A estrutura temporal do texto: a articulação do tempo em redações de pré-universitários Objetivos Este trabalho analisa a constituição da estrutura do texto de candidatos a vagas no ensino superior, verificando se ela sofre alguma alteração no que concerne à sua organização temporal de acordo com a procedência escolar desses candidatos e sua freqüência ou não ao cursinho pré-vestibular. Material e métodos O corpus para análise é formado por 72 redações do vestibular/2006 da Universidade de São Paulo, selecionadas aleatoriamente de um conjunto de 270 textos. Seu estudo se dá sob a ótica analítico-interpretativa, guiada inicialmente por estruturas temporais, marcadas por referências temporais, a saber: referência a um tempo passado (remoto ou não), referência ao tempo presente (por meio do advérbio hoje ou atualmente, por exemplo, ou por referência direta à coletânea de textos que acompanha a proposta de redação do vestibular em questão) ou ao tempo futuro. O saber, que pode ser obtido via educação não-escolar (ambiente familiar e meios de comunicação de massa, por exemplo, fortemente marcado pela oralidade) e educação escolar (âmbito em que há um contato direto com a escrita), tem, mesmo neste último caso, a oralidade como veículo e presença permanente. No interior da tradição oral, o modo como o discurso é selecionado dentro de um saber atua na transmissão do passado e na constituição de uma memória coletiva. Os escreventes recorrem de diferentes modos à memória discursiva, empregando temporalidades ligadas tanto à tradição oral quanto à tradição escrita de maneira mais ou menos encadeada e logicamente organizada de acordo com um contato mais ou menos intenso e imediato com a escrita. Se “há sempre uma fala em todo texto escrito” (Corrêa, 2001, p. 157), temos que a oralidade, constitutiva do escrever, traz ao texto ecos de uma memória construída também fora da escola e que influencia o saber formal. Dessa forma, a oralidade surge na escrita e se mantém ativa na construção do texto mesmo quando é produzido por pessoas com alta escolaridade. As marcas de uma memória anterior à educação escolar deixariam, nos textos, indícios de uma identidade histórica. Assim sendo, teorias correspondentes à tradição oral, ao letramento e às características da escrita são pontos de apoio à pesquisa, bem como as relacionadas ao tempo lingüístico e às temporalidades que regem uma produção escrita, sem perder de vista suas relações com a memória, com a identidade do sujeito escrevente e com a construção do discurso. Conclusões A fase inicial da pesquisa ainda não permite que conclusões consistentes sejam traçadas. Apresentamos, como resultado parcial, apenas os tipos de arranjos temporais até o momento encontrados. A leitura das redações e a separação dos sintagmas que organizam temporalmente esses textos com base nesses arranjos temporais está em andamento. Após essa subdivisão e, também, após o trabalho analítico de interpretação dos arranjos temporais por meio dos quais cada texto se desenvolve, dados percentuais obtidos e comparados entre si nos permitirão avaliar de uma forma mais concreta a hipótese inicial: se as diversas influências recebidas dentro e fora da escola, de instituições diferentes (ensino público ou privado e passagem ou não por cursinho pré-vestibular), produzem diferentes articulações temporais nos textos. Referências Bibliográficas AFONSO, A. J. Os lugares da educação. In: VON SIMSON, O. et al. (orgs). Educação nãoformal: cenários da criação. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001: 29-38. PELEN, J-N. Memória da literatura oral, a dinâmica discursiva da literatura oral: reflexões sobre a noção de etnotexto. In: Projeto História: história e oralidade. Trad. Maria T. Sampaio. São Paulo: Educ/Fapesp, 2001: 49-77. CORRÊA, M. L. G. Letramento e heterogeneidade da escrita no ensino do português. In: SIGNORINI, Inês (org). Investigando a relação oral / escrito e as teorias do letramento. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2001: 135-166.