Epidemiologia IV- Vigilância Epidemiológica Vigilância Epidemiológica no Pronto-Socorro Material de consulta em sala de aula - 2016 Prof.ª Sandra Costa Fonseca Monitoras: Amanda Vanessa Demarchi Daniele Francine Pereira Sumário Atendimento a mulheres vítimas de Violência Sexual 1 Acidente com Material Biológico 6 Profilaxia pós-exposição à Raiva 10 Profilaxia de Tétano Acidental 15 Intoxicações Exógenas 18 Acidentes por animais peçonhentos 21 Referências 22 Anexos – Fichas de notificação/Investigação 23 Atendimento a mulheres vítimas de Violência Sexual O que o profissional de saúde deve fazer? Notificação através do preenchimento da Ficha Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências; Acolhimento e Atendimento imediato para prevenção de: Gestação – Anticoncepção de Emergência; DST não virais; Hepatite B; HIV. 1. Exames para acompanhamento A coleta imediata de sangue e de amostra do conteúdo vaginal realizadas no momento de admissão da vítima de violência sexual é necessária para estabelecer a eventual presença de DST, HIV ou hepatite prévias à violência sexual. Entretanto, tal coleta não deve retardar o início da profilaxia. 2. Anticoncepção de Emergência Deve ser prescrita para todas as mulheres e adolescentes expostas; Preferível até 72h após exposição, porém pode ser utilizada até 5 dias. 3. Doenças Sexualmente Transmissíveis Não Virais Grande parte das infecções genitais decorrentes de violência sexual pode ser evitada, como gonorréia, sífilis, infecção por clamídia, tricomoníase e cancro mole. Pelo baixo impacto da tricomoníase na saúde da mulher e 1 por apresentar reações adversas e interações medicamentosas significativas, a administração profilática do metronidazol é facultativa ou pode ser postergada. * A administração profilática do metronidazol e as alternativas pode ser postergada ou evitada em casos de intolerância gastrintestinal conhecida ao medicamento. Também deve ser postergada nos casos em que houver prescrição de contracepção de emergência e de profilaxia antirretroviral. *Não poderá ser utilizado no primeiro trimestre de gestação. Fonte: MINISTÉRIO DA SAÚDE: Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Infecções Sexualmente Transmissíveis Relatório de Recomendação, 2015. Em pessoas com história comprovada de hipersensibilidade aos medicamentos de primeira escolha, em especial à penicilina, deve-se utilizar alternativa de profilaxia. As drogas de primeira escolha poderão ser substituídas por alternativas, conforme quadro abaixo: 4. Hepatites Virais A imunoprofilaxia contra a hepatite B está indicada em casos de violência sexual nos quais ocorra exposição ao sêmen, sangue ou outros fluidos corporais do agressor; Em condições de desconhecimento ou dúvida sobre o status vacinal, a profilaxia deverá ser administrada. NÃO É NECESSÁRIO AGUARDAR EXAMES DA MULHER PARA INICIAR A PROFILAXIA. As mulheres sem vacinação também devem receber dose única de imunoglobulina anti-hepatite B (IGHAHB - 0,06 ml/kg, IM), até máximo de 5mL. A IGHAHB pode ser administrada em até, no máximo, 14 dias após a violência sexual, embora seja recomendada a aplicação nas primeiras 48 horas; 2 Mulheres imunizadas contra hepatite B, com esquema completo, não necessitam de reforço ou de IGHAHB. Mulheres não imunizadas ou que desconhecem seu status vacinal devem receber a primeira dose da vacina e completar o esquema. Mulheres com esquema vacinal incompleto devem completar as doses recomendadas. A gestação não contraindica a imunização com vacina ou soro, em qualquer idade gestacional. Em exposições com paciente-fonte infectado pelo vírus da hepatite C e naquelas com fonte desconhecida, está recomendado o acompanhamento da vítima. Como o período de incubação da hepatite C dura em média 7 semanas (variando entre 2 a 24 semanas) e mais de 75% dos casos agudos são assintomáticos, é necessária a investigação laboratorial para o diagnóstico. Momento de realização dos testes: D0 D45 - Bioquímica (ALT) - Bioquímica (ALT) - Sorologia anti-HCV D90 - Bioquímica (ALT) - Sorologia anti-HCV - HCV-RNA (PCR qualitativo) D180 - Bioquímica (ALT) - Sorologia anti-HCV 5. Infecção pelo HIV 3 4 5 Acidente com Material Biológico O que o profissional de saúde deve fazer? Notificação através do preenchimento da Ficha Acidente de Trabalho com Exposição à Material Biológico; Registro do acidente em CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Procedimentos Recomendados: Cuidados imediatos com a área de exposição; Avaliação do paciente-fonte; Quimioprofilaxia para HIV; Imunoprofilaxia para HBV; Medidas relacionadas ao HCV. 1. Cuidados Imediatos com a Área de Exposição Lavagem exaustiva do local exposto com água e sabão nos casos de exposições percutâneas ou cutâneas; Nas exposições de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com água ou com solução salina fisiológica; Procedimentos que aumentam a área exposta (cortes, injeções locais) e a utilização de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou glutaraldeído são contra-indicados. 2. Avaliação do paciente-fonte 6 3. Quimioprofilaxia para HIV A indicação de PEP (Quimioprofilaxia pós-exposição ocupacional) requer a avaliação do risco da exposição, o que inclui: A definição do tipo de material biológico envolvido; A gravidade e o tipo da exposição; A identificação do paciente-fonte e sua condição sorológica anti-HIV; As condições clínicas, imunológicas e laboratoriais do paciente-fonte identificado como infectado pelo HIV/AIDS. Os critérios de gravidade na avaliação do risco do acidente são dependentes do volume de sangue e da quantidade de vírus presente. Os acidentes mais graves são aqueles que envolvem: Maior volume de sangue (lesões profundas provocadas por material perfurocortante, acidentes com agulhas previamente utilizadas na veia ou artéria do paciente-fonte e acidentes com agulhas de grosso calibre); Maior inóculo viral representado por pacientes-fonte com infecção pelo HIV/AIDS em estágios avançados da doença ou com infecção aguda pelo HIV, A quimioprofilaxia deve ser recomendada nos casos de exposição com risco significativo de contaminação pelo HIV. Para exposições com menor risco, a quimioprofilaxia deve ser considerada se houver altos títulos virais no paciente-fonte. Estudos em exposição sexual e transmissão vertical sugerem que indivíduos com carga viral <1500 cópias/ml apresentam risco muito reduzido de transmissão do HIV; Material biológico com risco de transmissão do HIV: sangue, sêmen, secreção vaginal, líquor, tecidos, exsudatos inflamatórios, cultura de células, líquidos: pleural; pericárdico; peritoneal; articular; amniótico; Materiais sem risco de transmissão do HIV: urina, fezes, escarro, vômitos, lágrima – a presença de sangue nestes materiais, tornam o material como sendo de risco. Quando indicada, a PEP deverá ser iniciada o mais rápido possível, idealmente, nas primeiras horas após o acidente. Recomenda-se que o prazo máximo, para início de PEP, seja de até 72h após o acidente. A duração da quimioprofilaxia é de 28 dias. 7 Fluxograma para PEP (2015) 8 4. Imunoprofilaxia para HBV A vacinação pré-exposição contra a hepatite B é a principal medida de prevenção de hepatite B ocupacional entre profissionais de saúde. Idealmente a vacinação deverá ser feita antes da admissão do profissional nos serviços de saúde. Quando o esquema vacinal for interrompido não há necessidade de recomeçá-lo. Nos esquemas incompletos de vacinação recomenda-se a comprovação da resposta vacinal através da solicitação do anti-HBs um a dois meses após a última dose (com intervalo máximo de 6 meses). Quando não há resposta vacinal adequada após a primeira série de vacinação, grande parte dos profissionais (até 60%) responderá a uma série adicional de 3 doses. Recomendações para profilaxia de hepatite B após exposição ocupacional a material biológico* A imunoglobulina hiperimune contra hepatite B (IGHAHB) também deve ser aplicada por via IM. Ela fornece imunidade provisória por um período de 3 a 6 meses após a administração. A eficácia é maior quando a IGHAHB é utilizada dentro das primeiras 24 a 48 horas após o acidente. 5. Medidas Relacionadas ao HCV Não existe medida específica eficaz para redução do risco de transmissão do vírus da hepatite C após exposição ocupacional. Os estudos não comprovaram benefício profilático com o uso de imunoglobulinas. Dados atualmente disponíveis sugerem que o interferon só atua quando a infecção pelo HCV está estabelecida, parecendo indicar que não atuariam como profilaxia pós-exposição. 9 Profilaxia pós-exposição à Raiva O que o profissional de saúde deve fazer? Notificação através do preenchimento da Ficha de Investigação para Atendimento Antirrábico Humano; Procedimentos Recomendados: Cuidados com o ferimento; Classificar o acidente de acordo com as características do ferimento e do animal; Avaliar prevenção e controle da Raiva Humana; Conduta em caso de possível re-exposição ao vírus da Raiva. 1. Cuidados com o ferimento - Lavar imediatamente o ferimento com água corrente, sabão ou outro detergente. A seguir, devem ser utilizados antissépticos que inativem o vírus da raiva (como o polvidine, digluconato de clorexidine ou álcool iodado). Essas substâncias deverão ser utilizadas uma única vez, na primeira consulta. Posteriormente, lavar a região com solução fisiológica. - Havendo contaminação da mucosa com saliva, outras secreções ou tecidos internos de animal suspeito de raiva, seguir o esquema profilático indicado para lambedura da mucosa. A mucosa ocular deve ser lavada com solução fisiológica ou água corrente. - Em casos de lambedura na pele íntegra, por animal suspeito, recomenda-se lavar o local com água e sabão. - Não se recomenda a sutura dos ferimentos. Quando for absolutamente necessário, aproximar as bordas com pontos isolados. Havendo necessidade de aproximar as bordas, o soro antirrábico, se indicado, deverá ser infiltrado uma hora antes da sutura. - Proceder à profilaxia do tétano segundo o esquema preconizado (caso não seja vacinado ou com esquema vacinal incompleto) e uso de antibióticos nos casos indicados, após avaliação médica. 2. Classificar o acidente de acordo com as características 2.1. Características do ferimento - Local: ferimentos que ocorrem em regiões próximas ao sistema nervoso central (cabeça, face ou pescoço) ou em locais muito inervados (mãos, polpas digitais e planta dos pés) são graves, porque facilitam a exposição do sistema nervoso ao vírus. A lambedura de mucosas é considerada grave, porque as mucosas são permeáveis ao vírus, mesmo quando intactas, e também porque as lambeduras, geralmente, abrangem áreas mais extensas. A lambedura da pele íntegra não oferece risco. - Profundidade: os ferimentos devem ser classificados como superficiais (sem presença de sangramento) ou profundos (apresentam sangramento, ou seja, ultrapassam a derme). Os ferimentos profundos, além de aumentar o risco de exposição do sistema nervoso, oferecem dificuldades à assepsia. Mas vale ressaltar que os ferimentos puntiformes são considerados como profundos e, algumas vezes, não apresentam sangramento. - Extensão e número de lesões: deve-se observar a extensão da lesão e se ocorreu apenas uma única lesão ou múltiplas, ou seja, uma porta de entrada ou várias. Por exemplo, uma mordedura pode ter várias portas de entrada. Considerar cada perfuração como uma porta de entrada. De acordo com os critérios acima estabelecidos, as exposições podem ser assim classificadas: - Acidentes leves: Ferimentos superficiais, pouco extensos, geralmente únicos, em tronco e membros (exceto mãos, polpas digitais e planta dos pés); podem acontecer em decorrência de mordeduras ou arranhaduras causadas por unha ou dente; Lambedura de pele com lesões superficiais. - Acidentes graves: Ferimentos na cabeça, face, pescoço, mão, polpa digital e/ou planta do pé; ferimentos profundos, múltiplos ou extensos, em qualquer região do corpo; lambeduras de mucosas; lambeduras de pele onde já existe lesão grave; ferimentos profundos causados por unha de gato; qualquer ferimento provocado por morcego. 10 2.2. Características do animal envolvido no acidente Cão e gato estado de saúde do animal no momento da agressão possibilidade de observação do animal por 10 dias procedência do animal hábitos de vida do animal Animais silvestres – morcego de qualquer espécie, micos (sagüi e “soin”), macaco, raposa, guaxinim, quati, gambá, roedores silvestres, cachorro do mato, felídeos selvagens, etc. devem ser classificados como animais de risco. Animais domésticos de interesse econômico ou de produção – bovinos, bubalinos, equídeos, caprinos, ovinos, suínos e outros também são animais de risco. Animais de baixo risco – os seguintes roedores e lagomorfos (urbanos ou de criação) são considerados como de baixo risco para a transmissão da raiva, não sendo necessário, portanto, indicar profilaxia da raiva em caso de acidentes causados pelos mesmos: ratazana-de-esgoto; rato-de-telhado; camundongo; cobaia ou porquinho-da-índia; hamster; coelho. 3. Avaliar o uso de instrumentos para prevenção e controle da Raiva Humana; Instrumentos disponíveis para prevenção e controle da Raiva Humana: Vacina humana (Vacina de cultivo celular) Soros para uso humano (Heterólogo e Homólogo) 3.1. Vacina Humana (Vacina de Cultivo Celular) São vacinas mais potentes, seguras e isentas de risco. Dose e via de aplicação Via intramuscular – são apresentadas na dose 0,5ml e 1ml, dependendo do fabricante (verificar embalagem e/ou lote). A aplicação intramuscular deve ser profunda, na região do deltóide ou vasto lateral da coxa. Via intradérmica – a dose da via intradérmica é de 0,1ml. Deve ser aplicada em locais de drenagem linfática, geralmente nos braços, na inserção do músculo deltóide. Contra-indicação: A vacina não tem contra-indicação (gravidez, mulheres lactantes, doença intercorrente ou outros tratamentos). Eventos adversos: As vacinas contra a raiva produzidas em meios de cultura são seguras. De acordo com os trabalhos publicados na literatura, causam poucos eventos adversos e, na quase totalidade dos casos, de pouca gravidade. - Manifestações locais: Caracterizadas por dor, prurido, edema, enduração e pápulas urticariformes. A incidência relatada na literatura varia entre 3% e 25% dos vacinados. - Manifestações gerais: Febre, mal-estar, cefaléia, náuseas, dor abdominal, dores musculares e tonturas - Manifestações de hipersensibilidade: As reações de hipersensibilidade relatadas na literatura médica são associadas à vacina produzida em células diplóides humanas (HDCV – Human Diploid Cells Vaccine), que, atualmente, não é disponível no Brasil. - Manifestações neurológicas: A incidência de reações adversas neurológicas com as vacinas produzidas em cultivo celular é muito baixa. 11 3.2 Soros para uso humano 3.2.1. Soro heterólogo O soro heterólogo é uma solução concentrada e purificada de anticorpos, preparada em equídeos imunizados contra o vírus da raiva. Deve ser conservado em geladeira, entre +2º a +8ºC, observando o prazo de validade do fabricante. A dose indicada é de 40UI/kg de peso do paciente. Deve-se infiltrar nas lesões a maior quantidade possível da dose do soro. Quando a lesão for extensa e múltipla, a dose pode ser diluída, em soro fisiológico, para que todas as lesões sejam infiltradas. O uso do soro não é necessário quando o paciente recebeu esquema profilático completo anteriormente. No entanto, em situações especiais, como pacientes imunodeprimidos ou dúvidas com relação ao esquema profilático anterior, se houver indicação, o soro deve ser recomendado. Eventos adversos: os soros atualmente produzidos são seguros, mas podem causar eventos adversos, como qualquer imunobiológico. - Manifestações locais – dor, edema e hiperemia e, mais raramente, presença de abscesso. São as manifestações mais comuns, normalmente de caráter benigno. - Manifestações imediatas – choque anafilático, manifestação rara que pode ocorrer nas primeiras 2 horas após a aplicação. Os sintomas mais comuns são: formigamento nos lábios, palidez, dispneia, edemas, exantemas, hipotensão e perda de consciência. - Manifestações tardias – ocorrem, com mais frequência, até a segunda semana após a aplicação do soro: Doença do soro: caracterizada por edema e eritema no local de aplicação do soro, febre, mioartralgia (poliartrite serosa), astenia, cefaleia, sudorese, desidratação, exantema com máculas e pápulas pruriginosas, infartamento e inflamações ganglionares e, mais raramente, vasculite e nefrite; Reação de Arthus: caracterizada por vasculite local acompanhada de necrose, dor, tumefação, rubor e úlceras profundas. Quadro muito raro. 3.2.2. Soro homólogo (Imunoglobulina humana antirrábica) A imunoglobulina humana antirrábica, uma solução concentrada e purificada de anticorpos, preparada a partir de hemoderivados de indivíduos imunizados com antígeno rábico, é um produto mais seguro que o soro antirrábico, porém de produção limitada e, por isso, de baixa disponibilidade e alto custo. A imunoglobulina deve ser indicada somente para pacientes que se enquadram num dos seguintes itens: ocorrência de quadros anteriores de hipersensibilidade; uso prévio de soros de origem equídea; a existência de contatos frequentes com animais, principalmente com equídeos, por exemplo, nos casos de contato profissional (veterinários) ou por lazer. A dose indicada é de 20UI/kg de peso. Eventos adversos - Manifestações locais – pode provocar reações de caráter benigno como dor, edema, eritema e, mais raramente, abscesso. - Manifestações sistêmicas – leve estado febril. Em presença de gama-globulinemia ou hipogamaglobulinemia, pode ocorrer reação anafilática. 12 A imunoglobulina humana antirrábica (soro homólogo) está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), do Programa de Imunizações, das secretarias de saúde dos estados e do Distrito Federal. Os eventos adversos com manifestações sistêmicas ao soro antirrábico humano (heterólogo ou homólogo) devem ser investigados e notificados Esquema para profilaxia pós-exposição da raiva humana (1) É necessário orientar o paciente para que ele notifique imediatamente à unidade de saúde se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso, uma vez que podem ser necessárias novas intervenções de forma rápida, como a aplicação do soro ou o prosseguimento do esquema de vacinação. (2) É preciso avaliar, sempre, os hábitos do cão e gato e os cuidados recebidos. Podem ser dispensadas da profilaxia as pessoas agredidas pelo cão ou gato que, com certeza, não têm risco de contrair a infecção rábica. Por exemplo, animais que vivem dentro do domicílio (exclusivamente); não tenham contato com outros animais desconhecidos; que somente saem à rua acompanhados dos seus donos e que não circulem em área com a presença de morcegos. Em caso de dúvida, iniciar o esquema de profilaxia indicado. Se o animal for 13 procedente de área de raiva controlada, não é necessário iniciar a profilaxia. Manter o animal sob observação e só iniciar a profilaxia indicada (soro+vacina) se o animal morrer, desaparecer ou se tornar raivoso. (3) O soro deve ser infiltrado na porta de entrada. Quando não for possível infiltrar toda dose, aplicar o máximo possível e, a quantidade restante, a menor possível, aplicar pela via intramuscular, podendo ser utilizada a região glútea. Sempre aplicar em local anatômico, diferente do que aplicou a vacina. Quando as lesões forem muito extensas ou múltiplas, a dose do soro a ser infiltrada pode ser diluída, o menos possível, em soro fisiológico, para que todas as lesões sejam infiltradas. (4) Nos casos em que se conhece só tardiamente a necessidade do uso do soro antirrábico ou quando o mesmo não se encontra disponível no momento, aplicar a dose de soro recomendada, antes da aplicação da 3o dose da vacina de cultivo celular. Após esse prazo o soro não é mais necessário. 4. Conduta em caso de possível re-exposição ao vírus da Raiva Pessoas com re-exposição ao vírus da raiva, que já tenham recebido profilaxia de pós-exposição anteriormente, devem ser submetidas a novo esquema profilático de acordo com as indicações do Quadro 7. Para essas pessoas, quando possível, também é recomendável a pesquisa de anticorpos. Quando o paciente tiver o esquema de pré-exposição, em qualquer momento da re-exposição, adotar conduta conforme o Quadro 1. 14 Profilaxia de Tétano Acidental O que o profissional de saúde deve fazer? Procedimentos Recomendados: Assistência Médica; Avaliar a indicação de vacinação para prevenção do Tétano Acidental; Conduta frente a ferimentos suspeitos. 1. Assistência Médica O doente deve ser internado em unidade assistencial apropriada, com mínimo de ruído, de luminosidade, com temperatura estável e agradável. Casos graves têm indicação de terapia intensiva, onde existe suporte técnico necessário para manejo de complicações e consequente redução das sequelas e da letalidade. São de fundamental importância os cuidados dispensados pela equipe médica e de enfermagem experientes no atendimento a esse tipo de enfermidade. Os princípios básicos do tratamento do tétano são: sedação do paciente; neutralização da toxina tetânica; erradicação do paciente; debridamento do foco infeccioso e medidas gerais de suporte. Sedação do paciente – recomenda-se a administração de benzodiazepínicos e miorrelaxantes (Quadro 1). Checar as doses. 15 Neutralização da toxina tetânica – utiliza-se a imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT) ou, na indisponibilidade, o soro antitetânico (SAT). A imunoglobulina humana antitetânica é disponível, no Brasil, apenas para uso intramuscular (IM), devendo ser administrada em massas musculares diferentes. A dose terapêutica recomendada depende do quadro clínico e do critério médico. O SAT é administrado via IM, distribuído em duas massas musculares diferentes ou via endovenosa (Quadro 2). Erradicação do C. tetani – a penicilina G cristalina é a medicação de escolha ou o metronidazol, usado como alternativa (Quadro 3). Debridamento do foco – limpar o ferimento suspeito com soro fisiológico ou água e sabão. Realizar o debridamento, retirando todo o tecido desvitalizado e corpos estranhos. Após a remoção das condições suspeitas, fazer limpeza com água oxigenada ou solução de permanganato de potássio a 1:5.000. Ferimentos puntiformes e profundos devem ser abertos em cruz e lavados generosamente com soluções oxidantes. Não há comprovação de eficácia do uso de penicilina benzatina, na profilaxia do tétano acidental, nas infecções cutâneas. Além do tratamento sintomático, caso haja indicação para o uso de antibióticos, proceder de acordo com o esquema terapêutico indicado pela situação clínica, a critério médico. 2. Avaliar a indicação de vacinação para prevenção do Tétano Acidental A principal forma de prevenção do tétano é vacinar a população desde a infância com a vacina antitetânica, composta por toxóide tetânico, associado a outros antígenos (DTP, DTPa, Pentavalente, DT ou dT). O esquema completo recomendado pelo Ministério da Saúde é de 3 doses administradas no primeiro ano de vida, com reforços aos 15 meses e aos 4 anos de idade. A partir dessa idade, um reforço a cada 10 anos após a última dose administrada ou 5 anos se for gestante (Quadros 4 e 5). A vacina dT (conhecida como dupla adulto, composta por associação de toxóide diftérico e tetânico) tem uma eficácia de quase 100%, se observada as condições ideais de conservação e administração inerentes à vacina e ao indivíduo (Manual de Normas de Vacinação, do PNI). 16 3. Conduta frente a ferimentos suspeitos 17 Intoxicações Exógenas O que o profissional de saúde deve fazer? Notificação através do preenchimento da Ficha Intoxicações Exógenas; Procedimentos Recomendados: Reconhecer uma intoxicação e identificar o agente tóxico causal; Determinar a abordagem de descontaminação; Avaliar o uso de antídotos; 1. Reconhecer uma intoxicação e identificar o agente tóxico causal Síndrome anticolinérgica Sintomatologia: rubor de face, mucosas secas, hipertermia, taquicardia, midríase, retenção urinária, agitação psicomotora, alucinações e delírios. Principais agentes: atropina, derivados e análogos, anti-histamínicos, antiparkinsonianos, antidepressivos tricíclicos, antiespasmódicos, midriáticos, plantas da família Solanaceae, particularmente do gênero Datura. Síndrome anticolinesterásica Sintomatologia: sudorese, lacrimejamento, salivação, aumento das secreções brônquicas, miose, bradicardia, fibrilações e fasciculações musculares. Principais agentes: inseticidas organofosforados, inseticidas carbamatos, fisostigmina, algumas espécies de cogumelos. Síndrome narcótica Sintomatologia: depressão respiratória, depressão neurológica, miose, bradicardia, hipotermia, hipotensão, hiporreflexia. Principais agentes: opiáceos, incluindo também elixir paregórico, difenoxilato, loperamida. Síndrome depressiva Sintomatologia: depressão neurológica (sonolência, torpor, coma), depressão respiratória, cianose, hiporreflexia, hipotensão. Principais agentes: barbitúricos, benzodiazepínicos, etanol. Síndrome simpatomimética Sintomatologia: midríase, hiperreflexia, distúrbios psíquicos, hipertensão, taquicardia, piloereção, hipertermia, sudorese. Principais agentes: cocaína, anfetamínicos, derivados e análogos, descongestionantes nasais, cafeína, teofilina. Síndrome extrapiramidal Sintomatologia: distúrbios do equilíbrio, distúrbios da movimentação, hipertonia, distonia orofacial, mioclonias, trismo, opistótono, parkinsonismo. Principais agentes: fenotiazínicos, butirofenonas, fenciclidina, lítio. Síndrome metemoglobinêmica Sintomatologia: cianose de pele e mucosas, de tonalidade e localização peculiar, palidez de pele e mucosas, confusão mental, depressão neurológica. Principais agentes: acetanílida, azul de metileno, dapsona, doxorubicina, fenazopiridina, furazolidona, nitratos, nitritos, nitrofurantoína, piridina, sulfametoxazol. 18 2. Determinar a abordagem de descontaminação 3. Avaliar o uso de antídotos Os antídotos são substâncias que têm a capacidade de inibir ou atenuar a ação do tóxico, quelar ou aumentar a velocidade de absorção. 19 Piretroides Sintomatologia: eritema, vesículas ou bolhas com prurido intenso, edema, queimação e parestesia, irritação de vias aéreas, asma, reações de hipersensibilidade. Com solvente derivado de petróleo há risco de pneumonia química. Os piretroides podem determinar, além dos distúrbios alérgicos, perturbações neurológicas caracterizadas por cefaleia, hiperexcitabilidade, tontura, hiperreflexia, fasciculações musculares, incoordenação motora, convulsões, paralisias e distúrbios do equilíbrio, epigastralgia, náuseas, vômitos, diarreia, depressão leve do SNC. Em reação anafilática (raro) pode causar colapso vascular periférico, dificuldade respiratória, broncoespasmo, edema de orofaringe, hipotensão. Na exposição da pele, olhos ou inalação: descontaminação conforme o caso. Na ingestão: Ingestão de pequena quantidade → descontaminação local com água corrente Ingestão de risco → carvão ativado + catártico (sulfato de magnésio ou sulfato de sódio 250 mg/kg (máx. de 30g); Na superdosagem, não provocar vômito. Se necessário proceder à lavagem gástrica (na presença de solvente); Lavagem gástrica + intubação prévia: se o produto contém derivado de petróleo (devido ao risco de aspiração); Em caso de reação anafilática (rara): assistência respiratória, adrenalina, anti-histamínico, corticoide e fluidos EV. Medidas sintomáticas e de manutenção; Anti-histamínicos para os processos alérgicos; Diazepam na hiperexcitabilidade ou convulsões. 20 Acidentes por animais peçonhentos O que o profissional de saúde deve fazer? Notificação através do preenchimento da Ficha de Investigação de Animais Peçonhentos. Assistência médica - Procedimentos Recomendados: 21 REFERÊNCIAS Guia de vigilância epidemiológica – 2014 Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para profilaxia antirretroviral pós-exposição de risco à infecção pelo HIV. Ministério da Saúde, 2015 Protocolo para o Atendimento às Pessoas em Situação de Violência sexual. Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, 2015 Curso de Toxicologia Clínica da UFRJ. Disponível em: http://ltc.nutes.ufrj.br/toxicologia/apresent.htm 22