Alfabetização e letramento: um estudo sobre as

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 Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Resumo Este artigo é o resultado da investigação realizada junto a um grupo de professores alfabetizadores em processo de formação continuada. O objeto de estudo foi a concepção de alfabetização presente nas práticas alfabetizadoras dos professores que trabalham nas classes de alfabetização. Buscou‐se examinar a concepção de alfabetização e letramento que sustentam as práticas dos professores alfabetizadores e o que de fato está sendo concebido quando se ensina a leitura e a escrita na alfabetização. Metodologicamente, foi adotado uma abordagem de pesquisa qualitativa, enfatizando a condição do pesquisador como sujeito e destacando a importância do seu diálogo com o campo empírico no processo de produção do conhecimento. Uma das características que se destaca na pesquisa qualitativa é a interação entre pesquisadores e o grupo/membros das situações investigadas, o que possibilita uma comunicação efetiva entre os mesmos. Do ponto de vista teórico, foram utilizados os estudos desenvolvidos por Freire (1995, 1996, 1999, 2002); Vygotsky (1981 1988); Luria (1983, 1988); Kleiman (1995), Soares (1998) e Tfouni (1995). Palavras‐chave: alfabetização; letramento; prática alfabetizadora; processos pedagógicos. Marilane Maria Wolff Paim UFFS [email protected] X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.1
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim 1 Introdução Neste artigo, apresentamos e problematizamos os resultados de uma pesquisa desenvolvida no projeto Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores. Existem várias teorias que procuram compreender e explicar os caminhos da alfabetização e que no processo de ensinar a leitura e a escrita num contexto efetivo e sistemático de ensino diferentes concepções estão presentes nas práticas pedagógicas sem que eles necessariamente as percebam. Assim, o trabalho de alfabetização pode ser realizado com o desconhecimento daquilo que o fundamenta. É fundamental destacar que o modo como é concebido o processo de alfabetização pode fazer a diferença de todo o encaminhamento metodológico em sala de aula, pois a alfabetização, entendida como simples aquisição do código gráfico (letras, sílabas, palavras), fica dissociada da situação real vivida pelo aluno, bem como de seu significado ao contrário, para que se ampliem as possibilidades de leitura e escrita basta ultrapassar esse entendimento restrito e limitado. Aprender a língua escrita por repetição, cópia, reprodução de letras, palavras e frases isoladas, leitura em coro, não garantem que a criança aprenda a linguagem escrita, mas somente a escrita das letras. Neste sentido, a pesquisa procurou investigar as práticas pedagógicas alfabetizadoras, não como forma de ver de fora a realidade, mas de inserir‐se nela e percebê‐la em suas múltiplas relações, facetas e significados. E para compreender melhor o cotidiano das classes de alfabetização, foi necessário investigar qual é a concepção de alfabetização e letramento que sustentam as práticas dos professores alfabetizadores e o que de fato está sendo concebido quando se ensina a leitura e a escrita na alfabetização? O processo de alfabetização tem, ao longo de sua história, apresentado características dicotômicas, pois, se de um lado ele se constitui na possibilidade de apropriação de todo um universo antes inatingível, por outro, ele pode vir a ser um espaço de fracassos e frustrações onde o aluno é colocado frente a um saber com o qual ele não consegue se relacionar e estabelecer sentido. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.2
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim O trabalho de alfabetização ao mesmo tempo em que se constrói como um fator de angústia entre os professores organiza‐se como elemento gerador de busca constante de metodologias capazes de dar conta das questões que se apresentam no cotidiano da sala de aula. As dificuldades inerentes ao processo de alfabetização de crianças, o qual acontece de forma mecânica, com palavras soltas, sem sentido e significado e ancorado numa linguagem artificial diferente da linguagem social que a criança usa no seu cotidiano, cria no professor a necessidade de buscar outras concepções, outros fundamentos e outras metodologias capazes de compreender de maneira diferente o processo de aprendizagem trabalhado no interior das escolas. A busca de novos rumos para a alfabetização nem sempre tem dado resultados positivos, pois, muitas vezes, as metodologias têm se mostrado ineficazes na resolução dos problemas e acabam virando meros paliativos para as dificuldades que sobrevivem e se cristalizam no interior da escola. Deste modo, o processo de alfabetização das crianças passa pelos mais variados enfoques, sendo necessário não perder de vista o como a criança se apropria da escrita. Nesse contexto encontram‐se as práticas alfabetizadoras que foram ao mesmo tempo produto e produtoras de tais paradigmas, desde uma compreensão de linguagem enquanto dom, hereditária, imutável, individual a de como prática social, coletiva, histórica, construída, etc. O processo de alfabetização não se restringe ao aprendizado da leitura e da escrita mecânica quando se adquire uma tecnologia de codificar e decodificar a escrita, mais ainda, que esta conquista superficial não é suficiente na sociedade de hoje. O desafio, portanto, se coloca aos professores alfabetizadores, que necessitam desenvolver práticas de leitura e escrita na sala de aula na perspectiva do letramento. Soares (1998) em suas pesquisas sobre linguagem e alfabetização tem analisado que a partir das transformações das sociais em torno do uso da escrita e de suas funções na sociedade, surgiu o conceito de letramento. Ou seja, não basta mais os sujeitos aprenderem a codificar e decodificar e escrita, mas, é necessário fazer uso adequado da X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.3
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim leitura e da escrita na sociedade, sabendo utilizar o material escrito, interpretando e posicionando‐se criticamente diante dela. As atividades de pesquisa desenvolvidas foram articuladas com o projeto de extensão alfabetização e linguagem: possibilidades de intervenção em sala de aula. Para efeito desse estudo estabelecemos como objetivo, investigar qual a concepção de alfabetização e letramento que sustentam as práticas dos professores alfabetizadores e o que de fato está sendo concebido quando se ensina a leitura e a escrita na alfabetização? Nunca estudamos um objeto neutro, mas sempre um objeto implicado, caracterizado pela teoria e pelo dispositivo que permite vê‐lo, observá‐lo e conhecê‐lo. É valido destacar que a concepção de pesquisa não é neutra, portanto, torna‐se imprescindível analisá‐la numa perspectiva que se distancie da concepção meramente técnica, afastando qualquer possibilidade de sua neutralidade. A pesquisa foi realizada numa abordagem qualitativa, enfatizando a condição do pesquisador como sujeito e destacando a importância do seu diálogo com o campo empírico, no processo de produção do conhecimento. Nesta direção, buscam‐se os princípios da pesquisa qualitativa nos aportes de Ludke e André (1986, p 23), que destaca: A pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. Investiga os sujeitos a partir de sua cultura, de sua história, de suas condições de trabalho, seus saberes e fazeres, sua subjetividade. Assim, a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e prolongado do pesquisador com o local/ambiente e a situação que está sendo investigada,os problemas devem ser estudados no ambiente em que eles ocorrem, sem qualquer manipulação intencional do pesquisador pesquisadores e pesquisados são sujeitos de um trabalho comum, mesmo que cada um esteja em lugares e situações diferentes. A investigação aconteceu com os docentes alfabetizadores que participaram do curso de extensão “Alfabetização e X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.4
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim Linguagem: Possibilidades de intervenção em sala de aula”. Para a divulgação dos resultados fizemos o uso do termo de consentimento livre e esclarecido e também mantivemos o sigilo e anonimato dos sujeitos envolvidos. Os sujeitos foram nominados como P 1, 2, ..., sucessivamente. No projeto inicial foi definido como instrumento de pesquisa uma entrevista, mas no decorrer do processo não foi possível a realização das entrevistas e foi utilizado como instrumento de pesquisa os documentos desenvolvidos durante o curso e também os diários de campo. Assim a metodologia seguiu a abordagem qualitativa de pesquisa em educação caracterizada como descritiva e documental, conforme Lüdke e André (1986), com a produção dos resultados obtida através da análise dos Diários de campo e dos trabalhos produzidos pelos professores durante o curso. A partir da análise dos diários de campo e dos trabalhos desenvolvidos foi possível identificar algumas das concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores. Nesse texto vamos discutir as temáticas que apresentaram maior destaque na análise e que possibilitaram perceber como os professores concebem o processo de alfabetização. Após a análise, os dados foram organizados em três categorias que melhor traduziam os resultados obtidos: Alfabetização compreendida como à aquisição do código escrito (codificação e decodificação) e a aquisição de uma habilidade técnica; Alfabetização e letramento e Alfabetização como desafio, que passo a discutir na sequência. 2 Os diálogos possíveis 2.1 Alfabetização compreendida como à aquisição do código escrito (codificação e decodificação) e a aquisição de uma habilidade técnica. Durante muito tempo se pensava que ser alfabetizado era conhecer o código linguístico, ou seja, conhecer a grafia das palavras. Atualmente, sabe‐se que embora seja X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.5
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim necessário, o conhecimento das letras não é suficiente para ser competente no uso da língua escrita. A língua não é um mero código para comunicação, ela é um fenômeno social, estruturado de forma dinâmica e coletiva, portanto, a escrita também deve ser concebida do ponto de vista cultural e social. “Para compreender o papel da escrita como prática social, diferenciada da aquisição da tecnologia de aprender a ler e a escrever, considera‐se o domínio do código como alfabetização e as práticas de escrita como letramento” (LEITE, 2001, p.53). A concepção de alfabetização compreendida como à aquisição do código escrito (codificação e decodificação) e a aquisição de uma habilidade técnica permanece presente nos discursos dos professores alfabetizadores.Isso fica expresso nas falas:“É quando você reconhece os símbolos e consegue interpretá‐los.”(P 1)“Processo de codificação e decodificação”.(P2) “Alfabetização é ensinar a ler e a escrever”(P13). Compreender a língua como um conjunto de formas prontas que devem ser memorizadas, compreendidas como um sistema abstrato e homogêneo e ainda desvinculado do uso, estabelece uma importância ao domínio do sistema gráfico, desconsiderando o trabalho da linguagem no seu sentido mais amplo. Considerar a alfabetização dessa forma impõe exclusivamente um treinamento perceptual e motor no período preparatório e ainda a repetição de palavras e padrões silábicos durante todo o processo de alfabetização, enfatizando a cópia repetitiva de palavras e sílabas descontextualizadas para a simples memorização mecânica da correspondência entre grafema e fonema. Esse movimento de ensinar a mecânica da leitura e da escrita não é alfabetizar. O domínio do gráfico é apenas parte de um processo mais amplo. Aprender a língua não é apenas aprender estruturas, mas é, sobretudo, aprender formas de pensar o mundo e agir sobre ele. É preciso entender que a alfabetização não se restringe ao aprendizado da leitura e da escrita mecânica quando se adquire uma tecnologia de codificar e decodificar a escrita, mais ainda, que esta conquista superficial não é suficiente na sociedade de hoje. Práticas de alfabetização centradas na memorização, repetição e cópia de conteúdos X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.6
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim alfabetizadores de cartilhas com a lógica do simples para o complexo, das famílias silábicas entre outros que não levam em conta a linguagem social utilizada pela criança, mas consideram uma linguagem artificial que só encontramos nas cartilhas como” O boi baba”, “A vaca voa”, “Vivi viu a uva” O dado é de Dada” no processo de alfabetização, causa muitas vezes o desinteresse e o fracasso escolar. 2.2 Alfabetização e Letramento Outra concepção que permeia as práticas alfabetizadoras dos professores sustenta que o processo de alfabetização deve compreender que relação de ensino tem que se organizar de forma que o aluno possa entender a leitura e a escrita como atividades sociais significativas que envolvem o uso da língua em situações reais, através de textos significativos e contextualizados.Podemos corroborar nossas afirmações os registros das professoras na compreensão da alfabetização no cotidiano do contexto escolar: Alfabetizar é bem mais do que ler palavras frases, realizar cálculos simples, é preciso compreender, gostar, criar, opinar (P17). Alfabetizar é ensinar ler, escrever, mas acima e tudo entender o que é lido e escrito, ter uma opinião crítica, são as práticas sociais de leitura e escrita (P19) Alfabetização é quando criança, escreve e entende o que leu, constrói sua aprendizagem (P10). A alfabetização é um processo de aquisição e apropriação da leitura e escrita onde, cada criança tem o seu tempo para iniciar e o professor deve ser um mediador nesse processo (P19). Alfabetizar é iniciar com processos de leitura e escrita dos alunos a partir do conhecimento que o aluno traz de casa (P12). Para melhor compreender os conceitos de alfabetização e letramento, estes serão registrados a seguir segundo a ótica de Kleiman (1995), Soares (1998) e Tfouni (1995). Kleiman (1995, p.19) define letramento como o conjunto de práticas sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.7
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim Soares (1998, p.39) define letramento como: “o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas”, e ainda, enfatiza que a leitura e a escrita são uma condição necessária, muito embora não sendo a única para o pleno exercício da cidadania. De outro modo, Tfouni (1995, p.16), concebe o termo letramento em confronto com o conceito de alfabetização. “Enquanto a alfabetização ocupa‐se da aquisição da escrita por um indivíduo ou grupo de indivíduos, o letramento focaliza os aspectos sócio históricos da aquisição de um sistema escrito por uma sociedade”. O conceito de letramento apresentado por Kleiman enfatiza a noção de práticas sócias de leitura e escrita e os eventos em que elas são colocadas em ação. Já Soares, destaca a dimensão de letramento como produto dessas mesmas práticas, apontando as condições e as possibilidades que um grupo ou indivíduo adquirem através dos usos sociais da leitura e da escrita. Não centra o enfoque nas práticas, mas sim, nos sujeitos que fazem uso delas, ou seja, aquele que é usuário da tecnologia que as envolve. Para Soares (1998), o que muda no indivíduo que apresenta um bom nível de letramento é o seu lugar social, isto é sua forma de inserção cultural, à medida que passa a usufruir outra condição social e cultural. Assim, as práticas sociais que envolvem leitura e escrita podem promover algumas alterações tornando então mais adequadas às relações que o indivíduo mantém com os outros, com os diversos contextos sociais, com os bens culturais e porque não dizer, consigo mesmo. “O alfabetismo não se limita pura e simplesmente à posse individual de habilidades e conhecimentos; implica também e talvez principalmente, um conjunto de práticas sociais associadas com a leitura e a escrita, efetivamente exercida por pessoas em um contexto social específico” (SOARES, 1998, p.10). Tfouni (1995) enfatiza o aspecto individual da alfabetização e registra, com ênfase, o aspecto social do letramento. Aponta que “a alfabetização, enquanto processo individual, não se completa nunca, visto que a sociedade está em contínuo processo de mudança, e a atualização individual para acompanhar essas mudanças é constante” (TFOUNI, 1995, p.15). X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.8
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim Desse modo, a prática de alfabetização, buscando o letramento, deve considerar não somente o processo individual, mas também o social, pois este não se refere somente ao “estado” ou à “condição” do sujeito, mas a maneira como a leitura e a escrita são praticadas nos diferentes contextos. Também para a autora, letrado é quem se apropria da escrita, que adquire condições ou estado de apropriar‐se da leitura e escrita, incorporando as práticas sociais, já que alfabetizado é aquele que apenas lê e escreve. É um equívoco afirmar que todos os conceitos de letramento são iguais, contudo o processo social do letramento é um ponto que ambas as autoras apontam. Observando ainda, os conceitos de letramento, pode‐se dizer que o analfabetismo pode ser designado aos que não sabem ler e escrever como também àqueles que leem e escrevem, mas não sabem fazer uso da leitura e escrita, não respondem às exigências que a sociedade faz continuamente. Para que o professor alfabetizador possa intervir e planejar estratégias que permitam avanços, reestruturação e ampliação do conhecimento, já estabelecido pelo grupo, é necessário que conheça o nível efetivo das crianças, ou seja, as suas descobertas, hipóteses, informações, crenças, opiniões, enfim, suas teorias acerca do mundo em que vivem. Este deve ser o ponto de partida para uma relação de diálogo com as crianças, através da qual elas expressarão aquilo que já sabem. Alfabetizar visando o letramento não significa considerar somente as dimensões técnicas de “leitura” e “escrita”, mas também a apropriação das representações e das demandas que se constituem em torno dessa leitura. 2.3 Alfabetização como desafio O trabalho do professor alfabetizador requer conhecimento sobre os processos de como a criança aprende a ler e a escrever o por isso essa é uma temática discutida, problematizada e pesquisada pelos educadores, mas ainda tem questões especificas que acontecem no contexto da sala de aula que não tem respostas se tornando assim um grande desafio para os professores. Esse foi um apontamento recorrente X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.9
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim Nos dias de hoje é um desafio alfabetizar, onde a mídia traz inúmeras novidades e a escola não é tão atraente, Também há muita desestrutura familiar e desrespeito com o educador (P11). Para alfabetizar nos dias de hoje se torna um desafio, fazer com que a criança aprenda é gratificante.Alfabetizar é poder envolver o aluno num todo (P16). Tem momentos que acontecem coisas na minha sala de aula que eu não sei como resolver, converso com os colegas, procuro ler, mas não encontro solução (P9). Diante dos desafios colocados é necessário compreender que a função social da escola é trabalhar o conhecimento que foi historicamente produzido, e para aprender a ler e escrever a criança precisa conhecer sobre funcionamento do sistema de escrita, e da leitura, e para sua aquisição é preciso pensar sobre ela e compreendê‐la, eis um grande desafio para o professor no processo de alfabetização. Nesse sentido é importante ressaltar a importância do professor organizar o trabalho com as crianças numa perspectiva de trabalhar a linguagem social, real que tenha sentido e significado. Oliveira, acerca desta questão, reconhece que: É de fundamental importância que, desde o início, a alfabetização se dê num contexto de interação pela escrita. Por razões idênticas, deveria ser banido da prática alfabetizadora todo e qualquer discurso (texto, frase, palavra, “exercício”) que não esteja relacionado com a vida real ou o imaginário das crianças, ou em outras palavras, que não esteja por elas carregado de sentido (OLIVEIRA, 1998, pp. 70‐71). Ensinar e aprender a ler e escrever com métodos tradicionais utilizando cartilhas é possível, entretanto percebe‐se que tal encaminhamento leva à mera codificação e decodificação reduzindo o processo de alfabetização a um processo mecânico e descontextualizado. Porém a necessidade de aprender a ler e a escrever não é igual para todas as crianças que chegam a escola, pois a heterogeneidade é uma categoria que precisa ser considerada, as diferenças estão presentes no contexto da sala de aula. Rego destaca que: A heterogeneidade, característica presente em qualquer grupo humano, passa a ser vista como um fator imprescindível para as interações na sala de aula. Os diferentes ritmos, comportamentos, experiências, trajetórias X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.10
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim pessoais, contextos familiares, valores e níveis de conhecimento de cada criança (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a possibilidade de troca, de repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua e consequente ampliação das capacidades individuais (REGO, 1995,p 88). No processo de aquisição da linguagem oral e escrita a criança não é um sujeito vazio ela traz conhecimentos socialmente construídos, marcas de leitura e de escrita vivenciadas anteriormente, para o ambiente escolar que devem ser ampliadas e não rejeitadas. A criança, quando chega à escola, é um sujeito que já sabe determinadas coisas, pois faz parte de um grupo sociocultural que fornece situações de cultura, como valores, ideias, conceitos e formas de agir. Pois como afirma Luria, se apenas pararmos para pensar na surpreendente rapidez com que uma criança aprende esta técnica extremamente complexa, que tem milhares de anos de cultura por traz de si, ficará evidente que isto só pode acontecer porque durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, antes de atingir a idade escolar, a criança já aprendeu e assimilou um certo número de técnicas que prepara o caminho para a escrita, técnicas que a capacitam e que tornam incomensuravelmente mais fácil de aprender o conceito e a técnica da escrita (LURIA, 1988, p.143). O processo de apropriação da escrita não acontece da mesma forma, tampouco ao mesmo tempo para toda criança, pois algumas delas tem acesso à televisão, internet, jornais revistas, livros, tem acesso à leitura e a escrita muito antes de chegar na escola, mas é necessário registrar também que ainda tem crianças que o primeiro contato com a leitura e a escrita acontece somente na escola. Vygotsky enfatiza que o ensino deve ser organizado de tal forma, que a leitura e a escrita se tornem necessárias às crianças. [….] a escrita deve ter significado para as crianças, de que uma necessidade intrínseca deve ser despertada nelas e a escrita deve ser incorporada a uma tarefa necessária e relevante para a vida. Só então poderemos estar certos de que ela se desenvolverá não como hábito de mão e dedos, mas como uma forma nova e complexa de linguagem [….] o que se deve fazer é ensinar às crianças a linguagem escrita, e não apenas a escrita de letras (VYGOTSKY, 1991, p. 133‐134). O desafio, portanto, se coloca aos professores alfabetizadores, que necessitam desenvolver práticas de leitura e escrita na sala de aula na perspectiva do letramento. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.11
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim 3 Considerações finais As concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores apontam para diferentes formas de compreender como acontece o processo de aquisição da linguagem oral e escrita. Ainda é muito presente a compreensão da necessidade do aluno memorizar letras, sílabas e palavras soltas. Também aparece a compreensão do processo da aquisição da linguagem oral e escrita como prática social. É possível perceber que existe interesse em compreender a alfabetização comprometida com uma concepção de linguagem que leve em conta não apenas o aspecto material da língua, mas também todos os significados resultantes do uso da linguagem em situações reais de interação social. O processo de aquisição da linguagem oral e escrita, dessa forma, resultará das relações sociais oportunizadas pelo professor e seus alunos no ambiente escolar. Desse modo, contemplar a dimensão discursiva da linguagem no processo de alfabetização implica o uso e a realização efetiva da linguagem em situações diversas do cotidiano. Trabalhar a alfabetização na perspectiva do letramento constitui um desafio para o professor, pois requer mudanças significativas acerca das concepções que norteiam a prática pedagógica e por isso é necessário um processo de formação continuada discutindo questões teórico‐metodológicas em torno da alfabetização e do letramento na perspectiva de uma aprendizagem significativa, de modo que o professor explore, na sala de aula, diferentes usos e funções sociais da leitura e da escrita, a fim de formar leitores e escritores proficientes. Referências FREIRE, Paulo. Política e educação. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 1995. (coleção questões de nossa época; v.23). ______. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 32ª ed. São Paulo: Cortez, 1996. ______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo; Paz e Terra, 1999. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.12
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Alfabetização e letramento: um estudo sobre as concepções que permeiam as práticas pedagógicas dos professores alfabetizadores Marilane Maria Wolff Paim ______. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 10ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. LEITE, Sérgio Antônio da Silva (Org.). Alfabetização e Letramento: contribuições para as práticas pedagógicas. S. Campinas: Komedi: arte escrita., 2001. LURIA, Alexander Romanovich. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983. LURIA, A. R. O desenvolvimento da escrita na criança. In: VYGOTSKY, L. S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988. LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Elisa D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. KLEIMAN, Ângela (org.). Os Significados de Letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas – SP: Mercado de Letras, 1995. OLIVEIRA, Anne Marie M. : “A formação de professores alfabetizadores: lições da prática”. In: GARCIA, Regina L. Alfabetização dos alunos das classes populares. São Paulo: Cortez, 1998. REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: uma perspectiva histórico‐cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995. SOARES, Magda Becker. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998. TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e Alfabetização. São Paulo: Cortez. Questões da nossa época; v. 47, 1995. VYGOTSKY, L. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1991. X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014. p.13
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