GUZMÁN, José Ramón Sánchez. Teoría de la Publicidad. Madrid: Technos, 1993. O TRATAMENTO CIENTÍFICO DA PUBLICIDADE O caráter relativista e interdisciplinar da publicidade (p. 41-44) O desenvolvimento qualitativo da publicidade com o aperfeiçoamento técnico que hoje tem alcançado na elaboração de suas mensagens e na escolha e seus veículos de difusão, se deve, em grande parte, às relações que mantém com algumas disciplinas das quais extrai seus mais importantes elementos e métodos de investigação para, sobre eles, elaborar seus próprios elementos e métodos. Ainda que não se possam esquecer as conexões da publicidade com áreas do conhecimento científico como a Antropologia, a História, ou o Direito, são fundamentalmente a Psicologia, a Sociologia, a Lingüística e a Economia as ciências sobre as quais se assentam, basicamente, os planejamentos publicitários. E, além disso, convém ressaltar que a publicidade, ao desenvolver seus próprios procedimentos além de sua intromissão nas disciplinas científicas que lhe interessam, estabelece com elas uma relação dialética de enriquecimento mútuo. O caráter persuasivo das mensagens publicitárias revela as conexões existentes entre a publicidade e a Psicologia. Redigir, por exemplo, um texto publicitário implica no conhecimento dos princípios psicológicos envolvidos no processo da persuasão comercial. E, em geral, a publicidade tem que ter em conta os processos mentais da atenção, da percepção, da memória, da lembrança, a imaginação e a sugestão, assim como a origem e modificações da conduta e da atitude do ser humano para conseguir que suas mensagens produzam no receptor o efeito desejado. A Psicologia e, em particular a psicanálise, tem permitido à publicidade avançar no terreno científico criando as bases de sua mais genuína parcela de conhecimento (a pesquisa motivacional) e da característica contemporânea mais acusada da mensagem publicitária (o sugestionamento). As conquistas que, dia a dia vai realizando a Psicologia e que são adaptadas rapidamente pela publicidade põem em evidência um fato histórico importante: a publicidade 1 tem aceitado as teorias psicológicas com a alternância com que estas vêm se sucedendo e vêm adaptando sua estratégia ao compasso do que a Psicologia em cada momento considerava suas descobertas mais valiosas. As conexões da publicidade com a Sociologia partem de dois fatos básicos. A existência de pautas no comportamento humano e a tendência do indivíduo a associar-se com outras pessoas. O primeiro fato permite a publicidade conhecer elementos comuns de comportamento dos indivíduos, dado que as pautas se repetem e se generalizam. De concreto, como a existência de pautas remete ao conceito de cultura (conjunto de normas, mitos e imagens que são assumidas pelo indivíduo e determinam seu comportamento), a necessidade de que a mensagem publicitária se introduza na cultura em que estão imersos seus receptores para que seja efetiva aparece como uma tarefa inevitável e implica estabelecer uma importante conexão entre a publicidade e a Sociologia. E mais ainda, se se considera que a publicidade, além de oferecer um produto material, é portadora de mensagens culturais que determinam pautas de comportamento nos indivíduos. 1 NAVARRO VALLS, J. A manipulação publicitária. Dopesa, Barcelona, 1971. O segundo fato (a associação humana) permite à publicidade utilizar os conhecimentos da Sociologia relativos ao estudo dos chamados “grupos sociais” ou pessoas unidas por uma rede de relações cujas pautas de comportamento estão fixadas segundo o critério que se haja seguido para seu agrupamento (jurídico, geográfico, ideológico, interesses comuns, etc.). A análise sociológica sobre grupos sociais para predizer possíveis pautas de comportamento até o produto anunciado está fortemente generalizada na atividade publicitária. Mas é principalmente na “análise da mudança” dentro da disciplina sociológica o que, por sua utilidade, aporta maiores conclusões válidas para a publicidade, entendendo “mudança” no sentido de variação de pautas de comportamento de grupos sociais e não no da mudança social, cultural ou sucessão histórica. A aplicação desta análise pode configurar o conteúdo da mensagem publicitária em nome de uma mudança eficaz no comportamento dos indivíduos para o consumo dirigido a um produto determinado. Estas importantes conexões da publicidade com a Psicologia e com a Sociologia não devem ocultar que, antes de tudo, a atividade publicitária é uma parcela da atividade econômica, cujo principal objetivo é influir na partilha dos recursos de que os consumidores dispõem para a oferta competitiva que as sociedades capitalistas avançadas apresentam hoje. A publicidade, nexo de união entre produtor e consumidor, mantém, sem dúvida, complexas relações com a economia. De fato, de um ponto de vista estritamente monetário aparece como um custo de quem a utiliza e como uma receita para quem a realiza e para quem a difunde. Do ponto de vista real, se trata de um “input” ou fator de produção que demanda o empresário e, ao mesmo tempo, de um “output” ou produto elaborado por uma empresa mercantil especializada, que tem alguns suportes fixos e que é consumido pelos indivíduos. E do ponto de vista macroeconômico se configura como um importante fator de desenvolvimento da renda e como um elemento perturbador do ciclo econômico 2. Por último, cabe destacar as importantes conexões da publicidade com a Linguística e, concretamente, graças ao destaque que os programas de investigação semiológica têm tido. A consideração de uma mensagem publicitária como sistema de signos remete a seu estudo semiológico de uma perspectiva teórico-analítica que têm grande influência na concepção e no método da publicidade e que oferece a possibilidade de ir construindo uma matriz normativa encaminhada a proporcionar as bases científicas da futura Ciência publicitária CAPÍTULO XI – ASPECTOS SOCIOLÓGICOS DA PUBLICIDADE (p. 393-399) Histórica e estatisticamente a eficácia da publicidade tem sido comprovada na ação comercial da empresa, sobretudo por seus efeitos sobre a função de demanda. Mas a publicidade, por suas características intrínsecas e pelo seu desenvolvimento quantitativo, admite um campo de análise que supera sua estrita concepção como instrumento econômico posto que tem chegado a configurar-se como um fenômeno social intimamente unido às sociedades capitalistas avançadas, com importantes repercussões sobre as formas de comportamento dos indivíduos. 2 Vid. SÁNCHEZ GUZMÁN, J. R. Curso de economia para publicitários. Anaya, Salamanca, 1973 Nenhuma3 sociedade humana anterior cultivou uma técnica como a publicitária, cujo esforço está integralmente dedicado a condicionar a conduta dos indivíduos, ainda que somente seja enquanto seu papel de consumidores no mercado. E isto é assim, porque a publicidade não somente utiliza os comportamentos e motivações que descobre no consumidor através da investigação psicológica para elaborar com eficácia suas mensagens, senão que também é impulsora de novos comportamentos e determinantes de diferentes motivações. Na medida em que isto acontece nas sociedades mais desenvolvidas, econômica e culturalmente, a publicidade aparece como um importante mecanismo de pressão social, no sentido da ação modeladora que exerce sobre os indivíduos ao dirigir-se a eles através de esquemas ideais de comportamento a partir da estrutura ideológica que, em conjunto, transmitem as mensagens publicitárias. A PRESSÃO SOCIAL DA PUBLICIDADE O conceito de “pressão social” (termo similar ao mais difundido de “controle social”) faz referência ao poder de coação que a própria sociedade exerce sobre a conduta dos indivíduos através e fundamentalmente, das normas, usos e costumes estabelecidos nela e das sanções sociais que levam consigo para manter o sistema social equilibrado e ordenado. Esta pressão social se realiza, geralmente, de forma direta pela influência dos modos coletivos de agir vigentes na sociedade (nos quais influi, ao mesmo tempo, da tradição aos atos sociais, passando pelas diferentes modalidades de sanções que a própria sociedade impõe aos transgressores das normas socialmente aceitas), convive nas sociedades avançadas com outras formas indiretas que pressionam o indivíduo mediante a influência de elementos externos de caráter persuasivo que podem dar forma aos costumes sociais e, inclusive, modificar os valores e crenças. Neste sentido, a sociedade, configurando pautas de comportamento, utilizando o mecanismo da persuasão para influir no indivíduo e implantando modos de vida nas comunidades, põe em jogo importantes mecanismos e pressão social que permitem compreender suas funções e disfunções sociais, seus efeitos sobre o indivíduo social e seu impacto cultural. Publicidade e Grupos Sociais Para compreender as repercussões da pressão exercida pela publicidade sobre o entorno social onde opera, é preciso, em uma primeira aproximação, centrar seu estudo na pressão que exerce sobre o indivíduo como categoria social, em suas mais variadas perspectivas. Considerando o indivíduo-receptor das mensagens publicitárias como membro de um grupo social, no qual desempenha determinados papéis e ocupa certas posições que mediatizam seu nível e forma de consumo, pode-se estudar as condições que a publicidade vai cumprir e o grupo social ao qual será dirigida para que a mensagem exerça a pressão social necessária para provocar a mudança buscada nas pautas de comportamento até o consumo do produto anunciado. 3 NAVARRO VALLS, J. La manipulación publicitaria. Dopesa, Madrid, 1971 O primeiro aspecto a considerar é a tendência do indivíduo a integrar-se em um determinado grupo social. Um grupo social4 se compõe de um certo número de pessoas unidas por uma rede ou sistema de relações sociais; seus membros interagem entre si de uma forma mais ou menos padronizada, isto é, dentro das normas aceitas pelo grupo; suas relações e interação se baseiam em grande parte em um sistema de regras e de status inter-relacionados; em maior ou menor medida, estão amalgamados por um sentido de identidade ou de semelhança de interesses que lhes permite diferenciar seus membros dos que não os são. Por conseguinte, os grupos sociais, do ponto de vista sociológico, constituem unidades sociais básicas, objetivadas em valores e normas comuns e em uma organização que se estrutura em status e regras. Além disso, para os efeitos que aqui interessam, convém destacar dois tipos de grupos sociais: os de pertencimento e os de referência. Os primeiros são aos que pertence, de fato, o indivíduo. O segundo são o conjunto de indivíduos, reais ou imaginários, os quais os outros indivíduos, consciente ou inconscientemente, tomam como modelo, identificando-se com eles. A importância que têm os grupos sociais para a publicidade se deriva de sua própria configuração e das relações que se estabelecem entre os membros do grupo, fundamentalmente em função de que as normas e interesses comuns existentes nele são determinantes de algumas pautas de comportamento assumidas e, de certo modo, estáveis. Na medida em que estas normas e interesses comuns sejam colocados em jogo pela publicidade, as possibilidades da pressão social da mensagem serão maiores, já que as normas do grupo são essenciais em todo o processo de comunicação persuasiva: diferentes investigações 5 demonstram que os motivos de estar em conformidade com o grupo de pertencimento jogam um papel importante quando se trata de comunicar persuasivamente aos componentes do mesmo. E a origem será encontrada com tanto maior resistência quanto mais se afastem as mensagens das normas do grupo. O conteúdo da mensagem publicitária variará segundo a associação do produto às normas do grupo de pertencimento ou de referência em que se encontra inscrito o receptor. Naqueles casos6 nos quais nem o produto nem a marca parecem estar estreitamente associados aos grupos de referência, a publicidade deve ressaltar somente os atributos do produto, suas qualidades intrínsecas, seu preço e suas vantagens sobre os produtos concorrentes. Quando existe a influência dos grupos de referência, a empresa deve sublinhar o tipo de pessoas que compram o produto, reforçando e ampliando até onde seja possível os estereótipos dos consumidores. A estratégia do publicitário deve incluir a aprendizagem de quais são os estereótipos e quais grupos de referência específicos entram no quadro, a fim de que a publicidade possa adaptar-se a cada grupo principal ao qual chegam os diferentes meios de comunicação utilizados. Sem dúvida, a essência da publicidade não é tanto manter as pautas de comportamento existentes nos grupos sociais, quanto o de provocar outras novas, dirigidas, fundamentalmente, para o produto anunciado. Pode-se generalizar esta afirmação assinalando que o conteúdo das 4 CHINOY, E. La Sociedad. Fondo de Cultura Económica, México, 1968 VALBUENA, F. Receptores y audiencias en el proceso de comunicación. Cuadernos de la Comunicación. P. del Río, Madrid, 1976. 6 BOURNE, F.S. Group influence in Marketing and Public Relations. Citado por ZALTMAN, G, em Mercadotecnia. Herrero Hnos. México. 1968. 5 mensagens publicitárias não somente está dirigido a criar novas pautas de comportamento, senão também provocar novas convicções ou a variar as existentes, posto que convencer é publicitariamente eficaz, já que, a longo prazo, produz um comportamento coerente com tal convencimento. Por exemplo, uma mensagem publicitária dirigida para a aquisição de um novo produto será eficaz se provocar a compra (comportamento), mas também o será se convencer de que se trata de um produto melhor que os existentes no mercado, ainda que não se traduza em uma compra imediata, já que a empresa estará segura de que quando se reúnam novos fatores (aumento do poder aquisitivo, necessidade de renovação de produtos, etc.) a compra se realizará. Conseqüentemente, a pressão social de uma mensagem publicitária sempre provoca uma mudança de comportamento, ainda que de forma imediata seja, ocasionalmente, simplesmente o convencimento. Da existência de grupos sociais que afetam as opiniões e atitudes do consumidor para determinados produtos se derivam as técnicas de segmentação do mercado e a busca de tipologias de consumidores que facilitem a ação da publicidade. A segmentação de mercados é uma técnica estatística que consiste em dividir o mercado total de um produto em grupos de consumidores que tendem a ser homogêneos segundo o critério seguido para seu agrupamento. Pelo contrário, a tipologia implica a formação de grupos de consumidores a partir do estudo dos indivíduos que compõem um universo estatístico. Em ambos os casos, a orientação prática destas duas técnicas é a mesma: identificar grupos sociais de referência para predizer as reações dos consumidores às mensagens publicitárias elaboradas tendo em conta as normas detectadas neste grupo. Sem dúvida, é preciso destacar que a referência a grupos sociais pode incrementar a pressão social da publicidade; o fato certo é que, sociologicamente, as mensagens publicitárias tendem a unificar os consumidores ao dirigí-los à compra de diferentes produtos mediante os mesmos motivos ou estimulando os mesmos desejos. A publicidade 7 dirige a milhões de pessoas sua mensagem, mas se sabe que seu apelo tende a condicionar as ações de compra estimulando idênticas tendências em todos eles. O anúncio publicitário não diz uma coisa a uns e outra a outros. O anúncio não tem mais que uma e idêntica voz para todas as suas audiências. E a todos alega a mesma promessa que faz decidir a compra de um determinado produto. A identidade de emoções e desejos assim sugeridos em grandes massas de população é, portanto, a chave da ação massificadora da publicidade. Voltando ao tema particular da mudança nos comportamentos determinados pelas mensagens publicitárias, o primeiro aspecto que se apresenta é o de seu caráter limitado. Precisamente, uma das conclusões geralmente admitida da sociologia americana é que a capacidade persuasiva dos meios de comunicação social (suportes da comunicação publicitária) não é infinita, já que sua eficácia atua dentro de determinados limites, mais discretos8. Concretamente, a comunicação imperativa9 se limita, no geral, ao esforço das convicções e valores já existentes no público: as mensagens que tentam mover as pessoas para uma alteração de seus 7 NAVARO VALLS, J. Op. Cit. Ver, neste sentido, KLAPPER, J.T. Efectos de las Comunicaciones de Masas. Aguilar. Madrid, 1974. 9 JANIS, I.L. Comunicación y cambio de opinión. Tiempo Nuevo. Caracas, 1973. 8 sistemas normativos de valores ou que pretendem modificar os estereótipos sociais provocam, em geral, uma acentuada resistência no público. Este fenômeno, que veio destruir o mito da onipotência dos meios massivos tem origem, fundamentalmente, na existência de três tipos de resistência observados nas pesquisas experimentais com relação a ação da comunicação persuasiva: a espera do indivíduo a ser manipulado pelo emissor da mensagem, a espera de incorrer em injustiças e a espera de desaprovação social. Esta última resistência se relaciona diretamente com as normas do grupo de pertencimento ou de referência ao qual se encontra inserido o indivíduo, já que qualquer mensagem que se apóie em um ponto de vista oposto a estas normas provoca um aumento da resistência à sua assimilação em proporção direta à força das sanções, formais e informais, impostas pelo grupo. .................................................................... Estratificação social e publicidade (402 - 405) Junto à consideração dos grupos sociais, uma grande parte da investigação se tem efetuado a propósito da importância que para a publicidade tem a divisão da sociedade em estratos resultantes do agrupamento dos indivíduos que possuem características similares e aos que a mesma sociedade reconhece distinta gradação social. Como ponto de partida, pode-se estabelecer que a publicidade leva em conta a estratificação social de três maneiras: uma, adequando suas mensagens à consciência de classe existente em cada extrato; outra, muito mais difundida, vendendo símbolos de promoção social que provocam uma mobilidade imaginária aos extratos superiores; e, finalmente, outra na qual a diferenciação de classes sociais é ignorada conscientemente em nome de uma homogeinização que permita a assimilação das mensagens pelo maior número de indivíduos. A consciência de classes resulta da percepção do indivíduo acerca da situação que ocupa na classe social à qual se sente inserido, e conseqüentemente das vantagens e desvantagens que comporta esta situação. Cada10 hierarquia ou extrato social pode ser visto como extrato em virtude do fato de que todos seus membros têm oportunidades semelhantes para alcançar as coisas e experiências que são valorizadas: objetos como automóveis, salários estáveis e altos, jogos ou casas, experiências, como ser respeitado, ter um certo nível de ocupação ou o de ser tratado amavelmente. Pertencer a um extrato significa compartilhar com as outras pessoas deste extrato comodidades semelhantes. De acordo com esta interpretação, a classe à qual um indivíduo pertence implica um sentimento de inscrição a algo e de identificação com outros indivíduos, com o que o funcionamento das classes sociais ficaria explicado do ponto de vista behavorista: o “status” (posição do indivíduo na estrutura social) e a “regra” (pauta de conduta que se espera da posição social na qual se encontra o indivíduo) dá lugar à consciência de pertencer à classe social que compartilha seus mesmos “status” e “regras”. 10 GERTH, H. e MILLS, C.W. Carácter y estructura social. Paidos, Buenos Aires, 1963. A publicidade não ignora a existência de determinadas consciências de classes, sobretudo para certos artigos que se apresentam como suscetíveis de serem consumidos por classes superiores, únicas de entender a significação social de sua aquisição ou únicas de conseguir a sua posse, dado o preço elevado com o qual são oferecidos. E, inclusive, únicas de possuí-lo dada sua escassez no mercado. O anúncio se faz, então, depender da classe social à que pertence o indivíduo, de tal forma que o receptor se identifica com as frases e imagens nele contidas, não tanto pelo que este diz, mas pela comunidade de atitudes, valores e interesses relativos a seu “status” e à sua “regra” na esfera de sua atuação econômica e social. É uma publicidade excludente cuja funcionalidade precisa ser compreendida no contexto de sociedades onde a diferenciação de classes (e, conseqüentemente, a “distância social” entre os indivíduos) é uma realidade objetiva que se defende categoricamente. Este tipo de publicidade dirigida claramente às classes sociais superiores possui, além disso, outra característica: a seleção cuidadosa dos canais de difusão das mensagens introduzindo, como variável explicativa básica, a definição do “público-alvo” ao qual as mensagens são dirigidas. Revistas especializadas em temos de alto nível cultural ou econômico, espetáculos minoritários (concertos, óperas, etc.) ou programas de rádio muito seletivos, são exemplos significativos de mensagens publicitárias aos extratos sociais elevados. Por outro lado, outros canais como a televisão, aparecem como pouco eficazes neste sentido. A televisão 11 não alcança segmentos altos da população, não porque os muito ricos não vejam televisão, como erroneamente se alegou algumas vezes, mas pelo fato de que, como a televisão é criadora de ilusão e fantasia, o único adulto o qual é muito difícil iludir é o endinheirado. Somente há dois personagens extremos que carecem de fantasia: os muito ricos, que podem ter o que lhes dê prazer, e os muito pobres, que vivem sem a esperança de ter algo. A mobilidade social é, em termos gerais, a passagem de um sujeito social de uma posição na sociedade à outra, tanto no sentido ascendente quanto descendente. Embora as causas da mobilidade social possam dever-se a fatores tais como níveis de educação, o desenvolvimento industrial, a imigração, a taxa de fertilidade, etc., tais fatores se relacionam a elementos que colaboram à passagem “real” de uma posição a outra na escala social. Sem dúvida, dadas as diferenças de “status” que leva implícita a estratificação social, existe um tipo de mobilidade social “ideal” à qual aspiram os indivíduos de níveis inferiores e sobre as quais a publicidade atua com eficácia fazendo-lhes crer que, mediante a aquisição de determinados objetos, pode alcançar um “status” social superior, dado que a mensagem publicitária envolve o objeto anunciado de significações adequadas ao dito “status”. Os que têm pesquisado12 os métodos mais efetivos para vender símbolos de condição social afirmam que a maioria dos indivíduos é vulnerável a uma das três seguintes táticas comerciais: uma é oferecer grandiosidade, dado que no subconsciente se iguala o maior com o melhor para produzir maior impressão; outra, quando os vendedores descobriram também que para vender seus produtos como símbolos de condição social podiam utilizar a lista de preços, no sentido de que o mais caro é 11 12 VELILLA, M. Psicolanálisis del comercial de televisión. Hispano Europea. Barcelona, 1970 PACKARD, V. Las formas ocultas de la propaganda. Sudamericana. Buenos Aires, 1973 também o de maior prestígio para certos indivíduos; a terceira tática efetiva na venda de produtos como símbolos de posição foi persuadir personagens de elevada condição social que convidavam o resto dos mortais a aproveitar de tais produtos. Esta forma de a publicidade operar se baseia, fundamentalmente, em mecanismos psicológicos profundos que têm em conta a estrutura da personalidade do indivíduo e, sobretudo, a transformação do produto em símbolo. Porque, de fato, enquanto o produto se encontra em sua fase de produção é simplesmente um objeto pensado para satisfazer uma determinada necessidade, mas uma vez que o consumidor o adquire e o interpreta deixa de ser objeto para converter-se em símbolo de “status” social. Assim, 13 o aspirante ou “gentleman” que queira exibir fortuna com símbolos de “status” que ainda não possui, se deleita com a alucinação que se desenvolve no anúncio de um cigarro no qual “ele se vê” viajando em um Rolls Royce enquanto fuma o charuto. Talvez nunca chegue a ter um Rolls Royce, mas a transferência que se produz usando como estímulo este caro pode ser tão forte que o “pre-gentleman” se veja sentado dentro do carro cada vez que fume este cigarro. Por último, a base econômica sobre a qual se assenta o desenvolvimento da publicidade determina que a maioria de suas mensagens tenda para uma democratização do consumo e, com ela, a criar uma homogeneização fictícia entre as classes sociais unidas por laços de afetividade hedonista para um objetivo comum: o consumo de bens e serviços. Mediante a publicidade dos produtos qualificados de “grande série”, cuja venda deve ser massiva, as mensagens tendem a unificar os indivíduos para conseguir 14 enquadrá-los em um rebanho fazendo-lhes crer que estão fora dele, propondo-lhes uma diferenciação formal que, em substância, os faça igual aos demais. Porque o que propõe o consumismo é identificar-se com os demais, diferenciando-se deles. Esta atuação da publicidade sobre a estrutura social implica o efeito de fomentar o espírito gregário que caracteriza grandes setores da população imersos na chamada “sociedade de consumo”. Mas é preciso ressaltar que este efeito é parte da estrutura ideológica geral do capitalismo monopolista, na qual ocupa um papel primordial o consumo continuado dos bens e serviços que necessita lançar regularmente o gigantesco aparato produtivo sobre o qual se assenta o valor social predominante: o benefício econômico. 13 14 VELILLA, M. Op.cit. PIGNOTTI, L. La supernada. Ideología y lengage de la publicidad. F. Torres, Valencia, 1976