que viram no passeio, as crianças falavam, liam, e registravam. Só depois copiavam em seus cadernos, ou ilustravam o texto. 4 Freinet (1979) salienta que, esses textos livres transcritos no quadro-negro, lidos senão sempre com os olhos já esclarecidos pela prática da leitura, eram copiados no caderno assim que voltavam do passeio, porém com uma caligrafia tão hesitante quanto à leitura que lhes dava sentido. Freinet deixou-se conquistar por essa expressão criadora da criança, ele a via com a mesma capacidade do adulto. Pois para Freinet (1979), somente a prática ensina e educa, porém é preciso que a prática seja orientada por diretrizes eficientes, com um aprendizado significativo. A criança precisa ser vista como um sujeito em potencial que precisa de estímulo para se desenvolver e aprender. Nesse sentido, a ideia era prolongar por mais tempo possível esses instantes vividos pelas crianças através da aula passeio, pois a alegria vinha estampada no rosto das crianças ao reencontrar o que já conheciam, podendo entrar no campo da simbologia e por consequência do conhecimento. Segundo Sampaio (1997), a partir daí a relação tradicional entre professor e aluno se modificava e Freinet num gesto que se tornou simbólico, retirou o estrado de sua cadeira de professor e passou a sentar-se junto com seus alunos. Meu único mérito como pedagogo é talvez o de haver conservado uma influência tão marcante de meus primeiros anos, que sinto e compreendo, como criança, as crianças que educo. Os problemas que elas se colocam que são tão grave enigma para os adultos, eu os coloco ainda para mim mesmo, com as claras lembranças de meus oito anos e é como adulto-criança que detecto, através dos sistemas e métodos com que tanto sofri, os erros de uma ciência que esqueceu e desconheceu sua origem.(FREINET. 1979, p. 28) Foi nesse período de intensa intercomunicação entre ele e as crianças que Freinet habituou-se a anotar em seu caderno os acontecimentos marcantes da vida, os comportamentos, abrindo um conhecimento mais intenso entre ele e seus alunos. As técnicas propostas por Freinet, entre elas, a aula passeio, representam de acordo com Oliveira Formosinho et all (2007), uma denúncia ao caráter artificial da pedagogia tradicional. São instrumentos que ajudam na aprendizagem dos alunos, foram vivenciadas na prática e podem ser alteradas de acordo com a necessidade de cada contexto escolar. A AULA PASSEIO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Freinet sempre teve uma visão bastante crítica da infância e elaborou princípios e técnicas para ressignificar a prática educativa. Sempre pensou sua prática docente, no sentido de compreendê-la, para tanto organizou uma série de técnicas, as quais sempre eram pensadas em função de um aprendizado mais significativo. Para Freinet, o processo educativo deve ser construído a partir das necessidades, interesses e curiosidades que a própria criança apresenta, fazendo com que esta se torne protagonista no seu desenvolvimento. A força da pedagogia Freinet se assenta na posição eclética e ativa que ele assumiu para desenvolver sua teoria de ensino que se alimenta das contribuições mais inovadores, seja no campo da psicologia, como da sociologia e da política, e se traduz em uma visão crítica de infância e em indicações técnicas viáveis para a melhoria e renovação da escola e, em particular da escola do povo. (SAVELI, ALTHAUS E TENREIRO, 2005,p.3) 5 Sabe-se que o conceito de criança muda de acordo com a sociedade, porém está sempre em constante evolução. Freinet procurou desenvolver essa criança, para se tornar o adulto de amanhã e trouxe significado para a aprendizagem, partindo do conhecimento com o mundo de cada um. Freinet pensava a infância como uma fase cheia de entusiasmo para descobrir coisas novas, na vontade de encontrar e até reencontrar, transformando tudo em conhecimento, descobrindo sua identidade, moldando sua personalidade, bem como desenvolvendo sua criatividade A infância não é um saco que enchemos, é uma pilha generosamente carregada, cujos fios complexos mais cuidadosamente montados não correm o risco de deixar perder a corrente, rede delicada e poderosa, profusamente distribuída, que penetra até os mais secretos recônditos do organismo para dar-lhe vitalidade e harmonia. (FREINET, 1978, p. 6) A educação infantil é a fase onde a criança inicia a ordenação de sua personalidade. Oliveira Formosinho et all (2007, p. 162), tem a seguinte colocação sobre a criança: “(...) quando não satisfeita em conhecer, passa a organizar a vida e suas experiências tateantes, embora em um plano ainda puramente experimental”. Para Freinet a criança aprende sem métodos pré-estabelecidos, ou seja, aprende através do que estava a sua volta, tudo é sinônimo de aprendizado, tudo é novidade. Para ele a educação era uma forma de exercer a cidadania, daí a necessidade de educação para o trabalho com a função de construir a cidadania. O trabalho de Freinet foi baseado nos princípios de Rosseau e sua proposta mudou as atividades da sala de aula, pois a afetividade, a responsabilidade e a livre expressão eram muito importantes, e os trabalhos manuais davam à criança subsídio para um aprendizado significativo. A criança não se contenta em somente ouvir as explicações advindas dos adultos, sendo, portanto, necessárias à exploração e a ajuda palpável, para encontrar respostas para suas aspirações, e seu papel como professor era esse, orientá-las em suas ações. Com essa preocupação com a criança e principalmente com a aprendizagem baseada na liberdade, Freinet conforme colocado por (FREINET,1979, p.12),(...) teve sempre como elemento principal de toda sua obra, a livre expressão da criança, a qual é não invenção de um cérebro particularmente privilegiado, é a própria manifestação de vida. Freinet vai dar ainda mais livre curso a espontaneidade da criança real, da criança da aldeia e do sítio distante, a dos trailers e também aquela que é a criança pequeno-burguesa rural que se socializa nos rudes contados com a comunidade escolar.(FREINET, 1979, p.13) Vemos, portanto, que a criança tinha um olhar privilegiado para Freinet, e este sempre as vias com igualdade, independente do conhecimento ou posição social, para ele o mais importante era o conhecimento, conhecimento esse que poderia estar em qualquer lugar na aldeia, no sítio, nas aulas passeio. Freinet acreditava que a escola deveria ser lugar onde a criança vivencie ações que tragam significados, seja que venha ao encontro da vivência dessas crianças. Para ele a escola deveria ser lugar de respeito e liberdade, onde a criança possa interagir ativamente nesse processo de aquisição, podendo adquirir novos conhecimentos ao mesmo tempo em que adentra coisas novas em sua cultura e seu comportamento. A Pedagogia de Freinet pretende uma educação para o trabalho, de modo que via a relação direta do homem com o mundo físico e social é feita pelo trabalho, sua atividade coletiva. (FORMOSINHO OLIVEIRA et all 2007) 6 Ou seja, Freinet considerava que o trabalho era: (...) ao mesmo tempo, a base e o motor de uma educação popular. Essa é a razão pela qual achava que se fosse preciso organizar um novo sistema de educação, o “princípio que determina a vida do homem”, intelectual e material, individual e social, isto é, o trabalho, deveria ser seu princípio. (FREINET, ROSSI, 1981, p.115, apud CAVALCANTI, 2002, P. 15) Freinet queria com sua pedagogia conseguir mudanças sociais, e dedicou sua vida e seus esforços à causa da educação. Acreditava que a educação é um esforço conjunto para a transformação na sociedade. Para tanto construiu sua pedagogia fundamentada em quatro eixos, conforme destaca Elias (1997 apud Oliveira Formosinho et all 2007,p.163): cooperação, documentação, comunicação, afetividade. FORMOSINHO OLIVEIRA et all (2007, p. 165) A cooperação como forma de construção social do conhecimento, a documentação, registro da história que se constrói diariamente, a comunicação, como forma de integrar o conhecimento e a afetividade, elo entre as pessoas e o objeto do conhecimento. Para ele a criança é vista com a mesma cultura do adulto, e responsável por seu próprio desenvolvimento, como alguém que participa ativamente. Para Freinet a criança é descrita, conforme colocado por Formosinho (2007), como um ser totalmente provido de humanidade: um ser curioso, que pensa, que fala, que sente, que cria, que constrói, que se defende, e que interage na sociedade em que vive. Essa concepção de infância colocada por Freinet exige um novo olhar sobre a prática do professor, onde o professor deve respeitar o ritmo e o interesse de cada criança, inventando estratégias e técnicas que possam estimular o interesse, bem como o desenvolvimento de cada criança. Para isso é importante que o professor conheça a realidade e o contexto de cada criança. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO Este artigo é resultado de uma pesquisa de caráter qualitativo, cujo ponto de partida é a realidade escolar. Segundo os autores Bogdan e Biklen (1982), citados por Lüdke & André (1986). “A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento”. Sendo assim, a pesquisa qualitativa supõe o contato direto do pesquisador com o ambiente e a situação investigada, através do trabalho de campo. Para que o pesquisador mantenha um contato direto e estreito com a situação onde os fenômenos ocorrem naturalmente, são muito influenciados pelo seu contexto, e as circunstâncias particulares em que um determinado objeto se insere são essenciais para melhor entende-los. Trata-se de um estudo de caso. Já que esse permite compreender, segundo Lüdke e André (1986), uma instância singular da realidade. O estudo de caso qualitativo ou naturalístico encerra grande potencial para conhecer e compreender melhor os problemas da escola. Ao retratar o cotidiano escolar em toda sua riqueza, esse tipo de pesquisa oferece elementos preciosos para uma melhor compreensão do papel da escola e suas relações com outras instituições da sociedade. (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 23). Quanto aos instrumentos de coleta de dados optamos pela estratégia de 7 observação direta nas aulas passeio e entrevistas semi-estruturadas que, segundo Lüdke e André (1986, p. 34), “se desenvolvem a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”. A entrevista é um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, sendo uma das principais técnicas de trabalho em quase todos os tipos de pesquisa utilizados nas ciências sociais. E a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata da informação desejada (LÜDKE; ANDRÉ, 1986). Para qualquer tipo de entrevista há uma série de exigências e de cuidados. Primeiramente, um grande respeito pelo entrevistado, o qual envolve desde o local e horário cumprido conforme sua conveniência até o sigilo e anonimato em relação ao informante. Além desse respeito, o entrevistador deve desenvolver grande capacidade de ouvir e de estimular o fluxo natural de informações e assim garantir ao entrevistado um clima de confiança, para que se sinta à vontade de se expressar livremente. Para Lüdke e André (1986), é muito importante que o entrevistado esteja bem informado sobre os objetivos da entrevista e de que as informações fornecidas serão utilizadas exclusivamente para fins da pesquisa, respeitando-se sempre o sigilo em relação aos informantes. Após as entrevistas semi-estruturadas, os dados e informações foram organizados para o levantamento das categorias de análise de modo a culminar com os objetivos iniciais da pesquisa. Os participantes dessa pesquisa são duas professoras da educação infantil que se dispuseram a participar dessa pesquisa e seus respectivos alunos. A escola escolhida para pesquisa tem como abordagem teórica o construtivismo. Quanto a formação das professoras: uma tem o curso normal superior e tem uma experiência de 20 anos de educação infantil e a outra professora é formada em pedagogia, com habilitação em educação especial e é especialista em educação infantil, também tem experiência de mais de cinco anos de trabalho na educação infantil. A AULA PASSEIO: UM OLHAR SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL A escola onde foi realizada a pesquisa não tem como proposta pedagógica a pedagogia Freinetiana, porém a aula passeio é um recurso metodológico presente em todos os projetos da escola. Uma das questões da pesquisa era levantar como surgem as aulas passeio na prática educativa da educação infantil. As duas professoras responderam que a aula passeio surge do projeto e da necessidade de vivenciar uma realidade. Surgiu dos temas dos projetos que a gente trabalha, então dependendo do projeto que você vai trabalha, a gente procura alguma coisa pra mostra a realidade né... pra fica mais no concreto daquilo da aula que você tá trabalhando, então você leva pra aula passeio (...)(prof. A) A gente faz os projetos e a partir daí é que surge a necessidade de se faze as aulas passeio e se fazer a exposição aos alunos. Esse projeto parte de cada professor, não é um para todos, cada professor faz o seu projeto (...). (Prof. B) Para Freinet as aulas passeio surgiram da necessidade de modificar atmosfera da sala de aula. Pois observando que o interesse de seus alunos estava lá fora, ele desenvolveu essa técnica de ensino para motivar os alunos e trazer a vida para dentro da escola. 8 Começou a questionar a eficiência das rígidas normas educacionais: filas horários e programas exigidos oficialmente. Para ele ficou claro que o interesse das crianças estava lá fora, nos bichinhos que subiam pelo muro, nas pedrinhas redondas do rio, pois percebia que, nos momentos de leitura dos livros da classe, o desinteresse era total. Nessas ocasiões, os olhares dos meninos atravessavam a janela e acompanhavam o voo dos pássaros ou das abelhas zumbindo e batendo nos vidros das janelas empoeiradas. (SAMPAIO, 1994, p.15) Ou seja, a aula passeio surge no contexto escolar como reconhecimento do interesse da criança pelo ambiente externo da escola. Não deixando de ser um momento em que o aprendizado torne-se significativo, pois possibilita contextualizar o tema ou conteúdo trabalhado em sala de aula, conforme pudemos perceber na fala das professoras. Quanto ao planejamento para a realização da aula passeio buscamos evidenciar o encaminhamento feito antes da realização da mesma. No que se refere ao planejamento, a professora A falou sobre os procedimentos adotados para a realização da aula passeio, exemplificando com um projeto sobre produtos orgânicos. Com o mesmo princípio a professora B também falou sobre as etapas da aula passeio. […] desse assunto teve bastante porque a gente teve que trabalha tudo primeiro, o que é um produto orgânico, foi feito pesquisa (…) foi mandado alguns dias, tarefa pra casa, aonde tinham essas perguntas, onde eles puderam ver qual a diferença do produto orgânico com o industrializado. Eles trouxeram embalagens dos produtos que eles utilizam em casa, então a gente fez leitura (... )fez gráfico(...) então pra eles ver o que é um produto industrializado e não. Então eles tiveram bem que aprender o que é um produto orgânico pra fazer esse passeio, porque lá eles foram indagar as pessoas sobre isso, né. Mas é dependendo de cada assunto. (prof.a A) [...]então primeiro a gente trabalha em sala de aula com eles, explicando, Bom eu vou pegar as frutas que é mais fácil((titubeou)), então, foi trabalhado com eles o que que eles conheciam da fruta, ééé [...] porque que a fruta é importante, pra que que serve a fruta, aonde que a gente pode encontrar essas frutas, depois que ta lá com o agricultor, que vem da arvore vai pra onde, quem vende as frutas, a gente faz todo esse trabalho antes de ir mostrar para a criança. (prof. B) Legrand, (2010) menciona que quando saía com seus alunos para uma aulapasseio, Freinet também tinha finalidades a atingir. Podia ser que o centro da aulapasseio fosse estudar os vegetais, os animais, as transformações sofridas pela natureza. Os objetivos se integravam, havia espaço para produções de texto, estudos e pesquisas na área de ciências, de conhecimentos sociais, matemáticos. Por meio dos depoimentos constatamos que, para cada técnica desenvolvida é levantado um objetivo, porque não era apenas fazer a técnica, mas sim obter resultados positivos, os quais não seriam possíveis dentro da sala de aula. Portanto, as técnicas contribuem para que as crianças tenham liberdade de expressão e que possam expor seus sentimentos e também instigar ainda mais sua curiosidade. Para tanto as professoras organizam um momento para trabalhar o conhecimento prévio sobre o assunto para as crianças saberem o que iram observar, para que a aula 9 possa trazer significado e não ficar apenas no “passeio”. Essa ponte feita pelas professoras entre conteúdo e conhecimento significativo é fundamental, pois as crianças já saem da escola com um prévio conhecimento sobre o determinado tema da aula passeio, para que não se perca o foco do assunto a ser trabalhado. Através, dos depoimentos é possível aferir que para a técnica desenvolvida é realizado um trabalho para obter resultados positivos. A ponte feita pelas professoras entre conteúdo e conhecimento significativo, que seria trazer o assunto para a realidade da criança, é fundamental, para que não se perca o foco do assunto trabalhado. Quando perguntamos sobre quais os desafios e dificuldades encontram para a realização de uma aula passeio, as professoras comentam: O que a escola mais enfrenta é a questão de distância, porque se é longe[...]precisa ônibus, dai tem o custo, né, conseguir ônibus, questão de pai, não, porque eles deixam((titubeou)), outra questão também é a idade, educação infantil, tem idade. Todo local tem certas recomendações, [...] tem coisa que você não pode visitar tudo pela idade deles, então nesse sentido assim é mais restrito (prof. A) […] a gente manda recado pros pais, solicita se pode sai com eles da escola, [...] que precisa de protetor solar, que precisa dos cuidados, que precisa de mais de uma pessoa que acompanha, não é só a professora, pelo menos uns 4 ou 5 que vão junto pra cuida das crianças .E assim ((titubeou)), não é muito fácil de você sai com crianças pequenas((titubeou)), qualquer lugar que você vá o cuidado é dobrado, você tá cuidando do filho de outra pessoa. (prof B) Sem dúvida, a preocupação da professora uma questão bem importante, já que na educação muita noção de perigo. Isso exige o envolvimento com o bom andamento de uma aula passeio Oliveira Formosinho et all (2007, p. 168), tem a seguinte colocação: B sobre a questão do cuidado é infantil as crianças ainda não têm de outras pessoas para contribuir no se refere à pedagogia Freinet, A pedagogia de Freinet é uma pedagogia “em construção”, uma proposta que envolve o coletivo de atores da escola: professores, alunos e familiares. Imerso na sua identidade sociocultural, é um movimento constante de busca e mudanças da prática, acolhendo e respeitando as diferenças culturais e valorizando o diálogo, as experiências de vida e das diversidades de inteligência. É importante também, que o professor não veja essa preocupação como empecilho. Como comenta Costa ( 2006, p. 5), o professor deve ter em mente que a criança é da mesma natureza do adulto. A criança assim como o adulto não gosta de disciplinas rígidas, ainda mais quando se trata de obedecer passivamente a uma ordem externa. Além das professoras evidenciarem a aula passeio como um importante recurso para o aprendizado da criança pequena, também destacam que os pais comentam sobre a motivação das crianças quando voltam de uma aula passeio. [...] é gratificante, nossa além de trazer conhecimento pra eles, eles vem contando vem explicando, [...] os pais comentam [...] eles chegam em casa com os olhinhos brilhando. (prof. B). Sampaio (1994) coloca que quando Freinet voltava dos passeios com as crianças, escrevia na lousa um resumo do que tinha acontecido durante aqueles momentos tão vivos. As crianças liam, comentavam, acrescentavam observações. Nesse sentido, Freinet (1973) defende a idéia de que não é necessário sufocar as 10 crianças com matérias para que elas consigam aprender. O papel da escola e dos professores é de proporcionar situações por meio das quais as crianças sintam necessidade de agir, ou seja, fazer com que elas se dediquem intensamente à descoberta de algo que conseguiu despertar seu interesse. Freinet embora tivesse inúmeras oposições a sua prática, nunca perdeu o espírito inovador de transformar as aulas tradicionais, em oficinas com técnicas variadas podendo desenvolver melhor suas aulas, já que se partia do conhecimento da criança, como também de coisas novas que se incorporariam ao seu modo de vida. Apesar das dificuldades, as práticas pedagógicas de Freinet ganham adeptos, e ele próprio continua a defender essa causa. Também perguntamos sobre a aprendizagem de atitudes com a realização de uma aula passeio. (...) Então tudo o que eles escutaram eu falar aqui, junto com os amiguinhos eles foram vivenciar lá na rua, né. Então esses conteúdos ((titubeou)) atitude de um cuida o outro, né. Respeita a fila ((titubeou)) éé, então são até valores que são trabalhados aqui, né, que a gente percebe pelos comentários que eles fazem lá fora, né.(prof. A) (...) valores, né(...) até mesmo no (...), que nem no mercado((titubeou)), nos vamos nas frutas, então um cuida do outro, você não pode ir nesse corredor, você não pode pega ai nesse, porque hoje nós estamos vendo as frutas, eles cuidam um do outro, respeitam, ((Titubeou)), eu não gosto de morango, mas o meu amigo gosta, então eu vou compra um morango porque o meu amigo gosta. ... ( prof. B) Percebemos nas falas das professoras que a aula passeio pode contribuir com o desenvolvimento de boas atitudes, ou seja, comprar uma fruta conforme colocado pela professora B, pelo simples fato de o colega gostar já é uma grande demonstração de atitudes de colocar-se no lugar do outro e respeitar o outro. Para Freinet os alunos participavam de diferentes ações e construções coletivas em prol da melhoria do ambiente escolar e comunitário. Sem dúvida esse comportamento tido durante as aulas passeio são reflexos para a sala de aula, bem como para a vida toda, pois influencia diretamente na formação do caráter da criança. (LEGRANND, 2010) A base de apoio da pedagogia Freinet é a cooperação, comunicação e a livre expressão, educação do trabalho e o tateamento experimental. A partir desses princípios os professores dão uma nova orientação às atividades escolares, estimulam os alunos na busca de novos conhecimentos tornando as tarefas mais atrativas e prazerosas, abre também um espaço para a troca de experiências entre professor e aluno por meio dos trabalhos realizados em grupos ou individualmente. Para Elias (1997), Freinet estava preocupado em transformar a sociedade, para depois libertar o indivíduo segundo um ideal de fraternidade e justiça, isto é, Freinet pretende libertar o homem de atitudes arrogantes, fazendo-o artista da sua própria educação, sendo capaz de participar de forma crítica na construção de uma nova sociedade. Ainda na sua concepção, a escola deve ser dinâmica, ativa e aberta para o encontro com a vida: (...) nessa escola, a aquisição do conhecimento deve processar-se de maneira signficativa e prazerora, em harmonia com uma nova orientação pedagógica e social em que a disciplina é uma expressão natural, conseqüência da 11 organização funcional das atividades e da racionalização humana da vida escolar. (ELIAS, 1997, p.11) O autor conceitua que a livre expressão natural nas disciplinas é resultado de uma organização e funcionalidades das atividades de modo racional dentro da escola, tornando-a prazerosa e harmônica. Nesse sentido, pudemos perceber através das entrevistas que as professoras demonstram ver a aula passeio como um instrumento imediato e necessário para enriquecer o aprendizado, conforme colocado no relato da professora (A): (...) que felizes seriamos nós se em cada conteúdo trabalhado, nós pudéssemos mostrar na prática o que que é aquilo(...). essa colocação explica o entusiasmo sentido pelas professoras que tem em sua prática a aula passeio como recurso metodológico, onde o aprendizado caminho para o campo do conhecimento aliado ao campo da significação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Levando-se em conta as considerações feitas até aqui, algumas questões nortearam esse estudo e é preciso salientar que a aula passeio deveria ser um componente curricular indispensável na educação infantil, destacando a construção de conhecimento que a mesma oferece às crianças, bem como o sentimento de realização relatado pelas professoras sempre que essa prática acontece. As aulas passeio conforme observado pelas professoras surgem da necessidade de trazer significado ao aprendizado, sendo incorporado aos projetos da escola, bem como acompanhando a temática trabalhada. É importante salientar que para a realização dessa prática é feita uma mobilização, envolvendo vários profissionais da escola, bem como a devida autorização dos pais. A temática, a qual desencadeia a aula passeio, é antes de tudo trabalhada em sala de aula, em várias formas, através de vídeos, desenhos, diálogo, para que as crianças tenham um conhecimento prévio, não deixando que a aula passeio torne-se apenas passeio, mas que transforme o conteúdo em conhecimento. Na volta a sala de aula, são confrontados os conhecimentos que as crianças tinham e o que aprenderam com a prática, e mostra-se sempre gratificante como meio metodológico de trabalho. Quanto aos desafios para a realização das aulas passeio é visível à preocupação das professoras por se tratar de crianças pequenas, sendo que o cuidado é maior, já que estas ainda não tem a noção de perigo e responsabilidade, porém, isso não é visto como um empecilho, mas somente como um novo desafio a ser superado para que essa prática seja presente na educação infantil. O estudo em questão traz a metodologia de Freinet como uma forma importante de contribuição na educação, suas práticas pedagógicas, sempre estiveram baseadas na espontaneidade da criança, apontando para o caminho da livre expressão, apresentada por meio do trabalho prático, realizado após as aulas passeio. A aula passeio desencadeia inúmeras atividades como visto no trabalho acima, onde acontece a troca de experiências, opiniões, respeito, cooperação e o mais importante de tudo o conhecimento. Essa talvez seja uma das melhores maneiras para a criança aprender, onde estará fazendo uma das coisas que eles mais gostam: passear, e sem se dar contas estarão aprendendo, enfatizando a importância dos espaços fora da sala de aula como potencializadores da aprendizagem. A pedagogia freinetiana, proporciona a integração da criança com a vida, seu meio, e o trabalho, é uma proposta que apresenta subsídios metodológicos fundamentais para que possa ser utilizada no contexto da Educação Infantil. 12 Para finalizar esse texto destacamos algumas colocações das professora entrevistadas, que traduzem, ao nosso ver, o que significa o trabalhar com a aula passeio como componente curricular da Educação Infantil: [...] eles chegam em casa com os olhinhos brilhando.( prof. B) [...] que feliz seriamos nós se em cada conteúdo trabalhado, nós pudéssemos mostrar na prática o que que é aquilo.(prof. A) A pedagogia de Freinet se mostra eficaz em relação ao objetivo de estimular o crescimento pessoal e social do indivíduo, preparando não apenas para uma sociedade atual, mas também para uma sociedade melhor, com pessoas capazes de optar e possibilitar escolhas, já que tem conhecimento prévio para tal. Freinet procurou transformar a escola por dentro, modificando a prática escolar, por acreditar que é nesse espaço onde se pode conquistar uma possibilidade maior para esses alunos de escolas públicas. A pedagogia de Freinet estava envolvida com as classes populares, e através de sua metodologia ele nos encaminha para uma educação de qualidade, por isso, conhecê-la em profundidade e praticá-la pode significar transformação na ação pedagógica, bem como conhecimento significativo aos envolvidos. A aula passeio pode resignificar a vida dos alunos e da escola, pois, Freinet proporcionou para a educação um caminho acessível, amplo e seguro para que as crianças vivam e entendam o mundo, podendo agir nele construtivamente. 13 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALTHAUS, Ms. Maiza Taques Margraf. TERNEIRO, Ms Maria Odete; SAVELI, Dra. Esméria Saveli. A Infância na obra de Freinet. In: Oliveira, M.S. (org). Fundamentos Filosóficos da Educação. Maringá: EDUEM, 2005. Disponível em: http://www.google.com.br/search?hl=pt BR&q=A+infancia+na+obra+de+freinet&btnG=Pesquisa+Google&meta=lr%3Dlang_pt&aq=f&oq . Acesso em 26/03/2012. CAVALCANTI, Eduardo A.G; Pedagogia Freinet:Evoluções e Revoluções na Educação do Trabalho. Tese Mestrado, Rio Grande do Norte, 2002. COSTA, Michele Cristine da Cruz. A Pedagogia de Céletin Freinet e a vida cotidiana como central na prática pedagógica. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, n.23, p. 26 –31, set. 2006. 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