1 A CRIANÇA SURDA E AS DIFICULDADES NA COMUNICAÇÃO Uriel Carvalho de Oliveira1 RESUMO Qualquer ato de comunicar pressupõe a presença imediata no espaço e no tempo, de um agente emissor, que produz o sinal e de um agente receptor ao qual é destinado. O homem não pode viver isolado, ninguém comunica consigo mesmo, comunica com alguém, e quando comunica , comunica sobre alguma coisa. A capacidade de comunicar utilizando a linguagem é um dos aspectos que distingue os seres humanos dos demais. Na tradição cultural das sociedades humanas, a comunicação é basicamente oralista, o que acaba por dificultar a comunicação entre deficientes auditivos e ouvintes. Entretanto a importância da audição para o pleno desenvolvimento da criança através deste estudo questionamos: Quais as teorias e recursos clínicos e pedagógicos que o educador precisa conhecer para auxiliar a criança deficiente auditiva em sua comunicação? Teve-se como objetivo geral desta pesquisa: refletir sobre as necessidades clínicas e pedagógicas da criança deficiente auditiva para ampliar a comunicação. Para entender a problematização e o objetivo desta pesquisa, utilizou-se uma pesquisa bibliográfica estabelecendo uma relação com o cotidiano da criança deficiente auditiva e surda, considerando-se que a linguagem da criança deficiente auditiva só pode se desenvolver e se fortalecer apoiada em suas vivências. Palavras-chave: Deficiência auditiva. Criança. Comunicação. RESUMEN Todo acto de comunicación requiere la presencia inmediata en el espacio y el tiempo, un agente emisor, que produce la señal y un agente de recepción a la que está destinada. El hombre no puede vivir en aislamiento, nadie se comunica consigo mismo, la comunicación con alguien, y cuando se comunique, comunique algo. La capacidad de comunicarse mediante el lenguaje es un aspecto que distingue a los humanos del resto. En la tradición cultural de las sociedades humanas, la comunicación es principalmente oral, que dificulta la comunicación entre sordos y oyentes. Sin embargo, la importancia de la audición para el pleno desarrollo de los niños a través de este estudio nos preguntamos: ¿Cuáles son las teorías y los recursos clínicos y educativos que un profesor necesita saber para ayudar a la audiencia del niño discapacitado en su comunicación? Tuvo como objetivo general de esta investigación: la reflexión sobre las necesidades clínicas y educativas de los niños con discapacidad auditiva para aumentar la comunicación. Para entender la problemática y el propósito de este estudio, hemos utilizado una literatura se establece una relación con la vida cotidiana de los niños con deficiencias sordos y oyentes, considerando que el lenguaje de niños con discapacidad 1 Aluno do curso de Pós-Graduação em Língua Brasileira de Sinais e Educação Especial– Instituto Eficaz de Maringá/ PR. Professor Especialista do Curso de Administração da Faculdade de Educação de Costa Rica-FECRA. E-mail: [email protected] 2 auditiva sólo puede crecer y hacerse más fuerte apoyado en sus experiencias. Palabras-clave: Sordera. Niño. Comunicación INTRODUÇÃO A educação constitui direito de todos os cidadãos brasileiros, surdos ou não e cabe ao sistema de ensino viabilizar as condições de comunicação que garantam o acesso ao currículo e à informação. Escolhemos este tema, por se tratar de um assunto muito discutido e relevante à educação e às questões de comunicação. A surdez é a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons. Dependendo do grau de perda de audição, a criança poderá adquirir uma linguagem com apenas alguns defeitos, uma comunicação muito limitada. A falta de funcionamento de um sentido provoca automaticamente na criança, uma alteração no que se refere a sua integração com os demais e aumenta a possibilidade de uma interferência significativa nas operações mentais em termos de recepção e interpretação das mensagens. A ausência de dados sensoriais inibe ou priva a criança de processos psicológicos na integração de experiências e afeta o equilíbrio e a capacidade de seu desenvolvimento normal. Essas interferências envolvem não só o desempenho da criança em si mesma, mas toda a estrutura de seu comportamento na sociedade em que vive. A surdez é, portanto, um tipo de deficiência grave, pois interfere de modo particular no comportamento da criança e afeta muitas faculdades relativas ao seu desenvolvimento. Diante dessas considerações, o presente trabalho tem por objetivo discutir quais são os principais problemas enfrentados pelas crianças surdas na comunicação. 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Segundo Fonseca (2001) a audição é um dos principais canais de informação da criança. Apresenta-se na vida da criança como fator de vital importância para sua segurança física e seu desempenho como indivíduo, uma vez que lhe cabe receber um grande número de mensagens sob a forma de sons que são captados e transformados em estímulos e que são percebidos, decodificados e analisados. Na adolescência, para o indivíduo com deficiência auditiva que ainda está às voltas com suas limitações de linguagem, o reconhecimento de si mesmo ou de seu processo de aprendizagem, enquanto diferente e o apoio da família, por meio de uma presença constante, são fundamentais, embora, para seu crescimento, seja necessário algum afastamento (FONSECA et al., 2001). O suporte da família e o acesso ao atendimento profissional especializado, que consiste em orientação e aconselhamento aos pais do deficiente auditivo, são fundamentais e decisivos, como mencionam Bevilacqua e Formigoni (1998). A audição é uma das principais responsáveis pela aquisição da linguagem, processo que envolve o desenvolvimento do pensamento, memória e raciocínio. É pela audição que se originam os processos e os mecanismos da formação e desenvolvimento da linguagem. Marchesi (1995) assinala que existem diversos subgrupos na DA e com diferenças maiores entre as mesmas do que quando comparadas ao coletivo dos ouvintes. O autor cita 3 como variáveis diferenciadoras mais significativas: o nível de perda auditiva, a idade do início da surdez, sua etiologia e os fatores educacionais comunicativos. O nível de perda auditiva está ligado ao desenvolvimento da fala interna, à leitura labial, à leitura do texto escrito e à inteligibilidade da fala. A fala interna é proporcional ao nível de perda auditiva (Marchesi, 1995). Telford e Sawrey (1988) ilustram cinco níveis de perdas auditivas: a) perdas leves (20 a 30 db) - se localiza entre a audição difícil e a audição normal; b) perdas marginais (30 a 40 db) - dificuldade em ouvir a fala a poucos metros; c) perdas moderadas (40 a 60 db) - com a amplificação do som e o auxílio da visão é possível aprender a falar de ouvido; d) perdas graves (60 a 75 db) - uso de técnicas especializadas para aquisição da fala. São os indivíduos limítrofes entre os de audição difícil e os surdos; e e) perdas profundas (superiores a 75 db) rara aquisição da linguagem de ouvido, mesmo com a amplificação do som. A surdez é, portanto, um tipo de deficiência grave que interfere de modo particular no comportamento da criança e que afeta muitas faculdades relativas ao seu desenvolvimento. Motti relata em sua dissertação de mestrado que o Centro de Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão (CEDALVI), serviço do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), da Universidade de São Paulo (USP), atende pacientes com deficiência auditiva e visual, com o objetivo de proporcionar aos mesmos condições de habilitação, reabilitação e integração, por meio de atendimento especializado, diagnóstico, encaminhamento terapêutico e/ou indicação e adaptação do Aparelho de Amplificação Sonora Individual (AASI), através de uma equipe multidisciplinar. 3 METODOLOGIA A pesquisa bibliográfica é uma etapa fundamental em todo trabalho científico que influenciará todas as etapas de uma pesquisa, na medida em que der o embasamento teórico em que se baseará o trabalho. Consistem no levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações relacionadas à pesquisa, tendo como base de pesquisa livros, periódicos científicos e internet. Compreende o universo de trabalhos teóricos desenvolvidos em campos como o da filosofia, sociologia e antropologia etc. Toda pesquisa implica o levantamento de dados de variadas fontes, quaisquer que sejam os métodos ou técnicas empregadas. Os dois processos pelos quais se podem obter os dados são: 1) documentação direta: levantamento de dados no próprio lugar onde os fenômenos ocorrem realizado por intermédio de pesquisas de campo e de laboratório; 2) documentação indireta : utilização de dados coletados por outras pessoas obtidos por intermédio de pesquisa documental (fontes primárias) e pesquisa bibliográfica (fontes secundárias). Uma pesquisa é um processo sistemático de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento preexistente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. A pesquisa como atividade regular também pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um conhecimento. A pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise e interpretação de livros, periódicos, documentos, mapas, fotos, manuscritos, etc. Todo material recolhido deve ser submetido a uma triagem, a partir da qual é possível estabelecer um plano de leitura. Trata-se 4 de uma leitura atenta e sistemática que se faz acompanhar de anotações e fichamentos que, eventualmente, poderão servir à fundamentação teórica do estudo. Este trabalho está dividido em três partes: Na primeira parte apresenta o conceito de deficiência auditiva e seus estágios. Na segunda parte, enfatiza-se os testes detectores da deficiência auditiva e as próteses auditivas. Descrição das causas de distúrbios de audição; Os testes detectores que são efetuados para verificação do grau da deficiência auditiva e as próteses para correção da audição (aparelhos auditivos). Na terceira parte descreve sobre a linguagem da criança deficiente auditiva e a sua comunicação com a família e a escola. 4 DEFICIÊNCIA, ESTÁGIOS, CAUSAS, TESTES DETECTORES E APARELHOS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA, 4.1 CONCEITO DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA Mais de 15 milhões de brasileiros têm problemas de audição, segundo a Organização Mundial de Saúde, apenas 40% reconhecem a doença. A falta de informação e o preconceito fazem com que a maioria demore até 6 anos para tomar uma providência, escondendo o seu problema. O maior dilema do surdo acontece em casa. Com o tempo quem tem problema deixa de frequentar a mesa da família e a sala de televisão. No idoso, a surdez constitui-se um dos mais importantes fatores de desagregação social, onde observa-se a depressão, tristeza, solidão e isolamento. A deficiência auditiva traz muitas limitações para o desenvolvimento da criança, sua deficiência influi no relacionamento da mãe com o filho e cria lacunas nos processos psicológicos de integração de experiências, afetando a capacidade de seu desenvolvimento normal. A falta ou deficiência de funcionamento de um sentido provoca uma alteração na integração com os demais e aumenta a possibilidade de uma interferência significativa nas operações mentais de recepção e interpretação de mensagens. Escutar e falar são os meios mais comuns da comunicação humana. Uma perda auditiva obviamente causa graves problemas na comunicação auditivo oral. Uma criança que não ouve bem pode exibir marcantes problemas na linguagem. Uma perda auditiva num bebe ou numa criança pequena pode causar sérios atrasos no desenvolvimento cognitivo geral da linguagem. Uma perda auditiva adquirida que se desenvolve posteriormente na infância ou na fase adulta exercerá também um efeito devastador na capacidade de comunicação. 4.2 OS ESTÁGIOS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA De acordo com Peter Herriot (1993, p.18) a deficiência auditiva se classifica quanto à localização e quanto ao grau de comprometimento. Quanto à localização são identificados como: Perda Auditiva Condutiva - que envolve o ouvido externo e o médio. A criança perde a quantidade e a qualidade de volume sonoro, ocorre quando há 5 algum tipo de interrupção do som quer no ouvido externo, quer no ouvido médio. A perda condutiva mais típica é quando o ouvido médio torna-se inflamado, muitas vezes levando a exsudação do ouvido médio ao acúmulo de líquido por trás do tímpano. É muito comum para crianças pequenas, particularmente nos anos pré-escolares, que sempre sofrem de um resfriado, de coriza ou de uma alergia ativa experimentar exsudação de ouvido médio. Às vezes a criança tem uma dor de ouvido aliada a uma perda auditiva condutiva entre suave e moderada, contudo, a infecção de ouvido médio e a perda auditiva resultante permanecem não sendo detectadas pela família. Em níveis muito suaves de perda, a criança ouvirá todas as vogais e a maioria das consoantes, más poderá perder a audição de algumas consoantes surdas, quando emitidas com intensidade relativamente baixa. Os níveis comuns de perda condutiva em crianças pequenas podem oscilar entre 35 e 50 db, com a criança escutando quase nenhum som da fala em níveis conservacionais comuns. A identificação e o tratamento precoce da perda auditiva condutiva, em crianças, são essenciais, sendo que a maioria dos distúrbios condutivos envolvendo o ouvido médio pode ser tratado com sucesso, usando medicamentos ou procedimentos cirúrgicos. Perda Neurossensorial: As perdas neurossensoriais em crianças são menos comuns do que perdas do tipo condutivas. Numa perda neurossensoriais a criança apresenta algum dano nas células aliadas da cóclea ou nas fibras nervosas do nervo auditivo (oitavo nervo craniano). Este tipo de perda auditivo pode muitas vezes ser negligenciado no exame físico de uma criança pequena porque tanto o conduto auditivo externo como o ouvido médio parece ser normal. A maioria das perdas neurossensoriais em crianças é de origem congênita presentes no momento do nascimento. A perda auditiva neurossensorial pode ser de origem genética, adquirida por doença ou incompatibilidade de RH parental. A criança que já desenvolveu a fala e a linguagem normal antes da perda auditiva sofrerá menor interferência de comunicação do que a criança que ainda esteja adquirindo o sistema de linguagem auditivo oral. Perda Auditiva Mista: Algumas crianças apresentam uma perda auditiva mista. Podem ter nascido com a perda auditiva causada por doença em que a mãe adquiriu durante a gravidez ou por doença na própria criança. Na deficiência auditiva mista verifica-se, conjuntamente, uma lesão do aparelho de transmissão e de recepção, ou seja, quer a transmissão mecânica das vibrações sonoras, quer a sua transformação em percepção estão afetadas/perturbadas. Esta deficiência ocorre quando há alteração na condução do som até ao órgão terminal sensorial ou do nervo auditivo. A surdez mista ocorre quando há ambas as perdas auditivas: condutivas e neurossensoriais. Problemas Auditivos Centrais: Causadas pela disfunção ou mau desenvolvimento das vias auditivas do sistema nervoso central. São considerados crianças com problema auditivo central, aquelas que apresentam mecanismos de audição periférica normal, mas que parecem ser incapazes de escutar. 6 Muitas crianças classificadas como portadoras de distúrbios de aprendizagem podem ter sofrido uma perda auditiva, ainda não identificada, como uma das principais causas contribuintes para sua incapacidade de entender o que ouvem. A criança com problema auditivo central em geral apresenta problemas em seguir e entender o que lhe é dito, podem muitas vezes demonstrar acuidade normal, mas sentem dificuldade com o processamento auditivo central. A compreensão auditiva exige que as crianças prestem atenção cuidadosa e desenvolvam a capacidade de compreender com sensibilidade auditiva normal. Dentro do grau de comprometimento encontramos Portador de Surdez Leve, Portador de Surdez Moderada, Portador de Surdez Severa e Portador de Surdez Profunda, que se dividiu em parcialmente surdo e surdo. Com base nas ideias de Couto e Costa (1985), pode-se dizer que são considerados parcialmente surdos: Portador de Surdez Leve: No grau leve as pessoas nem se dão conta que ouvem menos, e tendem a aumentar progressivamente a intensidade da voz. É a perda auditiva de até quarenta decibéis. Essa perda impede que o aluno perceba igualmente todos os fonemas da palavra. Além disso, a voz fraca ou distante não é ouvida. Em geral, esse aluno é considerado como desatento, solicitando, frequentemente, a repetição daquilo que lhe falam. Essa perda auditiva não impede a aquisição normal da linguagem, mas poderá ser a causa de algum problema articulatório ou dificuldade na leitura e/ou escrita. Portador de Surdez Moderada; A surdez moderada é uma perda auditiva de 40 a 70 decibéis. Os limites da criança que apresenta essa perda auditiva se encontram ao nível da percepção da palavra que para isso é necessário uma voz forte, de certa intensidade para que a criança possa compreender o que falamos. A criança com essa perda tem frequentemente atraso de linguagem e alterações articulatórias, havendo, em alguns casos maiores problemas linguísticos. Essa criança tem maior dificuldade de discriminação auditiva em ambientes ruidosos. Em geral, ela identifica as palavras mais significativas, tendo dificuldade em compreender certos termos de relação e/ou frases gramaticais complexas. Sua compreensão verbal está intimamente ligada à sua aptidão para a percepção visual. São considerados surdos: Portador de Surdez: A surdez severa é a perda auditiva entre 70 e 90 decibéis. Esse tipo de perda permite apenas que a criança identifique alguns ruídos do ambiente familiar e poderá perceber apenas uma voz forte. Se a família estiver bem orientada, a criança poderá chegar a adquirir alguma linguagem em seu próprio ambiente. A compreensão verbal vai depender, em grande parte, da aptidão para utilizar a percepção visual e observar o contexto da situação em que se desenvolve a comunicação. Portador de Surdez Profunda: É a perda auditiva superior a 90 decibéis. A gravidade dessa perda é tal, que priva a criança das informações auditivas necessárias para perceber e identificar a voz humana, impedindo a criança de adquirir a linguagem oral. 7 A criança não adquire a fala como meio de comunicação. Uma vez que não conseguindo ouvir os sons de que ela própria emite (balbucio), nem os sons que as outras pessoas emitem. Assim, quanto maior for a perda auditiva, maiores serão os problemas linguísticos. De acordo com o grau da perda auditiva, a faixa etária em que essa perda ocorreu e o nível de comprometimento linguístico, essa criança precisará receber atendimento especializado, e cada criança terá diferente alternativa de atendimento. 4.3 CAUSAS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA Entre as causas dos distúrbios de audição temos: 1) Causas genéticas e hereditárias - são derivadas da transmissão familiar de certas características e dentre elas a surdez. As formas genéticas resultam da combinação indesejável entre os genes. 2) Causa Pré-natal - o acompanhamento médico adequado na gravidez pode evitar o desenvolvimento das futuras malformações provenientes de virose, protozoários (toxoplasmose), bactérias(sífilis), medicações ototóxicas, estados carências, patologias e gestação de alto risco; 3) Causas Natais – a criança, que teve sofrimento durante o desenrolar do parto, geralmente nasce cianosada (azulada) devido a problema de oxigenação, necessitando muitas vezes prolongado processo de reanimação. As situações mais comuns que provoca esta causa são: parto demorado e difícil, contrações inadequadas de apresentação fetal, circulares de cordão umbilical, ausência de passagem pelo canal do parto; ruptura precoce da bolsa de água, e incompatibilidade de fator RN. 4) Causas pós-natais temos: a) tampões de cera e corpos estranhos que obstruem o conduto externo; b) agenesia que é a ausência do conduto externo; c) Obstrução tubária que pode ser pura ou permanente. A obstrução tubária pura é o fechamento de trompa que não se abre na deglutinação ou no bocejo, impossibilitando o arejamento de caixa, havendo depressão da membrana do tímpano e surdez temporária, e pode desaparecer com insuflação tubária sem deixar sequela, ao passo que a obstrução tubária permanente ou de repetição a surdez pode ser permanente; d) otite que pode ser otite média aguda necrosante, média crônica supurada ou média crônica colesteatomatosa; e) perfurações timpânicas; f) presbiacusia; g) traumatismos. 4.4 TESTES DETECTORES DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA Entre as causas dos distúrbios de audição, uma em cada mil crianças, nasce com surdez profunda. Muitas outras nascem com grau menor de surdez e outras mais a adquirem após o nascimento. Embora existam métodos efetivos para detectar perdas auditivas desde o nascimento, a média de idade de detecção da surdez está entre três e cinco anos. Graus menores de surdez costumam ser detectados com mais idade, em geral, quando inicia o período escolar. O Educador precisa ter conhecimento a respeito dos testes detectores da deficiência auditiva, do processo clinico que é utilizado para o diagnóstico e o tratamento da criança com deficiência auditiva bem como ter condições de identificar a surdez na criança. 8 Segundo Fernandez (1990) os testes detectores da deficiência auditiva são feitos através da audiologia. A Audiologia é a ciência que estuda a audição e o equilíbrio bem como todas as patologias associadas a estas, a sua prevenção e consequente reabilitação. É o estudo da capacidade auditiva e apresenta uma bateria de testagem que deverá ser adequada ao nível mental da criança. Dentro desses testes encontramos duas medidas que são básicas: frequência e intensidade. A frequência é a grandeza física que corresponde à sensação subjetiva de tonalidade (a percepção de sons graves, médios e agudos). A intensidade é a grandeza física que fornece à criança a sensação subjetiva de sonoridade, correspondente a percepção mais alta ou mais baixa. Os principais exames para investigação da Deficiência Auditiva na criança são: a) Audiometria Tonal de Limiares - é a pesquisa dos limiares mínimos de audição por via aérea, por meio de fones, e por via óssea, por intermédio de vibradores. Exige da criança a informação se ela está ouvindo ou não o som que é enviado do audiômetro, que é o aparelho para realizar a testagem. b) Audiometria infantil – é realizada na faixa etária entre 6 e 7 anos de idade e pode ser dividida em dois tipos: 1) Audiometria condicionada - é um teste em que é ensinado à criança uma brincadeira, por exemplo, colocar uma moeda em um cofrinho, toda vez que ouve o apito/som. A criança apresenta uma resposta lúdica ao estímulo sonoro. Tem a vantagem de atrair a atenção da criança de forma mais efetiva, e avalia um ouvido de cada vez. Os sons podem ser apresentados por meio de fones de ouvido, caixas acústicas ou por um instrumento - vibrador ósseo, que permite transmitir o som através do osso; 2) Audiometria de Reflexos Incondicionais – é usado em crianças muito pequenas e tem como objetivo estudar as reações reflexas diante dos estímulos sonoros lançados por alto-falantes que são colocados próximo à criança. Os principais são: a) Reflexo de Moro – consiste na extensão e flexão dos membros superiores e inferiores diante do som. Ex. uma sala em silêncio e derrepente aparece um som causando susto: b) Reflexo cócleo-cefalógero – a criança move a cabeça procurando a fonte sonora; c) Reflexo cócleo-coculógio – é o movimento que a criança faz com os olhos em busca da fonte sonora. c) Audiometria de Tronco Cerebral (BERA) - avalia a condução eletrofisiológica do estímulo auditivo da porção periférica até o tronco cerebral, apresenta vantagens como o uso de estímulos menos intensos, próximo ao limiar, tornando possível detectar formas mais leves de deficiência auditiva; a capacidade de detectar perdas auditivas unilaterais e bilaterais e o uso de uma medida fisiológica que depende de uma resposta sensorial. d) Audiometria Vocal – Este teste pode ser feito por otorrinolaringologistas e fonoaudiólogas em cabines acusticamente isoladas. O teste consiste em apresentar ao paciente palavras e fonemas (mono e dissilábicas) que deve repeti-las corretamente. Na audiometria vocal é avaliada a discriminação auditiva (capacidade de entender os sons apresentados) e os limiares de discriminação e inteligibilidade. e) Teste da Orelhinha - É um programa de avaliação da audição em recém nascidos, indicada por instituições do mundo todo para diagnóstico precoce de perda auditiva, uma vez que sua incidência, na população geral, é de 1 a 2 por 1000 nascidos vivos. O método 9 mais utilizado para a triagem auditiva neonatal é o exame de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAs). Considerado bastante objetivo, este exame é indolor e de execução rápida, realizada durante o sono natural do bebê. Utiliza-se um fone na parte externa da orelha do bebê. Demora de 5 a 10 minutos e não tem qualquer contraindicação, não acorda nem incomoda o bebê. O exame de EOAs baseia-se na produção de certo estímulo sonoro, bem como na percepção do retorno desse estímulo (eco), o registro é feito através do computador, verificando se a cóclea (parte interna da orelha) está normal, ou seja, em funcionamento, é emitido um gráfico com o diagnóstico do exame. 4.5 PRÓTESES E APARELHOS DA DEFICIÊNCIA AUDITIVA O aparelho auditivo eletrônico é um mini-amplificador que tem como função conduzir o som à orelha do individuo, coletando e transmitindo a onda sonora, acionando energia necessária, e evitando a dispersão do som, com a menor distorção possível. Seu objetivo é aproveitar a audição residual de modo efetivo através da amplificação. Um aparelho auditivo é constituído de um microfone, um amplificador e um fone, podendo também conter sistemas de compressão, filtros e chips de programação. As ondas sonoras são captadas por um microfone e são transformadas em sinal elétrico, através de uma fonte de força, bateria, amplificada em vários estágios e energia elétrica. Quanto maior o número de estágios, maior a amplificação. Os sinais amplificados dirigem-se para um receptor que converte energia elétrica em energia acústica amplificada. A prótese auditiva jamais poderá ser considerada como um novo ouvido. Ela é uma tentativa válida de substituir, de maneira razoável, o órgão comprometido, Ela dará à criança possibilidade de ouvir sons que nunca ouviu, a sua voz vai parecer mais alta, vai ter que aprender a distinguir entre o que quer ouvir e o que é ruído. Apesar dos grandes avanços tecnológicos, uma prótese auditiva é uma ajuda e não o nosso próprio ouvido em condições normais. É importante saber que qualquer aparelho de amplificação para deficientes auditivos, por mais aperfeiçoado que seja, por si só, não será capaz de realizar milagres. Existem no mercado diversos tipos de aparelhos auditivos. Os mais comuns são: Caixinha – este aparelho é chamado de caixa ou de bolso. Tipo mais antigo de prótese. Pode ser levado no bolso da roupa ou em uma bolsinha feita especialmente para colocá-lo, tem o formato de uma caixa, da qual saem fios ligados aos receptores que são adaptados no pavilhão da orelha; Haste de óculos – Está em desuso, e indicado para pacientes com perda auditiva condutiva ou de infecções. O microfone, o amplificador e o receptor estão contidos em uma das hastes laterais dos óculos. Retroauricular – São os mais aceitáveis esteticamente por sua versão mini. São usados atrás da orelha, ligados ao receptor por meio de um pequeno tubo adaptado ao molde individual. Intra-auricular – Possui uma dimensão menor que o retroauricular, que o permite colocá-lo dentro do pavilhão da orelha. Aparelho auditivo de amplificação digital para deficientes auditivos com sistema computacional a 10 distância usado para reabilitação auditiva e apoio sonoro de sujeitos portadores de deficiência auditiva leve, moderada ou severa que é compreendida por um sistema de pré-amplificador miniaturizado, um sistema de controle automático de ganho de amplificação e um sistema de saída intracanal com estratégia operacional dirigida para funcionamento em dois módulos, comunicando-se por frequência modulada. Intra-canais – São os mais estéticos e apresenta muita praticidade, pois fica posicionado dentro do canal auditivo e possui botão giratório de volume que o próprio usuário ajusta de acordo com a sua necessidade, ocupam somente a MAE (Meato Acústico Externo) sendo a abertura do microfone na entrada da MAE. Usa a amplificação natural de pavilhão auditivo e mantém efeito direcional verdadeiro com excelente fidelidade sonora e ótima estética. Implante Coclear – Nos últimos anos o implante coclear multicanal (IC) tem sido indicado como um recurso altamente benéfico e de grande efeito para a reabilitação de pacientes portadores de deficiência auditiva neurossensorial bilateral profunda. O implante coclear é um aparelho que oferece informação sonora a indivíduos com perda auditiva profunda dos dois lados que poderá ajudar na sua comunicação. O implante exerce sua função através da estimulação elétrica direta das fibras do nervo auditivo por eletrodos em pacientes onde o ouvido interno está danificado. O implante tem dois componentes, um interno, composto por um grupo de eletrodos e um aparelho receptor e um externo composto de um microfone, processador de fala, um codificador e um transmissor. A comunicação entre os componentes externos e internos é realizada através de ondas de rádio FM transmitidos pela pele intacta (pericutâneo). Neste último existe um imã no componente interno para fixar o componente externo acima dele. O funcionamento do implante coclear em muito assemelha ao de um aparelho auditivo. 5 A LINGUAGEM DA CRIANÇA DEFICIENTE AUDITIVA E A SUA COMUNICAÇÃO 5.1 COM A FAMÍLIA A família possui papel fundamental no processo de desenvolvimento da criança deficiente auditiva, assim como no processo de inclusão desta na sociedade. Assim, caberá à família, após a confirmação do diagnóstico, a procura de recursos técnicos e de acompanhamento profissional adequado, visando ao desenvolvimento global desta criança. Será ainda de responsabilidade da família informar-se junto ao médico sobre medicamentos ototóxicos e evitar que sejam auto administrados, uma vez que estes podem incidir de forma negativa nos possíveis restos auditivos. A criança passa a maior parte de seu tempo incluída no núcleo familiar, assim os pais e irmãos da criança surda, de forma mais direta, e os demais componentes desta família são os que mais poderão auxiliá-la em seu dia-a-dia. A criança em fase de desenvolvimento biopsicossocial necessita de muitas experiências, vivências e riquezas de situações, afim de iniciar um aprendizado que pouco a pouco vai se ampliando e se tornando mais complexo. Ao passar por esta fase de 11 desenvolvimento, a criança deficiente auditiva requer em maior intensidade estimulação sistemática e repetitiva. Na área da linguagem, o concreto deve estar sempre presente, seja se falarmos de pessoas, objetos, animais ou até mesmo ações. Assim, se for trabalhar com criança, por exemplo, o conceito de “avião”, ela deve ser levada para ver um avião, sua forma, seu tamanho, ouvir seu barulho, permitir que ela recolha o maior número de informações a partir da vivência e da observação direta. A linguagem da criança surda só pode se desenvolver e se fortalecer apoiada em vivências. A fala e a linguagem são apenas dois aspectos do desenvolvimento infantil, são áreas que exigem dos pais e também dos professores a maior dedicação e esforço, mas não pode se tornar uma preocupação excessiva, esquecendo que o deficiente auditivo é uma criança como as demais e que também tem direito a tempos livres para que utilize como quiser. A criança que só tem problema de surdez, em termos físicos, está em nível de igualdade com as demais de sua idade. É muito importante que essa criança participe de jogos, esportes, festas, etc. vivendo uma vida normal dentro do seu grupo. É fundamental que a criança sinta o próprio sucesso e acredite em suas condições de igualdade perante aos seus companheiros de audição normal. O convívio e a capacidade de escutar a criança surda, para que ela se sinta bem adaptada à vida social é necessário desenvolver não só nos pais, mas também na sociedade e nas pessoas que a cercam. Ela precisa sentir que as pessoas tem prazer em ouvi-la e entender os seus relatos. Ela sempre terá coisas para dizer ao chegar em sua casa ou na escola.São inúmeras as possibilidade para ampliar os seus interesses, sua linguagem, sua visão de mundo, evitando que essa criança permaneça uma pessoa egocêntrica e infantil. A família em especial precisa acreditar que o deficiente auditivo, se for trabalhado desde cedo, e se houver uma estimulação correta e intensa, será capaz de integrar-se perfeitamente no mundo dos ouvintes, já que intelectualmente não tem nenhum comprometimento que o impeça de aprender, desenvolver-se e consequentemente apresentar um desempenho semelhante ao do indivíduo de audição normal. O grande problema em relação a compreender as possibilidades que a criança deficiente auditiva tem, é que ao tomar conhecimento de sua deficiência, automaticamente lhe é atribuído o rótulo de “surdo-mudo” e assim é anulada a possibilidade que a mesma tem de falar. É criando a ideia de que o surdo apresenta déficit intelectual e que não é importante aprender aquilo que a criança normal aprende. É claro que o processo de aprendizagem será mais intenso e também mais demorado. Os caminhos serão diferentes, mas o resultado será idêntico, já que a criança não apresenta deficiência intelectual, a não ser que a surdez venha acompanhada de um déficit intelectual. A criança deficiente auditiva tem total condição de ser oralizada e de utilizar a linguagem oral como forma principal de comunicação. A criança surda adquire sua linguagem ao relacionar a experiência que está vivendo com a verbalização ou os sinais que ela observa em outras pessoas, bem como ao relacionar o que está sendo falado pelo outro com suas próprias experiências de forma oral, escrita ou com sinais. Assim como algumas crianças surdas tem a possibilidade de desenvolver a linguagem oral utilizando a fala para se comunicar, outras por características pessoais e também em decorrência do ambiente familiar em que cresceram apresentam linguagem oram mínima, tendo assim, que ser completada com outras formas de comunicação, como por exemplo a escrita e a de sinais. 12 A criança pode desenvolver também a leitura orofacial, a leitura labial e a fisionômica, onde a criança apresenta a capacidade de ler os lábios e a expressão facial de quem está falando. A leitura labial é uma capacidade inata em todas as pessoas, mas apenas as que têm perda auditiva desenvolvem essa habilidade. 5.2 NO ASPECTO ESCOLAR Para o deficiente auditivo a leitura é uma aprendizagem extremamente difícil. A maioria dos deficientes auditivos adolescentes possuem níveis de alfabetização compatíveis com a terceira série, com uma percentagem muito alta de analfabetismo funcional, isto é, casos que apenas dominam a mecânica da leitura mas sem compreensão do que lêem. No processo de ensino da leitura ao deficiente auditivo, devem organizar-se atividades para que possam superar suas limitações e que, ao ser posto frente a um texto, possa compreendê-lo. As caracteristicas mais salientes da escrita do deficeinte auditivo é possuir um vocabulário limitado; usar frases muito simples e curtas; as frases têm mais palavras de conteúdo (nomes e verbos) do que palavras de função (artigos, preposições, conjunções etc.); uso inadequado do tempo nas frases; erros de concordância de gênero, número e pessoa; dificuldades no uso de frases compostas, uso escasso de pronomes, falta de coordenação de idéias, na disposição de parágrafos; uso incorreto dos sinais de pontuação; frases estereotipadas; erros freqüentes de omissão, substituição, adição e troca da ordem das palavras. Para a educação das crianças com deficiência auditiva, apesar das diferentes opiniões, existem basicamente três grandes correntes: o Oralismo, a Comunicação Total e o Bilingüismo. Porém, é necessário observar o potencial dessas crianças, o preparo adequado dos profissionais envolvidos e uma orientação aos pais para um envolvimento no processo, para uma melhor aplicabilidade qualquer que seja o método. Oralismo - método auditivo-verbal, oral, unissensorial ou multissensorial. A criança tem acesso à língua portuguesa, em sua modalidade oral, com ênfase na estimulação auditiva, para que possa alcançar melhor nível possível de desempenho da língua falada. A criança necessitará de atividades de estimulação para o aprendizado da Língua Portuguesa, tais como: estimulação sensorial auditiva, leitura orofacial, estimulação rítmica, desenvolvimento da linguagem, estimulação fonoarticulatória e estimulação para o desenvolvimento cognitivo. Comunicação Total - quando se aplica a filosofia da comunicação total, o educando tem acesso à língua de sinais simultaneamente à língua portuguesa, ao alfabeto digital e a outras formas de expressão. A Comunicação Total, entendida como filosofia educacional é uma proposta flexível no uso de meios de comunicação oral e gestual. Nessa perspectiva, de acordo com Moura (1993), uma filosofia que incorpora as formas de comunicação auditivas, manuais e orais, apropriadas para assegurar uma comunicação efetiva com as pessoas surdas. A ideia é usar qualquer forma que funcione para transmitir vocabulário, linguagem e conceitos de ideias entre o falante e a criança surda. Bilingüismo - O princípio fundamental é oferecer à criança um ambiente lingüístico onde os interlocutores se comuniquem de forma natural. De acordo com Moura (1993), O Bilingüismo pressupõe o ensino de duas línguas para a criança. A primeira é a língua de sinais que dará o arcabouço para a aprendizagem de uma segunda 13 língua, que pode ser a escrita ou a oral, dependendo do modelo seguido. Isto significa que a criança é exposta à Língua de Sinais através de interlocutores surdos ou ouvintes que tenham proficiência em língua de sinais. A língua oral ou escrita será trabalhada seguindo os princípios de aprendizado de uma segunda língua. A esse respeito citamos KOZLOWSKI, 1998, In Anais do Seminário do INES Instituto Nacional de Educação de Surdos: "A proposta bilíngue não privilegia uma língua, mas quer dar direito e condições ao indivíduo de poder utilizar duas línguas; portanto, não se trata de negação, mas de respeito; o indivíduo escolherá a língua que irá utilizar em cada situação linguística em que se encontrar". CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo demonstrou de uma maneira sucinta o que é uma perda auditiva, e as limitações que ela traz para o desenvolvimento da comunicação da criança. Considerando que a audição é essencial para a aquisição da linguagem falada, sua deficiência influi no relacionamento da criança com a família e a sociedade. Ainda hoje a sociedade conhece bem pouco os portadores de deficiência, muitas vezes os pais, professores e outros adultos tomam atitudes inadequadas em relação a criança com perda auditiva, ignorando suas reais limitações. Tratam a criança com perda auditiva como se ela fosse incapaz de compreender porque falam de maneira pouco natural, apenas com gestos, se usam palavras tem dificuldade na pronúncia, não usam artigos ou frases completas e não agem com naturalidade. Deve-se levar em conta as potencialidades e limitações da criança deficiente auditiva, permitindo que ela manifeste sua espontaneidade e suas diferenças, diferenças que não a torna um ser inferior ou menos capaz, mas apenas diferente como todo ser humano, que tem suas particularidades. Enfatizou-se neste estudo também, o conceito de deficiência auditiva, os seus estágios, os testes detectores e as próteses, para que o educador possa acompanhar o desenvolvimento da criança deficiente auditiva, ou seja, compreendê-la em suas singularidades. No âmbito escolar, observa-se a falta de preparo pedagógico do professor para atender essa clientela, pois não há curso de formação para esse profissional. Nesse caso, o professor de classe regular necessita de acompanhamento do especialista para minimizar a sua angústia. Dessa forma, torna-se necessária uma preparação prévia desse professor, a redução de números de alunos por turma, uma estrutura física adequada e o apoio especializado ao docente regular, um acompanhamento permanente aos pais e uma campanha de conscientização com a comunidade sobre a problemática da inclusão do surdo em classe regular. Refletindo a respeito da educação como um todo, encontramos vários problemas com o próprio processo de aprendizagem em termos qualitativos e quantitativos, pois já se espera menos dos alunos "incluídos". Além é claro, o processo de aprendizagem não ser pensado de forma surda, o que exigiria uma revisão, com a presença de pessoas com deficiência auditiva que possuem essa dimensão. O próprio currículo precisaria refletir e constituir essa forma surda, uma vez que se caracteriza enquanto dispositivo cultural e social e é fundamental no processo de formação da identidade das crianças. As comunidades surdas estão despertando e percebendo que foram prejudicados com as propostas de ensino desenvolvidas até então e estão percebendo a importância e valor da sua língua, isto é, a LIBRAS. Os profissionais da área estão tendo mais acesso a informações 14 que são resultados de pesquisas e estudos sobre a Língua de Sinais, possibilitando assim, a retomada dos conceitos estruturados de surdez e de Língua de Sinais. Estudos têm apontado para essa proposta como sendo mais adequada para o ensino de crianças surdas, tendo em vista que a língua de sinais pode ser considerada como língua natural. O reconhecimento dos deficientes auditivos e da sua comunidade linguística assegura o reconhecimento das línguas de sinais dentro de um conceito mais geral de Bilinguismo. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Especial. O processo de integração escolar dos alunos portadores de necessidades educativas especiais no sistema educacional brasileiro. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Especial. Brasília:MEC/SEESP, 1995.(Série Diretrizes, nº.11) ______. Secretaria de Educação Especial. 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