A D I A LÉ TI C A E N S I N O /P R Á TIC A N A A D M I N IS T R A Ç Ã O M E R C A D O LÓ G IC A AUTORES: SÉRGIO C. BENÍCIO DE MELLO RICARDO S. GOMES VIEIRA INSTITUIÇÕES: CMA/UFPE ENDEREÇO: Rua Setúbal 1700/1002 – Recife – PE – 51130-010 E-mail: [email protected] Telefones: (081) 462 6190 e 973 1980 Resumo Neste estudo, analisou-se, de forma preliminar, como os administradores mercadológicos de empresas que atuam em Pernambuco percebem a filosofia de marketing e com que extensão a administração mercadológica vem sendo ensinada nas universidades da cidade do Recife. Discutiu-se a formação de profissionais de marketing no contexto dialético ensino/prática de uma disciplina, trazendo uma contribuição para o aprimoramento do conteúdo programático das disciplinas ligadas à administração mercadológica e desta forma subsidiar o esquema inicial de formação básica dos futuros administradores mercadológicos com conhecimentos e habilidades compatíveis com a atual exigência do mercado local. Abstract This study analyzes, in a preliminary way, how marketing managers of companies that act in Pernambuco State - Brazil percieve marketing concepts and with what emphasis is marketing being taught at universities in the City of Recife-Pernambuco. A discussion on marketing professionals' formation in a dialectic approach is presented. This discussion brings a contribution for bettering the marketing program and this way subsidize the initial outline of basic formation of future marketing managers with the adequate knowledge and compatible abilities with the current demand of the local market. ÁREA TEMÁTICA: COMPETÊNCIAS TÉCNICA A D I A LÉ TI C A E N S I N O /P R Á TIC A N A A D M I N IS T R A Ç Ã O M E R C A D O LÓ G IC A Resumo Neste estudo, analisou-se, de forma preliminar, como os administradores mercadológicos de empresas que atuam em Pernambuco percebem a filosofia de marketing e com que extensão a administração mercadológica vem sendo ensinada nas universidades da cidade do Recife. Discutiu-se a formação de profissionais de marketing no contexto dialético ensino/prática de uma disciplina, trazendo uma contribuição para o aprimoramento do conteúdo programático das disciplinas ligadas à administração mercadológica e desta forma subsidiar o esquema inicial de formação básica dos futuros administradores mercadológicos com conhecimentos e habilidades compatíveis com a atual exigência do mercado local. Introdução O objetivo deste trabalho é analisar de forma preliminar como os administradores mercadológicos de empresas que atuam em Pernambuco percebem a filosofia de marketing e com que extensão a administração mercadológica vem sendo ensinada nas universidades da cidade do Recife. Com este estudo, pretende-se discutir a formação de profissionais de marketing no contexto dialético ensino/prática de uma disciplina, e desta forma trazer uma contribuição positiva no esquema inicial de seleção dos futuros administradores mercadológicos, conscientização das filosofias de marketing, além de auxiliar o aprimoramento de um conteúdo programático das disciplinas ligadas à administração mercadológica de forma a orientar mais adequadamente os futuros administradores graduados em Recife, para uma realidade onde a teoria e a prática caminhem uma em direção a outra, estreitando assim a distância em que estes se encontram do efetivo preparo técnico e básico para atender às necessidades do mercado. Para este estudo foram selecionadas as 100 maiores empresas do Estado, por vendas, classificadas no Cadastro Industrial do Estado de Pernambuco. Destas, 45 não foram cooperativas assim totalizando 55 empresas consultadas. Os dados foram coletados através de um questionário estruturado que visava medir o grau de percepção da filosofia de marketing do Diretor/Gerente de Marketing/Comercial responsável pela administração mercadológica da organização. Foram também utilizados dados obtidos através de documentos fornecidos pelas universidades. Os Administradores Mercadológicos e a Filosofia de Marketing De acordo com Kotler (1997), “cinco filosofias alternativas podem orientar as organizações para desenvolver o trabalho de ma rketing.” O conceito de produção é provavelmente a mais antiga filosofia de marketing evidenciada neste século e afirma que os clientes darão preferência aos produtos de preços razoáveis e disponíveis (Park e Zaltman, 1987) portanto, a tarefa principal da administração é aperfeiçoar a eficiência da produção e distribuição (Bagozzi 1986, Kinnear e Bernhardt 1983, Lazer e Culley 1983, Park e Zaltman 1987) e reduzir preço (Kotler 1997). Tal orientação prevaleceu desde meados do século XVIII até a década de 20, época em que se introduziu a mecanização do 1 trabalho, com mão-de-obra pouco especializada e barata, aumentando-se o volume da produção. O conceito de produto é uma extensão do anterior e diz que os clientes preferem produtos de qualidade (Iniesta 1986), de preço razoável (Kotler 1997) e que exigem pouco esforço promocional. Após o desenvolvimento dos sistemas produtivos, na década de 30, os administradores começaram a prestar atenção ao processo das vendas como sendo então o elo fraco da corrente da atividade empresarial (Park e Zaltman 1987). O conceito de vendas se diferencia dos anteriores na medida em que afirma que os clientes não comprarão o suficiente dos produtos da empresa, a menos que sejam estimulados via substancial esforço de vendas e promoção de vendas (Bagozzi 1986, Enis 1980, Kotler 1997, Stanton e Futrell 1987). Por volta de 1950 os administradores mercadológicos começaram a demonstrar interesse pelas necessidades dos consumidores. Neste momento, inicia uma revolução no gerenciamento comercial, onde a nova orientação parte do pressuposto que a empresa, para obter lucro, não deve produzir e vender aquilo que sabe, mas verificar o que o mercado necessita e só assim vender aquilo que venha saciar tais necessidades. Segundo Kotler (1997), o conceito de marketing afirma que a principal tarefa da empresa é detectar as necessidades, os desejos e as preferências de um grupo de clientes-alvo e atender tudo isso de maneira conveniente aos mesmos. Desta forma, a venda acontece mais espontaneamente (Drucker 1973). Recentemente, tem-se questionado se o conceito de marketing é uma filosofia organizacional apropriada numa era de deterioração do meio ambiente, exaustão de recursos, explosão demográfica, fome, pobreza e programas sociais cada vez mais negligentes (Houston 1986). O conceito social de marketing sustenta que a principal tarefa da empresa é criar a satisfação e bem-estar ao cliente e à sociedade a longo prazo como a chave para satisfazer as metas e responsabilidades da organização (Kinnear e Bernhardt 1983, Kotler 1997, Lazer e Culley 1983, Park e Zaltman 1987). As respostas dos administradores pesquisados com relação às 13 (treze) variáveis levantadas que se destinam a medir o nível de percepção dos mesmos em relação às filosofias de marketing, possibilita através de uma análise da distribuição de freqüência dessas respostas, extrair algumas considerações acerca do nível de compreensão das filosofias de marketing pelos administradores mercadológicos de empresas que atuam no mercado pernambucano. Para clarificar e facilitar a análise, tentou-se agrupar as variáveis de acordo com as cinco filosofias alternativas propostas por Kotler (1997). Com relação à variável “a empresa deve concentrar sua atenção na tarefa de produzir bons produtos e cujos preços sejam justos” (V01), observa-se que os administradores pesquisados manifestaram uma percepção majoritariamente de concordância (93,4%). Quanto a variável “os consumidores estão interessados em comprar produtos e não em resolver problemas específicos” (V02), ocorreu uma tendência à discordância (53,3%) em contraposição a apenas 20% que tenderam a concordar. A variável “os consumidores conhecem as marcas concorrentes disponíveis e fazem sua escolha entre estas, na base de sua qualidade em relação ao seu preço” (V03), apresentou o seguinte resultado, com 92,9% dos entrevistados tendendo a concordar. Estas variáveis destinavam-se a medir o nível de percepção dos entrevistados em relação ao conceito de produção/produto. Talvez possamos concluir que existe uma tendência a 2 aceitarem o conceito de produção/produto, mas na variável (V02) isto não se verificou o que pode significar que este conceito não é de todo bem percebido. GRÁFICO 1 - Níveis de Percepção do Conceito de Produção/Produto 80 60 V01 40 V02 20 V03 0 DT DP NDNC CP CT DT- Discordo Totalmente, DP- Discordo Parcialmente, NDNC- Nem Discordo Nem Concordo, CP- Concordo Parcialmente, CT- Concordo Totalmente Com relação à variável “a tarefa principal da empresa é conseguir vendas substanciais para seus produtos” (V04), pode-se observar que 60% dos respondentes tenderam a concordar enquanto 26,6% tenderam a discordar. Quanto à variável “os consumidores normalmente não comprarão o suficiente por si mesmos; eles podem ser induzidos a comprar através de vários estratagemas de estímulos de vendas” (V05), verificou-se que 73,4% dos entrevistados tenderam a concordar com a afirmação e apenas 13,3% destes discordaram. A variável “os clientes provavelmente comprarão de novo, e mesmo que não o façam, há muitos outros consumidores no mercado” (V06), apresentou uma tendência à discordância (73,4%) em contraposição a 26,7% que tenderam a concordar. Estas variáveis destinavam-se a medir o nível de percepção dos entrevistados em relação ao conceito de vendas. É possível que se imagine que há uma compreensão e concordância com este conceito, mas a variável (V06) desarmoniza esse pressuposto, o que pode significar que este conceito não é de todo bem percebido. GRÁFICO 2 - Níveis de Percepção do Conceito de Vendas 50 40 V04 30 V05 20 V06 10 0 DT DP NDNC CP CT DT- Discordo Totalmente, DP-Discordo Parcialmente, NDNC- Nem Discordo Nem Concordo, CP- Concordo Parcialmente, CT- Concordo Totalmente 3 Com relação à variável “a organização concebe suas missões em termos de satisfazer a um conjunto de desejos definidos de um grupo de clientes específicos” (V07), observa-se que a grande maioria dos administradores pesquisados tenderam a concordarem (80%) com a afirmação e apenas 13,4% tenderam a discordar. Quanto à variável “a organização reconhece que a satisfação de desejos requer um ativo programa de pesquisa de marketing para conhecer estes desejos” (V08), pode-se verificar que os respondentes manifestaram uma percepção majoritariamente de concordância (100%). A variável “a organização reconhece que todas as atividades de influenciar clientes devem ser colocadas sob o controle integrado de marketing” (V09), apresentou grande nível de concordância (93,3%) enquanto apenas 6,7% dos entrevistados discordaram. Ao observar a variável “a organização acredita que ao fazer um bom trabalho em satisfazer os clientes, esta ganha sua lealdade, repetição de negócios e palavras de recomendação” (V10), verificou-se que houve uma leve tendência à discordância (40%) enquanto apenas 20% dos respondentes tenderam a concordar. Estas quatro variáveis se destinavam a medir o nível de percepção dos entrevistados em relação ao conceito de marketing. Mais uma vez pode-se verificar que a compreensão de um conceito apresentou distorções. A variável (V10) com uma leve tendência à discordância pode ser um indicador que neste universo pesquisado os administradores mercadológicos não dão muito valor ao atendimento extraordinário ao cliente e aos conceitos de maximarketing, o que pode significar que este conceito não é de todo bem percebido. GRÁFICO 3 - Níveis de Percepção do Conceito de Marketing 100 80 V07 60 V08 40 V09 V10 20 0 DT DP NDNC CP CT DT- Discordo Totalmente, DP- Discordo Parcialmente, NDNC- Nem Discordo Nem Concordo, CP- Concordo Parcialmente, CT- Concordo Totalmente Com relação à variável “a missão principal da organização é criar clientes satisfeitos e saudáveis e contribuir para a qualidade de vida dos mesmos” (V11), observou-se uma fortíssima tendência à concordância (93,4%) e apenas 6,7% discordaram. Quanto à variável “a organizaçã o procura constantemente melhores produtos, definidos em termos de atração e benefícios para os clientes, evitando assim, aqueles produtos que não se enquadram dentro dos melhores interesses dos clientes” (V12), foi possível verificar que a totalidade dos respondentes tenderam a concordar. A variável “os consumidores apoiarão aquelas organizações que demonstrem preocupação para com sua satisfação e bem-estar” (V13), se comportou de forma idêntica a anterior com a totalidade dos entrevistados tendendo a concordar. Estas variáveis se destinavam a medir a percepção dos entrevistados em relação ao mais moderno conceito de marketing: o conceito societal de marketing. A grande maioria dos administradores pesquisados apresentou algum 4 problema na compreensão dos conceitos analisados anteriormente e surpreendentemente se declararam concordantes ao conceito societal, o mais difícil de se ver em prática. Talvez se possa dizer que conhecer não implica em fazer. Dificilmente, em média, estes administradores que apresentaram níveis de discordância do conceito de marketing seriam capazes de praticar um marketing societal. GRÁFICO 4 - Níveis de Percepção do Conceito de Marketing Societal 100 80 V11 60 V12 40 V13 20 0 DT DP NDNC CP CT DT- Discordo Totalmente, DP- Discordo Parcialmente, NDNC- Nem Discordo Nem Concordo, CP- Concordo Parcialmente, CT- Concordo Totalmente O Ensino da Administração Mercadológica Para poder verificar o que está sendo ofertado ao mercado pernambucano como ensino da administração mercadológica, optou-se por pesquisar a totalidade das universidades pernambucanas (três) que aqui vai-se chamar de A, B e C. Não foi objetivado neste estudo analisar a qualidade de ensino de cada uma das universidades nem tão pouco as diversas orientações pedagógicas, objetivou-se apenas o número de disciplinas, conteúdo programático, objetivos e carga horária das mesmas. Em Pernambuco mercadológica, ou seja: são ofertadas sete disciplinas ligadas à administração 1. ADMINISTRAÇÃO DE VENDAS I - ( B - 60h e C - 60h, Obrigatória ) Com o objetivo de transmitir uma visão prática da administração de vendas nas empresas modernas, embasadas nos elementos científicos desta atividade empresarial. 2. ADMINISTRAÇÃO DE VENDAS II - ( B - 60h, Eletiva ) Que visa possibilitar o aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos em administração de vendas I , mediante a incorporação dos novos métodos e técnicas existentes. 3. ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA I - ( A - 60h, B - 60h e C - 45h, Obrigatória ) Cuja finalidade é estudar os conceitos de marketing e sua influência nas decisões das empresas, bem como das organizações que não visam o lucro. Analisar a influência do ambiente externo, dos mercados e da política da empresa, dentro do sistema de marketing de forma a atender as necessidades de conhecimento para a tomada de decisão. 4. ADMINISTRAÇÃO MERCADOLÓGICA II - ( A - 60h e B - 60h, Obrigatória) Com o objetivo de estudar as técnicas utilizadas nas tomadas de 5 decisões de marketing e analisar as principais decisões de administração de marketing e suas implicações. 5. ESTRATÉGIA DE MARKETING - ( B - 60h, Eletiva) Cujo objetivo é definir os critérios básicos para desenvolvimento de uma estratégia empresarial voltada para o mercado. Descrever as etapas do planejamento estratégico. Analisar as dificuldades para definição da estratégia. Discutir a missão estratégica do empresariado brasileiro. 6. ADMINISTRAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO - ( B - 60h, Eletiva) Que visa o estudo da função distribuidora de produtos e serviços, dentro da filosofia de marketing, objetivando o conhecimento das técnic as modernas de distribuição. 7. PESQUISA DE MERCADO - ( B - 60h, Eletiva) Que tem como finalidade familiarizar o conceito de pesquisa de mercado, possibilitando a compreensão dos instrumentos utilizados pela pesquisa de mercado, dando uma visão geral dos meios de que dispõe a pesquisa para compreensão e análise do consumidor. O currículo da instituição B foi reformulado e implantado em 1989, o que nos leva a inferir que, até este ano, já chegou ao mercado 06 turmas de profissionais formados a partir deste elenco de sete disciplinas. Antes, não existiam as disciplinas eletivas de especialização. O currículo da instituição A foi alterado em 1994, criando também um novo elenco de disciplinas destinadas a especializar, são elas: MARKETING DE SERVIÇOS , MARKETING INTERNACIONAL, VENDAS E PESQUISA DE MERCADO . No entanto, somente este ano chegará ao mercado profissionais com uma visão mais ampla de marketing. A instituição C nada falou a respeito de planos para alterar o currículo. O ensino da administração mercadológica nas universidades pesquisadas só agora atende às necessidades do ambiente de mercado existente no Estado de Pernambuco pois apenas duas das três instituições vem oferecendo um elenco razoável de disciplinas. Mesmo assim, estas disciplinas não estão sincronizadas com os segmentos potencializadores do Estado, são eles: o turismo, a agroindústria (fruticultura), serviços e comercio exterior. Já pode-se identificar alguns fatores relevantes, a nível de formação, que influenciam o nível de percepção das filosofias de marketing dentre os administradores mercadológicos pesquisados, supra mencionados. De acordo com Guagliardi (1983, p.97) existem alguns fatores dificultadores à compreensão do marketing quanto disciplina, estes são: § “Marketing continua a ser uma das áreas mais recentemente estruturadas e concebidas dentro do estudo de administração e, por isso, ainda desconhecida em todo seu teor e não ensinada como seria desejável. § Seu maior desenvolvimento ocorreu após 1960 nos EUA, em seguida, na Europa. No Brasil, verificou-se um avanço no seu estudo e entendimento a partir de 1970 e em sua importância mais ao final da década, o que veio agravar o grau de seu conhecimento no país, muito mais lento que o avanço do seu desenvolvimento no exterior. § Após 1969, marco da ampliação do conceito de marketing, a disciplina foi enriquecida com teorias, conceitos e aplicações multidisciplinares tiradas principalmente de psicologia, estatística, sociologia, antropologia e com o inevitável avanço de aplicações de computação eletrônica, principalmente em 6 pesquisa. Esse desenvolvimento veio por sua vez colocar a disciplina num ponto de decisão: (1) ou a estudamos como se deve; (2) ou continuaremos a ignorá-la, aumentando a distância entre o estado da arte e o estado atual de seu ensino e da prática.” Como foi dito, após 1969, a atividade mercadológica passou a ser de importância significativa para instituições que não lidam somente com produtos de consumo industrial, mas também com aquelas que não visam ao lucro, governamentais e orientadas para a área social e ecológica. Talvez se possa concluir que um fator preponderante ao desvio na compreensão das filosofias de marketing por parte dos administradores mercadológicos pesquisados seja o ensino inadequado das disciplinas ligadas à administração mercadológica na maioria das universidades pernambucanas. Esta deficiência pode ser decorrente de uma série de fatores relacionados com o não oferecimento ou aprofundamento de tópicos importantes nas disciplinas. Dialética Ensino/Prática De acordo com Santana (1991), uma concepção dialética exige que se coloque diante da realidade as suas multidimensões, nos seus aspectos visíveis e velados, nos específicos e nos gerais, nos confrontos e contradições, para de fato se fazer um exercício a fim de aprimorar a real percepção da mesma. Senão, a partir de um discurso dialético, pode-se aprender a realidade de forma estática e nas aparências desenvolver um processo que parta da prática social, mas não fique nas aparências, supere não só o nível de concepção, de conhecimento, mas do próprio processo de construção do conhecimento. Nos estudos de Tesser (1989) ele levanta a questão da teoria e da prática que não pode ser desvinculada da teoria do conhecimento. Definir a articulação de ambos, teoria e prática, significa precisar o papel mútuo no trabalho incessante do homem em desvendar e agir sobre a natureza, a sociedade e o pensamento. O reconhecimento da existência de uma realidade objetiva independente do seu conhecimento, de sua experiência, é portanto um primeiro passo da teoria do conhecimento, tal como a concebemos. Este primeiro ponto, como facilmente se pode compreender, tem conseqüência na articulação entre teoria e prática. Há teorias que dão conta da realidade, que permitem detectar a trama complexa do real, e há teorias que nada mais são que elucubrações apoiadas nas aparências da realidade, de onde seu caráter por vezes persuasivo, ou mesmo baseadas num empirismo sem o suficiente respaldo da análise crítica. A finalidade do conhecimento consiste em permitir a inserção lúdica do homem na transformação da natureza, da história, e em sua própria transformação. Bottomore (1988, p.122) acrescenta: “O conhecimento é algo sempre em construção; seu ponto de partida o viver, o experimentar, seu processo é o refletir sobre o vivido em todas as suas dimensões e articulações. O próprio conhecimento universal acumulado ao longo da história resulta da reflexão crítica e criativa sobre a natureza, a existência e a prática social humana. Há uma unidade dialética entre o experimentar e o conceitualizar, o agir e o conhecer.” 7 Não se pode pensar a relação ou articulação entre teoria e prática na formação universitária sem ter presentes as condições históricas em que esta articulação é buscada. A divisão social do trabalho e sua conseqüente divisão da sociedade em classes sociais determinaram, em grande parte, os limites da articulação possível na atual sociedade em que vivemos. Assim pode-se afirmar que a articulação teoria/prática, ao mesmo tempo que se dá de inúmeras formas dentro de um mesmo contexto social, dá-se também de forma diferente em sociedades diferentes. A segmentação do trabalho manual e do trabalho intelectual na sociedade capitalista, impõe limites a uma articulação mais criadora e rica entre o pensar e o agir, entre o conceber e o produzir, em que pese a fantástica capacidade da ciência de produzir transformações jamais antes imaginadas. Novamente Tesser (1989, p.47) reforça o assunto ao afirmar que a articulação entre a teoria e prática passa pela luta política, que é um desafio constante ao homem (universitário), apesar de todos os esforços para colocá-lo à margem das decisões que definem a distribuição do poder na sociedade. “O projeto fundamental da universidade constitui em uma formação para a ação científica e para a ação política, as quais não deixam de manifestar, sob um certo prisma, o prolongamento da divisão da teoria e da prática.” Em seu trabalho, Gati (1992) investiga a importância da formação do profissional na prática. Para ser profissional, o indivíduo precisa passar por um processo formal de aquisição de habilidades e de conhecimentos. Como a formação profissional não pode ser considerada um fenômeno isolado da realidade social, da mesma forma, a prática não significa apenas o desenvolvimento de uma determinada atividade ligada à compreensão. A prática supõe um conjunto complexo de atividades que transforma determinada realidade orientada por objetivos conscientemente, e conjuntamente definidos. Isso significa clareza quanto a um compromisso ideológico e quanto à opção por posições teórico-epistemiológicas que orientem a prática. O profissional deve ter, não só qualidades necessárias para dominar o conhecimento, mas também saber produzir o conhecimento: ação, reflexão crítica, curiosidade, questionamento exigente, inquietação e incerteza. Estreitando as Distâncias Entre o Conceito e a Aplicação Os estudos de apresentação das teoria não desvelam como se dá a articulação das teorias com a prática, em que se pese a sólida argumentação acerca da relação dialética entre teoria e prática. Nesse contexto, Oliveira (1989) argumenta que a prática acaba aparecendo ou como algo que deve ser desenvolvido de uma ou de outra forma, caso se queira rotulá-la dentro de uma ou de outra teoria. Ao contrário do que se preconiza, a teoria, então, passa a ser o seu guia normatizador. A relação entre teoria e prática não é fácil, fluída, natural; é como todo casamento, uma relação contraditória, que envolve, por conseguinte, conflito, luta, trabalho, disciplina, incerteza, risco, busca, suspense e descoberta. É verdade que nossas universidades ainda têm marcadamente, uma visão teórica. Num primeiro momento pode-se ver isto como uma necessidade de se libertar da opacidade do cotidiano e num segundo momento como uma articulação com a complexidade da realidade. Talvez este pareça ser o desafio para aquele punhado de profissionais que estão tendo acesso a uma visão mais global e mais crítica das estruturas sociais. 8 Considerar a questão da articulação da teoria e da prática como uma característica que decorre do esforço constante de renovação dos currículos acadêmicos conduz ao questionamento metodológico. Os conceitos de teoria e de prática aparecem como abstrações de realidades extremamente complexas, que pouco a pouco é necessário ir compondo no esforço inventivo de concretizar esta bipolaridade. A totalidade concreta, síntese de múltiplas determinações para o conhecimento, se encontra no final de um processo de análise, onde as contradições exercem um papel fundamental. Segundo Tesser (1989) a bipolaridade apresentada pelo conceito de teoria e prática coloca sempre na ação pedagógica de formar os dois elementos fundamentais da ação humana: o pensamento - a teoria, a experiência e a ação - a prática, sem os quais não se dá o ato educativo. Da mesma forma, para os conceitos abstratos acima evocados, os conceitos de teoria e prática não encontram uma única articulação. A sua unidade se dá num processo onde o esforço de descobri-la exige a atividade prático-crítica e transformadora do homem. A articulação teoria e prática permite como mediação ao profissional a necessidade do esforço constante de descoberta do real, evitando os chavões simplistas que pretende decalcar a realidade humana sobre teorias estereotipadas aparentemente abertas, mas que por sua impressão abrem as portas às aberrações mais fantasiosas, das quais a história do pensamento é farta. O autor (Tesser 1989, p. 45) reforça o pensamento dizendo: “ O vetor principal na unidade teoria/prática não deve ser buscado simplesmente na teoria crítica, mas na atividade prático-crítica.” Conclusão Conclui-se que a filosofia de marketing não é de toda bem percebida pelos administradores que atuam em Pernambuco. A incompreensão das filosofias de marketing pode estar ligada a um currículo carente de disciplinas voltadas a este fim. A administração mercadológica que vem sendo ensinada nas universidades, além de assíncrona com os segmentos potencializadores do Estado, estão em um estágio incipiente, outro ponto é a falta de uma maior articulação teoria/prática. Quando esses ajustes forem considerados pode-se esperar a elevação do nível de formação de profissionais com conhecimentos e habilidades compatíveis com a atual exigência do mercado. Apesar do processo já ter sido iniciado, os primeiros resultados ainda não foram percebidos. Bibliografia BAGOZZI, Richard P. Principles of Marketing Management. Science Research Associates, Chicago, 1986, Cap. 1. BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Marxista. Vahar, Rio de Janeiro, 1988. DRUCKER, Peter. Management: Tasks, Responsabilities, Practices. Harper & Row, New York, 1973, pp.64-65. 9 ENIS, Ben M. Princípios de Marketing. Atlas, São Paulo, 1983, Cap. 1. GATI, Hajnalka Halãsz. Formação do Professor e Prática Pedagógica: Um Estudo de Caso. Dissertação de Mestrado, ME/CE/UFPE, 1992. GUAGLIARDI, José Augusto. A Relação Ensino/Prática de Marketing na Cidade de São Paulo: Realidade e Perspectiva. Revista de Administração, Vol.18(2), abril/junho 1983, pp. 96-99. HOUSTON, Franklin S. The Marketing Concept: What it is and What it is not. Journal of Marketing, april 1986, pp.81-87. INIESTA, Pedro Nueno. A Gestão da Qualidade. Ediciones Orbis S.A., São Paulo, 1986. KINNEAR, Thomas C. & Kenneth L. BERNHARDT. Principles of Marketing. Scott, Foresman and Co., Illinois, 1983, pp. 13-18. KOTLER, Philip. Marketing Management: Analysis, Planning, Implementation, & Control . 9th Ed., Prentice-Hall, New Jersey, 1997, pp.30. LAZER, William & James D. CULLEY. Marketing Management: Foundations and Practices. Houghton Mifflin Co., Boston, 1983, pp.23-25. OLIVEIRA, Maria Rita. Teoria da Educação e a Prática Pedagógica. Educação e Sociedade, No.34, São Paulo, dezembro 1989, pp.108-121. PARK, C Whan & Gerald ZALTMAN. Marketing Managemnt. Dryden Press, New York, 1987, pp.5. SANTANA, Moises de Melo. Subsídios para uma Teoria da Prática Pedagógica das ONG's: Um Estudo de Caso. Dissertação de Mestrado, ME/CE/UFPE, 1991. STANTON, William & L. FUTRELL. Fundamentals of Marketing. 7th.Ed., McGraw-Hill, New York, 1988. TESSER, Ozir. Unidade Teoria e Prática. No.4., Revista Municipal, São Paulo, maio 1989, pp.45-54. 10