O Tangram – História e algumas relações numéricas. Muitas histórias e lendas proliferam sobre o tangran, mas as investigações de Jerry Slocum (2) parecem apenas confirmar que este puzzle surge na China entre 1796 e 1801, sendo as publicações mais antigas que o referem de 1813. Por volta de 1815 o puzzle estaria muito divulgado e em 1817 surgem as primeiras publicações na Europa e na América. Apesar da longevidade do puzzle o mesmo manteve-se foco da atenção de matemáticos durante o século XX. H. Dudeney (1857-1930), matemático inglês, observou que duas combinações de peças do tangram produzem duas figuras diferentes que podem parecer semelhantes. Contudo, esta observação subsiste apenas numa primeira observação, de facto, a área é a mesma em ambos os casos, mas o pé compensa um corpo maior. Ainda em 1942, Fu Tsiang Wang e Chuan-chih Hsung, matemáticos chineses, demonstraram que com o tangram chinês apenas se podem construir 13 polígonos convexos. Ao estudar o puzzle os estudantes devem notar que consta de sete peças: um quadrado, um paralelogramo, dois triângulos grandes iguais, um triângulo médio e dois triângulos pequenos iguais. Entre as peças do puzzle existe um grande número de relações geométricas. Relações entre as áreas: o triângulo grande tem o dobro da área do triângulo médio; O triângulo médio, o quadrado e o paralelogramo têm a mesma área; e o triângulo médio tem o dobro da área do triângulo pequeno. Em relação às medidas dos ângulos dos polígonos que formam o puzzle encontram-se meios ângulos rectos, ângulos rectos e três meios do ângulo recto, o que só acontece no paralelogramo. Os estudantes devem ainda observar que os cinco triângulos são isósceles e rectângulos. 2 Slocum, Jerry, 2003, (and His Team), The Tangram Book, 192pp, hb, New York, NY: Sterling Publishing Co. Inc. Nas Relações entre os lados é que as coisas se complicam pois surge um número irracional. Um facto a ser explorado é que qualquer que seja o ponto de partida aparecerá um número que multiplicado por ele próprio é igual a 2. 1 2 2 2 4 2 2 2 4 2 4 1 2 4 2 4 1 2 2 4 1 2 1 2 2 Å 1,41421 2 Å 0,70711 2 2 Å 0,35355 4 2 4 1 2 1 2 1 (2⋅ 2)⋅(2⋅ 2) = 8,00000 2 2 2 2 ⋅ = 0,12500 4 4 2 2 Å 1,41421 2⋅ 2 = 2,00000 2⋅ 2 Å 2,82843 1 1 2 2 2 2 = 0,50000 ⋅ 2 2 2 4 2 1 1 2 2 2 Ora estes números foram chamados pelos matemáticos gregos de irracional3 pois não existe um número fraccionário que multiplicado por ele próprio seja igual a dois. A escrita decimal de um número racional é uma dizima finita ou infinita periódica, por exemplo: 1 1 = 0.2 e = 0.33333.... = 0.(3) 5 3 Neste momento de aprendizagem é útil a máquina de calcular, o estudante deve ser incentivado a encontrar um número que multiplicado por ele próprio seja 2. Facilmente o estudante constata que o número tem de ser superior a 1 e inferior a 2 e investigando com ajuda da calculadora pode chegar a uma boa aproximação de 2. Porém antes desta manipulação numérica é essencial que o estudante manipule bem as peças e se aperceba que: a) o cateto do triângulo grande tem mesmo comprimento que a hipotenusa do triângulo médio; b) o cateto do triângulo médio tem o mesmo comprimento que a hipotenusa do triângulo pequeno e que a diagonal do quadrado e que um dos lados do paralelogramo; c) o cateto do triângulo pequeno tem o mesmo comprimento que o lado do quadrado, e que o outro lado do paralelogramo. Todas estas propriedades são responsáveis pelo sucesso deste puzzle, que lhe permitem assumir as mais variadas formas e os encaixes mais diversos. Note-se também o grande valor instrumental para a didáctica da matemática. As tarefas que se apresentam são exemplo de algumas entre muitas que se podem organizar com o Tangram. A quinta tarefa só deve ser trabalhada com alunos que se revelem muito perspicazes, mas pode integrar um momento formativo interessante do professor. 3 Observe-se que racional, quer dizer, pode ser expresso pela razão de dois comprimentos, de modo equivalente, como razão entre dois números.