Jogo Cooperativo e a Aprendizagem Matemática na

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Jogo Cooperativo e a Aprendizagem Matemática na Educação Infantil
Ana Brauna Souza Barroso1
GD1 – Educação Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental
Resumo do trabalho. Os momentos de brincadeiras são espaços naturais de vivências onde os sujeitos realizam
experiências e aprendem com elas. O presente trabalho tem o objetivo de analisar as contribuições da utilização
dos jogos cooperativos no ensino da matemática da educação infantil a fim de que o aprendizado matemático
possa se tornar uma brincadeira divertida e com significado. Para isto, faz-se necessário esclarecer o significado
dos jogos cooperativos que são uma prática cooperativa de ensinar. E, explicar que o processo de
ensinoaprendizagem da matemática pode ser mais prazeroso com uma abordagem construtivista e lúdica. Todo
esse embasamento teórico está apoiado em autores e pesquisadores que se dedicam ao estudo do lúdico, da
matemática e dos jogos cooperativos. A metodologia a ser adotada será de cunho qualitativo na qual se
fundamenta nos princípios da pesquisa-ação e serão realizadas observações, entrevistas, aplicações de jogos
com crianças na faixa etária de quatro e cinco anos. Enfim, torna-se relevante investigar o brincar e o jogar
para o desenvolvimento da criança e que os jogos cooperativos podem promover espaços alegres, interativos e
repletos de aprendizagens cooperativos.
Palavras-chave: Jogos Cooperativos. Educação Matemática. Aprendizagem Lúdica. Educação Infantil.
Infelizmente, a sociedade moderna capitalista está baseada em relações de consumo na qual
a riqueza material e o prestígio social são metas a serem atingidos pelos sujeitos. E, nesse
contexto, a competição é a melhor estratégia para se alcançar o sucesso. Por meio da prática
da competição surgem os sistemas de dominação de um sobre o outro, ocasionando situações
de injustiças em que há apenas um ganhador e os outros são perdedores.
A escola é o espaço ideal para a transformação dessa visão de sociedade porque sua função
consiste em propiciar uma educação que visa instrumentar os indivíduos a aprender a
1
Universidade de Brasília, e-mail: [email protected], orientador: Prof. Dr. Antônio Villar Marques
de Sá.
conhecer, a aprender a fazer, a aprender a viver junto e a aprender a ser (DELORS, 2012).
Entretanto, sem perceber, a instituição escolar reforça atitudes e posturas competitivas nos
educandos que vão se propagando ao longo da vida adulta.
Os jogos cooperativos são uma alternativa de modificar o quadro de ganhadores-perdedores
que provoca situações de violência e agressividade entre as pessoas. Eles expressam um
sentimento de mudança onde os sujeitos podem conviver juntos e aprenderem a ética
cooperativa.
A educação infantil é o local apropriado para se iniciar os trabalhos com os jogos
cooperativos, pois as crianças são estimuladas a realizar outro tipo de relacionamento
baseado na capacidade de cooperar e acabam aprendendo a conviver solidariamente com o
colega.
Os jogos cooperativos são jogos onde todos trabalham juntos e conseguem alcançar um
objetivo, e ganham juntos também. Além disso, representam uma ótima oportunidade para
que o processo de ensino-aprendizagem da matemática possa ser realizado com significado.
Sabendo que a educação matemática é vista, muitas vezes, com “maus olhos” pelos
educandos devido a um modelo de ensino reprodutivista e percebendo que a cooperação não
é exercitada por eles, constitui-se um desafio colocar os jogos cooperativos na prática
pedagógica do ensino de matemática.
Diante dos fatos mencionados, esta proposta de pesquisa visa analisar e discutir a relevância
dos jogos cooperativos na educação infantil e como eles podem ser fatores de aprendizagem
matemática nessa modalidade de educação.
Justificativa
A educação tem o papel de propiciar o desenvolvimento integral do ser humano em todos os
aspectos: cognitivo, afetivo e social. Para isso, esse conceito sustenta-se em quatro pilares
que são mencionados por Delors (2012): aprender a conhecer, a aprender a fazer, aprender a
viver juntos e a aprender a ser. Contudo, a escola, muitas vezes sem perceber, está se
preocupando muito mais com o ensino do que com a educação. Isso é reflexo da própria
visão de sociedade que tem como propósito o individualismo, a riqueza material, o acúmulo
de informações e uma maior produtividade.
Os jogos cooperativos, ao estimular outro tipo de relação entre as pessoas baseado na
capacidade de cooperar, serão de grande utilidade no processo de ensino-aprendizagem da
matemática e uma valiosa ferramenta na formação do ser humano. Em vez de o indivíduo
estar todo tempo competindo com os seus semelhantes, ele poderá desenvolver uma nova
forma de interagir com o outro através dos jogos cooperativos. Isso implica,
necessariamente, a introdução e a aplicação desses jogos dentro de sala de aula. Trazê-los
para o cotidiano da prática pedagógica. Fazê-los presentes nas reflexões, nas atitudes e nos
métodos educacionais.
A escolha dos jogos cooperativos como tema desse projeto de pesquisa deve-se a vários
fatores. Um dos mais relevantes é o fato de que o processo de ensino-aprendizagem tornase
mais eficaz e duradouro quando as crianças são participantes ativas da aprendizagem e, ao
mesmo tempo, divertem-se durante esse processo.
Os momentos de jogos e brincadeiras podem ajudar os educandos a organizarem melhor suas
informações, relacionarem-se uns com os outros, transmitirem valores positivos, aprenderem
a lidar com regras e, consequentemente, fazerem matemática. Dessa forma, enquanto as
crianças brincam, coisas sérias acontecem.
De acordo com o Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil (2002), a cooperação
representa um dos eixos de trabalho do educador ao afirmar que a instituição deve trabalhar
para propor à criança a cooperação como desafio, considerando os seus limites e suas
possibilidades.
Nesse sentido, o trabalho com os jogos cooperativos é importante para a promoção dessa
cooperação entre os educandos através das situações de explicação, argumentação de ideias
e resolução de problemas. Portanto, este trabalho destacará o papel desses jogos no processo
de ensino-aprendizagem matemático com as crianças de quatro a cinco anos.
Objetivos
Geral:
Analisar quais são as contribuições pedagógicas dos jogos cooperativos no ensino da
matemática na educação infantil.
Específicos:
● Compreender o papel da cooperação no contexto da educação infantil a partir da vivência
de crianças com idade entre quatro e cinco anos;
● Estimular o trabalho em grupo através de jogos e brincadeiras;
● Identificar os comportamentos manifestados pelas crianças e os eventuais conceitos
matemáticos promovidos pela prática dos jogos cooperativos;
● Promover uma relação efetiva de vida social na qual as pessoas sejam capazes de dominar
o conhecimento matemático oferecido pela sociedade e buscar, conjuntamente, soluções
para seus problemas;
Referencial Teórico
A educação, a brincadeira e o jogo
O ser humano aprende, descobre, apropria-se de conhecimentos que lhe garante a
sobrevivência e a interação na sociedade ao longo da sua trajetória de vida. Essas ações de
busca, de descobertas e de apropriações estão relacionadas a um fenômeno complexo
chamado educação (ALMEIDA, 2003). Este não existe sozinho, pois envolve o trabalho
coletivo de pessoas que cooperam, comunicam-se e compartilham saberes. Por isso, educar
é um ato solidário que está perfeitamente ligado à questão da cooperação.
Existem muitas definições e explicações para esse fenômeno. Libâneo (2010, p. 30) trouxe
uma contribuição ao dizer que a educação significa a junção de processos, ações e influências
“[...] que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa
com o meio social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais”.
Pensando nessa perspectiva de educação, o processo de ensino-aprendizagem envolve
práticas cooperativas uma vez que todos aprendem e todos ensinam, numa construção
coletiva de conhecimentos. Assim, os jogos cooperativos podem ser introduzidos no
ambiente escolar e, em especial, na modalidade de educação infantil, visto que as crianças
são especialistas na atividade do brincar. E, brincando que elas vivem, conectam-se com a
vida e produzem mudanças. Portanto, colocamos em prática a ideia de Kishimoto (2011, p.
22) ao mencionar que a infância é a “idade do possível. Pode se projetar sobre ela a esperança
de mudança, de transformação social e renovação moral”.
É importante dizer que a brincadeira representa uma fonte de desenvolvimento e cria a
zona de desenvolvimento proximal que significa a distância que a criança sabe (real) e o
que ela poderá saber (potencial), ou seja, o sujeito passa a adquirir um conhecimento que
antes ele não tinha com o auxílio de um colega mais experiente ou adulto, colocando-o em
um novo patamar. (VIGOTSKI, 2008). Portanto, as brincadeiras desempenham um papel
importante no desenvolvimento cognitivo, social, afetivo e motor do indivíduo.
Dessa forma, o ato de brincar significa uma atividade muito séria que não deve ser
desconsiderada pelo educador, pois o lúdico tem papel imprescindível no espaço educativo
na medida em que é a força motriz da aprendizagem. Sem esse estímulo, o processo de ensino
tornar-se sem sentido e sem alegria.
De acordo com o Muniz (2010), os recursos lúdicos promovem estratégias para aprender de
forma confiante e crítica, e incentivam a troca de ideais possibilitando o desenvolvimento da
autonomia. Ainda, torna o processo de aprendizagem mais prazeroso para os professores e
alunos e, consequentemente, estimulam o ato de pensar.
Após falarmos do brincar, o que vem a ser o jogo? Segundo Huizinga (2012), o jogo
representa um elemento da cultura e é “uma atividade voluntária” do ser humano (p. 10). Os
PCN (BRASIL, 1997, p. 33) confirmam essa hipótese e complementam ao afirmar que “o
jogo é uma atividade natural no desenvolvimento básico; supõe um ‘fazer sem obrigação
externa e imposta’, embora demanda exigência, normas e controle”.
Pode-se perceber que o jogo é um fenômeno cultural com diversos significados que variam
de acordo com o tempo e com a cultura. Entretanto, ele não deixa de ser um meio privilegiado
de educação. No jogo, as crianças compreendem regras, vivenciam situações que se repetem,
assimilam conhecimentos sobre si e sobre os outros. Dentro de um jogo, há infinitas
possibilidades de se resolver um problema, permitindo que os sujeitos formulem e
reformulem hipóteses. Nessa prática, eles se tornam mais livres.
A educação infantil é um espaço natural da brincadeira e dos jogos. Além disso, é a fase mais
importante da infância, porque a criança está aprendendo a viver. Assim, é uma etapa ideal
de se utilizar o recurso do jogo como ferramenta de trabalho pedagógico.
A aprendizagem dos conteúdos matemáticos também pode ocorrer através da utilização do
recurso do jogo se tiver o estímulo correto. Por consequência, as crianças brincam e
aprendem a matemática, exercitando a participação ativa e vivenciando a natureza lúdica.
Há uma diversidade de jogos que podem ser utilizados pelos professores na educação
infantil, todavia para que eles sejam uma ferramenta no trabalho pedagógico, precisam ter
uma intencionalidade. A livre manipulação não assegura um aprendizado. Só há
aprendizagens, quando o educador planeja, orienta ações no jogo com o propósito de
propiciar algum conhecimento, alguma relação ou atividade.
Os jogos cooperativos e o saber matemático
Para se utilizar os jogos cooperativos é de extrema importância compreender o seu
significado que surgiu da reflexão crítica sobre a visão de sociedade que valoriza
excessivamente o individualismo e a rivalidade. Esses jogos sinalizam a necessidade de
mudança na postura de vida adotada pelas pessoas para o exercício de uma convivência mais
solidária e pacífica. Isso pode ser confirmado por Brotto (2003, quarta capa) ao afirmar que
“jogos cooperativos é uma prática re-educativa, capaz de transformar nosso
Condicionamento Competitivo para vencer na vida, em Alternativas Cooperativas para o
Exercício da Convivência”.
Nesse sentido, os jogos cooperativos se constituem de exercícios nos quais as pessoas
vivenciam situações de cooperação e aprendem que cooperar implica em trabalhar junto,
resolver problemas em conjunto, assumir e dividir responsabilidades. É, portanto, uma forma
de estar com o outro e aproveitar o máximo dele para a melhoria da vida de todos, sem
exceção. E tudo isso é reflexo dos cincos princípios básicos mencionados por Barreto (2000)
sobre esses jogos: inclusão, coletividade, igualdade de direitos, desenvolvimento humano e
processualidade.
Essa cooperação pode ser exercitada por diversas formas e em diferentes graus, conforme
um dos grandes estudiosos sobre esses jogos, Orlick (1989) que propõem a divisão dos jogos
cooperativos em categorias: jogos cooperativos sem perdedores, jogos de resultado coletivo,
jogos de inversão e jogos semicooperativos.
Sendo assim, a aprendizagem matemática com os jogos cooperativos na educação infantil
torna-se uma proposta bastante relevante, porque os educandos conseguem compreender os
conceitos matemáticos que estão relacionados aos aritméticos e espaciais de forma divertida.
Assim, comunicam ideias, formulam hipóteses, estabelecem comparações e vivenciam a
cooperação entre os colegas.
Nos jogos, há um trabalho de grupo que estimula a criança a pensar sobre o número e sobre
as quantidades a partir da interação com os colegas e com o professor. Todas essas atividades
contribuem para a construção do conceito de número. Dessa maneira, o jogo em grupo é uma
situação privilegiada de aprendizado.
Segundo Kamii (2012), a criação de vários tipos de relações, o estímulo à quantificação de
objetos e a interação social da criança com seus colegas e professores são princípios que
facilitam o ensino do número e promovem o desenvolvimento do conhecimento
lógicomatemático. Essas propostas podem ser fornecidas pelos jogos cooperativos na
medida em que o professor tenha consciência da concepção da construção do número e suas
práticas pedagógicas estejam direcionadas a autonomia do sujeito.
Enfim, cabe ao educador refletir sobre suas práticas pedagógicas e escolher a melhor forma
de direcionar o seu trabalho. Talvez, a forma cooperativa seja difícil, contudo, não é
impossível de ser executada. Se ele escolher a opção dos jogos cooperativos terá um espaço
de sala de aula mais alegre, solidário e repleto de aprendizagens. Por consequência, essas
vivências poderão ser transferidas para o convívio familiar e social.
Metodologia
A temática que este projeto de pesquisa se propõem a desenvolver determina a escolha de
uma abordagem qualitativa no tratamento metodológico. Pois, os jogos cooperativos
possuem significados que extrapolam a condição de jogo chegando a uma visão de mundo
e, nesse sentido, a abordagem quantitativa não conseguiria contemplar todos esses aspectos.
Segundo Bodgan e Biklen (1994), o desenvolvimento de um estudo de pesquisa qualitativa
envolve a obtenção de dados descritivos obtidos pelo contato direto e prolongado do
pesquisador com a situação estudada. Isso se deve ao fato de que o investigador se preocupa
com o contexto e, assim, “entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando
são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência” (p. 48). Além disso, esse projeto de
pesquisa enfatiza mais o processo do que o produto que se torna imprescindível no estudo
da área da educação.
O trabalho se fundamentará na perspectiva da pesquisa-ação que é oriunda das ciências
sociais e humanas e, segundo Thiollent (2008), é um tipo de pesquisa com base empírica e
está em estreita associação com uma ação ou resolução de problema coletivo em que os
pesquisadores e os pesquisados representativos da situação ou do problema estão envolvidos
de modo cooperativo ou participativo.
Barbier (2007) menciona que a pesquisa-ação representa uma pesquisa em que há uma ação
deliberativa de transformação da realidade, possuindo um duplo objetivo: transformar a
realidade e produzir conhecimentos relativos a essas transformações. Essa metodologia “é
uma forma de investigação-ação que utiliza técnicas de pesquisas consagradas para informar
a ação que se decide tomar para melhorar a prática” (TRIPP, 2005, p. 447).
Entre os instrumentos a serem utilizados nesta pesquisa para a construção de dados, a
observação será uma ferramenta de trabalho porque “ver para crer” é a melhor estratégia de
verificação de um determinado fato. Além do mais, é extremamente útil para descobrir
aspectos novos que estão envolvidos na questão estudada.
A entrevista também foi escolhida como instrumento de coleta de dados, já que ela permite
a aquisição imediata de informações desejadas pelo pesquisador e possibilita
esclarecimentos da situação observada.
A proposta do projeto de pesquisa também requer a aplicação dos jogos cooperativos com
crianças na faixa etária de quatro e cinco anos. Esses jogos estão baseados no livro Manual
de Jogos Cooperativos de autoria do canadense Jim Deacove2 que envolve dados, bolas,
alimentos, números, quebra-cabeças e, especialmente, pessoas. Seus princípios estão
apoiados na ajuda mútua no intuito de chegar a um objetivo comum. Porém ainda não está
definida a quantidade de jogos a serem aplicados.
2
Jim Deacove é o criador dos Jogos Cooperativos de Tabuleiro e desde meados dos anos de 1970, quando
criou a Family Pastimes em conjunto com a sua esposa Ruth Deacove, vem desenvolvendo jogos, brincadeiras
com o foco na cooperação. Em seu livro Manual de Jogos Cooperativos são apresentados 88 jogos que podem
ser vivenciados em diversos ambientes e com diferentes tipos de materiais.
Cronograma
ETAPA
TEMPO PREVISTO: trimestres
Pesquisa
1°/2014
2°/2014
3°/2014
4°/2014
X
X
X
X
Bibliográfica e
Estudos
1°/2015
2°/2015
3°/2015
4°/2015
X
X
nas
disciplinas
Organização
dos materiais e
aplicação dos
jogos
cooperativos
Análise
e
discussões dos
dados coletados
X
X
X
Finalização,
X
X
entrega e
apresentação da
dissertação
Referências
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Paulo: Edições Loyola, 2003.
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