ADILVO ANDREAZZA ASPECTOS DE GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE ALTO IMPACTO NA ORIGEM DE TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO. Blumenau 2011 ADILVO ANDREAZZA ASPECTOS DE GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO DE ALTO IMPACTO NA ORIGEM DE TRANSTORNOS MENTAIS: UMA REVISÃO. Monografia apresentada no 26º Curso de Ergonomia aplicada ao Trabalho como pré-requisito parcial para obtenção do título de Consultor em Ergonomia pela Ergo Ltda. Orientador: Prof. Dr. Hudson de Araújo Couto _____________________________________ Prof. Dr. Hudson de Araújo Couto (Orientador) Ergo Ltda Blumenau 2011 RESUMO Palavras-chave: Dica: Objetivo e conciso, deve dar idéia do início, meio e fim do trabalho. É uma apresentação dos pontos relevantes do texto, fornecendo uma visão rápida e clara do conteúdo e das conclusões do trabalho. Através do RESUMO o leitor irá definir se o assunto interessa ou não para uma leitura completa do texto. Não é apenas uma enumeração de tópicos e sim uma seqüência de frases, não ultrapassando 500 palavras. Ideia geral do que é o trabalho a ser apresentado. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................ 08 2. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 10 3. OBJETIVOS ................................................................................................ 12 3.1. Objetivo Geral ..................................................................................... 12 3.2. Objetivos Específicos .......................................................................... 14 4. METODOLOGIA .......................................................................................... 13 5. RESULTADOS..............................................................................................14 6. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.............................................................. 14 7. CONCLUSÃO .............................................................................................. 32 8. RECOMENDAÇÕES.....................................................................................34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 33 ANEXO.. .......................................................................................................... 35 Dica: Essa seqüência pode ser mudada de acordo com a conveniência de seu trabalho. Nem todos os títulos precisam ter esses nomes citados acima, e se o autor achar necessário ou adequado, ele pode acrescentar mais outros itens a esse sumário. Sempre rever a numeração das páginas ao finalizar todo o trabalho, e não antes. 1 INTRODUÇÃO Dica: Pode ter quantas páginas o autor quiser e julgar necessário. Deve fornecer uma visão geral da pesquisa realizada, despertando o interesse do leitor em ler o texto. Incluir a formulação de hipóteses, delimitação do assunto tratado (objeto de estudo) e os objetivos da pesquisa. Deve abordar também a relevância do tema para o desenvolvimento técnico-científico e outros elementos necessários para situar o tema do trabalho. se for de uma empresa, por exemplo, pode-se falar sobre a empresa, ou sobre a atividade que é o fico desse trabalho, ou qualquer outro assunto relevante para explicar o que é o trabalho a ser apresentado. Transformações no mundo do trabalho têm merecido alusões recorrentes entre estudiosos e pesquisadores do assunto. Novas formas, e inovadoras, de organização do trabalho são implementadas, novas tecnologias são criadas, empregos desaparecem e outros novos surgem decorrentes do desenvolvimento técnico - cientifico próprio da atualidade Enquanto uns ficam sem emprego, sem trabalho, outros vivem na informalidade ou “ganham a vida” em subempregos, tantos outros sofrem pelo fato de terem de trabalhar excessivamente, seja por opção, seja por necessidade ou por obrigação organizacional, por exemplo, com horas extras. O trabalho, e não é de hoje, tem um importante lugar na sociedade. É através dele que a humanidade alcançou alto índice de desenvolvimento econômico e tecnológico, mas não necessariamente suficiente no quesito qualidade de vida e índices de desenvolvimento humano. O trabalho pode gerar “bem estar”, apesar das limitações conceituais e de significação do termo, mas também sofrimento, que pode se manifestar na condição de transtorno de saúde ou doença, ou não. Pesquisas de estudiosos da temática “saúde/sofrimento/transtorno/doença e trabalho” mostram, com mínima variabilidade, que as razões citadas pelos trabalhadores para que se mantenham em atividade são o relacionamento interpessoal que o trabalho proporciona, o sentimento de vinculação que traz, o sentimento de ter alguma “ocupação”, impedimento do tédio ou para ter um objetivo na vida, além de outras, denotam o lado positivo que o trabalho traz ao ser humano. Dita de outro modo, o trabalho representa um valor importante, exerce influencia importante sobre a motivação dos trabalhadores e sobre sua satisfação e produtividade, também o contrário incide, motivando estudos acerca da motivação desta perturbação da saúde. A satisfação no trabalho tem nas condições salário justo e aceitável, estabilidade, vantagens apropriadas, a segurança, a saúde, processos adequados e também variedade e desafios, aprendizagem continua, margem de manobra, autonomia, reconhecimento e apoio, um futuro desejável, contribuição social que faz sentido como elementos norteadores. A resposta dos por quês o trabalho pode adoecer motivaram a construção de teorias psicológicas, as mais diversas, mas que parecem estabelecer como pano de fundo a confluência de dois aspectos implicados no adoecimento (mental): a susceptibilidade individual e a organização do trabalho, esta como geradora de sofrimento. Mas não há unanimidade. O trabalhador necessita se auto-realizar, se desafiar e , ser desafiado, buscar respostas e solucionar problemas: isso o motiva e o faz se sentir-se parte integrante, uma peça integrante e necessária à corporação. Quantas empresas investem nesta necessidade, e não pensam na motivação como sendo um escoamento de dinheiro sem lastro? Chamam palestrantes, dão bônus, mas não vão ao ponto principal , a organização do trabalho. A organização do trabalho, ao atingir o indivíduo, modifica a sua maneira de enfrentar os riscos e traz efeitos sobre a saúde ainda não perfeitamente conhecidos ou dimensionados. É objetivo de o presente trabalho lançar luz sobre o tema organização do trabalho, adoecimento e adoecimento menta e propor instrumentos para detectar pontos de ruptura, no dizer de Couto. De posse dos resultados da investigação, a medicina do trabalho, a psicologia organizacional e a empresa poderão propor soluções de acordo com as demandas. Demandas estas que devem ser buscadas, não quando o problema se instala, mas quando indícios indiretos se apresentam como por exemplo o absenteísmo e o presenteísmo, além da produtividade individual e coletiva. As queixas de saúde são pouco apreendidas pelos serviços médicos das empresas, porque, muitas vezes, dizem respeito aos efeitos da corrida tecnológica e à falta de tempo para dar conta das metas e dos prazos. O motivo de tal falta de apreensão são o desconhecimento da forma de apresentação dos sintomas ou dos “sinais” apresentados individualmente, quando a busca da medicalização parece trazer alivio ao sofrimento (mental ou físico ou decorrente de somatização) de algo que pode estar no local de trabalho (área) na forma da organização, hierarquia, controle de metas , prazos, gerando sintomatologia de transtorno física e mentalmente, sem que critérios diagnósticos sejam preenchidos para a doenças suspeita. Como se trata estresse ocupacional? Como se trata depressão no trabalho? Com psicofármacos? Haverá melhora se os fatores desencadeadores ou agravadores persistirem no ambiente de trabalho? Não há como evitar o adoecimento de forma absoluta, mas há como reduzir. Monitorando o ambiente de trabalho, avaliando e reavaliando aspectos da organização do trabalho que podem ou potencialmente podem adoecer. Como dito por Couto e outros autores o trabalho tanto pode adoecer quando não, a organização do trabalho é mediadora da condução deste caminho. A proposta do trabalho é oferecer instrumentos, que se utilizados de forma adequada, poderão oferecer respostas e diagnóstico organizacional para tomada de decisão pelos atores envolvidos, além de oferecer subsídios para promover ações preventivas que reduzam o impacto (negativo) da organização do trabalho e de fatores psicossociais sobre os trabalhadores. Conforme aponta Dejours (1987), trabalho prazeroso é aquele em que cabe ao trabalhador uma parte importante da concepção. 2 REVISÃO DA LITERATURA Dica: Pode ter quantas páginas o autor quiser e julgar necessário. Nesse item devem ser concentradas pesquisas e citações de diversos autores com suas respectivas contribuições que serviram de base para o estudo em questão, demonstrando conhecimento da literatura básica sobre o assunto. Tudo que você tiver pesquisado sobre o assunto deve constar nesse item. A literatura citada deve ser apresentada preferencialmente em ordem cronológica, em blocos de assunto, mostrando a evolução do tema de maneira integrada. TODO documento analisado deve constar na listagem bibliográfica a ser referenciada conforme recomendações adiante (ao final do trabalho). 3 OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL Definir os principais aspectos de disfunção na organização do trabalho que podem resultar em transtorno mental 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Definir aspectos a serem acompanhados pela Medicina do Trabalho e pela Psicologia Organizacional por ocasião das revisões periódicas Sugerir instrumentos de pesquisa organizacional que possam ser utilizados para monitorar as práticas problemáticas das áreas ou locais de trabalho. Identificar fatores da organização do trabalho que etiologicamante podem estar implicados no adoecimento Dica: Aqui, em aproximadamente meia a uma página, deverá ser colocado de forma clara o que se pretende com esse trabalho. Um objetivo claramente formulado fornece uma base sólida para a seleção do método, procedimento que ajudará a alcançá-lo. Ao escrever o objetivo deve-se iniciar o mesmo usando verbo no modo infinitivo (ex: solucionar, identificar, etc.). Se houver mais de um objetivo, estes serão apresentados em alíneas – letras minúsculas seguidas de parênteses; só é permitido um objetivo por alínea. Muitas vezes para um objetivo muito amplo (geral), é necessário que seja dividido em objetivos mais específicos a fim de que aquele possa ser alcançado – aí se aplica a subdivisão objetivo geral e objetivos específicos. 4 METODOLOGIA Dica: Esse é o item MAIS IMPORTANTE de toda a monografia. É a descrição completa e clara dos procedimentos adotados para que se alcancem os objetivos. Deve-se ter muito cuidado com essa parte da monografia, pois a mesma deve preencher todos os requisitos de reprodutibilidade; isto é, qualquer outro autor, ao tentar reproduzir o experimento aqui colocado, deve poder ter acesso a todo o material. Assim, devem ser citados questionários utilizados (sob a forma de anexos), quando se medir alguma variável deve-se citar a técnica de medida, cuidados especiais na medida, etc. Se esta parte não estiver bem feita, todo o trabalho pode ser invalidado por alguém e a conclusão pode ser atribuída à mera especulação do autor. Tudo MUITO DETALHADO!!!! 5 RESULTADOS Dica: Todas as etapas que foram citadas no item Metodologia devem aparecer aqui, agora sob a forma de Resultados (em Metodologia você citou como fez, e agora em Resultados você cita o que conseguiu atingir com a pesquisa que você fez). Devem ser apresentados de forma detalhada, propiciando ao leitor percepção completa dos resultados obtidos. Devem incluir ilustrações como quadros, gráficos, tabelas, mapas e outros. Deve-se fazer a “leitura” (interpretação) dos mesmos e não a repetição dos números neles existentes. 6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Dica: É a comparação dos resultados alcançados pelo estudo com aqueles descritos na revisão da literatura. É necessário expor as possíveis aplicações teóricas ou práticas do estudo, bem como as contradições às teorias anteriores. A partir da discussão é que novos estudos poderão surgir tendo como ponto de partida as interrogações não respondidas, objetivos não alcançados ou até hipóteses refutadas. É o nexo entre o que foi feito e o que deve ser feito no futuro. Alguns trabalhos não terão esta parte, pois serão a análise de situações de trabalho inéditas na literatura sobre ergonomia. Neste caso, o autor fará uma seção de recomendações logo após a conclusão do trabalho, conforme será descrito adiante. 7 CONCLUSÃO Dica: Síntese final do trabalho, a conclusão constitui-se de uma resposta às hipótese ou aos objetivos enunciados na introdução. O autor manifestará seu ponto de vista sobre os resultados obtidos e sobre o alcance dos mesmos, apontando novos caminhos e abrindo novos horizontes. 8 RECOMENDAÇÕES Dica: Esta parte vale também para a composição de relatórios de análise ergonômica. O autor deverá recomendar melhorias a partir de cada uma das conclusões descritas na parte anterior da monografia. No caso de relatórios cabe também, quando possível, a orientação quanto às empresas que fornecem os produtos recomendados no mercado e que estão dentro das especificações exigidas pelo trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aqui devem aparecer todas as referências usadas no trabalho. Ver no arquivo “Elaboração da Monografia” como fazer esse item. ANEXOS Colocar em anexo a máscara de todas as ferramentas, questionários, análises, etc. que você usou. SUMÁRIO 19 1. A SAÚDE E O TRABALHO 4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: AS CONCEPÇÕES DE COUTO, MENDES E DA NR-17 6.1 TRANSTORNO DEPRESSIVO NO TRABALHO 61 (SETE) INSTRUMENTOS DE PESQUISA OCUPACIONAL 100 35 9. MODELO BÁSICO DE ABORDAGEM DA QUESTÃO DA SAÚDE MENTAL NO TRABALHO PROPOSTO POR COUTO (2007) 112 7.1. Evolução para o lado da saúde mental. 116 3. estresse 4. As características intrínsecas da tarefa 5. O quadro de valores. 6. O modelo de organização do trabalho 11. 114 ANEXOS 127 117 118 118 A SAÚDE E O TRABALHO A Organização Mundial da Saúde define saúde “como o completo estado de bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (WHO, 1998). A definição em epigrafe sofre crítica de Cardoso (2001), o qual afirma que o fator problemático presente na definição da OMS, como na definição de muitos autores e organizações, é o idealismo, contento palavras como ‘perfeito’, ‘pleno’, ‘completo’ que parecem denotar que, para se ‘ter saúde (mental)’, deveriam as pessoas ‘não ter problemas’, serem ‘normais’. Normalidade como bem-estar, continua o autor, mesmo definido pela OMS e aceito até os dias de hoje, é um conceito criticável, por ser vasto e impreciso, pois ‘bem-estar’ é algo difícil de definir objetivamente. É utópico conseguir-se este bem-estar e, portanto, poucas seriam as pessoas consideradas ‘saudáveis’ Para melhor entendimento, especialmente no que tange à saúde mental são “de grande relevância, no campo destas discussões os estudos desenvolvidos por Christophe Dejours (1980, 1986, 1997) para a questão específica dos processos psíquicos envolvidos na realidade do trabalho” (Cardoso, 2001) Dejours (1994) alega que bem estar, enquanto carga psíquica, não advém somente da ausência de seu funcionamento, mas, pelo contrário, de um livre funcionamento articulado com o conteúdo da tarefa. Ou seja, o prazer do trabalhador resulta da descarga de energia psíquica que a tarefa autoriza, corresponde a uma diminuição da carga psíquica do trabalho. O mesmo autor (1994) também coloca que o bem estar do individuo depende de um livre funcionamento e articulação no trabalho, ou seja, que o sujeito deve estar harmonizado com as atividades realizadas para conseguir o prazer que propicia a diminuição da carga psíquica despendidas nelas. Para Gomes (2009) a saúde encontra-se vinculada a condição social humana, ao direito ao trabalho, à moradia, à educação, à alimentação e ao lazer. É uma espécie de sistema orgânico, ou seja, quando existem harmonia e equilíbrio funcional os diversos sistemas e aparelhos não dão sinal de irregularidade. Segundo Rojas (1974), não é fácil definir o que é saúde e estabelecer limite onde começa a enfermidade. Isso porque saúde e enfermidade são duas circunstancias entre as quais o individuo flutua o tempo todo, duas situações estreitamente ligadas por conexões recíprocas. A saúde, assim, perpassa a interação entre as áreas físicas, mentais e sociais. Os aspectos psicossociais da saúde do trabalhador e a organização do trabalho, enquanto etiologicamente fator de saúde e adoecimento mental, terá ênfase no delineamento do presente trabalho. O TRABALHO E O ADOECIMENTO NO TRABALHO Desde as épocas mais remotas o homem realizou o manejo da natureza, tirando dela alimento e vestuário. Ele tem a capacidade de transformar a natureza para seu próprio bem-estar, sendo único ser vivo que consegue formular a idéia antes de sua concretização, não seguindo, portanto, uma programação da espécie. Com engenhosidade passou a construir ferramentas que servissem como extensão de seu corpo. Quando se apropria da natureza e a transforma, pela utilização de utensílios ou ferramentas, o homem está produzindo um trabalho (Katz, 1995). Dutra (1997) fala da “valorização do trabalho como condição humana; como formador do homem; como elemento de coesão entre os homens; como elemento mediador da relação entre homem e sociedade e entre homem e natureza; como atividade produtiva; como fonte de riqueza, abundância e progresso; como fonte de conhecimento do bem e do mal”. Esse mesmo trabalho, fonte de também sentimentos contraditórios, também pode significar opressão e escravidão, e torna-se necessário entender melhor quais são as forças que emergem dele ou para ele e que o afastaram de seu conteúdo inicial (Seligmann-Silva, 1990). No decorrer do tempo, com as mudanças nas relações trabalhistas, “percebese que o senso de dever e toda a carga valorativa atribuída ao trabalho se modificaram, ao mesmo tempo em que o trabalho foi perdendo seu conteúdo e se empobrecendo, tornando-se, na maioria das vezes, mecânico e rotineiro. Por conseguinte, a busca de satisfação foi sendo substituída pelo comércio da força de trabalho” (da Silva, 2000). A complexidade do processo de trabalho busca alternativas na busca de novas formas de articular seus elementos, especialmente a ação coletiva dos homens entre si, é denominada por SOUZA (citado por da Silva, 2000) de organização do processo de trabalho (grifo nosso). O produto (objeto) do trabalho agrega um valor relacionado à incorporação de energias e trabalhos. Todavia, a energia despendida pelo trabalhador não o adoece, se ele executa sua atividade com liberdade, autonomia e criatividade, no tempo que considera necessário para sua concretização. Não é atributo de o trabalho em si ser nocivo ou perigoso. O que pode torná-lo nocivo ou perigoso é a forma como se dispõe a organização do trabalho. No dizer de DEJOURS (1988) “mesmo as más condições de trabalho são, no conjunto, menos terríveis do que uma organização de trabalho rígida e imutável”. A palavra trabalho está longe de ter conceito unânime e, de acordo com Codo (1997), ela possui duplo significado em alguns idiomas – aparece como açãoesforço e também como moléstia-fadiga (sofrimento). O mesmo autor (Codo in Rev. Bras. Saúde ocup., 2009) ainda apresenta a dupla condição do trabalho: enquanto realizador de produtos capazes de atender às necessidades humanas e enquanto relação necessária à sobrevivência no modo de produção atual, no qual o trabalho tem de ser vinculado ao retorno salarial. O trabalho, conforme conceituado por Codo (2006), é considerado atividade humana por excelência, entendida como o modelo pelo qual transmitimos significado à natureza, à identidade, sendo o mesmo um dos elementos essenciais na construção da identidade. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os objetivos da “Saúde no Trabalho”, incluem em seu amplo espectro “... o prolongamento da expectativa de vida e minimização da incidência da incapacidade, de doença, de dor e do desconforto, até o melhoramento das habilidades em relação a sexo e idade, incluindo a preservação das capacidades de reserva e dos mecanismos de adaptação, a provisão de realização pessoal, fazendo com que pessoas sejam sujeitos criativos; o melhoramento da capacidade mental e física e da adaptabilidade a situações novas e mudanças das circunstâncias de trabalho e de vida...” (WHO, 1975). De acordo ainda com a mesma Entidade, a “... saúde pode ser lesada não apenas pela presença de fatores agressivos (fatores de risco), algumas vezes denominados ‘sobrecarga’, (...), mas também pela ausência ou deficiência de fatores ambientais, às vezes denominada ‘subcarga’, (...). Embora pouco seja conhecido sobre estas condições, a avaliação de saúde deveria considerar tanto a sobrecarga quanto a subcarga nas atividades de trabalho. Contudo deve ser admitido que até o momento pouco se conhece em relação aos efeitos das subcargas sobre a saúde...” (WHO, 1975) “É universal, desde os primórdios da História, o conhecimento sobre as formas de adoecer, de sofrer ou de morrer por causa do trabalho. Como experiência pessoal, sofrer ou adoecer são vivencias fortemente subjetivas, eventualmente perceptíveis aos sentidos dos outros” (Mendes, 2005). A patologia do trabalho, no dizer de Mendes (2005), emerge da própria etimologia, ou seja, é estudo (logos) do sofrimento, dano ou agravo (pathos) à saúde, causado, desencadeado, agravado pelo trabalho ou com ele relacionado (grifo nosso) O Sofrimento traz à tona a idéia dor física, angústia, aflição, amargura, infortúnio, desastre e agravo; Agravo dá idéia de prejuízo ou dano e Dano significa estrago, deteriorização, danificação. Com a significação destes três termos está construído o espectro do pathos, o espectro da patologia do trabalho (Mendes 2005). Outra forma de pathos, pouco conhecida ou valorizada pela medicina, até por seu forte matiz subjetivo é o “incômodo”. (grifo nosso) A patologia do trabalho (...) lida com relativa desenvoltura com os danos do ruído sobre a audição, ou com os efeitos fisiológicos do frio ou calor, bem como a imensa gama de danos provocados pelas substâncias químicas (...). Contudo, “no território subjetivo do “incômodo”, a medicina, defronta-se com grandes dificuldades” (Kjellberg, Smith, citados por Mendes ( 2005)). Zielhuis & Wibowo (citados por Mendes, 2005) colocam que “frequentemente se faz distinção entre efeitos ‘somáticos’ e ‘incômodo’, estes são então considerados subjetivos e altamente dependentes do comportamento e percepção humanos”. Zielhuis & Wibowo afirmam que a distinção entre “somático” e “incômodo” deveria ser rejeitada, pois: a) os trabalhadores não respondem como um sujeito dicotomizado, mas como pessoas unas e inteiras; b) o incômodo percebido pode ser identificado a avaliado tão objetivamente quanto sintomas e sinais somáticos – pelo menos em nível de grupo – através de questionários validados; (...); c) os incômodos percebidos diminuem a qualidade de vida, tanto para trabalhadores como para a população geral. Assim, o trabalho quando executado sob certas condições pode levar ao adoecimento, portanto ser nocivo ou perigoso, mas também apresenta aspectos positivos: “como essencialidade do ser humano o trabalho permitiu o desenvolvimento e a transformação da humanidade; até nas condições mais precárias, o trabalho pode cumprir com essa essencialidade” (Betancourt, in Mendes, 2005.) “O desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais e emotivas surge ao realizar uma atividade, ao dominar um meio de trabalho determinado, ao relacionar-se com seus companheiros, ao transformar o objeto em produto, ao oferecer um serviço”, complementa Betancourt. (citado por Mendes, 2005) De igual maneira Mendes, citando o mesmo autor, afirma que nas pessoas não existem somente manifestações que refletem problemas de saúde. Ao contrário, múltiplas qualidades, capacidades e valores do ser humano expressam-se no trabalho e na vida extra-laboral constituindo-se nas “manifestações positivas”. Assim, capacidade física para o trabalho, desenvolvimento muscular, níveis altos de rendimento cardiopulmonar, habilidades e destrezas, capacidade de realizar as atividades sem dificuldade são algumas das expressões positivas que se deve tomar em conta, para sua promoção. Para Couto (2007), o trabalho pode gerar tanto uma ótima saúde mental quanto um adoecimento mental, tendo criado um modelo para análise dos elementos que podem induzir ao estado de saúde ou doença. Esta visão aparentemente contraditória tem sentido quando se observa que a personalidade e as concepções de trabalho e de vida influem nesta direcionalidade. A discussão da assertiva e idéias de Couto (2007) será tema de aprofundamento no bojo do presente trabalho. O TRABALHO NOCIVO OU PERIGOSO. Restringindo-se, mesmo com limitações, ao aspecto do binômio saúde-doença mental, mesmo patente que o homem não é dicotômico, exceto quando o é assim tomado para fins de estudo, a sequência a seguir assim o fará para melhor entendimento da saúde física e da saúde mental. Em seu estudo sobre as “lesões por esforços repetitivos” (LER) ou ”distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho”, (DORT), Couto (2000) desenvolveu um modelo explicativo causal, o qual incorpora a interação dinâmica entre “fatores biomecânicos” e um grupo de quatro outras variáveis por ele identificadas como: “organismo tenso”, “predisposição individual”, “realidade social” e “eventos desencadeantes” (Mendes, in Mendes, 2005) implicados no adoecimento no trabalho. FALTA DESENHO DO MODELO EXPLICATIVO De forma análoga, Rocha e Ferreira (2000) também desenvolveram um modelo teórico de inter-relações entre o que denominam “fatores de risco” ocupacionais e os mecanismos etiopatogênicos e fisiopatológicos das formas mais freqüentes de manifestação clínica dor DORT/LER. Em seu modelo são listados “fatores macroconjunturais” (em nível de sociedade), “fatores macroestruturais” (em nível de empresa), “fatores microestruturais” (em nível de departamento) e “fatores individuais” (na forma de hábitos ligados ou não ao trabalho, psicoemocionais, antecedentes mórbidos, biológicos e de personalidade). Ainda, são descritos os mecanismos etiopatogênicos (carga muscular estática, dinâmica e carga mental) e mecanismos fisiopatológicos (que irão se desenvolver se ocorre o que denominaram de “superação da capacidade de adaptação”) Pergunta Mendes: “o que são estas “outras variáveis” do modelo de Couto (2000) ou estes tantos “outros fatores” do modelo de Rocha e Ferreira Jr (2000) – principalmente os “fatores individuais” - senão determinantes da maior ou menor vulnerabilidade dos trabalhadores aos assim chamados ”fatores biomecânicos”, que por muito tempo serviram para explicar a origem das LER/DORT?” Ele mesmo responde: na verdade, estas observações feitas a propósito do problema de LER/DORT estendem-se a todos os problemas de patologia do trabalho. Escapa aos objetivos do presente trabalho o aprofundamento das questões da vulnerabilidade enquanto conceito, tanto quanto do aprofundamento da discussão dos modelos em epigrafe citados, mas “as outras variáveis”, no dizer de Mendes, serão tratadas a posteriori quando da abordagem do transtorno ou doença mental no trabalho ou do “incômodo”, como já referido. Cabe reforçar, por fim, que o ser humano não pode ser tomado como parte, ele interage, sofre influências de toda a ordem e, portanto, pode manter sua condição de saúde ou adoecer física e mentalmente. A ênfase será a do adoecimento mental e a da discussão de instrumentos de pesquisa de screening para abordar e atuar preventivamente em saúde mental na Organização. O TRABALHO, A DOENÇA e A ORGANIZAÇAO DO TRABALHO Seligmann-Silva (in Mendes, 2005) afirma “o trabalho representa uma importante instância na patogenia, do desencadeamento e na evolução de distúrbios psíquicos” E continua “o estudo das situações de trabalho oferece importantes elementos ao entendimento da constituição dos agravos mentais relacionados ao trabalho”. Estas situações são descritas pela autora como sendo as condições concretas do ambiente de trabalho em que o trabalho é executado e a organização do trabalho. As condições físicas químicas e biológicas vinculadas à execução do trabalho – há muito reconhecidas na vertente orgânica da patogenia de numerosas doenças – também interferem nos processos mentais e, portanto, nas dinâmicas relacionadas à saúde mental. Estas ações podem ocorrer quer pela via neuropsíquica, quer pela psicossocial e, com frequência, conjuntamente pelas duas vias. E ainda coloca que ”os estudos em Saúde Mental no Trabalho tem encontrado na organização do trabalho a fonte preponderante dos agravos psíquicos relacionados com o trabalho” Mesmo óbvio o prejuízo individual, organizacional e social, documento da OIT (2000), em relação a doença mental preceitua que “os empregados sofrem desânimo, cansaço, ansiedade, estresse, perda de ingresso e inclusive o desemprego, com o agravante, em alguns casos, do inevitável estigma que está associado a doença mental. Para os empregadores, os custos se traduzem em termos de baixa produtividade, diminuição de benefícios, altas taxas de rotatividade e maiores custos de seleção e formação de pessoal substituto. Para os governos, os custos incluem gastos com atenção sanitária, pagos por seguros e perda de renda em nível nacional” (tradução livre). Dejours (1992) afirma que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão. O trabalho, de acordo com Abrahão, Torres & Costa (2004), é o “elemento fundamental da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou, para a manifestação de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é considerada como mediadora desse processo”. Quando o trabalho puder ser escolhido ou organizado de forma mais livre há minimização da vivência do conflito e ele se torna um espaço para descarga psíquica e alívio da tensão. No entanto, se o processo é cerceado há acúmulo de tensão, que pode ter repercussões sobre o corpo, e causar as chamadas reações somáticas (Dejours, Abdoucheli & Jayet, 1994). Dejours apud Jaques (2003) aponta que a repercussão do processo do trabalho sobre a saúde do trabalhador deriva tanto das condições de trabalho quanto da organização do trabalho. Os aspectos referentes às condições físicas, químicas e biológicas do ambiente de trabalho refletem no físico do trabalhador, os que dizem respeito à divisão técnica e social do trabalho, como hierarquia, controle, ritmo, estilo gerencial, repercutem sobre sua saúde psíquica causando-lhe sofrimento, doenças físicas e mentais. Pertinente se faz citar Mendes (2005) quando caracteriza “patogênese do trabalho” como o “estudo dos mecanismos de produção da doença, neste caso, das ‘doenças relacionadas com o trabalho’, ou seja, o estudo de como, de que modo o trabalho pode produzir doença ou sofrimento” Mendes (2005) coloca que “o estudo da patogênese do trabalho parte da patogênese geral, ou seja, do estudo dos mecanismos gerais de produção da doença. Uma vez adotado o conceito de “doença relacionada ao trabalho” e, por extensão, a classificação proposta por Richard Schilling, para caracterizar a natureza do nexo de causa e efeito entre doença e trabalho, percebe-se que a patogênese do trabalho poderia ser vista sob, pelo menos, três diferentes ângulos: 1. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “específica” do trabalho (Grupo I de Schilling), em que o trabalho é considerado causa necessária. Corresponde fundamentalmente à patogênese das “doenças profissionais”, senso estrito, mas cujos processos patológicos podem assemelhar-se muito a doenças tidas como comuns ou aparentemente “não-relacionadas com o trabalho”. São exemplos: a Intoxicação por chumbo, a silicose, a asbestose e doenças legalmente reconhecidas. 2. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “não específica” do trabalho (Grupo II de Schilling), em que o trabalho constitui um “fator de risco” contributivo ou aditivo, na etiologia multifatorial. Este grande grupo de “doenças relacionadas ao trabalho” são doenças aparentemente “comuns”, onde evidências epidemiológicas – mais do que clinicas – mostram ou um aumento da frequência, ou uma precocidade na incidência, ou um aumento na gravidade, ou a combinação de duas ou três destas características, em determinados grupos ocupacionais. Constituem exemplos: a doença coronariana, a hipertensão arterial, doenças do aparelho locomotor, câncer e varizes de membros inferiores. 3. Patogênese do trabalho como estudo dos mecanismos de produção da doença “não específica” do trabalho (Grupo III de Schilling), em que o trabalho pode desencadear ou agravar condições pré-existentes ou latentes. A compreensão dos mecanismos de produção, ou melhor, do desencadeamento e/ou agravamento da doença, tem uma importância duplamente relevante. De um lado, o estudo da patogênese do trabalho poderia ajudar a entender os mecanismos gerais de produção da doença (não relacionados ao trabalho); de outro, observações obtidas no estudo da patogênese geral poderiam, por analogia, ou por extensão, ser úteis para ampliar a compreensão da patogênese do trabalho e, por extensão prática, ser úteis à prevenção e ao manejo destas “doenças relacionadas com o trabalho”. São, portanto, interfaces, fronteiras ou territórios comuns que precisam ser mais bem conhecidas pela medicina do trabalho. Compõem exemplos: as doenças psíquicas, as dermatites de contato alérgicas, asma, bronquite crônica e as do sistema imune e endócrino. Entre os agravos específicos estão incluídas as doenças profissionais, para as quais se considera que o trabalho ou as condições em que ele é realizado constituem causa direta. A relação causal ou nexo causal é direto e imediato. A eliminação do agente causal, por medidas de controle ou substituição, pode assegurar a prevenção, ou seja, sua eliminação ou erradicação. Esse grupo de agravos, Schilling I, tem, também, uma conceituação legal no âmbito do SAT da Previdência Social e sua ocorrência deve ser notificada segundo regulamentação na esfera da Saúde, da Previdência Social e do Trabalho (Ministério da Saúde do Brasil, 2001) Os outros dois grupos, Schilling II e III, são formados por doenças consideradas de etiologia múltipla, ou causadas por múltiplos fatores de risco. Nessas doenças comuns, o trabalho poderia ser entendido como um fator de risco, ou seja, um atributo ou uma exposição que está associada com uma probabilidade aumentada de ocorrência de uma doença, não necessariamente um fator causal (Last, 1995). Portanto, a caracterização etiológica ou nexo causal será essencialmente de natureza epidemiológica, seja pela observação de um excesso de freqüência em determinados grupos ocupacionais ou profissões, seja pela ampliação quantitativa ou qualitativa do espectro de determinantes causais, que podem ser mais bem conhecidos a partir do estudo dos ambientes e das condições de trabalho. A eliminação desses fatores de risco reduz a incidência ou modifica o curso evolutivo da doença ou agravo à saúde (Ministério da Saúde do Brasil, 2001) E é no campo “do grupo III de Schilling” que o presente trabalho, sem pretender elucidar as interfaces, fronteiras ou território, segundo Mendes, desenvolve-se para apresentar instrumentos que auxiliem a Medicina do Trabalho e as Organizações a compreender que a detecção precoce de disfunções no trabalho e evitar ou minimizar o adoecimento “relacionado ao trabalho” De acordo, ainda, com Mendes (2005) a compreensão da patogênese do trabalho – estudo dos mecanismos de desenvolvimento da doença relacionada ao trabalho – tem como propósitos principais: a) Entender como se produz a doença para detectá-la o mais precocemente possível; (grifo nosso). b) Entender como se produz a doença para tratá-la corretamente, se assim for possível (grifo nosso) e c) Entender como se produz a doença para prevenir sua ocorrência. (grifo nosso) Assim, conforme Mendes (2005) combinam-se, portanto, os propósitos da “prevenção primária” e da “prevenção secundária”, como se faz ou se deveria fazer na boa medicina do trabalho. Ao tratar dos principais mecanismos “de agressão” na patogênese do trabalho, Mendes (2005) faz a pergunta: como o trabalho pode tornar-se nocivo ou perigoso? Ou, o que torna o trabalho uma “carga”, uma causa de sofrimento ou uma causa de “desgaste” ou uma causa de doença ou mesmo de morte? Responde a pergunta: a) Da observação de que a natureza ou qualidade do trabalho pode ser intrinsecamente nociva ou perigosa. Em outros termos, existem processos de trabalho que são, per se, nocivos ou perigosos como: a) Meios de trabalho inadequados, desconfortáveis, nocivos ou perigosos (tecnologias, máquinas, ferramentas, veículos, postos de trabalho); b) Objetos de trabalho intrinsecamente nocivos ou perigosos (matéria prima tóxica, periculosa, explosiva); c) Ambientes de trabalho desconfortáveis, incômodo, nocivos ou perigosos (ruído, calor e frio excessivos, confinados, pouco iluminados); d) Condições de trabalho: fatores sociotécnicos e organizacionais do processo de produção (organização e conteúdo do trabalho, duração e configuração do tempo, sistema de remuneração, ergonomia, modo de gestão da força de trabalho, estilo de gestão, sistemas e níveis de hierarquia, serviços sociais e assistenciais para o bem estar). b) Surge da observação de que o trabalho pode induzir ou obrigar a que os que o realizam, façam-no em condições que se tornam adversas, nocivas ou perigosas, não necessariamente por sua natureza ou qualidade, mas por sua quantidade. Se excessivamente elevada (como exposição concentrações elevadas de substancias químicas, níveis elevados de pressão sonora, cargas físicas excessivas) causa dano à saúde; se excessivamente baixa ou insuficiente, (monotonia no trabalho, trabalho em ambientes confinados, com muito pouca luz) da mesma forma é danosa à saúde. A “dose” ou “quantidade” no sentido estrito. No campo da explicação da patogênese causada por “condições de risco” de natureza química, física ou biológica há associação entre “exposição” (ou “dose”) e “resposta” (ou “efeito”) expressa nas curvas de “dose-efeito” ou “dose-dependente”, tem como exemplos a toxicologia ocupacional, o ruído e agentes teratogênicos com “limites de tolerância permitidos”ou “limites de tolerância”, nem sempre seguros. Conceito ampliado de dose. Inúmeros processos de trabalho, não necessariamente nocivos ou perigosos em si, podem tornar-se prejudiciais à saúde. A intensidade dos gestos de trabalho ou da utilização dos meios de trabalho ou a duração das jornadas diária, semanais, mensais, anuais, ou seja, “carga de trabalho”, seja físico, mental e psíquico. Estas atividades tornam-se prejudiciais quando tiverem de ser feitas em determinada intensidade (ritmo e velocidade), ou por tempo demasiadamente longo, levando à fatigabilidade. A fadiga, numa dimensão fisiológica e localizada é denominada fadiga muscular, mas de forma ampliada é o de fadiga psíquica, fadiga nervosa, fadiga crônica ou, simplesmente de fadiga geral, cujas causas podem ser a monotonia, a intensidade e duração do trabalho físico ou mental, o meio ambiente (ruído, luz), causas mentais (responsabilidades, aborrecimentos e conflitos) e doenças e dor nutrição. O burnout (Síndrome de Esgotamento Profissional) entra nesse campo, e será tratado adiante em detalhes neste trabalho. c) Surge da observação de que a nocividade do trabalho pode não ser dele próprio, ou das atividades que o conformam, mas determinada ou agravada pela duração ou pela configuração do “tempo de trabalho”, entendido “tempo de trabalho” nas mais distintas acepções. “Duração” no sentido de tempo acumulado e “configuração” no sentido de sua distribuição. São exemplos: a duração da jornada diária, semanal; trabalho precoce; licenças remuneradas; trabalho noturno e em turnos; horas extras; idade máxima de permanência na atividade; pausas para recuperação de fadiga. d) Como extensão para o ambiente domiciliar ou familiar, para a comunidade circunvizinha, para o meio ambiente. São exemplos: a “exposição ocupacional indireta”, como tem ocorrido com asbesto, chumbo, mercúrio, agrotóxicos, radiação atômica. e) Observada quando criada ou agravada pela imposição econômica ou tecnológica de exercê-lo em condições ambientais especiais, artificiais ou desfavoráveis à vida humana. São exemplos: o trabalho em ambientes hipo ou hiperbáricos, em altas e baixas temperaturas, em altas velocidades, em ambiente confinado e artificialmente aclimatado. Glina (2001) enfatiza que embora apresentem alta prevalência entre a população trabalhadora, os distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho freqüentemente deixam de ser reconhecidos como tais no momento da avaliação clínica. Contribuem para tal fato, entre outros motivos, as próprias características dos distúrbios psíquicos, regularmente mascarados por sintomas físicos, bem como a complexidade inerente à tarefa de definir-se claramente a associação entre tais distúrbios e o trabalho desenvolvido pelo paciente. Glina (2001) infere que os modelos de explicação das relações entre saúde mental e trabalho apresentam duas correntes principais, sobre as quais será delineada a discussão da saúde/transtorno/doença versus trabalho. São elas: a) A psicopatologia do trabalho – denominada psicodinâmica do trabalho a partir dos estudos efetuados por Dejours – e b) A que contempla os estudos que tratam da relação entre estresse e trabalho. Ao analisar a inter-relação entre saúde mental e trabalho, Dejours (1986) acentua o papel da organização do trabalho no que tange aos efeitos negativos ou positivos que aquela possa exercer sobre o funcionamento psíquico e à vida mental do trabalhador. Do ponto de vista da Ergonomia, a análise da organização do trabalho deve levar em conta a organização do trabalho prescrita (formalizada pela empresa) e a organização do trabalho real (o modo operatório dos trabalhadores). Segundo Dejours, o descompasso entre as duas favoreceria o aparecimento do sofrimento mental, uma vez que levaria o trabalhador à necessidade de transgredir para poder executar a tarefa. A segunda corrente de análise dedicada à inter-relação saúde mental e trabalho é a que privilegia a relação entre estresse e trabalho. No âmbito desta vertente, observa-se a preocupação com a determinação dos fatores potencialmente estressantes em uma situação de trabalho. A situação saudável de trabalho seria a que permitisse o desenvolvimento do indivíduo, alternando exigências e períodos de repouso com o controle do trabalhador sobre o processo de trabalho Dejours conceitua organização do trabalho como a divisão das tarefas e a divisão dos homens. A divisão das tarefas engloba o conteúdo das tarefas, o modo operatório e tudo que é prescrito pela organização do trabalho. A divisão dos homens compreende a forma pela qual as pessoas são divididas em uma empresa e as relações humanas que aí se estabelecem. Dejours et al. (1994) acentuam o fato de que a relação entre a organização do trabalho e o ser humano encontra-se em constante movimento. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: AS REFERÊNCIAS DE COUTO, MENDES E DA NR-17 AS REFERÊNCIAS DE MENDES De acordo com Mendes (MENDES, In Patologia do Trabalho, 2005), a Organização do Trabalho se concretiza a partir de decisões empresariais que são construídas e que decorrem de dois tipos de concepção ou representação mental: 1. A concepção dos dirigentes que entendem e interpretam a Organização (Empresa), isto é, a Entidade em seu todo, da qual faz parte a organização do trabalho. Ou seja, qual o modelo que pauta os modos de administrá-la? Diferentes imagens podem ser podem ser captadas ou entendidas como “máquina” (sistema fechado) ou como “organismo” (sistema aberto, em intercâmbio com o ambiente) ou como “sistema político” (de dominação) ou como “cultura” (capaz de criar a realidade social) ou ainda outras. “Estruturas e modos de administrá-las corresponderão a estas visões”, segundo Morgan (1996). 2. A concepção dominante na Organização a respeito do empregado, que certamente estará em correspondência àquela assumida pela Organização para si mesma. “Supõe-se um espécie de coerência: em uma máquina, há engrenagens e peças; em um organismo, unidades vivas (corpos estritamente biológicos); em uma cultura, valores (e desvalores – quando mutilam a integridade que corresponde à essência humana), que fundamentam concepções, sentimentos e ações” Os principais aspectos da Organização do Trabalho que interessam a Saúde Mental no Trabalho estarão, segundo Mendes, 2005, “sempre relacionados com o modelo de trabalhador concebido pela empresa, o qual por sua vez corresponde ao modelo pelo qual ela é concebida, o modo como ela é visualizada por seus dirigentes”. Dentre os aspectos do trabalho que se tornaram categorias de análise para o entendimento da Organização do Trabalho e Saúde Mental no Trabalho são a estruturação hierárquica, o controle, a divisão das atividades, a estrutura temporal do trabalho, as relações intergrupais e interpessoais. AS REFERÊNCIAS DE COUTO A definição de Organização do Trabalho, segundo Couto, “é todo o conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para que a prescrição de trabalho (planos e metas) ditada pela direção da organização seja cumprida”. Pergunta Couto: O que é organizar o trabalho? Didaticamente responde “é tudo aquilo que se faz para que, na hora da produção de determinado bem ou na realização de determinado serviço, todos os componentes estejam presentes na medida adequada”. Os componentes a que se refere o autor envolvem a matéria prima, o equipamento, a tecnologia, a logística de movimentação tanto de matéria prima quanto do produto acabado e o trabalho humano, quando o mesmo existe. No quesito de trabalho humano, ou melhor, na quantidade de trabalho humano, há que se estabelecer a prescrição e que pode ser tolerado e bem desenvolvido. Este é o desafio da ergonomia: conhecer o ser humano, suas habilidades, suas potencialidades e limitações no trabalho e, assim, estabelecer, na organização do trabalho ou dos postos de trabalho, limites compatíveis com tal capacidade, pois o ser humano tem seu ponto ótimo de atuação e, se sobrecarregado, responderá de forma a provocar desgaste físico e ou mental. Conhecer o ser humano, suas habilidades, suas potencialidades e limitações no trabalho e, assim, estabelecer, na organização do trabalho ou dos postos de trabalho, limites compatíveis com tal capacidade é o desafio básico da Ergonomia. Como qualquer máquina, o ser humano tem seu ponto ótimo de atuação e, se sobrecarregado, sentirá o impacto da mesma e poderá se desgastar, conclui. Pode-se depreender que transtornos de saúde não guardam separação clara entre o adoecimento físico e mental, podendo-se afirmar que o que passar a existir é uma exuberância de sintomas mais para o lado da saúde/doença orgânica ou da saúde/transtorno mental. De todo o modo, o adoecimento deve proporcionar adoção de providências eficazes, seja em nível administrativo através das áreas de Recursos Humanos, na atuação para correção das disfunções organizacionais e ou da área de Medicina do Trabalho, na atuação no re-equilíbrio da saúde e na melhoria das condições de trabalho que impeçam o desencadeamento de novos casos e/ou agravamento dos existentes, privilegiando a aspecto da prevenção. Instrumentos de pesquisa pessoal/organizacional selecionados para detecção de disfunções serão apresentados adiante, porém, não são os únicos disponíveis para tais estudos. Couto (2007), enfatiza que um “problema ergonômico pode ser agravado por fatores de organização do trabalho, quando infere que “qualquer que se seja o negócio ou atividade, organiza-se o trabalho com “1T” e “7M”, expressos pelos termos Tecnologia, Máquinas, Manutenção, Matéria prima, Material, Método, Meio ambiente e Mão de obra”. Uma falha em qualquer um dos pontos acima pode acarretar sobrecarga ao trabalhador, “resultando em um problema de natureza ergonômica que não existiria caso a organização do trabalho estivesse correta” (COUTO, 2007, p 208). Afirmou, ainda, que com enorme frequência as organizações adotam objetivos altamente desafiadores de forma pouco racional, sem considerar as condições para que eles sejam atingidos, também com consequente sobrecarga. Couto em 2006 apresentou à comunidade científica uma ferramenta quantitativa denominada Método TOR-TOM para “Avaliação Ergonômica e Organização do Trabalho”, a qual tem o propósito de estabelecer parâmetros para a prescrição de trabalho considerando-se a capacidade e os limites do trabalhador, ou seja, trabalho em estreita relação com produtividade, conforto e segurança. Nesse instrumento, além da abordagem da carga física, especialmente em atividades laborativas envolvendo os membros superiores em trabalhos de exigência ergonômica, o autor considera o Fator Carga Mental como parâmetro que deve ser avaliado e pontuado, atestando assim ser este fator um interveniente importante na Ergonomia, fator este presente “onde quer que processos de experiência e comportamento ocorram”. Credita o termo Mental na acepção de “cognitivo, informacional e aos processos emocionais da natureza humana”, conforme a Norma ISO 10075, 1991. Discorre que “a carga mental deve ser distinguida da carga cognitiva do Trabalho: nesta última, ocorre a abrangência somente de aspectos cognitivos e informacionais, enquanto a carga mental, além dos aspectos cognitivos, há também aspectos psíquicos envolvidos. A Carga Mental tratada no Manual de Avaliação Ergonômica e Organização do Trabalho, “Método TOR-TOM” (Couto e col, 2006) pode ser avaliada através de indicadores fisiológicos, questionários de auto-avaliação e atribuição de “tarefa sombra”. Couto (2007) apresenta um “Roteiro para Entrevista Semi-estruturada para avaliação dos Fatores de Organização do Trabalho” que podem indicar disfunções na organização do trabalho. Em sua tese de doutoramento (2000), no capitulo (6) “Formulação de um Modelo de Origem das LER/DORT nas Organizações”(Couto, 2000), ao abordar a fragilidade do modelo biomecânico versus modelo multicausal na explicação do fenômeno LER/DORT para as organizações textualmente diz “adianta pouco falar de fatores de organização do trabalho, se não se identificar quais são eles; adianta pouco usar a visão dialética de se questionar as técnicas gerenciais instituídas (...) se não se determinar em que pontos aconteceu a sobrecarga; da mesma forma, adianta pouco falar da existência de fatores psicossociais (...) se eles não forem identificados”. No Modelo Causal de Origem das LER/DORT nas Organizações de Couto (2000) coloca como ponto nevrálgico a questão da racionalidade prescritiva e da racionalidade operatória como fulcro na origem de transtornos no trabalho decorrentes de sobrecarga física, cognitiva, mental e tensional. A sobrecarga física ocorre quando a “intensidade do trabalho físico cobrada dos trabalhadores está acima do que é razoável suportar”. A Ergonomia tem conseguido definir os limites de atuação do ser humano, de modo a não desenvolver sobrecarga. A sobrecarga cognitiva ocorre quando “a carga de empenho intelectual que o individuo tem que usar na sua atividade está acima do considerado razoável”. A Ergonomia ainda não conseguiu determinar prescrições coletivas de limites pois há o interveniente denominado fator variabilidade individual, de difícil caracterização em termos de padronização. A sobrecarga mental ocorre quando “a intensidade ou a duração dos processos mentais, principalmente ligados à vigília e à atenção ultrapassam os limites normalmente conhecidos para o ser humano”. A sobrecarga tensional ocorre quando “a situação em que se exige da pessoa um nível de tensão excessivo”. No dizer de Couto “sua ocorrência é freqüentíssima nas organizações” citando como desencadeadores de tensão os prazos urgentes, muitos prazos, limites apertados de tempo, compromissos de entrega assumidos de forma apertada, critérios de produtividade forçados e velocidade dos processos produtivos; algumas vezes essa tensão é inerente ao processo do trabalho, (...) tal como ocorre com algumas profissões. Não é escopo de este trabalho tratar do aprofundamento dos complexos aspectos ligados ao adoecimento do trabalhador decorrente de sobrecarga, exceto o do adoecimento mental. Para melhor aprofundamento das questões sugere-se a leitura do capítulo seis (6) da Tese. Cabe como complemento, citar a indagação e a oportuna resposta abonada por Couto (2000): “na existência de sobrecarga (física, cognitiva, mental ou tensional) o trabalhador necessariamente irá ficar fragilizado ou adoecer? A resposta é não, desde que existam mecanismos de regulação eficazes. E completa: “assim, na presença de sobrecarga (...) e na inexistência ou ineficácia dos mecanismos de regulação, o individuo desenvolve alto nível de tensão por fatores do próprio trabalho, por fatores ligados à organização do trabalho, por fatores psicossociais no trabalho e finalmente, por fatores de contexto (relacionados ou não ao trabalho)”. Uma breve nomeação dos elementos intrínsecos a cada fator, conforme Couto, (2000) pode imprimir uma melhor compreensão da conceituação de: a) Tensão excessiva por fatores do próprio trabalho é representada pelo alto nível de cognição e trabalho de alta densidade. b) Tensão excessiva por fatores relacionados a disfunções na organização do trabalho é provocada por falta de pessoal, falta de material, encomenda extra, urgência e emergências, retrabalho, tempo padrão apertado, posição estrangulada, desrespeito aos limites ditados pela Engenharia e empirismo na velocidade da linha de produção. c) Tensão excessiva por fatores ligados à realidade psicossocial do ambiente de trabalho é decorrente de pressão desarrazoável de produção, sistema “espalha brasa”, relações humanas inadequadas, esquemas muito rígidos, chefia insegura ou incapaz, chefia não representativa dos interesses do pessoal da área, incoerências no trato de assuntos de pessoal, protecionismo e correlação inadequada entre capacidade-responsabilidade e salário. d) Fatores tensionadores relacionados ao contexto são derivados de desemprego estrutural, dificuldades pessoais em relação às exigências de subsistência e aspectos culturais de inadaptação. (PÁGINA 216 DE ERGONOMIA APLICADA AO TRABALHO) AS REFERÊNCIAS DA NORMA REGULAMANTADORA 17 (NR-17) A abordagem da Organização do Trabalho, segundo a NR-17, inclui a análise ergonômica, em cujo escopo deve ser considerada a adaptabilidade das condições de trabalho ás características psicofisiológicas dos trabalhadores. Como condições de trabalho são citados os aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à própria organização do trabalho (grifo nosso). Assim, a organização do trabalho deve levar em consideração, de acordo com a citada norma legal, no mínimo: a) AS NORMAS DE PRODUÇÃO São todas as normas, escritas ou não, explícitas ou implícitas, que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa. Aqui se incluem desde o horário de trabalho (se diurno ou noturno, a duração e a freqüência dos intervalos ou pausas), a descrição da qualidade desejada do produto, passando pela utilização do mobiliário e dos equipamentos disponíveis. As normas têm de ser coerentes e a falta delas pode ser ansiogênica porque o trabalhador que tem de criar os modos de atingir os objetivos da tarefa. b) O MODO OPERATÓRIO O modo operatório, ou melhor, os modos operatórios variam de acordo com as modificações da matéria-prima, do estado dos equipamentos e das próprias condições psicofisiológicas dos trabalhadores. Ele designa as atividades ou operações que devem ser executadas para se atingir o resultado final desejado, o objetivo da tarefa. Ele pode ser prescrito (ditado pela empresa) ou real (o modo particular adotado pelo trabalhador para fazer face à variabilidade acima mencionada). Uma análise ergonômica coloca em evidência os vários modos operatórios possíveis (prescritos e reais). Uma organização do trabalho mais flexível é aquela que permite que os trabalhadores desenvolvam os modos operatórios mais adequados seja ao seu estado interno ou às peculiaridades da matériaprima ou das ferramentas. Só assim é possível que os trabalhadores integrem a variabilidade e atinjam os objetivos da tarefa. Aumentar os graus de liberdade significa permitir que haja vários modos operatórios possíveis e que possam ser adotados em situações diferentes (inclusive aquelas resultantes de variações do estado corporal). Concluindo, nem sempre se pode tudo prever. Mesmo as normas de qualidade podem não ser claras, assim como os meios de atingi-las, fato que leva o trabalhador a um estado constante de incerteza. Este estado pode ser agravado quando as exigências de qualidade se superpõem àquelas de quantidade. c) A EXIGÊNCIA DE TEMPO Expressa o quanto deve ser produzido em um determinado tempo Toda atividade humana se desenvolve dentro de um quadro temporal: em um momento dado (horários), durante um certo tempo (duração da jornada), com uma certa rapidez, em uma certa freqüência e com uma certa regularidade (velocidade, cadência, ritmo) (Daniellou et al., 1989). A capacidade produtiva (rendimento) de um mesmo indivíduo pode variar ao longo do tempo (ao longo de um mesmo dia, semana, mês, ano e ao longo dos anos = variação intra-individual), assim como variar entre um indivíduo e outro (variação inter-individual). Objetivos podem ser fixados, mas é imprescindível que haja margens de liberdade para que o trabalhador possa gerenciar seu tempo. É a única maneira de evitar que entre em esgotamento (físico) ou estresse emocional. A determinação do conteúdo de tempo A determinação do conteúdo do tempo permite evidenciar o quanto de tempo se gasta para realizar uma subtarefa ou cada uma das atividades necessárias à tarefa. Em análises ergonômicas, ela permite também reestruturar tarefas ou redesenhar o arranjo físico. d) O RITMO DE TRABALHO Há que se fazer uma distinção entre o ritmo e a cadência: enquanto a primeira tem um aspecto quantitativo, refere-se à velocidade dos movimentos que se repetem em uma dada unidade de tempo, enquanto o ritmo adquire um aspecto qualitativo, ou seja, é a maneira como as cadências são ajustadas ou arranjadas. O ritmo, assim, pode ser livre (quando o indivíduo tem autonomia para determinar sua própria cadência) ou imposto (por uma máquina, pela esteira da linha de montagem e até por incentivos à produção) . A distinção entre ritmo e cadência é importante para se avaliar a carga de trabalho. e) O CONTEÚDO DAS TAREFAS. O conteúdo das tarefas designa o modo como o trabalhador percebe as condições de seu trabalho: estimulante, socialmente importante, monótono ou aquém de suas capacidades. Pode ser estimulante se envolve uma certa criatividade, se há uma variedade de atividades, se há questões a se resolver e se elas solicitam o interesse do trabalhador. Mas é importante lembrar que nem sempre uma variedade muito grande de tarefas é necessariamente estimulante. A maior ou menor riqueza do conteúdo das tarefas passa também pela avaliação do trabalhador e depende das suas aspirações na vida, bem como, das suas motivações para o trabalho. Para Abrahão e Torres, 2004, a Organização do Trabalho é compreendida como a divisão do trabalho, incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo operatório prescrito; e a divisão de homens, repartição de responsabilidades, hierarquia, comando, controle. (Abrahão e Torres, 2004) O ADOECIMENTO MENTAL E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO NA ÓPTICA DA PSICODIÂMICA DO TRABALHO O estudo da relação entre Trabalho e Saúde Mental não se caracteriza como novidade. Nos anos 50 tiveram início estudos de Lê Guillant (1954) e Sivadon (1952, 1957) sobre as afecções mentais que poderiam ser ocasionadas pelo trabalho. Na década de 80, Christophe Dejours, psiquiatra francês, introduziu uma nova teoria sobre a relação entre trabalho e o sofrimento psíquico. Estudos realizados para detectar doenças mentais em trabalhadores com pouca qualificação profissional, mas que não evidenciaram doenças mentais clássicas, mas fragilizações que favoreciam o surgimento de doenças físicas (do corpo). Além disso, estes estudos mostraram comportamentos estranhos, paradoxais (estratégias defensivas) e consumo de bebidas alcoólicas (Dejours, 1992). Um modelo teórico, chamado de "Psicodinâmica do Trabalho", foi criado para estudar as dinâmicas da relação do sujeito com a organização do trabalho que podem gerar fragilizações mentais. Este modelo recusa as análises baseadas na previsão de causas de doenças a partir de determinadas ocupações. Alguns autores (Codo, 2004; Jaques, 2003; Vasques-Menezes, 2004 citados por Vasconcelos, 2008) discordam das análises de Dejours quando este afirma que não se poderia fazer relação direta entre uma ocupação profissional e o surgimento de uma doença. Na perspectiva de Codo (2004) alguns eventos aumentam a probabilidade de ocorrerem manifestações psicopatológicas. Além das condições de trabalho, as pesquisas também mostraram que pressões eram decorrentes da organização do trabalho (divisão das tarefas, repetição, cadência, hierarquia, comando, controle). Para Dejours (1992), as condições de trabalho têm como alvo o corpo, enquanto que a organização do trabalho atinge o funcionamento psíquico. A organização do trabalho pode apresentar-se como fator de fragilização mental dos indivíduos, o que torna as organizações como parte responsável pela Saúde Mental de seus integrantes. O aumento do número de registro de doenças relacionadas ao trabalho a cada ano instiga os pesquisadores a investigar a relação entre o surgimento de doenças (físicas, mentais ou psicossomáticas) e a organização do trabalho e as modificações nas relações sociais de produção (...) (Faria, 2004). A globalização e a consequente abertura econômica influenciaram tanto as pessoas, a sociedade, quanto as organizações que precisaram transformar suas estruturas, suas atividades e seus processos para continuarem competitivas e se adaptarem à nova dinâmica do mercado mundial (Vasconcelos, 2008) Vasconcelos (2008) afirma que as práticas de Saúde Mental nas organizações coexistem com uma pressão por produtividade crescente, num ambiente extremamente competitivo, no qual o indivíduo deve estar sempre pronto para mudar e se adaptar às demandas do mercado. De acordo com o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde (Brasil, 2001), no Brasil coexistem múltiplas situações de trabalho caracterizadas por diferentes estágios de incorporação de tecnologia, diversas formas de organização e gestão, relações e formas de contrato de trabalho que se reflete sobre a saúde do trabalhador. O processo de reestruturação produtiva, a partir da década de 1990, com a adoção de novas tecnologias, métodos gerenciais e precarização das relações de trabalho (Faria, 2004), trouxeram conseqüências ainda pouco conhecidas sobre a Saúde Mental do trabalhador, expressas através de "novas" doenças como, por exemplo, o Burnout e a LER/DORT (Vasconcelos, 2008) De acordo com o mesmo manual (Brasil, 2001), os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho são resultado de contextos de trabalho em interação com o corpo e o aparato psíquico dos trabalhadores. Entre os contextos geradores de sofrimento estão: a) A falta de trabalho ou a ameaça de perda de emprego; b) O trabalho desprovido de significação, sem suporte social, não reconhecido; c) Situações de fracassos, acidente de trabalho ou mudança na posição hierárquica; d) Ambientes que impossibilitam a comunicação espontânea, manifestação de insatisfações e sugestões dos trabalhadores em relação à organização; e) Fatores relacionados ao tempo, o ritmo e o turno de trabalho; f) Jornadas longas de trabalho, ritmos intensos ou monótonos, submissão do trabalhador ao ritmo das máquinas; g) Pressão por produtividade; h) Níveis altos de concentração somada com o nível de pressão exercido pela organização do trabalho e i) A vivência de acidentes de trabalho traumáticos. A relação específica dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho (Brasil, 2001) conta, hoje, com 12 grupos de doenças mentais, dentre as quais se destacam o alcoolismo crônico, episódios depressivos, estados de estresse pós-traumáticos, neurastenia (síndrome da fadiga crônica), neurose profissional, transtornos do sono e sensação de estar acabado (síndrome de burnout e a síndrome do esgotamento profissional). Assim como o comportamento, a carreira, o desempenho, os erros e as glórias dependem exclusivamente do sujeito, também o são o sofrimento e as doenças mentais, tomadas como responsabilidade e culpa única deste mesmo sujeito. A lógica que permeia esse pensamento está baseada no que Sennet (2004) chamou de "carreiras abertas ao talento", em que o julgamento passou a ser relacionado unicamente às aptidões, às competências individuais e à motivação pessoal. Essa idéia exclui fatores extremamente importantes como o contexto econômico, social, o ambiente familiar, as diferenças cognitivas entre as pessoas e o "fator sorte" (a rigor não se trata de sorte, mas de oportunidades apresentadas). Assim como a competência e a formação de carreira passam a ser vistos pelo ambiente coorporativo como responsabilidade única do sujeito, o sofrimento e a doença também estão relacionados aos mais frágeis, marcando uma cisão entre os fortes e os fracos, os talentosos e não talentosos, os potenciais e não potenciais. Diante disso, o silêncio e a busca exclusiva por soluções rápidas (medicamentos) têm dominado o "mundo" coorporativo, especialmente favorecido pela evolução científica da farmacologia. Assim, o silêncio do sofrimento (Dejours, 2001) está relacionado com a lógica do individualismo, tanto em gestores quando em funcionários operacionais. Uma vez que a doença mental, como atesta Foucault (2000), está sempre acompanhada de valores e julgamentos de uma dada cultura, nas organizações a mesma está relacionada ao fracasso, a um indivíduo com o qual não se pode contar alguém frágil, "problemático". Assim, os sujeitos se calam, pois a exposição dessa identificação com o fracassado suscita angústia e temor de perder o lugar conquistado na organização. Outra solução para justificar o sofrimento e o adoecimento dos trabalhadores é torná-los uma manifestação unicamente química do organismo, isentando todos, o sujeito, a organização social e a sociedade de qualquer tipo de responsabilidade. Essas são as justificativas que mascaram e simplifica o malestar do homem, as dores, as falhas, as dificuldades do sujeito diante de organizações baseadas na qualidade total, na falha zero, na excelência. Tudo precisa ser limpo, organizado, resolvido. Nesse sentido, o sofrimento, a angústia, a doença mental são considerados "sujeiras a serem limpas", e não considerados como afetos e manifestações intrínsecos à condição humana que necessitam ser compreendidos e tratados em toda sua complexidade. Torna-se difícil o questionamento e a reflexão em uma sociedade que busca cobrir todas as faltas e falhas com soluções rápidas e instantâneas para todos os males através apenas do consumo de medicamentos, ou do uso de objetos, como se realmente se pudesse comprar a felicidade. O laço social, o vínculo duradouro e o aprofundamento do conhecimento das idéias, dos fenômenos, tornam-se "perda de tempo". Assim, como afirma Sennet (2004): As novas formas de trabalho requerem pessoas que consigam passar facilmente de uma tarefa para outra, de um emprego para outro, de um lugar para outro. (...). A capacidade de aprender coisas novas com rapidez passa a ser mais valorizada do que a capacidade de se aprofundar ainda mais em um problema de dados existentes. Os laudos ergonômicos são um exemplo claro dessa contradição. Esta atividade, cujo objetivo divulgado foi o de melhorar as condições de trabalho e a saúde ocupacional apresenta, por trás dessa primeira justificativa, o objetivo de ser um documento de defesa jurídica em caso de processo trabalhista. Além disso, com o laudo, as queixas posteriores e os atestados médicos relacionados a problemas de LER/DORT não apresentariam mais razão para existir, pois a organização apresentou todas as condições ergonômicas de trabalho. Entretanto, Dejours (1992) afirma que não é simples prever os efeitos de uma "melhoria objetiva" das condições de trabalho e, por esse motivo, torna-se importante a escuta da "vivência subjetiva coletiva" dos trabalhadores. Além disso, a avaliação ergonômica é limitada, pois consegue beneficiar apenas parcialmente os trabalhadores, sendo que o alívio da carga ainda permite a intensificação da produtividade. "A intervenção ergonômica não atinge a situação de trabalho em profundidade, pois, ela permanece aquém da organização do trabalho" (Dejours, 1992). Assim, enquanto a ergonomia não trouxer satisfação em termos de conteúdo significativo do trabalho, adequando o conteúdo ergonômico com a personalidade do sujeito trabalhador, o alívio será limitado. Há um esforço para que as contradições no discurso organizacional sejam ocultadas, como o são as falhas, os conflitos e os disfarces que acompanham as relações de poder e de controle (Faria, 2004c). Falta ++++++++++++++++++++++++++++ DISFUNÇÕES ORGANIZACIONAIS E FATORES PSICOSSOCIAIS NO ADOECIMENTO POR TRANSTORNOS OSTEOMUSCULARES. Em estudos realizados em Empresas com taxas altas de ocorrência de LER/DORT, Couto (2000), em sua Tese de Doutorado afirmou que “quando se começou a estudar com mais profundidade as lesões de membros superiores relacionadas ao trabalho, pôde evidenciar a existência de fatores contributivos, seja de natureza pessoal, seja de natureza social ou organizacional”. Nos denominados fatores pessoais o autor apresenta estudos onde fatores de natureza física, pessoal, social, e outros problemas de saúde geral, redução de força e baixo limiar de aptidão, além de condições de gênero, (e neste último, as mulheres com maior predisposição) são “fatores” que podem levar ao desenvolvimento de lesões osteomusculares. Na questão da personalidade e sua propensão para as lesões é enfático ao afirmar que “não há entre os estudiosos do assunto qualquer dúvida de que algumas características de personalidade influenciam positivamente no aparecimento de lesões (personalidade tensa, senso de ampla responsabilidade sobre tudo, insegurança) e que outros fatores, ao contrário, podem contribuir para tornar a pessoa mais calma e, assim, diminuir a propensão para as lesões” Como fatores de organização do trabalho, o autor cita como importantes a falta de variedade das tarefas, a ausência de pausas (tempo de recuperação de fadiga, seu termo correlato mais adequado e atual), e a velocidade do trabalho, são vistas como envolvidas na ocorrência de adoecimento. Destaca ainda o autor que há evidências de que fatores psicossociais estejam implicados no desencadeamento das lesões como a pressão no trabalho (“não há dúvida da relação entre este fator e a ocorrência de lesões”), destacando-se também o fator falta de autonomia. Considerações sumárias são encontradas abaixo acerca da temática, sob o prisma da organização do trabalho e fatores psicossociais nos casos estudados por Couto (2000). Maior aprofundamento pode ser obtido acerca da problemática relativa aos aspectos da “ergonomia física” nas páginas 113 a 265, em Couto (2000). CASO 1: DA FÁBRICA DE COMPONENTES PARA REFRIGERADORES. Couto (2000) realizou estudo em duas fábricas de um mesmo parque fabril, que produziam um mesmo componente para refrigeradores, a segunda construída para expansão da produção com vistas a para fazer frente ao aumento de demanda do produto no mercado mundial. Esta segunda (nova) fábrica apresentou alta incidência de LER/DORT. Há que se salientar houve preferência na contratação de pessoal de escolaridade mais elevada com a finalidade de integrar estes trabalhadores ao sistema de trabalho denominado “célula energizada”, onde cada trabalhador se responsabiliza por um aspecto do trabalho e o time se responsabiliza pelo todo. O perfil exigido dos trabalhadores incluía habilidade para manufatura multifuncional, funções de controle agregadas pelo operador, auto- gerencimento, senso de propriedade sobre a atividade e trabalho em equipe. Os novos trabalhadores passavam também por um treinamento prévio (teórico e prático) na fábrica antiga, por seis meses. Para o presente estudo o pesquisador se utilizou do check-list proposto por Couto (1996), de dados secundários, entrevistas com trabalhadores e questionários de Krausz e Cooper. Fatores de natureza biomecânica As análises biomecânicas realizadas nos postos de trabalho, nas duas fábricas, mostram-se incapazes de demonstrar os motivos da diferença na incidência de LER/DOR nas duas fábricas, tendo-se presente que 2/3 dos postos de trabalho, nas duas fábricas, foram consideradas de risco significativo, com base no check-list e que na “especificação do maquinário” da nova fábrica “espelhou-se exatamente no maquinário existente na mais antiga”. Concluiu Couto à época que “a incidência diferente na ocorrência de queixas de LER/DORT entre as duas áreas não deve ter sido devida a diferenças biomecânicas entre elas”. Fatores de Organização do Trabalho A produtividade na fábrica de baixa incidência de LER/DORT mostrou-se significativamente maior que na nova fábrica. Em particular, a baixa produtividade (na nova fábrica), associada ao processo de retrabalho, este em média três vezes maior que na fábrica antiga, pode “resultar em tensão e em excesso de horas extras”, segundo Couto, Couto as razões da realidade em relação à organização do trabalho, que de forma indiscutível teve implicação direta no adoecimento: a) População nova para o tipo de função; pouco treinada e de pouca experiência, com alta incidência de erros e retrabalho; b) Baixa produtividade, própria de trabalhadores pouco acostumados ao processo produtivo; c) Aumento da produção e recuperação da produção não efetivada anteriormente ocorreu à custa do aumento de horas extras; d) Presença de fator biomecânico desfavorável em mais de 2/3 dos postos de trabalho nas duas áreas estavam presentes, como fator sinérgico no desenvolvimento de LER/DORT. e) Ocorrência de “fator carga extra de trabalho” como papel prevalente na precipitação das queixas (de LER/DORT). Os dados secundários levaram a perceber que havia “dificuldades operacionais” na área de alta incidência de LER/DORT traduzidos por baixos índices de produtividade individual e alto índice de retrabalho em relação à área de baixa incidência. Uma população trabalhadora nova para o tipo de função, de pouca experiência e tendo que fazer a produção prevista, adveio alta taxa de erros e de retrabalho, que associadas à baixa produtividade e às tentativas de aumento e recuperação da produção à custa de horas extras, são fatores de natureza organizacional que tiveram papel importante na explicação da alta incidência de LER/DORT na nova fábrica. Com fator biomecânico desfavorável a carga extra de trabalho teve papel adicional preponderante na ocorrência de queixas, conclui Couto. Fatores de natureza Psicossocial No estudo dos fatores de natureza psicossocial, Couto inferiu que “apesar da satisfação prevalente nas áreas, um pouco menor, é verdade, na área de alta incidência de acometimento de LER/DORT, a insatisfação com o estilo da supervisão atingiu patamares superiores a 1/3 do total, juntamente com alto grau de tensão provocado pelo estabelecimento de metas de produção sem um estudo de Tempos e Métodos capaz de suportar tal aumento de ritmo implantado na área de incidência elevada”. Em relação ao papel dos fatores psicossociais na origem de alta incidência de LER/DORT, COUTO descreve: a) Trabalhadores de pouca experiência com área industrial e com alto nível de expectativa com trabalho em célula de grande autonomia; b) Nível de escolaridade alto para atividades que exigiam habilidade fina em trabalho repetitivo e manual, associado ao não esclarecimento quanto ao tipo de trabalho, gerando frustação. c) Preparo insuficiente com a autonomia e ter de cumprir produção, os trabalhadores tiveram baixa produtividade, muitos erros e retrabalho; d) Na falha da proposta inicial (células com autonomia e baixa produção) adotou-se a volta do sistema tradicional de supervisão direta da produção; e) Frustração dos trabalhadores causando ressentimentos quanto forma de tratamento dispensado no modelo gerencial tradicional. Comentários. É importante ter pessoas com grau de expectativa de vida e nível de escolaridade compatível com as reais exigências do trabalho, treinamento eficaz para trabalhar em sistemas baseados em autonomia de grupo para evitar experiências mal sucedidas de repercussões negativas sobre os trabalhadores e de retrocesso na proposta (inicial) de trabalho enriquecido. “Tenso, o organismo tornou-se mais propenso para as lesões, que eram favorecidas pelas condições ergonomicamente desfavoráveis da área de trabalho”, escreve Couto. Ademais, a relação entre frustrações e lesões (...) é conhecida da fisiopatologia das doenças psicossomáticas (Schindler, citado por Couto, 2000) e tais eventos podem ter desempenhado papel adicional no desencadeamento das queixas álgicas. CASO 2: DA FÁBRICA DE PRODUTO INTERMEDIÁRIO DE MANUFATURADO O caso se reporta a produção do componente em uma fábrica, posteriormente desativada, cuja produção foi transferida para outra, em cidade distinta. Na primeira a incidência de LER/DORT era baixa, e a segunda, apesar de o tipo de trabalho, as máquinas e postos de trabalho ser os mesmos da unidade e origem, a incidência mostrou-se alarmante. Na pesquisa foram utilizadas análises dos postos de trabalho, análise dos movimentos dos membros superiores, eletromiografia de superfície, entrevistas com trabalhadores e chefias e aplicação de questionários de Krausz e Cooper. Fatores de Organização do Trabalho Os problemas detectados por COUTO (2000) estão relacionados abaixo: a) Subestimação da complexidade do processo produtivo; b) A gerência da nova unidade carecia de experiência com esse tipo de produto; c) Intervalo de tempo escasso para adquirir conhecimento de como era feito o trabalho; d) Supervisor de área com alta qualificação técnica, mas sem experiência de chefia de pessoas; e) Pouco tempo de contato com a fábrica “antiga” com subestimação da complexidade do processo; f) O treinamento foi passado para profissional da cidade onde se instalou a “nova” fábrica, sem estabelecimento de critérios de seleção, sem testes de aptidão psicomotora e sem processo de treinamento tipo “assistido” Comentários. Algumas considerações acerca do treinamento se fazem necessárias neste momento. Couto cita uma fala do responsável pelo treinamento operacional, como exemplo do significado de “sutileza do treinamento”: “É interessante, quando você vai ensinar a alguém; senta-se junto do trabalhador, é diferente de uma pessoa que vem dar aula e vai embora; não é simplesmente pegar o método e passar; todas as dificuldades precisam ser acompanhadas; todo e qualquer erro que aconteça durante a produção tem que ser solucionado no começo; depois fica mais difícil corrigir; é necessário conhecer profundamente cada detalhe do método e corrigir se estiver fazendo errado”. De forma sintética o autor discorre sobre o papel dos fatores relacionados à organização do trabalho que se traduziram em altos índices de adoecimento: a) Transferiu-se a unidade de produção sem considerar adequadamente a necessidade de treinamento técnico do pessoal em tarefas de alta exigência psicomotora; b) Desenvolveu-se alto nível de tensão entre os operadores, potencializada pelas chefias por não possuírem respostas técnicas diante da rejeição do produto por falta de qualidade; c) Originou-se um alto nível de tensão (de fatores psicossociais) relacionado à cobrança de resultados. Fatores de natureza Psicossocial O encaminhamento administrativo na transferência da unidade fabril provocou problemas operacionais que fluíram para a alta exigência psíquica e tensão. Problemas operacionais geraram tensão de relacionamento e queda da motivação, conforme Couto, pelos seguintes fatores: a) O relacionamento entre as pessoas era visto de forma predominantemente apoiadora e aberta por menos da metade dos operadores da unidade de alta incidência de adoecimento; b) A comunicação descrita como satisfatória e boa foi indicada por menos de um terço dos operadores da unidade problemática; c) O estilo de liderança visto como consultivo e participativo era percebido por menos da metade dos operadores, sendo que as decisões eram percebidas como desordenadas e centralizadas; d) O clima na unidade de alta incidência de LER/DORT era percebido pelos operadores como caótico, sentindo-se insegurança, insatisfação e baixo grau de motivação (pouco mais de um terço o considerava “não existente” ou “baixo”) Comentários. “Os problemas de organização do trabalho e os consequentes maus resultados, no entanto, foram deteriorando o ambiente psicossocial” “É muito difícil manter o equilíbrio emocional inclusive para pensar quando se está premido pelos resultados e pela cobrança superior” A pressão forte e desordenada para obtenção de resultados, como consequência dos problemas de organização do trabalho, instalou um ciclo vicioso da pressão pelo resultado-tensão-incapacidade-mais pressão, reforçado ainda mais pelo sentimento de fracasso (muito rejeito, pouca produção), pelo tempo “estrangulado” em certas funções e pela sobrecarga causada por falta de gente (demissões, afastamento por doença). Conclusões: 1. Há necessidade de reflexão importante sob o ponto de vista da organização do trabalho, especialmente sobre a condição técnica e humana para a obtenção de resultados (exigência de trabalho (capacitação, treinamento, tempo), cronograma, prazos, padrão de qualidade) 2. O nível de tensão excessivo, originando sobrecarga, tem sido relacionado a ocorrência de queixas dolorosas e que prejudica os movimentos; 3. O ciclo “pressão pelo resultado-tensão-incapacidade-mais pressão” pode desencadear sintomas clássicos de estresse e fadiga, e também, e mais comumente, entre os operadores na alta incidência de queixas de dor em membros superiores, potencializada (a dor) pelo “fenômeno tensão no trabalho” e em decorrência de “estados de ansiedade”. CASO 3: DAS LOJAS DE HIPERMERCADO O estudo teve como objetivo avaliar “um número crescente de queixas de dores em membros superiores entre operadores de caixas, em geral diagnosticadas como tendinites e tenossinovites” em duas lojas de uma mesma rede, sendo uma de baixa e outra de alta incidência de LER/DORT. O aumento exponencial dos casos, além do comprometimento da saúde dos funcionários, trouxe problemas de gerenciamento administrativo devido aos afastamentos e aproveitamento dos trabalhadores adoecidos em atividades de menor sobrecarga, porém este recurso chegou a seu limite por não existir funções compatíveis com mais novas ocorrências. Para o estudo foram utilizados recursos como: reuniões, entrevistas semiestruturadas, pesquisa de dados secundários, questionários de Krausz e Cooper, análise biomecânica dos postos de trabalho e entrevista com os profissionais de medicina ocupacional. Fatores de natureza biomecânica Exigências físicas e psíquicas, além de exigências psicológicas próprias da função, estão presentes. Como exigências físicas podem ser nomeadas: fator repetitividade (que pode ser agravado por fatores biomecânicos), força excessiva (manuseio de produtos muito pesados), postura incorreta (precipitada pelo mobiliário), jornada de trabalho prolongada (nos turnos de fechamento da loja), multiplicidade de funções (pesagem e embalagem de produtos). Como exigências psicológicas inerentes citam-se: lidar com numerário (diferenças de caixa), lidar com produtos de pesagem no caixa (digitação de códigos), lidar com pessoas (clientes desarrazoáveis, conduta preconizada desautorizada pelo supervisor), lidar com problemas na passagem das compras (falha de sistema, produto fora das especificações). Couto ainda apresenta as exigências psicológicas, chamadas pelo autor de desnecessárias, como: critérios de produtividade apertados, número insuficiente de pessoal e tensão entre pessoal e chefias, por diversos motivos. Os postos de trabalho, nas duas lojas, eram de concepção uniforme, como reprodutividade de um padrão da própria rede. Assim, as exigências ergonômicas eram similares. Fatores de Organização do Trabalho Estes fatores foram estudados a partir de dados secundários e demonstraram: a) Ser a carga de trabalho fator importante na gênese de novos casos, uma vez que “aconteceu uma correlação linear entre o número de registros (de itens) por dia e o número de queixas” com coeficiente de correlação (r de Pearson) de 0,72 e grau de certeza de 99% (p<0,01) (ver item d, abaixo); b) A prática de horas extras. No caso em comento este fato não foi considerado determinante de sobrecarga. Segundo Couto (2000) “considera-se, empiricamente, que a execução de mais de 8 horas extras por mês é um indicativo de sobrecarga”; c) Que o horário de trabalho e a “revisão de horário” projetado “de cima para baixo” para adequar o pessoal de atendimento de “frente de loja” às necessidades da demanda, com redução de efetivo foi fator contributivo para a sobrecarga funcional (visando a eliminação de filas e não prevendo pausas para necessidades pessoais; d) Controle individual de produtividade baseado no número de ações por unidade de tempo, sem o devido tempo de recuperação de fadiga foi etiologicamente elemento criador de tensão, uma vez que este controle não era tomado como indicador, mas como um objetivo em si, além de ser usado como parâmetro para demissão. Fatores de natureza psicossocial As pessoas da loja de baixa incidência de transtornos osteomusculares tinham visão da realidade psicossocial muito melhor que as da loja de alta incidência, exceto nos aspectos canais de comunicação e tomada de decisão, conforme questionário de Krausz. Os demais aspectos correspondem a relação entre pessoas, padrões de relacionamento, relações entre grupos, comunicação, estilos de liderança, planejamento, solução de problemas, trabalho em equipe, clima de área de trabalho e motivação, que como citado eram vistos de forma mais negativa na loja onde havia alta incidência de LER/DORT. Quanto ao fator satisfação no trabalho (questionário de Cooper), em síntese, havia resposta de com 2 dos 22 itens pesquisados cada para a loja de baixa incidência e “muito satisfeitos” e “bastante insatisfeitos” com nenhum e 9 dos 22 itens do questionário de Cooper, respectivamente, para a loja de alta incidência de LER/DORT. Comentários. A loja de alta incidência de LER/DORT tinha mobiliário biomecanicamente pior que a da outra loja, como fator contributivo. Associado à redução de pessoal, pressão para vendas, qualidade de atendimento, faturamento, controle de produtividade e afastamentos pelo INSS aumentavam a sobrecarga funcional. Na de baixa incidência, mais nova e sem a redução de pessoal, como ocorrido na outra loja, boa parte da pressão era amortecida pela gerência, que discordava deste critério. Apesar da avaliação predominantemente de insatisfação com a avaliação de seus esforços, o grau de motivação, a cobrança, as oportunidades oferecidas para atingir aspirações, o volume de trabalho e de muita insatisfação com o salário, mostrava-se muito satisfeitos com oo relacionamento com outras pessoas e com a estrutura organizacional da loja. (grifo nosso). À GUISA DE CONCLUSÃO Mendes (2005) na análise do adoecimento por LER/DORT (ver discussão no bojo do trabalho) questiona “o que são estas “outras variáveis” do modelo de Couto (2000) (...) principalmente os “fatores individuais” - senão determinantes da maior ou menor vulnerabilidade dos trabalhadores aos assim chamados ”fatores biomecânicos”, que por muito tempo serviram para explicar a origem das LER/DORT?” E responde: ”na verdade, estas observações feitas a propósito do problema de LER/DORT estendem-se a todos os problemas de patologia do trabalho (grifo nosso). Procura-se demonstrar, com a apresentação dos estudos em epigrafe, que o adoecimento é multicausal, que envolve os aspectos físico e mental, de forma inter-relacional, dito de outra forma, o adoecimento osteomuscular, no caso, ou o mental, por extensão, têm facetas que se imbricam de forma consistente, seja pelos estudos acima aludidos ou pela revisão da literatura que mostra, de forma inequívoca, que o ambiente de trabalho, a organização do trabalho, em especial, os fatores psicossociais e os fatores de suscetibilidade individual associados ao trabalho podem ser desencadeadores de transtornos de saúde. Pode-se sugerir, sob risco de crítica, que a denominação e ou conceito de adoecimento físico, psíquico ou mental, de forma isolada deva ser desconsiderada do dicionário médico ocupacional, sob risco de não se considerar o ser humano como holístico, ao contrário da dicotomização cartesiana adotada para fins de estudo, lato sensu, pois no mundo do trabalho o fator causal ou etiológico pode ter como fundo as disfunções na organização do trabalho, problemas psicossociais, as condições e o ambiente de trabalho. Falta revisar daqui para baixo DESCRIÇÃO DE ALGUNS TRANSTORNOS MENTAIS. TRANSTORNO DEPRESSIVO NO TRABALHO O conceito leigo de depressão pode ser descrito como um conjunto de condições associadas à tristeza que afetam significativamente a vida das pessoas acometidas (Teng & Cezar, 2010). Dessa forma, abrange uma vasta gama de apresentações que devem ser avaliadas em seu contexto biopsicossocial (Patten et al., 2009), podendo variar como uma condição de tristeza leve e transitória associada a algum fator estressor, desde, por exemplo, uma pequena frustração profissional ou sentimental até os quadros gravemente incapacitantes e de alto risco de morbidade/mortalidade por suicídio. Apesar dos enormes avanços científicos que abrangem estudos genéticos, neurobiológicos, psicossociais, sociológicos, econômicos e terapêuticos, os transtornos depressivos ainda são um desafio para a Psiquiatria e a Medicina, gerando um grande ônus para a sociedade e para os indivíduos afetados (Teng & Cezar, 2010). Isso ocorre por perda de dias de trabalho e queda na produtividade (Kessler et al., 2003 Stewart et al., 2003), na piora da qualidade de vida (Murray e Lopez, 1997), além do grave sofrimento psíquico e físico que pode levar à má evolução de doenças clínicas concomitantes (Moussavi et al., 2007 Teng et al., 2005) e até a morte por suicídio (Teng et al., 2005). Todas essas consequências têm suas dimensões ampliadas pela alta prevalência da depressão, que acomete em média 16% da população em alguma fase da vida (Waraich et al., 2004). É unanimidade que a depressão é um dos maiores problemas de saúde pública no mundo. No Brasil, a depressão está associada a mais dias perdidos de trabalho (Simon et al., 2002), pior funcionamento no trabalho (Fleck et al., 2002) e é a maior causa de afastamento do trabalho. Os critérios diagnósticos mais comumente empregados são os descritos no Código Internacional de Doenças (CID-10) (OMS, 2003), definido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o sistema diagnóstico do DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV-TR, 2003). Estes sistemas definem dois níveis de diagnósticos: 1. Episódios: Episódio depressivo Episódio hipomaniaco Episódio maníaco e Episódio de estado misto. 2. Transtornos: Transtorno depressivo recorrente Transtorno afetivo bipolar Ciclotimia e Distimia. A Organização Mundial da Saúde já sinalizava em 1996 que a depressão seria a principal causa de perda de trabalho no mundo, projetando que, antes do ano de 2020, ela aparecerá como a principal causa da incapacitação de trabalhadores para o trabalho (Harnois, 1996). Os trabalhadores, de modo geral, são submetidos a uma série de fatores de risco ocupacionais. Rocha (2003 apud Mendes; Cruz, 2004) destaca que frustrações e experiências angustiantes vividas no trabalho podem desencadear, dentre outros, sintomas depressivos. Seligmann-Silva (1995) descreve que as síndromes depressivas podem ter sua patogenia, desencadeamento e evolução nitidamente associados às vivências do trabalho, podendo a depressão manifestar-se em quadros agudos ou crônicos típicos (tristeza, vivências de perda ou fracasso e falta de esperança). No entanto, os quadros depressivos associados ao trabalho muitas vezes não são típicos; revelam-se de forma mais sutil, apresentando como principal manifestação o desânimo diante da vida e do futuro. Com base no referencial teórico da Psicodinâmica do Trabalho de Dejours (1992), aponta-se que quadros de depressão ocupacional tendem a estar associados com a percepção do trabalhador de que ele não tem o reconhecimento de pessoas ou grupos que integram suas relações sócioprofissionais, fenômeno que gera ambiguidade psicológica, pois o trabalho não se mostra mais como possibilidade de realizar seus desejos e de ser referendado por colegas e superiores. Oportuno citar Evans (1996), quando afirma que “uma tendência social muito marcante é a busca da autonomia. As pessoas querem se sentir independentes, autônomas; querem ter o controle de suas vidas, distanciandose do poder impessoal, que representa autoridade”. O Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001) aponta “fatores de risco de natureza ocupacional conhecida” para a depressão. Entre eles aparecem decepções sucessivas em situações de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo de anos de trabalho, perda do posto de trabalho e demissão. Entretanto, alguns episódios depressivos estão associados à exposição ocupacional a certas substâncias químicas, como os solventes orgânicos neurotóxicos. A depressão ocupacional atesta a ineficácia das possíveis mediações utilizadas pelo trabalhador para se conservar saudável e afugentar o adoecimento no trabalho. Isso se dá por tais mediações dependerem mais das condições objetivas de trabalho do que de características individuais do perfil psicológico de cada trabalhador. Essas condições, portanto, impossibilita, muitas vezes, a subjetivação dos indivíduos e do coletivo, a realização profissional, o desenvolvimento da identidade, podendo gerar frustração e a presença da depressão ocupacional (Mendes; Cruz, 2004). Como proposto por Seligmann-Silva (1995) e ratificado por Rocha e Glima (2000), os quadros depressivos associados ao trabalho apresentam-se de formas mais sutis, com sintomatologia branda dificilmente diagnosticada e tantas vezes mascarada por alcoolismo, acidentes de trabalho e crises somáticas. A expressão depressão essencial foi proposta por Marty (1996/1993, citado por Rocha, 2007) e utilizada por Dejours (1984). Seu principal elemento denunciador refere-se a um embotamento afetivo. Há o desenvolvimento de uma anestesia psíquica, desaparecimento do prazer em todas as instâncias e robotização dos comportamentos, “não existindo sintomas de ansiedade, tristeza e vivências de perda” (Rocha e Glima, 2000, Seligmann-Silva, In Mendes, R., 1995) A DORT (...) por se tratar de doença profissional, demanda o entendimento do contexto de trabalho ao qual estavam submetidos os trabalhadores. “Neste sentido, a psicodinâmica do trabalho é pertinente ao considerar o caráter ocupacional da moléstia que causa sofrimento peculiar relacionado ao trabalho e à possibilidade de perda precoce da capacidade laborativa” (Rocha, 2007) Segundo Dejours (1984), do longo contato do trabalhador com uma atividade repetitiva, monótona e taylorizada tem-se como resultado a depressão essencial. Esta sintomatologia depressiva define-se pela falta: apagamento, em toda a escala, da dinâmica mental (deslocamentos, condensações, introjeções, projeções, identificações, vida fantasmática e onírica). (...) o fenômeno é comparável ao da morte, onde a energia vital se perde sem compensação. A depressão essencial decorreria de acontecimentos traumáticos; sua duração variável, de horas a meses, colocaria o sujeito em posição particularmente vulnerável ao adoecimento. (Casetto, 2006) CASETTO, Sidnei José. Sobre a importância de adoecer: uma visão em perspectiva da psicossomática psicanalítica no século XX. Psyche (Sao Paulo) [online]. 2006, vol.10, n.17, pp. 121-142. ISSN 1415-1138 Os quadros depressivos relacionados ao trabalho podem ter dois formatos: configuram-se como síndromes de insensibilidade, caso em que remetem à depressão essencial, ou como síndromes depressivas que se manifestam em quadros agudos ou típicos (Rocha e Glina, 2000, Segigmann-Silva, In Mendes, 1995) Enquanto doença ocupacional, a delimitação do quadro depressivo ainda pode subdividir-se em situacional e estrutural (Mendes; Cruz, 2004). Por meio da investigação científica caso a caso, pode-se distinguir os subtipos, condicionando o diagnóstico ao fato do trabalho ter atuado como colaborador ou desencadeador do quadro depressivo. No primeiro, a atividade laboral “meramente” contribuiria com a formulação patológica. Já no segundo, o próprio trabalho “desata o nó” para a manifestação dos sintomas depressivos no trabalhador. O “controle” detido pelo trabalhador acerca de seu estado emocional é o principal diferencial para que se faça a distinção diagnóstica entre um estado mais grave ou mais leve de depressão. No âmbito do trabalho, a depressão situacional tem por característica marcante a transitoriedade dos sintomas, bem como a aptidão que o trabalhador desenvolve para confrontar e eventualmente superar o estado depressivo, sendo considerada, portanto, leve. Na contramão dessa possível superação, o quadro grave, típico da depressão estrutural, está atrelado à perda de controle sobre si, vivenciada pelo trabalhador (Mendes; Cruz, 2004) O quadro se intensifica devido a sérios comprometimentos na integridade física, psíquica e social do sujeito gravemente deprimido (Mendes; Cruz, 2004). O empregado acometido por depressão poderá apresentar, segundo Timms (2006), elevada taxa de erros nas tarefas, dificuldade de concentração, incapacidade de delegar tarefas, lentidão, execução das atividades com intenso sofrimento psíquico, atrasos em compromissos, entre outros. O tratamento e outras condutas para a depressão, de acordo com o Manual de Procedimentos para os Serviços de Saúde do Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (BRASIL, 2001), dependem da gravidade e da especificidade de cada caso, podendo envolver psicoterapia, tratamento farmacológico, dependendo da gravidade do caso, e intervenções psicossociais. Como prevenção, propõe a vigilância dos ambientes, das condições de trabalho e dos efeitos ou danos à saúde do trabalhador. Para tal, requer ação integrada e articulada entre os setores de trabalho, com suporte de equipe multiprofissional e interdisciplinar. Essas equipes devem estar capacitadas para o trato e o suporte ao sofrimento psíquico, aos aspectos sociais e para intervenção no ambiente de trabalho. Por certo há necessidade de ajuda de outrem para que o indivíduo enfrente o quadro depressivo em seu estado mais grave. Nessas ocasiões, é preciso que profissionais especializados estejam preparados para realizar a devida leitura psíquica do indivíduo que sofre desse mal, atentando para possíveis sinalizadores típicos de outros transtornos, tais como manifestações de pânico e fobias resistentes a mudanças no contexto de trabalho – e que por isso demandam intervenções específicas para sua remoção. Com efeito, transtornos depressivos graves demandam intervenção especializada, mas torna-se imprescindível buscar elementos da organização do trabalho, disfuncionalidades mais especificamente, seja através de relatos de história clínica, anamnese, ou instrumento de pesquisa organizacional que possa, ou não, evidenciar ambiente de trabalho favorável ao adoecimento mental. O SRQ-20 desenhado como instrumento de rastreamento para transtornos mentais menores, como depressão e ansiedade. O instrumento pode ser autoaplicada possibilitando a identificação de casos de DP e/ou TMC, com posterior encaminhamento para o médico do trabalho ou especialista, que determinará o tratamento adequado, de acordo com a intensidade dos sintomas. Outros instrumentos de aplicabilidade individual, por médico não psiquiatra estão listados abaixo. Trata-se do “teste das 2 questões” e “escala de Goldemberg” 1. Anderson (2000) apresentou, baseado em outros autores, perguntas para rastreamento de depressão, conforme citado por Fleck et al, 2003): Teste de 2 questões, conforme Whooley (1997) Resposta Sim para as duas (2) questões apresentam sensibilidade de 96% e especificidade de 57% Durante o último mês você se sentiu incomodado por estar para baixo, deprimido ou sem esperança? Durante o último mês você se sentiu incomodado por ter pouco interesse ou prazer para fazer as coisas? 2. Escala de Goldberg para detecção de depressão (Goldberg, 1988) Resposta Sim para 3 ou mais perguntas equivale a uma sensibilidade de 85% e especificidade de 90%. Você vem tendo pouca energia? Você vem tendo perda de interesses? Você vem tendo perda de confiança em você mesmo? Você tem sentido sem esperança? (Se Sim para qualquer uma, continue…) Você vem tendo dificuldade para concentrar-se? Você vem tendo perda de peso (devido a pouco apetite)? Você tem acordado cedo? Você vem se sentindo mais devagar? Você tende a se sentir pior de manhã? SÍNDROME DE BURNOUT OU ESTAFA PROFISSIONAL O burnout pode ser considerado um grande problema no mundo profissional da atualidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (WHO, 1998). Foi Freudenberger (1974) que criou a expressão staff burnout para descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores da saúde mental. O burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões que envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos (Golembiewski, 1999; Maslach, 1998; Murofuse et al., 2005 apud Trigo et al., 2007). Vários estudos têm demonstrado que o Burnout incide principalmente sobre os profissionais de ajuda, que prestam assistência ou são responsáveis pelo desenvolvimento ou cuidado de outros (Benevides-Pereira, 2002). Os estressores ocupacionais, tratados em pormenores adiante, quando persistentes, podem levar à Síndrome de Burnout, que é considerada por França e Rodrigues (1997) como uma resposta emocional a situações de estresse crônico em função de relações intensas em situações de trabalho com outras pessoas. Segundo Carlotto e Gobbi (1999), a definição de Burnout mais utilizada e aceita na comunidade científica é a fundamentada na perspectiva social-psicológica. Nesta, ela entendida como um processo constituído por três dimensões: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Baixa Realização Profissional (RP) (Maslach & Jackson, 1981). A Exaustão Emocional é caracterizada pela falta ou carência de energia, entusiasmo e por sentimento de esgotamento de recursos. Os trabalhadores acreditam que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas como faziam antes. A Despersonalização faz com que o profissional passe a tratar os clientes, colegas e a organização como objetos, de maneira que pode desenvolver insensibilidade emocional. A baixa Realização Profissional revela-se por uma tendência do trabalhador em se auto-avaliar de forma negativa. As pessoas sentem-se infelizes com elas próprias e insatisfeitas com seu desenvolvimento profissional (Rosa e Carlotto, 2005) No Brasil o Decreto 3.048/99, em seu Anexo II, com redação dada pelo Decreto 6957/09, trata dos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da CID 10) cita a "Sensação de Estar Acabado" ("Síndrome de Burnout", "Síndrome do Esgotamento Profissional") como sinônimos do burnout, que, com código CID10 Z73.0 – Esgotamento, tendo sido citados como agentes etiológicos ou fatores de risco de natureza ocupacional: 1. Ritmo de trabalho penoso (Z56.3) e 2. Outras dificuldades físicas e mentais relacionadas com o trabalho (Z56.6). Vieira em ensaio publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (2010) apresenta definição de burnout, em revisão de literatura, abaixo: “Em geral, ele é definido como uma reação negativa ao estresse crônico no trabalho (Shirom, 2003; Honkonen et al., 2006; Ahola et al., 2006a). Manifestase basicamente por sintomas de fadiga persistente, falta de energia, adoção de condutas de distanciamento afetivo, insensibilidade, indiferença ou irritabilidade relacionadas ao trabalho de uma forma ampla, além de sentimentos de ineficiência e baixa realização pessoal”. Continua Vieira (2010): “Trata-se de uma condição crônica (Shirom, 2003), determinada principalmente por fatores da organização do trabalho, tais como sobrecarga, falta de autonomia e de suporte social para a realização das tarefas (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001; Schaufeli; Enzmann, 1998). A chamada reestruturação produtiva e as demissões em massa também são apontadas como fatores de risco (Kalimo, 2000). Traços de personalidade teriam menor peso para o desencadeamento do quadro (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001). O burnout está ainda associado a consequências negativas, dentre as quais: No nível socioeconômico: Absenteísmo, queda de produtividade (Parker; Kulik, 1995) e aposentadoria precoce (Weber; Weltle; Lederer, 2005); Para a saúde física: Aumento do risco cardiovascular (Honkonen et al., 2006; Melamed et al., 2006a), alterações fisiológicas e metabólicas como desregulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenais (Grossi et al., 2005), diabetes tipo 2 (Melamed et al., 2006a), elevação de lipídios séricos (Shirom et al., 1997) e alterações do sistema imune (Lehrman et al., 1999), além de distúrbios musculoesqueléticos (Honkonen et al., 2006); Para a saúde mental: Associação com ansiedade e, em especial, depressão (Maslach; Schaufeli; Leiter, 2001; Ahola et al., 2005), além de abuso de álcool (Ahola et al., 2006b). Tal conjunto de informações provém majoritariamente de estudos transversais. Destacam-se os estudos de prevalência em amostras de trabalhadores das mais diversas categorias profissionais. Esta prevalência varia em função da população estudada e da metodologia utilizada, oscilando entre aproximadamente 10% a taxas superiores a 30% (Weber; Jaekel-Reinhard, 2000). Em estudos com amostras representativas da população geral ativa, a taxa de burnout variou entre 5% e 7% (Kalimo, 2000; Hallsten, 2005). A maior parte dos trabalhos publicados utiliza a definição de burnout proposta por Maslach (...)”, Fatores de risco Para a enumeração dos fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, são levadas em consideração quatro dimensões: a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade (World Health Organization, 1998). As dimensões, conforme a WHO/OMS (1998), e seus fatores de risco para desenvolvimento do burnout e suas consequências apresentam-se listados ipsis litteris de Trigo et al., 2007 nas tabelas das “dimensões”, de 1 a 5. Dimensão Organização (índices superiores de burnout) Tabela 1. Fatores organizacionais associados a índices superiores da síndrome de burnout e suas possíveis conseqüências. Fator Burocracia (excesso de normas) Falta de autonomia (impossibilidade de tomar decisões sem ter de consultar ou obter autorização de outrem) Normas institucionais rígidas Mudanças organizacionais frequentes (alterações freqüentes de regras e normas) Falta de confiança, respeito e consideração entre os membros de uma equipe. Comunicação ineficiente. Impossibilidade de ascender na carreira, de melhorar sua remuneração, de reconhecimento de seu trabalho, entre outras. O ambiente físico e seus riscos, incluindo calor, frio e ruídos excessivos ou iluminação insuficiente, pouca higiene, alto risco tóxico e até de vida. Outros fatores: acúmulo de tarefas por um mesmo individuo, convívio com colegas afetados pela síndrome (Schaufeli) Características Impede a autonomia, a participação criativa e, portanto, a tomada de decisões. As atividades são realizadas lentamente, demandando muito tempo e muita energia por parte da equipe e/ou individuo na sua manutenção. Exemplos: tempo gasto no preenchimento de formulários, relatórios, participação em reuniões administrativas. (Maslach e Leiter, Vega) Impossibilita a liberdade de ação e independência profissionais (Maslach e Leiter, Gil-Monte, Kurowski, e Schaufelli) Impedem que o trabalhador atinja a autonomia e o sentir-se no controle de suas tarefas (Maslach e Leiter, Vega, Carlotto) Provocam insegurança, predispondo o funcionário a erros (Maslach e Leiter, Carlotto) Provoca um clima social prejudicial (Maslach, Vega, Gil-Monte, Schaufeli) Provoca distorções e lentificação na disseminação da informação (Maslach e Leiter, Vega, Gil-Monte, Schaufeli) Pode provocar grande desestimulo no trabalhador (Maslach e Leiter, Kurowski) Geram sentimentos de ansiedade, medo e impotência (Maslach e Leiter, Vega, Kurowski) DIMENSÃO INDIVÍDUO (ÍNDICES INFERIORES DE BURNOUT) Nesta dimensão são apresentadas as características próprias do indivíduo que podem estar associadas a índices menores de burnout. Tabela 2. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices inferiores da síndrome de burnout. Fator Tipo de personalidade com características resistentes ao estresse ou hardness (Maslach at al., Schaufeli e Enzmann) Lócus de controle interno Características Envolvem-se em tudo o que fazem; acreditam possuir domínio da situação; encaram as situações com otimismo e como oportunidade de aprendizagem (Antonovsky, Kobasa, Mendes, Moreno-Jiménez, Sörderfeldt et al.) Responsabilizam-se pelos sucessos de sua própria vida, sendo estes encarados como conseqüentes às suas habilidades e seus esforços (Maslach et al., Schaufeli e Ernzmann, Antonovsky, Kobasa, Mendes, Moreno-Jiménez, Sörderfeldt et al.) Auto estima, autoconfiança, auto eficácia (Maslach et al., Schaufeli e Enzmann, GilMonte, Codo) DIMENSÃO INDIVÍDUO (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Na presente dimensão, as características próprias do indivíduo que predispõem a índices menores de burnout estão listadas abaixo. Tabela 3. Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Padrão de personalidade Características Indivíduos competitivos, esforçados, impacientes, com excessivas necessidades de controle das situações, dificuldade em tolerar frustações (Antonovsky, Kobasa, Kurowski, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Nagy e Davis, Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) Lócus de controle externo Superenvolvimento Indivíduos pessimistas Indivíduos perfeccionistas Indivíduos com grande expectativa e idealismo em relação à profissão. Indivíduos controladores. Consideram que suas possibilidades e acontecimentos de vida são conseqüentes à capacidade de outros, à sorte ou ao destino (Antonovsky, Kobasa, Kurowski, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) Sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com dedicação profissional, altruístas, obsessivos, entusiastas, suscetíveis a se identificarem com os demais (Gil-Monte, Meis et al.) Costumam destacar os aspectos negativos, prevêem insucesso, sofrendo por antecipação (Antonovsky, Mendes, Moreno-Jiménez et al., Sörderfeldt et al.) São bastante exigentes consigo mesmos e com os outros, não tolerando erros e dificilmente se satisfazendo com os resultados das tarefas realizadas (Antonovsky, Kobasa, Mendes, MorenoJiménez et al., Sörderfeldt et al.) Podem deixar de ser realistas, tendo grandes chances de se decepcionarem. Se associados ao otimismo, pode levar a baixos índices de burnout. (Antonovsky, Kobasa, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al., Kirk, Carlotto, Codo, Meis at al.). Indivíduos passivos. São inseguros, preocupam-se excessivamente, têm dificuldade em delegar tarefas e trabalhar em grupo (Firth). Gênero Nível educacional Estado civil Mantém-se na defensiva e tendem a evitação diante das dificuldades (Antonovsky, Kobasa, Maslach et al., Mendes, Moreno-Jiménez et al., Schaufeli e Enzmann, Sörderfeldt et al.) As mulheres apresentam maior pontuação em exaustão emocional; os homens em despersonalização (Burke) Indivíduos com nível mais elevado (Maslach et al.) Maior risco em solteiros, viúvos ou divorciados (Maslach, Nagy e Davis, Raquepaw) ou o oposto (Ross e Russsel, Schaufeli) DIMENSÃO TRABALHO (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Em relação aos fatores de risco relacionados ao trabalho, alguns associados à síndrome de burnout são citados a seguir. Tabela 4. Fatores laborais (características do trabalho) associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Sobrecarga Baixo nível de controle das atividades ou acontecimentos no próprio trabalho; baixa participação nas decisões sobre mudanças organizacionais. Expectativas profissionais Sentimentos de injustiça e de iniqüidade nas relações laborais. Trabalhos por turnos ou noturno Precário suporte organizacional e relacionamento conflituoso entre colegas Tipo de ocupação Características Quantidade ou qualidade excessiva de demandas que ultrapassam a capacidade de desempenho, por insuficiência técnica, de tempo, de infra-estrutura organizacional (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Schaufeli e Enzmann, Vega). Pressão no trabalho propicia, principalmente, o aparecimento de exaustão emocional (Maslach et al., Vega, Carlotto) Provocam pouca ou nenhuma satisfação do trabalhador sobre seu trabalho (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte). Indivíduos com discrepâncias entre suas expectativas de desenvolvimento profissional e aspectos reais de seu trabalho (Vega, Carlotto, Peiró) Podem ser conseqüentes a carga de trabalho, salários desiguais para o mesmo cargo, ascensão de colega sem merecimento (Maslach, Peiró, Maslachh e Leiter) Chega a afetar cerca de 20% dos trabalhadores, acarretando transtornos físicos e psicológicos (Peiró) Mais propensos: os que precisam efetuar mudanças em períodos de tempo, a cada 2 ou 3 dias, passando alternadamente do período diurno para o noturno e vice-versa (Peiró) Provocam pensamentos de não poder contar com ninguém; sentem-se desamparados, carentes de orientação, desrespeitados. Quadro piora na presença de indivíduos competitivos, distantes, excessivamente críticos ou preguiçosos (Kurowski, Maslach et al.Schaufeli, Schaufeli e Enzmann, Vega, Carlotto, Gil-Monte, Maslach e Leiter) É maior em relação aos cuidadores em geral (Vega, Maslach e Jackson). Relação mais próxima e intensa do trabalhador com as pessoas a que deve atender; responsabilidade sobre a vida de outrem. Conflitos de papel Exemplos: cuidadores de deficientes mentais, Aids, Alzheimer (Vega, Peiró, GilMonte, Maslach e Leiter) Papel: conjnto de funções, expectativas e condutas que uma pessoa deve desempenhar em seu trabalho. Conflito de papel: embate entre informações e expectativas do trabalhador sobre seu desempenho em um determinado cargo ou função na instituição (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte) Ambigüidade de papel: normas, direitos, métodos e objetivos pouco delimitados ou claros por parte da organização (Kurowski, Maslach et al., Schaufeli, Vega, Gil-Monte) Ambigüidade de papel DIMENSÃO SOCIEDADE (ÍNDICES SUPERIORES DE BURNOUT) Os fatores sociais associados à síndrome de burnout são apresentados na sequência. Tabela 5. Fatores sociais associados a índices superiores da síndrome de burnout. Fator Falta de suporte social e familiar Manutenção do prestigio social em oposição à baixa salarial que envolve determinada profissão Valores e normas culturais Características Impede o individuo de contar com colegas, amigos de confiança e familiares (Constable e Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) O individuo busca vários empregos, surgindo sobrecarga d e trabalho e, consequentemente, pouco tempo para descanso e lazer, para atualização profissional, levando-o a insatisfação a à insegurança nas atividades desempenhadas (Constable e Russsel, Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) Podem incrementar ou não o impacto dos agentes estressores no desencadeamento do burnout (Constable e Russsel, Russel, Maslach e Leiter, Maslach e Leiter) CONSEQÜÊNCIAS DO BURNOUT Consequências para a organização A instituição tem um aumento em seus gastos (tempo, dinheiro) com a consequente rotatividade de funcionários acometidos pelo burnout, assim como com o absenteísmo destes (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001; World Health Organization, 1998). Segundo Maslach e Leiter (1997) “os indivíduos que estão neste processo de desgaste estão sujeitos a largar o emprego, tanto psicológica quanto fisicamente. Eles investem menos tempo e energia no trabalho, fazendo somente o que é absolutamente necessário e faltam com mais freqüência. Além de trabalharem menos, não trabalham tão bem. Trabalho de alta qualidade requer tempo e esforço, compromisso e criatividade, mas o indivíduo desgastado já não está disposto a oferecer isso espontaneamente. A queda na qualidade e na quantidade de trabalho produzido é o resultado profissional do desgaste". Consequências para o indivíduo O indivíduo pode apresentar fadiga constante e progressiva; dores musculares ou osteomusculares (na nuca e ombros; na região das colunas cervical e lombar); distúrbios do sono; cefaléias, enxaquecas; perturbações gastrointestinais (gastrites até úlceras); imunodeficiência com resfriados ou gripes constantes, com afecções na pele (pruridos, alergias, queda de cabelo, aumento de cabelos brancos); transtornos cardiovasculares (hipertensão arterial, infartos, entre outros); distúrbios do sistema respiratório (suspiros profundos, bronquite, asma); disfunções sexuais (diminuição do desejo sexual, dispareunia/anorgasmia em mulheres, ejaculação precoce ou impotência nos homens); alterações menstruais nas mulheres (Araújo et al., 1998; Cherniss, 1980b; Dejours, 1992; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Lerman et al., 1999; Melamed et al., 1999; Nakamura et al., 1999; Pruessner et al., 1999; Silvany et al., 2000; World Health Organization, 1998). Em relação ao psiquismo, pode apresentar: falta de concentração; alterações de memória (evocativa e de fixação); lentificação do pensamento; sentimento de solidão; impaciência; sentimento de impotência; labilidade emocional; baixa auto-estima; desânimo (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Goetzel et al., 2002; Silvany et al., 2000). Pode ocorrer o surgimento de agressividade, dificuldade para relaxar e aceitar mudanças; perda de iniciativa; consumo de substâncias (álcool, café, fumo, tranqüilizantes, substâncias ilícitas); comportamento de alto risco até suicídio (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; 2002; Murofuse et al., 2005; Silvany, 2000). Consequências para o trabalho Ocorre diminuição na qualidade do trabalho por mau atendimento, procedimentos equivocados, negligência e imprudência (Dejours, 1992; Freudenberger, 1974; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Murofuse et al., 2005). A predisposição a acidentes aumenta devido a faltas de atenção e concentração (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997). O abandono psicológico e físico do trabalho pelo indivíduo acometido por burnout leva a prejuízos de tempo e dinheiro para o próprio indivíduo e para a instituição que tem sua produção comprometida (Constable e Russell, 1986; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001; Ross e Russel, 1989; Schaufeli, 1999c). Para que seja possível, por exemplo, o estabelecimento de relações terapêuticas entre o profissional e o paciente, a prevenção ao estresse e burnout está entre as principais recomendações feitas pelo National Guideline Clearinghouse às organizações (National Guideline Clearinghouse, 2006; Registered Nurses Association of Ontario (RNAO), 2002; Registered Nurses Association of Ontario (RNAO), 2006). Consequências para a sociedade O indivíduo acometido por burnout pode provocar distanciamento dos familiares, até filhos e cônjuge (Constable e Russell, 1986; Dejours, 1992; Ross Russel, 1989). Já os clientes mal atendidos arcam com prejuízos emocionais, físicos e financeiros que podem se estender aos seus familiares e até ao seu ambiente de trabalho (Dejours, 1992; Maslach e Leiter, 1997). Conclusão A prevalência do burnout ainda é incerta, mas dados apontam acometimento significativo que justifica mais estudos a respeito dessa patologia com fatores de risco multifatoriais (indivíduo, trabalho, organização). Pode-se apresentar em comorbidade com algumas doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, como burnout seguido por transtorno depressivo. Entretanto, não se encontraram estudos que avaliassem, por entrevistas estruturadas, as taxas de comorbidade entre essas duas condições e possíveis relações causais. As conseqüências do burnout têm efeitos negativos para a organização, para o indivíduo e sua profissão (Goetzel et al., 2002; Moreno-Jimenez, 2000; Murofuse et al., 2005; Schaufeli, 1999b). O instrumento para pesquisa organizacional de burnout selecionado em encontra-se no capitulo “Instrumentos.....” com suas justificativas e estudos de validação brasileiro. ASSÉDIO MORAL Há consenso entre estudiosos do tema que o assédio moral seja tão antigo quanto a própria atividade laboral e sua caracterização e conceituação bem mais recentes. A relação entre empregado e empregador, juridicamente, já configura uma relação conflituosa. Além da questão do relacionamento interpessoal com o empregador ou com seus prepostos há a questão da hierarquia, do poder de comando, com explicitação do fenômeno em função do acirramento da concorrência global, do surgimento de novas tecnologias que visam maximizar lucros e minimizar despesas e reduzir o risco de fracasso do negócio. Não cabe aqui discorrer acerca dos desdobramentos relativos a reparação do assédio moral, cuja competência de processo e julgamento cabe à Justiça do Trabalho. As ações praticadas pelo autor do abuso de direito ou cometimento de ato ilícito tem fundamento no Código Civil. A Consolidação das Leis do Trabalho prevê que o empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo ou quando ato lesivo da honra e boa fama for praticado pelo empregador ou seu preposto contra ele ou pessoas de sua família. O tema da reparação por danos morais tem seu fulcro na Constituição Federal de 1988, em função do destaque que foi dado à honra e à dignidade da pessoa humana. (Art. 1º, inciso III diz: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) ; III – a dignidade da pessoa humana;” Apesar de já haver sido definida pela jurisprudência, a Emenda Constitucional nº 45/04 ratifica que, o fórum adequado para julgamento das lides trabalhistas relacionadas com o dano moral. “Art. 114: Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...); VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho.” No tocante à responsabilidade civil, as ações praticadas pelo autor do assédio configuram abuso de direito, ato ilícito. Segundo o art. 187 do Código Civil, “comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social e pela boa-fé”. A reparação por danos morais pode-se dar, também, pela atuação de seus prepostos, mesmo que a instituição não esteja diretamente ligada às ações praticadas e relacionadas com o assédio moral ou mesmo que estas ações tenham sido cometidas sem o conhecimento prévio da instituição, ela poderá ser responsabilizada. De acordo com o art. 1175 do Código Civil, “o preponente responde com o gerente pelos atos que este pratique em seu próprio nome, mas à conta daquele”. A Consolidação das Leis do Trabalho (Título IV – Do Contrato Individual de Trabalho, art. 483) apresenta que: “O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a devida indenização quando: (...); b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com rigor excessivo; (...); e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama” A Declaração Universal dos Direitos Humanos (art. XII) que “ninguém será sujeito (...) a ataques à sua honra e reputação”. O assédio moral, portanto, é um problema social que tem merecido discussões de vários setores da sociedade, especialmente entre profissionais da área jurídica, da psicologia e da medicina. Embora existente em todas as relações sociais, desde os primórdios da humanidade, esse tipo de ação passou a ser motivo de estudo e preocupação com a saúde, principalmente, a partir da obra de Hirigoyen, a qual detectou que cada vez mais, na competitividade do mercado, pode-se observar esse fenômeno e constatar seus efeitos deletérios sobre a saúde. De acordo com Marie-France Hirigoyen assédio moral no trabalho é: “toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, comportamento, atitude...) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou a integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho.” O fenômeno, assédio moral, embora histórico, se intensifica nas atuais mudanças do sistema produtivo e da gestão: “o modo como o trabalho está organizado e é gerido favorecem relações violentas”; o imperativo da flexibilidade é relacionado à proliferação de “regras incertas, mutáveis, promessas não cumpridas, reconhecimentos negados, punições arbitrárias, exigências de submissão de uns e arrogância de outros” (Freitas et al. 2008). Os autores ainda apresentam definição conceitual epistemológico quanto político. Afirmam que “o assédio moral é uma conduta abusiva, intencional, freqüente e repetida, que ocorre no ambiente de trabalho e que visa diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psiquicamente um indivíduo ou um grupo, degradando as suas condições de trabalho, atingindo sua dignidade e colocando em risco a sua integridade pessoal e profissional” (Idem, 2008) Para Sena, Juíza do Trabalho de Minas Gerais, citada por Armada (2008), o assédio moral tem sua objetividade. Diz no proferimento de decisão que “o assédio ocorre pelo abuso do direito do empregador de exercer o seu poder diretivo ou disciplinar: as medidas empregadas têm por único objetivo deteriorar, intencionalmente, as condições em que o trabalhador desenvolve o seu trabalho, numa desenfreada busca para atingir os objetivos empresariais” (in ARMADA, 2006) Florindo (1999) afirma que “o empregado, subordinado juridicamente ao empregador, tem mais possibilidade do que qualquer outro de ser moralmente atingido, em razão dessa própria hierarquia interna em que se submete à sua direção, o qual o vê, na maioria das vezes, como alguém submisso às suas ordens, de forma arbitrária. Alkimin (2007) atenta para se tomar o devido cuidado para não confundir assédio moral com outros termos como o stress ou quando surgem sentimentos de humilhação pela hierarquia de trabalho. No assédio moral sobressai-se a figura do individualismo, da arrogância que são atitudes totalmente inadequadas e envolvem a relação de poder englobando a intenção de ofender, humilhar, constranger, diminuir o trabalhador no exercício de suas funções. Os fenômenos comumente confundidos com o assédio moral são: (1) stress profissional; (2) situações conflituosas; (3) gestão por injúria; (4) agressões pontuais; e (5) más condições de trabalho. Com relação aos diversos tipos de assédio moral, se observam abaixo as tipologias mais comumente encontradas. TIPOLOGIA Assédio DEFINIÇÃO Moral Esse tipo de assédio é feito pelo empregador contra seu Vertical subordinado. A expressão “empregador” também Descendente compreende outros tipos de superiores. Acontece quando algum superior hierárquico se sente ameaçado por algum funcionário que possa apresentar um desempenho melhor. Prolifera-se dentro da empresa quando a organização permite que algum indivíduo haja de maneira tirânica ou até perversa com seus subordinados. Assédio Moral O assédio moral horizontal é aquele que ocorre entre Horizontal colegas de trabalho. Ocorre muitas vezes por conflitos de relacionamentos e convivência, por discriminação de qualquer tipo ou, ainda, por pura competitividade, que muitas vezes é estimulada por superiores Assédio Moral É aquele tipo de assédio feito por um ou vários empregados Vertical contra seu superior hierárquico. Geralmente acontece por Ascendente tratar-se de superior hierárquico que abusa de seu poder de mando agindo de maneira autoritária e soberba para com os funcionários, mas também acontece quando determinado gestor não consegue administrar e manter o domínio dos empregados, não conseguindo impor respeito perante eles. Assim, com o intuito de livrar-se de tal chefia o(s) empregado(s) assedia(m) seu superior. Tipologia do assédio moral. Fonte: Adaptado de Hirigoyen (2005). Já o assediador pode ser uma pessoa, ou um grupo de pessoas, que se utiliza de mecanismos perversos para sua ação de assédio. É um indivíduo narcisista que ataca a autoestima do outro, transferindo-lhe a dor e as contradições que não admite em si mesmo. Assim, para esclarecimento da questão são apontadas algumas circunstâncias ou situações comuns que podem acontecer nos ambientes de trabalho. Uma agressão verbal isolada poderá ser injuriosa, caluniosa, mas não poderá ser entendida como assédio moral. Um ambiente de trabalho competitivo, característica da maioria das empresas, só será entendido como assédio moral quando personificar metas extremamente rigorosas, chegando ao ponto de sua obtenção ser considerada inviável ou impossível. Em ambientes de trabalho deficientes ou até inadequados quanto às condições de trabalho (risco ergonômico, físico, químico, especificamente) pode-se caracterizar assédio moral quando afetarem um ou mais em detrimento dos demais, ou seja, quando estiverem presentes aspectos discriminatórios. No caso da presença de estresse e conflito, cada vez mais presentes no ambiente organizacional, sozinhos, também não podem ser apurados como determinantes do assédio moral. Ou seja, os fatos quando se desenvolvem isolada e pontualmente, não configuram o assédio moral; acontecendo em conjunto e/ou sistematicamente, abrem espaço para a sua configuração. Heins Leymann (citado por Alkimin, 2007) apresenta cinco grandes grupos de conduta do agente assediador. Estas condutas, verificadas em grupo ou isoladamente, determinam a ocorrência do assédio moral: a) atividades de assédio para reduzir as possibilidades da vítima de se comunicar adequadamente com os outros, incluído o próprio assediador; b) atividades de assédio para evitar que a vítima tenha a possibilidade de manter contatos sociais; c) atividades de assédio dirigidas a desacreditar ou impedir a vítima de manter sua reputação pessoal ou profissional; d) atividades de assédio dirigidas a reduzir a ocupação da vítima e sua empregabilidade mediante o descrédito profissional; e) atividades de assédio que afetam a saúde física ou psíquica da vítima. Parreira (2007) caracteriza o assediador em razão do contato existente com diversos sujeitos e ambientes, de acordo com o que se pode observar a seguir: SUJEITO CARACTERÍSTICA DA AÇÃO DO ASSEDIADOR Vítima O assediador não discute o problema e sequer admite que ele exista. Apresenta comportamentos imprevisíveis. Sempre culpa a vítima, como forma de desviar sua atenção. Algumas vezes pode até mudar de tática, fingindo que finalmente irá escutar a vítima sendo que, no final, essa atitude é só mais uma manobra para manipulá-la. Empresa Apresenta-se sempre como um funcionário amável e pró-ativo perante seus diretores; aparece como o tipo de funcionário que “mostra resultados”. Ele se apresenta como uma pessoa solucionadora, mesmo que suas soluções sejam aplicadas de forma impensada Contato com Ao seu redor sempre estão às pessoas com mais poder e o Social influência. Mostra-se sempre cheio de boas intenções e qualidades que acabam por encantar as pessoas ao seu redor Contato com O assediador geralmente conhece o espaço e as pessoas que outros o compõem. Em geral, capta as fragilidades dos funcionários, Funcionários seus anseios e suas necessidades e acaba usando isso em favor de si mesmo. O assediador não mostra empatia por ninguém; ele apenas se aproxima, caso seja necessário para a conquista de seus objetivos. Sujeito versus Características da ação do assediador. Fonte: Adaptado de Pereira (2007). Conforme Alkimin (2007), o estudo da conduta do assediador pode ser resumido pelos dados levantados por Heinz Leymann, que foi o precursor dos estudos acerca do assédio moral. Tais condutas podem ser resumidas em cinco importantes grupos: (1) Deterioração proposital das condições de trabalho; (2) Isolamento; (3) Recusa de comunicação direta; (4) Atentado contra a dignidade; e (5) Ataque direto à saúde da vítima com violência. As vítimas geralmente são aquelas pessoas que reagem a uma atitude autoritária, resistem às pressões. São considerados funcionários perfeccionistas, dedicados e capazes de se doarem completamente ao seu trabalho. Na definição de Hirigoyen (2005), o perfil traçado do assediado é geralmente caracterizado como de uma pessoa plena em vitalidade, mas que teme a desaprovação e tem uma tendência a se culpar. A vítima é considerada aquela que leva o agressor a sentir-se ameaçado, seja no cargo ou na posição perante o grupo. A vítima normalmente uma pessoa dotada de responsabilidade, de nível de conhecimento superior aos demais, com uma elevada auto-estima e que acredita plenamente nas pessoas que a cercam. Conforme Hirigoyen (2005), a conduta negativa dos colaboradores significa relações desumanas e aéticas que perduram por um período de tempo. Essas condutas não precisam ser necessariamente explícitas, podendo se manifestar de forma velada. O período mínimo para que essas condutas sejam classificadas como assédio moral é de seis meses. Para Brito (2007), o assédio moral visa a criar um ambiente hostil, desestabilizando a vítima com o medo, principalmente, da perda do emprego, tornando-o dócil e menos reinvindicativo. A vítima passa a ser isolada pelo grupo e frequentemente hostilizada, ridicularizada, inferiorizada e desacreditada. O medo de perder o emprego e a vergonha das humilhações adicionadas à competitividade excessiva fazem com que o grupo rompa laços afetivos e sociais com a vítima Em suma: um ato isolado não é assédio moral. Ele pressupõe: a) Repetição sistemática b) Intencionalidade (forçar o outro a abrir mão do emprego) c) Direcionalidade (uma pessoa do grupo é escolhida como bode expiatório) d) Temporalidade (durante a jornada, por dias e meses) e) Degradação deliberada das condições de trabalho Segundo Barreto (2004), citado por Botelho (2008) o assédio moral causa efeitos diversos e a vários níveis: 1. Sociedade A sociedade é afetada pelos elevados custos com hospitalizações, medicamentos e incapacidade (permanente ou temporária) para o trabalho. 2. Organização Nas organizações os custos resultam pelo absenteísmo e baixa produtividade, além daqueles necessários para melhorar o ambiente de trabalho, a falta de motivação do pessoal e redução de rentabilidade. 3. Indivíduo Nos indivíduos, segundo Hirigoyen (2002), oassédio moral tem conseqüências físicas e psicológicas com sintomas semelhantes aos do stress, da ansiedade, da depressão e ainda perturbações psicossomáticas. Na prevenção dos efeitos nefastos do assédio moral, como refere Hirigoyen (2002), é importante que a Empresa institua: a) Atribuição de responsabilidades à organização laboral na prevenção do assédio moral; b) Definição de estratégias de prevenção com regras éticas;Cobrança de exemplo de modos de funcionamento claros, através dos métodos de gestão; c) Um bom ambiente de trabalho, com respeito às falas dos trabalhadores, de forma aberta. Um papel relevante pode ser adotado por quem sofre o assédio moral, devendo o assediado: a) Manter postura ética perante o assédio moral; b) Estar atento e resistir, manter a sua auto-estima; c) Criar laços de inter-ajuda e solidariedade com os colegas; d) Procurar um interlocutor dentro da organização que possa atuar na situação; e) Procurar apoio jurídico e médico em caso de necessidade. Conclusão: O assédio moral não é novo no mundo do trabalho. É tão velho quanto o próprio trabalho, dirigido contra a dignidade e a integridade psíquica ou física de uma pessoa, não sem conseqüências graves ao ser humano, das interrelações humanas e de custos, por isso deve ser firmemente combatido e, conforme Botelho (2008), “é na falta dos valores éticos e morais que se desenvolve o fenômeno do assédio moral” BOTELHO, Maria Ascenção de Souza. ASSÉDIO MORAL: A LUZ DA BIOÉTICA. Londrina, PR, 2008. Acessível em 28/06/2011 em http://www.bioeticapr.org.br/upload/biblioteca/asceno.doc. HIRIGOYE, Marie-France. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2000 ESTRESSE (Revisar para baixo) O interesse pelo estudo do estresse no trabalho, de acordo com Reis (2010) tem sido crescente na literatura científica, particularmente nos últimos anos. Uma razão para o aumento de pesquisas sobre esse tema está nas repercussões das condições e da organização do trabalho na saúde e no bemestar dos empregados e, em consequência, no funcionamento e na efetividade das organizações. Na economia, o impacto negativo dessa variável tem sido estimado com base na suposição e nos achados de que trabalhadores estressados diminuem seu desempenho e aumentam os custos das organizações com problemas de saúde, com o aumento do absenteísmo, da rotatividade e do número de acidentes no local de trabalho. Couto et al., (2007) afirmam que nos seres humanos, o estresse é um processo psicológico complexo e a compreensão dos eventos estressantes é afetada por variáveis cognitivas, afetivas e relações sociais. Não é a situação em si nem a resposta individual que definem isoladamente o estresse. As percepções do indivíduo diante de uma nova situação estressante são decisivas para a sua caracterização. E continuam os autores: Na questão laborativa, o estresse sempre representa uma situação avaliada como negativa, sendo o resultado da incapacidade de lidar com as fontes de pressão no trabalho ou uma defasagem entre as demandas e a capacidade de responder a elas. O estresse, quando exagerado, provoca problemas de ordem física e mental, resultando numa insatisfação do trabalhador, comprometendo a atividade do indivíduo e o sucesso da empresa. (grifo dos autores) A competição das Organizações para conquista de clientes e mercados também advém com o treinamento e manutenção do recurso mais importante neste campo competitivo que é talento humano. Os trabalhadores têm que adquirir novas competências e habilidades, além de formas diferenciadas de produzir e relacionar-se com o trabalho, associando-se o importante valor pela saúde. Todos esses aspectos estão diretamente relacionados à qualidade de vida do ser humano e suas motivações, o que reflete diretamente e indiretamente nos níveis individuais e globais de produtividade (Sauter, 2005). Couto (1987) e Cooper (1988) mostraram em seus estudos que os principais sintomas de estresse estão relacionados às seguintes manifestações: nervosismo; irritabilidade sem motivos aparentes; perda e/ou oscilação do sendo de humor; ansiedade; angústia; indisposição gástrico e/ou dor no estomago diante de exigências emocionais; períodos de depressão; fadiga; dor nos músculos do pescoço e ombros sob tensão; e insônia. Zille (2005), em estudo com gerentes, encontrou como principais sintomas para os casos de indivíduos que apresentaram quadros de estresse: fadiga, dor nos músculos do pescoço e ombros, nervosismo acentuado, insônia, ansiedade e falta ou excesso de apetite. Couto, Hudson de Araújo, Herkenhoff, Fernando Luiz Vieira, Lima, Eliudem Galvão Estresse ocupacional e hipertensão arterial sistêmica. Rev Bras Hipertens vol.14(2): 112-115, 2007 Clinicamente, o portador de estresse irá evidenciar em maior ou menor grau os seguintes sintomas: nervosismo, irritabilidade fácil, ímpetos de raiva, dor na musculatura cervical e nos ombros, cefaléia por tensão, alterações do sono, fadiga, dor precordial, palpitações, ansiedade, angústia, períodos de depressão e indisposição gástrica ou epigastralgia. O número dos sintomas apresentados e sua intensidade costumam ser paralelos à intensidade dos fatores estressantes vividos pelo indivíduo (Couto et al., 2007) Afirmam Couto e outros que “o estresse desenvolve-se na medida em que ocorre uma desproporção entre as exigências do cotidiano e a estrutura do indivíduo para lidar com elas”. Nessa dimensão o estresse pode ser considerado um obstáculo, uma vez que poderá interceptar e desviar o fluxo de energia, gerando assim, uma ruptura no equilíbrio pessoal. A vida acelerada dos dias atuais, principalmente nos grandes centros urbanos, contribui com um grande número de fatores capazes de interferirem nesse equilíbrio, que é considerado de fundamental importância para a saúde das pessoas (Pereira, 2010). O estresse vem sendo considerado um problema generalizado, afetando os trabalhadores, a organização e a sociedade como um todo, que pode ser minimizado ou até mesmo evitado, por meio de ações na ambiência ocupacional. Os problemas de saúde mental, entre eles o estresse, estão entre as causas mais importantes que contribuem para o aparecimento de diversas doenças e disfunções entre a população de trabalhadores, tendo como conseqüências além dos distúrbios relacionados à saúde, custos crescentes e significativos que afetam as organizações e do estado como um todo (Levi, 2003, 2005). Estresse não é considerado, em si, doença ou quadro nosológico distinto, porém uma fonte potencialmente causadora de distúrbios emocionais, como informa a Classificação Internacional de Doenças da OMS (versão 10), na qual o verbete é citado no capítulo V (Transtornos Mentais e Comportamentais), grupo F40-F48 (Transtornos neuróticos, transtornos relacionados com o estresse e transtornos somatoformes) (Couto et al., 2007). CONCEITOS E TIPOLOGIAS DO ESTRESSE Pereira (2010) informa que o estresse se manifesta de duas formas: o distresse, ou estresse da derrota, que é o estresse da forma como o conhecemos em seu lado negativo; e o eustresse, considerado o estresse positivo. O eustresse, da mesma forma que o distresse, representa uma reação do corpo a um estímulo externo, só que nesse caso na forma de superação e prazer. Os dois termos são empregados de maneira distinta – eustresse e distresse – para distinguir as conseqüências positivas e negativas do estresse para a vida do indivíduo, muito embora, do ponto de vista fisiológico, essas duas formas de reação sejam exatamente iguais. O eustresse é o estresse da superação, realização, do triunfo e do contentamento. (...) O eustresse (...) é uma parte natural da superação eficaz de desafios, como por exemplo, os de um perigo eminente e de um trabalho profissional desafiador. Dessa forma, o eustresse é considerado o estresse da vitória (SELYE, 1956, in Pereira, 2010). Outra importante diferenciação entre os tipos de estresse refere-se ao estresse de sobrecarga e ao estresse de monotonia. Quando a estrutura psíquica do indivíduo se torna incapaz de suportar as excessivas exigências psíquicas do meio por um longo período de tempo, fazendo com que o desempenho no trabalho seja reduzido, diz-se que está sob estresse de sobrecarga. Já na situação inversa, em que o indivíduo está submetido a um nível de exigência muito inferior ao que a sua estrutura psíquica demanda, poderá ocorrer outro tipo de estresse, caracterizado como estresse de monotonia (SELYE, 1974). Outros conceitos também são apresentados pela literatura, como os de Couto (1987) e de Simonton et al. (1987), que consideram o estresse um estado em que ocorre um desgaste anormal do organismo humano, ocasionando redução em sua capacidade de trabalho, provocada pela incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências psíquicas da vida ou de adaptar-se a elas. O desgaste do organismo humano é causado por uma tensão crônica, característica da vida moderna. Para esses autores, as pessoas mais vulneráveis ao estresse são aquelas que não conseguem se descontrair, relaxar, mesmo que o desejam. Para (Couto et al., 2007) estresse é um quadro caracterizado por desgaste anormal e/ou redução da capacidade de trabalho, ocasionado basicamente por uma desproporção prolongada entre o grau de tensão a que o indivíduo está exposto e a capacidade de suportá-lo. Couto (1987) diferencia dois tipos de estresse: o agudo e o crônico. Quando perdura por um período maior – três ou mais semanas – o estresse é caracterizado como crônico, podendo causar um efeito deletério maior sobre a saúde do indivíduo. Por outro lado, quando se apresenta de forma mais breve, caracteriza-se como estresse agudo. Couto (1987) ao abordar o estresse, nas suas fases aguda e crônica diz “[...] um evento profundamente desagradável, uma agressão verbal ou enfrentar uma discussão séria com exaltação de ânimos podem originar no organismo uma reação de stress; conforme sua duração, este stress será agudo se durar, por exemplo, uma a duas semanas, e será crônico se o estado de inadaptação perdurar por mais tempo”. Rio (1995) apresenta o mesmo entendimento de Couto, observando que “o estresse crônico persiste por mais tempo, sem meios que o desativem eficientemente. Já o estresse agudo dura momentos, horas ou, mesmo, poucos dias e depois se dissipa”. Segundo Couto (1987), o estresse também pode ser categorizado em função das exigências do meio sobre a estrutura psíquica dos indivíduos. Quando as demandas do ambiente exigem mais do que a estrutura psíquica é capaz de suportar, evidencia-se o estresse de sobrecarga, definido com um conjunto de responsabilidades acima da competência intelectual, psicológica e física do indivíduo e ambientes de trabalho permanentemente conflituosos e tensos. De outro lado, há a possibilidade de ocorrência de um estresse de monotonia, em que a estrutura psíquica do indivíduo é pouco estimulada pelas exigências do meio, como pode ser o caso de aposentadoria precoce trabalho pouco desafiante e monótono e relacionamentos interpessoais empobrecido, dentre outras circunstâncias Na visão de Robbins (2009) três conjuntos de fatores atuam como fontes potencias de estresse, dividindo em três categorias de estressadores (sic) potenciais: ambiental, organizacional e individual. “Se elas se tornam estresse real ou não depende de diferenças individuais, como experiência no cargo e personalidade”. O autor afirma ainda que os sintomas do estresse no indivíduo possam surgir como resultados fisiológicos, psicológicos e comportamentais. Compreendem-se por fatores ambientais as incertezas advindas das esferas econômica, política e tecnológica, principalmente aquelas oriundas de mudanças nos ciclos dos negócios. Por fatores organizacionais compreendem-se as pressões para evitar erros ou completar tarefas num período limitado de tempo, sobrecarga de trabalho e chefe insensível e exigente. Robbins (2007) classifica esses fatores em torno de exigências por demandas de tarefas, demandas de papéis e demandas interpessoais. Por “demandas de tarefa”, compreendem-se os fatores relacionados ao trabalho das pessoas, ou seja, o conjunto de características físicas, de condições de trabalho e de qualificações esperadas para a realização do cargo. Couto (1987) observa que algumas empresas estimulam um ambiente tenso, inseguro ou de medo como forma de aumentar a produtividade porém facilmente tende-se a exagerar quanto ao nível de tensão imposta e a capacidade produtiva cai. “O grau de tensão deve ser dosado no sentido de não ocasionar uma ruptura do equilíbrio”. Por demandas de “papéis”, compreendem as pressões sofridas pelo trabalhador em função do papel que desempenha na organização e as expectativas advindas do cargo. Couto (1987) aponta este aspecto como caracterizando o estresse da “responsabilidade excessiva versus à capacidade do executante”. Quando há uma maior exigência de um trabalhador do que seu tempo ou suas qualificações permitem, assim a sobrecarga é vivenciada. Ainda segundo Couto, “quando a tarefa é de maior responsabilidade ou quando a empresa exige resultados além da capacidade do indivíduo podem aparecer uma série de sintomas psicossomáticos caracterizando o estresse da responsabilidade excessiva em relação a capacidade do indivíduo”. As “demandas interpessoais” são aquelas estabelecidas entre as pessoas na organização. Couto (1987 defende que “as relações interpessoais difíceis com chefes, colegas, subordinados e parentes costumam ser uma fonte importante de sobrecarga e estresse”. Relacionamentos com pessoas difíceis, muitas vezes, com características de personalidade obsessiva compulsiva e, até mesmo, com patologias graves desordem comportamental constitui fonte de tensão excessiva no ambiente profissional, podendo precipitar quadros importantes de estresse no trabalho Finalmente, os “fatores individuais” presentes nos quadros de estresse possivelmente podem ser atribuídos às situações ligadas aos âmbitos familiar e econômico, bem como a dificuldades de relacionamentos, diferenças individuais, problemas conjugais, disciplina das crianças e características de personalidade. Matos (2010) citando Robbins (2007), assenta que alguns indivíduos prosperam em situações de estresse, enquanto outros são esmagados por elas. O que vai diferenciar os indivíduos em sua relação com o estresse é a percepção da realidade e o contexto no qual está inserido. Ainda segundo Matos (2010), o autor, coloca que a percepção é o modo segundo o qual o indivíduo constrói em si a representação e o conhecimento que possui das coisas, pessoas e situações. E conclui Matos, “a maneira como o individuo percebe os eventos advindos do meio em que está inserido podem, gerar ou não o estresse” ABORDAGENS CONCEITUAIS E MODELOS EXPLICATIVOS SOBRE O ESTRESSE OCUPACIONAL A literatura aponta três principais abordagens do estresse ocupacional, que, segundo Zille (2005), podem ser consideradas “complementares e interligadas”. A primeira é a abordagem biológica, com ênfase na fisiologia do estresse que aponta o sentido que lhe dá a medicina: “o estresse é essencialmente o grau de desgaste no corpo” A segunda abordagem é a “psicológica”, que corresponde aos processos afetivos, emocionais e intelectuais, do indivíduo, isto é, vida mental, o seu afeto e o jeito de se relacionar com as outras pessoas e com o mundo a sua volta. A abordagem psicológica é subdividida em cinco vertentes: psicossomática, interacionista, behaviorista, psicopatologia do trabalho e social. A terceira é a sociológica, que está relacionada à compreensão das diversas variáveis que se estabelecem no contexto da sociedade MODELO EXPLICATIVO DE COUTO Para Couto (1987), o modelo básico de origem do estresse é formado pelo contexto do indivíduo, os agentes estressantes no trabalho e por sua vulnerabilidade. A superposição dos dois primeiros elementos, juntos ou separados, associados à vulnerabilidade do indivíduo, pode resultar em quadro de estresse (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO DINÂMICO DO ESTRESSE OCUPACIONAL Segundo Mendes (2000), um estudo de grande relevância na literatura de estresse e que serviu de referência teórica para o desenvolvimento de seu próprio estudo foi apresentado por Cooper; Cooper; Aeker (1988). A autora afirma que neste modelo a idéia de estresse e de seus efeitos sobre as pessoas foi desenvolvida a partir de diferentes perspectivas ligadas à percepção e a reação do indivíduo aos diversos acontecimentos ao seu redor. Este recurso metodológico tem-se revelado eficaz na identificação dos quadros de estresse vinculados a questões tipicamente estruturais dos contextos ocupacionais (Mendes, 2000). O modelo em referência apresentou as bases necessárias para o desenvolvimento de um instrumento capaz de diagnosticar os níveis de estresse ocupacional, denominado Occupational Stress Indicator (OSI), o qual identifica os fatores de pressão e as estratégias de combate ao estresse adotado pelos indivíduos. (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO DE TENSÃO DO TRABALHO DE KARASEK Outra visão sobre o estresse pode ser encontrada no modelo exigênciacontrole proposto por Baker e Karasek em 1979. Aos dois eixos deste modelo, em 2000, foi incluído um terceiro fator, relacionado aos efeitos benéficos do suporte social no local de trabalho. (LIMONGI-FRANÇA; RODRIGUES, 2005). O modelo enfatiza a interação entre as demandas e os controles na causa do estresse, evidenciando iniciativas no ambiente de trabalho e as possibilidades individuais ou ajustes no ambiente pessoal. (FALTA FIGURA DO MODELO MODELO EXPLICATIVO DO ESTRESSE DE MARILDA LIPP O modelo de Lipp decorre de pesquisas no Laboratório de Stress da PucCampinas, utilizando-se do ISS – Inventário de Sintoma de Estresse fundamentado no modelo trifásico proposto por Selye em 1956. Seu modelo quadrifásico identificou uma outra fase do estresse, designada de “quaseexaustão” que fica entre a fase de resistência e a fase “exaustão”. O ISSL permite um diagnóstico da presença ou não de estresse no indivíduo, a fase do estresse em que se encontra e qual a predominância da sintomatologia, se na área física ou psicológica (somático ou psicológico (FALTA FIGURA DO MODELO Não é escopo de este trabalho aprofundar a conceituação dos modelos em epigrafe, mas ressaltar a escolha do OSI como parâmetro de sugestão, especificamente com o Questionário de Cooper, que procura averiguar grau de satisfação pessoal e de satisfação em relação ao trabalho. Considerações ao Modelo de Couto resulta como parte da “Entrevista Semi-Estruturada de Acompanhamento Pessoal, ao final deste trabalho.” French, citado por Pereira (2010) contribuiu no sentido da compreensão do estresse decorrente das situações de trabalho, o que é denominado pelo autor como estresse ocupacional. Trata-se de uma reação do indivíduo ao seu ambiente de trabalho, que, de alguma forma, o atinge. Essas ameaças podem ser entendidas como agentes estressores que caracterizam uma relação pouco produtiva entre a estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional, demonstrando que excessivas mudanças estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele não está devidamente preparado, do ponto de vista psicológico, para internalizá-las de forma positiva. Do ponto de vista fisiológico, o estresse é responsável por provocar nos indivíduos alterações de modo a preparar o organismo para enfrentar e/ou superar as fontes de pressão excessivas as quais está submetido. Quando não há um equilíbrio do organismo em relação às pressões psíquicas do meio e a estrutura psíquica do individuo, instala-se um quadro de estresse. O sistema nervoso e o sistema endócrino são de fundamental importância na mediação desse processo, pois realizam a integração e coordenação entre os diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Indivíduos sujeitos a situações adversas reagem, por estimulação do sistema límbico, com a produção aumentada do hormônio adenocorticotrópico (ACTH), produzido no hipotálamo e secretado pela glândula hipófise. Este hormônio, após atingir a corrente sanguínea, irá estimular o córtex (região periférica) da glândula adrenal a produzir glicocorticóides, em especial o cortisol. Isso resulta em alguns efeitos no organismo como a mobilização aumentada de glicose, proteínas e lipídios a partir de suas reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia (Guyton e Hall, 2006). Destaca-se também a atuação do sistema nervoso autônomo (SNA) que, segundo Guyton e Hall (2006), é responsável pelo controle da maioria das funções viscerais do organismo como, por exemplo, pressão arterial, sudorese e temperatura corporal. Efeitos fisiológicos como aumento do fluxo sanguíneo no cérebro e nos músculos, permitindo um melhor raciocínio e respostas musculares mais rápidas; elevação da pressão sangüínea; dilatação das pupilas, proporcionado aumento do campo e da acuidade visual; aumento das taxas de metabolismo celular do corpo; elevação da concentração de glicose no sangue; e aumento da freqüência cardíaca e respiratória, proporcionado melhoria na oxigenação do sangue, o que torna mais eficaz o e desempenho de diversos órgãos do corpo são reações que correspondem à resposta simpática do organismo e visa fornecer uma ativação extra ao corpo, afim de que haja uma melhor preparação do organismo para enfrentar e/ou adaptar-se às fontes de pressão excessiva ao qual está sendo submetido. Esses efeitos geram nos indivíduos, do ponto de vista comportamental, aumento da excitabilidade, agressividade e sensibilidade; ou seja, o organismo fica preparado para enfrentar as ameaças a ele direcionadas. Segundo Couto (1987), de forma errônea e numa linguagem popular corrente, essas reações são confundidas com estresse, chegando até mesmo a ser denominadas com este nome. O estresse não é, entretanto, essa reação em que o organismo busca a adaptação, mais sim uma decorrência deste estado, caso a adaptação e o equilíbrio psíquico não ocorra, afirma o autor. Conclusao Por fim, é importante recomendar aos profissionais de gestão de pessoas e da área de saúde, que estejam vigilantes aos primeiros sinais de tensão excessiva entre os trabalhadores. Para que o ambiente de trabalho mantenha-se em equilíbrio, é importante também identificar e controlar as práticas sabidamente obsessivo-compulsivas, que, muitas vezes são, até mesmo, incentivadas pelas organizações. (Pereira, 2010) Para a OIT (Genebra 1984), os fatores psicossociais no trabalho consistem, por um lado, em interações entre o trabalho, seu ambiente, a satisfação no trabalho e as condições de sua organização; e, por outro, em capacidades do trabalhador, suas necessidades, sua cultura e sua situação pessoal fora do trabalho; o que afinal, através de percepções e experiências, pode influir na saúde e no rendimento e na satisfação no trabalho. "O estresse é o resultante da percepção entre a discordância entre as exigências da tarefa e os recursos pessoais para cumprir ditas exigências. Uma pessoa pode sentir esta discordância como desafio e, em conseqüência, reagir dedicando-se à tarefa. Pelo contrário, se a discordância é percebida como ameaçadora, então o trabalhador enfrentar-se-á a uma situação estressante negativa, que pode conduzi-lo a evitar a tarefa" (Seeger & Van Elderen, 1996,). Figueroa et al., de modo oportuno colocam que as doenças ocupacionais, mentais e físicas, refletem, em termos monetários, o custo oculto do estresse no trabalho, se não se procura criar o âmbito de trabalho propício para o bemestar e para a produtividade. É muito provável que as patologias associadas à atividade de trabalho apresentem um maior índice de incidência em países em desenvolvimento como o nosso e que, por esta razão, influam sobre o bemestar e a qualidade de vida dos trabalhadores. Numerosas pesquisas refletem este fenômeno. Assim, Spielberger e Reheiser (1994) afirmam textualmente: "O estresse no local de trabalho resulta em custos muito elevados para indivíduos, organizações empresárias e a sociedade em geral, pelos seus efeitos deletéreos sobre a produtividade, absenteísmo, absentismo, saúde e bemestar". Cox e Ferguson (1994) argumentam que o efeito global do ambiente de trabalho está sustentado por uma complexa interação entre fatores físicos, psicossociais e organizacionais, com uma via final comum em termos da psicofisiologia individual de cada trabalhador. INSTRUMENTOS DE PESQUISA OCUPACIONAL A abordagem multicausal do adoecer, que leva em conta a interação entre fatores patogênicos, destacando a importância dos fatores ambientais, configura uma evolução dos métodos científicos para investigação da saúde (Albrecht, 1979) Nesse âmbito, os estudos sobre estresse e a saúde mental dos trabalhadores têm ganhado relevo na comunidade científica. Observa-se o crescimento acentuado de estudos voltados à avaliação dos aspectos relacionados à organização do trabalho e suas repercussões sobre a saúde do trabalhador (Seligmann-Silva, 1994) Evidente, cabe ressaltar que limitações podem ser encontradas em razão das diversidades metodológica, teórica e conceitual adotadas nestes estudos. Abordar o tema saúde/adoecimento mental no ambiente de trabalho envolve diversas nuances como interesses e pontos de vista nem sempre convergentes. O estabelecimento de uma causalidade entre esses fatores também é uma questão polêmica e envolve aspectos éticos, política previdenciária e burocracia intersetorial. Glina et al. (2001) apontam o estabelecimento de nexo causal entre adoecimento e situação de trabalho como uma questão complexa, visto que isso envolve idiossincrasias e características individuais, assim como história de vida e de trabalho enquanto fatores influenciadores, configurando-se um processo específico para cada indivíduo. Os autores defendem ser fundamental para o nexo causal entre o agravo que acomete o trabalhador e o trabalho a descrição detalhada da situação de trabalho, envolvendo o ambiente, a organização e a percepção da influência do trabalho no processo de adoecer. Inicialmente, é de fundamental importância que os profissionais da área da Saúde Mental e Trabalho resgatem, de fato, o trabalho como categoria transversal imprescindível na vida humana para poder compreender o homem em sua complexa rede de relacionamentos entre a subjetividade e a objetividade. Afastar-se da tendência de privilegiar quaisquer dessas dimensões para efeito de análise é outra atitude necessária. Sendo assim, é possível, por meio da análise e da compreensão das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores (dimensões objetivas) e do resgate da história vivida (dimensões subjetivas), trazer à tona as questões do homem no seu contexto de trabalho, abordagem essa que ele chamou de “pluridimensional” por permitir um trânsito de uma dimensão para outra. Silva et al. (2009) referem que o resgate das situações concretas de trabalho pode ser feito pela Análise Ergonômica do Trabalho (para compreender o espaço real do trabalho) e pela Psicossociologia do Trabalho (para compreender a subjetividade dos trabalhadores), enquanto disciplinas que podem auxiliar no processo de compreensão das experiências subjetivas, intersubjetivas e objetivas dos trabalhadores. Para o processo de angariar informações, podem-se utilizar todos os instrumentos disponíveis, tais como questionários, entrevistas, observações, além de consultas ao ambulatório médico da organização, dados estatísticos existentes na literatura, contato com sindicatos da categoria, órgãos que cuidam da saúde do trabalhador etc., diz Silva et al. Alguns instrumentos para coleta de informações no ambiente corporativo com a finalidade de abordar o problema da saúde mental no trabalho estão descritos adiante. SELF-REPORTING QUESTIONNAIRE (SRQ-20) O instrumento de screening – o Self Reporting Questionnaire O Self Reporting Questionnaire (SRQ-20) foi desenvolvido por Harding et al. (1980) e validado por uma série de estudos internacionais conduzidos pela Organização Mundial da Saúde,com sensibilidade variando de 62,9% a 90% e especificidade, de 44% a 95% (WHO, 1993). Transtornos mentais comuns (TMC) – expressão criada por Goldberg & Huxley (1992) para descrever “transtornos comumente encontradas na população e que sinalizam uma interrupção do funcionamento normal”. Consistem em sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. (Ludermi, 2000) Este estudo aponta para um desempenho aceitável do SRQ-20 em avaliar os transtornos mentais comuns, ao destacar que, apesar da natureza múltipla dos transtornos emocionais, o instrumento demonstrou habilidade em identificar fatores que, juntos, denotam características indispensáveis para o rastreamento da saúde mental em âmbito ocupacional (Santos, Araújo & Oliveira, 2009). O Self-Report Questionnaire é um instrumento (...) que permite fazer o rastreamento de distúrbios psiquiátricos menores (depressão, ansiedade, distúrbios somatoformes e neurastenia), mais do que estabelecer categorias diagnósticas como na Classificação Internacional de Doenças-10 (CID-10) e Diagnostic and Statistical Manual-IV (DSM-IV) (Mari, 1986). Foi desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como instrumento de rastreamento de sintomas psiquiátricos menores e foi validado no Brasil por Mari e Willians. Consiste de 20 itens auto-aplicáveis com escore zero ou 1 (um) relacionados aos sintomas neuróticos, em que o escore zero indica que o sintoma esteve ausente nos últimos 30 dias e o escore 1, que esteve presente. Um escore total e obtido pela soma dos pontos (De Marco, 1986) Os pontos de corte estabelecidos para caracterizar a presença de distúrbios psiquiátricos menores foram distintos para os sexos – 6 para os homens e 7 para as mulheres (Costa, 2002), indicando que todo escore superior a 6 / 7 é considerado caso, o que indica a presença de sintomas psiquiátricos menores. O SRQ-20 (..) é, “inclusive, superior ao próprio exame clínico realizado por médicos generalistas” (Mari et al., 1987). O questionário do Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20) apresenta itens distribuídos por quatro grupos de sintomas, conforme segue: Grupo de sintomas Humor depressivo-ansioso Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? Assusta-se com facilidade? Sente-se triste ultimamente? Você chora mais do que de costume? Sintomas somáticos Tem dores de cabeça freqüentemente? Você dorme mal? Você sente desconforto estomacal? Você tem má digestão? Você tem falta de apetite? Tem tremores nas mãos? Decréscimo de energia vital Você se cansa-se com facilidade? Tem dificuldade em tomar decisão? Tem dificuldades de ter satisfação em suas tarefas? O seu trabalho traz sofrimento? Sente-se cansado todo o tempo? Tem dificuldade de pensar claramente? Pensamentos depressivos Sente-se incapaz de desempenhar papel útil em sua vida? Tem perdido o interesse pelas coisas? Tem pensado em dar fim à sua vida? Sente-se inútil em sua vida? O SRQ-20 está disponível para aplicação prática em “Anexos”, neste trabalho. MALASH BURNOUT INVENTORY O Inventário de Burnout de Maslach (MBI) foi projetado para avaliar a Síndrome de Burnout em trabalhadores. O termo burnout foi utilizado primeiramente por Freudenberger, médico psicanalista que descreveu este fenômeno como um sentimento de fracasso e exaustão causado por um excessivo desgaste de energia e recursos. Freudenberger complementou seus estudos em 1975 e 1977, incluindo em sua definição comportamentos de fadiga, depressão, irritabilidade, aborrecimento, sobrecarga de trabalho, rigidez e inflexibilidade (Freudenberger, 1974; França, 1987; Perlman & Hartman, 1982). De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), quase todos os estudos indicam que a conceituação de burnout emerge como uma síndrome psicossocial oriunda de uma resposta crônica aos estressores interpessoais no trabalho. O instrumento mais utilizado para avaliar burnout, independentemente das características ocupacionais da amostra e de sua origem, segundo Gil-Monte e Peiró (1999), é o MBI - Maslach Burnout Inventory, elaborado por Christina Maslach e Susan Jackson em 1978. Sua construção inicial partiu de duas dimensões, exaustão emocional e despersonalização, sendo que a terceira dimensão, realização profissional, surgiu após estudo desenvolvido com centenas de pessoas de uma ampla gama de profissionais (Maslach, 1993). Possuía originalmente 47 itens e atualmente, na versão traduzida e adaptada por Lautert (1995), é auto-aplicado e totaliza 22 itens. O presente MBI está estruturado com pontuação de 1 a 5, também usado por Tamayo (1997) na adaptação brasileira do instrumento, pois foi verificado que os sujeitos apresentavam dificuldade em responder muitos itens devido à especificidade dos critérios da escala original. O mesmo tipo de categorias de freqüência utilizadas na versão americana (Maslach & Jackson,1986) está sendo utilizada agora: 1 para nunca, 2 para algumas vezes ao ano, 3 para algumas vezes ao mês, 4 para indicar algumas vezes na semana e 5 para diariamente. Em sua primeira versão, o inventário avaliava a intensidade e a freqüência das respostas com uma escala de pontuação do tipo Likert, variando de 0 a 6, que na adaptação brasileira do instrumento foi validada para cinco categorias de frequência, pois foi verificado que as pessoas apresentavam dificuldade em responder muitos itens devido à especificidade dos critérios da escala original. Por fim, cabe salientar que Carlotto & Câmara (2004) definem, em seu estudo de validação do MBI como aqui apresentado, que “a versão brasileira do MBI apresenta os requisitos necessários em termos de consistência interna e validade fatorial para ser amplamente utilizada na avaliação da síndrome de burnout em nossa realidade”. Cabem as seguintes observações acerca do Instrumento - MBI, na análise dos resultados da sua auto-aplicação, conforme salientam Carloto e Câmara (2004): Ele avalia a síndrome, não considerando os elementos antecedentes e as conseqüências de seu processo; Ele avalia como o trabalhador vivencia seu trabalho em termos de exaustão emocional, realização profissional e despersonalização, em índices de burnout de acordo com escores e Ele avalia altos níveis de burnout se forem encontrados altos escores em exaustão emocional (EE) realização profissional (RP). e despersonalização (DE) e baixos escores em A matriz estrutural das dimensões de Burnout (MBI) e as questões relacionadas são apresentadas abaixo: Exaustão Emocional (EE) Sinto que meu trabalho está me desgastando. Quando termino minha jornada de trabalho sinto-me esgotado. Quando me levanto pela manhã e me deparo com outra jornada de trabalho, já me sinto esgotado. Sinto que estou trabalhando demais. Sinto-me frustrado com meu trabalho. Sinto-me como se estivesse no limite de minhas possibilidades. Sinto-me emocionalmente decepcionado com meu trabalho. Sinto que trabalhar todo o dia com pessoas me cansa. Sinto que trabalhar em contato direto com as pessoas me estressa. Realização profissional (RP) Sinto que estou exercendo influência positiva na vida das pessoas, através de meu trabalho. (RP) Creio que consigo muitas coisas valiosas nesse trabalho. (RP) Sinto que posso criar, com facilidade, um clima agradável em meu trabalho. (RP) No meu trabalho eu manejo com os problemas emocionais com muita calma. (RP) Sinto-me estimulado depois de haver trabalhado diretamente com quem tenho que atender. (RP) Sinto-me muito vigoroso no meu trabalho (RP) Sinto que trato com muita eficiência os problemas das pessoas as quais tenho que atender. (RP) Sinto que posso entender facilmente as pessoas que tenho que atender. (RP) Despersonalização (DE) Sinto que me tornei mais duro com as pessoas, desde que comecei este trabalho (DE) Fico preocupado que este trabalho esteja me enrijecendo emocionalmente. (DE) Sinto que realmente não me importa o que ocorra com as pessoas as quais tenho que atender profissionalmente. (DE) Sinto que estou tratando algumas pessoas com as quais me relaciono no meu trabalho como se fossem objetos impessoais. (DE) Parece-me que os receptores do meu trabalho culpam-me por alguns de seus problemas. (DE) Em “Anexos” o MBI é apresentado como Modelo já estruturado para aplicação na Pesquisa Organizacional da síndrome de burnout. ESCALA DE "SATISFAÇÃO NO TRABALHO" DO OSI - OCCUPATIONAL STRESS INDICATOR. Satisfação no trabalho é um fenômeno amplamente estudado e esse interesse decorre da influência que a mesma pode exercer sobre o trabalhador, afetando sua saúde física e mental, atitudes, comportamento profissional, social, tanto com repercussões para a vida pessoal e familiar do indivíduo como para as organizações (Cura, 1994; Locke, 1976; Pérez-Ramos, 1980; Zalewska 1999a, 1999b). Os estudos sistematizados sobre satisfação no trabalho iniciaram-se na década de 30 (Klijn, 1998) e desde então têm despertado o interesse de profissionais de saúde e de pesquisadores das mais diversas áreas. Ainda não há consenso sobre conceitos nem sobre teorias ou modelos teóricos de satisfação no trabalho. Além disso, diferentes conceitos e definições para o mesmo construto têm gerado dificuldades e até mesmo falhas metodológicas em estudos sobre o tema (Cura, 1994; Pérez-Ramos, 1980). Apesar de relevante e freqüentemente mencionada, a relação entre satisfação no trabalho e saúde tem sido insuficientemente pesquisada e aplicada (Martinez, 2002). O conhecimento sistematizado sobre a maneira como se configuram e os resultados das relações entre satisfação e saúde são relevantes, tanto para auxiliar no estabelecimento de um consenso ou consolidar teorias sobre satisfação no trabalho, como, principalmente, para que estes conhecimentos sejam utilizados como subsídios na concepção, implementação e avaliação de medidas preventivas e corretivas no ambiente psicossocial no trabalho, visando a promoção e proteção da saúde do trabalhador. O ambiente psicossocial no trabalho engloba a organização do trabalho e as relações sociais de trabalho. Fatores psicossociais no trabalho são aqueles que se referem à interação entre e no meio ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais e habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, causas extra-trabalho pessoais que podem, por meio de percepções e experiência, influenciar a saúde, o desempenho no trabalho e a satisfação no trabalho (Organização Internacional do Trabalho, 1984). A escala "Satisfação no Trabalho" do Occupational Stress Indicator (OSI) é um instrumento traduzido e validado para o português por Swan et al (1993). Ela possibilita a mensuração da satisfação com 22 aspectos psicossociais no trabalho por meio de escalas de Likert de seis pontos, indo de enorme insatisfação até enorme satisfação. Para avaliação da satisfação com cada aspecto do trabalho, as variáveis foram categorizadas em: Insatisfação (enorme insatisfação e muita insatisfação), Satisfação Intermediária (alguma insatisfação e alguma satisfação) e Satisfação (muita satisfação e enorme satisfação). O questionário é composto por 22 perguntas com 6 opções de resposta cada uma. Cada resposta recebe um valor, sendo o valor 1 correspondente a “enorme insatisfação” e o valor 6 a “enorme satisfação”. Dessa forma o menor valor possível de ser obtido é 22 e o maior 132. Jorge & Glina et al. (2008) propuseram em um estudo sobre satisfação no trabalho como variável dependente a presença de insatisfação no trabalho, definida quando a soma dos valores das 22 questões resultou em valor igual ou inferior a 76. Em um estudo, Martinez and Latorre (2006), citando Bussing A, Bissels T, Fuchs V & Perrar KM, além de Fraser TM., argumentam que “apenas uma minoria de trabalhadores declara sua insatisfação, o que pode levar a uma prevalência subestimada de insatisfação no trabalho. Mesmo em situações adversas com acidentes, condições de trabalho inadequadas, acentuada divisão do trabalho e altos índices de absenteísmo elevados níveis de satisfação podem ser observados. Arroba e James (1988) consideram as fontes de pressão ocupacional como sendo o estresse manifestado quando as pessoas estão trabalhando. Todavia, apontam também que nem sempre as fontes de pressão são oriundas diretamente do trabalho realizado ou decorrente de acontecimentos no trabalho. Fatores relacionados com as expectativas econômico-financeiras do indivíduo, com questões políticas ou com questões relacionadas a aspectos sociais ou culturais também devem ser consideradas como fontes de pressão sobre o indivíduo. Segundo Cooper, Sloan e Williams o estresse decorre de características negativas no ambiente percebidas pelo indivíduo, as quais são capazes de lhe trazerem conseqüências físicas ou mentais indesejáveis. Essas percepções são resultantes da incapacidade do indivíduo de combater por si só as fontes causadoras de estresse. (Moraes & Sícoli, 2004). Para Albretch (1988, in Moraes & Sícoli, 2004), a produtividade é resultante da capacidade, interesse e competência do trabalhador, que se sente produtivo à medida que recebe a remuneração de acordo com o que faz e segundo a complexidade das tarefas exercidas. Se o trabalhador é exigido dentro de limites pessoais estabelecidos, ele vai reagir de acordo com a pressão recebida e desafios percebidos. O autor considera ainda que, para o equilíbrio entre o indivíduo e a organização, é necessário que as condições de produtividade sejam satisfeitas. Esse equilíbrio é considerado como uma zona de conforto que permite que o indivíduo funcione bem e satisfaça suas necessidades. As condições físicas do trabalho, o volume e variedade das tarefas, o nível de controle exercido e o status e desafios representados pelo trabalho executado desempenham um papel importante nesta zona de conforto. Esses fatores são fontes de pressão que geram os estresses ocupacionais, que é entendido, por este autor, como conseqüência da falta ou do excesso desses fatores, que podem comprometer o desempenho e provocar efeitos colaterais indesejáveis no indivíduo. Diz ainda Albrecht (1999), num ambiente de trabalho, se não houver certo grau de pressão, não haverá estímulo dos indivíduos para o trabalho ou para enfrentar desafios, superar obstáculos e produzir mais. Isso seria até benéfico, contribuindo para que as pessoas se tornem saudáveis, produtivas e satisfeitas com a organização em que atuam, exigindo cada vez mais esforço para alcançar os resultados esperados. Oliveira (1999) destaca que as empresas exigem cada vez mais dos empregados, em termos de utilização de todo o seu capital intelectual e total comprometimento com o trabalho. Mas não se comprometem com os indivíduos, exigindo que eles exercitem sua empregabilidade se quiserem manter seus empregos. Tais exigências podem vir a constituir-se fontes de pressão causadoras de estresse nos indivíduos. Para Cooper, Sloan e Williams (1988), os agentes estressores são comuns a todo trabalho ou ocupação, variando os tipos de agentes e a potência de sua manifestação de acordo com as características da organização em que o indivíduo atua e com a personalidade da própria pessoa. Seis categorias foram estabelecidas pelos autores para determinar as fontes de pressão potencialmente geradoras de estresse (Occupational Stress Indicator – OSI – COOPER et al. (1988)): Fatores Intrínsecos ao trabalho: Volume de trabalho, surgimento de novas tecnologias, natureza e conteúdo das tarefas realizadas ou exigidas, ritmo de trabalho. Relacionados ao Papel Gerencial: Nível de supervisão e controle sobre o trabalho. Fatores de Inter-relacionamento: Apoio, disponibilidade para o outro, atitudes de isolamento, conflitos de personalidade. Relacionados ao Desenvolvimento da Carreira ou Realização: Sistema de compensação, oportunidades de desenvolvimento e treinamento, reconhecimento e valorização do desempenho, perspectivas de melhoria ou promoção, segurança. Relacionados à Estrutura e Clima Organizacional: Políticas e valores empresariais, nível de comunicação, recursos financeiros, clima de trabalho, características estruturais. Interface Casa/ Trabalho: Ocorrências externas ao trabalho, apoio familiar, afastamento ou aposentadoria, instabilidade ou insegurança familiar, conciliação ou conflito entre a carreira e a vida familiar. A respeito do instrumento OSI, Moraes (1994), o considera uma opção segura e viável de pesquisa, aliando estrategicamente praticidade e eficácia, já que se baseia em um modelo teórico validado internacionalmente, tendo se revestido de um caráter prático ao resgatar mais de 25 anos de pesquisas empíricas na área. A versão em português da Escala de satisfação no trabalho, disponível em Couto (2000), encontra-se descrita em “Anexos” FALTA ANEXO D, p. 456 do livro Novas Perspectivas...Hudson MODELO BÁSICO DE ABORDAGEM DA QUESTÃO DA SAÚDE MENTAL NO TRABALHO PROPOSTO POR COUTO (2007) DESCRIÇÃO O modelo, segundo seu autor, tem a “finalidade de abordar o trabalho, para definir se uma Organização está ou não envolvida na origem de transtornos mentais para seus trabalhadores”. Couto reconhece que o Modelo encontra limitações, e sua concepção segue a linha hermenêutica e o critério da intersubjetividade e da interdependência, para validação, é feita pelos profissionais da área da saúde mental com vivência organizacional. Pode ser aceito ou rejeitado como formulação básica. Encontra-se, o Modelo, aberto a propostas de inclusão, modificação e exclusão de acordo com evidências da clinica médica e da psicologia organizacional. Couto (2007) estabeleceu, no modelo proposto as Zonas ou Fases pelas quais o trabalhador pode evoluir diametralmente para a saúde ou para o adoecimento mental, que se Inter-relacionam com as Seis Dimensões que podem interferir na Saúde Mental do Trabalhador, sendo denominadas de: Qualidade da gestão Realidade psicossocial Estresse Características intrínsecas da tarefa Quadro de valores Modelo de organização do trabalho Dependendo dos fatores pessoais e organizacionais no trabalho, um indivíduo pode evoluir para o lado da saúde mental, quanto para o lado da doença mental, passando pelas fases ou zonas cujos elementos estão abaixo: ZONAS ou SAÚDE MENTAL DOENÇA MENTAL FATORES Zona de: Tensão e sofrimento Tensão e sofrimento: Ansiedade e tensão Ansiedade e tensão Calejamento Insatisfação no trabalho Uso de medicamentos Zona de: Adaptação sustentada: Adaptação precária: Controle sobre a tarefa Defesas Satisfação com a tarefa individuais Postura sublimada Descompromisso Esperança Medo psicológicas Desesperança Defesas psicológicas coletivas Fatores de: Lapidação Ruptura Zona de: Alta qualidade de vida e ótima Adoecimento mental: saúde mental: Crises emocionais Alta motivação com o trabalho Fadiga, Estafa Trabalho enquanto referencial do individuo valor no Períodos de depressão Psicopatia deformada social Deformado agressivo A figura elucida de forma sintética as inter-relações: Falta figura da página 76 Adaptado de Couto (2007) EVOLUÇÃO PARA O LADO DA SAÚDE MENTAL. Couto coloca o calejamento no lado da saúde mental, ao invés daquele do adoecimento mental por considerar, pela observação do cotidiano, que um individuo calejado (“que aprendeu a não dar murro em ponta de faca”) mantém, em geral, um bom equilíbrio psicológico. Evolução para o curso da doença mental. (falta completar) Couto, (2007), em “Saúde Mental no Trabalho: um modelo de abordagem e uma forma sistematizada de pesquisa nas organizações” explicita seis dimensões do trabalho que podem interferir na Saúde Mental do trabalhador: A qualidade da gestão do processo produtivo As situações de trabalho em que há equilíbrio entre objetivos e metas planos de trabalho compatíveis com a capacidade do trabalhador e contemplando adequadamente as variáveis 1T e 8M apontam para boa qualidade de gestão e, conseqüentemente para uma boa saúde mental. Fases de desequilíbrio podem ocorrer quando o trabalhador assume responsabilidades além de seus limites, inclusive com sofrimento mental, podendo levá-lo a crescimento e auto-desenvolvimento desde que haja nível de compatibilidade entre as exigências do trabalho, a estrutura do individuo e o suporte social. A má gestão dos processos produtivos que geram tensão e sofrimento mental no trabalho não é diferente daqueles fatores que predispõem a distúrbios musculoesqueléticos, especialmente de membros superiores. Resultado em geral ruim (perda de prazos ou prazos assumidos sem considerar a capacidade da mão de obra, perda de clientes, falta de qualidade do produto ou serviço, retrabalho), aumento da carga de trabalho, de objetivos e metas sem preparo adequado, falta de pessoal e de qualificação de mão de obra, adensamento do trabalho sem base técnica, aumento da jornada (horas-extras), falta de material para completar o trabalho, sistemas auxiliares não prontos no momento do uso são alguns exemplos que levam a tensionamento e podem colocar o trabalhador em “zona de adaptação precária”, que leva ao adoecimento mental. No entanto, a discussão das dificuldades e a existência de sinais de mudança são eventos decisivos para levar o trabalhador para a “zona de adaptação sustentada”, que predispõe o trabalhador para o lado da saúde mental. A realidade psicossocial do trabalho e os fatores higiênicos Couto considera “uma das áreas mais críticas na tênue questão da saúde mental no trabalho”. Uma realidade social favorável é fator preponderante para encaminhamento do trabalhador para o lado da saúde mental; ao contrário, uma realidade social desfavorável e fatores higiênicos sem controle representam uma das dimensões mais significativas na precipitação do adoecimento mental. No entanto, mesmo o trabalhador em “zona de adaptação sustentada” pode adoecer frente a uma emoção agressivamente desagradável. Ambientes higiênica e ergonomicamente adequados; coerência no trato de assuntos de pessoal; nível correto de tensão; chefias seguras e capazes, interessadas pelos subordinados e por seus problemas com a empresa; comunicação interpessoal verdadeira e construtiva, com ambiente eticamente responsável no trato de assuntos particulares e equilíbrio entre capacidade, responsabilidade e remuneração são considerados fatores de realidade social favorável. Mesmo que o contesto em epigrafe possa inferir as situações que ensejam uma realidade social desfavorável estes caos serão citados, pelo fato da importância que Couto delega ao tema: nível muito alto de tensão e pressão excessiva; relações humanas desrespeitosas e ocorrência freqüente de fatos de desrespeito entre pessoas; chefia inseguras, incapazes e perversas; insegurança no emprego e bloqueio de ascensão na carreira; condições ergonômicas muito ruins e ambiente com alta incidência de ruído, calor, vapores e contaminantes; correlação de desequilibrada entre capacidade, responsabilidade e salário. O trabalhador, ainda que submetido a essa realidade desfavorável, pode não adoecer e, além disso, permanecer na “zona de adaptação sustentada” se tiver uma postura psicológica de sublimação, uma identificação com a tarefa e uma percepção de sinais de mudança. Aqueles trabalhadores situados em “zona de adaptação precária” podem ser acometidos de doença mental diante de fatores psicossociais como pressão excessiva, desrespeito humano; humilhação (implícita ou mobbing, explicita) ou assédio moral, assédio sexual ou frustração importante. ESTRESSE O estresse como fator de adoecimento mental no trabalho está relacionado a qualidade da gestão do processo produtivo: boa parte da sobrecarga pela deficiente ou ausente qualidade da gestão é devida ao alto nível de estresse que causa. O entendimento do estresse no trabalho, segundo modelo denominado por Couto (2007) de “Curva de desempenho”, está no equilíbrio da equação exigências da tarefa versus estrutura psíquica do individuo. O afastamento do “ajuste ótimo”, que se caracteriza por motivação ótima, Idéias claras e respostas corretas, para a esquerda ou para a direita levam a fadiga psíquica, a primeira manifestando-se pelo estresse da monotonia (exigências da tarefa < estrutura psíquica do individuo) e a segunda levando para o estresse da sobrecarga (exigências da tarefa > estrutura psíquica do individuo). O estresse por monotonia está representado pela reação de embotamento mental e crises emocionais e o de sobrecarga pela estafa ou esgotamento físico e mental. As situações de trabalho capazes de induzir crescimento e levar à saúde mental correspondem a carga razoável de atividade; autoridade ebm delegada; trabalho desafiador; prazos e flexibilidade razoáveis. O trabalho desafiador pode fazer o trabalhador passar por um período de sofrimento mental, com ansiedade e tensão, podendo dirigir-se para uma zona de adaptação sustentada ou precária, sendo determinante no fluxo de saúde mental (ou doença) o desenvolvimento da capacidade de dar conta (ou não) do desafio. Carga de trabalho muito alta ou bem abaixo da capacidade do trabalhador; muitos prazos limites ou prioridades; ausência de poros ou inflexibilidade; contradições tensionadoras ou alta velocidade de mudanças são o perfil para encaminhamento do individuo para uma “zona de adaptação precária” e alta chance de adoecimento mental. AS CARACTERÍSTICAS INTRÍNSECAS DA TAREFA O conhecimento apreendido ou adquirido pelo trabalhador acerca de sua tarefa ou atividade pode induzir a uma boa saúde mental. São fatores decisivos para a satisfação do trabalhador com a tarefa (não com a empresa ou com o emprego) a identidade com a tarefa; a autoridade e a criatividade sobre o processo; os ciclos completos e flexibilidade, além do feedback sobre o trabalho desenvolvido. As características intrínsecas da tarefa, conforme Couto (2007) se constituem numa das dimensões mais importantes de levar o individuo a “zona de alta qualidade de vida e ótima saúde mental” quando existem “fatores de lapidação” como a participação efetiva, o crescimento na carreira e desafios pouco acima dos limites. No entanto, o fato de possuir as características nominadas não garante estágio na “zona de adaptação sustentada” ou ótima saúde mental no trabalho, pois está bem demonstrado que níveis elevados de estresse (ou de elevado nível de simultaneidade) podem deteriorar a qualidade de vida no trabalho. As tarefas de características intrínsecas pobres podem ser as genéricas e o trabalho fragmentado; a pouca ou a ausência de autoridade ou criatividade sobre o processo e a ausência de feedback. Mesmo nestas circunstâncias, dependendo das características do trabalhador e sua expectativa de vida, especialmente quando ainda o processo é eficaz, a remuneração é compensadora e a empresa mantém um bom ambiente de trabalho (sistema social) há possibilidade do trabalhador se manter na “zona de adaptação sustentada”. Os pontos de ruptura (má qualidade n trabalho, remuneração baixa) conduzem à doença mental. O QUADRO DE VALORES. A convivência com uma realidade por um terço, ou mais, de uma jornada diária de trabalho influencia o trabalhador na direção da saúde ou do adoecimento mental, preceitua Couto. No construto de uma motivação sadia e crescimento a coerência, o respeito ao ser humano, a meritocracia, o estimulo à responsabilidade e a preservação de aspectos éticos. O trabalhador de motivação sadia se interessa pelo que faz, se envolve em proposta de melhorias, age pelo lado da ética, denuncia coisas erradas mesmo se tenha de expor sua segurança. Práticas que permeiam organizações, valores negativos ou “desvalores”, como a incoerência, estímulo à submissão sem questionamento, impunidade em quesitos de atos ou atitudes desonestas, protecionismo, pessoas desonestas ocupando cargos de responsabilidade e promoção de pessoas de caráter deformado, são pontos de ruptura que levam ao adoecimento mental quando o agir fora dos valores éticos, quando há inibição da autenticidade, da coerência e da liberdade. O MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO A organização do trabalho, como cita Couto, é um dos tópicos mais explorados atualmente como sendo a origem dos transtornos mentais no trabalho. Hudson de A Couto descreve um Modelo Hierarquizado com as “principais práticas de potencial de deterioração da saúde mental” compostas por: 1. Clara definição do sistema de trabalho pela hierarquia, 2. Tempos pré-determinados, 3. Linhas de produção sem variação e sem maior desafio, 4. Obediência a padrões, 5. Uso de técnicas de racionalidade obsessivo-compulsiva com critérios cada vez mais apertados. Alguns dos fatores de ruptura do equilíbrio mental, em modelos hierarquizados de Organização do Trabalho são a alienação total, dissociação corpo-mente, a carga enorme de trabalho, o alto grau de controle e a falta de mecanismos de regulação. Couto enfatiza que nem sempre a listagem em epigrafe significa doença mental e que um dos fatores que conduzem o trabalhador à “zona de adaptação precária” é a existência de estresse. Quando o processo é eficaz ou o trabalhador se identifica com a tarefa ele pode conviver numa “zona de adaptação sustentada”. Os modelos de Organização do Trabalho conhecidos como autogerenciáveis “costumam ser acompanhados de adaptação sustentada e de desenvolvimento da saúde mental; no entanto tem que ser eficazes e competitivos para fazer frente à concorrência e aos custos de processo operacional. Incluem a participação dos trabalhadores no desenvolvimento de organização do trabalho, estabelecimento de tempos flexíveis, implantação de células de produção – “pontas de estrelas; porta-voz” e uso de técnicas de racionalidade para crescimento e melhoria. ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA DE ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL Couto (2007) ao desenvolver um modelo de abordagem da questão Saúde Mental na Empresa propôs um instrumento de pesquisa que permite ao psicólogo organizacional verificar o grau de adaptação mental do trabalhador à Tarefa, à Área em que trabalha e à Empresa. Na introdução de sua proposição, conjectura que “o ser humano não é apenas braços e capacidade de pensar e solucionar questões do trabalho; como ser único, ele tem capacidade reflexiva, de pensar sobre suas situações e vida, inclusive sobre seu grau de ajustamento no trabalho”. Adverte que “o ambiente de trabalho contém exigências de esforços manuais, também pode conter situações ocasionadoras de tensão, algumas delas relacionadas à própria organização do trabalho, outras ligadas ao ambiente psicossocial.Quando essa sobrecarga tensional for causada pelo trabalho, deve ser detectada de forma adequada e conduzida também de forma adequada, visando conseguir-se ambiente de trabalho sadio sob o ponto de vista psíquico”. E conclui: “É importante lembrar que esse tipo de situação , quando não adequadamente conduzido, pode acarretar insatisfação com o trabalho, com suas previsíveis conseqüências, e até mesmo adoecimento mental relacionado com o trabalho”. Como objetivos menciona, o autor, os seguintes: Detectar aspectos de organização do trabalho e psicossociais importantes existentes no dia-a-dia das organizações e sobre os quais deve haver uma intervenção precoce, estruturada e eficaz e Detectar aspectos pessoais causadores de transtornos emocionais, orientando o trabalhador para ajuda externa. Couto, ainda considera importantes os ganhos intangíveis ao aplicar a Entrevista semi-estruturada de acompanhamento de pessoal: Possibilidade de contato pessoal - um dos fatores mais citados como altamente positivos pelos trabalhadores é a possibilidade de falar, de expressar sua percepção a respeito das coisas da área, especialmente de situações que no dia a dia, as pessoas as pessoas não falam, seja por não terem tempo, seja por não terem um ambiente favorável para tal; Compilação de exemplos – fazendo a entrevista com os trabalhadores, o psicólogo passa a ter uma série de exemplos, que ilustrarão seu debate com a alta gerência visando proposição de medidas corretivas e Ajudar quem precisa ser ajudado – tanto o que se refere à proposição de melhorias na realidade psicossocial das áreas, como no encaminhamento no caso de questões pessoais. Entre os encaminhamentos possíveis, um deles é à assistente social. DR HUDSON: OPINAR ACERCA DAS MODIFICAÇÕES NO “ROTEIRO DE ENTREVISTA” Modelo de Entrevista e Metodologia da sua Aplicação. A estruturação na proposta de apresentação do Modeo de Entrevista difere do original pela introdução de questões de auto-aplicação com o objetivo de reduzir o tempo de entrevista, maior facilidade na tabulação dos dados e produção de estatística. Perguntas consideradas importantes para avaliação da linguagem não verbal do trabalhador são três. O momento permite avaliar ou esclarecer as respostas às questões auto-aplicadas, emitindo-se opinião final (....) O Entrevistador, ou pessoa treinada para este tipo de atividade, no contato inicial com o trabalhador estabelecendo o que o que Couto denomina de “Contrato Psicológico”, ou seja, explica os objetivos da entrevista, garante o sigilo e a confidencialidade das informações que lhe forem passadas e procura deixá-lo bem à vontade. O trabalhador é orientado a iniciar a parte de auto-aplicável do questionário, podendo ser assistido pelo próprio Entrevistador em caso de dúvidas. De posse das respostas dadas pelo trabalhador, o Entrevistador complementa os dados com a parte das perguntas abertas e ao final emite seu juízo acerca da entrevista como um todo. A sugestão é de que o momento para realização da entrevista seja a da consulta médica relativa ao Exame Ocupacional Periódico (conforme o PCMSO da Empresa). A aplicação rotineira, mesmo que não seja atendida a totalidade dos trabalhadores, é útil para detectar precocemente os.sinais de ajuste/desajuste individual, da área ou na empresa. Descrição das etapas e do detalhamento da entrevista. Responda fazendo um círculo em torno do número em cada questãO, de acordo com a seguinte escala: 5 = Sempre/sim, 4 = Muitas vezes, 3 = Algumas vezes, 2 = Raramente, 1 = Nunca/não. Parte 1: questões auto-aplicáveis: Dimensão Gestão do Processo Produtivo Você considera que a empresa dá condições de se conseguir os resultados que lhe são cobrados? Você considera que a maneira (método) que você executa seu trabalho lhe permite alcançar os resultados (produção) esperados? Procurar detectar o ponto de ruptura do equilíbrio mental: carga enorme de trabalho sem os recursos para tal, com cobrança rigorosa de resultados Modelo de Organização do Trabalho Você considera que a intensidade do trabalho é adequada? Você considera que o seu trabalho tem um ritmo puxado do inicio ao fim? Você considera que lhe são apresentadas ou que realiza tarefas ou atividades de menor exigência ou mais simples? Você considera que o trabalho está adequadamente organizado em sua área? Você considera que tem sido oferecido pela chefia oportunidade para participar com sugestões para melhorar a organização no trabalho? Você recebe informações de seus superiores sobre como está indo seu trabalho? Procurar detectar os pontos de ruptura do equilíbrio mental: Alienação total, Dissociação corpo-mente, Carga enorme de trabalho, Altíssimo grau de controle e poucos mecanismos de regulação Aspectos Intrínsecos da Tarefa e Satisfação com o Trabalho Você se identifica com o trabalho que faz nesta empresa? Você tem enxergado ou percebido perspectivas profissionais ou de crescimento no seu trabalho? Você considera que o seu salário, desde que entrou na Empresa, é compatível com o a responsabilidade ou desempenho que você tem no seu trabalho? Procurar detectar os pontos de ruptura do equilíbrio mental: Má qualidade de vida no trabalho, Remuneração abaixo dos níveis mínimos de dignidade. Realidade Psicossocial Você tem percebido um bom relacionamento entre as pessoas em seu ambiente de trabalho? Você tem se sentido pressionado no seu trabalho por parte de seus colegas ou superiores? Você tem sido desrespeitado, humilhado no seu dia a dia no seu local de trabalho pelos superiores? Procurar detectar pontos de ruptura do equilíbrio mental: Pressão excessiva, Comportamento obsessivo-compulsivo/paranóico/perversidade, Desrespeito, Assédio moral – humilhação explícita, humilhação implícita (mobbing), assédio sexual, Frustração importante Quadro de Valores Você tem percebido coerência dos supervisores no trato de assuntos de pessoal? Você tem percebido se os critérios são aplicados a todos quando as pessoas progridem, ou são promovidas, na sua área de trabalho? Você, em algumas situações, tem feito alguma coisa que esteja eticamente errado? Você tem sentido que a chefia de sua área tem agido com protecionismo para com colegas de trabalho? Pontos de ruptura do equilíbrio mental: Exigência de agir fora dos valores éticos, Inibição de autenticidade e de coerência, Inibição de liberdade Estresse Você, em algumas situações, foi cobrado para obter resultados na produção sem ter as condições de equipamentos ou materiais adequados para chegar lá? Você presenciou algum episódio na área que tenha levado o pessoal a se sentir muito frustrado, individualmente ou coletivamente? Procurar detectar pontos de ruptura do equilíbrio mental: Carga excessiva de trabalho; Falta de controle dos meios para conseguir um determinado resultado; Cobrança dos resultados; Frustração importante Fechamento Você tem manifestado queixas da área na qual exerce sua atividade de trabalho, ou de sua Empresa, para sua chefia? Você indicaria ou convidaria, ou já indicou, um amigo ou um parente para trabalhar na sua área ou na sua Empresa? A chefia tem lhe tratado bem e tem encaminhado adequadamente os problemas relatados de sua área ou da sua Empresa? Parte 2: Perguntas abertas Como você se sente atualmente em relação à empresa? Procurar perceber aspectos detectados por um bom treinamento em análise de discurso, por exemplo: silêncio, atitudes de retração, sorriso versus enrijecimento da expressão facial. Qual o problema que você considera mais importante no seu local de trabalho? Explorar com o trabalhador o que ele tiver apresentado como grande fator causador de tensão; detalhar, buscar exemplos, anotar os exemplos, procurar ver se é uma percepção só dele ou se outros trabalhadores têm a mesma percepção. As conclusões do entrevistador podem ser com a tarefa, com a área e com a empresa nos quesitos Ajustado, Duvidoso ou Desajustado. Por fim, cabem a critério do entrevistador, os encaminhamentos para tratar da solução ou soluções que o caso requer. parte final Conclusão: Os instrumentos de pesquisa de campo aqui sugeridos visam sugestões aos agentes envolvidos (medicina ocupacional, oferecer psicologia organizacional e assistência social) para abordar a problemática da saúde/doença mental no trabalho no sentido de melhorar o ambiente organizacional. O tratamento dos transtornos mentais será de responsabilidade de profissional médico, auxiliado por psiquiatra, se for ocaso, na assim chamada fase aguda. Mas, a vigilância para evitar que a Organização do Trabalho seja desencadeadora ou agravadora de transtornos psíquicos é responsabilidade de gestão e compartilhamento de informações, exceto as de caráter individual, que por questão ético-profissional deve ser resguardada. O seguimento deverá ser por equipe multidisciplinar, aqui incluído o médico do trabalho, o psicólogo organizacional (e clínico, se necessário) e o assistente social. No seguimento, por afastamento prolongado (mais de 15 dias) sugerese a aplicação do WHOQOLBrief para avaliação ............. No retorno ao trabalho, caso haja afastamento do trabalho, as condições préexistentes no ambiente de trabalho devem ter sido adequadamente abordadas, sob o risco de recorrência de adoecimento. Para mudanças positivas, as decisões nas instituições têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e os recursos humanos direcionados,afirma Moreno-Jimenez (2000). Añade el informe que el análisis de las políticas existentes ha definido ciertos elementos capitales como muy adecuados, y subraya que «el paso más fundamental para las organizaciones es reconocer y aceptar que la salud mental es um tema importante, y asumir el compromiso de promoverla». REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEXOS SRQ-20 – AVALIAÇÃO DO SOFRIMENTO MENTAL Leia as instruções com atenção antes de iniciar o preenchimento das questões. Estas questões estão relacionadas a certas dores ou sintomas ou problemas que podem ter surgido ou ter lhe incomodado nos últimos trinta (30) dias. Se você acha que a questão se aplica a você e você teve o problema nos últimos 30 dias assinale com “x” a coluna SIM. Se a questão não se aplica a você e você não teve o problema nos últimos 30 dias assinale com “x” a coluna NÃO. N Pergunta 1 Sente-se nervoso, tenso ou preocupado? 2 Assusta-se com facilidade? 3 Sente-se triste ultimamente? 4 Você chora mais do que de costume? 5 Tem dores de cabeça frequentemente? 6 Você dorme mal? 7 Você sente desconforto estomacal? 8 Você tem má digestão? 9 Você tem falta de apetite? 10 Tem tremores nas mãos? 11 Você se cansa com facilidade? 12 Tem dificuldade em tomar decisões? 13 Tem dificuldades de ter satisfação em suas tarefas? 14 O seu trabalho lhe traz sofrimento? 15 Sente-se cansado todo o tempo? 16 Tem dificuldade de pensar claramente? 17 Sente-se incapaz de desempenhar papel útil em sua vida? 18 Tem perdido o interesse pelas coisas? 19 Tem pensado em dar fim à sua vida? SIM NÃO 20 Sente-se útil em sua vida? X Soma de Respostas SIM e NÃO QUESTIONÁRIO DE COOPER: COMO VOCÊ SE SENTE EM RELAÇÃO AO SEU TRABALHO? Este questionário procura averiguar qual é o seu grau de satisfação pessoal ou de satisfação em relação ao seu trabalho. Dê a sua opinião honesta e responda a todas as questões. Em cada uma das próximas questões assinale a alternativa que mais se aproxima do seu sentimento em relação aos aspectos do trabalho. Responda fazendo um “X”, de acordo com a seguinte escala: 6- enorme satisfação 5 – muitas satisfações 4 – algumas satisfações 3 – algumas insatisfações 2- muitas insatisfações 1 – enorme insatisfação N QUESTÕES 1 Comunicação e forma de fluxo de informações na empresa em que você trabalha 2 Seu relacionamento com outras pessoas na empresa em que você trabalha 3 O sentimento que você tem a respeito de como seus esforços são avaliados 4 5 O conteúdo do trabalho que você faz O grau em que você se sente motivado por seu trabalho 6 Oportunidades pessoais em sua carreira atual 7 O grau de segurança no seu emprego atual 8 A extensão em que você se identifica com a imagem externa ou realizações de sua empresa 9 O estilo de supervisão que seus superiores usam. 10 A forma pela qual mudanças e inovações são 6 5 4 3 2 1 implementadas 11 O tipo de tarefa e o trabalho em que você é cobrado 12 O grau em que você sente que você pode crescer e se desenvolver em seu trabalho 13 A forma pela qual os conflitos são resolvidos 14 As oportunidades que seu trabalho lhe fornece no sentido de você atingir suas aspirações e ambições 15 O seu grau de participação em decisões importantes 16 O grau em que a organização absorve as potencialidades que você julga ter 17 O graus de flexibilidade e de liberdade que você julga ter no seu trabalho 18 O clima psicológico que predomina na empresa em que você trabalha 19 Seu salário em relação à sua experiência e à responsabilidade que tem 20 A estrutura organizacional da empresa em que você trabalha 21 O volume de trabalho que você tem para desenvolver 22 O grau em que você julga estar desenvolvendo suas potencialidades na empresa em que trabalha xx Soma de Pontos por Coluna MALASH BURNOUT INVENTORY MBI Este questionário procura avaliar os fatores pessoais e os fatores do trabalho que interferem no seu desempenho pessoal e profissional. Marque com um “X” a sua escolha e responda a todas as questões. Enquadre cada uma das questões de forma mais adequada com o seu pensamanto e de acordo com a seguinte escala: 1 - nunca 2 - algumas vezes ao ano 3 - algumas vezes ao mês 4 - algumas vezes na semana 5 - diariamente QUESTÕES 1 2 3 4 5 1 Sinto que meu trabalho está me desgastando 2 Quando termino minha jornada de trabalho sinto-me esgotado 3 Quando me levanto pela manhã e me deparo com outra jornada de trabalho, já me sinto esgotado 4 Sinto que estou trabalhando demais 5 Sinto-me frustrado com meu trabalho 6 Sinto-me como se estivesse no limite de minhas possibilidades 7 Sinto-me emocionalmente decepcionado com meu trabalho 8 Sinto que trabalhar todo o dia com pessoas me cansa 9 Sinto que trabalhar em contato direto com as pessoas me estressa Soma de pontos por coluna 10 Sinto que estou exercendo influência positiva na vida das pessoas, através de meu trabalho 11 Creio que consigo muitas coisas valiosas nesse trabalho 12 Sinto que posso criar, com facilidade, um clima agradável em meu trabalho 13 No meu trabalho eu manejo com os problemas haver trabalhado emocionais com muita calma 14 Sinto-me estimulado depois de diretamente com quem tenho que atender 15 Sinto-me muito vigoroso no meu trabalho 16 Sinto que trato com muita eficiência os problemas das pessoas as quais tenho que atender 17 Sinto que posso entender facilmente as pessoas que tenho que atender Soma de Pontos por Coluna 18 Sinto que me tornei mais duro com as pessoas, desde que comecei este trabalho 19 Fico preocupado que este trabalho esteja me enrijecendo emocionalmente 20 Sinto que realmente não me importa o que ocorra com as pessoas as quais tenho que atender profissionalmente 21 Sinto que estou tratando algumas pessoas com as quais me relaciono no meu trabalho como se fossem objetos impessoais 22 Parece-me que os receptores do meu trabalho culpam-me por alguns de seus problemas Xx Soma de Pontos por Coluna ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA DE ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL Responda fazendo um “X” para cada questão abaixo. Não deixe questões sem responder. Assinale sua resposta de acordo com a seguinte escala: 5 - Sempre/sim 4 - Muitas vezes 3 - Algumas vezes 2 - Raramente 1 - Nunca/não Entrevista Semi-estruturada de ACOMPANHAMENTO DE PESSOAL GESTÃO DO PROCESSO PRODUTIVO 5 4 3 2 1 01 Você considera que a empresa lhe dá condições para conseguir os resultados que lhe são cobrados? 02 Você considera que a maneira (método) que você executa o seu trabalho lhe permite alcançar os resultados (produção) esperados? MODELO DE ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 5 4 3 2 1 03 Você considera que a intensidade do trabalho é adequada? 04 Você considera que o seu trabalho tem um ritmo puxado do inicio ao fim? 05 Você considera que lhe são apresentadas ou que realiza tarefas ou atividades de menor exigência ou mais simples? 06 Você considera que o trabalho está adequadamente organizado em sua área? 07 Você considera que tem sido oferecido pela chefia oportunidade para participar com sugestões para melhorar a organização no trabalho? 08 Você recebe informações de seus superiores sobre como está indo seu trabalho? ASPECTOS INTRÍNSECOS DA TAREFA E 5 4 3 2 1 SATISFAÇÃO COM O TRABALHO 09 Você se identifica com o trabalho que faz nesta empresa? 10 Você tem enxergado ou percebido perspectivas profissionais ou de crescimento no seu trabalho? 11 Você considera que o seu salário, desde que entrou na Empresa, é compatível com o a responsabilidade ou desempenho que você tem no seu trabalho? REALIDADE PSICOSSOCIAL 5 4 3 2 1 12 Você tem percebido um bom relacionamento entre as pessoas em seu ambiente de trabalho? 13 Você tem se sentido pressionado no seu trabalho por parte de seus colegas ou superiores? 14 Você tem sido desrespeitado, humilhado no seu dia a dia no seu local de trabalho pelos superiores? QUADRO DE VALORES 5 4 3 2 1 15 Você tem percebido coerência dos supervisores no trato de assuntos de pessoal? 16 Você tem percebido se os critérios são aplicados a todos quando as pessoas progridem, ou são promovidas, na sua área de trabalho? 17 Você, em algumas situações, tem feito alguma coisa que esteja eticamente errado? 18 Você tem sentido que a chefia de sua área tem agido com protecionismo para com colegas de trabalho? ESTRESSE 5 4 3 2 1 19 Você, em algumas situações, foi cobrado para obter resultados na produção sem ter as condições de equipamentos ou materiais adequados para chegar lá? 20 Você presenciou algum episódio na área que tenha levado o pessoal a se sentir muito frustrado, individualmente ou coletivamente? FECHAMENTO 21 Você tem manifestado queixas da área na qual exerce sua 5 4 3 2 1 atividade de trabalho, ou de sua Empresa, para sua chefia? 22 Você indicaria ou convidaria, ou já indicou, um amigo ou um parente para trabalhar na sua área ou na sua Empresa? 23 A chefia tem lhe tratado bem e tem encaminhado adequadamente os problemas relatados de sua área ou da sua Empresa? PERGUNTAS ABERTAS 1. Como você se sente atualmente em relação à empresa? 2. Qual o problema que você considera mais importante no seu local de trabalho? CONCLUSÕES DO ENTREVISTADOR: Com a tarefa: ( ) Ajustado; ( )Duvidoso; ( ) Desajustado. Com a área: ( ) Ajustado; ( ) Duvidoso; ( ) Desajustado. Com a empresa: ( ) Ajustado; ( ) Duvidoso; ( ) Desajustado. Encaminhamentos CONCLUSÕES Ações preventivas dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho envolvem, necessariamente, um diagnóstico preciso sobre as condições e os ambientes de trabalho, ou seja, o reconhecimento prévio das atividades e dos locais de trabalho onde existam fatores de risco potencial.