Movimentos do ato de pensar

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Movimentos do ato de pensar: interlocuções possíveis entre Deleuze e
Foucault
Cláudia Cisiane Benetti
Resumo: Este artigo examina em um primeiro momento, parte da crítica à
filosofia da representação realizada por Gilles Deleuze, a qual contém em seu
bojo o entendimento do que seja pensamento que contemple a diferença,
relacionando-a ao ato de aprender e de problematizar. Em um segundo momento,
apresenta como Michel Foucault “realiza” nos seus escritos um pensar criativo,
que foge ao ato de pensar compreendido pela filosofia fundamentada nos
pressupostos da representação e interpretação, relacionando sua forma de pensar
à proposta de pensamento de Deleuze. Com isso, aponta possíveis interlocuções
entre a filosofia de Deleuze e de Foucault, colocando-os como autores que
propiciam o encontro com o pensamento que prima pela diferença e pela criação.
Palavras- chave: Pensamento. Representação. Interpretação. Diferença.
Criação.
Abstract: This article looks at first, critical part of the philosophy of representation held by Gilles
Deleuze, which contains in its core an understanding of what is thought to contemplate the
difference, relating to the act of learning and questioning. In a second step, as Michel Foucault has
"accomplished" in his writings a creative thinking that goes beyond the act of thinking understood by
the philosophy based on the assumptions of representation and interpretation, relating his thinking
to the proposal of Deleuze's thought. Thus, points possible dialogue between the philosophy of
Deleuze and Foucault, placing them as authors who provide the meeting with the thought that elect
the
difference
and
creation.
Keywords: Thought. Representation. Interpretation. Difference. Creation.
Notas introdutórias
Deleuze e Foucault produzem um movimento de pensamento que por um
lado, se constitui a partir de criações e invenções e por outro lado, questiona toda
uma tradição do pensamento filosófico determinado pela representação. O
estatuto ocupado por estes pensadores é
de filósofos ousados
que trazem
rupturas ao pensamento que se elabora nos caminhos da representação e da
razão pura. Podemos dizer que, encontramos em Foucault e Deleuze
o
entendimento do ato de pensar como um processo que se elabora através do
91
movimento de algo violento e marcante que gera acontecimentos no contexto que
está inserido.
A trajetória filosófica que pressupõem que o conhecimento se constrói nos
caminhos seguros da razão pura, como determinante da capacidade de pensar
“corretamente” para o encontro da verdade, é questionada por estes filósofos, uma
vez que tanto Deleuze quanto Foucault, problematizam o filosofar imbuído da
busca de fundamentos e verdades universais.
Neste texto, algumas questões permanecem como pano de fundo, a saber,
como se entende o “pensar” fora dos pressupostos metódicos da filosofia da
representação? Como se constitui o pensar fora do pressuposto de clareza e
distinção? O que significa pensar no heterogêneo e na diferença? A partir disso
procuro desenvolver, em um primeiro momento, parte da crítica à filosofia da
representação realizada por Deleuze1, a qual contém em seu bojo o entendimento
do que seja pensamento que contemple a diferença, relacionando-a ao ato de
aprender e de problematizar. Em um segundo momento, procurarei apresentar
como Foucault “realiza” nos seus escritos um pensar criativo, que foge ao ato de
pensar compreendido pela filosofia fundamentada
nos pressupostos da
representação e interpretação, relacionando sua forma de pensar à proposta
deleuzeana de pensamento. Nesse percurso, se mantém o fio condutor que é a
crença de que Deleuze e Foucault, apesar de problematizarem de maneiras
diferenciadas, possuem uma proximidade na forma de entendimento do que seja
pensar.
Assim inicio pelo que me é fascinante em Deleuze, o olhar direcionado para
a diferença que foi excluída pelo pensamento filosófico constituído por
pressupostos conceituais da representação. E posteriormente, procuro levantar
em alguns textos de Foucault indicações de sua forma de pensar e filosofar,
ressaltando dois pontos que considero marcantes em seu pensamento, a saber, a
existência de uma relação intensa com a diferença e uma produção que corre o
"risco" da criação. Tais situações serão as marcas do pensamento de Foucault
que relaciono ao que Deleuze pontua como pensamento, que se entende como
92
um construir-se no movimento para além das divisões categoriais presentes no
ato de representar.
Pensamento e imagem em questão: pontos da crítica de Deleuze à
representação.
Segundo Deleuze, a questão dos pressupostos do começo em filosofia é
um problema delicado, já que os pressupostos filosóficos são tanto objetivos como
subjetivos. São pressupostos filosóficos objetivos ou explícitos os que são
envolvidos e supostos num conceito, enquanto que são subjetivos ou implícitos os
que estão envolvidos num sentimento, em vez de estarem envolvidos num
conceito.
Um pressuposto subjetivo, no contexto da filosofia da representação2, está
calcado na forma “todo mundo sabe”, o que significa pensar, eu e ser. “Todo
mundo sabe” antes do próprio conceito o que é pensar, ser, e eu. Assim, o
filósofo, ao dizer “Eu penso, logo sou”, pode supor que todos sabem, de maneira
implícita, o que é pensar, tornando assim sua premissa universal.
Para Deleuze, a forma “todo mundo sabe, ninguém pode negar é a forma
da representação e o discurso do representante” (1988, p.216). Apresenta-se,
nesse entendimento dos filósofos, o pressuposto de que todos pensam
naturalmente, essencialmente e por isso sabem o que é pensar (senso comum);
acredita-se que há um pensamento que naturalmente é capaz de verdade, sendo
esse pensamento marcado pela boa vontade do pensador e que se funda num
sujeito pensante.
Esta forma, todavia, tem uma matéria mas uma matéria pura,
um elemento. Este elemento consiste somente na posição do
pensamento como exercício natural de uma faculdade, no
pressuposto de um pensamento natural, dotado para o
verdadeiro, em afinidade com o verdadeiro, sob o duplo
aspecto de uma boa vontade do pensador e de uma natureza
reta do pensamento. É porque todo mundo
pensa
naturalmente que se presume que todo mundo saiba
implicitamente o que quer dizer pensar (DELEUZE, 1988, p.
218).
93
Temos, assim, um pensamento filosófico dotado de um pressuposto
apreendido do senso comum, que é a imagem de um pensamento natural, que se
dá pela concordância das faculdades no sujeito pensante. O homem é dotado de
uma capacidade inata de pensar retamente e de encontrar o verdadeiro, sendo a
garantia dessa capacidade o fato de que
todos
possuem “naturalmente” a
capacidade de pensar. Segundo Deleuze, esta é a imagem dogmática sob a qual
se desenvolveu o saber filosófico de grande parte dos filósofos.
Neste sentido, o pensamento conceitual filosófico tem como
pressuposto implícito uma imagem do pensamento, préfilosófica e natural, tirada do elemento puro do senso comum.
Segundo essa imagem, o pensamento está em afinidade
com o verdadeiro, possui formalmente o verdadeiro e quer
materialmente o verdadeiro (Idem, 1988, p.219).
Baseando-se em Nietzsche, Deleuze chama a imagem implícita de
dogmática e moral. Mas, para que o pensador exercite seu espírito para o
pensamento seguro, bom e verdadeiro, é necessário um método. Esse é um dos
aspectos desenvolvidos, por exemplo, por Descartes no texto O Discurso do
Método, de 1637. Mas o que significa pensar em uma filosofia baseada nessa
Imagem? O modelo que se apresenta para o exercício do pensamento acerca do
objeto é o da recognição. Reconhece-se o objeto quando as diferentes faculdades
(pensamento, imaginação, percepção, memória, entre outras) concordam que o
objeto é o mesmo para todas, estando as mesmas fundadas no sujeito pensante
tido como universal. Dessa forma, ocorre o processo de reconhecimento do objeto
pelo pensamento do sujeito pensante. A garantia desse reconhecimento das
faculdades está no “Eu penso”, pressuposto inicial que unifica as faculdades no
sujeito e o qualifica como universal. O pensamento naturalmente reto segue o
modelo da recognição, o qual “nunca santificou outra coisa que não o reconhecível
e o reconhecido, a forma nunca inspirou outra coisa que não fossem
conformidades” (Idem, 1988, p. 223). Essa forma de pensamento remete às
pretensões da imagem dogmática, que são alvo da crítica e questionamento
deleuzeano:
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De um lado é evidente que os atos de recognição existem e
ocupam grande parte de nossa vida cotidiana: é uma mesa,
é uma maçã, é o pedaço de cera, bom-dia Teeteto. Mas
quem pode acreditar que o destino do pensamento se joga aí
e que pensemos quando reconhecemos? (Idem, Ibdem, p.
224 )
O modelo da recognição faz acreditar que o pensamento ocorre somente
mediante o reconhecimento e concordância das faculdades entre si, e nisso reside
parte da crítica de Deleuze. Outra parte está na
desconsideração de
possibilidades de pensamento, no estranho e aventureiro, que são compreendidas
pela lógica da representação e identidade como formas produtoras de desvios e
falsidades. Assim, a Verdade determinada pela Imagem do pensamento natural
ao seguir os passos metodológicos seguros será atingida. A dúvida cartesiana,
por exemplo, é um momento de um método que já considera o pensamento como
portador da vontade de reconhecer. Segundo Deleuze:
Acontece com as coisas duvidosas o mesmo que com as
certas: elas pressupõem a boa vontade do pensador e a
boa natureza do pensamento concebidas como ideal de
recognição, a pretensa afinidade com o verdadeiro, (...). E as
coisas certas, tanto quanto as duvidosas, não forçam a
pensar (1988, p. 230).
Mas, diante desse quadro, como podemos compreender o significado
“forçar a pensar”? Contrariamente à filosofia clássica, Deleuze quer mais do ato de
pensar, pois quer considerar no conceito a força de uma estranheza que irrompe e
impele ao pensamento. Vemos que o pensamento não é natural, mas forçado; não
é somente reconhecido, mas estranho. Nesse contexto de entendimento, “o que é
primeiro no pensamento é o arrombamento, a violência, é o inimigo, e nada supõe
a Filosofia” (DELEUZE, 1988, p. 230).
O que funda o pensamento é o encontro com algo violento que força a
pensar, que coloca ao sujeito a necessidade de pensar. Em outros termos, àquilo
que mexe e que marca e, portanto, desencadeia a paixão de pensar. Nesse
sentido, as faculdades não são concordantes entre si numa unidade do
pensamento no sujeito; elas são discordantes e nessa discordância pode surgir a
diferença, o encontro do pensamento com o que o impele a pensar quase como
95
uma necessidade de dar vazão aquilo que nos capturou. Não desencadeamos
pensamentos por reconhecimento, mas por arrombamento de algo estranho que é
sentido e é impulsionador. A apreensão, nesse encontro, é sentida em formas de
afetividade diferenciadas em cada sujeito. Por exemplo, pode ser pelo ódio ou
pelo amor a apreensão de um encontro, o qual leva ao pensamento. Qual é a
diferença? O encontro é sentido, entendido como o que causa a sensibilidade, é o
ser do sensível. A sensibilidade passa a estar o início de todo o ato de pensar.
Cada faculdade no ato de pensar é colocada no seu limite (apreender o que
é impossível no exercício empírico), apreendendo aquilo que lhe diz respeito
essencialmente. Apreender o que lhe diz respeito essencialmente e o impossível
no empírico, é o exercício transcendente, o qual força a faculdade a apreender
aquilo que só ela pode apreender, que só ela pode ser forçada a apreender. Por
exemplo, só a faculdade da imaginação pode apreender o inimaginável no
empírico, praticando assim o exercício transcendente.
É preciso levar cada faculdade ao ponto extremo de seu
desregramento (...). Cada faculdade descobre então, a paixão
que lhe é própria, isto é, sua diferença radical e sua eterna
repetição, seu elemento diferencial e repetidor, como o
engendramento instantâneo de seu ato e o eterno reexame de
seu objeto, sua maneira de nascer já repetindo (DELEUZE,
1988, p. 236).
A origem do pensamento está na sensibilidade que, com movimentos
intensos, força as faculdades a engendrar aquilo que impõe seus limites e, desse
encontro, se gera o pensamento. A intensidade move o pensamento e apaixona o
pensador que busca pensar o que não foi pensado ainda.
Diferentemente da filosofia da representação, que creditou na boa vontade
do pensador todas as
possibilidades do pensamento, a filosofia da Diferença
credita na intensidade e no movimento de criação as possibilidades do mesmo. E
é esse intenso movimento que permite o devir da diferença não marcado pela
unidade do objeto no “Eu penso”, e
sim, pelo exercício discordante das
faculdades num “Eu rachado”.
Segundo essa visão, as faculdades do ser humano não trabalham sob o
pressuposto de uma unidade subjetiva no “Eu penso”, mas como uma cadeia das
96
faculdades que apresenta um “Eu rachado”. Pode-se dizer um “Eu rachado” que
deixa vir o imprevisível, o demoníaco, que força o pensamento a criar,
contrariando a lógica do pensamento natural, segundo a qual já somos aptos ao
bom pensamento.
A compreensão de que o “Eu penso” é rachado, aposta num pensamento
sem a Imagem dogmática3 calcada no modelo de recognição, em que pensar é
orientar o exercício natural das faculdades, aplicando, para tanto, regras de um
método para desenvolvê-lo. Tudo isso, segundo Deleuze, são formas para dar
acabamento ao pensamento, mas não para desencadear o pensamento, para
criar.
Sabe que pensar não é inato, mas deve ser engendrado no
pensamento. Sabe que o problema não é dirigir, nem aplicar
metodicamente um pensamento preexistente por natureza e
de direito, mas fazer com que nasça aquilo que ainda não
existe (não há outra obra, todo o resto é arbitrário e enfeite).
Pensar é criar, não há outra criação, mas criar é, antes de
tudo engendrar, “pensar” no pensamento ( Idem, 1988, p.
243).
Na filosofia clássica, o pensamento estaria enredado em ilusões que
Deleuze aponta como entrave à criação e à diferença no ato de pensar. Mas quais
são as ilusões que poderão determinar o pensamento?
A ilusão dos problemas na constituição do pensamento: pensando a
diferença fora da ilusão.
A ilusão filosófica apresenta-se na maneira de estabelecer o problema na
relação com o ato de pensar. A ilusão, segundo Deleuze, se apresenta em dois
pontos: o primeiro está no fato de o problema estar assentado sobre proposições
que já existem, ou seja, parte-se de pressupostos “naturais” do pensamento, tais
como, hipóteses, juízos a priori, etc...; o segundo diz da ilusão de tratar do
problema a partir da sua possibilidade de resolução, a partir de sua capacidade
externa de solução. Essa última perspectiva marca que a solução está presa à
imagem dogmática que vincula a verdade de um problema à capacidade de
solução do mesmo. Na filosofia da Diferença, o problema é entendido por suas
97
características internas, sendo que o mesmo adquire sentido a partir dessas
características e do contexto onde se dá. Resolver o problema depende das
condições de constituição do mesmo, sendo que as soluções são engendradas e
construídas no próprio problema e não fora dele por modelos determinados.
Mas pensar é solucionar problemas? O mestre apresenta os problemas, e o
outro soluciona, e aí está a atividade do pensamento? Não para Deleuze, pois o
problema e a solução são construídos.
Fazem-nos acreditar que a atividade de pensar, assim como
o verdadeiro e o falso, em relação a esta atividade, só
começa com a procura de soluções, só concerne às
soluções. É provável que esta crença tenha a mesma origem
que as dos outros postulados da imagem dogmática:
exemplos pueris separados de seu contexto, arbitrariamente
erigidos em modelos (DELEUZE, 1988, p.259).
Utiliza-se a metodologia de respostas e soluções, e nisso se julga o que é
certo e errado, o que é mais elevado no pensamento. O problema, no entanto, não
é dado, mas investido e construído pelo sujeito conforme a situação na qual se
encontra. Para que se desenvolva um problema é necessário o investimento no
campo de sua atuação e disso resulta a solução. O problema é a Idéia4 que se
constitui universalmente por relações entre situações relevantes e singulares.
Vemos que a singularidade está implicada na construção e resolução dos
problemas, apontando para a necessidade de questionarmos essa visão de que
os problemas são verdadeiros pela capacidade de solução que em última
instância, está
no mestre. Há, sim, um mestre que é também falível, e é
importante que se mostre como tal. Para Deleuze, “é um preconceito infantil,
segundo o qual o mestre apresenta um problema, sendo nossa a tarefa de
resolvê-lo, e sendo o resultado desta tarefa qualificado de verdadeiro ou de falso
por uma autoridade poderosa” ( 1988, p. 259).
A Idéia segue por todas as faculdades, estimulando-as ao exercício, sendo
este exercício capaz de atribuir sentido à linguagem. O aprender, em Deleuze,
está justamente em explorar os caminhos da Idéia nas faculdades e estimulá-las à
realização do exercício transcendente, ou seja, ir além do que o exercício empírico
98
apresenta. Assim, aprender é inventar problemas e é “o nome que convém aos
atos subjetivos operados, em face da objetividade do problema (Idéia)” (1988,
p.269).
Há uma diferença entre saber e aprender, enquanto o primeiro significa ter
o domínio das regras de soluções, o segundo significa inventar, penetrar nas
singularidades e relações de cada Idéia no percurso das faculdades. Dar sentido
ao percurso da Idéia nas suas relações é estar aprendendo.
Aquele que aprende faz nascer, na faculdade da sensibilidade, o encontro
com o limite, que leva o mesmo a apreender o que é sentido. Assim, da
comunicação entre as faculdades e nas suas relações singulares advém o
pensamento. Mas não há como traçar de antemão quais os signos, os quais
provém dos sentidos, que serão motivadores do pensamento. Isso é a
singularidade do pensamento, sendo que as possibilidades a partir dos signos
serão diferenciadas para cada sujeito. Nesse sentido, não é possível enquadrar
numa forma única a aprendizagem, pois “nunca se sabe de antemão como alguém
vai aprender - que amores tornam alguém bom em Latim, por meio de que
encontros se é filósofo, em que dicionários se aprende a pensar” (Deleuze:1988,
p.270). Nessa quebra, nesse vazio, é que se apresenta o inconsciente no
pensamento. Os signos serão apreendidos, no encontro, diferentemente em cada
aprendiz. Este encontro está marcado por singularidades e nisso está toda a
possibilidade da diferença.
Diferentemente da filosofia da representação, que está sob os preceitos da
imagem dogmática do pensamento, a filosofia da diferença crê na aprendizagem
como um espaço de criação do problemático. Para esta perspectiva, o problema
não se define pela possibilidade de soluções, mas pela implicação da situação que
o constitui, e pelo investimento dos atos do sujeito. Nesse sentido, vale o alerta
para não acreditar que aprender é ter as regras para as soluções dos problemas.
O pensamento inventivo se dá fora das regras de soluções, se dá fora do método
que, segundo Deleuze, inspirado em Nietzsche, serve para dominar os espíritos e
os pensadores. O que irrompe, o intempestivo, não deve ser visto como entrave
99
ou ameaça ao pensamento seguro ou à aprendizagem. Pelo contrário, deve ser
encarado como motor que move paixões diferenciadas de cada um no caminho
da aprendizagem.
O pensamento, para Deleuze, se dá na violência de algo que impõe às
faculdades o ato de apreender o seu sentido, sua diferença, proporcionando o
pensamento implicado. Badiou, complementando a compreensão deleuzeana, diz
que “pensar não é o escoamento espontâneo de uma capacidade pessoal. É o
poder, duramente conquistado contra si, de estar obrigado ao jogo do mundo”
(Badiou,1997, p. 20).
Diante do entendimento do ato de pensar proposto acima, mostrarei que
Foucault pensa e produz exatamente nesse contexto de risco e de implicação com
a diferença, proposto por Deleuze. Para tanto, passarei a apresentar indicações
dessa relação em alguns de seus escritos5
O ato de experimentar em vez de interpretar de Foucault: outra forma de
pensar...
Foucault distancia-se da perspectiva de um filosofar e de um pensar
interpretativo/ prescritivo acerca das teorias e ações humanas, para construir um
filosofar que aponte os efeitos de poder e de saber sobre vidas concretas. Nesse
sentido, pode-se entender um pouco melhor o que significa experimentar em vez
de interpretar6 ou seja, a diferença se constitui a medida que não interessa buscar
os por quês de determinada situação a partir somente do trabalho teórico, mas
importa problematizar e experimentar a partir das coisas que constituem-se como
parte integrante da realidade das pessoas e de tudo o que dela faz parte e nela
interfere.
Para Deleuze, “Foucault é certamente, com Heidegger, mas de uma
maneira totalmente diferente, aquele que mais profundamente renovou a imagem
do pensamento” (1992, p.118).
Renovou a Imagem do pensamento, criando algo que não está determinado
pela representação, ou seja, não está determinado pela análise de categorias e de
100
fundamentos que revelariam o sentido das coisas. Em contrapartida, cria-se um
pensamento que se mostra entre a vida e a morte e que não dispensa a
implicação e a paixão de viver. Aponta-nos uma forma de filosofar que considera o
movimento em que um determinado tema, ou questão se constituiu e se efetua no
contexto de análise. Foucault tem um olhar voltado para a singularidade, para
aquilo que dos acontecimentos foi excluído, não dito, não apresentado. Vejamos
Foucault expondo o que lhe interessou nas análises que fez das “vidas infames”.
Há muito tempo, para um livro, servi-me de semelhantes
documentos. Se o fiz então, foi sem dúvida por causa da
vibração que ainda hoje sinto quando me acontece encontrar
aquelas vidas ínfimas transformadas em cinzas nas poucas
frases que as prostraram ( Foucault: 1992, p.92).
Vemos a relevância dada ao sentimento de vibração causado naquele que
está aí para pensar. O desejo forte em manter a intensidade com que àquelas
vidas o afetara.
A partir disso, desenvolve seus escritos marcando-os com a
paixão e intensidade de quem se deixa implicar pelos encontros e desencontros
presentes na relação que estabelece com os processos que estão à sua volta.
Podemos dizer que, no texto As vidas Infames, Foucault demonstra o que
Deleuze se refere como pensamento fora da Imagem representacional que faz
nascer aquilo que ainda não existe. Criar a partir do que é intenso e que traz as
marcas de algo que está fora do “normal”, do que é corrente e difundido, ou seja,
da diferença e do heterogêneo. Vejamos, o que se tornou prioridade na pesquisa
de Foucault quando trabalhava com os "sem fama".
(...) intentei saber porque é que, numa sociedade como a
nossa, se tinha súbito tornado tão importante que fossem
“sufocados” ( como se sufoca um grito, um fogo, um animal)
um monge escandaloso ou um usurário fantasista e
inconseqüentes; (...). Mas as intensidades originais que me
tinham motivado continuavam de fora (1992, p. 92).
101
Vemos a preocupação de Foucault em manter na análise, que faz dos
escritos, a intensidade que diz de trajetórias de vidas e vozes sufocadas pela falta
de fama e de casta. Tal forma de problematizar aponta para relações
estabelecidas com a realidade em que não se prioriza o processo de referir-se á
ela, mas ao contrário, priorizam-se as operações e os efeitos que nela produzem a
partir do escrito.
Podemos perceber a mesma postura quando Foucault problematiza a
sexualidade, ou seja, não está interessado em apontar comportamentos “normais”
ou “anormais”, formas corretas ou incorretas de lidar com a sexualidade. Ao
contrário, a procura se dá pelos efeitos do discurso acerca da sexualidade e pelas
operações que tais discursos, no caso o científico, produzem na vida das pessoas.
Pergunta-se pela forma de atuação do discurso da sexualidade na sociedade,
suas produções e subjetivações e nos aponta o movimento de tal tema tão caro
aos estudiosos do sexo. Cito Foucault:
Imagino que seja aceita afirmação de que o discurso sobre o
sexo, já á três séculos, tem-se multiplicado em vez de
rarefeito; e que, se trouxe consigo interditos e proibições, ele
garantiu mais fundamentalmente a solidificação e a
implantação de todo um despropósito sexual. Não obstante,
tudo isso parece ter desempenhado, essencialmente, um
papel de proibição. De tanto falar nele e descobri-lo reduzido,
classificado e especificado, justamente lá onde o inseriram
procurar-se-ia, no fundo, mascarar o sexo: o discurso tela,
dispersão-esquivança. Pelo menos até Freud, o discurso
sobre o sexo__ o dos cientistas e dos teóricos__ não teria
feito mais do que ocultar continuamente o que dele se falava.
Poder-se-iam considerar todas as coisas ditas, precauções
meticulosas e análises detalhadas, como procedimentos
destinados a esquivar a verdade insuportável e
excessivamente perigosa sobre o sexo. E o simples fato de
se ter pretendido falar dele do ponto de vista purificado e
neutro da ciência já é, em si mesmo, significativo (1990,
p.53).
O objetivo de Foucault, não está em apresentar o desenvolvimento
do
conceito de sexualidade na tentativa de mostrar o progresso da ciência, ao
contrário, vai problematizar o que foi esquivado no discurso corrente, nomeando
tal "esquecimento" como um perigo insuportável ao teóricos e cientistas do sexo. E
102
mais, irá questionar o intento da ciência em se colocar como neutra e purificada, ou
seja, irá problematizar justamente o que está dado como ponto pacífico no discurso
corrente. Pode-se dizer que, essa forma de relação que Foucault estabelece com o
saber está na ordem do que Deleuze defende como um pensar na linha entre a vida
e a morte, um pensar na diferença e na inquietude que coloca o pensador no lugar
arriscado de inventor de novas formas de ver e pensar o mundo. Para Deleuze, "é
justamente o que dá aos pensadores uma coerência superior, essa faculdade de
partir a linha, de mudar a orientação, de se reencontrar em alto mar, portanto, de
descobrir, de inventar (1992, p.128)".
Foucault desenvolve uma forma de pensar e filosofar que não tem como
objetivo
principal
universalmente
a
que
formalização
priorizem
o
dos
discursos
pensamento
em
uniforme.
categorias
Nesta
válidas
última,
o
procedimento correto é abstrair do conteúdo concreto e formalizar em categorias
que se constroem a partir de pressupostos como o de identidade, semelhança e
linearidade. Ao contrário, Foucault prioriza no seu trabalho uma relação muito
próxima das situações concretas que estão implicadas com sua forma de vida, e
por isso, apresenta um trabalho de pensamento que expressa ambigüidades e
crises como pontos que constituem um pensamento criativo e voltado para as
experiências concretas. Segundo Rajchaman, "a “teoria” de Foucault está dirigida
para uma análise da problematização da experiência em situações históricas
concretas" ( 1987, p. 68).
Tal procedimento é motor para uma nova forma de fazer filosofia, uma
filosofia que diz de um pensamento que se produz a partir das descontinuidades,
dos efeitos que não são previsíveis a priori e nem possuem um telos determinado,
mas que dizem de processos e acontecimentos possíveis em determinado
momento e contexto da realidade.
Sabe-se que sempre existiram na filosofia muitas formas de exclusão do
imprevisível,
heterogêneo
e
diferente.
Foucault,
contrariamente,
procura
desenvolver suas questões e suas análises justamente nesse ínterim que foi
negligenciado, ou seja, considerando o lugar do heterogêneo e da diferença no ato
de pensar.
103
Foucault faz o que Deleuze entende como necessário para um pensamento
criativo e inventivo se realizar, a saber, movimentar-se na intensidade de algo que
marca e toca o pensador. O olhar atento para aquilo que é excluído ou aceito como
"verdadeiro" pelo discurso corrente. Essa é a maneira como Foucault se movimenta
e desenvolve processos de pensamento em que se trabalha com as rupturas e
descontinuidades na produção de conhecimento e, penso que nisso está a maneira
criativa de atuar com o heterogêneo e com a diferença.
Outro ponto que chamo a atenção, diz respeito a ruptura que Foucault faz
na concepção corrente de uma unidade da subjetividade no eu. Ao ler o título do
texto O que é um autor?, em um primeiro momento, pode-se ter a expectativa de
encontrar definições e categorias que unifiquem um conceito de autoria, mas no
entanto, nos deparamos com a desconstrução ou problematização da idéia de
autoria individual que se perpetuou principalmente na cultura ocidental.
Foucault nos diz que o autor se dissolve de sua individualidade em várias
possibilidades a que ele chama "função autor", que não é uniforme e não está na
unidade de um eu.
A função autor é variável e permite a ocupação por vários eus.
Conforme Foucault, a função autor:
(...) não se define pela atribuição espontânea de um discurso
ao seu produtor, mas através de uma série de operações
específicas e complexas; não reenvia pura e simplesmente
para um indivíduo real, podendo dar lugar a vários "eus" em,
simultâneo, a várias posições-sujeitos que classes diferentes
de indivíduos podem ocupar (FOUCAULT, 1992, p.57).
A problematização se dá na tentativa de trazer à baila o que escapa à
unidade do sujeito autor e pontuar a possibilidade de se ter vários eus ocupando
essa função, o que significa romper com o pressuposto da existência de um eu
uniforme e unitário presente na escrita. Podemos relacionar aqui com a afirmação
de Deleuze de que pensar não se dá na unidade de um eu (cogito cartesiano)
mas, em um eu rachado. Ou seja, um eu rachado que possibilita outras formas e
subjetivações se apresentarem e se criarem a partir do escrito, ou obra. È uma
104
dimensão de entendimento que possibilita-nos pensar que uma obra pode
apresentar existências diferenciadas funcionando em um discurso.
Temos então, um pensamento de risco que não está preocupado em
responder pelas origens ou alicerces do conhecimento humano, mas ao contrário
está interessado em pontuar os efeitos e movimentos que compõem um
determinado discurso.
Efeitos e movimentos que também se relacionam com a arte de viver de
cada um que cria pensamento. Para Foucault, "deveríamos ligar o tipo de relação
que se tem consigo mesmo a uma atividade criativa" (1984, p.51).
Ou seja,
procurar criar nossa própria vida naquilo que fazemos ou criamos. È um
pensamento que se vale das crises, tropeços e movimentos como possibilidade de
criação.
Considerações provisórias
Vimos que para Deleuze a lógica de um pensamento não é a da exatidão e
do equilíbrio, como parte da filosofia defendeu, mas um processo em movimento
composto por crises e dimensões inesperadas.
pensamento
E, segundo Deleuze, "o
de Foucault é um pensamento que, que não evoluiu, mas que
procedeu por crises" (1992, p.130). Podemos dizer que, na tentativa de sair da
crise produzia-se algo no campo do conhecimento. Por isso, o pensamento de
Foucault traz consigo as marcas de problemas de vida e não diz, portanto, das
questões metafísicas acerca do pensamento que determinou as concepções de
grande parte da filosofia ocidental durante muito tempo.
Nesse sentido, o contato com os textos de
desprendimento de
Foucault exige um
si mesmo para compreendê-los, uma vez que se têm a
produção de uma nova forma de filosofia que é criativa e ousada. A exigência é
de que se analise os pressupostos
através dos quais encaminhamos nossos
questionamentos acerca do mundo da vida. Tal exigência leva o leitor a implicar-se
com sua maneira de perceber o mundo, propondo que se lance um outro olhar às
coisas, um olhar mais capaz de lidar com a diferença. Conforme Fischer:
105
Foi a potência de vida que havia em Foucault que o fez
mergulhar na investigação sobre o poder e o sujeito, sobre a
verdade dos sujeitos, a mergulhar em tantas vidas anônimas,
que só se manifestaram por que se enfrentaram com o
poder. Essa mesma potência de vida o fez arriscar-se a
pensar o outro dentro de seu próprio pensamento, como ele
mesmo afirmou a respeito de si. E é justamente esse o
convite que o tema do sujeito e toda a sua obra nos faz: o de
convertermos o olhar, e o de arriscar-nos a pensar de "outro
modo" e, portanto, a viver nas fronteiras da criação ( 1999, p.
57).
Penso que, o que Fischer nomeia como " viver nas fronteiras da criação" é
o ponto de proximidade entre a forma de entendimento do ato de pensar de
Deleuze e Foucault. Ambos, criam um filosofar que está voltado para a diferença,
marcado pelo risco de investir no que foi sufocado.
Ou seja, um filosofar e um pensamento que se obriga ao jogo do mundo
para permitir a criação de outros olhares para esse mundo. E, esse é o ponto que
considero crucial no ensino de filosofia e no ato de ensinar como um todo a saber,
permitir-se enquanto pesquisador ou pensador tirar ou, afrouxar as amarras prévias
dos discursos que nos subjetivam para poder então, compor um outro olhar acerca
do que nos é questão.
2 NOTAS
Crítica desenvolvida in: DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição; Tradução Luis
Orlandi, Roberto Machado. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
1
2
Conforme dicionário de filosofia de Nicolas Abbagnano, “representação” é um
vocábulo de origem medieval para indicar a imagem ou a ideia, termo na
escolástica imbricado ao conceito de conhecimento como “semelhança” do
objeto. Descartes, filósofo racionalista, que teve grande importância na
constituição da filosofia do séc. XVII, conhecida como período do Racionalismo
Clássico, utiliza o conceito “ideia” como “quadro” ou “imagem” da coisa. Com Kant,
o termo ganha uma significação mais geral, entendida como “o gênero de todos os
atos ou manifestações cognitivas”. (Abbagnano,1982, p.820). A filosofia da
representação refere-se à filosofia que, no processo de conhecimento, o objeto é
106
a imagem ou representação conceitual. Ou seja, as manifestações de
conhecimento se dão por representações ou imagens do objeto. Nesse sentido, a
filosofia da representação tem suas bases conceituais firmadas na “identidade”,
que será um dos pontos da crítica de Deleuze, apontando que o processo da
diferença é pensado, submetido aos quatro elementos que coordenam a
representação, a saber: a identidade no conceito, a semelhança na percepção,
oposição no predicado e analogia no juízo. Nesse contexto, Deleuze diz que a
diferença se reduz a um conceito seguindo, portanto, os pressupostos da
representação, e não apontando sua força e implicação na constituição do
conhecimento.
3
Apostar num pensamento, sem a Imagem dogmática, significa abrir espaço a um
pensamento imbricado pela Diferença, entendida fora do modelo da
representação, o qual pensa a diferença simplesmente conceitual, reconhecendoa sob os domínios da identidade no conceito. A Imagem dogmática, conforme já
tratamos no texto, refere-se à filosofia que está sob os pressupostos da imagem
do pensamento inato, do pensamento dotado de boa vontade e retidão em
afinidade com o verdadeiro, e que parte do pressuposto subjetivo implícito e préfilosófico de que todos sabem o que é pensar e, se tornar, portanto, um
pressuposto universal do filósofo. Este é o começo, segundo Deleuze, da forma da
representação, que não reconhece o que não se deixa representar, e que não
quer representar; em suma, não reconhece a diferença fora do conceito. Um
pensamento sem imagem é um pensamento que nasce na sua força pulsional,
que não está dominado pela suposição de inatismo ou do encontro com a
semelhança na recognição.
4
Idéia, em Deleuze, diferencia-se da compreensão de Platão. Para Platão, Ideia é
a unidade perceptível numa multiplicidade de objetos, é a essência
da
multiplicidade e modelo da mesma. A Ideia procura estabelecer relações de
identidade e igualdade com a Ideia modelo. No entanto, em Deleuze, a Idéia é
compreendida como “instâncias que vão da sensibilidade ao pensamento e do
pensamento à sensibilidade, capazes de engendrar em cada caso, (...) o objetolimite ou transcendente de cada faculdade”(1988,p.241). É importante ressaltar
que a relação das faculdades entre si é discordante e a Ideia, ao engendrar o
objeto-limite gera o problema capaz de levar ao exercício
superior de
pensamento. A Ideia torna-se problema.
5
Me deterei nos textos, O que é um autor?; A vida dos homens Infames;
Introdução a história da sexualidade II- O uso dos prazeres, cujo as referências
constam na bibliografia.
6
Referencia de Deleuze à forma de pensar de Foucault, no texto Conversações.
Rio de Janeiro: Ed. 34,1992, p.132.
REFERENCIAS
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982.
BADIOU, Alain. Deleuze: O clamor do Ser. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
107
DELEUZE, Gilles. Diferença e Repetição; Tradução Luis Orlandi, Roberto Machado. Rio
de Janeiro: Graal, 1988.
__________.Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Foucault e o desejável conhecimento do sujeito. In:
Educação e realidade_ v. 24, n.1. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Faculdade de Educação, jan/jun. 1999.
FOUCAULT, Michel. o que é um autor? Portugal...? : Veja, 1992.
___________. Scientia sexualis. In: __. História da sexualidade I : a vontade de saber.
Rio
de Janeiro: Graal, 1990.
___________. O dossier. Ultimas entrevistas. Rio de Janeiro: Taurus, 1984.
RAJCHAMAN, John.. Foucault: a liberdade da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor Ltda,
1987.
108
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