evolucao audiologica de criancas com surdez - TCC On-line

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
ANGELA R. L. PORTELLA
EVOLUÇÃO AUDIOLÓGICA DE CRIANÇAS COM SURDEZ PRÉLINGUAL IMPLANTADAS TARDIAMENTE
CURITIBA
2015
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
ANGELA R. L. PORTELLA
EVOLUÇÃO AUDIOLÓGICA DE UM GRUPO DE CRIANÇAS COM
SURDEZ PRÉ-LINGUAL IMPLANTADAS TARDIAMENTE
Trabalho apresentado ao Curso de
Especialização em Audiologia da
Universidade Tuiuti do Paraná.
Orientadora Dra. Angela Ribas
CURITIBA
2015
3
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a todos que estiveram presentes nesta jornada, colegas,
professores e funcionários da universidade. Gostaria de agradecer imensamente a minha
orientadora Angela Ribas pela dedicação na orientação, pelo apoio que me foi dado para
a realização deste trabalho e a disposição em ajudar sempre, tanto em relação ao
trabalho quanto às aulas. Gostaria de agradecer ao meu marido que sempre me apoiou
para que começasse e seguisse em frente com o curso e que segue me apoiando sempre
em minhas decisões. E por ultimo e mais importante, gostaria de agradecer a Deus, pela
oportunidade de ter passado por aqui e ter conhecido pessoas tão especiais, pessoas que
levarei em meu coração por toda a minha vida.
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RESUMO
INTRODUÇÃO: O implante coclear é um dispositivo eletrônico indicado para
indivíduos portadores de perda auditiva sensório-neural severa-profunda e que não se
beneficiam do uso de próteses auditivas eletroacústicas convencionais. Apesar do teste
da orelhinha, muitas crianças surdas, no Brasil, ainda são diagnosticadas tardiamente e
recebem o benefício do implante coclear fora do prazo estimado como ideal.
OBJETIVO: Apresentar a evolução audiológica de um grupo de crianças com surdez
pré-lingual, implantadas tardiamente em um programa de saúde auditiva credenciado
pelo SUS, em Curitiba. MATERIAL E MÉTODO: Foram analisadas as médias tritonais
obtidas em campo livre de 10 crianças de ambos os sexos, implantadas depois dos três
anos de idade, nas seguintes condições: sem amplificação, com prótese auditiva, e com
implante coclear em três consultas de acompanhamento fonoaudiológico.
RESULTADOS: Sem amplificação sonora a média tritonal das crianças era de 95dB até
120dBs e com a colocação do AASI essas médias ficaram entre 75dB e 90dB. Já após
18 meses de uso do IC, às médias tritonais das crianças se mantiveram entre 30dB e
65dBs. Foi observado assim um resultado com média de ganho, de 65 dB. Três destes
pacientes apresentaram uma melhora com ganho acima de 75 dB, um deles chegando a
85dB de ganho pelo uso do IC. Os demais se mantiveram entre 55dB e 65dB.
CONCLUSÃO: Com esta pesquisa foi possível observar que mesmo crianças
implantadas tardiamente conseguem bons resultados audiológicos com IC. Todas
evoluíram do ponto de vista de limiares auditivos.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 6
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................... 8
2.1 IMPLANTE COCLEAR ............................................................................... 8
2.2 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DO IC ....................................................... 10
3. MATERIAL E MÉTODO .............................................................................. 13
4. RESULTADOS ................................................................................................ 14
5. DISCUSSÃO .................................................................................................... 16
6. CONCLUSÃO ................................................................................................... 19
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 20
6
1. INTRODUÇÃO
Segundo dados do Ministério da Saúde publicados nos programas de triagem
auditiva neonatal, a surdez está entre as morbidades neonatais de maior incidência no
Brasil. De acordo com o Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na infância (CBPAI), a
deficiência auditiva na infância afeta de 1 a 3 em cada 1000 nascimentos e acomete
cerca de 2% a 4% dos neonatos provenientes de unidades de terapia intensiva (UTI)
(UCHÔA et al., 2003).
Para Marques A C O, Kozlowski L, Marques J M. (2004); a deficiência auditiva,
principalmente de severa a profunda, diminui o contato social do indivíduo, gerando
alterações emocionais e sociais muitas vezes devastadoras.
Segundo e Idrissi, G. L. M. et al (2009) em crianças portadoras de surdez
sensorioneural bilateral pré lingual, a aquisição da linguagem oral torna-se muito difícil,
senão mesmo impossível. Para estas crianças, o implante coclear (IC), representa um
meio fundamental para que estas possam adquirir e desenvolver suas capacidades
lingüísticas orais.
Seguindo a concepção do autor nestas crianças, o desenvolvimento da linguagem
segue a mesma ordem que a das crianças com audição normal (produção de palavras
isoladas, associação de duas palavras e depois frases).
O IC é um dispositivo eletrônico indicado para indivíduos portadores de perda
auditiva sensorioneural severa-profunda e que não se beneficiam do uso de próteses
auditivas eletroacústicas convencionais. Este dispositivo estimula diretamente as fibras
do nervo auditivo, através do fornecimento de impulsos elétricos que estimulam
diversas regiões da cóclea. O implante significa uma melhoria significativa na
percepção dos sons da fala e dos dons ambientais, possibilitando assim o
desenvolvimento das capacidades auditivas e da linguagem. São diversos os fatores
suscetíveis de interferir nos resultados que o IC pode permitir entre eles a etiologia de
implantação, entre outros. Quanto menor o tempo de privação auditiva melhor serão os
resultados obtidos (TANAMATI; COSTA FILHO; BEVILACQUA, 2011).
A indicação do IC tem acontecido em idade cada vez menor devido ao avanço
no diagnóstico audiológico precoce e novas tecnologias na fabricação do IC
(BAKHSHAEE et al.,2007).
O IC – aprovado pelo Food Drug Administration (FDA) para crianças a partir de
um ano – tem permitido que deficientes auditivos tenham acesso a sinais auditivos
7
inacessíveis com a amplificação tradicional ofertada pelo Aparelho de Amplificação
Sonora Individual (AASI). O desenvolvimento do equipamento e das técnicas tem
permitido resultados cada vez mais promissores, com melhores limiares e maior
capacidade de discriminação da fala pelo paciente (FREDERIGUE; BEVILACQUA,
2003).
As novas tecnologias assistivas vêm avançando e tornam-se aliadas a muitos
casos de deficiência. O IC tem sido responsável por uma significativa melhora em
muitos casos de deficiência auditiva. No entanto, é preciso frisar que ele não representa
a cura da surdez, principalmente porque não podemos deixar de atentar para fatores
como o tempo de desenvolvimento cognitivo para aquisição de uma nova língua com
base no som, bem como a questão de identidade e cultura surdas que permanecem
presentes (REVISTA EDUCAÇÃO ESPECIAL, 2015).
O objetivo desta pesquisa é apresentar a evolução audiológica de um grupo de
crianças com surdez pré-lingual, implantadas tardiamente em um programa de saúde
auditiva credenciado pelo SUS, em Curitiba.
8
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O IMPLANTE COCLEAR
Para Fagan M K, Pisoni D B (2010) o estudo da estimulação elétrica do sistema
auditivo não é contemporâneo, uma vez que desde o século XVIII já havia estudos que
esboçavam uma maneira de estimular o sistema auditivo de forma elétrica.
Desde então as descobertas e testes não pararam para o melhor reconhecimento
da fala no ruído e da percepção musical, os quais ainda são tarefas difíceis para alguns
usuários de IC. Ao longo deste período, alguns questionamentos já foram superados,
entre eles: a maneira pela qual o código sonoro é parcialmente reproduzido pela
estimulação elétrica, a utilização de um processamento de sinais suficientemente capaz
de beneficiar a percepção da fala dos usuários de IC, bem como o desenvolvimento de
técnicas cirúrgicas para inserção do dispositivo interno, menos invasivas e capazes de
preservar a audição residual (BEVILACQUA et al., 2010).
Em resumo, os grandes eventos no desenvolvimento de IC ocorreram em três
fases. A primeira foi a de conceituação, que demonstrou a viabilidade da estimulação
elétrica. A segunda fase, a da pesquisa e de desenvolvimento, legitimou a utilidade e
segurança da estimulação elétrica e finalmente, a terceira fase, a de comercialização,
propiciou um uso generalizado da estimulação elétrica no tratamento da perda auditiva
sensório-neural (DORMAN; WILSON, 2004).
O dispositivo eletrônico do IC é a prótese sensorial mais efetiva na história da
Medicina até o momento. As indicações do IC passaram por etapas evolutivas,
dependentes do desenvolvimento tecnológico, aprimoramento das técnicas cirúrgicas e
da capacitação e qualificação das equipes interdisciplinares envolvidas em todo o
processo de implantação. É uma tecnologia capaz de beneficiar pessoas com graus
variados de perdas auditivas em diferentes tempos de privação sensorial, sendo
preferencial sua indicação precoce ao longo do primeiro ano de vida (BENTO;
HYPPOLITO, 2012).
O IC em si é um dispositivo eletrônico biomédico, biocompatível e durável,
desenvolvido para realizar a função das células ciliadas que estão danificadas ou
ausentes, transformando a energia sonora em baixos níveis de corrente elétrica,
proporcionando a estimulação elétrica das fibras remanescentes do nervo auditivo e
melhorando a comunicação de pessoas incapazes de compreender a fala por meio do
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AASI (COSTA FILHO; BEVILACQUA; MORETI, 1996; BEVILACQUA; MORET;
COSTA, 2004).
Este aparelho é constituído de componentes externos e internos. A parte externa
é constituída pela antena, o cabo de transmissão e o processador de fala. Os
componentes internos são inseridos cirurgicamente, e é composto de uma antena interna
com imã, um receptor estimulador e um cabo com filamento de múltiplos eletrodos
inserido na região posterior da orelha, sob a pele.
Na parte externa, por intermédio do microfone instalado junto à orelha, capta o
som que é transmitido por um fio ao processador de fala. Este processador é que analisa
continuamente o sinal de fala e dos sons ambientais proporcionando a codificação
destes sons, com alta resolução, preservando as características importantes do espectro e
da informação temporal dos sons de fala (NUNEZ; CHUTE, 2003; FREDERIGUE;
BEVILACQUA, 2003; BEVILACQUA; MORET; COSTA FILHO, 2004).
O microfone do equipamento capta o som, o sinal elétrico gerado é enviado ao
processador de fala, onde será analisado e codificado em impulsos elétricos e
transmitido de maneira transcutânea para o componente interno, por meio da antena
externa. O processador envia a informação codificada para uma antena transmissora,
colocada junto ao receptor estimulador. Por meio de radiofreqüência, as informações
são transmitidas através da pele e são captadas pela antena interna, liberando os sinais
codificados para o receptor interno (NUNEZ; CHUTE, 2003; FREDERIGUE;
BEVILACQUA, 2003; BEVILACQUA; MORET; COSTA, 2004; MULLER, 2005;
BEVILACQUA; COSTA FILHO; MARTINHO, 2004).
Segundo os autores Frederigue N B E, Bevilacqua M C (2003); Bento R F et
al.,(2014) os impulsos elétricos são enviados a eletrodos intracocleares específicos
programados separadamente para transmitir sinais codificados, que variam em
intensidade e frequência, para fibras nervosas específicas.
O IC decodifica o padrão sonoro em frequências e intensidades por meio de
estímulos elétricos em eletrodos localizados em diferentes pontos da cóclea,
possibilitando o reconhecimento da fala. O ciclo da audição se completa quando o
estímulo elétrico e os sinais codificados são transmitidos por rádio frequência para o
receptor transmissor, que estimula os eletrodos que são implantados na cóclea
(FREDERIGUE; BEVILACQUA, 2003; BEVILACQUA; COSTA; MORETI, 2010;
BEVILACQUA; COSTA FILHO; MARTINHO, 2004; BENTO et al.,2014.
10
As informações do espectro do sinal acústico são codificadas pela estimulação
de diferentes eletrodos e a informação temporal é codificada pelo controle temporal das
descargas no nervo auditivo. Após a interpretação da informação no cérebro, o usuário
de IC é capaz de experimentar uma sensação de audição. (BEVILACQUA; MORET,
1997;
FREDERIGUE;
BEVILACQUA,
2003;
RIZZI;
BEVILAQUA,
2003;
BEVILACQUA et al., 2010; BENTO et al.,2014).
2.2 CRITÉRIOS DE INDICAÇÃO DO IC
Os critérios de indicação e seleção para cirurgia de IC, nos centros no Brasil,
obedecem a critérios multifatoriais de indicação, tanto para crianças como para adultos,
inicialmente baseados nos critérios internacionais, somados aos critérios propostos pela
portaria 1.278\GM, de 20 de outubro de 1999, do Ministério da Saúde, e sempre
pautados na experiência clínica da equipe (COSTA FILHO; BEVILACQUA; MORETI,
1996; GOMEZ, et al., 2004; SAMPAIO; ARAÚJO; OLIVEIRA, 2011; BENTO et al.,
2014).
Os critérios de indicação para IC, de acordo com as diretrizes da Comissão de
Implante Coclear da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia CérvicoFacial, em consenso com a Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia (SBO),
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBF), Associação Brasileira de Audiologia
(ABA) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) são:
1. Em crianças até seis anos de idade, com deficiência auditiva, o IC unilateral ou
bilateral (a critério médico) é indicado quando forem preenchidos todos os seguintes
critérios:
a) Perda auditiva sensório-neural severa ou profunda bilateral;
b) Experiência com uso de AASI por um período mínimo de 3 meses, na perda auditiva
severa (esta experiência com AASI não é necessária em casos de meningite);
c) Motivação adequada da família para o uso do implante coclear e para o processo de
reabilitação fonoaudiológica;
2. Em crianças a partir de sete anos até 12 anos de idade, o IC unilateral ou bilateral (a
critério médico) é indicado quando forem preenchidos todos os seguintes critérios:
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a) Perda auditiva sensório-neural severa ou profunda bilateral;
b) Resultado igual ou menor que 50% de reconhecimento de sentenças em formato
aberto com uso de AASI em ambas as orelhas;
c) Presença de código linguístico estabelecido;
d) Motivação adequada da família para o uso do IC e para o processo de reabilitação
fonoaudiológica;
3. Em adolescentes a partir de 12 anos de idade e adulto com deficiência auditiva póslingual, o IC unilateral ou bilateral (a critério médico) é indicado quando forem
preenchidos todos os seguintes critérios:
a) Perda auditiva sensório-neural severa ou profunda bilateral;
b) Resultado igual ou menor que 50% de reconhecimento de sentenças em formato
aberto com uso de AASI em ambas as orelhas;
c) Motivação adequada da família para o uso do IC e para o processo de reabilitação
fonoaudiológica;
4. Em adolescentes a partir de 12 anos de idade e adultos com pré-lingual,o IC unilateral
ou bilateral (a critério médico) é indicado quando forem preenchidos todos os seguintes
critérios:
a) Perda auditiva sensório-neural severa ou profunda bilateral;
b) Resultado igual ou menor que 50% de reconhecimento de sentenças em formato
aberto com uso de AASI em ambas as orelhas;
c) Presença de código linguístico estabelecido e adequadamente reabilitado pelo método
oral;
d) Motivação adequada do paciente para o uso do IC e para o processo de reabilitação
fonoaudiológica.
A história médica e otológica identifica as condições gerais do paciente e tem
como objetivos determinar a etiologia da perda auditiva, identificar as características
audiológicas da orelha interna e estabelecer se existem condições que impeçam a
cirurgia ou a implantação do dispositivo. O estudo audiológico é definitivo para a
escolha da orelha a implantar nos casos de implantes unilaterais.
A avaliação audiológica tem como objetivos determinar ou confirmar o tipo e
grau da perda auditiva e definir por meio de provas de percepção de fala o benefício
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obtido com a prótese auditiva convencional. Seus resultados são determinantes para a
indicação da cirurgia do implante coclear e para auxiliar a eleição da orelha a implantar.
A avaliação social irá avaliar os aspectos financeiros e socioculturais da família
do candidato que são fatores importantes na continuidade do processo. A avaliação
psicológica avalia os aspectos emocionais e cognitivos, além dos aspectos emocionais
da família, identificando as expectativas familiares quanto ao IC, ao grau de adesão da
família ao processo, um cuidado necessário para o sucesso da reabilitação auditiva
(COSTA FILHO; BEVILACQUA; MORETI, 1996; GOMEZ, et al., 2004; BENTO et
al., 2014).
Nicholas J G; Geers A E (2013) afirmam que recentes melhoras na tecnologia do
implante coclear e os resultados de reconhecimento da fala vastamente comprovados
têm levado a uma expansão nos critérios para seleção de candidatos à cirurgia de
implante coclear, tanto no que se refere ao critério audiológico como à idade cirúrgica.
Recentemente, crianças a partir de 12 meses de idade têm sido implantadas, mostrando
significativa vantagem no desenvolvimento da fala e da linguagem comparativamente às
crianças em que foram implantadas entre os quatro e cinco anos de idade.
Estudos mostram que crianças com deficiência auditiva congênita que foram
beneficiadas precocemente pelo IC, obtêm melhores resultados de reconhecimento de
fala (BENTO et al., 2014).
Para Tanamati L F; Bevilacqua M C; Costa F A O, (2009) nas últimas décadas,
devido aos importantes avanços na tecnologia empregada na fabricação dos IC e ao
contínuo aperfeiçoamento das técnicas de diagnóstico audiológico, os critérios de
indicação do dispositivo de IC têm incluído crianças com idades cada vez menores.
Atualmente, na literatura, já foram descritos casos de crianças submetidas à cirurgia de
implante coclear aos quatro meses de idade.
Os critérios de contra-indicação para IC são comprometimentos neurológicos
graves associados à deficiência auditiva, condições médicas ou psicológicas que contraindiquem a cirurgia, deficiência auditiva causada por agenesia da cóclea, do nervo
auditivo ou lesões centrais, infecção ativa da orelha média, expectativas irreais quanto
aos benefícios, resultados e limitações do IC por parte da família ou do paciente
(COSTA FILHO; BEVILACQUA; MORETI, 1996; GOMEZ, et al., 2004).
13
3. MATERIAL E MÉTODO
Trata-se de uma pesquisa descritiva de caráter longitudinal, aprovada pelo
Comitê de Ética em Pesquisa sob número CEP-UTP 046/2009.
Foram incluídas na pesquisa 10 crianças de ambos os sexos entre 4 e 6 anos com
surdez profunda, de caráter pré-lingual, implantadas tardiamente, ou seja, com mais de 3
anos. Foram excluídas crianças que não estavam condicionadas para realizar a
audiometria tonal.
Os pais das crianças assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido,
autorizando o estudo.
Os dados foram coletados de janeiro de 2014 a junho de 2015, no ambulatório de
IC do Hospital Pequeno Príncipe em Curitiba.
Todas as crianças realizaram a audiometria em campo livre antes e após a
realização do implante.
Foram utilizados os seguintes materiais: cabine audiométrica tratada
acusticamente e avaliada de acordo com as normas do CFFa (2009); audiômetro ITERA
calibrado de acordo com as normas do CFFa (2009); conjunto de audiometria em campo
livre.
Antes do IC as crianças realizaram a audiometria em campo sem utilização de
amplificação e na sequência, com prótese auditiva.
Depois do IC as crianças realizaram audiometrias sequenciais em campo livre
utilizando o dispositivo. As avaliações ocorreram semestralmente entre 6 meses e 18
meses após a ativação,
As médias tritonais dos dados obtidos foram digitadas em planilha eletrônica e
analisados conforme relatado a seguir.
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4. RESULTADOS
Para fins de análise dos resultados, foram consideradas as seguintes variáveis:
gênero e idade da criança; etiologia da perda auditiva e idade da criança na realização
do IC; resultados da média tritonal durante as avaliações de acompanhamento no
serviço de saúde auditiva.
A amostra foi caracterizada de acordo com idade, gênero, causa da surdez e
idade de realização da cirurgia, e os dados estão apresentados nas tabelas 1 e 2.
TABELA 1 - Caracterização da amostra por idade e gênero
__________________________________________________________________
Idade
Masculino
Feminino
TOTAL
4 anos
1
2
3
5 anos
2
3
5
6 anos
1
1
2
TOTAL
4
6
10
__________________________________________________________________
Fonte: autora
TABELA 2 - Caracterização da amostra por etiologia e idade de realização do IC
___________________________________________________________________
Etiologia
3 anos
4 anos
5 anos
TOTAL
Rubéola congênita
Meningite
Síndrome
Desconhecida
1
1
0
1
1
0
2
1
0
1
0
2
2
2
2
4
TOTAL
3
4
3
10
__________________________________________________________________
Fonte: autora
Os resultados, em média tritonal (500Hz, 1000Hz e 2000Hz) das audiometria em
campo livre, realizadas nas sessões de acompanhamento, estão descritos no quadro 1.
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QUADRO 1 - Média tritonal, em dBNA, das audiometrias por criança avaliada
Sujeito
Antes do IC
Com AASI Audio1 pós
Audio2
pós Audio3
IC
IC
IC
1
120
85
70
55
45
2
115
80
65
50
35
3
100
80
70
55
45
4
100
75
55
40
40
5
95
75
50
35
35
6
100
75
60
50
45
7
95
70
55
30
30
8
120
85
55
40
35
9
120
90
80
70
65
10
110
85
70
55
50
pós
16
5. DISCUSSÃO
A amostra estudada, considerando-se o objetivo da pesquisa. Foi homogênea.
Houve predomínio do sexo feminino e de crianças com 5 anos de idade. Outros serviços
de saúde auditiva credenciados para realização de IC também relatam esta condição
(BENTO E HYPOLITO, 2012).
Com relação à etiologia da perda auditiva, há predomínio de causas
desconhecidas. Nestes casos, provavelmente a origem da perda seja genética, porém,
por falta de recursos, este diagnóstico fica deficitário.
Importante ressaltar que ainda se verifica a queixa de rubéola congênita, doença
erradicada em outros países mais desenvolvidos, e da meningite. Segundo Santos;
Borgianni; Brasil (2011) a síndrome da rubéola congênita pode apresentar uma
variedade de alterações, dependendo do período gestacional em que a infecção ocorreu.
Quando a mãe é contaminada no primeiro trimestre gestacional a probabilidade desta
criança apresentar deficiência auditiva é bem maior. As mesmas autoras afirmam que a
perda auditiva em decorrência da meningite pode ocorrer durante o período de
instalação da meningite, associada à vertigem e grande sensibilidade ao ruído. Nos
últimos anos, o quadro audiológico da meningite tem mostrado aumento das perdas
auditivas unilaterais progressivas, flutuantes e de origem tardia.
Quanto aos limiares auditivos, observa-se que todas as crianças possuíam perda
auditiva profunda bilateral. A surdez sensório-neural de grau severo a profundo em
crianças limita o desenvolvimento social, psicológico e cognitivo. Sendo os três
primeiros anos de vida os mais importantes para a aquisição da linguagem oral. Deste
modo é de extrema importância o diagnostico da perda senssório-neural ate o terceiro
mês de vida e intervenção terapêutica ate o sexto mês (MOREIRA 2009).
Os resultados com AASI, em todas elas era insuficiente, e por isso, foram
encaminhadas para IC, conforme preconizado (COSTA FILHO; BEVILACQUA;
MORETI, 1996; GOMEZ, et al., 2004; SAMPAIO; ARAÚJO; OLIVEIRA, 2011;
BENTO et al., 2014).
Um dos critérios de indicação do IC em crianças com deficiência auditiva prélingual mais estudado é a idade na implantação. Pesquisas realizadas mostram que a
idade na cirurgia é um importante fator para se obterem benefícios com o IC. Quanto
17
menor o tempo de privação auditiva, mais chance a criança implantada tem em obter
melhor percepção da fala e desenvolvimento da linguagem oral (DETTMAN, 2007).
Considerando que todas as crianças foram implantadas depois dos 3 anos,
podemos considerar que foram implantadas tardiamente. Boéchat et al. (2015); Idrissi,
G. L. M. et al (2009), referem que especialmente para crianças com deficiência auditiva
pré-lingual de grau severo e/ou profundo o IC tem se tornado prática clinica padrão.
Esta prática nunca poderia ter se tornado realidade não fossem os resultados
amplamente publicados apontando o impacto altamente benéfico do IC na percepção
auditiva da fala e consequentemente na aquisição da linguagem oral por meio da via
auditiva. Aliado à possibilidade da triagem auditiva neonatal e do diagnóstico da
deficiência auditiva no primeiro ano de vida, e sobre tudo, à terapia fonoaudiológica
fundamentada pela abordagem aurioral desde a identificação da deficiência e ao longo
de todo o processo terapêutico, é legitimo afirmar que o IC potencializou a aquisição da
linguagem oral para as crianças.
Sendo assim, a detecção precoce dos distúrbios auditivos é de fundamental importância
para prevenir alterações do desenvolvimento infantil, que ocorrem em crianças privadas de
estimulação sonora adequada nos primeiro anos de vida (VIEIRA; AZEVEDO 2007).
Depois de implantadas as crianças foram acompanhadas, e as audiometrias em
campo livre revelaram evolução dos limiares tonais. Foi observado um resultado com
média de ganho, após 18 meses de uso do IC de 65 dB. Sendo que três destes pacientes
apresentaram uma melhora com ganho acima de 75 dB, um deles chegando a 85dB de
ganho pelo IC. Os demais se mantiveram entre 55dB e 65dB. Porém vale ressaltar que
mesmo obtendo esse ganho as medias de audição com o IC ficaram assim dispostas,
cinco pacientes com médias entre 30-40dB, quatro pacientes com medias entre 4550dB e um paciente como media de 65dB. Isso mostra que apesar do IC ter apresentado
uma grande melhora na audibilidade das crianças, a média auditiva ainda ficou abaixo
da normalidade, o que fará que estas crianças ainda assim tenham um provável atraso de
desenvolvimento e uma dificuldade muito maior de linguagem e aprendizagem em
geral.
Entre os aspectos que mais interferem nos resultados obtidos com o IC, tanto em
adultos como em crianças, os mais relevantes apresentados na literatura são o tempo de
privação sensorial, e a idade em que a deficiência auditiva é instalada. Quanto maior o
tempo de privação sensorial, maiores esforços deverão ser empregados para que a
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plasticidade neuronal ocorra e se ajuste as informações provenientes da estimulação
elétrica do nervo auditivo (BENTO et al. 2014).
Boéchat (2015) afirma que nas crianças com deficiência auditiva pós-lingual os
benefícios já eram esperados devido à comprovação da efetividade do IC em adultos
com deficiência auditiva pós-lingual. E que além dos benefícios já citados para crianças
e adultos quanto à percepção auditiva da fala e aquisição da linguagem oral é coerente
afirmar que crianças e adultos usuários de IC podem também usufruir de outros
benefícios como o som ambiente, musicas e sons de alerta, que além de conhecimento e
bem estar, proporciona segurança ao usuário.
Apesar dos resultados positivos encontrados em nosso estudo, é importante
finalizar este trabalho com a fala de Bevilacqua e Formigoni (2000). As autoras referem
que o diagnóstico precoce é um dos fatores decisivos para o melhor desenvolvimento da
criança deficiente auditiva, visto que os primeiros anos de vida poderão ser mais bem
aproveitados. É nessa fase que está havendo a maturação neurológica, tempo
considerado ideal para a estimulação auditiva, já que, nos primeiros anos de vida, existe
uma prontidão para que as habilidades perceptuais básicas, assim como a linguagem,
possam ser adquiridas.
19
6. CONCLUSÃO
Com esta pesquisa foi possível observar que mesmo crianças implantadas
tardiamente conseguem bons resultados audiológicos com IC. Todas evoluíram do
ponto de vista de limiares auditivos.
20
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKHSHAEE, M. et al. Speech development and auditory performance in children
after cochlear implantation. MJIRI; 2007.
BENTO, R. F. et al. Tratado de Implante Coclear e próteses auditivas implantáveis. Rio
de Janeiro: Ed. Thieme; 2014.
BENTO, R. F; HYPPOLITO, M. A. Rumos do Implante Coclear Bilateral no Brasil.
Braz. J. otorhinolaryngol, 2012.
BEVILACQUA, M. C, FORMIGONI, G. M. Fonoaudiologia educacional: uma opção
BEVILACQUA, M. C. et al. Implante Coclear. IN: PICCOLOTTO, L. Tratado de
Fonoaudiologia. Ed; Roca; 2010.
BEVILACQUA, M. C; COSTA FILHO, A. O; MARTINHO, A. C. F. Implante
Coclear. IN: FERREIRA, L. P; LOPES, D; LIMONGE, S. C. Tratado de
Fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2004.
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