IEL – UNICAMP – Curso “Letramento, Práticas Discursivas e Criança” Disciplina Letramento: Teorias e Práticas - Profa. Drª Ângela KleimanATIVIDADE AGENDA 6 – RESENHA DO LIVRO “ORALIDADE, ESCRITA E PAPÉIS SOCIAIS NA INFÂNCIA” Maria do Carmo Gomes Galib Maria Silvia Cintra Martins é professora do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos e autora do livro “Oralidade, escrita e papéis sociais na infância”, 2008. Nesse livro inicia uma discussão a respeito da linguagem e do universo cognitivo infantil, analisando a iniciativa governamental com a inserção das crianças no mundo letrado mais precocemente. No 1º capítulo: “Observando as práticas escolares”, a autora nos convida a acompanhar as práticas pedagógicas de três professoras com metodologias diferentes e com crianças com histórias e experiências diversas e que vão freqüentar a 1ª série do 1º grau. No 2º capítulo “Um método natural de aquisição de linguagem”, Martins apresenta Célestin Freinet, um educador francês que propõe um “método natural” que favorece o desenvolvimento infantil, através de um ambiente escolar dinâmico que respeita o interesse precoce pela linguagem escrita, entendendo que o domínio da escrita alfabética aos seis anos pode ser uma conquista normal e desejável. “O poder integrador dos projetos: a experimentação, a observação e a diversidade de registros”: é este o tema tratado no 3º capítulo que fala da importância do trabalho com projetos, em particular com a educação das crianças pequenas, o que permite e favorece a expressividade infantil. Faz referência ao desenvolvimento do trabalho de dois projetos e expõe dois princípios fundamentais neles implícitos: a pesquisa e os registros. Além disso, chama a atenção para a maneira como esses dois projetos contribuem para fazer com que a vida escolar seja quase uma continuidade da vida na família e na comunidade a que a criança pertence. O texto apresenta alguns recursos relacionados à comunicação multimodal e os aspectos simbólicos que permitem às crianças envolvidas no trabalho, aprofundar sua compreensão pessoal a respeito de um fato, apresentar esse entendimento aos demais e discutir em conjunto a respeito das abordagens do mesmo fato. Chama a atenção também, o trabalho com projetos, quando (...) “as crianças levam para a escola seu potencial expressivo e ali, com auxílio e apoio dos professores, aprendem a desenvolver essa sua expressividade de formas múltiplas, através de múltiplas linguagens, sendo a escrita apenas uma dessas formas de expressão.” (Pág. 37) O livro faz menção à educadora francesa Josette Jolibert que oferece possibilidades de projetos que envolvem empreendimentos, como por exemplo, organizar uma biblioteca na escola; projetos referentes ao cotidiano da escola: elaboração de normas gerais referentes ao funcionamento da escola como um todo e; projetos de aprendizado: são os componentes curriculares desenvolvidos ao longo do ano, a partir de uma conversa inicial com as crianças, para saber sobre seus interesses e expectativas. Os pontos positivos do trabalho com projetos é que eles podem ser considerados como projetos de letramento, já que proporciona diversas situações propícias para a leitura e para o registro das experiências vividas, através de vivências de escrita como prática social genuína e significativa. Quanto ao professor, abre-se espaço para que este assuma o papel de professor/pesquisador, atento às atividades dos alunos, sejam elas orais ou gráficas, interferindo e adequando a metodologia para cada situação. No capítulo “refletindo sobre o papel e o significado da linguagem escrita”, a reflexão é sobre a aquisição da linguagem e sua descrição, sinalizando para a importância da situação de comunicação. Muitas foram as contribuições situacionais e sócio-interacionais para a compreensão do processo de ensino-aprendizagem da língua materna. Hoje, muitos estudiosos alertam para o fato de que “(...) a escrita deve ser vista, também, como uma linguagem, e não como uma mera transcrição da língua falada, uma simbolização de segunda ordem a serviço, da língua falada.” (pág, 48). A autora cita L. S. Vigotski a respeito da aquisição da escrita: a escrita pode também ser aprendida letra a letra, sílaba a sílaba – porém a essência da escrita não se resume a isso. Também faz referência a Célestin freinet quando este diz que o fato de que muitas pessoas aprenderam a escrever pelo método antigo não significa, absolutamente, que elas se apropriaram definitivamente da escrita, e prova disso reside em que a maioria não se serve da escrita como forma de comunicação e de expressão. O lingüista francês Émile Benveniste diz: “(...) é na linguagem que o homem se constitui como Sujeito, o que significa dizer que a linguagem que utilizamos faz parte íntima de nossa identidade social.” e Mikhail Bakhtin postula uma relação complexa entre a formação da consciência individual e a consciência social. Ressalta na linha do pensamento de Vigotski, que uma forma de se evitar a conseqüência perversa do analfabetismo funcional passa pela exploração da pré-história da linguagem escrita. Isso envolve motivar a expressividade infantil no desenho e nas linguagens gráficas em geral, sem a insistência excessiva no modo alfabético de notação escrita, sem a ritualização, passando a escrita aí a adquirir significado, enquanto manifestação de expressão. “O Jogo de Papéis do Faz-de-Conta infantil: mais experimentação e observação”. Aqui os jogos e as brincadeiras infantis ganham destaque na reflexão da autora, citando Walter Benjamin, filósofo alemão que traçou uma distinção fundamental entre a educação da burguesia e a educação proletária. Segundo ele, na educação proletária, cabe ao faz-de-conta infantil, envolver tensões que se resolvem dentro do trabalho coletivo. Essas tensões são os verdadeiros educadores. Nesta tarefa, cabe ao professor o papel de observador, e seu principal papel é o de conduzir o “gesto infantil” para as diferentes formas de expressão: pintura, recitação, música, dança, etc, predominando a improvisação própria do jogo do faz-de-conta infantil. O importante a destacar é que no exercício do faz de conta, torna-se muito íntima a relação que existe entre linguagem e constituição da identidade social, envolvendo a constituição de planos espaciais e temporais. É a atividade principal das crianças em idade pré-escolar, também do ponto de vista da zona do desenvolvimento proximal. O faz-de-conta comporta: exercício de diferentes papéis; exercício da capacidade de transitar do concreto para o abstrato; construção de elos narrativos e; construção de elos causais e explicativos. No último capítulo “De volta à escola” a autora volta à escola para um dia de mostra de trabalhos. Encontra as crianças, as professoras e começa outra conversa sobre os percursos e idéias de cada uma sobre seus avanços, reflexões e desenvolvimento do trabalho. BIBLIOGRAFIA MARTINS, Maria Silvia Cintra. Oralidade, escrita e papéis sociais na infância. – Campinas, SP: Mercado de Letras, 2008.