PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA PSYCHOANALYSIS AND

Propaganda
PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA
PSYCHOANALYSIS AND PSYCHO PEDAGOGY
KÁTIA FLAMIGUH RODRIGUES SANTOS1
Artigo apresentado em cumprimento parcial às
exigências do Curso de Especialização em
Psicanálise – Teoria, Interfaces e Aplicações –
Universidade Vale do Rio Doce.
Orientadora: Profª Drª Tânia Mara Alves Prates
Universidade Vale do Rio Doce – Univale
Curso de Especialização em Psicanálise – Teoria, Interfaces e Aplicações
Governador Valadares, 2009
1
Educadora Infantil e Pedagoga, pela Universidade Vale do Rio Doce - UNIVALE
Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional, pela Universidade Castelo Branco – UCB
Endereço para correspondência: [email protected]
2
PSICANÁLISE E PSICOPEDAGOGIA
PSYCHOANALYSIS AND PSYCHO PEDAGOGY
RESUMO
A Psicanálise e a Psicopedagogia evocam o humano em sua contradição nas formas de sentir,
pensar e agir. A psicopedagogia enquanto ciência que se ocupa das dificuldades de aprendizagem e
a teoria psicanalítica, na sua influência sobre os estudos acerca de tais dificuldades em sua ligação
intrínseca com a singularidade do sujeito. A incorporação de alguns conceitos psicanalíticos no
meio escolar mudou as concepções correntes sobre as causas das dificuldades de aprendizagem,
diagnóstico e intervenção. Esta pesquisa bibliográfica sobre a relação entre a Psicanálise e a
Psicopedagogia está fundamentada em teóricos como Visca, Wess, Lacan, Freud, entre outros. Traz
um olhar sobre a teoria psicanalítica para refletirmos sobre a subjetividade e a relação com a
aprendizagem, as contribuições da psicanálise para a psicopedagogia na reflexão sobre a postura
profissional para os psicopedagogos através da relação psicanálise-psicopedagogia. A teoria
psicanalítica é fundamentalmente importante para o fazer na clínica psicopedagógica, para uma
escuta diferenciada da criança para que ela possa ressignificar seu processo de aprendizagem.
Contribui para um olhar que nos permita vislumbrar melhor a subjetividade do sujeito no seu
desenvolvimento
e
na
sua
aprendizagem
educacional.
PALAVRAS-CHAVE: Psicanálise-Psicopedagogia, aprendizagem, sintoma e intervenção.
ABSTRACT
Psychoanalysis and Psycho pedagogy evoke the human condition in its contradiction in the way of
feeling, thinking and acting. Psycho pedagogy as a science that deals with learning difficulties and
the psychoanalytical theory, in its influence over the studies concerning these difficulties and the
intrinsic linking with the singularity of the individual. The incorporation of some psychoanalytical
concepts in the school environment has changed the current conceptions concerning the causes of
learning difficulties, diagnosis and intervention. This bibliographic research referring to the relation
between Psychoanalysis and Psycho pedagogy is based on theorists like Visca, Wess, Lacan, Freud,
among others. It brings a look over the Psychoanalytical theory so we can reflect upon the
subjectivity and the relation with learning, the contribution of Psychoanalysis to Psycho pedagogy
in the reflection concerning the professional posture to the “psychopedagogists “through the relation
Psychoanalysis Psycho pedagogy. The psychoanalytical theory is fundamentally important for the
making in the psycho pedagogical clinic, for a differentiated listening of the child so she can be able
to resignify her learning process. It contributes for a look that allows us to better see the subjectivity
of the individual in its development and in its educational learning.
KEY WORDS: Psychoanalysis – Psycho pedagogy, learning, symptom and intervention.
3
1. O texto no contexto
Estudar a complexidade estrutural e funcional do sujeito, sua subjetividade e aprendizagem
é um tema importante para o universo psicopedagógico. Entende-se que a psicanálise e a
psicopedagogia tecem redes de significados e saberes que buscam dar conta do sujeito e seu
aprender.
Perguntas como: Por que não aprendo? Por que esqueço? São questionamentos comuns na
clínica psicopedagógica. São questionamentos que vêm com um pensamento insistente na busca de
um saber que deseja saber.
Quem é esse sujeito que aprende considerando-o na singularidade de suas expressões,
gestos, movimentos, pensamentos, sentimentos, emoções, interesses, desejos, vivências,
habilidades, potencialidades e limitações? As queixas emergentes sobre dificuldade de
relacionamento como o outro, conflitos emocionais, o não aprender expressam um mal-estar que o
sujeito sente frente a algumas situações vividas por ele.
Pode-se pensar que essas queixas são “sintomas”, que traduzem uma dificuldade, um
transtorno no campo do aprender. O atendimento terapêutico para sujeitos cujos sintomas estão
atravessados por questões que dizem respeito à subjetividade e ao processo de aprendizagem deve
ser trabalhado numa clínica psicopedagógica que resgate o amor e a confiança do sujeito em si
próprio e a diminuição de sua angústia frente à vida. Onde seja possível uma escuta dos sintomas e
a reinserção do sujeito no universo do desejo de saber, de aprender. Construir uma prática clínica
capaz de dialogar com o texto no contexto, com o sujeito e sua subjetividade, com as tramas do
conhecimento e do saber é um desafio constante que exige do psicopedagogo uma escuta
terapêutica fundamentada em sólidos referenciais teóricos e bom senso.
A Psicanálise é um campo do saber humano que fornece um conhecimento que jamais
poderá ser usado como instrumento de dominação: ela é instrumento de atravessamento do ser. Ao
se analisar a interface entre a Psicanálise e a Psicopedagogia, considera-se que o fazer terapêutico
4
evoca o humano e sua contradição, nas suas formas de sentir, pensar e agir. Interessante a maneira
pela qual nós dimensionamos, relacionamos, interpretamos o mundo em que vivemos.
2. Psicopedagogia e psicanálise: a clínica como possibilidade de uma interface
Será que a Psicopedagogia padece de novos sintomas? Quais são as queixas mais comuns na
clínica? O que se pode fazer? Para que a criança aprenda e o desejo se articule é imprescindível que
alguém demande isso dela. A falta de afetividade, um problema também ligado à família,
compromete seriamente o desenvolvimento da criança, encontrando-se no aspecto psicológico da
aprendizagem.
Em suas pesquisas sobre a causa e funcionamento das neuroses, Freud (1895/1996), teorizou
que os conflitos de natureza sexual são desencadeados pelos desejos reprimidos e, o impulso sexual
interfere no comportamento humano. Desenvolveu a escuta terapêutica na clínica psicanalítica, com
o método de associação livre para investigar o universo psíquico de seus pacientes.
A psicanálise lida com o sujeito do desejo e permite a singularidade do sujeito, oferece um
lugar onde o discurso individual pode ser escutado, levando-o a refletir profundamente sobre a
essência de seu desejo. A análise é a do sujeito. Na análise o sujeito é o sujeito da própria
experiência analítica. É aprofundar sua história e também sair de si. É dizer que a psicanálise não
quer fazer a adequação do sujeito ao meio, mas que esse sujeito possa singularizar-se, estruturar-se
psiquicamente.
Vejamos o significado do conceito de sujeito no Dicionário de Psicanálise:
O termo corrente em psicologia, filosofia e lógica. É empregado para designar ora um
indivíduo, como alguém que é simultaneamente observador dos outros e observado por
eles, ora uma instância com a qual é relacionado um predicado ou um atributo. Em
filosofia, desde René Descartes (1596-1650) e Immanuel Kant (1724-1804) até Edmund
Hunsserl (1859-1938), o sujeito é definido como o próprio homem enquanto fundamento de
seus próprios pensamentos e atos. É, pois, a essência da subjetividade humana, no que ela
tem de universal e singular. Nessa acepção, própria da filosofia ocidental, o sujeito é
definido como sujeito do conhecimento, do direito ou da consciência, seja essa consciência
empírica, transcendental ou fenomênica. (ROUDINESCO e PLON, 1994 p. 742).
5
Importante citar-se os estágios psicossexuais discutidos por Freud (1905/1996). As fases de
desenvolvimento das estruturas de personalidade ocorrem durante os cinco primeiros anos de vida
da criança, durante os quais se estabelece, em grande parte, a estrutura psíquica. Concebe o
processo de desenvolvimento da personalidade como contínuo.
As diferenças individuais na personalidade adulta são fundamentalmente, decorrentes da
maneira específica pela qual o sujeito vive e lida com os conflitos ocorridos nesses estágios. Os
estágios psicossexuais são as fases: oral, anal, fálica, de latência e genital.
Quando não à transição normal de uma fase para outra, ou o sujeito permanece “fixado” em
uma das fases. Esse sujeito preferirá satisfazer suas necessidades de forma mais simples e infantil,
ao invés dos modos mais adultos que resultariam de um desenvolvimento maduro.
Ainda de acordo com ele, a sexualidade tem grande importância na estruturação da
personalidade do ser humano. As fases psicossexuais e os complexos (de Édipo e de Castração)
começariam a ser desenvolvidos. O conceito de infância é correspondente ao de sexualidade
infantil, que é dividido em dois momentos: antes e depois do período de latência. Enfatiza-se a fase
fálica neste trabalho, mas ressalta-se que todas as fases são importantes para a constituição do
sujeito e a estruturação da personalidade.
O Complexo de Édipo (conflito edipiano) acontece entre os três e cinco anos, durante a fase
fálica dos estágios psicossexuais do desenvolvimento. Numa relação edipiana, a mãe é objeto de
desejo do menino e o pai é o rival que impede seu acesso ao objeto desejado. Para a menina na fase
edípica, o objeto de desejo é o pai e a mãe é a rival.
Nesse período, ocorre a identificação com o progenitor do mesmo sexo. A criança ama o
progenitor do sexo oposto e procura assemelhar-se ao progenitor do mesmo sexo, com o intuito de
também ganhar a atenção e o amor do sexo oposto. Esta fase apresenta um conflito interior para a
criança (tensão e dificuldades). Passar por ela de modo satisfatório é fundamentalmente importante
para o desenvolvimento normal.
6
É sumamente importante que educadores, pedagogos, psicopedagogos entre outros
profissionais da área da Educação e Saúde conheçam os estágios de desenvolvimento psicossexuais
de Freud e seus conceitos porque práticas profissionais inadequadas podem prejudicar o
desenvolvimento psíquico. Compreende-se de acordo com a teoria freudiana, que o comportar,
aprender, sentir e relacionar do sujeito não ocorre por acaso, mas há sempre uma casa para cada
pensamento, memória revivida, sentimento e ação.
Ao se estudar as idéias de Lacan (1998), compreende-se que sua teoria é uma releitura
contemporânea das teorias freudianas. O autor cria os conceitos: Real, Simbólico e Imaginário.
Reafirma o Édipo como fundador do inconsciente. Elabora os conceitos: o sujeito do inconsciente, o
outro e o desejo. Desenvolve uma teoria psicanalítica onde a linguagem, signos, símbolos ajudam a
expressar idéias, sentimentos, pensamentos e emoções. Tem-se mais possibilidades de significação,
resignificação, socialização e simbolização através do domínio da linguagem falada e escrita.
O objetivo da psicanálise é desvelar o que está velado no inconsciente humano, propiciar
que o sujeito do inconsciente possa advir conduzindo o sujeito ao encontro com sua própria verdade
inconsciente e assim, ter acesso ao seu desejo. Tornar o desejo inconsciente, consciente.
Neste processo, a linguagem ocupa lugar importante na psicanálise porque é uma
característica de expressividade do pensamento, uma mediadora entre o sujeito e o mundo, as
palavras são signos fundamentais para que o sujeito compreenda o seu mundo e os seus
significados.
De acordo com Costa (2007), para Lacan o inconsciente é efetivamente estruturado como
uma linguagem, o sujeito pode ser definido como o sujeito do inconsciente, sujeito dividido entre o
sujeito e si próprio. O sujeito dividido aparece no discurso do analista:
Em psicanálise, Freud empregou o termo, mas somente Jacques Lacan, entre 1950 e 1965,
conceituou a noção lógica e filosófica do sujeito no âmbito de sua teoria do significante,
transformando o sujeito da consciência num sujeito do inconsciente, da ciência e do desejo.
Foi em 1960, em “Subversão do sujeito e dialética do desejo no inconsciente freudiano, que
Lacan, apoiando-se na teoria saussuriana do signo lingüístico, enunciou sua concepção da
relação do sujeito com o significante: “Um significante é aquilo que representa o sujeito
para o outro significante”. Esse sujeito, segundo Lacan, está submetido ao processo
freudiano de clivagem. (do eu) (ROUDINESCO e PLON, 1994, p. 742).
7
Lacan (1998), diz que no imaginário humano situa-se o “Eu desconhecido” sede do
narcisismo. É o momento do Estádio do Espelho. Difere-se do sujeito do inconsciente. Esse registro
é o do Simbólico, é o campo da linguagem, do significante. Este é o Grande Outro que antecede o
sujeito, que só se constitui através deste – “o inconsciente é o discurso do Outro”, “o desejo é o
desejo do Outro”. No campo do Simbólico é feito o registro do Desejo com a Lei e a Falta, através
do Complexo de Castração, operador do Complexo de Édipo. O desejo é uma falta-a-ser
metaforizada na interdição edipiana, a falta possibilitando a deriva do desejo, desejo enquanto
metonímia.
A psicanálise influenciou o pensamento psicopedagógico por possibilitar pensar o sujeito em
sua subjetividade, identidade, aprendizagem, limites, habilidades e potencialidades, ou seja, pensar
sua estrutura de personalidade e como esse sujeito se relaciona consigo mesmo e com o mundo.
A intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento relacionado com o
processo de aprendizagem. Sua natureza é inter, multi e transdisciplinar. Utiliza-se das áreas do
conhecimento humano como a psicanálise, psicologia, filosofia, antropologia, sociologia, biologia
para a compreensão do ser humano e da aprendizagem. Atua na prevenção, no diagnóstico e
tratamento dos problemas de aprendizagem.
A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem do sujeito. Segundo Visca (1987), esta
encontra-se fundamentada na Epistemologia Congergente de Jorge Visca, com aporte teórico nas
escolas do biólogo e psicólogo Jean Piaget, com Psicogenética a teoria da Psicologia Genética, na
Psicanálise teoria freudiana e na teoria do Vínculo da Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière.
De acordo com Fontana e Cruz (1997), para Piaget a criança para aprender deve estar
pronta, isto é, ter uma maturação biológica e uma condição psicológica para a aquisição de
informações de acordo com essa prontidão. É da natureza humana adaptar-se ao seu ambiente.
Trata-se de um processo ativo, Piaget não acredita que o ambiente modele a criança, assim que a
criança (tal com o adulto) busca, ativamente, compreender seu ambiente. No processo de
compreensão, ela explora, manipula, examina os objetos e as pessoas no mundo ao seu redor. Pode-
8
se dizer que o sujeito é ativo no processo de construção do seu próprio conhecimento. O
desenvolvimento da criança provém também dessa interação.
Segundo Visca (1987), Enrique Pichon Rivière com a teoria do Vínculo mostra que os
fatores afetivos representam um papel fundamental na aprendizagem, sobretudo no que diz respeito
à auto-estima. Portanto, uma das primeiras tarefas do terapeuta (psicopedagogo) é o resgate da autoestima da criança/adolescente, pois ninguém consegue aprender se não conseguir investir no ato de
aprender e acreditar na sua capacidade, no seu potencial.
Na ação diagnóstica o terapeuta utiliza instrumentos como: entrevistas, provas projetivas,
provas operatórias, anamnese entre outros recursos. Na clínica, o psicopedagogo faz uma entrevista
inicial com os pais ou responsáveis para conversar sobre horários, quantidades de sessões,
honorários, a importância da freqüência e do que ocorrer, ou seja, fará o enquadramento. Sobre o
diagnóstico psicopedagógico segundo Weiss:
Todo diagnóstico psicopedagógico é, em si, uma investigação, é uma pesquisa do que não
vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto, o esclarecimento
de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. No caso,
trata-se do não-aprender, do aprender com dificuldade ou lentamente, do não-revelar o que
aprendeu, do fugir de situações de possível aprendizagem. (2006, p. 27).
Neste momento não é recomendável falar sobre o histórico do sujeito, já que isto poderá
contaminar o diagnóstico interferindo no olhar sobre o sujeito. O histórico do sujeito, desde seu
nascimento, será relatado ao final das sessões numa entrevista chamada anamnese, com os pais ou
responsável.
O objetivo básico do diagnóstico psicopedagógico é identificar os desvios e os obstáculos
básicos no Modelo de Aprendizagem, do sujeito que, o impedem de crescer na
aprendizagem dentro do esperando pelo meio social. Assim, para conhecer esse Modelo de
Aprendizagem, conta-se, nos dois eixos descritos, com dados oriundos das observações da
escola, da família e obtidos diretamente pelo terapeuta e por outros profissionais. (WEISS,
2006, p. 32).
A avaliação diagnóstica é composta por no mínimo cinco e no máximo dez encontros
semanais (sessões). Desses encontros, dois são dedicados aos pais e/ou responsáveis, filhos quando
necessário e a criança ou adolescentes que realizará os testes.
9
No primeiro encontro é feita a entrevista como os pais e/ou responsáveis, bem como, com a
criança. No último encontro é dada devolutiva tanto para os pais como para a criança ou
adolescente, ou seja, devolver o resultado das avaliações e também do parecer e indicações. É
entregue um relatório escrito para a escola com parecer do psicopedagogo, com o objetivo de criar
parcerias no momento da construção do conhecimento da criança ou do adolescente em questão.
A intervenção é o segundo momento do atendimento, posterior ao diagnóstico, em que
passa-se a desvendar e intervir junto ao sujeito. A cada semana os pais ou responsáveis terão uma
devolutiva do trabalho desenvolvido, bem como, dos progressos e resultados.
O diagnóstico poderá confirmar ou não as queixas e as suspeitas do psicopedagogo. O
profissional poderá identificar problemas de aprendizagem. Neste caso ele indicará um tratamento
psicopedagógico, mas poderá também identificar outros problemas e aí poderá indicar um
psicanalista, psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista e/ou outro profissional a depender do caso.
O tratamento e/ou acompanhamento poderá ser feito com o psicopedagogo que fez o
diagnóstico e com outro psicopedagogo. De acordo com Weiss (2006), durante o tratamento são
realizadas diversas atividades, com o objetivo de identificar a melhor forma de se aprender e o que
poderá estar causando este bloqueio. Para isto, o psicopedagogo utilizará recursos como jogos,
desenhos, brinquedos, brincadeiras, música, histórias, computador e outros instrumentos que forem
oportunos.
O profissional solicitará, algumas vezes, as tarefas escolares, observando cadernos, olhando
a organização e os possíveis erros, ajudando-o a compreender estes erros. Irá ajudar a criança ou
adolescente, a encontrar a melhor forma de estudar para que ocorra a aprendizagem, organizando,
assim, o seu modelo de aprendizagem.
Poderá ir até a escola para conversar com o professor, afinal é ele que tem um contato maior
com a criança e poderá dar muitas informações que possam ajudar no acompanhamento, tratamento
e terapias psicopedagógicas. Entende-se que o psicopedagogo precisar estudar muito. E muitas
10
vezes serão necessárias recorrer a outro profissional para conversar, trocar idéias, pedir opiniões, ou
seja, fazer uma supervisão psicopedagógica.
Durante todo o processo de acompanhamento deve-se observar: os aspectos pedagógico,
cognitivo, afetivo-emocional e corporal, percepção pessoal e familiar, construção de vínculos:
afetivos, sociais e escolares. Partindo do pressuposto que são várias as razões que determinam o
sucesso ou fracasso da aprendizagem.
Estas observações devem objetivar: favorecer e auxiliar aqueles sujeitos que se sentem
impedidos para o saber; com dificuldades de aprendizagem; reintegra-lo a uma vida escolar e social
mais tranqüila, bem como, a uma relação mais afetiva consigo mesmo e com o outro; levar o sujeito
ao reconhecimento de suas potencialidades; auxiliar no reconhecimento dos limites e como agir
diante deles; ajudar na busca de alternativas para alcançar o saber e resignificar conceitos que
influenciam no momento do aprender.
O que é fundamental na atuação psicopedagógica? A escuta é fundamental para que se possa
conhecer como o sujeito aprende, “perceber o interjogo entre o desejo de conhecer e o de ignorar”,
para que se possa operar. O psicopedagogo deve estar preparado para lidar com possíveis reações
frente a algumas tarefas, tais como: resistências, bloqueios, sentimentos de raiva, lapsos, etc. E não
parar de buscar, de conhecer, para compreender de forma mais ampla esses sujeitos, já tão
criticados por não corresponderem às expectativas dos pais e professores.
A especificidade do trabalho psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a
ser alcançado, a eliminação dos sintomas.
Pode dizer que o que é percebido pelo próprio indivíduo ou pelos outros é chamado de
sintoma. O sintoma está sempre mostrando algo, é um epifenômeno. Com o sintoma o
sujeito sempre “diz alguma coisa aos outros”, se comunica, e “sobre o sintoma sempre se
pode dizer algo [...]” (WEISS, 2006, p. 28).
Assim, a relação terapeuta/paciente é mediada por atividades bem definidas cujo
objetivo é solucionar os efeitos nocivos dos sintomas. Como exemplo, pode-se apontar os casos de
problemas de aprendizagem em relação à leitura. É possível que uma criança não aprenda a escrever
11
porque lhe faltam recursos materiais para elaborar e testar suas hipóteses acerca desse novo objeto
de conhecimento.
Ao psicopedagogo cabe, indiscriminadamente, trabalhar as duas variantes da aprendizagem:
de forma preventiva para que sejam detectadas as dificuldades de aprendizagem antes que os
processos se instalem como também na elaboração do diagnóstico e trabalho conjunto com a família
e escola frente às intercorrências advindas das dificuldades no processo do aprender.
Partindo da idéia de que toda criança aprende, o profissional da área psicopedagógica terá
que encontrar entre as diversas teorias educacionais a que mais se enquadra em cada caso
diagnosticado. A absorção de conhecimento pela criança depende da maneira pela qual a
informação lhe foi ensinada, que, por sua vez, depende da condição social que determinará à
qualidade deste mesmo ensino.
Professores em instituições educacionais desestruturadas e sem nenhum apoio material ou
pedagógico não terão como tornar real e atraente um conhecimento. É preciso que o educador,
competente e valorizado, encontre prazer em ensinar para que possibilite o prazer de aprender.
A psicopedagogia busca uma leitura minuciosa dos processos subjetivos e cognitivos, dos
mecanismos psíquicos que estão atrelados ao sintoma, do comportamento que se faz visível na
situação de aprendizagem. Esta leitura dos processos de aprendizagem cria uma nova necessidade: a
intervenção psicopedagógica, pois feita à leitura do que esta por “traz” da cena apresentada na
aprendizagem é que se possibilita a construção e a sistematização de uma metodologia que visa o
desenvolvimento do sujeito como ser de aprendizagem múltipla, na sua relação com o mundo,
integrando os aspectos subjetivos e cognitivos. O trabalho clínico deve se pautar nas reflexões
acerca do sujeito, seus vínculos e desejos que o influenciam na aprendizagem.
A psicopedagogia não é uma, não é única. Ela constitui-se de relações integradas de
situações multi e interdisciplinares. Sendo uma ciência plural, trabalha tanto a individualmente o
sujeito, o grupo e, sobretudo, as relações que esse sujeito estabelece com seu meio. Assim as
12
relações podem ser negativas ou positivas, tendo em cada eixo respostas favoráveis ou
desfavoráveis ao seu desenvolvimento:
Vygotsky, considera a aprendizagem e o desenvolvimento processos que caminham juntos
desde o primeiro dia da vida da criança e que o primeiro o aprendizado impulsiona o
segundo o desenvolvimento. Ou seja, tudo aquilo que a criança aprende com o adulto ou
com outra criança mais velha vai sendo elaborado por ela, vai se incorporando a ela,
transformando seus modos de agir e pensar (FONTANA e CRUZ, 1997, p. 63).
A criança conhece o mundo por meio de suas relações com os outros. O bom aprendizado é
somente aquele que se adianta ao desenvolvimento. A atividade criadora é uma manifestação
exclusiva do ser humano, pois só este tem a capacidade de criar algo novo a partir do que já existe.
Através da memória, o sujeito pode imaginar situações futuras e formar outras imagens.
Sendo assim, a ação criadora reside no fato da não-adaptação do ser, isto é, de não estar
acomodado e conformado com uma situação, buscando através do imaginário e da fantasia, um
equilíbrio, a construção de algo novo. É mediante este pressuposto, que o trabalho psicopedagógico
se faz atuante, descobrindo no sujeito suas capacidades e desenvolvendo atividades que o auxiliam
na ordenação e coordenação de suas idéias e manifestações intelectuais, psíquicas e afetivas.
No diagnóstico psicopedagógico, não se pode desconsiderar as relações entre produção
escolar e as oportunidades reais que a sociedade dá às diversas classes sociais. Muitas vezes, as
crianças e adolescentes de baixa renda são classificados como deficientes nas questões do
aprendizado. Para Weiss (2006), “É preciso não confundir o aluno com dificuldade de
aprendizagem com o aluno que aprende, mas não tem a produção esperada pelo professor ou pela
família”. Na realidade, faltam-lhe oportunidade de crescimento cultural, de rápida construção
cognitiva e desenvolvimento de linguagem, o que, certamente, aumentaria suas chances de uma
aprendizagem significativa.
Com o sujeito que não aprende, o trabalho investigativo está em saber se ele deseja ou não
aprender, se deixa seu desejo se manifestar a partir da sua vontade e se constrói seu mundo de
significados. A aprendizagem refere-se a um confrontamento objetivo e uma motivação: para
13
aprender; é necessário um vínculo e para que este vínculo se instale ele passa, também, pelo afeto e
pela via do desejo.
O conhecimento é (re) construído de forma reflexiva e na interação ativa com o meio.
Entende-se que “as dificuldades de aprendizagem” devem impulsionar sempre as alternativas para o
enfrentamento e superação das mesmas. Cada um tem seu próprio tempo, uns precisam de um
tempo a mais para poder processar as informações que recebem para construção do conhecimento e
aprendizagem. Tal processo está intimamente ligado à estruturação da personalidade do sujeito, mas
também à estrutura familiar e social, da relação “eu e o Outro” e de uma rede de significados entre o
subjetivo e objetivo.
Com isso cada vez mais, surge a necessidade de se buscar na clínica psicanalítica um
suporte para a clínica psicopedagogia para o bem-estar individual, grupal, social. O sujeito convive
diariamente com o não saber, e não deve desestabilizá-lo demasiado, mas sim o suficiente para que
aprenda coisas novas.
É neste momento que a intervenção alcança seu maior grau de desempenho, fazendo com
que o sujeito exercite, através de estímulos, a afetividade, atenção, memória e o pensamento lógicocrítico. Como o saber jamais se dará como acabado, o terapeuta deve fazer com que o sujeito
descubra qual a melhor forma de reconhecer e desenvolver suas habilidades.
A teoria psicanalítica imprime sua marca na construção da clínica psicopegagógica do
Desenvolvimento e Aprendizagem do Sujeito. A idéia é buscar um olhar que permita “visualizar”
melhor a constituição Sujeito na tentativa percebê-lo na sua singularidade. Sempre que se depara
com alguma questão intrigante na vida tem-se a oportunidade de buscar informações e a
possibilidade de se construir novos conhecimentos e transformá-los em saberes.
Esse movimento serve de estímulo a reflexão do saber. Surgem questionamentos sobre a
própria pessoa, sua história, sua realidade, seu mundo psíquico. Porém às vezes tem-se dificuldades
para tal movimento. “Quem sou eu? Não aprendo? Por quê?” Quais são os limites, bloqueios,
habilidade e potencialidades?
14
Levando para o campo da análise, será isso, uma demanda individual? Todas essas
perguntas entre outras possuem um refletir profundo sobre o sujeito. Com novos arranjos e
demandas contemporâneas encontram-se algumas possibilidades de respostas às indagações. As
“zonas de incerteza” sempre assombrarão, mas o mais importante é se tentar desvelar o que pode
estar velado por falta de conhecimento, de saber na tentativa de identificarmos as razões dos nossos
sentimentos, pensamentos e ações.
Acredita-se que muito do que sabemos são respostas influenciadas por vários fatores que
vão desde as habilidades ligadas a senso-percepção, educação, cultura ao contexto social em que
nós sujeitos humanos estamos inseridos.
Na tentativa de se encontrar respostas para questões do não aprender que por muitas vezes
estão no obscurantismo, por falta de estudo, de pesquisa que possam elucidar muitas situações de
aprendizagem e não aprendizagem humana, tanto no âmbito escolar quanto familiar, busca-se na
teoria psicanalítica um melhor embasamento. Segundo Papalia e Olds:
Os estudiosos do desenvolvimento humano ofereceram muitas explicações, ou teorias,
sobre por que as pessoas comportam-se da maneira como o fazer. Uma teoria é o conjunto
coerente de conceitos relacionados que procura organizar e explicar dados obtidos por meio
de pesquisa. As teorias são dinâmicas; e servem como fonte contínua de hipótese a serem
testadas pela pesquisa. Às vezes se a pesquisa sustenta uma hipótese e a teoria na qual ela
se baseia. Noutras os cientistas tem que modificar suas teorias para explicar dados
inesperados. Nenhuma teoria do desenvolvimento humano e universalmente aceita, e
nenhuma sozinha é capaz de explicar todas as facetas do desenvolvimento humano. (1998,
p. 40).
Ainda as pesquisadoras referem-se sobre as cinco importantes teorias do desenvolvimento
humano:
[...] as teorias e as pesquisas influentes na área de desenvolvimento humano: (1)
psicanalítica (que se concentra nas emoções); (2) da aprendizagem (que enfatiza o
comportamento observável), (3) cognitiva (que enfatiza os processos de pensamentos); (4)
etológica (que focaliza os fundamentos evolutivos do comportamento; e (5) contextual (que
enfatiza o impacto do contexto social e cultural). Uma sexta perspectiva, a perspectiva
humanista. (PAPALIA e OLDS, 1998, p. 40).
Sabe-se que a aprendizagem ocorre espontaneamente ao longo da vida de qualquer ser
humano desde que não haja nenhum distúrbio de saúde mental com manifestações significativas na
15
fala, na leitura, na escrita e no raciocínio. O conhecimento é construído com a participação ativa do
sujeito.
Refletir sobre o desenvolvimento e aprendizagem do sujeito é uma prática constante (ou pelo menos
deveria ser!) entre educadores, pedagogos, psicopedagogos, psicanalistas que lidam com as
questões da subjetividade humana. O sujeito deve desenvolver capacidades e habilidades que o
propicie amadurecer, aprender e crescer com suas experiências. Assim, é impossível estudar
desenvolvimento e aprendizagem sem vinculá-las à subjetividade, para compreender como se dá
este processo é preciso conhecer quem é esse sujeito que aprende e qual sua história de vida.
Cada vez mais, surge a necessidade de se buscar na clínica psicanalítica um suporte para a
clínica psicopedagógica, para o bem-estar individual, grupal e social. Neste contexto clínico, o que
se percebe é que parece haver um desencontro de ritmos e desejos no sujeito. Há aquele sujeitado
questionador que busca mudança, como há aquele que não sabe como agir diante da angustia, do
medo do “não-aprender”.
A clarificação das ansiedades que bloqueiam a aprendizagem, dos medos da criança, das
fantasias inconscientes que mascaram a percepção do real, da descrença em si mesmas, decorrentes
na maioria dos casos, são caracterizadas por uma estruturação vincular deficitária nos primeiros
anos de vida.
Toma-se a teoria psicopegógica da Epistemologia Convergente de Jorge Visca (1987), com
aporte teórico nas teorias, nas escolas de Jean Piaget, Sigmund Freud e Enrique Pichon Rivière para
se conhecer e saber mais sobre a construção do que será chamado de Psicopedagogia do
Desenvolvimento e Aprendizagem do Ser. Para isso, é necessário se aprofundar na compreensão
dos conflitos afetivos, quando acontecem os “distúrbios afetivos” que podem interferir no
desenvolvimento e produzir sintomas.
De acordo com Freud, (citado por Papalia e Olds 1998, p. 42): “Para avaliar sintomas sem
causa física aparente (...) Ele concluiu que a origem das perturbações emocionais situa-se em
16
experiência traumáticas reprimidas da primeira infância”. As emoções traumáticas podem senão
trabalhadas influenciar de forma negativa no desenvolvimento e aprendizagem das crianças.
Num mundo globalizado, com várias culturas, com os avanços da ciência, da tecnologia nos
vários ambientes de aprendizagem onde tempo e espaço são redefinidos, compreende-se o
importante papel da Psicanálise na clínica psicopedagógica. Por quê? O sujeito vive intensamente,
as emoções do “não- saber”, de não conseguir expressar suas idéias, suas emoções, do saber e não
poder discutir uma idéia de forma mais profunda, do não estar entendendo tudo.
Não é difícil avaliar como é difícil para a criança e para o adolescente não conseguir
corresponder às expectativas dos seus professores, pais, colegas e as suas próprias. Como é sofrido
viver intensamente, as emoções decorrentes da dificuldade de expressar sentimentos através das
palavras. Então, evidencia-se que não é possível desenvolver a habilidade cognitiva e social sem
que a emoção seja trabalhada.
Conta-se com a psicanálise para uma aproximação maior do sujeito e de possibilitá-lo a se
responsabilizar por seus sintomas e aprender a lidar com eles. Elogiar a criança por seus esforços,
pelo que ela é capaz de criar, produzir para que possa sentir-se segura para aprender, aumentando
sua confiança em si e nas outras pessoas.
A concepção de infância não é uma idéia fechada, algo definido e imutável, mas se constitui
de acordo com o contexto sócio-cultural. Consiste num momento próprio da vida e cada criança
aprende de acordo com seu próprio ritmo de desenvolvimento.
A Psicopedagogia no Brasil está se consolidando, cada vez mais, num movimento de busca
concreta por respostas e alternativas aos problemas vinculados ao aprender, que se
avolumam no cotidiano da escola, cujas conseqüências se fazem, cada vez, mais presentes
no contexto social. Enquanto campo do conhecimento em construção sobre a articulação
entre o psíquico e o cognitivo e suas profundas relações com a gênese da aprendizagem, a
Psicopedagogia tem se constituído num espaço plural e multidisciplinar, na procura
constante de aportes teóricos construtores de sua epistemologia e propiciadores de sua
fundamentação (BEAUCLAIR, 2004, p. 24).
É necessário querer conhecer o universo infantil, saber sobre as primeiras aprendizagens do
sujeito, seu desenvolvimento bio-psico-social, compreender as características do pensamento
17
infantil nos seus diversos estágios de desenvolvimento. A psicopedagogia nos ajuda a compreender
o que significa educar e aprender.
Procurar saber sobre o desenvolvimento e a aprendizagem; compreender como ocorrem a
assimilação e a acomodação, necessárias para entender como a criança aprende (o equilíbrio).
Respeitar a produção da criança é muito importante para ela. Valorizar o grau de persistência nas
tentativas em aprender. Ajudar a criança ficar mais calma diminuindo o grau de ansiedade e medo
diante da tarefa proposta, de um aprendizado novo, muito contribui para o sucesso escolar.
Refletir sobre as condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática as necessidades
colocadas pelas crianças, é um elemento indissociável do processo do aprender. Possibilita ao
psicopedagogo definir critérios para planejar as atividades e acompanhar, orientar, regular e
redirecionar esse processo como um todo. Também conhecer as teorias que sustentam as práticas,
os fazeres psicopedagógicos, desconstruir, reconstruir e construir novas idéias para a atuação e
intervenção, é imprescindível na atuação do profissional.
Na clínica psicopedagógica há necessidade de se compreender o sujeito na sua subjetividade
e isso implicará a compreensão quanto à história, desejo, linguagem, sua cultura para o
desenvolvimento e amadurecimento psicossocial – envolve saber sobre o universo da criança. A
prática psicopedagógica está associada a (re) inserção do sujeito no universo do desejo de saber. A
especificidade do tratamento psicopedagógico consiste no fato de que existe um objetivo a ser
alcançado, a eliminação dos sintomas. É uma decisão de acolher essa demanda e manejá-la.
[...] O sintoma é, portanto, o que emerge da personalidade em interação com o sistema
social em que está inserido o sujeito. Assim, o problema manifestado pelo aluno numa
determinada escola, turma ou em relação a um dado professor, pode não se manifestar de
forma clara em outro contexto escolar. Tal fato torna evidente que há um certo tipo de
desvio em relação a determinados parâmetros existentes no meio, que são representados por
suas exigências (WEISS, 2006, p. 28).
Tem-se dificuldades de aprendizagem escolares que evidenciam serem pedagógicas, mas
pode-se dizer que esse sintoma muitas vezes está relacionado com outras questões (pode ser
18
também familiar). A criança/adolescente faz um sintoma, por exemplo, “não aprender” na escola,
como uma forma de comunicação, um meio que a criança busca para mostrar que não está bem.
Na clínica psicopedagógica o paciente vem com um sintoma, uma demanda as entrevistas,
os testes são os recursos para fazer uma avaliação e um diagnóstico, mas que, sobretudo não se
pode esquecer de uma clínica relacional. O processo terapêutico acontece porque há duas pessoas
que se encontram num ambiente onde há uma busca, desejo e espera por algo que opera e que
muitas vezes escapa dos sentidos.
A entrevista (concluindo entrevista de anamnese) com os pais e com as crianças, e quem
sabe, com professores e coordenadores pedagógicos objetiva compreender melhor a queixa e/ou
diagnóstico muitas vezes é elaborado pela família e ou pela escola. Essa demanda pode ser uma
recomendação dos professores, da escola pediatra, oftalmologista e dos próprios pais.
Muitos casos de atendimentos infantis que aparecem na clínica psicanalítica estão
relacionados com “as dificuldades de aprendizagem” e os “distúrbios escolares” como na clínica
psicopedagógica. Portanto,é necessário que se perceba a necessidade de um trabalho psicanalítico,
juntamente com o psicopedagógico, avaliar a demanda para concluir pela necessidade ou não do
tratamento e possíveis encaminhamentos.
Pontos importantes no trabalho clínico com crianças: Como a criança chegou até o
terapeuta, quem a levou? Para que? Qual o sintoma da criança? O motivo da consulta (manifesto e
latente), a história do sujeito, a relação familiar, avaliação, interpretação, intervenção como podem
ser as sessões (livre, direcionada) e a devolutiva.
Uma queixa pode traduzir uma dificuldade, um transtorno, um “sintoma”. A mãe diz, “ele
não consegue aprender”! O “não aprender” pode ser um sintoma relacionado ao não querer crescer.
Que pode ser um desejo da criança, mas também um desejo demandado a ela, ou seja, um desejo da
mãe, do pai etc. Podendo ser um sintoma familiar. A criança utiliza esse recurso para denunciar
algo de errado com ela ou no âmbito familiar.
19
Vale citar algumas estratégias de intervenção psicopedagógica utilizadas para ajudar a
criança/adolescente a desenvolver sua auto-estima, superar as dificuldades emocionais: através de
sessões livre (ludoterapia) – análise da criança através dos seus brinquedos, a criança desloca para o
exterior seus medos e ansiedades.
É uma técnica muito apropriada para a criança, realizada através do “brincar” tendo como
objetivo, facilitar a expressão da criança, pois é através do brincar que a criança tem maior
possibilidade de expressar seus sentimentos e conflitos e buscar melhores alternativas para lidar
com suas emoções.
No brincar, a criança descobre seus limites, potencialidades e individualidade através dos
jogos simbólicos, da criação artística (desenho, pintura, colagem, modelagem), das histórias dos
contos de fadas como, por exemplo, a história do patinho feio, que vai enfatizar a constituição do
sujeito, sua relação consigo mesmo e com o outro, o grupo e seu lugar no mundo.
A “ludopsicoterapia” a “artetrapia” condensa dois pontos de apoio à intervenção: o lúdico,
que fornece informações do indivíduo através dos elementos do brincar; e da arte, que proporciona
a realização de um trabalho direcionado e caracterizado para aplicação específica, permitindo ao
psicopedagogo, encontrar na brincadeira e na arte o meio “impressionante” necessário ao
tratamento da criança.
Quando a criança brinca, pode-se observar o processo de sua forma de brincar, de se
aproximar do material, do que escolhe e o que evita seu estilo geral, as dificuldades de ultrapassar
etapas, a organização, o padrão adotado o modo como brinca e o que fala sobre a sua vida.
É necessário o refletir sobre a prática clínica, a cautela no diagnóstico clínico com observação e
interpretação clara da escuta psicopedagógica é um fator importante para que o sujeito faça o
resgate da sua subjetividade. O trabalho clínico sob uma nova luz de uma clínica do aprender a ser
psicopedagogo (a). Dá-se na relação entre um sujeito com a sua história pessoal e sua modalidade
de aprendizagem, buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não aprender.
20
3. Conclusão
O psicopedagogo deve buscar conhecer-se, conhecer a sua própria subjetividade na relação
consigo mesmo, pois trata de um sujeito estudando outros sujeitos, em que um procura conhecer no
outro aquilo que o impede de aprender, implica uma temática muito complexa. Cabe saber como se
constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de
conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende. O vínculo
entre o terapeuto (psicopedagogo) e o paciente deve ser constituído através de lanços de confiança e
respeito.
O respeito ao tempo e a subjetividade do sujeito são fundamentais. Num trabalho que
perceba o sujeito em sua subjetividade com tempo e ritmos diferentes e, que aposte num sujeito de
múltiplas possibilidades de ser e de aprender. A idéia é essa! Tecer fios de conhecimento para se
saber mais sobre o sujeito a fim de se contribuir para uma aprendizagem mais significativa com
mais sentido.
O comprometimento da capacidade simbólica é um dos fatores de prevalência junto aos que
têm alguma dificuldade de aprendizagem. A clínica psicopedagógica deve buscar compreender as
principais características definidoras de mundo objetivo e mundo subjetivo, definindo função
simbólica como resultante da articulação entre esses dois mundos. Numa perspectiva
psicopedagógica para que assim, seja possível discorrer sobre as potencialidades do sujeito,
delimitando a intervenção do psicopedagogo clínico junto aos sujeitos comprometidos na função
simbólica.
21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEAUCLAIR. João. Olhar, ver, tecer: a busca permanente da teoria no campo psicopedagógico.
SCOZ. Beatriz Judith Lima. (Org.). In: Psicopedagogia. Contribuições para uma educação pósmoderna. Petrópolis, RJ: Vozes; São Paulo: ABPp, 2004.
COSTA, Terezinha. Psicanálise com crianças. Rio de Janeiro: Jorge Zanhar, 2007.
FONTANA, Roseli. CRUZ, Maria Nazaré da. Psicologia e trabalho pedagógico. São Paulo: Atual,
1997.
FREUD, S. (1895). Estudos sobre a histeria. In: Obras psicológicas completas: Standard
Brasileira. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
FREUD, S. (1905). Três Ensaios sobre a teoria da sexualidade. In: Obras psicológicas completas:
Standard Brasileira. Vol. VII. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
LACAN, J. M. Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
PAPALIA, Diane E. OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7. ed. Porto Alegre:
Artes Médicas Sul, 2000.
ROUDINESCO, Elisabeth. PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Ed., 1998.
VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemológica Convergente. Porto Alegre, Artes
Médicas, 1987.
WEISS, Maria Lúcia Lemme. Psicopedagógica Clínica: uma visão diagnóstica dos problemas de
aprendizagem escolar – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP7A, 2006.
Download