SEQUENCIA DIDÁTICA INTERATIVA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES Maria Marly de Oliveira Editora Vozes, 2013 Quinto capitulo (p.178) O ENSINO DA MATEMÁTICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS: UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA Jeane Carneiro da Costa1 INTRODUÇÃO Vamos discutir as questões da educação de jovens e adultos e seus saberes inseridos na matemática, principalmente aqueles conhecimentos significativos que se encontram presentes nas relações sujeito e objeto. Bem como, as representações matemáticas postadas na leitura de mundo, nas interações sociais, determinadas pelos conteúdos curriculares explicitados na malha curso de graduação em matemática, causam indagações entre o ato de ensinar e aprender na práxis pedagógica do educador. O processo de interação teoria e prática nos espaços escolares retrata a formação do futuro professor, instalando-se a partir daí uma questão de diálogo intercultural. Isso, compreendida como formação e profissionalização do professor / educador, distante do ponto de vista, do educando e do educador, ou seja, da ótica dos próprios sujeitos envolvidos, bem como da reflexão da práxis pedagógica e a aprendizagem como atividade intelectual. 1 Mestre em Psicologia da Educação com Projeto de Investigação na área de Formação de Professores pelo Instituto Superior de Línguas e Administração – ISLA. Professora da Universidade Estadual de Pernambuco-UPE e da Faculdade de Formação de Professores de Goiana-PE. Portanto, uma pesquisa é sempre, de alguma forma, um relato. Sendo que esta discute algumas das realidades comumente enfrentadas por alunos aprendentes graduandos que frequentam a Universidade, tendo como passaporte o ingresso por meio de exames, 2vestibular e escolhas por opção, para se chegar a um novo saber profissional, realidades que levam a questionamentos como: ser professor na educação de jovens e adultos requer uma metodologia específica? Quem são os alunos jovens e adultos? Compreender esses processos dos sujeitos que aprendem e como o trabalho pedagógico pode estabelecer relações entre o discurso e a prática exige, pois, do construtor / educador um novo conhecimento, nova postura, autonomia, atitudes. Segundo Souza (2007, p. 33): [...] as relações pedagógicas estabelecidas entre educadores e educandos, entre professor e o grupo de alunos; a relação de pais e filhos, o estilo de ensinar de cada professor, pai, pastor / padre, entre outros tantos ensinantes”.demonstram jeitos diferentes, cada um aprende de uma forma particular, muitas vezes apropriar-se do discurso e esforçando-se para construir uma nova compreensão, interpretação, explicação, intervenção legitimando assim, o espaço da escolaridade. Dessa forma, apresentam-se fatos e ações ocorridos no decorrer das atividades vivenciadas in-loco e da apropriação de saberes heterogêneos indissociáveis da disciplina, nela, busca-se a compreensão dos elementos que nos permitam entender quem é este sujeito, conhecendo suas características relacionadas à identidade, à linguagem e ao pensamento. As dificuldades dos alunos em sala de aula e no cotidiano de suas vidas, a interpretação da visão dos mesmos sobre o processo de como trabalhar com a EJA e quais os processos de funcionamentos tanto cognitivos quanto culturais, políticos, sociais e legislativos, tais processos já incorporados nas dinâmicas dos alunos da EJA por pertencerem a diferentes grupos, uma construção coletiva fruto do aprender a conviver na sociedade, caracterizada e fundamentada ao longo da vida. Logo, percebe-se que o Curso de graduação em Matemática abre alas para uma discussão mais humanizada, por ele perpassam as teorias humanísticas, aquelas 2 Exames de acesso ao Ensino Superior. pautadas no currículo, estruturadas através de conhecimentos específicos e saberes 3 sociais e pedagógicos, saberes plurais. “Esse fazer relaciona-se com os saberes ligados ao trabalho que são temporais, pois são construídos e denominados progressivamente durante um período de aprendizagem variável, de acordo com cada ocupação” (TARDIF, 2006 p. 58). DAS INTENÇÕES ÀS AÇÕES Compreender o sentido do que se entende, atualmente por EJA é um desafio; faz-se necessário uma viagem ao tempo, remetendo-nos às práticas e às ações desenvolvidas por programas destinados a pessoas que conviveram e convivem até hoje com diversos problemas relacionados, por um lado, com a democratização do acesso e a criação de condições adequadas para permanência no âmbito escolar; por outro, com desenvolvimento de práticas educativas e culturais que contemplem as exigências atuais das sociedades modernas. Daí a necessidade de mergulhar na leitura e estudar a possível inclusão dessa modalidade de ensino como direito, desde que a Constituição Brasileira de 1988, chamou a atenção para a “educação como direito de todos”, passando a ser reconhecida como dever do Estado, logo depois, a própria Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de Nº 9394/96 nos artigos 37 e 38 prescreve “A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria” e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação de Jovens e Adultos, instituída através da Resolução CNE/CEB Nº 1, de 5 de Julho de 2000, abrange os processos formativos da Educação de Jovens e Adultos como modalidade da Educação Básica nas etapas dos ensinos fundamental e médio. Portanto, quanto mais educadores e Educandos se apropriam dos conhecimentos sobre a EJA mais compreendem as intencionalidades e as diversas 3 Os saberes sociais encontram-se no seio da sociedade e da educação, saberes produzidos por outros grupos educacionais no âmbito da profissão, saberes pedagógicos constituídos pelos professores através das ciências da educação. formas de agir frente a sua formação profissional, nela encontram-se as relações interpessoais, a constituição da subjetividade4 e a sua identidade individual e coletiva. A educação de jovens e adultos é um campo de práticas e reflexão que, inevitavelmente, transborda os limites da escolarização, em sentido restrito. Primeiramente, porque abarca processos formativos diversos, onde podem ser incluídas iniciativas, que visam a qualificação profissional, o desenvolvimento comunitário, a formação política, e um sem número de questões culturais, pautadas em outros espaços que não o escolar. Além disso, mesmo quando focalizam os processos de escolarização de jovens e adultos, o cânone da escola regular, com seus tempos e espaços, rigidamente delimitados, imediatamente se apresenta como problemático. Trata-se, de fato de campo pedagógico fronteiriço, que bem poderia ser aproveitado como terreno fértil para a inovação prática e teórica. (DI PIERRO, JOIA E RIBEIRO, 2002, p. 17). Assim, a opção pela redação de um artigo, objeto deste estudo, não surgiu de forma aleatória, é resultado de algumas questões que inquietaram ao serem colocadas perante uma determinada realidade, distinta, porém incorporada às experiências, ao currículo de formação de professores em nível de graduação, especificamente no curso de matemática por ser uma disciplina eletiva e com 30 horas – aulas. Na verdade, no âmbito da função de professora / educadora da graduação em Matemática da FFPNM, depara-se percorrendo caminhos constituídos por diversidades de saberes; fios condutores de conhecimentos científicos, técnicos e do fazer artesanal, adquiridos por meio de experiências com a Educação Básica e Superior, assim sendo, investigar e questionar o saber docente dos educandos da graduação em Matemática fomentou uma inquietação em torno da formação de professores, percebe-se lacunas, pois alguns educadores que trabalham ou desejam trabalhar com essa modalidade de ensino desconhecem as especificidades desse grupo, logo não as consideram na hora de planejar suas ações. As várias leituras, os estudos, os debates e a própria experiência de sala de aula, instigaram-nos a tecer algumas reflexões: A formação de 4 A subjetividade é o mundo interno de todo e qualquer ser humano. Este mundo interno é composto por emoções, sentimentos e pensamentos. professores de Matemática desenvolve e estimula a capacidade de resignificação de conceitos e valores na EJA? A ação pedagógica direcionada a EJA considera as especificidades pertinentes a esse grupo? Esta formação auxilia o professor no reconhecimento do modo de construção de conhecimento dos alunos da EJA? Indagações eram referenciadas enquanto uma maneira de traçar uma trajetória de ensino – aprendizagem, assim, foi adotado um processo de ação- reflexão e ação, bem como, pesquisar uma metodologia em que se configura os sujeitos da EJA, sua historicidade vinculada à vida plural, suas representações simbólicas e a construção da prática docente. Tal situação foi articulada a partir de outro depoimento do aluno em sala de aula quando se expressa oralmente: O educador enquanto intermediário entre o educando e o saber, deve proporcionar autonomia e curiosidade aos seus discentes, dando-lhes a, oportunidade de mostrar o que sabem sobre determinado assunto e aceitar uma nova ideia ou sugestão, pois as relações de educador e educando deve ser recíproca, de trocas de experiências, ou seja, não é só o educador que tem algo a ensinar, o educando, muitas vezes surpreende pelo seu conhecimento, tornando ambos educadores e educandos, surgindo assim, a verdadeira educação; aquela citada por Freire como libertadora, pois ensinar deve ter objetivos, valorizá-los inserir o educando nos espaços da criticidade, aprofundamento das ideias e fatos, defender 5 formas de interagir com a sociedade . Nesse contexto, a sociedade e a comunidade escolar precisam urgentemente estabelecer uma relação dialógica educador – educando, viver a abertura respeitosa aos outros e, de vez em quando, de acordos, negociações, contratos, sempre considerando o momento e a situação nos quais se encontram inseridos, tomar a própria prática de abertura ao outro como objeto de reflexão crítica e fazer parte da aventura frente à aprendizagem significativa. Nesse sentido, pretende-se deixar evidenciado um posicionamento sobre a Disciplina Fundamentos de Jovens e Adultos com o Ensino da Matemática configurada na construção de uma concepção de práxis pedagógica. Dia porque, os educadores que trabalham com EJA deverão apresentá-la aos educandos como ferramenta construtora do conhecimento e, 5 Depoimento de aluno da FFPNM, 22 anos de idade, residente na cidade de Camutanga – Pernambuco, estudante do 2º período de Matemática. jamais como uma disciplina cheia de regras, normas, conteúdos memorizados que reprova. O que parece ser “difícil”; deve-se aproveitar o máximo das experiências de vidas dos educandos e, deixar que os mesmos busquem na sua vivência soluções para resolver situações problemas correlacionados ao seu meio ambiente. Mostrar a importância da matemática para a vida é salutar para construir uma nova compreensão, interpretação, explicação e intervenção no mundo que nós cerca: articular, uma aprendizagem significativa, no que tange sua visão de mundo frente a uma sociedade moderna, portanto, trabalhar com informativos, análise de estatísticas, construção de outras relações econômicas, políticas, institucionais e cognitivas, além da contextualização com outras disciplinas e áreas de conhecimentos como sociologia, antropologia, filosofia formatando uma visão interdisciplinar, algo singular, porém um olhar comprometido com os anseios da maioria da população produzindo outros saberes, oportunizando a quebra de paradigmas e simultaneamente a (re) criação dos processos de ressocialização. Tardif (2008, p. 33) informa que “o saber docente se compõe, na verdade, de vários saberes provenientes de diferentes fontes. Estes são os saberes disciplinares, curriculares, profissionais (incluindo os das Ciências da Educação e da pedagogia)”, entretanto, a essência do saber encontra-se na revelação do homem e a realidade, em sua totalidade. Manifesta-se através do homem e pelo homem que transforma a natureza, tornando as práticas sociais de saber em instrumento de análise e de fatos, na busca de mecanismos interativos próprios da sociedade, como organismo vivo repleto de multiculturalidade. Até agora, tentou-se mostrar a importância da Matemática em consonância com a EJA, essas múltiplas articulações entre a prática dos educadores, os saberes e o conhecimento científico, confere o poder da profissão e da prática docente, em suma, surge em parte um fenômeno, o ato de aprender se torna mais importante do que o ato de ensinar. A este modelo de expansão da humanidade abrem-se portas diversas, entre as quais a renovação de conceitos, técnicas e metodologias desprende-se de “certos hábitos” e vai-se em busca da substituição resultante das reflexões e formulam-se questões que permitem colocar em ação a re-invenção, não de forma empírica, mas sim com base nos conhecimentos científicos. E é aqui que se encontram conceitos como o da Andragogia. O QUE É ANDRAGOGIA? Será que é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender? De acordo com Gil (2008 p. 12), Embora o professor seja frequentemente visto como o principal elemento do processo de aprendizagem, ele não tem naturalmente o domínio de fatores relacionados aos estudantes, tais como suas características pessoais, necessidades e interesses. Não é capaz também, na maioria dos casos, de influenciar significativamente a organização administrativa da escola. Mas ele tem muita responsabilidade em relação ao conhecimento da disciplina que ministra às habilidades para a comunicação dos conteúdos, à maestria em relação ao uso de recursos instrucionais e ao clima estabelecido em sala de aula. Da mesma forma, Freire (1980) relata que a educação crítica considera os homens como seres em desenvolvimento, como seres inacabados, incompletos em uma realidade igualmente inacabada. Os homens têm consciência de que são incompletos, e assim, nesse estar inacabados e na consciência que disso têm, encontram-se as raízes da educação como fenômeno puramente humano. O caráter inacabado dos homens e o caráter evolutivo da realidade exigem que a educação seja uma atividade contínua. No contexto atual, emerge o conceito de andragogia, diferente da pedagogia, ela edifica os aprendizes, valoriza suas experiências, pois o conhecimento vem da realidade (escola da vida). O aprendizado é factível e aplicável. Esse educando busca desafios e soluções de problemas, que farão diferenças em suas vidas. O educando adulto aprende com seus próprios erros e acertos e tem imediata consciência do que não sabe e o quanto a falta de conhecimento o prejudica. Nessas novas formulações, Gil (2008 p. 12 -13) fundamenta a Andragogia nos seguintes princípios: • Conceito de aprendente. Esse conceito é adotado como alternativa ao “aluno” ou “formando”. O aprendente, ou aquele que aprende, é autodirigido, o que significa que é responsável pela sua aprendizagem e estabelece e delimita o seu percurso educacional. • Necessidade do conhecimento. Os adultos sabem melhor do que as crianças da necessidade de conhecimento. Eles se sentem muito mais responsáveis pela sua aprendizagem e pela delimitação de seu percurso educacional. • Motivação para aprender. O modelo andragógico leva em conta as motivações externas, como melhor trabalho e aumento salarial, mas valoriza, particularmente, as motivações internas, relacionadas com a sua própria vontade de crescimento, como auto-estima, reconhecimento, autoconfiança e atualização das potencialidades pessoais. • O papel da experiência. Os adultos entram num processo educativo com experiência bastante diversa e é a partir dela que eles se dispõem a participar ou não de algum programa educacional. Por isso, essas experiências devem ser aceitas como fonte de recursos a serem valorizados e partilhados e servir de base para a formação. Os conhecimentos do professor e os recursos instrucionais, como os livros e as projeções, são fonte que por si só não garantem o interesse pela aprendizagem. Devem ser vistos como opções que são colocadas à disposição para a livre escolha do aprendiz. • Prontidão para o aprendizado. O adulto tem uma orientação mais pragmática do que a criança. O adulto está pronto para aprender o que decide aprender. Ele se torna disponível para aprender quando pretende melhorar seu desempenho em relação a determinado aspecto de sua vida. Sua seleção de aprendizagem é natural e realista; por isso, muitas vezes ele se nega a aprender o que os outros lhe impõem. Além disso, sua retenção tende a decrescer quando percebe que o conhecimento não pode ser aplicado imediatamente. Assim, convém organizar as experiências de aprendizagem de acordo com unidades temáticas que tenham sentido e sejam adequadas às tarefas que os adultos são solicitados a realizar nos seus diversos contextos de vida. Some-se a isto a elaboração de diálogo entre a Educação Básica e a Educação Superior que perpassam pela reinvenção de como ressocializar os embates e antagonismos entre interesses conflitantes que se manifestam nos dilemas da teoria e da prática, sempre marcadas pela verticalidade das desigualdades sociais. Procura-se extrair um sentido pedagógico na disciplina de Educação de Jovens e Adultos parte integrante dos saberes das áreas específicas e dos conteúdos específicos para docência, questionam-se as tendências ideológicas do Currículo, da Cultura e do Poder que consistem em movimentos, confrontos entre as formas de pensar, agir, reagir, desconstruir conceitos e significados, percebendo as similaridades e construindo outros conhecimentos - novos saberes. Portanto, seja aluno da Educação Básica, e/ou da Educação Superior, ele assume a atitude de ser inacabado, à procura permanente pelo conhecimento, pelo aprofundamento da formação / escolarização na capacidade de ser mais, na busca incessante do aprimoramento individual necessário ao convívio coletivo. Em busca de maior da compreensão da problemática; outros elementos devem ser considerados. O Currículo do Ensino Superior no Curso de Matemática oferece conhecimentos necessários para o exercício da profissão através de três dimensões: conteúdos de formação geral, conteúdos específicos para a docência e conteúdos específicos para a Educação de Jovens e Adultos e de outros espaços educativos. Todavia, o próprio Currículo traz, em seu contexto, mecanismos como o Poder e a Cultura, determinados pelo homem na busca de manter o alinhamento com a realidade social. Além disso, o fato do Currículo ser o braço direito da educação, e este um espaço constituído de multiculturalidade, revela-se a necessidade de posicionamento da práxis pedagógica numa perspectiva de um olhar da inclusão e de respeito aos saberes docentes, conforme Sacristán e Gómez (1998 p. 70): O ensino nas sociedades contemporâneas se desenvolve em instituições sociais especializadas para cumprir esta função. Aprendizagem dos alunos / as ocorre em grupos sociais nos quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais constituem a vida do grupo e condicionam os processos de aprendizagem. Assim para que o professor / a possa intervir e facilitar os processos de reconstrução e transformação do pensamento e da ação dos alunos / as, deve conhecer as múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os estudantes aprendem e nos modos de aprender. Assim sendo,, a formação da docência, especialmente da EJA, não se constrói apenas com a acumulação de cursos, de conhecimento ou de técnicas, mas também através da conjunção desta com o trabalho de refletir criticamente sua prática, apoiada nos créditos culturais e no caráter político da prática pedagógica. Portanto, ao pensar na Educação de Jovens e Adultos, adota-se a perspectiva da continuidade como complemento de suas experiências e, a partir dela, compreender o papel das metodologias, compreendê-las para poder intervir na escola. “Compreender a vida da sala de aula é um requisito necessário para evitar a arbitrariedade na intervenção”. Em termos gerais, as práticas sociais, as relações sociais e de produção não produzem apenas a vida material, mas também ideias e representações num movimento sistêmico, interligados pela objetividade e subjetividade presentes nestas atividades. Nessa linha de raciocínio, a Andragogia não é apenas a mudança de um conceito, nomenclatura ou até mesmo terminologia, mas sim um despertar nos educadores á mudança da sua prática, das atitudes, da concepção do ato de ensinar e aprender; despertar para uma diferença real de abordagem do processo educacional, enxergando e valorizando o “homem” com o sujeito histórico concreto. A MATEMÁTICA E A EJA É preciso, primeiramente, esclarecer o que diferencia a educação de crianças da de jovens e adultos e o nosso papel enquanto educadores junto a esses grupos. Pensar no papel da educação junto a esta faixa-etária é pensar no perfil destes sujeitos. Portanto, para trabalhar com EJA é necessário reconhecer os diferentes grupos sociais e seus saberes, bem como suas diferenças e semelhanças em relação aos grupos, pois são grupos mais heterogêneos que o das crianças e adolescentes, para os quais o mundo está se apresentando. Dessa forma, ele, possui estruturas mentais mais elaboradas e a disciplina de Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos presente no currículo de Licenciatura em Matemática é tão importante quanto em qualquer curso de Formação de professores, pois é preciso saber “o que ensinar” e o “porque ensinar”, sempre considerando os saberes educandos, fazendo-o reconhecer a validade e os limites desses múltiplos saberes para a vida6. A afirmativa acima foi a resposta de uma Professora da Universidade de Pernambuco, Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata, por ocasião de uma entrevista realizada pelos alunos do 2º período, curso 6 Resposta da entrevista realizada pelos Alunos com professores que trabalharam no 2º período de matemática, atual semestre. A professora entrevistada trabalha na área de educação a 28 anos, é Mestre pela UFRPE a 6 anos na área de Ciências da Educação. Licenciatura em Matemática, atendendo a solicitação de uma das atividades da Disciplina Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos. Percebe-se a compreensão dos princípios da matemática e matematicidade, o primeiro princípio da matemática demonstra-se está contida nos espaços quantitativos, formas de grandezas é uma ciência que estabelece relações com situações práticas, ela compreende uma constante busca pela verdade dos fatos através de técnicas precisas e exatas. Enquanto que a matematicidade encontra-se relacionada à capacidade que estabelece ao ser humano de deixar surgir seu senso matemático empírico, a disponibilidade, a possibilidade de a pessoa abrir-se e deixar aparecer seu senso matemático. Faz-se necessário traduzi-lo em sentimento, raciocínio lógico, ação ou representações, algo presente nas mais diversas situações que nos orienta, frente às considerações, julgamentos e as decisões. Outro ensinamento que surge na Matemática para sublinhar a EJA é a Construção do conceito Etnomatemática, segundo D’ Ambrósio que defende as diferentes formas de matemáticas encontram-se vinculadas aos seus próprios grupos culturais. Na visão de D’Ambrósio (2002 p.06) “Etnomatemática propõe um enfoque epistemológico alternativo associado a uma historiografia mais ampla. Parte da realidade e chega, de maneira natural através de um enfoque cognitivo com forte fundamentação cultural, à ação pedagógica”. Sob esta visão, identifica-se a etnomatemática como um passaporte para os teóricos frente as suas pesquisas, através dela acredita-se que a mesma possui várias dimensões que na maioria das vezes estão interligadas, e para efeito didático as classifica deste modo: dimensão conceitual, dimensão histórica, dimensão cognitiva, dimensão epistemológica, dimensão política e dimensão educacional. Fica evidente, portanto, que aprofundar, juntar os fragmentos, contextualizar as ideias e sistematizar os conhecimentos científicos que envolvem o tema em estudo é repensar a prática pedagógica e sua intencionalidade, frente ao processo educativo. A IMPORTÃNCIA DA FORMAÇÃO DOCENTE DA EJA Nos últimos tempos, as pesquisas na área educacional vêm sinalizando vários problemas ligados à formação de formadores, bem como a atuação dos mesmos, principalmente no tocante a modalidade da Educação de Jovens e Adultos. De modo geral, pode-se dizer que os professores ocupam uma posição estratégica, porém socialmente desvalorizada, entre os diferentes grupos que atuam, de uma maneira ou de outra, no campo dos saberes. De fato, os saberes da formação profissional, os saberes disciplinares e os saberes curriculares dos professores parecem sempre ser mais ou menos de segunda mão. Eles se incorporam efetivamente à prática docente, sem serem, porém, produzidos ou legitimados por ela. A relação que os professores mantêm com os saberes é a de “transmissores”, de “portadores” ou de “objetos” de saber, mas não de produtores de um saber ou de saberes que poderiam impor como instância de legitimação social de sua função e como espaço de verdade de sua prática (TARDIF, 2008,p. 40). Nesse sentido, é preciso estabelecer uma relação dialógica educadoraluno na amplitude dada por Freire (2006, p. 136),“viver a abertura respeitosa aos outros e, de quando em vez, de acordo com o momento, tomar a própria prática de abertura ao outro como objeto de reflexão crítica, deveria fazer parte da aventura docente”. É preciso refletir criticamente sobre o que se tem feito no âmbito escolar e buscar sua justificativa no campo teórico. É fundamental explicitar as intenções que norteiam a prática do professor e as implicações das mesmas. A docência exige transparência. É essencial a clareza das ideias a partir das quais são planejadas as ações educativas do professor. É necessário deixar claro a opção política adotada pelo docente e questionar sempre se as iniciativas implementadas na sala de aula estão em consonância com essa opção. Caso contrário estará reforçando, inconscientemente, um sistema que discursamos ser contra. E pior, com isto estaremos fortalecendo a organização social promotora da desigualdade social. APLICAÇÃO DA SEQUÊNCIA DIDÁTICA INTERATIVA (SDI) Visando atender ao caráter de estudo descritivo e exploratório desta pesquisa estudo, optou-se pela abordagem qualitativa, enquanto um “conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre o que faz” (MINAYO, 2007, p.21). Apresenta-se em seu âmbito de investigações ações vivenciadas da sala de aula, curso de Licenciatura em Matemática, (2º) segundo período, realizada no II - Semestre de 2011, Disciplina Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos, turma composta aproximadamente de (46) quarenta e seis alunos, estudantes da Universidade de Pernambuco - UPE, Faculdade de Formação de Professores de Nazaré da Mata FFPNM, Campos Mata Norte, destaca-se que dos (46) quarenta seis alunos convidados a participar deste estudo, apenas (31) trinta e um aceitaram; os demais recusaram o convite alegando, pagamento de disciplina, falta de tempo, não se expor, timidez, entre outros. Entretanto, os 31 alunos participantes afirmaram que a pesquisa se constitui num espaço importante de confluência do debate, aprofundamento dos conhecimentos e a formatação do registro que envolve a prática e a teoria. Os educandos participantes encontram-se na faixa etária entre vinte e cinco a trinta e um anos, 19 (dezenove) são estudantes, 04 (quatro) são professores do ensino fundamental, Educação Básica, 03 (três) são auxiliares de escritórios, 02 (dois) são mecânicos de automóvel, 01 (um) comerciante e 03 (três) são auxiliares de serviços gerais, todos têm em comum a escolha pelo curso de matemática devido: demonstrarem habilidades de lidar com cálculos, enfrentar desafios, uma vez que a matemática é considerada difícil e acreditam ter mais facilidade de ingresso mercado de trabalho. Ressalta-se que esse grupo é composto de 17 (dezessete) participantes do sexo feminino e 14 (quatorze) do sexo masculino. Esta análise tem como propósito identificar a identidade dos participantes, bem como, contextualizar o processo da igualdade de gênero, o diálogo entre os saberes, a cultura e apropriação do poder intelectual. Portanto, a primeira etapa do trabalho foi a vivência de um círculo de diálogo, com objetivo de construir coletivamente os passos da metodologia a ser aplicada SDI. Então, a professora da disciplina Fundamentos da Educação de Jovens e Adultos foi revisitando os conceitos de metodologia, métodos, técnicas, pesquisas de abordagem quantitativa e qualitativa, fundamentação teórica e depois vieram os questionamentos. Nesta tempestade de ideias emergiu os conceitos e definição que apontaram o tema da pesquisa, O Ensino a Matemática na educação de jovens e adultos: Uma intervenção pedagógica. Considera-se esse momento singular, pois “é preciso entender que na construção do conhecimento se faz necessário ter melhor clareza quanto às diferenciações entre conceito e definição” (OLIVEIRA. 2007 p.120). Daí a clareza de que cada ser humano tem suas particularidades, características próprias e consequentemente direcionam suas aprendizagens de forma diferente. Ao visualizar as diferentes formas de aprendizagem e ciente do embasamento teórico Oliveira (2007.p.124) afirma que: A metodologia interativa é um processo hermenêutico – dialético que facilita entender e interpretar a fala e depoimento dos atores sociais em seu contexto e analisar conceitos em textos, livros e documentos em direção a uma visão sistêmica da temática em estudo. Desta forma, opta-se pela aplicação da Sequência Didática Interativa (SDI), uma metodologia inovadora, dialética e próxima da realidade humana. Sendo assim, vamos aos procedimentos da aplicação da pesquisa, os 31(trinta e um) aprendentes / educandos foram divididos em 06 (seis) grupos, composto por 05 (cinco) participantes e 01 (um) grupo com 06 (seis) participantes, cada grupo recebeu uma classificação, assim denominada: G1, G2, G3, G4, G5, G6. 03 (três) responderam a primeira pergunta, O que você entende por Educação de Jovens e Adultos? O grupo G1 teve as seguintes respostas: É o ensino voltado para os alunos que não puderam estudar na faixa etária esperada e para não haver constrangimento não se misturam com as crianças; É uma educação dedicada ao viver do aluno, como ele interage diante da sociedade e o que o mesmo passa no convívio. A educação de jovens e adultos é uma forma de dizer que aquele ser que não conseguiu estudar na infância tem uma oportunidade de ser alguém, ter um bom trabalho, um bom salário e ocupar um lugar próprio diante da sociedade. Uma nova oportunidade que o governo tem de amenizar sua falha passada, abrindo para aqueles que não tiveram oportunidade de ensino na idade regular, novos caminhos para o conhecimento e consequentemente para o trabalho; Mediante as respostas percebemos as mudanças socioculturais, bem como a redefinição do papel do Estado, trata-se de um novo ideário que se incorpora aos diferentes atores. Segundo Souza (2007. p. 216): Os educadores inclusive os educadores escolares (os Professores), devem ser permanentemente provocados a partir de diferentes contribuições teórico-práticas para fazerem uma reflexão que permita a cada um a revisão e a reformulação de sua práxis. Por outro lado as respostas do grupo G2 chamam a atenção para o ensino que se baseia no processo de aprendizagem no método de ensino vinculado àquelas pessoas que não concluíram seus estudos no tempo concreto, o motivo de desistência, condições sociais e reprovação; É o professor precisa estar preparado para lidar com pessoas que por um motivo qualquer não puderam estudar no tempo próprio, compreende-se também que esses alunos têm um grau de dificuldade em aprender. Já esse grupo traz em seu bojo reflexões alicerçadas na perspectiva do ato de ensinar e aprender como ação intencional e organizada pela qual se projetam os fins e buscam-se os meios. Freire (2006) afirma que ensinar exige rigorosidade metódica, no sentido de reforçar a capacidade crítica do educando e do educador, estímulo à curiosidade, o aproximar dos objetos cognoscíveis. Do ponto de vista do grupo G3 o cotidiano da EJA é um espaço de educação diferenciada, exige respeito à história de vida do aluno; e esse saber faz parte do conteúdo relacionado com a aula; É o processo pelo qual as pessoas se submetem para um aperfeiçoamento de conhecimentos; educar jovens e adultos é um desafio motivador, em que se faz importante focar no plano existencial do aluno. Esse grupo aponta um problema frequente: [...] a dimensão da EJA também vai se movendo na direção da educação popular na medida em que a realidade começa a fazer algumas exigências à sensibilidade e à competência científica dos educadores e educandos. (GADOTTI. 2000 p.15). Quanto a aplicação do questionamento O que você entende por Andragogia. os grupos G4 e G5 referiram-se a Andragogia como ensino voltado para adultos, aprimoramento dos seus conhecimentos; Um ensino voltado para pessoas idosas, o que necessita de bastante atenção e responsabilidade para com eles; um método de ensino; Andragogia é o inverso de pedagogia. Percebe-se aqui a construção coletiva deste grupo que tem um olhar didático comprometido pedagogicamente com os processos educativos. Nessa direção (Freire. 2006 p.91) “Ensinar exige segurança, competência profissional e generosidade [...] É a segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que decide, com que respeita a liberdade, com que discutes sobre a existência de se mesma”. Daí a importância da disciplina Fundamentos da EJA no ensino da matemática. O grupo G6 julga que Andragogia é a ciência que estuda as diferentes formas e métodos para ensinar alunos que já estão fora de sua faixa etária, que no caso são jovens e adultos, desenvolvendo maneiras de ensino viável para este tipo de aluno; É uma ciência que ensina como se deve proceder no âmbito da educação com pessoas idosas. Os depoimentos dos participantes parece algo repetitivo, no entanto, destaca-se aqui a preocupação com essa modalidade de ensino e o mundo do trabalho, as cobranças de uma sociedade em pleno universo de globalização. Então, não bastam os conhecimentos da disciplina de Fundamentos da EJA, é preciso também enfrentar os desafios e registar o percurso de nossa prática, enquanto, uma prática teorizada e de investigação científica. Após aplicação dos primeiros procedimentos referenciados através de Oliveira (2007) que foram, sendo a SDI uma metodologia dinâmica e interativa, a trajetória acima citada é muito maior do que um relato de educadores, é também uma oportunidade de discutir algumas realidades dos alunos de forma dialógica, sem perder de vista a identidade dos sujeitos envolvidos, é contribuir para o movimento do homem nas modalidades de ensino, afastando os preconceitos e estereótipos. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ficou evidente a necessidade de aprofundamento pelos professores de matemática de elementos relevantes para o trabalho em EJA. A EJA abriga uma imensa diversidade cultural, o que a torna complexa e desafiadora. Composta por indivíduos multiculturais, que possuem representações simbólicas próprias do grupo a que pertencem e que processam o conhecimento diferentemente da criança, a EJA constitui um campo de muitas variações e incertezas. As ações pedagógicas pensadas para as turmas de EJA precisam ser planejadas/desenvolvidas em consonância com os pressupostos de uma educação que respeite o educando e que esse respeito esteja impresso em iniciativas que promovam a criticidade e a autonomia dos alunos e que forneça subsídios para a melhoria de vida individual e coletiva. Fazer emergir a reflexão sobre questões relacionadas à formação de professores de matemática é uma demanda social, haja vista que a educação ofertada aos alunos da EJA é precária e não contempla as necessidades desse grupo. É preciso que os cursos de formação de professores forneçam elementos a partir dos quais seja possível pensar a EJA. Essa formação deve explicitar as especificidades dessa modalidade de ensino e preparar o professor para trabalhar/respeitar a diversidade, oportunizando a re- significação de conceitos e valores, com a qual será possível estabelecer uma relação ensino-aprendizagem pautada no diálogo. Fica também a compreensão da metodologia Sequência Didática Interativa como uma ferramenta viva, dinâmica, capaz de alterar a rotina da sala de aula e acima de tudo, algo inovador que estimula a forma de pensar, agir, criticar, se por de pé para olhar o mundo frente ao desenvolvimento da inteligência humana. Por outro lado, SDI também proporciona a construção de conceitos abstratos configurando nos pressupostos do raciocínio lógico, no processo de assimilação e acomodação formatando o ato cognitivo, consequentemente favorecendo uma aprendizagem significativa. Por fim, chegamos a conclusão que a escolha intencional de uma metodologia como a SDI para sua aplicação em sala de aula é processo de evolução e revolução, no qual a práxis pedagógica é construída de forma concreta, investigativa e científica, além de oportunizar a identificação de aspectos sociais, políticos, econômicos e educacionais que marcam também a organização da vida na sociedade. REFERÊNCIAS D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Coleção Tendências em Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.. FREIRE, Paulo . Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra. 2004. _______. Conscientização: teoria e prática da libertação - uma introdução ao pensamento de Paulo Freire 3. ed. São Paulo, Moraes, 1980. _______.. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2006. GADOTTI. Moacir, ROMÃO. José E. (Org.). Educação de jovens e adultos: teoria, prática e proposta,. Instituto Paulo Freire. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2000. TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis-RJ: Vozes, 2002. RIBEIRO. Vera Masagão (ORG). Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas leituras, São Paulo: Ação Educativa, 2001. SACRISTÁN, Gimeno José; GÓMEZ Pérez I. Angel. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998. Serviço Social da Indústria – SESI. 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